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1 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 OBJETIVOS 1. Relacionar a histologia e fisiologia secreção clorídrico péptica com a fisiopatologia da doença ulcerosa péptica. 2. Descrever o conceito, epidemiologia, etiologia, sintomatologia, achados semiológicos, complicações, propedêutica e tratamento da doença ulcerosa péptica. 3. Descrever achados clínicos e semiológicos da perfuração da ulcera. 4. Descrever a propedêutica da investigação, terapêutica e controle de cura da H. Pylori. 5. Relacionar as possibilidades de abordagens diagnóstica com as condutas terapêuticas num fluxograma da doença ulcerosa péptica. 6. Descrever a farmacologia do IBP, antagonista de H2 e antiácidos. REFERÊNCIAS HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. COELHO, Luiz Gonzaga Vaz, et al. "IV CONFERÊNCIA DE CONSENSO BRASILEIRA SOBRE INFECÇÃO POR HELICOBACTER PYLORI". Arquivos de gastroenterologia. vol. 55, n.2; p. 97-121; abr.- jun.,2018. ZATERKA, Schlioma; EISIG, Jaime N. Tratado de gastroenterologia: da graduação à pós- graduação. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, FBG, 2016. ANATOMIA E HISTOLOGIA GASTRICA O estômago é dividido em cinco regiões anatômicas principais: 1- Cárdia (complexo esfincteriano); 2- Fundo; 3- Corpo; 4- Antro; 5- Piloro (complexo esfincteriano). A mucosa do estômago é constituída de epitélio colunar. Este sofre diversas invaginações que determinam a formação das fossetas gástricas. Nas bases das fossetas desembocam as glândulas gástricas. Existem 2 tipos de glândulas gástricas principais: GLÂNDULAS OXÍNTICAS: ficam localizadas nas superfícies internas do corpo e do fundo do estômago, constituindo 80% do estômago proximal. É composta por três tipos de células: (1) CÉLULAS MUCOSAS DO CÓLON, que secretam basicamente muco; (2) CÉLULAS PÉPTICAS (OU PRINCIPAIS), que secretam grandes quantidades de pepsinogênio; O pepsinogênio só possui atividade digestiva, quando entra em contato com o ácido clorídrico, formando a pepsina ativa, que atuará como uma enzima proteolítica (digere proteínas) Problema 02 Doença Ulcerosa Péptica HCl 2 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 (3) CÉLULAS PARIETAIS que secretam ácido clorídrico e o fator intrínseco. A secreção do fato intrínseco pelas células parietais é fundamental para a absorção de vitamina B12, e ocorre junto com a liberação de ácido clorídrico. Devido a isto, se estas células forem destruídas, a pessoa desenvolverá tanto uma gastrite, como uma anemia perniciosa. GLÂNDULAS PILÓRICAS ficam localizadas na porção antral do estômago, que corresponde aos 20% distais do estômago. Elas possuem principalmente células mucosas, que secretam um pouco de pepsinogênio e grande quantidade de muco. Além disso, liberam o hormônio gastrina. SECREÇÃO DE ÁCIDO CLORÍDRICO O Ácido Clorídrico (HCl) é secretado pelas células parietais por ação da bomba de prótons (H+/K+ ATPase); está se localiza em canalículos presentes no citoplasma. Todas as células possuem uma quantidade considerável de água e CO2, devido a respiração celular. A célula parietal possui uma grande concentração de anidrase carbônica, catalisando essas moléculas em ácido carbônico, que logo se dissocia em bicarbonato e H +. Esse bicarbonato irá para o interstício, através de uma troca que coloca CI- do sangue para dentro da célula parietal. O H+ formado é jogado para o lúmen do estômago através de uma bomba H+/K+ ATP-ase, entretanto, há entrada de K+ (potássio). O omeprazol atua nessa bomba. Quando o CI- acumula no citoplasma desta célula, há a abertura de um canal eletrônico para cloreto na membrana luminal. Como consequência da grande quantidade de bicarbonato que cai na corrente sanguínea devido a produção do ácido clorídrico no lúmen estomacal, forma-se uma maré alcalina, sendo um dos fatores