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TRANSTORNOS-ALIMENTARES-e-BOOK

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© 2022. Nexo Intervenção Comportamental. ISBN 978-978-65-87672-21-2.  
 
 
0 
 
© 2022. Nexo Intervenção Comportamental. ISBN 978-978-65-87672-21-2.  
 
 
1 
Conteúdo 
 
1 
Transtornos Alimentares Pediátricos e considerações sobre 
encaminhamento para equipe especializada 
2 
Avaliação comportamental em casos de 
Transtornos Alimentares Pediátricos 
3 
O papel da nutrição na seletividade alimentar 
4 
Disfunção de Integração Sensorial e seletividade 
alimentar no Transtorno do Espectro do Autismo 
5 
Incorporando procedimentos e estratégias da terapia ABA 
em intervenções sensório-motoras orais nos 
Transtornos Alimentares Pediátricos 
© 2022. Nexo Intervenção Comportamental. ISBN 978-978-65-87672-21-2.  
 
 
2 
Apresentação 
 
 
Sejam bem-vindos! 
 Sou Cintia Perez Duarte, psicóloga, analista do comportamento e idealizadora 
de uma série de projetos voltados ao autismo e a outros transtornos do desenvol-
vimento. Um desses projetos é o Ciclo de Palestras da Nexo Intervenção Compor-
tamental (Nexo IC), que tem como objetivo divulgar informações sobre temas vari-
ados relacionados às pessoas com autismo. Pensando em uma maneira de perpe-
tuar o conhecimento discutido nesses eventos e, assim, disseminá-lo para a comu-
nidade de profissionais e familiares, concretizamos a ideia dos e-Books com o con-
teúdo das palestras. 
Uma das missões da NEXO IC é promover a disseminação de conhecimento téc-
nico e a divulgação da Análise do Comportamento Aplicada por meio de palestras, 
cursos, pesquisas e produções acadêmicas que resultem no aumento de oportuni-
dades para acesso a tais conteúdos no Brasil. Este primeiro volume intitulado Trans-
tornos Alimentares Pediátricos nos TEA traz informações extremamente relevan-
tes sobre o assunto, sob a ótica de profissionais das áreas da psicologia, e também 
da nutrição, fonoaudiologia e terapia ocupacional. 
Tendo em vista os números alarmantes dos Transtornos Alimentares em pes-
soas com autismo e outras deficiências e o escasso grupo de profissionais real-
mente capacitados para intervir junto a essa demanda, o conteúdo aqui disponibili-
zado é essencial. 
Espero que, ao ler este livro, você amplie seus conhecimentos sobre o assunto 
e que isso impacte diretamente a sua atuação profissional, melhorando, assim, a 
qualidade de vida dos seus clientes e familiares. 
Boa leitura! 
 
Cintia Perez Duarte 
Psicóloga – BCBA 
© 2022. Nexo Intervenção Comportamental. ISBN 978-978-65-87672-21-2.  
 
 
3 
1 
Transtornos Alimentares Pediátricos e 
considerações sobre encaminhamento 
para equipe especializada 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cintia Perez Duarte 
Psicóloga, Board Certified Behavior Analyst (BCBA), 
Mestre e Doutora em Distúrbios do Desenvolvimento 
 
Taynara Freire Barreto 
Psicóloga, Mestranda em Análise do Comportamento Aplicada 
 
Citação: Duarte CP, Barreto TF. Transtornos alimentares pediátricos e considerações sobre encaminhamento para 
equipe especializada. In: Nexo Intervenção Comportamental. Transtornos Alimentares Pediátricos nos TEA [livro 
eletrônico]. São Paulo: Memnon, 2022. Disponível em: www.memnon.com.br para acesso livre. 
http://www.memnon.com.br/
© 2022. Nexo Intervenção Comportamental. ISBN 978-978-65-87672-21-2.  
 
 
4 
O comportamento alimentar é influenciado por diversos fatores como a per-
cepção individual sobre os alimentos e o próprio corpo, aspectos físicos com estru-
turas e funções preservadas, pelo estado nutricional e pela história de aprendizado 
de acordo com as experiências vividas ao longo da vida. Tal história engloba as inte-
rações entre pessoas que alimentam e as que são alimentadas, condições sociais e 
socioeconômicas e aspectos da cultura. É fato que a alimentação é uma necessidade 
básica e ação fundamental mantenedora da vida, mas também exerce papel muito 
importante quanto à sua função social. Para a maioria das pessoas, comer é uma 
fonte de prazer, tanto pelo ato em si, que é permeado de diversas sensações, 
quanto por aquilo que traz socialmente, mediando o fortalecimento de vínculos 
com pessoas de nosso convívio. Isso ocorre em um almoço com colegas de traba-
lho, um jantar a dois, na reunião de grupos de amigos, nos lanches da escola e em 
festinhas de aniversário, por exemplo. 
No entanto, para um grupo de pessoas, alterações relacionadas a algum as-
pecto da alimentação podem ocorrer, influenciando, assim, na qualidade dessa ex-
periência básica e mantenedora da saúde física e, muitas vezes, emocional. O mo-
mento da alimentação pode, em vez de ser uma experiência de prazer, tornar-se 
frustrante, e os cuidadores frequentemente experienciam sensações de tristeza e 
incapacidade frente à dificuldade em nutrir seu filho apropriadamente. Conside-
rando que uma criança precisa se alimentar diversas vezes ao dia, a exposição repe-
tida a situações estressantes torna tudo mais difícil, e estabelece-se uma dinâmica 
que pode aumentar cada vez mais a recusa ao alimento (14). 
Ainda que os dados de prevalência sejam heterogêneos, tendo em vista que há 
variação nas definições por parte da comunidade científica, há relatos de que pelo me-
nos 25% das crianças com desenvolvimento típico apresentam Transtornos Alimenta-
res, sendo que em pessoas com Distúrbios do Desenvolvimento esses números podem 
chegar a 90% (4). Esse dado é alarmante tendo em vista o impacto direto tanto na saúde 
da pessoa afetada quanto nos aspectos emocionais de toda a família que lida com o 
problema. No entanto, a literatura ainda não traz dados concisos quanto à prevalência, 
e, possivelmente, isso se deve ao fato de haver diversas definições e nomenclaturas 
para caracterizar uma variabilidade dos sinais e sintomas descritos. 
Considerando-se o que tange à alimentação e o Transtorno do Espectro do Au-
tismo, a seletividade alimentar é o quadro comumente reportado, e os riscos para a 
saúde podem não ser identificados de imediato quando o crescimento e o ganho de 
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5 
peso ocorrem dentro das curvas esperadas (13). Apesar de essas crianças seletivas 
ingerirem um número reduzido de alimentos quando pensamos na variedade, podem 
consumir dietas hipercalóricas, resultando em quadros de obesidade. A intervenção 
precoce é fundamental para que os prejuízos da seletividade alimentar não atinjam 
graus de severidade mais intensos. 
A alta prevalência de condições médicas associadas aos Transtornos Alimenta-
res em crianças, em especial aquelas que afetam todo o trato gastrointestinal, dá 
indícios importantes sobre possíveis etiologias desses quadros, somando-se a his-
tória de aprendizado individual que pode resultar no agravamento do problema. A 
criança que frequentemente tem experiências de desconforto físico, como dores, 
fadiga e náusea, aos poucos estabelece uma relação negativa com o momento de 
alimentação, pois faz associações com consequências aversivas. 
Aquelas que apresentam problemas crônicos são expostas a exames nos quais 
há manipulação da face e da boca, uso de instrumentos que geram desconforto 
(como uma laringoscopia, por exemplo), e podem fazer associações da apresenta-
ção de utensílios com dor e desconforto, recusando posteriormente colheres, co-
pos e outros itens de uso comum próximos ao rosto por considerá-los invasivos. 
Todos esses fatores em conjunto podem gerar um ciclo de recusa e de impacto di-
reto nas habilidades que precisam ser desenvolvidas para uma alimentação eficaz. 
Quando a criança recusa a alimentação, é exposta a um número menor de oportu-
nidades de treino de mastigação, lateralização de língua, estimulação da muscula-
tura de modo geral, entre outras habilidades, o que novamente torna o momento 
mais penoso e reforça a recusa ciclicamente (14). 
 
CLASSIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA 
 
Os Transtornos Alimentares são descritos nos principais sistemas classificató-
rios,como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) (1) e 
na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à 
Saúde (CID-11) (17), e há correspondência entre os dois sistemas (10). 
No DSM-5 são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação 
ou no comportamento relacionada à alimentação que resulta no consumo ou na 
absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde física 
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6 
ou o funcionamento psicossocial (1), e são classificados como PICA (em crianças e 
em adultos), Transtorno de Ruminação, Transtorno Alimentar Restritivo-Evitativo, 
Anorexia Nervosa (tipo restritivo e tipo compulsão alimentar purgativa), Bulimia 
Nervosa, Transtorno de Compulsão Alimentar, Outro Transtorno Alimentar Especi-
ficado e Transtorno Alimentar Não Especificado (1). 
Na CID-11 são descritos como transtornos que envolvem alimentação ou com-
portamentos relacionados à alimentação que são anormais e não são mais bem expli-
cados por outra condição de saúde e não são apropriados para o desenvolvimento e 
para cultura em que o indivíduo está inserido. Envolvem alterações comportamentais 
que não estão relacionadas a preocupações com o peso corporal ou com sua forma, 
tais como a ingestão de substâncias não comestíveis ou regurgitação voluntária dos 
alimentos, e, além desses, há os que envolvem o comportamento alimentar anormal 
relacionado a preocupações com a comida, bem como com o peso corporal e sua 
forma. São classificados como Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa, Transtorno da 
Compulsão Alimentar, Transtorno de Evitação-Restrição Alimentar, PICA, Transtorno 
de Ruminação e Regurgitação e Transtornos Alimentares Não Especificados (17). 
Para além de tais sistemas classificatórios, diversos termos são utilizados para 
se referirem a problemas relacionados à alimentação, que diferem dos mais conhe-
cidos como a Anorexia e Bulimia, por exemplo, sem necessariamente fazer referên-
cia a tais manuais. A nomenclatura dificuldade alimentar tem sido utilizada com um 
termo abrangente que indica alterações no processo de alimentação, e é comum o 
uso de outros termos como comer seletivo, evitação alimentar, neofobia alimentar, 
recusa alimentar, problema alimentar e distúrbio alimentar, por exemplo. 
Em 2015, um grupo de pesquisadores discutiu sobre a necessidade de atenção 
e encaminhamentos pertinentes por parte dos pediatras quanto às queixas sobre 
problemas de alimentação trazidas pelos pais em suas consultas. Apesar de so-
mente uma parcela dessas famílias estar de fato lidando com casos graves, uma 
conduta inadequada no manejo do problema, ainda que leve, pode trazer prejuízos 
para todas elas. Os pediatras precisam estar cientes de que as dificuldades de ali-
mentação frequentemente surgem nas primeiras transições, como na passagem do 
aleitamento no peito para a mamadeira, da mamadeira para o copo, e quando são 
introduzidos os alimentos complementares além do leite, por exemplo, e as orien-
tações durante esses períodos decisivos podem ser particularmente úteis. Os auto-
res acreditam que o profissional responsável pela atenção à saúde primária deve 
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7 
focar em uma abordagem que considere os aspectos orgânicos e comportamentais, 
uma visão que contemple o extenso espectro de gravidade que envolve tanto as 
crianças quanto o padrão de funcionamento de seus pais, e incorpore, desse modo, 
uma análise sobre o impacto do estilo parental no processo de alimentação infantil. 
Os autores propuseram uma categorização que incorpora a visão de especialistas 
da área médica e de psicólogos, sendo divididos em três grupos: crianças que apre-
sentam apetite limitado, crianças que realizam ingestão seletiva e crianças que apre-
sentam medo de se alimentar (11). 
Os mesmos autores descrevem sinais e sintomas sugestivos de dificuldades ali-
mentares, tais como refeições muito prolongadas, recusa alimentar pelo período de 
pelo menos um mês, refeições estressantes e conturbadas, déficit quanto às habilida-
des de alimentação independente, alimentação noturna, necessidade de distratores 
durante a alimentação, amamentação ou uso de mamadeira por período prolongado, 
e falha em avançar quanto à ingestão de novas texturas. Como fatores de alerta con-
siderados orgânicos, descrevem a disfagia, aspiração de alimentos, aparente dor ao 
se alimentar, vômitos e diarreia, atrasos no desenvolvimento, sintomas de doenças 
cardiorrespiratórias crônicas e falhas no crescimento. No que se refere a possíveis fa-
tores de alerta comportamentais, listam fixação por determinados alimentos (seleti-
vos e com dieta extremamente limitada), alimentação nociva (forçada e/ou persecu-
tória), interrupção abrupta da alimentação após um evento traumático, engasgo an-
tecipatório e falhas em se manter avançando quanto à alimentação (11). 
Pesquisadores ressaltam a importância de uma nomenclatura universalmente 
aceita para definir os transtornos alimentares na infância, que seja baseada em uma 
avaliação compreensiva que englobe quatro domínios considerando o sistema mé-
dico, psicossocial e de habilidades para a alimentação, associados com possíveis com-
plicações nutricionais. Apresentam ressalvas aos sistemas classificatórios que focam 
apenas um dos domínios e não consideram limitações funcionais que são críticas para 
o planejamento adequado de intervenções que favoreçam melhora na qualidade de 
vida (9). Acredita-se que são inadequados porque não fornecem critérios que refle-
tem a heterogeneidade do quadro e sua complexa etiologia, sendo que falta especi-
ficidade suficiente em termos de critérios operacionalmente definidos para o diag-
nóstico e não são prescritivos (14). 
A análise unilateral do problema limita as possibilidades de atuação e as múlti-
plas variáveis envolvidas em um quadro tão complexo, sendo que nenhum 
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8 
profissional deveria atuar isoladamente para que possíveis lacunas sejam supridas. 
Desse modo, o termo Transtorno Alimentar Pediátrico é proposto, ressaltando a 
sua importância para os avanços na prática clínica, na pesquisa e nas políticas públi-
cas voltadas à saúde. Pode ser classificado como agudo quando a duração é menor 
do que três meses, ou crônico quando a duração é maior do que três meses. Para 
distingui-lo de outros transtornos alimentares como a Anorexia e Bulimia, deve ser 
diagnosticado apenas na ausência de distúrbios de imagem corporal (9). 
Os critérios para o diagnóstico de um Transtorno Alimentar Pediátrico suge-
rido pelos autores estão descritos na Tabela 1. 
 
Tabela 1. Proposta de critérios diagnósticos para o Transtorno Alimentar Pediátrico (9). 
 
A. Um distúrbio na ingestão oral de nutrientes, impróprio para a idade, com duração de pelo me-
nos duas semanas e associado a um ou mais dos seguintes: 
 
1. Disfunção médica, conforme evidenciada por qualquer um dos seguintes: 
a. Comprometimento cardiorrespiratório durante a alimentação oral. 
b. Aspiração ou pneumonite por aspiração recorrente. 
 
2. Disfunção nutricional, conforme evidenciada por qualquer um dos seguintes: 
a. Desnutrição. 
b. Deficiência de nutrientes específicos ou ingestão significativamente restrita de um ou mais nu-
trientes resultantes da diminuição da diversidade alimentar. 
c. Dependência de alimentação enteral ou suplementos orais para sustentar a nutrição e/ou hidratação. 
 
3. Disfunção da habilidade de alimentação, conforme evidenciada por qualquer um dos seguintes: 
a. Necessidade de modificação de textura de líquido ou comida. 
b. Uso de posição de alimentação ou equipamento modificado. 
c. Uso de estratégias de alimentação modificadas. 
 
4. Disfunção psicossocial, conforme evidenciadapor qualquer um dos seguintes: 
a. Comportamentos de evitação ativa ou passiva pela criança enquanto se alimenta ou é alimentada. 
b. Gestão inadequada do cuidador quanto à alimentação infantil e/ou às necessidades nutricionais. 
c. Perturbação do funcionamento social em um contexto de alimentação. 
d. Perturbação da relação cuidador-criança associada à alimentação. 
 
B. Ausência de processos cognitivos consistentes com transtornos alimentares e padrão de inges-
tão oral não são devidos à falta de alimento ou congruentes com as normas culturais. 
 
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9 
Nesse sentido, esforços que visem à universalização de nomenclaturas e crité-
rios para identificar com maior precisão tais problemas são de grande relevância, 
tendo em vista que tal variação quanto às definições pode ser uma barreira para a 
compreensão por parte dos profissionais da saúde, bem como dos próprios familiares 
e das pessoas acometidas. Isso, em consequência, aumenta a chance de postergar a 
oferta de um tratamento especializado e até mesmo impacta na capacitação de pro-
fissionais para intervir junto a essa demanda. Nos casos de clientes com Transtornos 
do Espectro do Autismo (TEA), isso se torna ainda mais delicado, considerando-se a 
complexidade desse quadro e as alterações comportamentais que podem surgir, in-
tensificando ainda mais os comprometimentos relacionados à alimentação. 
 
