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saude e historia migrantes e imigrantes


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André Mota
Coordenador do Museu Histórico da 
Faculdade de Medicina da Universidade 
de São Paulo e Professor do Programa de 
Pós-graduação do Depto. de Medicina 
Preventiva-FMUSP
Maria Gabriela S.M.C. Marinho 
Professora e pesquisadora da 
Universidade Federal do ABC (UFABC).
Cássio Silveira (organizador convidado)
Professor Adjunto e pesquisador do 
Departamento de Medicina Social da 
Faculdade de Ciências Médicas da Santa 
Casa de São Paulo e Técnico em Assuntos 
Educacionais da Universidade Federal de 
São Paulo.
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Coleção Medicina, Saúde & História
Saúde e História de Migrantes e Imigrantes. 
Direitos, Instituições e Circularidades
gabriela livro 11-048 10 capa final2.indd 1 31/8/2011 10:45:34
Quais acontecimentos de� nirão uma 
história? O que determina a história 
de um país? Ocorrências e feitos em 
suas principais cidades? Ou, então, 
proposições e realizações em centros 
geopolíticos formuladores de um 
projeto de nação? Ou o que se observa 
em sua capital, abrigando o centro 
político, o governo e os representantes 
do estado nacional? É certo que um 
país e, mesmo, uma cidade tal qual, 
por exemplo, uma metrópole como 
São Paulo, faz-se de heterogeneidades, 
situações por vezes convergentes, 
outras con� itantes com o projeto que 
hegemonicamente caracteriza o país. 
É essa diversidade de acontecimentos 
e feitos que nos traz a presente 
coletânea, apontando os diferentes 
aspectos que fazem da medicina 
e da saúde pública um campo de 
conhecimentos e de práticas com 
matizes peculiares, o campo da Saúde 
no Brasil. Em seu conjunto os textos 
valorizam a experiência do Estado 
de São Paulo, abordando temas tão 
contrastantes como as instituições 
médicas e sanitárias ou a procedência 
dos médicos e médicas atuantes 
em São Paulo; ou, ainda, como a 
contribuição das revistas médicas 
na valorização social da ciência à 
medicalização dos ‘perigos sociais’, 
como as crianças desvalidas ou o crime, 
na constituição de áreas disciplinares 
como a pediatria e a medicina legal. 
Mas se o leque da diversidade temática 
– já observando que todos os temas 
são trabalhados da perspectiva 
histórica e nos con� guram, nesse 
mosaico, a história das práticas da 
medicina e do sanitarismo – é em outro 
leque de contrastes que o presente 
livro nos completa as indagações 
inicialmente feitas. Aqui comparecem, a 
partir da institucionalização das práticas 
médicas e de saúde em 
São Paulo, realidades de São Paulo, 
São José dos Campos, Bragança 
Paulista, Sorocaba, Vale do Ribeira, 
Rio Claro, São Carlos e Araraquara, a nos 
mostrar que foi também da diversidade 
de situações e questões que, ao longo 
da última metade do século 19 e 
primeira do século 20, a medicina e a 
saúde pública se � zeram modernas, em 
uma Saúde propriamente brasileira. 
É dessas abordagens de casos, 
cotidianos sanitários ou contextos 
particulares, que extraímos a percepção 
da complexidade de nossa história. Será 
com esta riqueza de explorações que 
a presente publicação presenteia seus 
leitores: do iniciante ao interessado 
já experiente em estudos históricos, 
mais uma boa contribuição para 
aprofundarmos nosso conhecimento 
acerca das práticas em saúde no Brasil. 
Lilia Blima Schraiber, agosto 2011 
Coleção Medicina, Saúde & História
Vol. 1
MARIA GABRIELA S. M. C. MARINHO
ANDRÉ MOTA
(ORGANIZADORES)
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Caminhos e Trajetos da Filantropia 
Científica em São Paulo. 
A Fundação Rockefeller e suas Articulações no Ensino, 
Pesquisa e Assistência para a Medicina e Saúde (1916-1952)
A Fundação � lantrópica em seu sentido moderno 
tem sido um fenômeno característico dos Estados 
Unidos no século XX. (...) A Fundação Rockefeller 
foi uma das pioneiras neste campo e é a instituição 
mais antiga no gênero. Por suas ações (..) se 
converteu em uma das marcas mais distintivas da 
ciência, das humanidades e das artes no século XX. 
(...) Junto com as lisonjas tem recebido também 
críticas. Na década de 1970, se articularam um 
conjunto de críticas de tom político ante ao que 
se percebia como os interesses particulares das 
fundações e sua in� uência contrária aos interesses 
de autonomia dos países nos quais atuaram. E. 
Richard Brown (1979) a julgou como produzindo 
um “sistema médico que serviu pobremente 
às necessidades sanitárias da sociedade”, 
Robert Arnove (1980) a viu como desviando os 
investigadores dos países do Terceiro Mundo de 
estudar os problemas de seus países em seus 
próprios termos, e com um nível de recursos 
consoante ao desenvolvimento de cada um deles, 
em sintonia com esforços realistas de mudança 
social. Eduardo Berman (1983) sustentou que a 
retórica de recorrer a pesquisadores - e o fato de 
selecioná-los entre os nativos do Terceiro Mundo 
para coordenar componentes importantes de 
programas das fundações norte-americanas - 
deveria ser confrontado com a possibilidade de 
que esses indivíduos tenham sido selecionados 
porque suas disposições intelectuais e políticas os 
predispunham a alcançar conclusões favoráveis 
ao enfoque dos temas de interesse das fundações 
Em anos mais recentes, se tem buscado 
aprofundar a compreensão da recepção e das 
respostas locais à � lantropia norte-americana, para 
além de juízos valor favoráveis ou desfavoráveis 
e de uma percepção que se concentrava 
exclusivamente nos doadores. Com relação 
à região latino-americana, os trabalhos, entre 
outros, do peruano Marcos Cueto (...) ajudaram a 
dar a conhecer não só a contribuição da FR para 
as ciências médicas, como também levaram a 
conhecer o caudal de informação organizada em 
seus famosos arquivos, que cada vez mais estão 
sendo explorados por investigadores da região ou 
interessados nela. 
Numerosas instituições e outras iniciativas 
cientí� cas da América Latina estiveram associadas 
à FR (...). Passados 85 anos do inicio das relações de 
grupos de lideres da atividade médica no estado 
de São Paulo e da Fundação Rockefeller, Maria 
Gabriela Marinho leva a cabo a valiosa tarefa de 
revisar o processo de negociação da colaboração 
entre ambos os grupos, antecedente importante 
da transformação institucional em que se inscreve 
a nova Universidade de São Paulo que nasceria 
na década de 1930, como também de áreas 
importantes da ciência brasileira da época.
O texto dá a conhecer aspectos detalhados, 
inclusive minuciosos, do processo e que ajudam 
a entender sua importância singular no meio 
nacional e latino-americano. Ilumina aspectos 
amiúde tácitos, contudo signi� cativos, dos 
deslocamentos e rupturas políticas e intelectuais 
que marcaram a pro� ssão médica e as relações 
político-institucionais do período. Este livro 
resultará igualmente valioso para aqueles que se 
interessam pela história da medicina moderna no 
Brasil e América Latina. Sua exposição e análise 
clara e sistemática dos principais atores sociais e 
aspectos fundamentais brindará seus leitores com 
uma narrativa rigorosa e atraente das origens e 
trajetória da instituição, e oferecerá informação e 
marcos alternativos de interpretação (...). Considero 
que a leitura do livro, por outro lado amena, servirá 
de estímulo especial para as novas gerações de 
estudiosos que perseveram na tarefa de expandir a 
investigação social da ciência e da técnica no Brasil 
e na América Latina.
Hebe Vessuri, Caracas, Dezembro de 2001
(Extraído do Prefácio da 1ª edição de 
Elites em Negociação)
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Coleção Medicina, Saúde & História
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Caminhos e Trajetos da Filantropia Científica em São Paulo. 
A Fundação Rockefeller e suas Articulaçõesno Ensino, 
Pesquisa e Assistência para a Medicina e Saúde (1916-1952)
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Quais acontecimentos de� nirão uma 
história? O que determina a história 
de um país? Ocorrências e feitos em 
suas principais cidades? Ou, então, 
proposições e realizações em centros 
geopolíticos formuladores de um 
projeto de nação? Ou o que se observa 
em sua capital, abrigando o centro 
político, o governo e os representantes 
do estado nacional? É certo que um 
país e, mesmo, uma cidade tal qual, 
por exemplo, uma metrópole como 
São Paulo, faz-se de heterogeneidades, 
situações por vezes convergentes, 
outras con� itantes com o projeto que 
hegemonicamente caracteriza o país. 
É essa diversidade de acontecimentos 
e feitos que nos traz a presente 
coletânea, apontando os diferentes 
aspectos que fazem da medicina 
e da saúde pública um campo de 
conhecimentos e de práticas com 
matizes peculiares, o campo da Saúde 
no Brasil. Em seu conjunto os textos 
valorizam a experiência do Estado 
de São Paulo, abordando temas tão 
contrastantes como as instituições 
médicas e sanitárias ou a procedência 
dos médicos e médicas atuantes 
em São Paulo; ou, ainda, como a 
contribuição das revistas médicas 
na valorização social da ciência à 
medicalização dos ‘perigos sociais’, 
como as crianças desvalidas ou o crime, 
na constituição de áreas disciplinares 
como a pediatria e a medicina legal. 