que promove um cansaço pós- refeição. O cansaço na verdade é produto desta alcalinização e do desvio de sangue pra região do TGI pra auxiliar o transporte de nutrientes. REGULAÇÃO Três substâncias endógenas estimulam a secreção de ácido pelo estômago, agindo em receptores nas células parietais. ACETILCOLINA É liberada pela estimulação vagal do estômago, influenciada pela visão do alimento, olfato e paladar. Excita a secreção de pepsinogênio nas células pépticas, ácido clorídrico nas células parietais e muco nas células da mucosa. GASTRINA Estimula a secreção de ácido clorídrico nas células parietais. A gastrina é um hormônio secretado pelas células da gastrina ou células G, localizadas nas glândulas pilóricas, sendo que estas são estimuladas quando proteínas são digeridas. A gastrina é transportada para as células semelhantes às enterocromafins (ECL), o que causa a liberação de histamina. HISTAMINA Estimula a secreção de ácido clorídrico nas células parietais; a histamina é secretada pelas células semelhantes às enterocromafins (ECL). Obs: Enquanto o pH alcalino intraluminal estimula a secreção de gastrina, o aumento da acidez 3 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 estomacal a inibe. Sendo assim, na presença de hipocloridria – induzida farmacologicamente ou ocasionada por doenças (gastrite atrófica) – observamos elevação dos níveis de gastrina. SOMATOSTATINA: é sintetizada pelas células D, encontradas principalmente no antro gástrico; sua liberação se dá em resposta ao HCl. Este hormônio tem por função inibir a secreção ácida através de dois mecanismos: ação direta em seu receptor sobre a célula parietal e ação indireta, reduzindo a secreção de gastrina pela célula G e de histamina pelas células ECL. A destruição das células D, como ocorre em alguns casos de infecção pelo H. pylori, leva à hipergastrinemia e à hipercloridria. DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA DEFINIÇÃO A úlcera péptica gastroduodenal é definida como uma solução de continuidade na mucosa do estômago ou duodeno com diâmetro maior ou igual a 0,5 cm (lesões < 0,5 cm são chamadas de erosões), que penetra profundamente na parede do tubo digestivo (ultrapassando a muscular da mucosa), sendo, secundárias ao efeito corrosivo do ácido clorídrico (HCl) e da pepsina. As úlceras pépticas podem se desenvolver em qualquer porção do trato digestório exposta à secreção cloridropéptica em concentração e duração suficientes. No entanto, o termo “doença ulcerosa péptica” geralmente é empregado para descrever ulcerações do estômago, duodeno ou ambos. EPIDEMIOLOGIA A incidência da Doença Ulcerosa Péptica (DUP) vem caindo. A principal explicação para este fato é a queda igualmente progressiva na prevalência de colonização gástrica pelo H. pylori, principalmente nos países desenvolvidos, devido ao uso generalizado da terapia de erradicação do H. pylori e a grande disponibilidade de antissecretores gástricos potentes (IBP). A DUP é mais encontrada no sexo masculino (mais de 2/3 das úlceras acontecem em homens). **Alguns autores referem que a diferença na incidência de DUP entre os sexos está diminuindo e o aumento da prevalência do fumo entre as mulheres poderia explicar, em parte, tais dados. A úlcera duodenal é a forma predominante de doença ulcerosa péptica (5x mais frequente do que a úlcera gástrica) e incide na faixa etária de 30 a 55 anos de idade. A localização mais frequente da úlcera péptica do estômago é na região de antro gástrico (80% na pequena curvatura), em indivíduos entre 50 e 70 anos de idade. A doença ulcerosa péptica representa a causa mais comum de hemorragia digestiva alta,responsável por aproximadamente 50% dos casos. FATORES DE RISCO E ETIOLOGIA HELICOBACTER PYLORI O Helicobacter pylori é uma bactéria Gram- negativa que coloniza apenas mucosa gástrica e tem grande afinidade pelas