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@landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” Rosália e Maria Eduarda mães primíparas, se encontraram na pracinha do condomínio. Rosália ficou surpresa como André, filho de Maria Eduarda regurgitava leite após ter sido amamentado. Lembrou-se das orientações do enfermeiro sobre cuidados com os bebês, alertando sobre a necessidade de elevar a cabeceira, posicionar o filho sempre em decúbito dorsal e não deixar adereços no berço. Maria Eduarda afirmou seguir essas orientações, mas que não surtiram efeito, resolvendo procurar o pediatra para verificar se existia alguma opção de medicamento. ♥ Relembrar a anatomia, histologia e fisiologia do esôfago e estômago. ♥ Investigar a fisiopatologia do refluxo gastroesofágico. ♥ Explicar a farmacodinâmica dos medicamentos contra refluxo gastroesofágico. ♥ Relacionar os sinais e sintomas, diagnóstico, fatores de risco, epidemiologia e complicações clínicas do refluxo gastroesofágico. ESÔFAGO O esôfago é um tubo muscular (aproximadamente 25 cm de Refluxo Contexto OBJETIVOS ANATOMIA Gastroesofágico Refluxo @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” comprimento) com um diâmetro médio de 2 cm, que conduz alimento da faringe para o estômago. O esôfago normalmente tem três constrições: Constrição cervical (esfíncter superior do esôfago): em seu início na junção faringoesofágica, a aproximadamente 15 cm dos dentes incisivos; causada pela parte cricofaríngea do músculo constritor inferior da faringe. Constrição bronco aórtica (torácica): uma constrição combinada, no local onde ocorre primeiro o cruzamento do arco da aorta, a 22,5 cm dos dentes incisivos, e depois o cruzamento pelo brônquio principal esquerdo, a 27,5 cm dos dentes incisivos; a primeira constrição é observada em vistas anteroposteriores, a segunda em vistas laterais. Constrição diafragmática: no local onde atravessa o hiato esofágico do diafragma, a aproximadamente 40 cm dos dentes incisivos. Parte cervical do esôfago Inclina-se um pouco para a esquerda enquanto desce e entra no mediastino superior, através da abertura superior do tórax, onde se torna a parte torácica do esôfago. A parte cervical do esôfago situa-se entre a traqueia e a coluna vertebral cervical). Está fixada à traqueia por tecido conjuntivo frouxo. Vasos: As artérias da parte cervical do esôfago são ramos das artérias tireóideas inferiores. Cada artéria dá origem a ramos ascendentes e descendentes que se anastomosam entre si e através da linha mediana. As veias da parte cervical do esôfago são tributárias das veias tireóideas inferiores. Os vasos linfáticos da parte cervical do esôfago drenam para os linfonodos paratraqueais e linfonodos cervicais profundos inferiores. Nervos: A inervação da parte cervical do esôfago é somática motora e sensitiva para a metade superior e parassimpática (vagal), simpática e sensitiva visceral para a metade inferior. @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” A parte cervical do esôfago recebe fibras somáticas através de ramos dos nervos laríngeos recorrentes e fibras vasomotoras dos troncos simpáticos cervicais através do plexo ao redor da artéria tireóidea inferior. Parte torácica do esôfago Entra no mediastino superior entre a traqueia e a coluna vertebral, onde se situa anteriormente aos corpos das vértebras T1–T4. Em geral, o esôfago é achatado no sentido anteroposterior. Inicialmente, inclina-se para a esquerda, mas é empurrado de volta para o plano mediano pelo arco da aorta. A seguir, é comprimido anteriormente pela raiz do pulmão esquerdo. No mediastino superior, o ducto torácico geralmente está à esquerda do esôfago, profundamente (medial) ao arco da aorta. Inferiormente ao arco, o esôfago inclina-se novamente para a esquerda ao se aproximar e atravessar o hiato esofágico no diafragma. @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” Parte abdominal do esôfago Irrigação arterial: Os três ramos ímpares da parte abdominal da aorta irrigam, em sequência, os derivados dos intestinos anterior, médio e posterior. drenagem venosa: O sangue