ASPECTOS ÉTICOS NA ATUAÇÃO 
EM EQUIPE INTERDISCIPLINAR 
 
O profissional que vai atuar com foco no Transtorno Alimentar Pediátrico em 
pessoas com TEA necessita de capacitação quanto às suas demandas, e é impres-
cindível considerar que deverá fazer parte de uma equipe interdisciplinar que, tra-
balhando de modo unificado, terá muito mais recursos para lidar com os diversos 
fatores associados a tais comprometimentos. Devido à alimentação se tratar de um 
processo complexo e multissistêmico, todos os profissionais precisarão dedicar 
tempo adicional para estudo, aperfeiçoamento, treinamento e supervisão, bem 
como a contribuição de todas as disciplinas estarão envolvidas para o sucesso da 
terapia alimentar. Essa combinação visa a se apropriar das potencialidades de cada 
disciplina para maximizar os resultados do cliente. É fundamental que todos os 
membros da equipe estejam cientes, realizem monitoramento constante das inter-
venções em curso e compreendam como tais condutas podem interagir entre si, 
para garantir que não realizem algo que, de maneira inadvertida, possa causar da-
nos ao cliente e focar nos ganhos necessários (16). A atuação precisa ser integrada 
e interdependente, com os direcionamentos voltados a objetivos comuns com coo-
peração e coesão, em especial nos casos de TEA (6). 
Esse grupo de profissionais pode variar a depender das demandas predomi-
nantes no caso, mas pode ser composto por médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, 
terapeutas ocupacionais, dentistas, nutricionistas, entre outros. Quando há uma 
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10 
equipe multiprofissional, é necessário um cuidado adicional para reconhecer as di-
ferentes filosofias que embasam tais atuações, para que seja elaborado um plano 
de ação que contemple os interesses do cliente da melhor forma e as discrepâncias 
nos tratamentos recomendados sejam minimizadas. Práticas que não são baseadas 
em evidências e que podem expor o cliente a riscos não são recomendadas, e toda 
e qualquer estratégia de intervenção indicada pela equipe (mesmo as baseadas em 
evidências) deve ser apresentada aos responsáveis e amplamente discutida, para 
garantir a anuência antes de sua implementação e, assim, respeitar os princípios 
éticos (16). Considerar a validade social também é um fator importante, à medida 
que considera se os objetivos planejados para a intervenção são aceitáveis, se as 
estratégias elencadas também são aceitáveis e estão alinhadas com as melhores 
práticas para o tratamento, e se os resultados obtidos se mostram relevantes, sig-
nificativos e sustentáveis ao longo do tempo (5). 
Vale ressaltar que, além dos profissionais, é primordial que os familiares sejam 
vistos como agentes ativos na intervenção e sejam incluídos na equipe de trabalho 
como colaboradores para a modificação de comportamento, pois assim será maior 
a probabilidade de generalização e manutenção das habilidades adquiridas. O tra-
tamento voltado à alimentação deve ser avaliado em termos de eficácia não apenas 
em relação ao seu sucesso em condições clínicas, mas também em outros contex-
tos, frente a pessoas e ambientes variados (16). 
No que tange à atuação do analista do comportamento especificamente, o Có-
digo de Ética publicado pelo Behavior Analyst Cetification Board norteia as condutas 
nesse sentido e discorre, na primeira sessão, sobre responsabilidades profissionais, 
destacando que a prática de atuação deve ocorrer dentro de seu escopo de compe-
tência. Analistas que se envolverem em atividades profissionais em novas áreas so-
mente o farão frente ao compromisso com o estudo, o treinamento e a prática su-
pervisionada por outros profissionais mais experientes no mesmo campo de atua-
ção. Além disso, também devem se manter sempre atualizados para a manutenção 
de tal competência profissional (2). 
Cooper et al. (5) citam uma adaptação dos direitos a um tratamento compor-
tamental efetivo, originalmente publicada pela Association for Behavior Analysis In-
ternational, que considera que o indivíduo tem o direito a um ambiente terapêutico, 
a serviços cujo objetivo principal é o seu bem estar pessoal, a um tratamento com 
um analista do comportamento competente, a programas que ensinam habilidades 
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11 
funcionais, a avaliação comportamental e avaliação contínua, bem como aos pro-
cedimentos para tratamentos os mais efetivos possíveis. 
Na realidade brasileira há discrepância entre o tamanho da demanda de pes-
soas que necessitam de intervenção e o número de profissionais capacitados que 
prestam esse serviço atualmente. No caso dos clientes com TEA é comum que os 
objetivos relacionados à intervenção alimentar fiquem em segundo plano, en-
quanto os demais relacionados à comunicação, ao ensino de repertórios básicos e 
à escolarização, por exemplo, tenham prioridade tanto para as famílias quanto para 
os terapeutas. Por vezes, isso ocorre por uma lacuna no repertório dos próprios 
profissionais para lidar com tais questões, e acabam por fazer encaminhamentos 
quando o quadro já se agravou significantemente e já apresenta riscos à saúde. 
O intuito deste capítulo é conscientizar e discutir sobre possibilidades de atua-
ção, em especial do analista do comportamento, quando se depara com tal de-
manda, e qual seria o momento para realizar encaminhamento para uma equipe es-
pecializada, ao concluir que a atuação necessária está fora de seu escopo de com-
petência. 
 
DIRETRIZES SOBRE AVALIAÇÃO, INTERVENÇÃO E 
ENCAMINHAMENTO PARA EQUIPE ESPECIALIZADA 
 
Peterson e Ibañez (13), analistas do comportamento, propõem diretrizes para 
avaliação e tratamento da seletividade alimentar em crianças com autismo, descre-
vendo, inclusive, em quais momentos o encaminhamento para equipes de profissi-
onais especializados nessa demanda deve ser considerado (Figura 1). 
As etapas propostas pelas autoras consistem em: 
Etapa 1. Identificar o problema referente à alimentação: Primeiramente deve 
ser realizada uma definição e descrição do problema em termos específicos. 
Etapa 2. Realizar uma reunião com os cuidadores da criança: Neste momento 
o objetivo é discutir com os cuidadores sobre os problemas observados nos varia-
dos contextos (oferecem um exemplo de uma professora que identifica essa de-
manda na escola, por exemplo) e verificar se o que foi identificado também é um 
pontode preocupação para eles, antes de iniciar uma avaliação mais precisa. 
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12 
 
Figura 1. Avaliação e tratamento da seletividade alimentar. 
Tradução autorizada de Peterson e Ibañez (13). 
 