células produtoras de muco localizadas no antro gástrico, sendo a principal causa de doença ulcerosa péptica. A infecção pelo H. pylori acomete igualmente homens e mulheres. A transmissão ocorre de pessoa a pessoa, seguindo uma via oral-oral, gastro-oral ou fecal- oral. 4 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 No Brasil, aproximadamente 95% dos pacientes com úlcera duodenal e 70-80% dos pacientes com úlcera gástrica são infectados pelo H. pylori. Um fator importante e universal de agressão bacteriana é a produção de urease, que converte a ureia (encontrada em abundância no conteúdo gástrico) em bicarbonato e amônia. Esta conversão, além de permitir a neutralização do ambiente ácido do estômago, facilitando a adesão da bactéria à parede gástrica, ainda gera amônia, substância extremamente tóxica para as células epiteliais. ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINE) Inibindo a produção de prostaglandinas mediante bloqueio da enzima COX, os AINEs reduzem o fluxo sanguíneo gástrico, a secreção de muco e HCO3 e a reparação e replicação celular. TABAGISMO O fumo está relacionado a uma maior recorrência da DUP e afeta o processo de cicatrização das úlceras pépticas, tornando-o mais lento. FATORES GENÉTICOS A DUP sé 3x mais comum em parentes de primeiro grau de um paciente com a desordem. FISIOPATOLOGIA ÚLCERA DUODENAL O processo inflamatório crônico da mucosa antral causado pelo H. pylori provoca destruição das células D e consequentemente há redução/inibição da produção de somatostatina. A perda (pelo menos parcial) deste fator inibitório promove hipergastrinemia (aumento da gastrina), tendo como resposta a hipercloridria. A maior secreção de HCl pelo estômago faz o duodeno receber maior carga ácida, induzindo a formação de metaplasia gástrica no bulbo duodenal, isto é, surge um epitélio tipo gástrico (oxíntico) no duodeno, que normalmente tem epitélio do tipo intestinal. Isso permite a infecção do bulbo duodenal pela bactéria, acestada nas ilhas de metaplasia gástrica, provocando duodenite, seguida de úlcera. Outro importante efeito da bactéria é inibir a produção de bicarbonato pela mucosa duodenal. ÚLCERA GÁSTRICA Geralmente ocorre devido ascensão da bactéria H. pylori do antro pra as porções mais proximais do estômago (corpo e fundo). Esse processo provoca uma gastrite atrófica, na qual há destruição das células parietais produtoras de ácido clorídrico, com consequente hipocloridria. Apesar da diminuição da secreção de ácido gástrico na mucosa, o processo inflamatório cônico gerado pela infecção bacteriana favorece a formação das úlceras gástricas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A maior parte dos pacientes (70%) são assintomáticos. Quando presente, a dor é habitualmente pouco intensa, em queimação, localizada no epigástrio, circunscrita e descrita como “dor de fome, queimadura ou desconforto na boca do estômago”. Outra característica da dor da úlcera péptica é a periodicidade: períodos de acalmia (desaparecimento da dor por meses ou mesmo anos) intercalados por outros sintomáticos ÚLCERA PÉPTICA DUODENAL: melhora da dor com a ingestão de alimentos (chamada de dor em três tempos: dói-come-passa). O fato de o paciente ser despertado pela dor no meio da noite (clocking) é sugestivo da presença de úlcera, particularmente, duodenal devido ao pico de secreção ácida por descarga vagal nesse período. ÚLCERA PÉPTICA GÁSTRICA: a ingestão de alimentos às vezes piora ou desencadeia o sintoma (dor em quatro tempos: dói-come-passa- dói). Outros sintomas dispépticos, como eructação, flatulência, sialorreia, náuseas e vômitos, não são próprios da úlcera péptica, mas podem estar associados. Na dependência das complicações desenvolvidas, os pacientes com doença ulcerosa péptica complicada podem apresentar melena, hematêmese, perda de sangue oculto nas