rico em nutrientes do sistema digestório e o sangue do baço, pâncreas e vesícula biliar drenam para o fígado pela veia porta. A seta preta indica a comunicação da veia esofágica com o sistema venoso ázigo (sistêmico). @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” Além disso, a drenagem linfática da parte abdominal do esôfago se faz para os linfonodos gástricos esquerdos; os vasos linfáticos eferentes desses linfonodos drenam principalmente para os linfonodos celíacos. O esôfago é inervado pelo plexo esofágico, formado pelos troncos vagais (que se tornam os ramos gástricos anteriores e posterior) e pelos troncos simpáticos torácicos por meio dos nervos esplâncnicos (abdominopélvicos) maiores e plexos periarteriais ao redor das artérias gástrica esquerda e frênica inferior. Histologicamente o esôfago e composto por: ♥ Mucosa ♥ Submucosa ♥ Muscular externa MUCOSA: reveste o comprimento do esôfago apresenta um epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado. A camada profunda da mucosa, a muscular da mucosa, é composta de músculo liso organizado longitudinalmente, que se inicia próximo ao nível da cartilagem cricóidea. Submucosa: consiste em tecido conjuntivo denso não modelado, que contém grandes vasos sanguíneos e linfáticos, fibras nervosas e células ganglionares. As fibras nervosas e as células ganglionares constituem o plexo submucoso (plexo de Meissner). Observa-se também a existência de glândulas. Além disso, o tecido linfático Histologia @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” difuso e os nódulos linfáticos são encontrados principalmente nas porções superior e inferior do esôfago, em que as glândulas submucosas são mais prevalentes. Muscular externa: tem duas camadas ♥ circular interna ♥ longitudinal externa A camada muscular externa difere daquela encontrada no restante do tubo GI, uma vez que o terço superior consiste em músculo estriado, uma continuação do músculo da faringe. Os feixes de músculo estriado e músculo liso estão misturados e entremeados na muscular externa do terço médio do esôfago; a muscular externa do terço distal consiste apenas em músculo liso, como no restante do tubo GI. Existe um plexo nervoso, o plexo mioentérico (plexo de Auerbach), entre as camadas muscular externa e interna. Há nervos e células ganglionares. Esse plexo inerva a muscular externa e produz atividade peristáltica. Conforme já assinalado, o esôfago está fixado às estruturas adjacentes na maior parte de sua extensão por uma camada de tecido conjuntivo – a camada adventícia. Após entrar na cavidade abdominal, a parte restante curta do tubo passa a ser recoberta por serosa, o peritônio visceral. As glândulas mucosas e submucosas do esôfago secretam muco, que lubrifica e protege a parede luminal. As glândulas na parede do esôfago são de dois tipos; ambos secretam muco, mas diferem na sua localização: >>As glândulas esofágicas próprias ficam na submucosa. Essas glândulas estão dispersas ao longo de toda a extensão do esôfago, mas estão ligeiramente mais concentradas na sua metade superior. São pequenas glândulas tubuloalveolares compostas. O ducto excretor é composto de epitélioestratificado pavimentoso e, em geral, é evidente quando presente em um corte, em virtude de seu lúmen dilatado >>As glândulas cárdicas esofágicas são assim denominadas em virtude de sua semelhança com as glândulas cárdicas do estômago e são encontradas na lâmina própria da mucosa. Estão presentes na parte terminal do esôfago e, com frequência, também na porção inicial do esôfago. O muco produzido pelas glândulas esofágicas próprias é ligeiramente ácido @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” e serve para lubrificar a parede luminal. As glândulas cárdicas esofágicas produzem muco de pH neutro. As glândulas próximas do estômago tendem a proteger o esôfago do conteúdo gástrico regurgitado. No entanto, em certas circunstâncias, elas não são totalmente efetivas, e o refluxo excessivo resulta em pirose, uma condição mais comumente conhecida como azia. Essa condição pode evoluir para a doença por refluxo gastresofágico (DRGE). O