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Pamela Barbieri – T23 – FMBM Medicina de Emergência – USP CHOQUE 1 →Desbalanço entre oferta e demanda de O2. Fisiopatologia: 1) Diminuições graduais da oferta e consumo permanece constante e um aumento da extração periférica. 2) Diminuições progressivas → superação da capacidade de adaptação da microcirculação e redução da produção aeróbica de ATP. 3) Isso leva a um DO2 crítico e a produção anaeróbica de ATP é iniciada que é de curto prazo e não pode substituir completamente a produção de ATP mitocondrial e 4) se a hipoperfusão tecidual não for corrigida, levará à morte celular. Estabelecido o choque, inicialmente há mecanismos compensatórios. No entanto, com permanência da hipoperfusão tecidual, causa disfunção orgânica sistêmica. Conceitos importantes: Pré-carga: o que chega no coração (ex: choque hipovolêmico) Pós-carga: o que sai (tamponamento, TEP) Contratilidade: bomba (cardiogênico) →Pressão Arterial Média: 2x DIASTÓLICA + SISTÓLICA / 3 VR>= 65mmHg. →Pressão Venosa Central: VA: 8-12mmHg. Geralmente o que aumenta a PVC é a hipervolemia ou o que aumenta pressão intratorácica (TEP, DPOC grave...). Baixa PVC: hipovolemia ou normal. →Pressão Arterial = Resistência Vascular Sistêmica x Débito Cardíaco →DC= Volume Sistólico x FC Hipoperfusão tecidual afeta as mitocôndrias e usam todo o O2 consumido pelo organismo, com isso, as células começam a converter substrato em energia (carboidratos, gorduras, cetonas), através da formação de lactato. O nível normal de lactato no sangue é de aproximadamente 1 mmol/L (ou 9 mg/dL), e o nível é aumentado (> 2 mmol/L ou >18 mg/dL) no choque. Queda do lactato em 10% em 6h: paciente respondendo a o tratamento. Evolução do choque: Pré-choque – quente e compensado – vasoconstrição, taquicardia, aumento ou queda da PA. Compensado=manutenção de suprimento para órgãos nobres. Choque instalado: mecanismos compensatórios entram em falência. CRITÉRIOS CLÍNICOS: O choque deve ser suspeitado em pacientes com sinais de hipoperfusão tecidual: →Pressão arterial média →Débito urinário →Nível de consciência →Tempo de enchimento capilar →Perfusão de pele/livedo →Cianose de extremidades →Lactato sérico pH arterial, bicarbonato →Saturação mista de oxigênio venoso (SmvO2 ou ScvO2 ) Pamela Barbieri – T23 – FMBM Medicina de Emergência – USP CHOQUE 2 →pCO2 venosa mista →Oxigenação do tecido musculoesquelético (StO2 ) A área de livedo reticular ao redor do joelho está diretamente relacionada à mortalidade (marcador importante de hipoperfusão tecidual). Existem três janelas de perfusão tecidual, que identificam os danos que o choque causou no organismo: Pele: pele fria e úmida, cianose, palidez, livedo, tempo de enchimento capilar prolongado, gradiente temperatura central-periférica (> 7°C = má perfusão periférica). Rim: débito urinário < 0,5 mL/kg/h. Sistema nervoso central: estado mental alterado, que inclui torpor, desorientação e confusão. Análise de demais disfunções orgânicas: Respiratório: dispneia, uso de musculatura respiratória acessória, hipoxemia, relação PaO2 /FiO2 < 400. Cardiovascular: hipotensão, taquicardia, hiperlactatemia. Hepática: icterícia, encefalopatia, aumento de bilirrubinas. Hematológica: sangramentos, petéquias, alargamento de RNI, plaquetopenia. →CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA CHOQUE: PROTOCOLO RUSH – ETIOLOGIA DO CHOQUE: Exame físico: Aparência ruim Alteração do estado mental Hipotensão > 30 minutos FC > 100 bpm FR > 20 irpm Débito urinário < 0,5 mL/kg/h Gasometria arterial: Lactato > 4 mmol/L ou > 32 mg/dL Excesso de bases < –4 mEq/L