fezes, náuseas, vômitos, distensão abdominal, 5 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 sinais de peritonite ou instabilidade hemodinâmica. COMPLICAÇÕES HEMORRAGIA: é a complicação mais comum da doença ulcerosa péptica. Os sinais e sintomas são hematêmese (vômitos com sangue vivo ou em “borra de café”); sangue nas fezes ou fezes negras (hematoquezia e melena, respectivamente); fraqueza, hipotensão postural, síncope, sede e sudorese causadas pela perda de sangue. PENETRAÇÃO (PERFURAÇÃO BLOQUEADA): são ulceras que perfuram, porém, as aderências impedem o vazamento para a cavidade abdominal. A dor pode ser intensa, persistente, referida em outros locais além do abdome (normalmente nas costas, quando ocorre a penetração de úlcera duodenal posterior no pâncreas) e alterada pela posição do corpo. PERFURAÇÃO LIVRE: são ulceras que perfuram para a cavidade abdominal não limitada por aderências em geral estão localizadas na parede duodenal anterior ou, com menos frequência, no estômago. O paciente se apresenta com abdome agudo. OBSTRUÇÃO GÁSTRICA DISTAL: pode ser causada por fibrose, espasmo ou inflamação por uma úlcera. Os sinais e sintomas são vômitos recorrentes em grande volume, de aparecimento mais comum no final do dia e com frequência até 6 horas após a última refeição. DIAGNÓSTICO E EXAMES COMPLEMENTARES ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA): é o padrão ouro para diagnóstico. É possível realizar biópsia e tratar sangramentos no trato gastrointestinal (TGI). Ao biopsiar, deve-se fazer a retirada da lesão na transição entre a úlcera e a mucosa normal, uma vez que a região central da úlcera frequentemente é composta apenas por tecido necrótico. A endoscopia permite estabelecer a localização anatômica da lesão, permitindo a classificação das úlceras gástricas em 4 tipos: TIPO I: Úlcera da pequena curvatura gástrica – sítio mais comum das úlceras gástricas, não apresenta grande correlação com a presença de hipercloridria. TIPO II: Úlcera do corpo gástrico associada à úlcera duodenal, muito associada com a presença de H. pylori e produção excessiva de HCl. TIPO III: Úlcera pré-pilóricoca: também associada à presença do H. pylori. TIPO IV: úlcera da porção proximal da pequena curvatura gástrica, em região proximal à junção gastroesofágica, é o tipo mais incomum da úlcera gástrica e não é correlacionada com a hipercloridria. EXAME RADIOLÓGICO CONTRASTADO: tem como desvantagem o uso de radiação ionizante e a necessidade da realização de exames endoscópicos e biópsias das lesões suspeitas para confirmação diagnóstica. Dessa forma, fica indicado apenas em situações em que o exame endoscópico não está disponível ou quando há indicação cirúrgica. DIAGNÓSTICO DA HELICOBACTER PYLORI TESTES INVASIVOS( pacientes com sintomas dispépticos, > 45 anos ou com sinais de alarme) 1- TESTE RÁPIDO DA UREASE DO FRAGMENTO BIOPSIADO: é o método de escolha na avaliação inicial dos pacientes que foram submetidos à EDA. Amostras de biópsia da mucosa são colocadas 6 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 em um meio contendo ureia e um marcador de pH. A presença de urease acarreta mudança na tonalidade do meio. Especificidade de 98% e o exame deve ser feito 1 semana após a suspensão de inibidores da bomba de prótons, pois essa classe de fármaco diminui a sensibilidade ao exame. 2- HISTOPATOLOGIA: geralmente duas a três biópsias da região antral coradas pela prata (Warthin- Starry),método de Gimenez, carbolfucsina ou imuno-histoquímica são suficientes para o diagnóstico de infecção por H. pylori. 