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Fisiologia do intestino grosso

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Fisiologia do intestino 
grosso: 
Defecação: a maior parte do tempo, o 
reto fica vazio, sem fezes, o que resulta, 
em parte, do fato de existir fraco 
esfíncter funcional a cerca de 20 
centímetros do ânus, na junção entre o 
cólon sigmoide e o reto. Ocorre, 
também, angulação aguda nesse local 
que contribui com resistência adicional 
ao enchimento do reto. Quando o 
movimento de massa força as fezes 
para o reto, imediatamente surge a 
vontade de defecar, com a contração 
reflexa do reto e o relaxamento dos 
esfíncteres anais. 
• A passagem de material fecal 
pelo ânus é evitada pela 
constrição tônica dos (1) 
esfíncter anal interno, espesso 
músculo liso com vários 
centímetros de comprimento na 
região do ânus e (2) esfíncter 
anal externo, composto por 
músculo estriado voluntário que 
circunda o esfíncter interno e se 
estende distalmente a ele; 
• O esfíncter externo é 
controlado por fibras nervosas 
do nervo pudendo, que faz parte 
do sistema nervoso somático e, 
assim, está sob controle 
voluntário, consciente ou pelo 
menos subconsciente-, 
subconscientemente, o esfíncter 
externo é mantido contraído, a 
menos que sinais conscientes 
inibam a constrição; 
• Reflexo intrínseco: mediado 
pelo sistema nervoso entérico 
local, na parede do reto. 
o Quando as fezes entram 
no reto, a distensão da 
parede retal 
desencadeia sinais 
aferentes que se 
propagam pelo plexo 
mioentérico para dar 
início a ondas 
peristálticas no cólon 
descendente, sigmoide e 
no reto, empurrando as 
fezes na direção do reto; 
o À medida que a onda 
peristáltica se aproxima 
do ânus, o esfíncter anal 
interno se relaxa, por 
sinais inibidores do plexo 
mioentérico; 
o Se o esfíncter anal 
externo estiver relaxado 
consciente e 
voluntariamente, ocorre 
a defecação; 
o O reflexo intrínseco 
mioentérico de 
defecação, por si só, não 
é normalmente 
suficiente. 
• Reflexo de defecação 
parassimpático: que envolve os 
segmentos sacros da medula 
espinhal. 
o Quando as terminações 
nervosas no reto são 
estimuladas, os sinais 
são transmitidos para a 
medula espinhal e de 
volta ao cólon 
descendente, sigmoide, 
reto e ânus, por fibras 
nervosas 
parassimpáticas nos 
nervos pélvicos; 
o Esses sinais 
parassimpáticos 
intensificam bastante as 
ondas peristálticas e 
relaxam o esfíncter anal 
interno, convertendo, 
assim, o reflexo de 
defecação mioentérico 
intrínseco de efeito 
fraco a processo intenso 
de defecação que, por 
vezes, é efetivo para o 
esvaziamento do 
intestino grosso 
compreendido entre a 
curvatura esplênica do 
cólon até o ânus; 
o Sinais de defecação que 
entram na medula 
espinhal iniciam outros 
efeitos, tais como 
inspiração profunda, 
fechar a glote e contrair 
os músculos da parede 
abdominal, forçando os 
conteúdos fecais do 
cólon para baixo e, ao 
mesmo tempo, fazendo 
com que o assoalho 
pélvico se relaxe e, ao 
fazê-lo, se projete para 
baixo, empurrando o 
anel anal para baixo para 
eliminar as fezes; 
o Quando é oportuno para 
a pessoa defecar, os 
reflexos de defecação 
podem ser, 
propositadamente, 
ativados por respiração 
profunda, movimento do 
diafragma para baixo e 
contração dos músculos 
abdominais para 
aumentar a pressão 
abdominal, forçando, 
assim, o conteúdo fecal 
para o reto e causando 
novos reflexos; 
o Os reflexos iniciados 
dessa maneira quase 
nunca são tão eficazes 
como os que surgem 
naturalmente, razão 
pela qual as pessoas que 
inibem, com muita 
frequência, seus reflexos 
naturais tendam mais a 
ter constipação grave; 
o Nos recém-nascidos e 
em algumas pessoas com 
transecção da medula 
espinhal, os reflexos da 
defecação causam o 
esvaziamento 
automático do intestino, 
em momentos 
inconvenientes, devido à 
ausência do controle 
consciente exercido pela 
contração e pelo 
relaxamento voluntários 
do esfíncter anal 
externo. 
 
Constipação: significa movimento 
lento das fezes pelo intestino grosso. 