Diagnóstico: ≥ 4 critérios Pamela Barbieri – T23 – FMBM Medicina de Emergência – USP CHOQUE 3 Tipos de choque: Quatro mecanismos de choque: distributivo, cardiogênico, hipovolêmico e obstrutivo. CHOQUE CARDIOGÊNICO: Catéter de Swan-Ganz – avalia pressão de oclusão da A. pulmonar e quantifica DC. Balão intra-aórtico: aumenta perfusão coronariana durante a diástole e aumenta DC e diminui esforço cardíaco e consumo de O2. Paciente grave, pré-transplante... Falha da bomba, redução do DC. Principais causas choque cardiogênico: IAM, IC. Outras calças como cardiomiopatias, valvopatias, arritmias... Exame físico: Estertores pulmonares, hepatomegaleia, B3 ou B4, ingurgitamento venoso, esvaziamento venoso lento, edema, aparecimento de sopro novo, PVC aumentada. CHOQUE HIPOVOLÊMICO Acontece pela redução do volume intravascular (pré-carga reduzida) que, por sua vez, reduz o DC. É dividido em duas categorias: hemorrágico e não hemorrágico (depleção de volume pela perda de sódio e água, como perdas gastrointestinais, perdas de pele (grande queimado) e perdas renais). CHOQUE DISTRIBUTIVO É caracterizado por vasodilatação periférica grave com queda da resistência vascular sistêmica. →Choque séptico: a sepse é definida como resposta desregulada do hospedeiro à infecção, resultando em disfunção orgânica com risco de morte. Choque séptico é sepse com necessidade de terapia vasopressora e presença de níveis elevados de lactato (> 2 mmol/L ou > 18 mg/dL), apesar da ressuscitação volêmica adequada. →Choque neurogênico: lesão da medula espinhal, sobretudo se esta for acima de T6, levando à interrupção das vias autonômicas. Trauma raquimedular é o único choque que FC encontra-se baixa. →Choque anafilático: imunológicos (IgE mediado – alimento, inseto, látex – ou não IgE mediado – omalizumab, infliximab) e não imunológicos (exercício, frio, radiocontraste), todos levando à degranulação de mastócitos e/ou basófilos. O choque e a obstrução de via aérea são as principais causas de morte. →Choque por cianeto e por monóxido de carbono: choque por disfunção mitocondrial. →Choque endócrino: crise addisoniana (insuficiência adrenal devido à deficiência mineralocorticoide) e coma mixedematoso. CHOQUE OBSTRUTIVO: É causado principalmente por causas extracardíacas que culminam em insuficiência cardíaca. Divididas em duas categorias: Vascular pulmonar: Tromboembolismo pulmonar hemodinamicamente significativo ou hipertensão pulmonar grave (HP). Nesses casos, o ventrículo direito falha, porque é incapaz de gerar pressão suficiente para superar a alta resistência vascular pulmonar. Mecânica: apresentação clínica similar ao choque hipovolêmico, pois o distúrbio fisiológico primário é uma Pamela Barbieri – T23 – FMBM Medicina de Emergência – USP CHOQUE 4 diminuição da pré-carga, em vez da falha da bomba (p. ex., redução do retorno venoso ao átrio direito ou enchimento inadequado do ventrículo direito): pneumotórax hipertensivo, tamponamento pericárdico, pericardite constritiva e cardiomiopatia restritiva. CHOQUE SÉPTICO Sepse 1) Suspeita de infecção 2) SOFA >2 3) Hipotensão refratária a volemia 4) Lactato > 2 mmol/L (se mg/dL : por 9) 5) Necessidade DVA SOFA Sangue (plaquetas) Oxigênio (PaO2/FiO2) Fígado (bilirrubinas) Alerta (Gasglow) Arterial (PAM) Anúria (Cr e diurese). qSofa: FR >= 22 ipm PAS <= 100 mmHg Alteração do nível de consciência TRATAMENTO: Pamela Barbieri – T23 – FMBM Medicina de Emergência – USP CHOQUE 5 Manejo geral do choque: DO2: oferta de O2; USPOC: ultrassom point-of-care; VO2: consumo de O2. →Otimização da pré-carga: Choque hemorrágico: paciente perdendo predominantemente sangue deve