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Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Controle da Ansiedade Introdução - O quadro de ansiedade pode ser identificado pela inquietude do paciente e pela avaliação ou reconhecimento de alguns sinais físicos, dentre eles tem-se, dilatação das pupilas, palidez da pele, transpiração excessiva, aumento da frequência respiratória, palpitação cardíaca, sensação de formigamento ou tremores das extremidades, entre outros; - Fatores como experiências negativas do próprio paciente em consultas anteriores, intercorrências negativas relatadas por parentes ou amigos, visão do operador paramentado, do instrumental e de sangue, o ato da anestesia local, vibrações e sons provocados pelos motores/turbinas de baixa ou alta rotação, movimentos bruscos por parte do profissional e sensação inesperada de dor, talvez o mais importante dos fatores estressores, podem estar no cerne dessa ansiedade; - É importante ressaltar que mesmo pacientes aparentemente calmos, tranquilos e confiantes na capacidade do profissional podem apresentar reações desagradáveis durante a intervenção, dificultando ou até impedindo a execução de uma técnica cirúrgica ou outro tipo de procedimento. Portanto, a situação do tratamento odontológico pode ser potencialmente ansiogênica não somente para o paciente, mas para o profissional; → Relação entre Ansiedade e Dor - A dor é um fenômeno complexo, que envolve diversos mecanismos, alterações e sensações somáticas, tudo isso associado a componentes psicológicos e comportamentais. - Já é comprovado que o limiar de dor de pacientes ansiosos e apreensivos é mais baixo se comparado ao de indivíduos não ansiosos. → Como Controlar a Ansiedade - Os métodos de controle da ansiedade podem ser farmacológicos ou não farmacológicos; !!! Não Farmacológicos - A verbalização é a conduta básica, que pode ser associada a técnicas de relaxamento muscular ou de condicionamento psicológico. Métodos de distração também são cada vez mais utilizados, por meio de sons ou imagens para relaxar e distrair a atenção do paciente; !!! Farmacológicos - Quando os métodos não farmacológicos não são suficientes o bastante para controlar a ansiedade e o medo do paciente, deve-se lançar mão de métodos farmacológicos de sedação como medida complementar, desde a sedação mínima até a anestesia geral; - Na clínica odontológica, os benzodiazepínicos (BDZ) são os ansiolíticos mais empregados para se obter a sedação mínima por via oral. Além deles, existe também a técnica de sedação mínima pela inalação da mistura de óxido nitroso (N2O) e oxigênio (O2), que está gradativamente conquistando mais espaço na odontologia, e a técnica de sedação mínima com fitoterápicos; !!! Tipos de Sedação - A American Dental Association (ADA) estabeleceu novas definições para os diferentes graus de sedação em odontologia: - Sedação Mínima: Uma discreta depressão do nível de consciência, produzida por método farmacológico, que não afeta a habilidade do paciente de respirar de forma automática e independente e de responder de maneira apropriada à estimulação física e ao comando verbal. Ou seja, embora as funções cognitivas e de coordenação motora fiquem discretamente afetadas, as funções cardiovasculares e respiratórias permanecem inalteradas; - Sedação Moderada: Envolve a combinação de vários agentes sedativos e o uso de sedativos por via parenteral; - Sedação Profunda: É obtida com altas doses de sedativos por via oral, inalatória ou parenteral; → Quando Considerar um Protocolo de Sedação Mínima - Quando o quadro de ansiedade aguda não for controlável apenas por meio de métodos não farmacológicos; - Nas intervenções mais invasivas, mesmo em pacientes normalmente cooperativos ou que aparentarem estar calmos e tranquilos; - No atendimento de pacientes portadores de doença cardiovascular, asma brônquica ou com história de episódios convulsivos, com a doença controlada, com o objetivo de minimizar as respostas ao estresse cirúrgico; Obs.: Nesses casos, sempre que possível, deve- se entrar em contato com o médico que trata do paciente, para troca de informações e avaliação conjunta dos riscos e benefícios da sedação mínima por via oral ou inalatória. - Logo após traumatismos dentários acidentais. Benzodiazepínicos - Muitos Cirurgiões-Dentistas ainda apresentam uma certa resistência na hora de prescrever benzodiazepínicos, provavelmente pela falta de conhecimento de alguns aspectos relacionados a sua farmacologia; → Mecanismo de Ação - Os benzodiazepínicos agem se ligando a receptores no SNC. Ao se ligarem a esses receptores, eles atuam