3- CULTURA: a cultura é menos utilizada para o diagnóstico, pois o isolamento da bactéria é difícil e custoso. A principal vantagem deste método consiste na determinação da sensibilidade do H. pylori aos antibióticos empregados, principalmente nos casos de falha terapêutica TESTES NÃO INVASIVOS (pacientes com síndrome dispéptica, < 45 anos e sem sinais de alarme) 1- SOROLOGIA: o ELISA para detectar a presença de IgG anti-H. pylori tem baixa sensibilidade e especificidade comparado aos demais métodos não invasivos, não sendo mais indicado de rotina para o diagnóstico de infecção ativa. 2- Teste Respiratório da Ureia (TRU): O teste respiratório com uréia 13C é o método padrão ouro para o diagnóstico não invasivo da infecção por HP. O paciente ingere uma solução de ureia marcada com isótopos de carbono (C13 e C14). Sob ação da urease do H. pylori, a ureia é convertida em amônia e bicarbonato, o qual é convertido em CO2 (com o C marcado), sendo este último prontamente absorvido para a circulação e eliminado na exalação. O paciente então expira em um recipiente onde a presença de carbono marcado pode ser detectada por cintilação ou espectrografia. O teste, por ser não invasivo, é considerado o método de eleição para o controle de cura, porém, só deve ser realizado após quatro semanas do término do tratamento antimicrobiano, e após duas semanas do término do tratamento com IBP. 3- PESQUISA DO ANTÍGENO FECAL: antígenos do Helicobacter pylori podem ser detectados nas fezes e, quando presentes, indicam doença ativa. Apresenta menor acurácia que o teste respiratório, porém, é de mais fácil acesso. Também pode ser empregado para o controle de cura da infecção. TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS DIETA: os pacientes devem fazer as três refeições básicas, de forma regular. Hoje está claro que não existe dieta específica para o tratamento da úlcera péptica, sendo a única recomendação importante quanto à dieta evitar as comidas que exacerbem os sintomas. FUMO: os pacientes que não fumam apresentam cicatrização melhor e mais rápida do que os fumantes. ÁLCOOL: aumenta o risco de hemorragia digestiva em portadores de úlcera péptica bem estabelecida e, portanto, deve ser evitado durante o tratamento. ASPIRINA E AINES devem ser suspensos, se possível. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO O tratamento farmacológico visa à redução da acidez do conteúdo gástrico somada à erradicação do Helicobacter pylori, quando a bactéria se encontra presente. INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS (IBPS): atuam na H+/K+ATPase, inibindo diretamente o mecanismo de secreção de HCl da célula parietal, sendo considerados os antissecretores de primeira escolha para o tratamento da DUP. A inibição é prolongada (com seu efeito máximo ocorrendo em seis horas e retorno da secreção ácida normal após, no mínimo 1 semana) por fornecer uma inibição irreversível. Para pacientes com úlceras não associadas ao H. pylori, o tratamento deve ser com IBPs (exemplo: omeprazol 20 a 40 mg ao dia) de 4 semanas para úlceras duodenais não complicadas e 8 semanas para úlceras gástricas ou úlceras duodenais complicadas. 7 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 Em caso de úlcera não complicada associada à presença de H. pylori, os IBPs podem ser iniciados (omeprazol 20 mg/dia), uma semana antes de iniciado o tratamento contra a infecção pelo H. pylori e mantido até o encerramento do tratamento contra a infecção bacteriana. Os IBPs não precisam ser prolongados nesse caso, exceto se houver recorrência dos sintomas. Em caso de úlceras complicadas e associadas à infecção por H. pylori, deve ser iniciado tratamento com IBP por via venosa, em alta dose (exemplo: omeprazol 40 mg, duas vezes ao dia), sendo transicionado o tratamento para via oral uma vez que esta seja tolerada ao paciente, e posteriormente reduzida a dose do IBP (omeprazol 40 mg, uma vez ao dia). O tratamento com IBPs deve ser mantido entre 4 e 12 semanas nesses casos ANTAGONISTAS DO RECEPTOR H2: Bloqueiam competitivamente os receptores H2 de histamina das células parietais, responsáveis pelo estímulo