Mas se o leque da diversidade temática 
– já observando que todos os temas 
são trabalhados da perspectiva 
histórica e nos con� guram, nesse 
mosaico, a história das práticas da 
medicina e do sanitarismo – é em outro 
leque de contrastes que o presente 
livro nos completa as indagações 
inicialmente feitas. Aqui comparecem, a 
partir da institucionalização das práticas 
médicas e de saúde em 
São Paulo, realidades de São Paulo, 
São José dos Campos, Bragança 
Paulista, Sorocaba, Vale do Ribeira, 
Rio Claro, São Carlos e Araraquara, a nos 
mostrar que foi também da diversidade 
de situações e questões que, ao longo 
da última metade do século 19 e 
primeira do século 20, a medicina e a 
saúde pública se � zeram modernas, em 
uma Saúde propriamente brasileira. 
É dessas abordagens de casos, 
cotidianos sanitários ou contextos 
particulares, que extraímos a percepção 
da complexidade de nossa história. Será 
com esta riqueza de explorações que 
a presente publicação presenteia seus 
leitores: do iniciante ao interessado 
já experiente em estudos históricos, 
mais uma boa contribuição para 
aprofundarmos nosso conhecimento 
acerca das práticas em saúde no Brasil. 
Lilia Blima Schraiber, agosto 2011 
Coleção Medicina, Saúde & História
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MARIA GABRIELA S. M. C. MARINHO
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Eugenia e História: 
Ciência, Educação e Regionalidades
 Enraizadas no século XIX, as 
concepções e práticas eugênicas 
foram desa� adas no século 
subseqüente. Em 1938, o Boletim de 
Higiene Mental registrava: desde que 
o nazismo criou institutos de Eugenia, 
desvirtuando-os de sua � nalidade 
cientí� ca e humanitária para � ns 
político-raciais, falsos preconceitos se 
estabeleceram em torno das doutrinas 
eugênicas. Tornaram-se tão extensos 
e profundos que ao propormos, no 3º 
Congresso Internacional de Higiene 
Mental, que se recomendasse a todas 
as faculdades de Medicina do mundo a 
criação de uma cadeira de Eugenia, foi 
esta ideia imediatamente posta de lado 
e considerada como uma tentativa de 
renascimento do espírito do hitlerismo. 
No pós-guerra, organismos 
internacionais recusaram 
sistematicamente os preceitos 
eugênicos e orquestraram a 
internacionalização da medicina 
preventiva em clara oposição 
aos pressupostos eugênicos. E 
rea� rmaram: se é interesse da Eugenia 
que a criança nasça bem, isto deve 
acontecer em igualdade de condições 
com a mulher do povo ou da alta 
roda. Se a alimentação sadia, racional, 
cientí� ca é condição necessária à boa 
saúde e ao bom rendimento energético 
é mister que o alimento seja propiciado, 
igualmente, senão mais fartamente, 
às classes pobres proletárias, que mais 
trabalham, que mais produzem. 
Naquele contexto, as reformas 
hospitalares e a expansão das escolas 
médicas sugeriam que a Eugenia seria 
sepultada. Contudo, sua presença 
permaneceu signi� cativa. Destituída 
de estatuto cientí� co, continuou a 
vigorar explícita e implicitamente 
em diferentes instâncias, como no 
manual Puericultura, publicado pelo 
governo federal em 1950 e assinado 
pelo médico Clóvis Correia da Costa. 
Para o autor, indivíduos portadores 
de taras constituíam uma carga 
pesada para a sociedade - pois seus 
� lhos povoariam reformatórios, 
asilos, hospitais e cadeias - e a 
Justiça Alemã cortava o mal pela raiz, 
condenando o indivíduo à esterilização, 
embora permitisse o matrimônio 
(...) matrimônio em branco, sem 
descendência. A lei nazista foi muito 
criticada, mais por motivos de ordem 
política do que por motivos cientí� cos. 
Assim a esterilização eugênica é 
medida de alta sabedoria, de grande 
valor social, não devemos condená-la 
somente porque teve seu maior surto 
na ideologia nazista.
É interessante assinalar quanto do 
passado permanece inscrito no 
presente. E se a eugenia é um termo 
combatido e em desuso, certas 
práticas permanecem ligadas à sua 
doutrina hierarquizante, restritiva e 
cada vez mais intervencionista.
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Quais acontecimentos de� nirão uma 
história? O que determina a história 
de um país? Ocorrências e feitos em 
suas principais cidades? Ou, então, 
proposições e realizações em centros 
geopolíticos formuladores de um 
projeto de nação? Ou o que se observa 
em sua capital, abrigando o centro 
político, o governo e os representantes 
do estado nacional? É certo que um 
país e, mesmo, uma cidade tal qual, 
por exemplo, uma metrópole como 
São Paulo, faz-se de heterogeneidades, 
situações por vezes convergentes, 
outras con� itantes com o projeto que 
hegemonicamente caracteriza o país. 
É essa diversidade de acontecimentos 
e feitos que nos traz a presente 
coletânea, apontando os diferentes 
aspectos que fazem da medicina 
e da saúde pública um campo de 
conhecimentos e de práticas com 
matizes peculiares, o campo da Saúde 
no Brasil. Em seu conjunto os textos 
valorizam a experiência do Estado 
de São Paulo, abordando temas tão 
contrastantes como as instituições 
médicas e sanitárias ou a procedência 
dos médicos e médicas atuantes 
em São Paulo; ou, ainda, como a 
contribuição das revistas médicas 
na valorização social da ciência à 
medicalização dos ‘perigos sociais’, 
como as crianças desvalidas ou o crime, 
na constituição de áreas disciplinares 
como a pediatria e a medicina legal. 
Mas se o leque da diversidade temática 
– já observando que todos os temas 
são trabalhados da perspectiva 
histórica e nos con� guram, nesse 
mosaico, a história das práticas da 
medicina e do sanitarismo – é em outro 
leque de contrastes que o presente 
livro nos completa as indagações 
inicialmente feitas. Aqui comparecem, a 
partir da institucionalização das práticas 
médicas e de saúde em 
São Paulo, realidades de São Paulo, 
São José dos Campos, Bragança 
Paulista, Sorocaba, Vale do Ribeira, 
Rio Claro, São Carlos e Araraquara, a nos 
mostrar que foi também da diversidade 
de situações e questõesque, ao longo 
da última metade do século 19 e 
primeira do século 20, a medicina e a 
saúde pública se � zeram modernas, em 
uma Saúde propriamente brasileira. 
É dessas abordagens de casos, 
cotidianos sanitários ou contextos 
particulares, que extraímos a percepção 
da complexidade de nossa história. Será 
com esta riqueza de explorações que 
a presente publicação presenteia seus 
leitores: do iniciante ao interessado 
já experiente em estudos históricos, 
mais uma boa contribuição para 
aprofundarmos nosso conhecimento 
acerca das práticas em saúde no Brasil. 
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Caminhos e Trajetos da Filantropia 
Científica em São Paulo. 
A Fundação Rockefeller e suas Articulações no Ensino, 
Pesquisa e Assistência para a Medicina e Saúde (1916-1952)
A Fundação � lantrópica em seu sentido moderno 
tem sido um fenômeno característico dos Estados 
Unidos no século XX. (...) A Fundação Rockefeller 
foi uma das pioneiras neste campo e é a instituição 
mais antiga no gênero. Por suas ações (..) se 
converteu em uma das marcas mais distintivas da 
ciência, das humanidades e das artes no século XX. 
(...) Junto com as lisonjas tem recebido também 
críticas. Na década de 1970, se articularam um 
conjunto de críticas de tom político ante ao que 
se percebia como os interesses particulares das 
fundações e sua in� uência contrária aos interesses 
de autonomia dos países nos quais atuaram. E. 
Richard Brown (1979) a julgou como produzindo 
um “sistema médico que serviu pobremente 
às necessidades sanitárias da sociedade”, 
Robert Arnove (1980) a viu como desviando os 
investigadores dos países do Terceiro Mundo de 
estudar os problemas de seus países em seus 
próprios termos, e com um nível de recursos 
consoante ao desenvolvimento de cada um deles, 
em sintonia com esforços realistas de mudança 
social. Eduardo Berman (1983) sustentou que a 
retórica de recorrer a pesquisadores - e o fato de 
selecioná-los entre os nativos do Terceiro Mundo 
para coordenar componentes importantes de 
programas das fundações norte-americanas - 
deveria ser confrontado com a possibilidade de 
que esses indivíduos tenham sido selecionados 
porque suas disposições intelectuais e políticas os 
predispunham a alcançar conclusões favoráveis 
ao enfoque dos temas de interesse das fundações 
Em anos mais recentes, se tem buscado 
aprofundar a compreensão da recepção e das 
respostas locais à � lantropia norte-americana, para 
além de juízos valor favoráveis ou desfavoráveis 
e de uma percepção que se concentrava 
exclusivamente nos doadores. Com relação 
à região latino-americana, os trabalhos, entre 
outros, do peruano Marcos Cueto (...) ajudaram a 
dar a conhecer não só a contribuição da FR para 
as ciências médicas, como também levaram a 
conhecer o caudal de informação organizada em 
seus famosos arquivos, que cada vez mais estão 
sendo explorados por investigadores da região ou 
interessados nela. 
Numerosas instituições e outras iniciativas 
cientí� cas da América Latina estiveram associadas 
à FR (...). Passados 85 anos do inicio das relações de 
grupos de lideres da atividade médica no estado 
de São Paulo e da Fundação Rockefeller, Maria 
Gabriela Marinho leva a cabo a valiosa tarefa de 
revisar o processo de negociação da colaboração 
entre ambos os grupos, antecedente importante 
da transformação institucional em que se inscreve 
a nova Universidade de São Paulo que nasceria 
na década de 1930, como também de áreas 
importantes da ciência brasileira da época.