facilitando a ação do ácido gamaaminobutírico (GABA), o principal neurotransmissor inibitório do SNC – produzido pelo organismo. A ativação específica dos receptores GABAA induz à abertura dos canais de cloreto (Cl-) da membrana dos neurônios, amplificando o influxo deste ânion para dentro das células, resultando na diminuição da excitabilidade e na propagação de impulsos excitatórios, e dessa forma, controlando as reações somáticas e psíquicas aos estímulos geradores de ansiedade; OBS.: O fato de apenas atuar aumentando a ação do GABA – que já existe e tem função no organismo – explica a segurança clínica dos benzodiazepínicos → O diazepam, por exemplo, tem suas doses tóxicas (250-400 mg) muito maiores se comparadas às doses terapêuticas em adultos (5-10 mg). → Vantagens e Desvantagens !!! Vantagens - Controle da ansiedade, tornando o paciente mais cooperativo ao tratamento dentário; - Redução do fluxo salivar e do reflexo do vômito; - Relaxamento da musculatura esquelética; - Ajudam a manter a pressão arterial em níveis seguros, se empregados como pré-medicação em pacientes hipertensos; - Prevenção de intercorrências em pacientes com histórico de asma brônquica ou distúrbios convulsivos; - Apresentam baixa incidência de efeitos colaterais, principalmente quando empregados em dose única ou por tempo restrito; - Geração de amnésia anterógrada – esquecimento dos fatos que ocorreram enquanto estava sobre efeito do BNZ – efeito colateral dos benzodiazepínicos, que pode ocorrer mesmo quando empregados em dose única. Geralmente coincide com o pico de atividade do medicamento, sendo mais comum com o uso do midazolam e do lorazepam; OBS.: Alguns profissionais consideram a amnésia anterógrada como benéfica, pois o paciente não irá se recordar da maioria dos procedimentos, alguns traumáticos, que poderiam servir de experiência negativa. Outros têm ela como efeito indesejável pelo fato de o paciente não se lembrar das orientações e cuidados pós- operatórios, por parte do profissional. !!! Desvantagens - Sonolência, efeito adverso mais comum, principalmente com o uso do midazolam e do triazolam, por conta de sua ação hipnótica – indução do sono fisiológico; - Uma pequena percentagem dos pacientes – cerca de 1%, sendo mais comum em idosos e crianças – pode apresentar efeitos paradoxais, ou seja, ao invés da sedação esperada, o paciente apresenta excitação, agitação e irritabilidade, mesmo quando se empregam pequenas doses de benzodiazepínicos; OBS.: Caso o paciente sofra efeitos paradoxais, a consulta deve ser adiada, mantendo-se o paciente em observação até a cessação desses efeitos. - A agitação gerada pelos efeitos paradoxais pode favorecer as quedas nos idosos. O lorazepam é considerado como o agente ideal para a sedação consciente desse grupo de pacientes, pois dificilmente produz esses efeitos; - Tem mínimos efeitos cardiovasculares e no sistema respiratório, como a discreta diminuição da pressão arterial e do esforço cardíaco e leve redução do volume de ar corrente e da frequência respiratória; - O midazolam, particularmente, pode provocar alucinações ou fantasias de caráter sexual. Recomenda-se, portanto, que o profissional tenha a companhia de uma terceira pessoa no ambiente do consultório;- Com tratamentos prolongados pode-se ter confusão mental, visão dupla, depressão, dor de cabeça, aumento ou diminuição da libido, falta de coordenação motora e, em especial, dependência química; → Usos com Precaução - Pacientes tratados concomitantemente com outros fármacos depressores do SNC, como anti-histamínicos, antitussígenos – voltados a terapia farmacológica da tosse – barbitúricos – usados como antiepilépticos, sedativos, hipnóticos e anestésicos – e anticonvulsivantes, pelo risco de potencialização do efeito depressor; - Portadores de insuficiência respiratória de grau leve; - Portadores de doença hepática ou renal; - Portadores de insuficiência cardíaca congestiva (ICC); - Na gravidez – no 2° trimestre – e durante a lactação; → Contraindicações do Uso - Portadores de insuficiência respiratória grave; - Portadores de glaucoma de ângulo estreito; - Portadores de miastenia grave; - Gestantes – no primeiro trimestre e ao final da gestação; - Crianças com comprometimento físico ou mental severo; - Pacientes com história de hipersensibilidade aos benzodiazepínicos; - Apneia do sono; - Etilistas – além de potencializar o efeito depressor dos benzodiazepínicos sobre o SNC, o álcool etílico pode induzir maior metabolização hepática desses compostos; → Dosagem e Posologia !!! Escolha e Dosagem - Não existem protocolos definitivos para a escolha