esôfago funciona principalmente para conduzir o alimento rapidamente da faringe para o estômago, e seus movimentos são organizados especificamente para essa função. Além disso, secreta muco. Ele não produz enzimas digestórias nem realiza absorção. Função do esfíncter esofágico inferior (esfíncter gastroesofágico): Na extremidade inferior do esôfago, estendendo-se para cima cerca de três centímetros acima de sua junção com o estômago, o músculo circular do esôfago funciona como um amplo esfíncter esofágico inferior, também chamado de esfíncter gastroesofágico. Quando uma onda peristáltica de deglutição desce pelo esôfago, o relaxamento receptivo do esfíncter esofágico inferior ocorre antes da onda peristáltica, o que permite uma fácil propulsão do alimento engolido para o estômago. ESTOMAGO O estômago é a parte expandida do sistema digestório entre o esôfago e o intestino delgado. O tamanho, o formato e a posição do estômago podem variar bastante em pessoas com diferentes tipos corporais (biotipos) e podem mudar até no mesmo indivíduo, de acordo com os movimentos do diafragma durante a respiração, o conteúdo (vazio ou após uma grande refeição) e a posição da pessoa. Na posição de decúbito dorsal, o estômago costuma estar nos quadrantes superiores direito e esquerdo, ou no epigástrio, região umbilical, hipocôndrio esquerdo e região lateral esquerda (flanco). Na posição ereta, o estômago desloca-se para baixo. Em indivíduos astênicos (magros), o corpo gástrico pode estender-se até a pelve. fisiologia ANATOMIA @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” O estômago tem quatro regiões principais: Cárdia: circunda a abertura do esôfago ao estômago. Fundo gástrico: é a porção arredondada superior e à esquerda da cárdia. Corpo gástrico: Inferior ao fundo gástrico está a grande parte central do estômago. Parte pilórica: a parte pilórica pode ser dividida em três regiões. ♥ Antro pilórico: liga o corpo ao estômago. ♥ Canal pilórico: leva à terceira região, o piloro. ♥ Piloro: é a região esfincteriana distal da parte pilórica. É um espessamento acentuado da camada circular de músculo liso que controla a saída do conteúdo gástrico através do óstio pilórico (abertura inferior do estômago) para o duodeno. O estômago também tem duas curvaturas: Curvatura menor: forma a margem direita côncava mais curta do estômago. A incisura angular, parte inferior da curvatura, indica a junção do corpo gástrico com a parte pilórica do estômago. A incisura angular situa-se logo à esquerda da linha mediana Curvatura maior: forma a margem convexa mais longa do estômago. Segue inferiormente à esquerda da junção do 5º espaço intercostal e LMC; a seguir, curva-se para a direita, passando profundamente à 9ª ou à 10ª cartilagem esquerda enquanto continua medialmente para alcançar o antro pilórico. @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” VASOS E NERVOS DO ESTÔMAGO Tem origem no tronco celíaco e em seus ramos. A maior parte do sangue provém de anastomoses formadas ao longo da curvatura menor pelas artérias gástricas direita e esquerda, e ao longo da curvatura maior pelas artérias gastromentais direita e esquerda. O fundo gástrico e a parte superior do corpo gástrico recebem sangue das artérias gástricas curtas e posteriores. @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” As veias gástricas acompanham as artérias em relação à posição e ao trajeto. As veias gástricas direita e esquerda drenam para a veia porta; as veias gástricas curtas e as veias gastromentais esquerdas drenam para a veia esplênica, que se une à veia mesentérica superior (VMS) para formar a veia porta. A veia gastromental direita drena para a VMS. Uma veia pré-pilórica ascende sobre o piloro até a veia gástrica direita. Como essa veia é facilmente visível em pessoas vivas, os cirurgiões a utilizam para identificação do piloro. Os vasos linfáticos gástricos acompanham as artérias ao longo das curvaturas maior e menor do estômago. Eles drenam linfa de suas faces anterior e posterior em direção às suas curvaturas, onde estão localizados os linfonodos gástricos e