Etapa 3. Encaminhar a criança a uma equipe médica e interdisciplinar: Tendo 
em vista as implicações e a complexidade de um caso de seletividade e autismo, o 
profissional deve procurar o auxílio de uma equipe composta por especialistas que 
possa contribuir para uma avaliação de aspectos globais. Em geral, essa equipe é 
composta por médicos, nutricionistas, fonoaudiólogos ou terapeutas ocupacionais 
e analistas do comportamento. Ressaltam que nos casos em que não for possível a 
inserção de todos esses especialistas, pelo menos o médico deve ser consultado 
para que o tratamento seja iniciado somente após aprovação. Há três possibilidades 
de encaminhamento do médico após esse momento inicial: a primeira é prosseguir 
com a intervenção alimentar, depois postergar o início do tratamento até que a cri-
ança esteja apta a receber a atenção médica e, por fim, encaminhar a criança para 
um programa de terapia alimentar intensiva que possa monitorar adequadamente 
aspectos médicos, motores orais, comportamentais, nutricionais e de crescimento. 
Etapa 4. Entrevista detalhada com o cuidador: Nesta etapa, após aprovação do 
médico, novamente é realizada entrevista com os cuidadores, mas agora muito 
mais extensa e detalhada para coleta de dados adicionais. Sugerem que solicitem o 
preenchimento de um diário alimentar de três a cinco dias, com o máximo de deta-
lhes possíveis que consistem na descrição de marcas consumidas, outros comple-
mentos relevantes para o consumo e rotina alimentar em relação a horários, para 
verificar se a criança come nos intervalos das principais refeições. 
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13 
Etapa 5. Realizar observação direta com os alimentos preferidos e com os ali-
mentos não preferidos: O profissional deverá agendar um encontro para observar 
uma refeição da criança com seus responsáveis e se atentar aos seus comportamen-
tos frente à situação desafiadora de recusa e problemas de comportamento. Obser-
var momentos diferentes que contemplem alimentos que a criança já consome re-
gularmente e, também, alimentos que ela rejeita possibilitará uma análise de varia-
ção de padrão frente aos alimentos diferentes. Neste momento, apesar de ser ape-
nas uma amostra das situações habituais da rotina familiar, já poderá observar 
como os envolvidos interagem durante as refeições e observar como, possivel-
mente, os cuidadores reforçam o comportamento do filho (por exemplo, interrom-
per a refeição precocemente) e se há algum déficit relacionado às habilidades ne-
cessárias para a alimentação. 
Etapa 6. Avaliação de preferência e análise funcional: Indicam que seja reali-
zada avaliação de preferência para determinar quais são os alimentos do agrado da 
criança e recomendam o uso da avaliação de preferência por pares (7), o que tam-
bém será útil para estabelecer uma hierarquia relacionada à possível magnitude do 
reforço. Essa etapa é importante pois o objetivo é selecionar reforçadores poten-
ciais que sejam úteis no processo de intervenção baseado em reforçamento posi-
tivo. Uma opção adicional seria conduzir análise funcional para os problemas de 
comportamento, para identificação da função ou das funções que os mantêm no 
contexto da alimentação. Caso não tenha tempo, recursos e treinamento ade-
quado, é recomendado que se contate um analista do comportamento com experi-
ência em transtornos alimentares para dar seguimento a esse procedimento. 
Etapa 7. Selecionar os alimentos-alvo e estabelecer metas: Após coleta dos da-
dos fundamentais, é o momento de estabelecer os alvos iniciais de intervenção e 
determinar os objetivos junto aos cuidadores. A opinião dos cuidadores é extrema-
mente relevante e devem contribuir com a sua perspectiva sobre os alimentos que 
a criança não consome, mas que gostariam que consumisse. A recomendação é a 
de que se inicie com poucos alvos e aumente gradativamente o número de alimen-
tos novos a serem inseridos à medida que tenha sucesso com os que foram plane-
jados. Vale ressaltar que o médico deverá ter aprovado o início da intervenção, e a 
equipe deve iniciar com pedaços pequenos para evitar possíveis intercorrências du-
rante os procedimentos. As metas determinadas precisam sempre ser objetivas, 
mensuráveis e razoáveis de serem alcançadas. 
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Etapa 8. Avaliação de linha de base estruturada: Uma vez que os objetivos te-
nham sido definidos, é possível conduzir uma linha de base estruturada e elencar 
medidas para mensuração e para o acompanhamento durante a intervenção (citam 
exemplo da pesagem do volume no prato para detecção do montante consumido, 
considerando-se no cálculo, inclusive, qualquer volume que tenha sido desperdi-
çado). As medições podem ser feitas por equipamentos como uma balança, mas se 
não for possível, o número de porções aceitas e consumidas durante a refeição é 
uma alternativa (por exemplo, colheradas). Dão exemplos de outras medidas, como 
a aceitação (quando o alimento passa da linha dos lábios após até 8 segundos do 
volume ter sido apresentado), boca limpa que é considerada quando não resta vo-
lume do alimento aproximadamente após 30 segundos da aceitação e não há vo-
lume residual maior do que o tamanho de uma ervilha e ausência de expulsão do 
alimento. O registro das medidas de aceitação, boca limpa e frequência de engaja-
mento em comportamento-problema durante a refeição bem como o tempo que 
leva para iniciar a recusa são úteis para controle de progresso. 
Etapa 9. Tratamento e coleta de dados sobre o comportamento da criança: As 
autoras sugerem que as intervenções sejam planejadas com base na Análise do 
Comportamento Aplicada por ser a ciência que apresenta suporte empírico mais ro-
busto para lidar com os transtornos alimentares pediátricos, de acordo com estu-
dos recentes. Descrevem as funções de fuga ou esquiva como as principais obser-
vadas como responsáveis pelo engajamento em comportamentos inapropriados 
durante as refeições. Atentam para o uso de procedimentos como extinção de fuga 
nesses casos e suas implicações, já que, apesar de serem efetivos, envolvem picos 
comportamentais com respostas emocionais ou podem inadvertidamente piorar o 
problema se os procedimentos não foram conduzidos adequadamente, pois envol-
vem conhecimento e experiência do profissional para a sua condução. Por isso, não 
recomendam a sua implementação caso não haja ambiente seguro e profissional 
habilitado para tal e sugerem que sejam utilizados procedimentos que sejam ampla-
mente discutidos na literatura e com base em estratégias antecedentes e reforço 
positivo. 
Ressaltam que é imprescindível que tanto o ambiente como as refeições sejam 
planejados, estruturadas, e cada passo deve ser mensurado e definido anterior-
mente. No caso do ambiente, é importante oferecer as refeições sempre no mesmo 
horário, usar o mesmo tipo de utensilio, assentos confortáveis e apropriados para a 
alimentação e, quando for possível, o alimentador deve ser o mesmo, além de usar 
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15 
as mesmas orientações. Dessa forma, a criança sempre terá previsibilidade do que 
ocorrerá naquele momento. 
Em relação aos alimentos, orientam que as mudanças sejam realizadas de 
forma gradual e constante. As metas deverão ser trabalhadas apenas em uma das 
refeições (por exemplo, almoço ou jantar); caso a criança rejeite o alimento ofere-
cido, ela terá outras oportunidades de se alimentar ao longo do dia, garantindo-se, 
assim, uma nutrição apropriada para o seu crescimento.Além disso, no momento 
da prática alimentar, defina apenas uma mudança (textura, cor, volume) e só parta 
para outra quando a criança obtiver sucesso na anterior. Antes de começar o pro-
cesso é necessário especificar qual a quantidade de alimento será ofertada e quanto 
a criança deverá ingerir, começando sempre com pequenas demandas. 
Etapa 10. Avaliar e refinar o tratamento: Como último passo, as autoras suge-
rem que os profissionais utilizem um delineamento de sujeito único, para avaliar se 
o tratamento estabelecido até o momento está sendo eficaz. Observar e registrar 
o comportamento da criança diversas vezes ao longo da intervenção permite anali-
sar com mais precisão os efeitos do tratamento em curso para tomada de decisão 
quanto à manutenção ou à alteração de algum procedimento elencado. Caso as 
condutas abordadas anteriormente, como a estruturação do ambiente e das refei-
ções, não tenham surtido a mudança desejada no comportamento alimentar, a in-
tervenção deverá ser refinada, e outros procedimentos antecedentes poderão ser 
inseridos. 
Um dos procedimentos citados é o fading, que envolve uma mudança grada-
tiva da característica do estímulo, como a textura, o volume, a cor, o sabor ou o tipo 
de apresentação do alimento, entre outras possibilidades. Quando uma demanda 
que é complexa para a criança é ofertada em pequenos passos ou com manipulação 
e alteração gradual do que é aversivo para ela, aumenta-se a probabilidade de a cri-
ança atendê-la com sucesso. Desse modo, as respostas de comer de baixo custo são 
reforçadas e o aumento da demanda vai ocorrendo gradativamente. 
Em estudo recente, o tratamento de quatro crianças com seletividade alimen-
tar envolveu a adição gradual de texturas mais espessas e liberação de reforço a 
cada episódio de deglutição concluído com sucesso (15). Algo similar foi descrito em 
outro estudo no qual usaram um procedimento de fading para aumentar a quanti-
dade de frutas, vegetais, proteínas e amido consumida por uma criança com 6 anos 
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diagnosticada com seletividade alimentar severa. O primeiro alimento apresentado 
foi uma porção de fruta (equivalente a 5% da porção ideal para a idade). Se a criança 
ingerisse 80% do alimento por três refeições consecutivas, eram acrescentados 5% a 
mais de fruta na porção. Esse procedimento foi implementado até que ela consu-
misse 50% de uma porção de fruta adequada para a idade. Após esse período, uma 
porção de proteína foi inserida junto às frutas e aumentada de forma semelhante. 
Em sequência, foram inseridos amidos e vegetais até que a criança consumisse 50% 
de uma refeição apropriada para a idade (8). 
Outro procedimento considerado antecedente citado pelas autoras (13) é a 
apresentação simultânea, que é a apresentação do alimento preferido juntamente 
com um alimento não preferido. O alimento-alvo (não preferido) pode estar co-
berto do alimento familiar ou pode estar lado a lado, e a exigência é que a criança 
coma os dois ao mesmo tempo. Um estudo de Buckley e Newchok (3) descreve a 
utilização da apresentação simultânea para redução da retenção de alimentos na 
boca sem engolir, conhecida como packing, por uma criança com 9 anos. Ela apre-
sentava esse comportamento sempre que os alimentos não preferidos eram ofer-
tados para que comesse. Frente a isso, utilizaram macarrão, cenoura e carne (ali-
mentos não preferidos) em pedaços pequenos juntamente com biscoito moído (ali-
mento preferido), e o resultado foi uma redução expressiva do packing durante as 
refeições. 
Também é possível fazer associação entre estratégias, como o fading e a apre-
sentação simultânea, por exemplo. Os alimentos podem ser apresentados simulta-
neamente e, aos poucos, pode-se aumentar o tamanho do não preferido e fazer a 
redução do preferido à medida que a criança avança quanto à aceitação em cada 
etapa. 
Sugerem a observação da eficácia do tratamento e dos ganhos do cliente. Se 
as alternativas relacionadas à manipulação de antecedentes juntamente com re-
forço positivo não forem eficazes, é hora de encaminhar a criança para um pro-
grama de alimentação especializado. Caso sejam efetivas e a criança obtenha ga-
nhos, planeje novos objetivos como a inserção de novos alimentos e aumento do 
volume, entre outras possibilidades a depender da demanda (14). 
É importante ressaltar que, mesmo considerando-se as diretrizes supracitadas 
para profissionais que não são especialistas na área, é preciso muito estudo focado 
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17 
na Análise do Comportamento Aplicada a fim de conduzir avaliações e intervenções 
pertinentes, ainda que nos casos mais leves. Em caso de dúvidas ou de detecção de 
qualquer limitação que possa interferir na qualidade e efetividade da intervenção 
que possa, consequentemente, afetar o cliente, cogite o encaminhamento imediato 
ou a busca de suporte adicional para tal. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Considerando-se a prevalência dos transtornos alimentares tanto na popula-
ção com desenvolvimento típico quanto na de pessoas com distúrbios do desenvol-
vimento, é fundamental que os profissionais da área da saúde se capacitem para 
atuar com essa demanda. A inconsistência nas nomenclaturas e nas descrições uti-
lizadas ao longo dos anos pode ser um fator que interfere no conhecimento dos 
profissionais e na busca por norteadores de práticas efetivas. Nos casos de autismo, 
pode haver uma comorbidade com um transtorno alimentar que, por vezes, não é 
trabalhada devido a outras habilidades deficitárias que são essenciais para o desen-
volvimento e ficam em primeiro plano nas prioridades da família. 
Há uma variedade de fatores a serem considerados e, devido à complexidade 
dos quadros, o suporte de uma equipe interdisciplinar com diversas especialidades 
se faz essencial. O profissional que se dedica a essa área deve sempre se questionar 
sobre apresentar a qualificação necessária para tal, necessitar de treinamento adi-
cional e supervisão de profissionais experientes no assunto e, também, sobre quais 
são norteadores possíveis para optar por um encaminhamento para equipe especi-
alizada. 
 