• Frequentemente, está associada 
à grande quantidade de fezes 
ressecadas e endurecidas no 
cólon descendente, que se 
acumulam devido à absorção 
excessiva de líquido; 
• Qualquer patologia dos 
intestinos que obstrua o 
movimento do conteúdo 
intestinal, como tumores, 
aderências que causem 
constrição ou úlceras, pode 
causar constipação; 
• Causa funcional frequente da 
constipação são os hábitos 
intestinais irregulares que se 
desenvolveram durante uma 
vida toda de inibição dos 
reflexos normais da defecação; 
• A constipação pode, também, 
resultar de espasmo de 
pequeno segmento do cólon 
sigmoide; 
• Deve ser lembrado que a 
motilidade, normalmente, é 
fraca no intestino grosso, de 
modo que, mesmo espasmo 
discreto, costuma ser capaz de 
causar constipação séria; 
• Se a constipação perdura por 
vários dias e fezes se acumulam 
acima do cólon sigmoide 
espástico, secreções colônicas 
excessivas, frequentemente, 
levam a um dia ou mais de 
diarreia. Depois disso, o ciclo 
começa, novamente, com 
alternância entre constipação e 
diarreia. 
 
Microbiota intestinal: refere-se aos 
milhões de microrganismos, como 
vírus, fungos e bactérias, que habitam 
o trato gastrointestinal e que, em 
condições normais, não nos causam 
doenças. 
• O surgimento da microbiota 
começa logo após o nascimento, 
predominantemente 
proveniente da mãe. Existem 
diferenças nos microrganismos 
portados por crianças que 
nascem de parto normal e as 
que nascem de parto cesáreo, e 
já é bem sabido que elas 
apresentam perfis imunológicos 
diferentes; 
• Um adulto porta, em média, 
mais de mil bactérias, ajudando 
a totalizar de 1 a 2 kg de seu 
peso. Ainda, a microbiota é 
caracterizada como uma 
identidade pessoal, já que nem 
todos microrganismos são 
comuns aos indivíduos; 
• Funções: 
o Atua na absorção de 
nutrientes e 
medicamentos; 
o Atua na síntese de 
vitaminas, como B12 e K; 
o Modula o sistema 
endócrino, influenciando 
o metabolismo; 
o Modula o sistema imune 
ajudando a proteger 
contra microrganismos 
patogênicos; 
o Produz 
neurotransmissores que 
atuam no sistema 
nervoso central. 
 
• Resultados da interação 
humano-microrganismo: 
o Obesidade e síndrome 
metabólica: em animais 
geneticamente 
modificados para a 
obesidade, observa-se 
uma população de 
bactérias do filo 
Firmicutes maior que a 
de Bacteroidetes (os dois 
filos predominantes da 
nossa microbiota); 
o Essa mudança de padrão 
também foi observada 
na ingestão de dietas 
ricas em gorduras e 
carboidratos, o que 
também resultou em 
obesidade; 
o Além disso, as bactérias 
intestinais têm a 
propriedade de produzir 
ácido graxos de cadeia 
curta a partir de diversos 
componentes da dieta; 
o O importante disso é que 
os ácido graxos de cadeia 
curta têm função 
endócrina e interferem 
na produção de alguns 
hormônios e 
neuropeptídeos como 
glucagon, grelina e 
peptídeo YY (que, por sua 
vez, regulam tanto o 
apetite quanto o 
metabolismo dos 
nutrientes absorvidos). 
• Sistema imune: a microbiota 
intestinal tem um efeito 
contínuo e dinâmico no 
intestino e sistema imunológico 
sistêmico do hospedeiro; 
o As bactérias são 
fundamentais na 
promoção do 
desenvolvimento inicial 
do sistema imunológico 
da mucosa do intestino 
tanto em termos de seus 
componentes físicos e 
funções e continuam a 
desempenhar um papel 
mais tarde na vida em 
sua operação; 
o As bactérias estimulam o 
tecido linfoide associado 
à mucosa do intestino 
para produzir anticorpos 
a agentes patogênicos; 
o O sistema imunitário 
reconhece e combate 
bactérias prejudiciais, 
mas deixa as espécies 
úteis sozinhas, uma 
tolerância desenvolvida 
na infância. 
• Transtornos psiquiátricos: As 
próprias bactérias intestinais 
podem produzir substâncias 
como serotonina e GABA 
(principal neurotransmissor 
inibidor no sistemanervoso 
central) que são absorvidas em 
maior ou menor proporção. 
o Serotonina: está 
envolvida em várias 
funções orgânicas desde 
cerebrais a 
cardiovasculares e 
agregação plaquetária. E 
sua influência em 
transtornos 
neuropsiquátricos, 
incluindo a depressão, já 
é bem conhecida. 