gastromentais. Os vasos eferentes desses linfonodos acompanham as grandes artérias até os linfonodos celíacos. A inervação parassimpática do estômago provém dos troncos vagais anterior e posterior e de seus ramos, que entram no abdome através do hiato esofágico. A parede do estômago é composta pelas mesmas camadas básicas que o restante do canal alimentar, com certas modificações. A superfície da túnica mucosa é uma camada de células epiteliais colunares simples, chamada células mucosas da superfície. A túnica mucosa contém a lâmina própria (tecido conjuntivo areolar) e a lâmina muscular da mucosa (músculo liso). As células epiteliais se estendem até a lâmina própria, onde formam colunas de células secretoras histologia @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” chamadas glândulas gástricas. Várias glândulas gástricas se abrem na base de canais estreitos chamadas criptas gástricas. Secreções de várias glândulas gástricas fluem para cada cripta gástrica e, em seguida, para dentro do lúmen do estômago. O estômago é dividido, histologicamente, em três regiões, de acordo com o tipo de glândula encontrado em cada uma delas. As regiões histológicas são as seguintes: ♥ A região cárdica, a parte próxima ao óstio cárdico (orifício esofágico), que contém as glândulas cárdicas. ♥ A região pilórica, a parte proximal ao esfíncter pilórico, que contém as glândulas pilóricas ♥ A região fúndica, a maior parte do estômago, que está localizada entre a cárdia e o piloro e que contém as glândulas gástricas ou fúndicas. Junção esofagogástrica As glândulas gástricas contêm três tipos de células glandulares exócrinas que secretam seus produtos para o lúmen do estômago: ♥ Células mucosas do colo ♥ Células principais gástricas ♥ Células parietais Tanto as células mucosas superficiais quanto as células mucosas do colo secretam muco. As células parietais produzem fator intrínseco (necessário para a absorção de vitamina B12) e ácido clorídrico. As células principais gástricas secretam pepsinogênio e lipase gástrica. As secreções das células mucosa, parietal e principal gástrica formam o suco gástrico, que totaliza 2.000 a 3.000 mℓ/dia. Além disso, as glândulas gástricas incluem um tipo de célula enteroendócrina,a célula secretora de gastrina, que está localizada principalmente no antro pilórico e secreta o hormônio gastrina na circulação sanguínea. @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” >>Três camadas adicionais encontram- se profundamente à túnica mucosa. ♥ Tela submucosa do estômago é composta por tecido conjuntivo areolar. ♥ Túnica muscular tem três camadas de músculo liso: uma camada longitudinal externa, uma camada circular média e fibras oblíquas internas ♥ A túnica serosa é composta por epitélio escamoso simples (mesotélio) e tecido conjuntivo areolar; a porção da túnica serosa que recobre o estômago é parte do peritônio visceral. Na curvatura menor do estômago, o peritônio visceral se estende para cima até o fígado como o omento menor. Na curvatura maior do estômago, o peritônio visceral continua para baixo como o omento maior e reveste os intestinos. As funções motoras do estômago são três: (1) armazenamento de grandes quantidades de alimentos até que eles possam ser processados no estômago, duodeno e trato intestinal inferior; (2) mistura desses alimentos com as secreções gástricas até formar mistura semifluida chamada de quimo; (3) esvaziamento lento do quimo do estômago para o intestino delgado a fisiologia @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” uma taxa adequada para digestão e absorção adequadas pelo intestino delgado. Secreção ácida: A célula parietal contém receptores de gastrina (CCK-B), histamina (H2) e acetilcolina (ACh) (muscarínicos, M3). Quando a acetilcolina (dos nervos pós- ganglionares vagais) ou a gastrina (liberada das células G do antro no sangue) ligam-se aos receptores das células parietais, provocam aumento do cálcio citosólico, que, por sua vez, estimula as proteínas cinase que promovem a secreção de ácido a partir de uma H+/K+-ATPase (bomba de prótons) na superfície