 O texto dá a conhecer aspectos detalhados, 
inclusive minuciosos, do processo e que ajudam 
a entender sua importância singular no meio 
nacional e latino-americano. Ilumina aspectos 
amiúde tácitos, contudo signi� cativos, dos 
deslocamentos e rupturas políticas e intelectuais 
que marcaram a pro� ssão médica e as relações 
político-institucionais do período. Este livro 
resultará igualmente valioso para aqueles que se 
interessam pela história da medicina moderna no 
Brasil e América Latina. Sua exposição e análise 
clara e sistemática dos principais atores sociais e 
aspectos fundamentais brindará seus leitores com 
uma narrativa rigorosa e atraente das origens e 
trajetória da instituição, e oferecerá informação e 
marcos alternativos de interpretação (...). Considero 
que a leitura do livro, por outro lado amena, servirá 
de estímulo especial para as novas gerações de 
estudiosos que perseveram na tarefa de expandir a 
investigação social da ciência e da técnica no Brasil 
e na América Latina.
Hebe Vessuri, Caracas, Dezembro de 2001
(Extraído do Prefácio da 1ª edição de 
Elites em Negociação)
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Coleção Medicina, Saúde & História
Coleção Medicina, Saúde & História
Caminhos e Trajetos da Filantropia Científica em São Paulo. 
A Fundação Rockefeller e suas Articulações no Ensino, 
Pesquisa e Assistência para a Medicina e Saúde (1916-1952)
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Quais acontecimentos de� nirão uma 
história? O que determina a história 
de um país? Ocorrências e feitos em 
suas principais cidades? Ou, então, 
proposições e realizações em centros 
geopolíticos formuladores de um 
projeto de nação? Ou o que se observa 
em sua capital, abrigando o centro 
político, o governo e os representantes 
do estado nacional? É certo que um 
país e, mesmo, uma cidade tal qual, 
por exemplo, uma metrópole como 
São Paulo, faz-se de heterogeneidades, 
situações por vezes convergentes, 
outras con� itantes com o projeto que 
hegemonicamente caracteriza o país. 
É essa diversidade de acontecimentos 
e feitos que nos traz a presente 
coletânea, apontando os diferentes 
aspectos que fazem da medicina 
e da saúde pública um campo de 
conhecimentos e de práticas com 
matizes peculiares, o campo da Saúde 
no Brasil. Em seu conjunto os textos 
valorizam a experiência do Estado 
de São Paulo, abordando temas tão 
contrastantes como as instituições 
médicas e sanitárias ou a procedência 
dos médicos e médicas atuantes 
em São Paulo; ou, ainda, como a 
contribuição das revistas médicas 
na valorização social da ciência à 
medicalização dos ‘perigos sociais’, 
como as crianças desvalidas ou o crime, 
na constituição de áreas disciplinares 
como a pediatria e a medicina legal. 
Mas se o leque da diversidade temática 
– já observando que todos os temas 
são trabalhados da perspectiva 
histórica e nos con� guram, nesse 
mosaico, a história das práticas da 
medicina e do sanitarismo – é em outro 
leque de contrastes que o presente 
livro nos completa as indagações 
inicialmente feitas. Aqui comparecem, a 
partir da institucionalização das práticas 
médicas e de saúde em 
São Paulo, realidades de São Paulo, 
São José dos Campos, Bragança 
Paulista, Sorocaba, Vale do Ribeira, 
Rio Claro, São Carlos e Araraquara, a nos 
mostrar que foi também da diversidade 
de situações e questões que, ao longo 
da última metade do século 19 e 
primeira do século 20, a medicina e a 
saúde pública se � zeram modernas, em 
uma Saúde propriamente brasileira. 
É dessas abordagens de casos, 
cotidianos sanitários ou contextos 
particulares, que extraímos a percepção 
da complexidade de nossa história. Será 
com esta riqueza de explorações que 
a presente publicação presenteia seus 
leitores: do iniciante ao interessado 
já experiente em estudos históricos, 
mais uma boa contribuição paraaprofundarmos nosso conhecimento 
acerca das práticas em saúde no Brasil. 
Lilia Blima Schraiber, agosto 2011 
Coleção Medicina, Saúde & História
Vol. 1 Vol. 2
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Vol. 2 Vol. 3 Vol. 4
ANDRÉ MOTA
MARIA GABRIELA S. M. C. MARINHO
(ORGANIZADORES)
CÁSSIO SILVEIRA 
(ORGANIZADOR CONVIDADO)
Se a história é feita de vestígios, a 
recuperação do passado só pode ser 
reconstruída por aproximações não 
lineares. É desse modo, portanto, que 
se pretende fl agrar nessa coletânea 
os deslocamentos humanos e suas 
histórias em busca da saúde e de uma 
vida plena. Ao longo dos capítulos, 
vamos encontrando pistas em que os 
analistas revelam as contradições das 
experiências, das tecnologias e dos 
debates e perspectivas historiográfi cas.
Encontram-se ali o estranhamento pelas 
diferenças e a capacidade humana de 
se rearticular permanentemente para 
cobrir suas necessidades. Porém, está 
presente também o uso recorrente 
das hierarquias demarcadoras dessas 
diferenças. Sobretudo, na reiteração 
pela saúde do que se delimita direta ou 
indiretamente como os seres “inferiores” 
e “superiores”, estratégia dos estigmas 
que persiste em nossas sociedades.
Enfi m, o debate sobre migração e 
imigração, articula aqui o passado 
e o presente e tece fi gurações de 
permanências ou rupturas em torno de 
homens e mulheres que se defrontaram 
com o desafi o de existir. Formamos 
realmente uma só comunidade 
humana? Somos todos homens e 
mulheres doentes de progresso? Esse 
é um desafi o de interpretação para 
leitores e leitoras dessa obra. Caberá a 
esse público a sua decifração.
Os organizadores
Coleção Medicina, Saúde & HistóriaS
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5
Saúde e História de 
Migrantes e Imigrantes. 
Direitos, Instituições e Circularidades
gabriela livro CAPA vol 5 14-008 5.indd 1 27/02/2014 13:57:35
André Mota
Maria Gabriela S. M. C. Marinho
(organizadores)
Cássio Silveira 
(organizador convidado)
Acácio Almeida Santos
Adriana Capuano de Oliveira
Aghi Auguste Bahi
Alejandro Goldberg
Ana Lúcia Lana Nemi
André Mota
Carmen Lúcia Albuquerque de Santana
Cássio Silveira
Ewerton Luiz Figueiredo Moura da Silva
Fernanda de Carvalho Afonso
Francisco Lotufo Neto
Gustavo Querodia Tarelow
Laura Degaspare Monte Mascaro
Luciana de Andrade Carvalho
Manoel Carlos Sampaio de Almeida Ribeiro
Márcia Ernani Aguiar
Maria Cristina da Costa Marques
Maria Gabriela S. M. C. Marinho
Nivaldo Carneiro Junior
Oziris Simões 
Renata Teixeira da Silva
Rita de Cássia Barradas Barata
Coleção Medicina, Saúde & História
Vol. V
Saúde e História de Migrantes e Imigrantes. 
Direitos, Instituições e Circularidades
© 2014 by 
Prof. Dr. André Mota
Profa. Dra. Maria Gabriela Silva Martins da Cunha Marinho 
Direitos desta edição reservados à Comissão de Cultura 
e Extensão Universitária da Faculdade de Medicina da 
Universidade de São Paulo – CCEx-FMUSP
Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, 
sem autorização expressa da CCEx-FMUSP
Imagem da capa
Imagem à esquerda: Imigrantes na enfermaria do hospital (?) – s/d. 
Créditos: Acervo digital do Museu da Imigração do estado de São Paulo. 
Imagem à direita - Oficina de costura boliviana no Bom Retiro. 
Créditos: Márcia Ernani de Aguiar
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 Saúde e História de Migrantes e Imigrantes. Direitos, 
Instituições e Circularidades / André Mota, Gabriela S. M. 
C. Marinho (organizadores). - São Paulo : USP, Faculdade 
de Medicina: UFABC, Universidade Federal do ABC: CD.G 
Casa de Soluções e Editora, 2014 
 232 p. : il. ; 21 cm. (Coleção Medicina, Saúde e História, 5)
 Vários autores
 ISBN: 978-85-62693-20-5
 1. Saúde. 2. História. 3. Imigrantes. - Antropologia. I. Mota, 
André. II. Marinho, Gabriela S. M. C. III. Universidade de São Paulo. 
Faculdade de Medicina.