ser ressuscitado com sangue. Pode-se iniciar a reposição volêmica com cristaloides, até que os hemocomponentes cheguem. Administração de 1 L de cristaloide inicialmente, seguida de hemocomponentes, caso o paciente mantenha-se hipotenso. Choques hemorrágicos graus III e IV: ressuscitação com hemocomponentes no trauma. Ressuscitação hipotensiva – almeja-se PAM 80-90mmHg (evita-se ressuscitação volêmica agressiva para não levar a coagulopatiapor diluição dos fatores de coagulação e destruição de coágulos tamponando sangramento). TCE: PAM ≥ 80 mmHg para não fazer hipoperfusão cerebral. Choque hemorrágico grave: acionar o protocolo de transfusão maciça – administração de ácido tranexâmico em até 3 h do trauma, concentrado de hemácias, plaquetas e plasma fresco congelado na proporção de 1:1:1. Choque não hemorrágico: paciente apresenta déficit no conteúdo intravascular, porém sem perdas sanguíneas. Ressuscitação volêmica com cristaloides. SF 0,9% ou Ringer lactato. Exceção: choque séptico: utilizar Ringer lactato. 30mL/kg/h, ir avaliando paciente. Manobra de elevação passiva das pernas: se variação do débito cardíaco > 10% = responsividade a volume. Pamela Barbieri – T23 – FMBM Medicina de Emergência – USP CHOQUE 6 Otimização da pós-carga: Iniciar drogas vasoativas mais precocemente, enquanto a ressuscitação volêmica está em andamento. Em seguida, providenciar uma pressão arterial invasiva para monitorização da pressão arterial média e um cateter venoso central para administração de drogas vasoconstritoras. DVAs: →Norepinefrina/noradrenalina (NE): é o vasopressor de primeira escolha nos quadros de choque. *Exceção: choque anafilático, que é a epinefrina. A administração da NE geralmente resulta em um aumento clinicamente significativo na PAM, com pouca alteração na frequência cardíaca ou no débito cardíaco. Cálculo para mcg/kg/h: mcg/kg/h= V (ml/h) x concentração (mg/mL) / peso (kg) →Dopamina: atua em diferentes receptores adrenérgicos, a depender da sua dose: < 5 mcg/kg/min; efeito em receptores dopa; 5-10 mcg/kg/min: beta predominante; > 10 mcg/kg/min, predomina o efeito alfa. Possui muitos efeitos adversos, sobretudo arritmias, é pouco usada. Reservada para situações de bradiarritmias instáveis, como uma ponte para o marca-passo transvenoso. Nesta situação, podemos utilizar também a epinefrina ou o marca-passo transcutâneo. →Epinefrina: agente mais potente; efeitos predominantemente β-adrenérgicos em doses baixas (propriedade inotrópica); efeitos α-adrenérgicos (vasoconstritor) clinicamente significativos em doses mais elevadas. É a primeira escolha na anafilaxia, mas não costuma ser utilizada nos outros tipos de choque, tendo espaço apenas em choques refratários, devendo ser evitada no choque cardiogênico, pois está associada a mais arritmias, hipoperfusão esplâncnica e hiperlactatemia. →Vasopressina: atua em receptores V1 (diferente dos sítios de ação da norepinefrina, dopamina e epinefrina). Sobretudo em pacientes com choques distributivos, pode haver uma deficiência de vasopressina, e sua administração em doses baixas pode resultar em aumentos substanciais na pressão arterial. Sugere-se o uso de vasopressina como segunda droga em pacientes com quadro de choque séptico, já em uso de noradrenalina, que mantêm hipotensão arterial e que não apresentam depressão miocárdica importante associada. Não pode ser utilizada em doses superiores a 0,04 UI/min e só deve ser administrada em pacientes com um débito cardíaco normal ou elevado. Outra maneira de otimizar a pós-carga é reduzi-la no contexto de choque cardiogênico, pois isso facilita o funcionamento da bomba