à produção de ácido gástrico. Efetividade consideravelmente menor dos ARH2 em comparação aos IBPs, por isso, eles são utilizados como medicamentos de segunda opção para o tratamento da úlcera péptica. Antiácidos: reagem com o ácido clorídrico e formam sal e água, diminuindo a acidez e elevando o pH. Atualmente é utilizado principalmente para abrandar os sintomas. TRATAMENTO DO HELICOBACTER PYLORI O tratamento consiste na combinação de três fármacos, inicialmente, e é realizado durante 14 dias com administração de 2x/dia. A maioria dos esquemas combina um IBP e antibióticos - como metronidazol, claritromicina e amoxicilina. O esquema mais utilizado no Brasil é: • Omeprazol 20 mg 12/12h; Claritromicina 500 mg 12/12. Amoxicilina 1 g 12/12. Caso o tratamento falhe existem alternativas: SEGUNDA LINHA (10 DIAS) • Omeprazol - 20 mg, 12/12h; Levofloxacino - 500 mg, 1x/dia; • Amoxicilina - 1 g, 12/12h (ou Furazolidona 200 mg, 12/12h). TERCEIRA LINHA (DE 10 A 14 DIAS) • Omeprazol - 20 mg, 12/12h; • Sal de bismuto – 240 mg, 12/12h Obs: Usar IBPs após a erradicação do HP para cicatrizar úlcera péptica duodenal é desnecessário. Em casos de úlcera gástrica ou úlceras gastroduodenais complicadas, tratamento com IBPs por 4 a 8 semanas após a terapia de erradicação é recomendada. TRATAMENTO CIRÚRGICO Existem duas indicações básicas para a realização de um procedimento cirúrgico nos pacientes com úlcera: 1- Intratabilidade clínica: não cicatrização da úlcera após cerca de 8-12 semanas de tratamento, ou sua recidiva após o término da terapia. 2- Presença de complicações (hemorragia, perfuração e obstrução). VAGOTOMIA TRONCULAR: secção dos nervos vagos esquerdo e direito superiormente aos ramos celíacos e hepáticos. É um procedimento rápido e não complicado, sendo preferível em pacientes estáveis. VAGOTOMIA SUPERSELETIVA: foi criado após se reconhecer que a Troncular afeta o bombeamento no antro e piloro. Nesse procedimento, os nervos que suprem a porção que produz ácido no corpo e fundo são divididos, 8 MÓDULO I: SAÚDE DO ADULTO, DOR ABDOMINAL, DIARRÉIA, VÔMITOS E ICTERÍCIA ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 assim, o antro fica com sua inervação vagal preservada. VAGOTOMIA TRONCULAR E ANTRECTOMIA: essa combinação é eficaz na diminuição da secreção gástrica e na recidiva. CONTROLE DE CURA As úlceras gástricas devem ter um controle de cura através da endoscopia após 8 a 12 semanas após a primeira endoscopia. A pesquisa de HP após a terapia de erradicação deve ser realizada pelo menos 4 semanas após o término do tratamento. O teste respiratório com uréia 13C e a pesquisa do antígeno fecal com anticorpo monoclonal são os métodos de escolha. Histologia é um método invasivo alternativo. RESUMO DA CONDUTA Apesar da doença ulcerativa péptica em alguns casos manifestar-se com síndrome dispéptica (dor epigástrica, plenitude pós-prandial, saciedade precoce), 70% dos casos são funcionais!! SINAIS DE ALARME CASO 01 CASO 02 ULCERA DUODENAL: Não precisa biopsiar (sem risco de transformar em câncer) ULCERA GÁSTRICA: biópsia (alto risco de câncer gástrico) -Borda e centro da lesão -Pelo menos 6 fragmentos DIAGNÓSTICO DE INFECÇÃO POR H. PYLORI • TESTES INVASIVOS (coleta de material na EDA): teste rápido da urease, histologia, cultura • TESTES NÃO INVASIVOS: sorologia IgG, teste repiratório da ureia, antígeno fecal H.PYLORY + IBP (omeprazol 20mg/dia) + Claritromicina (500mg 2x/dia) + Amoxicilina (1g/2x dia) por 14 dias • Se houver ULCERA GÁSTRICA associada: IBP por mais 4 a 12 semanas • Se houver ULCERA DUODENAL associada: não necessita de complementar tratamento. CONTROLE DE CURA • H. PYLORI: 4 a 6 semanas após término do tratamento realizar teste respiratório • ULCERA GÁSTRICA: controle endoscópico de cicatrização, (Teste respiratório da ureia)
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