 
CDD 575.1
613.94
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Vânia Aparecida Marques Favato – CRB-8/3301
E87 
Sumário
Prefácio ..................................................................................................................................................................................7
Maura Pardini Bicudo Véras
Sylvia Duarte Dantas 
Parte 1
SaúDe e HIStórIa De MIgranteS e IMIgranteS ...................................................15
o “Perigo amarelo”: Imigração japonesa, eugenia e os discursos de 
a. C. Pacheco e Silva na assembleia Constituinte (1933-1934) ........................17
Adriana Capuano de Oliveira
Gustavo Querodia Tarelow
Imigração Portuguesa e Psiquiatria na Capital Paulista dos anos 30: 
Modernidade e nacionalismo no atendimento à Saúde ...............................................43
Ana Lúcia Lana Nemi
Ewerton Luiz Figueiredo Moura da Silva
Psiquiatria e Imigração: antonio Carlos Pacheco e Silva, o Hospital 
do juquery e o “Despejo da escória”. Seletividade e assimetrias no 
tratamento Psiquiátrico de Imigrantes em São Paulo (1923-1937) .............59
Maria Gabriela S.M.C. Marinho 
Gustavo Querodia Tarelow 
a atenção à saúde do Imigrante no Contexto Histórico da 
Saúde Pública em São Paulo............................................................................................................73
Maria Cristina da Costa Marques 
Fernanda de Carvalho Afonso
Cássio Silveira
Parte 2
MIgranteS e IMIgranteS: noVaS aborDagenS no CaMPo Da SaúDe ......... 91
Processos Migratórios e Saúde: uma breve Discussão sobre abordagens 
teóricas nas análises em Saúdedos Imigrantes no espaço urbano ..............93
Cássio Silveira
Manoel Carlos Sampaio de Almeida Ribeiro
Nivaldo Carneiro Junior
Oziris Simões
Rita de Cássia Barradas Barata
a epidemia de HIV-aIDS na Costa do Marfim: elaboração de Mensagens em 
Comunicação para Saúde e a Problemática da Mudança de Comportamento ...... 109
Aghi Auguste Bahi 
Acácio Almeida Santos
os Imigrantes bolivianos e Coreanos no bairro do bom retiro através 
das lentes do Programa Saúde da família .................................................................................133
Márcia Ernani Aguiar
André Mota
Políticas de Salud, Derechos y acceso a la atención Sanitaria Pública 
en Inmigrantes que residen en españa y argentina: especificidades, 
Similitudes y Diferencias ...............................................................................................................................155
Alejandro Goldberg
redes de Serviço de Saúde e apoio Social aos 
refugiados e Imigrantes ....................................................................................................................................175
Carmen L. A. Santana
Luciana A. Carvalho
Renata T. da Silva
Francisco Lotufo Neto
Imigrantes bolivianos: abordagem de Direitos Humanos ao Direito ao 
Desenvolvimento ......................................................................................................................................................... 199
Laura Degaspare Monte Mascaro
sobre os autores ................................................................................................................... 227
7
PrefÁCIo
 Alguém já disse que um trabalho científico deve ser julgado pelas 
descobertas acadêmicas e teóricas que oferece, mas, sobretudo por sua 
contribuição à sociedade de que faz parte. Justamente o presente livro traz 
sua relevante presença em ambos os aspectos quer para as transformações 
necessárias ao campo das políticas públicas de saúde, tendo em vista as 
dificuldades existentes nessa área de atuação e no atendimento das questões 
sociais, bem como traz à cena o debate sobre os direitos de cidadania exten-
sivos à situação do (i)migrante e sua inserção na vida metropolitana de São 
Paulo, maior cidade do país.
O tema da imigração tem merecido vários estudos e aprofundamentos, 
incrementados pelas transformações contemporâneas ligadas à globaliza-
ção. Relações capitalistas no estágio atual acabam por conformar as aglom-
erações urbanas, orquestrando processos sociais de competição e exclusão 
de diversos segmentos das populações que se notabilizam, assim, pela 
mobilidade, deslocamentos e expulsão, em movimentos de (des) e (re)ter-
ritorialização constantes.Tais manifestações têm tornado as cidades como 
espetáculos de desigualdade social, pois que, além dos efeitos perversos 
trazidos pela competição econômica no acesso ao solo urbano, revela for-
mas diversas de elitização, degradação de áreas e de pessoas, segregação e 
fragmentação, mas sobretudo discriminação, preconceito, dificuldades de 
reconhecimento dos direitos perante políticas sociais.
Nossas cidades trazem, pois, a marca emblemática da desigualdade no 
espaço, onde o direito às raízes, ao território é quase sempre relegado e sub-
ordinado ao uso predatório do ambiente construído pelos agentes do urbano 
¬ capital e suas frações, Estado e seus interesses ¬ restando à classe trab-
alhadora mover-se pelas determinações do mercado. Tal panorama aponta 
para a existência de fluxos e circulação de mercadorias (entre elas a força 
de trabalho) de pessoas em uma vasta rede de itinerários, pontos de partida 
e de chegada, muitas vezes sem pausas para a reflexão. E essa situação hoje 
não se limita aos deslocamentos dentro da própria cidade, do estado ou país, 
mas sim abrange todo o planeta. Todo o mundo conhece processos de ex-
pulsão de camponeses, dos povos da floresta, de interioranos, de proletários 
rurais rumo aos centros urbanos. 
O Brasil urbano tem se alimentado, entre suas muitas facetas, de inten-
sos fluxos migratórios, de diversas origens e cuja fundamentação geral é de 
que buscam fugir de circunstâncias adversas e melhorar de vida. Essa fór-
mula, tão genérica e verbalizada por muitos migrantes, esconde múltiplos 
dramas e trajetórias pessoais e familiares das mais diferentes modalidades, 
8
cores e condições, tendo como pano de fundo dificuldades econômicas, a 
luta pela terra, por moradia, emprego, educação, saúde, cidadania, enfim; 
a esse conjunto somam-se deslocamentos explicitamente involuntários de 
refugiados, pessoas obrigadas a deixar suas pátrias por conflitos armados, 
violência política, perseguições étnicas, ausência de lei ou mesmo, desastres 
naturais.
Em São Paulo, em particular, foram bem caracterizados os movimen-
tos da imigração estrangeira que ajudaram a moldar a urbanização e indus-
trialização nos finais do século XIX ( notadamente italianos, portugueses, 
espanhóis e japoneses) e permaneceram até meados do século XX, quando 
a segunda guerra mundial provocou novos grupos europeus e de outros lo-
cais vindo para a capital paulista. Nas décadas de 1960 e 1970, migrações 
maciças de habitantes de regiões menos industrializadas do Brasil rumaram 
ao Sudeste, para a cidade de São Paulo, principalmente nordestinos, em 
fenomenologia bastante estudada (VÉRAS, 2003). 
A situação do município de São Paulo hoje em dia, pelo Censo De-
mográfico de 2010 (IBGE, 2010) com uma população de 11.253.503 pes-
soas residentes apresenta uma porcentagem de 1,34% de estrangeiros (são 
151.094 pessoas), cifra considerada pequena em comparação a diferentes 
fases de sua história, pois, apenas a título de ilustração, podem-se citar 
os anos de 1920, quando 35,69% eram nascidos fora do Brasil. Ainda em 
1940, tal proporção chegava a 22,41%. A partir dessa época foi decrescendo 
essa presença estrangeira até chegar a 1980 com 3,83%, e na virada do 
século XXI, em 2000, apresentou 1,87%. (Censos Demográficos – IBGE) 
O perfil dos imigrantes em São Paulo vem se alterando na última década. 
O grupo mais expressivo é o dos portugueses, que significam 23,3% dos 
estrangeiros e são 35212 pessoas. Depois destes, os mais frequentes são os 
bolivianos, que representam 14,3% dos estrangeiros e são 21680 pessoas; 
dos asiáticos, em especial, chineses (representam 6,4% dos imigrantes em 
São Paulo) japoneses( 8,6% dos que nasceram fora do Brasil e estão em São 
Paulo, 13065 deles) e coreanos (são 7054 pessoas representando 4,7% dos 
estrangeiros). Convém registrar que há uma nova característica recente nos 
fluxos migratórios que é a acentuação de migração de trabalhadores quali-
ficados, talvez pelas crises que Europa e Estados Unidos sofreram nos últi-
mos anos em contraste com a relativa resiliência que a economia brasileira 
parecia demonstrar.
Enquanto a população da capital - sede metropolitana aumentava sig-
nificativamente em um século, a proporção dos estrangeiros foi diminuindo, 
e crescendo a presença de migrantes nacionais na configuração urbana. Nos 
dias atuais, o município de São Paulo não apresentou um sensível incremen-
to populacional em suas regiões centrais, segundo a mesma fonte, Censo 
Demográfico de 2010, mas suas zonas periféricas registram expansão con-
9
tínua, inclusive para os demais municípios da região metropolitana. Essa é 
uma evidência de que o cinturão de abordagem dos mais pobres aos centros 
urbanos continua a existir, embora com características diversas das clássi-
cas urbanizações capitalistas da Europa ou mesmo dos anos 1960 entre nós.
O cenário urbano permanece segmentado, fragmentado, com perif-
erias, zonas de habitações precárias, insalubres, desprovidas de infraestru-
tura urbana e serviços básicos, loteamentos irregulares e/ou clandestinos, 
favelas e áreas de deterioração com a presença de imóveis congestionados e 
encortiçados, mesmo em porções centrais, denotando que muitos não con-
seguem dispor de condições dignas de habitabilidadee cidadania, em diver-
sas vezes ocupados por migrantes recém-chegados e/ou empobrecidos. Seu 
contraponto é a forte evidência da autossegregação das elites, hoje também 
alcançando setores de renda média da população, em enclaves fortificados, 
condomínios horizontais ou verticais, no que foi chamado de “cidade dos 
muros” (CALDEIRA, 2000).
Essa distribuição heterogênea de espaços e pessoas ilustra, por as-
sim dizer, um viver nas cidades, um conjunto de homens e mulheres, es-
trangeiros (nascidos fora e dentro de seus países, assim considerados pelo 
establishment) desempregados, “inempregáveis”, indígenas, refugiados, 
homossexuais, moradores da precariedade, afrodescendentes, colônias de 
imigrantes, nômades, enfim, “outros” em situação de fronteira (política e 
social), em territorialidades cambiantes. Além das estatísticas, mesmo as 
oficiais, esse quadro pode ser desvendado pelas cartografias socioeconômi-
cas, e também por uma epistemologia que dê contas das diferenças culturais. 
Configura-se, pois, um grande e mundial processo de deslocamento de pes-
soas, geralmente subalternas, um movimento dos dominados pelo planeta, 
enquanto os fluxos vitoriosos do capital financeiro, facilitados pelos grandes 
progressos das telecomunicações em rede, mostram-se visíveis na chamada 
globalização, a revelar as duas faces do mesmo processo. Revestem-se de 
grande significado os espaços de confronto como as fronteiras, pois muitos 
países centrais desenvolvidos fecham suas entradas diante dos (i)migrantes 
empobrecidos e que os procuram. Como nos diz Remi Nilsen :” Em todo 
o mundo ocidental, ao longo dessas últimas décadas, as forças muito orga-
nizadas do capitalismo trabalharam contra a estagnação econômica, através 
de uma exploração ainda mais dura e da recuperação de antigos bastiões do 
movimento operário, atacando de passagem os regimes de previdência, os 
serviços de saúde pública e o direito trabalhista. Essa situação degradada 
cria um ambiente social dividido segundo linhas étnicas e religiosas. Esses 
temas são recorrentes e transnacionais.”( Le Monde Diplomatique, no.60. 