canalicular. A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma das enfermidades mais prevalentes na prática médica. Consiste em uma afecção crônica, recidivante e remitente, decorrente do refluxo do conteúdo gastroduodenal, para esôfago e órgãos adjacentes, o qual provoca sinais ou sintomas que afetam a qualidade de vida do indivíduo, podendo provocar lesões teciduais e complicações. A DRGE é classificada em: Primária: se caracteriza pelos sintomas aparecerem antes de complicações, como nos casos de esofagia de refluxo, estenose esofágica, esôfago de Barrett, apneia, desnutrição, entre outros. Secundária: é decorrente das doenças já existentes ou alterações no trato digestório. Além de aspectos fisiopatológicos, pode ocorrer por meio de traumas, nervosismo, ou seja, ser desencadeada por aspectos emocionais. No Brasil, estima-se que cerca de 12% da população é afetada pela doença. Apesar disso, estudos mostram que há uma maior prevalência (cerca de 10 a 20%) da DRGE nos países ocidentais, principalmente na Europa Ocidental e na América do Norte, enquanto na Ásia a prevalência é menor. Fatores de risco: tabagismo, obesidade, e uso de anti-inflamatórios não esteroidais. Estes são fatores de risco comuns que faz com que haja um aumento dos casos de DRGE. Entretanto, o aumento da prevalência também pode ser explicado devido aos avanços dos métodos diagnósticos e do melhor entendimento das características da doença Em relação à população pediátrica, a DRGE possui uma prevalência entre 7 a CONCEITO EPIDEMIOLOGIA @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” 20%, e a doença ocasiona impactos negativos na qualidade de vida do paciente, aumentando os custos com assistência médica e os riscos para desenvolver comorbidades, principalmente patologias respiratórias. Ademais, existem dois tipos de fatores de risco que devem ser considerados para as crianças: os biológicos (como doenças crônicas, fatores genéticos, infecções por parasitas e prematuridade) e psicossocial (baixa renda, estimulação física e verbal, agressão física como punição, pais com distúrbios psiquiátricos e abuso de álcool de drogas pelos familiares). A DRGE desenvolve-se em decorrência da combinação de condições que resultam na quebra da chamada “barreira antirrefluxo”, promovendo aumento do refluxo do conteúdo ácido do estômago para o esôfago e órgãos adjacentes em níveis patológicos. A fisiopatologia da DRGE apresenta, então, como evento primordial o retorno patológico para o esôfago de agentes agressores, representados principalmente pelo ácido clorídrico, pepsina, sais biliares e enzimas pancreáticas. Os mecanismos subjacentes da DRGE incluem os itens dos tópicos a seguir: Relaxamentos transitórios do esfíncter esofagiano inferior: normalmente, o EEI deve permanecer contraído fora dos episódios de deglutição, evitando o refluxo. Ocorrem predominantemente no período pós-prandial, desencadeados pela distensão do fundo gástrico por alimentos ou gás. São comuns também no decúbito lateral direto. São fisiológicos, de curta duração e de rápida depuração. Outra via de estímulo para o relaxamento do EIE seria a presença de gordura no bulbo duodenal, que libera colecistocinina, substância que induz ao relaxamento do EIE. Na DRGE, aparece como o mecanismo mais relevante para a ocorrência do refluxo. Hipotonia do EEI esfíncter esofagiano inferior: A maioria dos pacientes com DRGE apresenta a pressão do esfíncter em limites normais, com a hipotonia do EIE relacionada apenas aos casos mais graves da doença. Depuração do conteúdo ácido ineficiente e dismotilidade esofagiana: ocorre em duas etapas subsequentes, a primeira por meio da peristalse, a qual não é totalmente efetiva, deixando uma Etiopatogenia e fisiopatologia @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” pequena quantidade de secreção, que é, em seguida, lavada e tamponada pela saliva e pelo bicarbonato esofágico. Alterações da motilidade esofágica podem, portanto, facilitar o aparecimento da DRGE, entre elas destaque para doenças sistêmicas, como os distúrbios do colágeno que afetam o esôfago, por exemplo a esclerodermia. Outros