REFERÊNCIAS 
 
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18 
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https://doi.org/10.1002/ddrr.22
https://doi.org/10.1007/s40617-021-00559-7
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2 
Avaliação comportamental em casos de 
Transtornos Alimentares Pediátricos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cintia Perez Duarte 
Psicóloga, Board Certified Behavior Analyst (BCBA), Mestre e 
Doutora em Distúrbios do Desenvolvimento 
 
Roberto Augusto Lucentini do Amaral Lucas 
Psicólogo, Especializando em Análise do Comportamento Aplicada 
 
Taynara Freire Barreto 
Psicóloga, Mestranda em Análise do Comportamento Aplicada 
 
Citação: Duarte CP, Lucas RALA, Barreto TF. Avaliação comportamental em casos de transtornos alimentares pedi-
átricos. In: Nexo Intervenção Comportamental. Transtornos Alimentares Pediátricos nos TEA [livro eletrônico]. São 
Paulo: Memnon, 2022. Disponível em: www.memnon.com.br para acesso livre. 
http://www.memnon.com.br/
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20 
Transtornos alimentares são condições heterogêneas que podem incluir inges-
tão nutricional e calórica inadequada, falha no crescimento, déficits motores orais 
e/ou problemas comportamentais (24). Estão presentes em, aproximadamente, 25% 
das crianças com desenvolvimento típico e em 90% das crianças com desenvolvi-
mento atípico (5). Devido ao fato de a alimentação envolver aspectos multifatoriais, 
a intervenção demanda estudo adicional, treinamento e supervisão por parte do 
analista do comportamento. Uma avaliação cuidadosa tem como objetivo encon-
trar possíveis sintomas clínicos ou sinais comportamentais que requerem atenção 
imediata (16). Nesse sentido, também é fundamental o trabalho com equipe inter-
disciplinar, que poderá ser selecionada de acordo com as demandas trazidas na en-
trevista inicial e contemplar psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, nu-
tricionista, dentista e médicos (23). 
A avaliação psicológica é um processo técnico e científico realizado com pes-
soas ou grupos e requer metodologias específicas. É um estudo que postula um pla-
nejamento prévio de acordo com a demanda e com os objetivos de cada indivíduo. 
A avaliação pode ser constituída por informações coletadas a partir de entrevistas, 
dinâmicas, observações, testes psicométricos, entre outras, que dão sustentação 
ao trabalho do psicólogo, seja em sua atuação nas áreas da saúde, educação ou 
quaisquer outros setores nos quais se faça necessária (7). 
Diversas avaliações psicológicas tradicionais envolvem a aplicação de testes 
padronizados como instrumentos para descrever potenciais habilidades e déficits 
nos aspectos cognitivos, sociais, acadêmicos ou psicomotores (27). No que tange à 
avaliação comportamental, o objetivo vai além de uma descrição e classificação de 
habilidades e déficits comportamentais somente, sendo que uma das principais me-
tas é identificar possíveis variáveis ambientais que estão relacionadas ao comporta-
mento-alvo, seja ela uma relação de aumento ou de diminuição de sua frequência 
ou intensidade, por exemplo. Seu principal foco é investigar a função do comporta-
mento-alvo no ambiente do indivíduo (6). 
Em 1979 (11) a avaliação comportamental foi descrita como um processo que 
abrange cinco fases: (a) triagem; (b) definição e quantificação dos problemas e o 
estabelecimento dos critérios de desempenho desejados a serem obtidos; (c) defi-
nição específica, clara e objetiva dos comportamentos-alvo a serem observados – 
pinpointing; (d) monitoramento do progresso e; (e) follow-up. A avaliação é a pri-
meira das possíveis fases dentro de um modelo sistemático de intervenção, seguida 
por planejamento, implementação e análise dos resultados. 
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21 
Uma avaliação comportamental contempla procedimentos diretos e indiretos 
para a obtenção de dados que visem à identificação e à definição do comportamento a 
ser modificado. Ela provê contexto necessário a fim de revelar relações funcionais entre 
as variáveis que controlam, mantêm, reforçam ou punem os comportamentos (6). 
 
AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL INDIRETA 
 
Avaliações indiretas envolvem métodos de coleta de informações que não re-
querem que o profissional observe diretamente o indivíduo se comportando. São 
métodos que dependem de um informante como um familiar, professor, cuidador 
ou do relato do próprio indivíduo (10). Diversas formas de avaliações indiretas fo-
ram desenvolvidas para obter informações por meio de relatos sobre possíveis fun-
ções de um comportamento-alvo (16). As mais comuns são entrevistas com cuida-
dores, registros diversos direcionados pelo terapeuta e inventários/checklists, des-
critos a seguir. 
 
Anamnese 
 
Tem como objetivo obter informações sobre o desenvolvimento da criança de 
forma abrangente, ou seja, abordando diversas áreas como a motora, linguagem, 
aspectos relacionados à saúde, habilidades sociais, acadêmicas, entre outras. Le-
vantar informações sobre o histórico médico e de intervenções prévias e atuais tam-
bém se faz relevante para a compreensão do quadro atual. 
Além dos aspectos gerais, a anamnese voltada às questões alimentares precisa 
considerar informações mais específicas que vão desde aspectos físicos que envol-
vem o processo de deglutição, até a compreensão das variáveis ambientais e com-
portamentais envolvidas. Como exemplo, podemos investigar todo o histórico de 
introdução alimentar, quem é o principal responsável por alimentar a criança, como 
é a interação entre quem alimenta e quem é alimentado nos momentos de refeição, 
quais os comportamentos de recusa apresentados pela criança, a rotina da família, 
entre outras informações (19). 
Perguntas estruturadas facilitam descrições mais claras e objetivas. No caso da 
anamnese voltada para a alimentação, é importante obter informações que 
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descrevam quando as recusas começaram, se são estáveis ou variam de acordo com 
algum antecedente, quais utensíliossão utilizados durante as refeições, se existe 
um padrão de aceitação e de recusa de acordo com texturas, marcas dos alimentos, 
temperatura, formas de apresentação, quantidade de alimento que o indivíduo con-
some atualmente, e quais são esses alimentos (verduras, legumes, proteínas etc.). 
Após o levantamento de uma lista de consumo atual e, consequentemente, a veri-
ficação dos itens de recusa, uma forma para elencar possível hierarquia de introdu-
ção de novos itens em conjunto com a nutricionista é classificar, junto à família, 
quais itens são de baixa, média ou alta probabilidade de consumo, de acordo com o 
histórico da criança e com a percepção dos responsáveis (9). 
Um exemplo para essa classificação seria considerar itens semelhantes por cor 
como sendo de média ou alta probabilidade de consumo, ou seja, se a criança come 
batata talvez seja mais fácil introduzir mandioca por ser semelhante pela cor, em 
vez de tomate, que é vermelho. Itens que a criança já consumiu no passado, mas 
hoje não consome mais, podem ser mais fáceis de serem inseridos do que algo to-
talmente novo. Apesar de essa classificação auxiliar na tomada de decisões, não se 
traduz em uma relação exata, pois varia de uma criança para outra. 
A entrevista também pode ser utilizada como fonte de informações para uma 
avaliação funcional indireta. As perguntas são dirigidas para obter dados acerca de 
quais são os comportamentos que ocorrem durante as refeições, a razão por que 
eles acreditam que tais comportamentos ocorrem, em quais lugares e com quais 
pessoas são observados, quais as ações realizadas por eles diante da emissão de um 
comportamento de recusa pela criança e o que eles fazem para tentar prevenir a 
sua ocorrência. 
Além disso, é importante destacar a relevância de outros fatores que podem 
impactar as questões alimentares observadas. Uma criança que passa por proble-
mas de sono, está gripada ou vivencia problemas estressores como divórcio dos 
pais ou bullying, por exemplo, pode apresentar um aumento de comportamentos-
problema em relação à sua alimentação. Essa influência deve ser investigada tanto 
durante a avaliação quanto no contexto de intervenção (29). 
Ao realizar uma entrevista com parentes ou pessoas próximas, além de identi-
ficar comportamentos-alvo e possíveis variáveis de controle, o analista deve realizar 
perguntas para verificar quais pessoas que convivem com a criança em sua rotina 
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se prontificam a participar ativamente na implementação da intervenção. Isso se 
faz relevante tendo em vista que, sem o treinamento e o engajamento de terceiros, 
é mais difícil obter êxito na aplicação e na manutenção de programas de mudança 
de comportamento (6). 
 