Ano 5,jul 2012) Atualmente várias fontes declaram que muitos migrantes 
foram impedidos de ficarem nos países da União Europeia ( cerca de 345mil 
no ano de 2013-Jornal O Estado de S.Paulo, edição de 5/fev/2014)
10
A propósito, em seminal trabalho, Martins (2009) considera a fronteira 
como “... um cenário de intolerância, ambição e morte. É também, lugar 
de elaboração de uma residual esperança, atravessada pelo milenarismo da 
espera no advento do tempo novo, um tempo de redenção, justiça, alegria e 
fartura”.(MARTINS, 2009, p.10)
Tais seriam as esperanças de muitos imigrantes, com seu deslocamen-
to. Vivem, contudo, na fronteira, não mais entendida como a cerca metálica 
que durante muito tempo separou clandestinos na divisa do México com 
os Estados Unidos, mas também conceito aplicável àqueles que vivem nas 
cidades, sem acesso pleno aos direitos e às políticas sociais.
O direito à saúde, particularmente, é um dos aspectos cruciais no aces-
so à cidadania, mesmo que se considerem as dificuldades conceituais em 
debate e reflexão sobre essa área de atuação social. Na história das socie-
dades esse debate evoluiu da consideração de aspectos específicos, ligados 
aos planos físico - biológico e psicológico, para incluir as dimensões éticas 
e políticas, pois como dizem Rebouças et allii,: “... saúde não é um estado, 
e sim um reflexo da vida e da sociedade, tanto em nível individual quanto 
coletivo” (1989, p.22). 
O livro que temos presentemente nas mãos revela-se importante por dis-
cutir com propriedade significativos aspectos dessa problemática. Como de-
ixar de considerar a oportunidade e a acuidade da discussão realizada sobre as 
abordagens teóricas nas análises em saúde dos imigrantes no espaço urbano, 
reconhecendo não ser esta uma tarefa simples. Como dizem seus autores:
“... a complexidade dos inúmeros contextos migratórios e suas 
consequências à saúde dos imigrantes exige postura intelectual 
condizente, ou seja, pressupõem a construção de abordagens teóri-
co-metodológicas mais ampliadas, potencializadas em seu poder 
explicativo e constituídas na interface entre os campos do saber 
científico.” (SILVEIRA et. all.).
Dessa forma, levando em consideração as transformações ocorridas 
pelo capitalismo transnacional nos últimos tempos, podendo ser denomi-
nados de transmigrantes, e acompanhando as relações ocorridas no espaço 
urbano, identificam-se as situações de vulnerabilidade, segregação e mesmo 
quando acompanhadas de atuações de caráter inclusivo, revelam concep-
ções excludentes por julgarem os imigrantes sem direito às políticas sociais 
11
e de saúde, pois estão fora de seus Estados de origem. A maneira pela qual é 
compreendido o fenômeno migratório permitiu superar concepções antigas 
em que o processo parecia depender apenas de decisões individuais, para 
entendê-lo no conjunto das relações e laços sociais, potencializando desven-
dar caminhos tanto os facilitadores de sua inserção no território das cidades 
quanto os de violência e exploração existentes nas redes sociais. 
A localização em determinados bairros, como ‘ponte’ que lhe oferece 
suporte de língua e costumes entre seus conterrâneos e que pode oferecer 
aos imigrantes melhor acesso aos serviços de saúde e educação, muitas ve-
zes acabou sendo vista como a formação de guetos e de segregação, mas 
os autores preferiram entender a ocupação territorial, em sua conexão com 
redes que podem permitir a transposição de fronteiras. 
No caso da saúde, as vulnerabilidades das relações interpessoais se 
somam às de precariedade de trabalho, de moradia e à existência de pre-
conceitos, estigmas. Do ângulo das políticas, detectou-se certo isolamen-
to das de saúde diante das demais políticas sociais, fragmentando ações e, 
ainda, limitando a atuação em cuidados parciais, aplicados mais a viajantes 
que a residentes imigrantes., além de terem contestados os direitos a ações 
locais. A clandestinidade e a falta de documentação ainda agrava o acesso 
universal, mas essa situação não difere frontalmente daquela vivida pelos 
nacionais que sofrem também as sequelas da desigualdade social de nossas 
cidades.
Nesse sentido, a presente obra nos brinda com a relação entre história 
de migrantes, imigrantes e saúde na primeira parte. Assim, a seleção de imi-
grantes para o Brasil no século XIX pautava-se em uma composição do que 
era considerado ‘sadio’ para o país em que asiáticos e africanos não se en-
caixavam nessa concepção. A compreensão da imigração japonesa enquanto 
relação de interesses bilaterais amplia nossa compreensão dos discursos an-
tiniponicos de Pacheco e Silva que denotavam os ideais eugenistas da época. 
Apesar de estarem isentos das cotas de imigração nos anos 30, portugueses 
não estavam imunes à percepção de ‘anormalidade’ dos estrangeiros interna-
dos no sanatório sendo o conhecimento psiquiátrico vigente indissociável da 
moral do período. O perigo dos estrangeiros considerados ‘degenerados’ nos 
discursos do médico e político Pacheco e Silva, figura fundamental na forma-
ção do ideário eugenista no Brasil, como mostram os autores contrasta com 
os relatos dos prontuários médicos do Juquery em que a maioria dos casos de 
internação tinha origem em choques culturais conforme os autores. A questão 
migrantória passa assim necessariamente pelas questões de saúde essenciais 
para a análise da qualidade de vida e inserção social como pode ser acompa-
nhado no caso da saúde pública em São Paulo. 
12
Na segunda parte do livro a partir de revisões bibliográficas, levanta-
mento de dados e pesquisa de campo, adentramos a realidade concreta que 
clama por novas abordagens no campo da saúde. Assim, os autores afirmam 
como mencionamos acima que abordar processos migratórios internacio-
nais (e nacionais) e suas repercussões sobre a saúde requer uma abordagem 
teórico-metodológica de interface entre diferentes campos dosaber. Sendo 
esse um complexo problema transnacional e em âmbito nacional interseto-
rial. Contudo, a não interação entre o setor da saúde com os demais setores 
das políticas sociais tem sido um obstáculo a integração de ações em âmbito 
nacional e internacional. Na última década com a organização do SUS na 
cidade de São Paulo tem-se observado como apontam os autores o desen-
volvimento de atenção à saúde voltada para grupos migrantes em nível de 
Atenção Primária à Saúde e particularmente a partir da Saúde da Família 
introduzindo a contratação de agentes de saúde bolivianos. Adentramos ai 
os aspectos psicossociais da migração, reconhecidos como fatores chaves 
nas ações sociais e de saúde segundo a Organização Mundial de Saúde 
em publicação de 1982 (apud Berry et. al, 1992). Assim, a questão da co-
municação é crucial, como tratada no caso da epidemia de HIV-AIDS na 
Costa do Marfim, requerendo campos horizontalizados de diálogo entre e 
com migrantes, sem estigmatização como apontam os autores. Ao mesmo 
tempo essa necessária perspectiva impõe desafios como indicam já que “es-
sas abordagens por serem mais etnográficas exigem tempo e não trabalham 
bem com a pressa dos programadores para obter resultados”. Desafios esses 
trazidos a realidade paulistana em que em um bairro como o Bom Retiro, 
um palimpsesto onde grupos tão diversos como coreanos e bolivianos se 
encontram demandando novas compreensões e revisões que as ricas falas 
dos entrevistados sugerem. Nesse momento em que a lei do estrangeiro no 
Brasil está sendo revista, vemos a importância dessa para as políticas de 
saúde como no caso da Espanha em comparação com a Argentina no acesso 
a saúde por parte dos imigrantes. O imigrante, o diferente como ‘chivo ex-
piatório” (bode expiatório) comumente surge em épocas de crise, denotando 
a dialética entre desigualdade social e desigualdade na saúde como aponta 
o autor. A fim de enfrentar essa problemática dados objetivos sobre a saúde 
dos imigrantes são essências, e no entanto, como indicam ao autores, são es-
cassos. O cuidado é interativo como bem apontado no trabalho pautado no 
apoio social a refugiados e imigrantes , assim a competência cultural torna-
se um instrumento de ação em saúde essencial dentro de uma perspectiva 
mais ampla e que se integra com áreas para além da saúde. E que requerem 
a participação dos grupos em foco necessariamente, o que traz à tona a 
discussão da representação de seu status minoritário para o próprio grupo 
dentro de um contexto mais amplo como indica a realidade de imigrantes 
bolivianos cuja exploração ilegal do trabalho precisa necessariamente ser 
considerada e problematizada. 
13
Temos assim um riquíssimo conjunto que vem em boa hora para for-
mar e informar pesquisadores, profissionais, estudantes constituindo assim 
uma obra de referência na área dos estudos migratórios e da saúde.
Maura Pardini Bicudo Véras - Socióloga. Professora Titular e 
Livre Docente do Departamento de Sociologia e do Programa de 
Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais da PUCSP
Sylvia Duarte Dantas – Psicóloga, Ph.D. em Psicologia pela Bos-
ton University, Professora Adjunto II do Departamento de Saúde, 
Clínica e Instituição da Universidade Federal de São Paulo, Co-
ordenadora do Núcleo de Pesquisa Orientação Intercultural da 
UNIFESP e grupo Diálogos Interculturais IEA-USP. 
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humilhações). São Paulo: EDUC, 2006.