de um benzodiazepínico para sedação mínima por via oral em odontologia. Assim, alguns critérios devem ser considerados, como a idade e o estado físico do paciente, o tipo e a duração do procedimento; - Como a duração dos procedimentos odontológicos, em média, não ultrapassa 60 min, o midazolam é o fármaco de escolha para jovens e adultos, pelo rápido início de ação – 30 min – e menor duração do efeito ansiolítico – 1-2 h; - Por apresentar menor incidência de efeitos paradoxais ou amnésia anterógrada, o alprazolam se constitui numa boa alternativa ao midazolam; - Crianças: Diazepam e o midazolam – fármaco de escolha para procedimentos de curta duração – são os únicos utilizados, sendo que ambos apresentam vantagens sobre outros agentes sedativos, como a prometazina – anti-histamínico – a hidroxizina – anti-histamínico – e o hidrato de cloral – sedativo e hipnótico; - Idosos: Além de serem metabolizados e excretados de forma mais lenta, os BZN pela sua lipossolubilidade, depositam-se no tecido gorduroso que substitui a massa muscular nesses indivíduos. Por isso, o fármaco ideal para a sedação de pacientes geriátricos seria o triazolam – rápido início de ação e duração curta – porém este ansiolítico não está disponível comercialmente no Brasil. Assim, a escolha recai no lorazepam, cuja meia-vida plasmática é intermediária entre o triazolam e o diazepam e tem a vantagem de produzir menor incidência de efeitos paradoxais. Como desvantagem, tem-se o tempo necessário para o início de efeito do lorazepam é mais longo, cerca de 1-2 h; !!! Posologia - Deve-se administrar, no próprio consultório, ou prescrever um comprimido para ser tomado em ambiente domiciliar – não podendo dirigir depois. O momento da tomada irá variar em função do fármaco escolhido, antes do início do procedimento: • Triazolam – via sublingual: 20-30 min • Midazolam: 30 min • Alprazolam: 45-60 min • Diazepam: 60 min • Lorazepam: 2 h antes - Em pacientes muito ansiosos, que poderão ter dificuldade em dormir na noite anterior às consultas, pode-se prescrever a primeira dose para ser tomada ao deitar, com o objetivo de proporcionar um sono tranquilo, sendo repetida no dia do atendimento; OBS.: O candidato à sedação mínima com benzodiazepínicos deve ser orientado a comparecer às consultas acompanhado por um adulto. Além disso, após o atendimento, deverá ser alertado a não executar tarefas delicadas, operar máquinas potencialmente perigosas ou ingerir bebidas alcoólicas no dia do tratamento. Sedação Mínima com Técnica Inalatória - A inalação da mistura de óxido nitroso e oxigênio é empregada há décadas em vários países, sendo indicada em praticamente todas as especialidades odontológicas; - Não substitui a anestesia local, nem a anestesia geral inalatória, mas eleva o limiar de percepção à dor, tornando o paciente mais tranquilo e cooperativo durante o procedimento; - Se realizada corretamente, não oferece riscos de hipoxia por difusão aos pacientes. É recomendado o uso do oxímetro de pulso antes, durante e após a sedação para monitoramento. - A técnica apresenta certa limitação no caso de procedimentos cirúrgicos mais complexos na região anterior da maxila, em função da colocação da máscara facial, além disso, implica um considerável investimento inicial, pela necessidade de aquisição do equipamento, de acessórios e do custo do curso teórico-prático de habilitação; - É contraindicada para pacientes com respiração bucal ou obstrução nasal, nos portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica – enfisema, bronquite severa – na presença de infecções respiratórias agudas e, ainda, no caso de pacientes que foram submetidos à quimioterapia com bleomicina – pelo risco de desenvolvimento de fibrose pulmonar; - É benéfica para pacientes que apresentam problemas de ordem sistêmica, como os portadores de doença cardiovascular ou de distúrbios convulsivos, entre outras, devido à constante suplementação de oxigênio que a mistura proporciona; - Suas principais vantagens em relação à sedação mínima com BZN, por via oral, são: • Tempo curto, aproximadamente 5 min, para se atingir os níveis adequados de sedação e recuperação do paciente – que muitas vezes pode ser dispensado sem acompanhante; • Os gases podem ser administrados pela técnica incremental – pode-se individualizar a quantidade e a concentração de N2O/O2 para cada paciente; • A duração e a intensidade da sedação são controladas pelo profissional em qualquer momento do atendimento; • Administração constante de uma quantidade mínima de 30% de O2 durante o atendimento.
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