fatores que diminuem a produção salivar, como medicamentos anticolinérgicos, radioterapia para câncer de cabeça e pescoço, síndrome de Sjögren e tabagismo também estão relacionados com a ocorrência de DRGE. Afecções que cursam com hiperacidez, como a síndrome de Zollinger-Ellison (um tipo de tumor que surge no sistema digestivo do paciente, em locais como o pâncreas ou o duodeno), podem ocasionar DRGE grave. Hipersensibilidade do esôfago: para uma mesma exposição ao ácido, indivíduos regem de maneira diferente em grau de agressão da mucosa e em sintomatologia, o que sugere uma participação da genética no desenvolvimento da DRGE. Alterações anatômicas – hérnia hiatal: corresponde à migração proximal da JEG, fazendo o estômago adotar uma posição intratorácica. Isso leva à perda do fator protetor exercido pela crura diafragmática, sobretudo durante períodos de aumento da pressão intra- abdominal. Nesses pacientes com HH, o suco gástrico fica armazenado na bolsa herniária, funcionando como uma espécie de reservatório de ácido, aumentando a intensidade e o tempo de exposição da mucosa esofagiana ao ácido gástrico, facilitando o fenômeno conhecido como “re-refluxo”, isto é, do mecanismo de retorno do conteúdo armazenado na câmera herniária para o esôfago. Esvaziamento gástrico lentificado: alguns autores sugerem que o esvaziamento gástrico lentificado aumentaria o tempo de exposição do conteúdo ácido sobrea mucosa esofágica. Outros advogam que estaria associado também à lentificação no esvaziamento esofágico (disfunção motora generalizada). Os estudos não são, entretanto, conclusivos quanto ao papel do esvaziamento gástrico na DRGE. Aumento da pressão intra‐abdominal: a obesidade central, principalmente no caso de pacientes com índice de massa corpórea (IMC) > 25 mg/kg, está associada à DRGE e às complicações como esôfago de Barrett (EB) e adenocarcinoma de esôfago. @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” HELICOBACTER PYLORI: a relação entre DGRE e H. pylori é controversa. Ainda não existem evidências de que a infecção por H. pylori influencie na quantidade de material refluído, contudo, a infecção seria responsável pela modificação da acidez do suco gástrico, causando uma relação negativa desta bactéria com DRGE, pois a gastrite por ela provocada teria como consequência a redução da produção de ácido clorídrico. As manifestações clínicas da DRGE dividem-se em típicas e atípicas, sendo as últimas classificadas em esofágicas e extraesofágicas. Manifestações típicas: são pirose e regurgitação. A pirose é descrita pelos pacientes como sensação de queimação em localização epigástrica que irradia para região retroesternal, ocorrendo em geral 30 a 60 minutos após as refeições, especialmente quando volumosas ou ricas em gorduras. Já a regurgitação significa a sensação de retorno de conteúdo ácido à boca ou hipofaringe. Manifestações atípicas: geralmente decorrem tanto da ação direta do material refluído sobre a via aérea como por reflexo vagal causado pela irritação mucosa. Elas podem ser classificadas em: >>Esofágicas - caracterizadas pela dor retroesternal não cardíaca e pelo globus faríngeo (“bola na garganta”). >>Extraesofágicas - encontram-se os sinais e sintomas orais (desgaste de esmalte dentário, halitose e aftas), sintomas otorrinolaringológicos (rouquidão, sinusite crônica, laringite posterior) e pulmonares (tosse crônica, asma, pneumonias de repetição). A presença de sintomas de alarme, como disfagia e odinofagia, perda de peso, sangramento gastrointestinal (hematêmese/melena), anemia crônica, náuseas e vômitos, além de idade acima de 40 anos e história familiar de neoplasias malignas do trato gastrointestinal superior predizem complicações e indicam necessidade de investigação antes do tratamento. O diagnóstico da DRGE fundamenta-se em avaliação detalhada da história clínica, incluindo tipo e características dos sintomas, como intensidade e frequência, fatores associados, desencadeantes e de melhora, a evolução ao longo do tempo e o impacto na qualidade de vida do paciente. Não esquecer de questionar sobre os