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VÉRAS, M. P. B. A produção da Alteridade na Metrópole: desigualdade, 
Segregação e Diferença em São Paulo. In: DANTAS, Sylvia Duarte 
(Org.). Diálogos  Interculturais.  Reflexões  interdisciplinares  e 
intervenções psicossociais. São Paulo: IEA-USP, 2012.
 
Parte 1
Saúde e História de Migrantes e 
Imigrantes
17
o “Perigo amarelo”: Imigração 
japonesa, eugenia e os 
discursos de a. C. Pacheco 
e Silva na assembleia 
Constituinte (1933-1934)
Adriana Capuano de Oliveira
Gustavo Querodia Tarelow
O Brasil comemorou, em 2008, o Centenário da Imigração Japonesa 
para o país, com uma série de festividades e momentos marcantes desse feito 
histórico entre as duas nações, contando, inclusive, com a visita do príncipe-
herdeiro do trono do Japão, Naruhito. Contudo, poucos são os que sabem ou 
reconhecem que essa comemoração poderia ter se dado há, pelo menos, três 
décadas. Esse fato já nos revela, em parte, questões inerentes ao artigo ora 
exposto, no que diz respeito ao curso da imigração japonesa no Brasil e às 
barreiras enfrentadas ao longo de seus primeiros anos, desde a sua aceitação, 
e mesmo após a sua implementação. Para tanto, serão abordados alguns dos 
maiores entraves sofridos por essa corrente imigratória, destacando-se as 
questões eugênicas, mediante um resgate histórico da própria imigração até 
o momento da Constituinte de 1934. 
Retomando historicamente o contexto dessa imigração, lembramos 
que, durante o século XIX e, mais especificamente, no decorrer do seu último 
quartel, o Brasil recebeu milhares de imigrantes e passou a ser reconhecido 
internacionalmente como um país “acolhedor de todos os povos e nações”1. 
Essa realidade foi tanto maior nas regiões onde as entradas desses fluxos 
migratórios foram mais expressivas, marcadamente as regiões sul e sudeste 
do país.
No que diz respeito à imigração japonesa, mesmo antes de sua 
concretização em terras brasileiras, essa corrente migratória esteve 
mergulhada em uma série de especificidades, já de início dadas pela 
discussão que a imigração asiática (japonesa, chinesa e outras) causaria na 
1 Esse imaginário permanece até os dias de hoje, podendo ser notado em campanhas governamentais ou 
em slogans como o da Prefeitura da Cidade de São Paulo: “São Paulo de todos os povos”.
18
sociedade brasileira. Nos projetos imigratórios do Brasil dos séculos XIX e 
XX, asiáticos e africanos estavam fora dos planos de seleção de população 
imigrante para a composição “sadia” do país.
os discursos eugênicos e a restrição 
à entrada de japoneses no brasil
Ao longo das primeiras décadas do século XX, baseado em pressupostos 
pautados pelas pesquisas de renomados cientistas, o discurso eugênico 
ganhou impulso em vários países do mundo. Mergulhado em diversas 
transformações oriundas do crescente processo de urbanização, do recente 
fim do regime escravista e dos primeiros anos do regime republicano, o 
Brasil procurava explicar-se como nação. Nesse contexto, os cientistas 
brasileiros viram na eugenia uma forma de analisar o país e contribuir para 
a “formação da raça” e para o seu desenvolvimento social e econômico. 
A elite econômica e intelectual brasileira se viu seduzida por explicações 
biologizantes e racistas a despeito do atraso do país em comparação com as 
nações desenvolvidas. Tais grupos acreditavam que algo devia ser feito, e 
a ciência de cunho eugênico se mostrava como uma opção plausível para 
analisar o presente e determinar ações científicas e, portanto, dignas de 
aceitação, para salvaguardar o futuro do país. É nesse contexto que surgem 
diversos grupos e associações com a finalidade de promover os ideais 
eugênicos, que culminaram com a criação da Comissão Central Brasileira 
de Eugenia, liderada por Renato Kehl, no início dos anos 1930 (PRIOR,2013, p. 92-93). 
Nesse processo, antropólogos, sociólogos, biólogos, farmacêuticos e, 
sobretudo, médicos passaram a publicar diversos trabalhos com discussões 
em torno de temas ligados aos pressupostos da eugenia. Apesar de diferirem 
entre si sobre o caráter mais, genericamente falando, “educativo”, eugenia 
positiva, ou mais “intervencionista”, eugenia negativa, que as ações 
eugênicas deveriam assumir, é possível notar que entre os temas discutidos 
pelos seus partidários estão: a necessidade de se realizar, com amparo legal, 
exames pré-nupciais; o combate aos vícios como álcool, jogos, entre outros; 
a eliminação dos indivíduos considerados “degenerados”, como doentes 
mentais, pessoas com deficiência e homossexuais, por exemplo; a condenação 
das práticas sexuais que estivessem além dos limites do casamento 
heterossexual; a eliminação progressiva de negros, asiáticos e indígenas por 
meio de campanhas de esterilização, visando o “branqueamento” do país e 
a seleção rigorosa de imigrantes que iriam adentrar ao país, recomendando, 
19
preferencialmente, a opção pelo acolhimento de brancos europeus, em 
detrimento de asiáticos e africanos2. 
Dessa forma, paulatinamente, construiu-se um discurso de cunho 
racista, embasado nos debates científicos para justificar a seleção imigratória 
que definia quais grupos de estrangeiros poderiam contribuir melhor para o 
desenvolvimento do Brasil e para a sua formação racial. Nesse sentido, a 
historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro (2013, p. 251) afirma:
“Estudos recentes da historiografia brasileira têm comprovado com 
base em documentação inédita que, há séculos, os judeus, os ne-
gros, os ciganos e os japoneses não são cidadãos bem-vindos à 
composição étnica da sociedade nacional. O discurso, que persistiu 
desde os tempos coloniais, era o de que esses grupos representa-
vam perigo para a nação, em distintos espaços e tempos históricos. 
Avaliado em um tempo de longa duração, esse discurso congregou 
diferentes correntes de opinião, alcançando seu auge durante o pri-
meiro governo de Getúlio Vargas, e mais especificamente durante 
o Estado Novo (1937-1945), que, enquanto, tomava como parâ-
metro os paradigmas sustentados pelo fascismo europeu, procurou 
estabelecer canais e instrumentos que permitissem acelerar o pro-
cesso de modernização do país.”
É dentro dessa lógica que iremos encontrar a primeira grande barreira 
para a aceitação à imigração japonesa no Brasil, que retardou sua entrada 
no país em, pelo menos, três décadas. A restrição de imigrantes africanos 
e asiáticos passará a ser incorporada na forma de Decreto-lei a partir de 
1890, apenas um ano após a instauração do regime republicano no país. O 
Decreto-lei nº 528 publicado em 28 de Junho de 1890, que dispõe sobre o 
Serviço de Introdução e Localização de Imigrantes e formaliza a permissão 
de entrada de estrangeiros no país, deixa explícita tal proibição, afirmando, 
como se pode ler abaixo:
“Regularisa o serviço da introducção e localisação de immigrantes 
na Republica dos Estados Unidos do Brazil. 
PARTE PRIMEIRA CAPITULO I: DA INTRODUCÇÃO 
DE IMMIGRANTES
Art. 1º E’ inteiramente livre a entrada, nos portos da Repu-
blica, dos individuos válidos e aptos para o trabalho, que não 
se acharem sujeitos á acção criminal do seu paiz, exceptuados os 
indigenas da Asia, ou da Africa que sómente mediante autorização 
2 Para maiores informações sobre as concepções eugênicas e como elas se disseminaram pelo Brasil, ver 
MOTA e MARINHO, 2013. 
20
do Congresso Nacional poderão ser admittidos de accordo com as 
condições que forem então estipuladas”.
Vê-se claramente que o assim chamado “elemento amarelo” não era 
desejável na “formação racial” do Brasil, desde o século XIX. A partir 
disso, uma sucessão de ardorosas discussões e polêmicas inflamadas 
envolveram a sociedade brasileira nesse período e ao longo das primeiras 
décadas do século XX a respeito dos problemas causados pela admissão 
dessas pessoas. Discursos que terão seu ápice na década de 1930 engajam 
intelectuais, políticos, médicos, proprietários agrícolas e figuras ilustres 
da época – dentre os quais destacamos aqui a presença de Antonio Carlos 
Pacheco e Silva, psiquiatra e deputado constituinte em 1934 – a participar 
de intensos debates acerca da inconveniência em se importar esse tipo de 
mão de obra considerada inferior e perigosa para a soberania nacional e 
a constituição de uma raça e de um povo sadios. Tais argumentos são os 
principais responsáveis pelo fato de o Brasil ter sido um dos últimos países 
a assinar contratos de imigração com o Japão, muito embora, atualmente, o 
país celebre com grande entusiasmo os Tratados de Amizade e as relações 
de solidariedade e fraternidade com tal país, gabando-se de possuir a maior 
colônia de japoneses no exterior.
a difícil trajetória da aceitação da 
imigração japonesa para o brasil
Ao longo do século XIX, vários Tratados de Amizade, Comércio e 
Navegação foram assinados entre o Japão e diversos outros países do 
mundo, a partir da chamada “Revolução Meiji”. Com a Restauração do 
Imperador Meiji, em 1o de janeiro de 1868 (HONDA, 1986, p. 64), o ato 
do Shogum Tokugawa, editado em 22 de junho de 1636, que proibia os 
japoneses de deixarem ou retornarem ao país, é revogado3 e, a partir do fim 
do isolamento, já em 17 de maio do mesmo ano os primeiros imigrantes 
3 O período histórico japonês do assim chamado shogunato Tokugawa (período Edo) durou desde a queda 
do governo da família Toyotomi, em 1615, até a restauração do poder do Imperador em 1868, ou o 
período da Revolução Meiji. O shogunato se inicia justamente com a queda da família Toyotomi do 
poder, sucedida pela família Tokugawa, no ano de 1615, e dura até 1867, ano de seu declínio. Esse 
período é considerado o período do feudalismo japonês (Boletim do Centro Cultural e Informativo do 
Consulado Geral do Japão, 1994, p.7; OHASHI, 1991, p. 5). Alguns outros autores estabelecem o início 
do shogunato Tokugawa em 1603, doze anos mais cedo, como é o caso de Fukumoto (1986). Durante o 
shogunato, o Japão passa por uma condição de intenso isolamento do resto do mundo que durou quase 
300 anos.