Inventários, Escalas e Checklists 
 
Inventários são exemplos de avaliações indiretas que contêm perguntas com 
respostas fechadas. Alguns deles possuem escala de avaliação no sistema Likert, 
que consiste em classificar o quão frequente um determinado comportamento 
ocorre (6). O responsável pelo preenchimento deve selecionar apenas uma das op-
ções de resposta como, por exemplo, 1: “nunca faz”, 2: “raramente faz”, 3: “usual-
mente faz”, 4: “frequentemente faz” e 5: “sempre faz”. Dessa forma, uma soma 
total dos escores é utilizada para prover uma hipótese sobre as variáveis que con-
trolam o comportamento-alvo. Já outros inventários possuem opções de respostas 
pré-determinadas em que se respondem às perguntas assinalando sim ou não (10). 
Geralmente descrevem comportamentos e as condições nas quais cada um de-
les ocorre. Podem ser úteis para avaliar um comportamento específico ou uma área 
de habilidade (6) como, por exemplo, alimentação, além de serem utilizados para 
identificar resultados na eficácia de intervenções (20). Há uma série de materiais pu-
blicados nesse sentido, e uma relação com alguns exemplos é exposta na Tabela 1 
(página seguinte). 
Os checklists são listas de verificação elaboradas para avaliar comportamentos 
previamente selecionados ou habilidades em uma área específica. Possuem descri-
ções claras e objetivas dos comportamentos a serem avaliados e das condições pré-
determinadas sob as quais o comportamento ocorre. Uma das vantagens da utiliza-
ção de checklists é o fato de permitir uma padronização na coleta de determinados 
dados, como, por exemplo, a elaboração de uma lista fixa e diversificada sobre quais 
são os alimentos consumidos atualmente pela criança, quais os alimentos que já fo-
ram consumidos anteriormente e que atualmente a criança rejeita, informações so-
bre o que a família consome, e outras informações de alta relevância para a avalia-
ção, entre outras possibilidades. 
 
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Tabela 1. Exemplos de inventários e escalas voltadas para a coleta de dados sobre o comporta-
mento alimentar. 
Ano Nome 
Número de 
questões 
Objetivo 
1991 CEBI-R 
(The Children´s Eating 
Behavior Inventory – 
Revised) (1) 
40 questões Avaliar as preferências alimentares, habilidades 
motoras e comportamento de colaboração da 
criança e, também investigar interações entre os 
membros da família. 
1997 IFS 
(Infant Feeding Scale) 
(4) 
46 questões A partir da análise de uma sessão gravada de 20 
minutos, a escala provê uma avaliação global so-
bre as interações entre mãe e filho entre 3 meses 
e 36 meses de vida. 
2001 BPFAS 
(Behavioral Pediatric 
Feeding Assessment 
Scale) (8) 
35 questões Obter informações sobre os comportamentos 
alimentares de crianças entre 9 meses e 8 anos 
de idade, e sobre quais estratégias são utilizadas 
diante dos problemas de comportamento ali-
mentar da criança. 
2001 STEP 
(Screening Tool of 
Feeding Problems) 
(21) 
23 questões Auxiliar profissionais da área da saúde mental a 
identificar e avaliar precocemente problemas ali-
mentares em indivíduos com déficits cognitivos 
para o desenvolvimento de um tratamento. 
2001 CEBQ 
(Child Eating Behavior 
Questionnaire) (31) 
35 questões Avaliar oito dimensões na maneira de se alimen-
tar de crianças. As dimensões incluem responsi-
vidade ao alimento, prazer ao comer, responsivi-
dade de saciedade, comer lentamente, agitação, 
comer exageradamente ligado a fatores emoci-
onais e desejo por bebidas. 
2005 ORI-CEBI 
(Oregon Research In-
stitute – Child Eating 
Behavior Inventory) 
(18) 
89 questões O instrumento foi criado a partir de questões se-
lecionadas de instrumentos já desenvolvidos 
para a mensuração de comportamentos alimen-
tares problemáticos em crianças de até 36 me-
ses. Quatro dimensões de análise são avaliadas: 
seletividade e recusa no consumo de alimentos, 
Comportamentos positivos e negativos dos ali-
mentadores e luta pelo controle da alimentação 
na relação entre a criança e o responsável. 
2007 BAMBI 
(Brief Autism 
Mealtime Behavior In-
ventory) (20) 
18 questões Avaliar a natureza de problemas de comporta-
mento durante a hora da refeição com questões 
específicas voltadas para crianças com autismo. 
2011 STEP-CHILD 
(Screening Tool of 
Feeding Problems in 
Children) (28) 
15 questões e 
6 subescalas 
Desenvolvido a partir dos inventários STEP e 
CEBQ, foi adaptado para avaliar problemas ali-
mentares especificamente em crianças com dé-
ficits cognitivos. As seis subescalas criadas con-
sistem em avaliar problemas na mastigação, co-
mer rápido, recusa alimentar, seletividade ali-
mentar, vômitos e roubar comida. 
 
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25 
Tabela 1. Exemplos de inventários e escalas voltadas para a coleta de dados sobre o comporta-
mento alimentar. 
Ano Nome 
Número de 
questões 
Objetivo 
2009 PMAS (The Parent 
Mealtime Action 
Scale) (12) 
31 questões Desenvolvido para identificar os comportamentos 
exibidos durante a refeição pela criança (com 2 a 12 
anos) e pelos responsáveis. Além disso,possibilita a 
coleta de dados sobre a frequência com que os res-
ponsáveis comem e servem certas comidas. 
2013 SWEAA (Swedish Ea-
ting Assessment) (14) 
60 questões 
e 
8 subescalas 
Um questionário estruturado de autorrelato 
multidimensional com o objetivo de avaliar o 
comportamento alimentar no TEA. Suas subes-
calas compreendem avaliar percepção, controle 
motor, compra de alimento, comportamento ali-
mentar, ambiente das refeições, situação social 
durante refeições, outros comportamentos as-
sociados a distúrbios alimentares e fome/sacie-
dade. Como desvantagens, há a idade mínima de 
15 anos, e o fato de ser um questionário de au-
torrelato faz que apenas autistas com compro-
metimento leve sejam aptos a responder. 
2014 PediEAT (The Pediat-
ric Eating Asessment 
Tool) (30) 
87 questões É um instrumento preenchido pelos pais para 
mensurar a presença ou a ausência e a frequên-
cia de comportamentos positivos (gosta da co-
mida, demonstra fome antes das refeições e 
tenta se autoalimentar) e comportamentos nega-
tivos (come rapidamente e se engasga com comi-
das) relativos à alimentação. Avalia crianças a par-
tir de 6 meses que já iniciaram a introdução ali-
mentar de sólidos. As respostas são definidas em 
seis possibilidades: nunca, quase nunca, às vezes, 
frequentemente, quase sempre e sempre. 
2019 Escala Labirinto de 
Avaliação do Com-
portamento Alimen-
tar no TEA (17) 
26 questões Assim como o BAMBI, foi desenvolvido para ava-
liar o comportamento alimentar em indivíduos 
com TEA. Analisa a motricidade na mastigação, 
seletividade alimentar, habilidade nas refeições, 
comportamento inadequado durante refeições, 
alergias e intolerância alimentar, comportamen-
tos rígidos e comportamentos opositores na ali-
mentação. É usada para planejamento e para 
mensurar a evolução do tratamento. 
 
 
Diário alimentar 
 
É recomendado que os familiares e/ou cuidadores principais preencham um diário 
alimentar que especifique o consumo diário dos alimentos pela criança, quando ela 
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26 
não tiver condição de fazê-lo por si só. Este diário deverá conter informações sobre 
quais alimentos foram consumidos, suas respectivas quantidades e em quais mo-
mentos do dia essas refeições foram realizadas (26). Em nossa prática clínica, ob-
servamos, muitas vezes, que os cuidadores não possuem clareza exata do que tem 
sido ofertado às crianças, bem como seu padrão de aceitação e recusa. Isso ocorre 
diversas vezes com o consumo de líquidos, por exemplo, quando a descrição inicial 
na anamnese é uma e, ao coletar os dados, deparam-se com dados muito discrepan-
tes daqueles que julgavam serem verdadeiros. 
É recomendável que o registro de alimentação seja realizado por um período 
mínimo de três dias para se obter uma variedade maior de informação ao longo dos 
dias e, assim, obter uma análise mais fidedigna do consumo regular do indivíduo. 
Pode ser benéfica a inclusão de informações sobre possíveis comportamentos de-
safiadores que possam ter surgido durante uma refeição (29). Os presentes auto-
res, em sua prática clínica, solicitam que o preenchimento seja realizado por 15 dias 
corridos, o que contempla os fins de semana e possíveis variações de saúde ou ro-
tina que a criança possa ter. 
 
 
Tabela 2. Exemplo de informações parciais coletadas em um diário de alimentação, solicitado aos 
familiares e/ou principais cuidadores, durante a avaliação. 
HORÁRIO 
ALIMENTO E/OU 
 BEBIDA 
(Qual alimento e/ou 
bebida, bem como a 
sua marca e sabor) 
QUANTIDADE / 
TAMANHO 
(Colher, Unidade, 
Copo etc.) 
(Pequeno, Médio e 
Grande) 
APRESENTAÇÃO 
(Frito, Cozido, As-
sado, Grelhado etc.) 
ONDE E COM 
QUEM ESTAVA? 
8h00 
 Toddynho®, bisna-
guinha da marca Se-
ven Boys® recheada 
com requeijão Catu-
piry® 
1 Toddynho® 
1 bisnaguinha 
1 colher de sobre-
mesa de requeijão 
Todos os alimentos 
e bebidas servidos 
frios 
Onde: Em casa à 
mesa de jantar 
 
Com quem: Pai e 
mãe 
12h00 
Arroz, feijão, tomate 
e frango 
2 colheres de sopa 
cheias de arroz 
1 colher de sopa 
cheia de feijão 
2 fatias finas de tomate 
1 filé de peito de 
frango do tamanho 
da palma da mão. 
Arroz e feijão mor-
nos, tomate cru e 
gelado, frango 
morno e grelhado 
Onde: Escola 
 
Com quem: Pro-
fessora e colegas 
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27 
AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL DIRETA 
 
O propósito da avaliação comportamental direta é a compreensão das variá-
veis relacionadas ao comportamento por meio de uma observação (27). Nessa con-
dição, o próprio analista realiza o arranjo ambiental adequado para coletar os dados 
diretamente (6). 
 