sintomas de alarme já mencionados. Podem ser solicitados: ♥ Endoscopia digestiva alta ♥ PHmetria ♥ impedâncio-pHmetria (padrão- ouro) ♥ Manometria esofágica. Atualmente a impedâncio-pHmetria é considerada o teste com maior Manifestaçoes çliniças Diagnostiço @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). Permite definir o refluxo gastroesofágico quanto à sua composição (líquido, gasoso ou líquido-gasoso), identificar o nível de ascensão do refluxo no esôfago (proximal, médio e distal) e correlacionar entre os episódios de refluxo ácido e fracamente ácido as manifestações esofágicas e supra- esofágicas. Endoscopia digestiva alta: possui uma especificidade alta, porém uma baixa sensibilidade para o diagnóstico de DRGE. Atualmente no Brasil, os métodos diagnósticos mais utilizados são endoscopia, videonasolaringoscopia e pHmetria. >>Esofagite erosiva intensa (grau C de Los Angeles). >>Esofagite erosiva intensa (grau D de Los Angeles). A classificação de Los Angeles apresenta como grande vantagem a descrição das lesões na mucosa esofágica, graduando a gravidade da esofagite erosiva, em A, B, C e D. A classificação de Los Angeles é a mais recente, proposta em 1994 durante o Consenso Mundial de Los Angeles e atualmente é a mais utilizada com boa relação inter e intraobservador, permitindo padronização universal dos laudos endoscópicos. complicações clínicas As complicações decorrentes da DRGE incluem úlceras, hemorragia digestiva, estenose péptica, EB e adenocarcinoma esofágico. Essas complicações estão relacionadas ao tempo de evolução da doença e, geralmente, são mais frequentes em pacientes que demoram para procurar assistência médica, nos refratários ao tratamento ou naqueles que não o fazem. @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” O tratamento clínico se baseia em aliviar os sintomas, cicatrizar as lesões, e prevenir complicações. Esse pode ser feito por meio de medidas farmacológicas, utilizando inibidores de bomba de prótons (IBP), antagonistas dos receptores h2 da histamina, procinéticos, antiácidos, alginatos e sucralfato. Antiácidos: são bases fracas que reagem com o ácido clorídrico gástrico, formando sal e água. Seu principal mecanismo de ação consiste em reduzir a acidez intragástrica. São utilizados clinicamente quatro H2-antagonistas: a cimetidina, a ranitidina, a famotidina e a nizatidina. Dose habitual em caso de doença do refluxo gastresofágico: ♥ Cimetidina: 800 mg, 2 ×/dia ♥ Ranitidina: 150 mg, 2 ×/dia ♥ Nizatidina: 150 mg, 2 ×/dia ♥ Famotidina: 20 mg, 2 ×/dia Os antagonistas dos receptores H2 reduzem a secreção de ácido estimulada pela histamina, bem como pela gastrina e pelos fármacos colinomiméticos, por meio de dois mecanismos. Em primeiro lugar, a histamina liberada das células ECL pela gastrina ou por estimulação vagal tem a sua ligação ao receptor H2 da célula parietal bloqueada. Em segundo lugar, a estimulação direta da célula parietal pela gastrina ou pela ACh exerce um efeito diminuído sobre a secreção de ácido na presença de bloqueio dos receptores H2. Os pacientes com pirose ou dispepsia pouco frequentes (menos de 3 vezes por semana) podem tomar antiácidos ou antagonistas H2 de modo intermitente. Como proporcionam uma rápida neutralização do ácido, os antiácidos produzem alívio sintomático mais rápido do que os antagonistas dos receptores H2. Todavia, o efeito dos antiácidos é de curta duração (1 a 2 horas) em comparação com os antagonistas H2 (6 a 10 horas). Os antagonistas dos receptores H2 podem ser tomados de modo profilático antes das refeições com o intuito de reduzir a probabilidade de pirose. Inibidores da bomba de Prótons (ibP): Seis IBP estão disponíveis para uso clínico: omeprazol, esomeprazol, lansoprazol, dexlansoprazol, rabeprazol e panto- prazol. ♥ Omeprazol: 20-40 mg/dia ♥ Esomeprazol: 20-40 mg/dia ♥ Lansoprazol: 30 mg/dia ♥ Dexlansoprazol: 30-60 mg/dia ♥ Pantoprazol: 40 mg/dia Diferentemente dos antagonistas dos receptores H2, os IBP inibem a secreção tanto em jejum como estimulada por uma refeição, visto que eles bloqueiam a via comum final de secreção de ácido, a bomba