21
japoneses (gannen mono) deixaram o Japão a bordo do navio “Scioto”. A 
partir disso, muitos japoneses partiram para o Havaí, primeiro porto receptor 
de imigrantes japoneses. O Japão dava início a uma nova realidade social 
dentro de sua história, após um isolamento de, praticamente, 300 anos. 
Em 1873, é assinado o primeiro Tratado de Amizade entre o Japão e 
o Peru, sendo esse o primeiro no âmbito das relações diplomáticas latino-
americanas e japonesas. Cinco anos mais tarde, o México iniciou suas 
relações diplomáticas com o Japão e, a partir desse acordo, o Japão passou a 
se reinserir de uma forma nova dentro do contexto internacional: 
“A partir da celebração do tratado com o México, as negociações 
com as potências ocidentais passaram a evoluir e a posição japone-
sa se fortaleceu ainda mais, após a vitória na guerra contra a China, 
em 1895. A primeira potência ocidental a concordar com a revisão 
do tratado4 foi o Reino Unido, em seguida os Estados Unidos.” 
(NINOMIYA, 1995, p. 4).
Dada essa nova reinserção da “nação” japonesa que estava surgindo, 
o Brasil também tomou parte nos acontecimentos de celebração de tais 
Tratados e, anos mais tarde, no dia 5 de novembro de 1895, foi assinado o 
Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão, pelo 
Sr. Arasuke Soya, então Ministro Plenipotenciário do Japão na França, e 
pelo Sr. Gabriel de Toledo Piza e Almeida, então Ministro Plenipotenciário 
do Brasil na França (Boletim do Centro Cultural e Informativo do Consulado 
Geral do Japão, 1994, p. 2). Estava estabelecido, assim, um primeiro vínculo 
diplomático entre esses dois países.
Mais do que participar dessa nova conjuntura internacional, esse 
tratado assinado pelo Brasil já intencionava, desde o início, desenvolver a 
potencialidade emigratória japonesa. Tentativas anterioresao Tratado, feitas 
por companhias de emigração japonesas, resultaram em grande fracasso. 
Segundo Ohashi, “as primeiras negociações para a entrada dos japoneses 
no Brasil se deu (sic) em 1894 entre a empresa Kichin Imin Kaisha e a 
firma Prado Jordão. O resultado destas negociações foi um fracasso, pois 
inexistia qualquer Tratado de Amizade ou relações diplomáticas entre as 
duas nações.” (OHASHI, 1991, p. 7). 
Vê-se que o Tratado foi assinado logo no ano seguinte. Outros 
documentos também apontam para essa mesma questão. Ninomiya observa 
que as instruções da Chancelaria Brasileira para a assinatura do tratado 
estavam baseadas na imigração e não no comércio. Por outro lado, o Japão 
4 Ninomiya está se referindo aqui à mudança de postura desses países considerados potências, que já 
possuíam tratados com o Japão, que, porém, eram considerados “desvantajosos”, celebrados ainda pelo 
governo do shogunato de Tokugawa desde 1858, e que não consideravam o Japão um país civilizado, 
o que provocava grandes prejuízos para esse país. A revolução Meiji pressionou a correção dessas 
desvantagens e acabou obtendo êxito.
22
se recusava a enviar emigrantes aos países com quem não mantivesse 
relações diplomáticas (NINOMIYA, 1995).
A Revolução Meiji continuava provocando profundas transformações 
no interior da sociedade japonesa, fazendo que o Japão passasse de seu 
estado feudal para novas formas de organização social, entrando no mercado 
internacional e nos processos capitalistas vigentes. Contudo, essa passagem 
não se deu de forma tranquila, pois a estrutura social japonesa, até então 
predominantemente agrária, sofreu alterações tão graves que não conseguiu 
se recompor dentro da própria sociedade japonesa. Com um excedente 
populacional cada vez mais problemático no interior dessa sociedade em 
mudança5, a política imperialista das reformas Meiji acabava por gerar 
conflitos sociais que apareciam como insolúveis dentro do próprio território 
japonês. 
Os processos de industrialização adotados pelo governo criaram uma 
massa excedente que não se encaixava mais dentro da sociedade japonesa. 
A população do país pagou um preço alto pela agressividade das reformas 
impostas. Sendo assim, uma das maneiras encontradas para aliviar o impasse 
que as reformas estavam trazendo foi a ampla política de emigração adotada 
pelo governo japonês.
Após a assinatura do primeiro tratado de emigração entre o Japão e o 
Havaí, em 1884, a saída de japoneses foi maciça (OHASHI, 1991, p. 5). Os 
primeiros portos de destino, depois do Havaí, foram os EUA6; em seguida, 
foram estabelecidos fluxos migratórios entre o Japão e países como o Peru 
e o México, em 1899; o Canadá, em 1900; as Filipinas, em 1903; a Bolívia, 
em 1906 (HONDA, 1986, p. 66-67). O Brasil, como resultado da resistência 
à aceitação desta migração, só figuraria nesse cenário em 1908, sendo um 
dos últimos países a estabelecer um fluxo migratório com o Japão7.
consolidação e impasses da imigração japonesa 
no brasil: resistência de ambos os lados
Quase mitificado pela colônia japonesa radicada aqui, o Kasatu Maru, 
primeiro navio de imigração a trazer japoneses para o Brasil, chegou em 18 
5 No período do shogunato de Tokugawa, as taxas de natalidade eram controladas pelo governo, que 
havia fixado em 25.000.000 o limite máximo da população japonesa. Isolados do mundo, as práticas de 
infanticídio e de aborto eram comuns para o controle dessa imposição (OHASHI, 1991).
6 O Havaí foi anexado aos EUA como território americano somente no ano de 1897.
7 Apesar de não haver a relação completa das datas dos estabelecimentos dos fluxos migratórios que saíam 
do Japão, foi possível encontrar um país em que esse acordo ocorreu mais tardiamente do que no Brasil. 
Trata-se da Colômbia, que recebeu os primeiros imigrantes japoneses somente em 1921 (HONDA, 1986, 
p. 69). 
23
de junho de 1908. Após negociações e contratos, esses primeiros imigrantes 
chegaram ao Brasil contratados pela empresa japonesa de colonização e 
imigração Kokoku Shokumin Kaischa (CARDOSO, 1972, p. 22). O número 
exato de imigrantes que estavam nesse navio é um pouco controverso, 
contabilizando-se a entrada de 781 japoneses, segundo o número oficial 
divulgado pelo Consulado do Japão. Estava estabelecida, assim, a presença 
japonesa no Brasil.
Estes primeiros imigrantes foram encaminhados para as fazendas de 
café da região paulista e, como contam relatos, “enquanto aguardavam a 
partida para as fazendas de café (alocados na Hospedaria dos Imigrantes, na 
cidade de São Paulo), despertaram curiosidade nas ruas - afinal, a maioria 
absoluta dos brasileiros nunca tinha visto um japonês em carne e osso.” 
(JAPÃO AQUI, abr. 1997, p. 23). Com toda a certeza, o espanto ocorrido 
nas fazendas de destino não foi menor.
A partir do Kasatu Maru, mais de 188 mil japoneses emigraram para 
o Brasil no período de 1908 a 1942, sendo que a imigração ainda sofreu 
uma suspensão durante os anos de 1914 a 1917, período em que a entrada 
de imigrantes se reduziu drasticamente, conforme pode ser observado 
pelos dados da tabela que será apresentada a seguir. Entre os motivos dessa 
suspensão estava principalmente a polêmica acima comentada, de oposição 
à entrada desta “raça” amarela no país, polêmica que, como colocado, 
durou até bem mais do que o primeiro período de aceitação do contrato de 
japoneses para o Brasil, em 1908. “Em 1914, a subvenção estadual foi extinta 
sob a alegação de que os japoneses eram instáveis como trabalhadores em 
fazendas.” (YOSHIOKA, 1995, p. 34). 
A alegação desse motivo, contudo, não parece ter sido o principal 
motivo, pois. como aponta Vainer, o japonês era visto pelo fazendeiro como 
um trabalhador muito mais “dócil” do que o imigrante europeu. Entre os 
documentos da época, Vainer encontrou manifestações tais como: 
“Qual é o auxiliar de fazendeiro paulista que resiste, tal como faz o 
japonês, às medidas impostas periodicamente pela economia bra-
sileira, determinando preços baixos e proibição de exportação de 
café, o que representa muitas vezes a impossibilidade de pagamen-
to dos colonos agricultores por parte dos fazendeiros? Colonos es-
trangeiros, de pá em punho, fizeram, em São Paulo, os fazendeiros 
passar momentos difíceis, enquanto, mesmo entre as dificuldades, 
sorriam os colonos japoneses [...].” (VAINER, 1995, p.47, apud 
LOBO, 1935, p. 35).