cardíaca, que se encontra debilitada. Mas, para utilizarmos os vasodilatores endovenosos nesse contexto, a pressão arterial deve ser minimamente segura, PAS acima de 90 mmHg. Nitroglicerina (Tridil®): leva à vasodilatação mediada por GMP, do leito venoso e leito coronariano – droga de escolha no contexto de isquemia miocárdica e na insuficiência cardíaca descompensada. Nitroprussiato de sódio (Nipride®) leva à vasodilatação mediada por NO, potente nos leitos arterial e venoso, porém sem causar aumento da perfusão coronariana, o que pode causar o fenômeno de “roubo” de fluxo de coronária, não sendo a primeira escolha nos casos de isquemia miocárdica e insuficiência cardíaca descompensada. Preferido na maioria das emergências hipertensivas. Pamela Barbieri – T23 – FMBM Medicina de Emergência – USP CHOQUE 7 Otimização do débito cardíaco: →Dobutamina: agente inotrópico mais utilizado para o aumento do débito cardíaco, apresentando efeitos em receptores beta-1 e beta-2- adrenérgicos. Outros inotrópicos menos disponíveis: levosimendana e milrinone. Otimização da oxigenação: Administração de O2 suplementar deve ser iniciada precocemente, para aumentar o fornecimento de oxigênio aos tecidos e prevenir hipertensão pulmonar. Pamela Barbieri – T23 – FMBM Medicina de Emergência – USP CHOQUE 8 Pacientes com dispneia grave, hipoxemia, acidemia grave e persistente ou com rebaixamento do nível de consciência são elegíveis para ventilação mecânica invasiva (redução da demanda de O2 dos músculos respiratórios (já escasso pelo estado de hipoperfusão tecidual) e diminuição da pós-carga ventricular esquerda). Uma queda abrupta na pressão arterial após a intubação orotraqueal e o início de ventilação mecânica invasiva podem ocorrer, devido à pressurização do tórax (redução do retorno venoso), sobretudo em pacientes hipovolêmicos. Ademais, o uso de indutores para a intubação, em especial o midazolam e o propofol, potencializa esse efeito. Por isso, antes de intubar, devemos otimizar a hemodinâmica do paciente, para evitar piora da pressão arterial e da perfusão periférica após a intubação orotraqueal. Ainda no sentido de evitar hipotensão, o ideal é utilizar sequência rápida de intubação com etomidato ou quetamina EV, associados a um bloqueador neuromuscular, como succinilcolina ou rocurônio EV. Um detalhe relevante é que a dose dos indutores no paciente chocado deve ser reduzida, pois pode piorar o choque, e a dose dos bloqueadores deve ser aumentada, já que o paciente está hipoperfundido, necessitando de doses maiores para um bloqueio efetivo. DOSES: etomidato 0,2 mg/kg, quetamina 1-1,5 mg/kg (não usar doses superiores a esta no paciente chocado), propofol 0,5-0,75 mg/kg, succinilcolina 2 mg/kg, rocurônio 2 mg/kg EV. Suporte transfusional: Recomenda-se manter um alvo de hemoglobina (Hb) acima de 7 g/dL, sendo indicada transfusão de concentrados de hemácias se estiver abaixo desse nível. Para cardiopatas o alvo passa a ser Hb acima de 8 a 8,5 g/dL. * realiza-SE a ressuscitação volêmica com concentrados de hemácias, se o paciente estiver hipotenso, independentemente dos níveis de Hb. Redução do VO2 (consumo de O2): Evitar hipertermia (antitérmicos, se necessário). Controlar a dor (analgésicos, se necessário). Reduzir a ansiedade (ansiolíticos, se necessário). Reduzir o trabalho respiratório (ventilação mecânica, quando indicada, e esta deve ser bem ajustada, evitando assincronias). FLUXOGRAMAS: Pamela Barbieri – T23 – FMBM Medicina de Emergência – USP CHOQUE 9 Pamela Barbieri – T23 – FMBM Medicina de Emergência – USP CHOQUE 10
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