de prótons. Os IBP constituem os agentes mais eficazes para o tratamento da doença do refluxo não erosiva e erosiva, das tratamento farmaçologiço @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” complicações esofágicas da doença do refluxo (estenose péptica ou esôfago de Barrett) e das manifestações extraesofágicas da doença do refluxo. A administração de uma única dose ao dia proporciona alívio efetivo dos sintomas e leva à cicatrização tecidual em 85 a 90% dos pacientes. Fármacos protetores da mucosa A mucosa gastroduodenal desenvolveuvários mecanismos de defesa para se proteger contra os efeitos nocivos do ácido e da pepsina. A secreção epitelial de bicarbonato estabelece um gradiente de pH dentro da camada mucosa, em que o pH varia de 7 na superfície da mucosa até 1 a 2 no lúmen gástrico. O fluxo sanguíneo transporta o bicarbonato e os nutrientes essenciais para as células da superfície. As áreas de lesão do epitélio são rapidamente reparadas por restituição, um processo em que a migração de células do colo da glândula leva ao fechamento de pequenas erosões, restabelecendo a integridade do epitélio. As prostaglandinas da mucosa parecem importantes ao esti-mularem a secreção de muco e de bicarbonato, bem como o fluxo sanguíneo da mucosa. sucralfato: O sucralfato é um sal de sacarose complexado com hidróxido de alumínio sulfatado. Em água ou soluções ácidas, forma uma pasta viscosa e de consistência firme, que se liga seletivamente às úlceras e erosões por um período de até 6 horas. Diversos efeitos benéficos foram atribuídos ao sucralfato, porém o mecanismo preciso de ação ainda não está bem esclarecido. Acredita-se que o sulfato de sacarose de carga negativa liga-se a proteínas de carga positiva na base das úlceras ou das erosões, formando uma barreira física que restringe qualquer lesão cáustica adicional e que estimula a secreção de prostaglandinas e de bicarbonato pela mucosa. O sucralfato é administrado em uma dose de 1 g, quatro vezes ao dia, com o estômago vazio (pelo menos 1 hora antes das refeições). Análogos das Prostaglandinas: a mucosa gastrintestinal humana sintetiza diversas prostaglandinas, sendo as principais as prostaglandinas E e F. O misoprostol possui propriedades inibidoras da secreção de ácido e protetoras da mucosa. Acredita-se que o fármaco estimula a secreção de muco e de bicarbonato, além de aumentar o fluxo sanguíneo da mucosa. O misoprostol diminui a incidência de úlceras induzidas por AINE para menos de 3%, bem como a incidência de complicações da úlcera em 50%. Todavia, o misoprostol nunca chegou a ser amplamente usado, em virtude de seu elevado perfil de efeitos colaterais e da necessidade de múltiplas doses diárias. @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” Fármaco antidopaminérgico: a metoclopramida e a domperidona são antagonistas dos receptores dopamínicos D2. No trato gastrintestinal, a ativação dos receptores de dopamina inibe a estimulação colinérgica do músculo liso; acredita-se que o bloqueio desse efeito constitui o principal mecanismo procinético de ação desses fármacos. Esses fármacos aumentam a amplitude peristáltica do esôfago, elevam a pressão do esfíncter esofágico inferior e aceleram o esvaziamento gástrico, porém não exercem nenhum efeito sobre a motilidade do intestino delgado ou do cólon. A metoclopramida e a domperidona também bloqueiam os receptores dopamínicos D2 na zona de gatilho quimiorreceptora do bulbo (área postrema), resultando em poderosa ação antináusea e antiemética. @landazuri-alicia 02.08.22 APG-SOI IV S1P1 “Ainda em desenvolvimento” BORTOLI, Victor Fajardo et al. Doença do refluxo gastroesofágico-uma revisão da literatura Gastroesophageal reflux disease-a review of the literature. Brazilian Journal of Health Review, v. 4, n. 3, p. 14245-14253, 2021. HALL, John E.; HALL, Michael E. Guyton & Hall - Tratado de Fisiologia. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. 9788595158696. E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br /#/books/9788595158696/. Acesso em: 05 ago. 2022. 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