Observação comportamental e análise descritiva 
 
O comportamento deve ser observado de forma direta e repetida, e a análise 
comportamental descritiva envolve a observação sistemática do comportamento 
no ambiente em que naturalmente ocorre. Ela provê informações ao observador 
sobre possíveis hipóteses da função do comportamento-alvo e suas variáveis ante-
cedentes e consequentes (3). 
As análises descritivas podem ser divididas em scatterplots, narrativa ou regis-
tro ABC, observações semiestruturadas e estruturadas (27). Scatterplot consiste no 
registro de dados em intervalos de tempo pré-determinados para encontrar padrões 
entre períodos específicos e o comportamento-alvo. Já o registro ABC ou observação 
anedótica envolve a descrição dos eventos observados por escrito, como uma narrativa 
temporal, sequencial do evento que envolve o comportamento de interesse no ambi-
ente em que naturalmente ocorre, sendo descritas as condições antecedentes e conse-
quentes relacionadas ao comportamento. Por fim, as observações semiestruturadas e 
estruturadas consistem em registros cujos eventos antecedentes, comportamentos-
alvo e eventos consequentes específicos são definidos operacionalmente antes da co-
leta de informações, fornecendo dados mais objetivos, devido à identificação prévia 
dos alvos para observação (27). Esses alvos podem ser determinados com base nas in-
formações coletadas nas entrevistas com cuidadores (6). 
No caso da alimentação, essa etapa é fundamental, pois é nela que os dados 
sobre a rotina alimentar e os padrões estabelecidos entre a criança e a família são 
observados, para posterior integração com os demais componentes da avaliação. 
Alguns exemplos de observação do comportamento alimentar, são: 
 Observação direta das refeições em casa e com pessoas do convívio da cri-
ança: é importante observar um recorte da situação real ou, pelo menos, a mais 
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28 
próxima disso. A presença do observador por si só já pode ser considerada um fator 
interveniente e passível de alteração do ambiente natural. No entanto, ainda assim, 
esse momento é indicado e, em conjunto com o cuidador, avalia-se o quanto a situ-
ação foi condizente com o dia a dia da família, para avaliar se é necessário mais um 
agendamento, uma observação on-line ou outros recursos de acordo com a neces-
sidade do caso. 
Neste momento se levantam as variáveis relacionados ao ambiente físico da 
alimentação, aos alimentos ofertados, ao comportamento de quem alimenta a cri-
ança e ao comportamento da criança que é alimentada. Dentre as várias possibili-
dades, observa-se se a refeição é realizada em local adequado, se os alimentos apre-
sentam cores, texturas e grupos variados, se os utensílios ofertados são apropria-
dos para a idade, se a utilização dos utensílios ofertados é feita de maneira ade-
quada e consistente, se a família se alimenta junto com a criança, se os alimentos 
podem ser misturados no prato, se a alimentação é independente, quais são os 
comportamentos do alimentador diante de recusas e de aceitações por parte da 
criança, se o alimentador encerra a refeição em caso de recusa da criança, quais são 
os comportamentosde recusa, entre outros. 
O mesmo se aplica às observações realizadas na escola no caso de crianças que 
fazem as refeições principais nesse ambiente, bem como para qualquer outro am-
biente que o terapeuta e a família julguem relevantes, como a casa dos avós, ali-
mentação em espaços públicos como um restaurante, entre outros. 
 Observação direta e manipulação dos alimentos com os responsáveis na 
presença do terapeuta: este momento pode ser dividido em duas situações: uma na 
qual apenas alimentos preferidos e já consumidos no dia a dia são ofertados e, em 
outro momento, apenas alimentos não preferidos ou que ainda não consome são 
ofertados. Observe se a pessoa que alimenta conversa com a criança naturalmente 
durante a refeição sobre outros assuntos que não o alimento ou a refeição, se ela 
substitui o alimento quando a criança se nega a comer o que foi oferecido, se o res-
ponsável utiliza recursos para que a criança não tenha qualquer comportamento 
disruptivo ou de recusa durante a refeição, entre outros. 
 Testagem direta de alimentos com os terapeutas em ambiente controlado: 
é realizada a manipulação dos alimentos pelos terapeutas, e ofertas de modo siste-
matizado e padronizado são realizadas para identificação de um possível padrão de 
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29 
aceitação e recusa por parte da criança (tal avaliação foi desenvolvida pelos autores 
em conjunto com a equipe do setor de alimentação, em sua prática clínica. Há pa-
dronização quanto aos alimentos a serem ofertados, tipos de instrução, número de 
tentativas, tamanho dos itens, modo de preparo e registros). O objetivo, neste mo-
mento, é planejar uma testagem direta na qual existe a manipulação na apresenta-
ção de alimentos pré-selecionados, a fim de investigar algumas características es-
pecificas da recusa alimentar. Para isso, o terapeuta precisa programar as sessões 
antecipadamente, organizar os alimentos, o ambiente, quais utensílios serão utili-
zados, dentre outras variáveis que julgue serem relevantes. 
Na testagem direta é importante oferecer diferentes tipos de alimentos em 
diferentes grupos como proteínas, carboidratos, legumes, verduras e frutas. Outra 
forma possível é ofertar um mesmo alimento em diferentes texturas, tais como ali-
mentos pastosos, líquidos, crocantes e sólidos. Outras variáveis possíveis de avalia-
ção nesse formato são a temperatura dos alimentos (quente, frio, gelado e morno), 
tipos de apresentação em receitas variadas com o mesmo item, volume dos alimen-
tos e cores, por exemplo, e até mesmo uma avaliação por marcas dos produtos, 
caso os responsáveis tenham trazido essa demanda na avaliação comportamental 
indireta (29). 
 
Testes Padronizados 
 
Caracterizam-se por apresentar de forma específica as mesmas demandas, e o 
critério de pontuação é utilizado para todos os que se submetem a esses testes (8). 
Os analistas do comportamento devem recorrer à utilização de testes padronizados 
quando é possível obter informações específicas sobre a performance por meio da 
mensuração de um comportamento-alvo. Para avaliar comportamentos-alvo a serem 
mudados, são utilizadas, mais comumente, a avaliação referenciada por critério (Cri-
terion-referenced Assessment – CRA) e avaliação baseada no curriculum (Curriculum-
based Assessment – CBA). Uma avaliação referenciada por critério mensura a habili-
dade de uma criança pelo comparativo entre a sua performance com a de reconheci-
dos e comumente aceitos “marcos do desenvolvimento”. Uma análise da habilidade- 
alvo é feita indicando se ela está presente, não presente ou que está em desenvolvi-
mento. Já uma avaliação baseada no curriculum é obtida pela da coleta de dados re-
alizada diariamente ou semanalmente (6). Até o presente momento não 
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30 
identificamos, na literatura, publicações sobre testagens nesse sentido, voltadas ao 
comportamento alimentar de crianças com Transtornos Alimentares Pediátricos. 
Análise Funcional Experimental 
 
A Análise Funcional Experimental visa a identificar a função de um comporta-
mento-problema através da manipulação das possíveis variáveis antecedentes e/ou 
consequentes que controlam o comportamento (13). É realizada pela observação 
direta das relações entre o comportamento-alvo e o ambiente, enquanto existe a 
manipulação deliberada das possíveis variáveis mantenedoras do comportamento. 
As variáveis são organizadas de forma que seja possível avaliar o efeito individual 
de cada uma sobre o comportamento. 
Pesquisas mostram que as funções mais comuns associadas à classe de respos-
tas associada à recusa alimentar são a fuga ou esquiva de alimentos não preferidos 
e o reforçamento positivo social, ou seja, a criança deseja obter atenção de quem a 
está alimentando. Já em relação ao comportamento desse último, é comum obser-
var que frequentemente se libera o acesso a tangíveis, como vídeos e brinquedos 
favoritos, para acalmar as crianças durante as refeições, ou mesmo se interrompem as 
refeições ou se substituem alimentos para que a criança se alimente. Tal estratégia uti-
lizada inadvertidamente ao ofertar à criança itens de preferência mesmo diante de um 
comportamento não colaborativo frene a um alimento não preferido ou a permissão 
para encerrar o contato com esse alimento podem fortalecer essa contingência e, as-
sim, aumentar as probabilidades de ocorrência de comportamentos de recusa (29). 
As figuras 1, 2 e 3 ilustram exemplos de três condições de uma Análise Funcio-
nal Experimental do comportamento de recusa alimentar, a saber: atenção, fuga e 
tangível. 
 
 
Figura 1. Exemplo da condição atenção durante Análise Funcional Experimental, na qual a atenção é 
liberada contingente a qualquer resposta de recusa da criança. 
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31 
 
Figura 2. Exemplo da condição fuga durante Análise Funcional Experimental, na qual o alimento é 
imediatamente retirado contingente a qualquer resposta de recusa da criança. 
 
 
 
Figura 3. Exemplo da condição tangível durante Análise Funcional Experimental, na qual um item 
tangível é entregue contingente a qualquer resposta de recusa da criança. 
 