24
A questão que permanece por detrás da continuidade dos debates acerca 
da aceitação do “perigo amarelo” mantém-se relacionada aos critérios de 
condição racial dessas pessoas, e não na condição econômica que elas 
estavam promovendo. Consideram-se, assim, dois períodos distintos da 
imigração japonesa do pré-guerra, um que vai até 1914, e outro, logo após 
1917. No segundo período, concentra-se o maior número de imigrantes 
japoneses dirigidos ao Brasil, como mostra a tabela abaixo:
Entrada de Imigrantes Japoneses no Brasil (1908-1941)
Ano Imigrantes Ano Imigrantes Ano Imigrantes
1908 830 1920 1.013 1932 11.678
1909 31 1921 840 1933 24.494
1910 948 1922 1.041 1934 21.390
1911 28 1923 895 1935 9.611
1912 2.909 1924 2.673 1936 3.306
1913 7.122 1925 6.330 1937 4.557
1914 3.675 1926 8.407 1938 2.524
1915 65 1927 9.084 1939 1.414
1916 165 1928 11.169 1940 1.268
1917 3.899 1929 16.648 1941 1.548
1918 5.599 1930 14.076 1942 -
1919 3.022 1931 5.632 Total 188.431
Fonte: Consulado do Japão (citado em: OHASHI, 1991).
Os números exatos de imigrantes são sempre ligeiramente controversos, 
de acordo com a fonte que se utiliza, entretanto, a variação entre os autores é 
mínima. Verifica-se, pelos dados da tabela apresentada acima, que o período 
de maiores entradas concentra-se no início dos anos 30; os imigrantes dessa 
fase já possuem um novo perfil, um pouco diverso daquele dos primeiros 
imigrantes que se direcionaram para as fazendas de café. Esses chegaram 
ao Brasil com um franco apoio do governo japonês, que intencionava 
estabelecer aqui núcleos de colonização por meio desses imigrantes,como 
atitude, inclusive, da política agressiva de imperialismo da Era Meiji. A 
imigração para o Brasil, então, intensifica-se, e os súditos japoneses que 
para cá se dirigem recebem, em contrapartida, respaldo do governo japonês 
na possessão de territórios ultramarinos onde o Japão pudesse exercer 
influência posterior. 
25
“Neste segundo período (1925-1941), o governo japonês demons-
trou grande interesse pelo Brasil, tanto por ser praticamente o único 
país aberto aos nipônicos, quanto por constituir um mercado para 
investimento. O número de entradas desta época chega a quase 
150.000, o que corresponde a mais de 75% do total de emigrados 
antes da II Guerra Mundial.” (CARDOSO, 1972, p. 26). 
Mais do que investimentos de mercado, o Japão enxergava no Brasil 
uma das fronteiras de sua política imperialista, posição partilhada pela elite 
japonesa, que fortalecia o incentivo à imigração da população desinformada 
de tais posições.
Marco Luiz de Castro destaca a questão da posição da elite e das 
autoridades japonesas em relação ao contexto emigratório que envolvia o 
Japão naquele período. Mergulhados no espírito da era Meiji, os imigrantes 
japoneses que chegavam aqui no período pré-guerra dessa corrente 
desembarcavam em terras brasileiras tomados por um espírito nacionalista, 
por um sentimento de amor e de superioridade pelo Japão. A intenção desses 
imigrantes, no caso de uma permanência prolongada no Brasil - o que não 
era a intenção primeira dessa população, pois a grande maioria desejava 
melhorar de vida aqui e retornar ao Japão - era a de estabelecer no Brasil 
uma colônia que fosse verdadeiramente uma extensão do Japão. Essa ideia 
era amplamente partilhada por parte das autoridades e da elite japonesa, 
uma vez que “a presença de elementos nipônicos no Brasil representaria, 
para a elite japonesa, ciente das realidades interna e internacional, uma 
alternativa viável de expansão de seus domínios que, eventualmente, 
poderia ser utilizada.” (CASTRO, 1994, p. 26).
Dessa forma, a elite japonesa começa a propagar todo um aparato de 
incentivo à emigração, com base nos ideais expansionistas do imperialismo 
Meiji. Com isso, começam a se efetivar as formações coloniais de 
japoneses, em diversos pontos do Estado de São Paulo e, logo em seguida, 
também no Paraná. Essas formações coloniais contavam com o apoio de 
diversos aparatos que o governo japonês e as companhias de colonização 
colocavam à disposição dos emigrados, tais como a existência de escolas 
onde havia professores mandados do Japão para a manutenção dos padrões 
japoneses entre os filhos dos emigrados, além de muitas outras formas de 
estabelecimento de uma espécie de “dominação” japonesa dentro do solo 
brasileiro. 
Um discurso de um governador da Província de Nagano (Sr. Toshio 
Homma), pronunciado na Assembleia Geral no início dos anos 20, declarava: 
26
Todavia, acho que deve fazê-lo de modo a influenciar os planos do 
Império. Terá que fixar os imigrantes à terra, cercando-os de segu-
rança e bem-estar de modo a que não se sintam inseguros. Deverá 
transformá-los em proprietários de terras, para que se sintam como 
se estivessem na Pátria, experimentando a mesma felicidade que 
na Pátria de origem. (citado em: YOSHIOKA, 1995, p. 50). 
Era clara a intenção do governo e da elite japonesa, e o Brasil entrou 
nesse processo como um dos alvos principais, devido, inclusive, à extensão 
de terras ainda disponíveis.
É certo que todos esses fatores que caracterizaram especificamente 
essa corrente migratória acabaram por refletir em sua composição no Brasil. 
Os japoneses, desde o início, foram tomados e recebidos como um grupo à 
parte dentro dos grupos imigrantes, e eles, por sua vez, buscaram encontrar 
no Brasil não um novo espaço e uma nova pátria, mas sim a criação de uma 
extensão do Japão no outro lado do mundo. Isso sem adentrarmos muito no 
peso do fator racial que esteve presente nessa situação por parte do próprio 
Japão, pois, se o Brasil enxergava o asiático como uma raça inferior, sem 
sombra de dúvida essa mesma conotação devia fazer parte do imaginário 
japonês, que havia passado pelo shogunato de 300 anos de isolamento 
perante o resto do mundo com receio de se “contaminar” (OHASHI, 1991, 
p. 5). Além disso, as ideias eugênicas desse período, embora possa parecer 
um contrassenso, também seduziram a elite intelectual japonesa, da mesma 
forma que seduziram a brasileira. Lá, porém, foi o orgulho do “ser japonês” 
que se vinculou aos ideais ancestrais de superioridade. Assim:
“[...] a eugenia japonesa, apesar de inspirada nas teorias eugenistas 
do Ocidente, desenvolveu noções de inferioridade que colocaram 
no extremo oposto a raça caucasiana branca. Dessa forma, o ‘or-
gulho’ japonês foi desenvolvido ao longo de princípios do século 
XX baseado nas noções de civilidade e saúde, na transição do Ja-
pão imperial para o Japão moderno pré-Segunda Guerra Mundial. 
Feministas e reformistas sociais foram os principais adeptos das 
ideias do médico Osawa Kenji, pioneiro no discurso medicalizante 
e da melhoria da raça no Japão.” (DIWAN, 2007, p. 75).
Podemos inferir algumas questões a partir dessa sentença: uma delas 
é a curiosa, contudo, não inesperada presença de um médico à frente da 
intteligensia eugênica no Japão, tal qual o cenário brasileiro. A segunda 
é que, se os japoneses depreciam a “raça branca caucasiana”, que dirá da 
27
mestiçagem brasileira, tão alicerçada nos progenitores negros e indígenas. 
Compreende-se, destarte, por que “o imigrante, [...] tinha compromisso 
de retornar ao seu país como um vencedor, um ‘herói’ que conquistou a 
América. Preso a este ideal, não podia retornar com cinturões de moedas de 
ouro, rodeados de filhos ‘caboclos’, analfabetos em japonês.” (HANADA, 
1986, p. 262).
Assim, escolas com professores japoneses eram as escolas dessas 
crianças, os livros didáticos e o material escolar vinham do Japão, os 
hábitos japoneses deveriam ser mantidos, os registros deviam constar 
nos Consulados japoneses. Dentro das colônias, que a partir da década de 
20 passaram a ser apoiadas largamente pelo governo militarista japonês, 
a instrumentalização de escolas e associações, em que os filhos desses 
japoneses e os próprios imigrantes japoneses podiam desfrutar de um modo 
de vida altamente nipônico, faz parte desse ideal de retorno, vivamente 
presente entre estes imigrantes. 
Pode-se afirmar que, durante os anos que precederam a Segunda 
Guerra Mundial, de ambos os lados, os ânimos se exaltaram. Se, por parte 
do Governo japonês, o Brasil passou a ser um território vislumbrado como 
potencial “arma” na expansão do Império japonês, entre nós, as discussões 
tomaram ímpetos cada vez mais calorosos, haja vista que a atmosfera 
político-científica anterior à Segunda Guerra inebriava todo o cenário 
internacional, atingindo ambos os países em questão. 
o “perigo amarelo” assola a 
“formação da raça”
Para difundir os preceitos eugênicos, foram criados alguns veículos 
de divulgação científica que compilavam os estudos e as concepções 
de diversos pesquisadores eugenistas. Nesse contexto foi lançado, em 
janeiro de 1929, o primeiro volume do Boletim de Eugenia, dirigido por 
Renato Kehl, sob os auspícios do “Instituto Brasileiro de Eugenia”. Em tal 
publicação, nos seus vários volumes lançados, é possível observar, dentre 
outros temas de interesse eugênico, o discurso que visava difundir os riscos 
de o Brasil seguir importando mão de obra japonesa. 
Um exemplo disso pode ser encontrado no vol. 11 (nov. de 1929, p. 3), 
no resumo de uma conferência realizada por Queiroz Telles no Rotary Club 
de São Paulo. No referido texto, no qual o autor versa sobre “O problema 
immigratorio e o futuro do Brasil”, pode-se observar que o autor, apesar 
28
de afirmar que não tem “preconceito de raças, pois em todas reconheço 
qualidades dignas de admiração”, sobre os japoneses assim se manifesta:
“Na organização da nossa casa, porém, penso que nos assiste o 
direito de escolher

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