 
Um estudo de 2003 (25) mostra que a Análise Funcional Experimental foi eficaz 
para identificar mantenedores do comportamento-problema durante as refeições 
para indivíduos com seletividade alimentar. Observações diretas de refeições con-
duzidas por cuidadores foram realizadas para seis díades pai-filho. Foram pontua-
das as respostas da criança e as respostas dos pais (por exemplo, a aceitação ou 
recusa por parte da criança, e a remoção da demanda, acesso a tangíveis ou atenção 
por parte dos pais). Após as observações diretas, foram avaliadas quais foram as 
respostas mais frequentes emitidas pelos pais após a emissão de comportamentos 
de recusa de seus filhos. Os resultados apontam que todos os pais removiam as de-
mandas, forneciam atenção ou liberavam acesso a materiais tangíveis diante do 
comportamento de recusa dos filhos. Na análise descritiva foi identificado que fuga 
e atenção eram os comportamentos mais comuns emitidos pelos pais. Foi condu-
zida Análise Funcional Experimental comparando as condições de teste (fuga de de-
manda, acesso a tangíveis e atenção) com a condição-controle, usando métodos 
similares aos de Iwata et al. (13). O procedimento se mostrou eficaz na identificação 
das funções de comportamento de recusa, sendo a fuga e a atenção os reforçado-
res mais frequentes. É importante salientar que, para três das seis díades pai-filho, 
os resultados das análises descritivas e análises funcionais experimentais foram cor-
respondentes. Portanto, nos dois métodos de análise, as mesmas funções compor-
tamentais foram identificadas. 
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32 
Outros pesquisadores propuseram uma avaliação para identificar correlações 
entre as características dos alimentos (tipo ou textura) e problemas de comporta-
mento durante as refeições. Em vez da manipulação de variáveis consequentes, so-
mente as variáveis antecedentes foram manipuladas, e, devido a essa escolha, utili-
zaram o termo Avaliação Comportamental, já que era uma variação da Análise Fun-
cional Experimental descrita originalmente. Os participantes apresentavam diferen-
tes comportamentos-problema relacionados à alimentação, tais como recusa de to-
dos os alimentos, aceitação de alimentos específicos, independentemente da tex-
tura apresentada (seletividade pelo tipo de alimento), aceitação de determinados 
alimentos com uma textura específica, mas recusa frente textura diferente (seleti-
vidade de textura), e seletividade por tipo e textura do alimento. A avaliação com-
portamental proposta foi eficaz em identificar o perfil dos indivíduos que apresen-
tavam o padrão de aceitação seletiva, expulsão ou recusa total de alimentos e para 
selecionar intervenções menos intrusivas (22). 
Análise de correspondência entre os resultados de Análise Descritiva e Análise 
Funcional Experimental foi realizada por pesquisadores para avaliar problemas de 
comportamento durante as refeições. Os achados mostraram correspondência de 
71,4% quando as funções foram comparadas entre esses métodos, sugerindo que a 
Análise Descritiva apresentou resultados relativamente próximos aos da Análise 
Funcional Experimental (5). Embora a Análise Funcional Experimental seja o instru-
mento mais eficaz para identificar funções do comportamento-alvo, as Análises 
Descritivas podem ser utilizadas face às limitações de tempo ou de treinamento 
para aplicação da primeira e, desse modo, serem uma alternativa especialmente 
para análise de comportamentos-problema referentes à alimentação (3). Nova-
mente a importância da capacitação profissional e do treinamento da equipe pre-
cisa sempre ser considerada, com supervisão para implementação de determinados 
procedimentos tanto de avaliação quanto de intervenção. 
Diante de inúmeras possibilidades para avaliar um transtorno alimentar pediá-
trico, o analista do comportamento deve refletir sobre quais instrumentos e proce-
dimentos são mais adequados, a depender de cada caso em particular. A priori não 
há uma estratégia superior a outra, mas sim características diferentes de cada uma 
que se aplicam a contextos e demandas particulares. O processo de avaliação, junto 
com o planejamento da intervenção, deve ser sempre individualizados, conside-
rando-se as características singulares de cada criança e de sua família. O profissional 
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33 
deve se basear nos dados já publicados e indicados como eficientes pela ciência, 
juntamente com a sua experiência e raciocínio clínico para determinar quais méto-
dos, técnicas e instrumentos utilizará durante a avaliação, e considerar os aspectos 
facilitadores e as barreiras de cada procedimento de avaliação. A Tabela 3 lista al-
guns possíveis benefícios e pontos de atenção ao se utilizarem essas ferramentas. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Transtornos Alimentares Pediátricos são condições que podem interferir dire-
tamente tanto na saúde quanto no desenvolvimento psicossocial da criança afetada 
e de sua família. Antes de iniciar qualquer tipo de intervenção frente a uma queixa 
trazida pelo próprio cliente ou familiar, é necessário realizar um processo de inves-
tigação sobre todos os aspectos que circundam a queixa. No caso de crianças com 
autismo, cuidado adicional deve ser tomado, pois, além do conhecimento sobre a 
Análise do Comportamento em si e estratégias para manejo do comportamento ali-
mentar, há características muito específicas do quadro que requerem estudo e es-
pecialização adicional. 
Serviços focados em reduzir os impactos de um padrão seletivo de alimenta-
ção sobre o indivíduo e todos que o cercam devem se basear em métodos de avali-
ação e intervenção que possuem sustentação e fundamentação na literatura cientí-
fica (3). Ainda há escassez de publicações nacionais que discutem protocolos ou 
mesmo os recursos possíveis para avaliação dessa demanda na população com au-
tismo. 
Conclui-se que um processo de avaliação eficaz é o primeiro passo para um 
planejamento adequado dos objetivos de uma intervenção de qualidade. Estraté-
gias da avaliação comportamental direta e indireta foram aqui discutidas com o in-
tuito de ampliar possibilidades para o profissional que busca aprimoramento de sua 
prática, e, após essa etapa, é fundamental que seja realizado um plano de interven-
ção comportamental individualizado para as demandas observadas, a fim de intervir 
para ampliação do repertório alimentar e, consequentemente, melhora na quali-
dade de vida. 
 
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34 
Tabela 3. Possíveis benefícios e pontos de atenção dos métodos de avaliação comportamental di-
reta e indireta. 
 Benefícios Pontos de atenção 
A
V
A
LI
A
Ç
Ã
O
 IN
D
IR
E
T
A
 
Entrevistas com cli-
ente, familiares e/ou 
cuidadores (Anam-
nese) 
- Baixo custo de resposta 
para o aplicador. 
- Tempo de aplicação redu-
zido. 
- Requer treinamento básico 
de aplicadores. 
 
- Dados menos acurados. 
- Confiabilidade dos dados obtidos 
por entrevistas é menor do que os 
dados obtidos de forma direta. 
- Comportamentos não são observa-
dos in loco. 
- Dados sensíveis ao relato e às lem-
branças das pessoas que têm con-
tato com a pessoa avaliada. 
- Forma de coleta de dados não validada. 
Inventários, Escalas e 
Checklists 
- Instrumentos com pergun-
tas fechadas geram maior pre-
cisão dos dados coletados. 
- Baixo custo de resposta para 
o aplicador. 
- Tempo de aplicação reduzido. 
- Requer treinamento básico 
de aplicadores. 
- Múltiplas opções de inven-
tários disponíveis na litera-
tura científica. 
- Comportamentos não são observa-
dos in loco. 
- Dados sensíveis ao relato e às lem-
branças das pessoas que têm con-
tato com a pessoa avaliada. 
- Algumas classificações da Escala Li-
kert não quantifica a frequência 
exata e pode induzir a avaliações 
subjetivas (por exemplo, raramente 
faz, às vezes faz). 
A
V
A
LI
A
Ç
Ã
O
 D
IR
E
T
A
 
Análise Descritiva 
- Observações diretas do 
comportamento no contexto 
natural (domicílio, escola, 
parque) fazem que avaliado-
res consigam ter uma análise 
mais abrangente de todas as 
possíveis variáveis ambien-
tais e as contingências que 
controlam o comporta-
mento-alvo. 
- Alto índice de correspon-
dência em relação à análise 
funcional experimental, para 
os casos de alimentação. 
- Eventual custo de equipamentos e 
materiais quando aplicável e profis-
sionais especializados e treinados 
para realizar as observações. 
- Tempo dedicado à coleta do dado, de-
vido às observações serem repetidas 
diversas vezes, quando necessário. 
- Possível imprecisão na conclusão 
sobre a função do comportamento, 
tendo em vista que não há manipu-
lação experimental de variáveis. 
 
Scatterplots 
- Menor complexidade para 
implementação, devido à sis-
tematização da coleta de da-
dos. 
- Pode fornecer dados sobre 
a frequência do comporta-
mento-alvo. 
- Identifica padrões 
- Só há registro e dados dos com-
portamentos que ocorrem durante 
um tempo de observação – registro 
amostral. 
- Não há o registro das variáveis an-
tecedentes e consequentes das 
quais o comportamento é função. 
- Os dados obtidos não geram 
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35 
temporais da ocorrência do 
comportamento em condi-
ções naturais. 
padrões temporais previsíveis. 
- Não são adequados para registro 
de comportamentos que não se or-
ganizam temporalmente. 
Análise Anedótica ou 
Registro

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