▪ Além de produzi-
la, a microbiota 
intestinal 
consegue extrair 
dos alimentos ou 
produzir seu 
precursor: o 
triptofano (que 
poderia, por sua 
vez, ser usado no 
sistema nervoso 
para produção de 
serotonina); 
o Interferência no eixo 
hipotálamo-hipófise-
adrenal (HPA): o HPA é 
responsável pela 
secreção de 
corticosteroides para a 
resposta corporal ao 
estresse; 
▪ Camundongos 
completamente 
livres de 
bactérias 
apresentam uma 
reação fisiológica 
desproporcional 
e exagerada ao 
estresse, da 
mesma forma 
que têm 
dificuldade em 
“desligar” essa 
reação uma vez 
que o estressor 
foi retirado. Após 
o transplante de 
fezes, a ativação 
do eixo HPA se 
torna normal; 
▪ A hiperativação 
do eixo HPA faz 
parte da psico e 
fisiopatologias 
de transtornos 
depressivos e 
ansiosos, sendo 
suspeita até 
como potencial 
causa em alguns 
casos. 
GALT: a extensa superfície mucosa do 
sistema digestório está exposta a muitos 
microrganismos potencialmente 
invasivos. 
• Imunoglobulinas da classe IgA, 
encontradas nas secreções, são 
sintetizadas por plasmócitos e 
formam a primeira linha de 
defesa; 
• Outro mecanismo protetor é 
formado pelas junções 
intercelulares oclusivas que 
fazem da camada de células 
epiteliais uma barreira para a 
penetração de microrganismos; 
• Além disso, e, provavelmente, 
servindo como a principal 
barreira protetora, o sistema 
digestório também contém 
macrófagos e grande 
quantidade de linfócitos, 
localizados tanto na mucosa 
quanto na submucosa. Juntas, 
essas células formam o tecido 
linfoide associado ao sistema 
digestório (GALT, do inglês 
gastrointestinal-associated 
lymphoid tissue). 
Alimentos que interferem no 
funcionamento intestinal: na lista 
de quem auxilia a microbiota intestinal 
estão: mamão, ameixa, abóbora, 
melancia, laranja e manga. Já do lado 
que atrasa o funcionamento, o time é 
formado por banana, maçã, caju, goiaba 
e maracujá. 
• O que muda entre esses dois 
grupos é o tipo de fibra 
presente; 
• Existem dois: a solúvel, com 
capacidade de absorver água 
como se fosse um gel, que pode 
ser encontrada na maçã e na 
goiaba. Justamente por ter essa 
característica, ela acaba 
prendendo o intestino se você 
não ingere água o suficiente; 
• Por outro lado, há as insolúveis, 
que atuam de maneira oposta e, 
por isso, ajudam no trânsito 
intestinal. 
Atuação dos laxantes: 
• Osmóticos: os laxantes do tipo 
osmóticos são aqueles que 
estimulam a absorção de água 
no intestino com o objetivo de 
amolecer as fezes e facilitar a 
passagem pelo reto. Seu efeito, 
geralmente, demora mais 
variando de dois a três dias para 
ser notado; 
• Estimulantes: os estimulantes, 
são laxantes de ação local, ou 
seja, agem diretamente no 
intestino. O bisacodil5, princípio 
ativo de Dulcolax4, estimula o 
movimento natural do 
intestino, o que promove o 
acúmulo de água dentro do 
órgão, hidratando mais as fezes 
e facilitando sua eliminação; 
• Amaciadores (ou emolientes): 
esse tipo de laxante permite que 
a água penetre nas fezes, 
fazendo-as amolecer e ter uma 
passagem melhor pelo reto. Eles 
também podem ser chamados 
de emolientes, uma vez que 
pode conter óleo mineral em 
sua composição, o que permite 
a lubrificação da massa fecal; 
• Formadores de massa: os 
formadores de massa 
aumentam o peso (volume) das 
fezes, aumentando assim o 
estímulo do intestino para 
eliminá-lo. Porém, seu efeito 
começa a partir de dois a três 
dias após a ingestão. 
Alimentos probióticos: são 
considerados funcionais, porque além 
de terem vitaminas e minerais 
importantes para nutrir o organismo, 
ainda contém leveduras e bactérias 
boas que ajudam na manutenção da 
saúde. 
• Os probióticos servem para 
regular a microbiota intestinal, 
equilibrar distúrbios 
gastrointestinais, prevenir e 
tratar doenças, e, também, 
atuam como 
imunomoduladores. 
Digestão química no intestino 
grosso: a fase final da digestão ocorre 
no colo por meio da ação das bactérias 
que habitam o lúmen. 
• O muco é secretado pelas 
glândulas do intestino grosso, 
mas não são secretadas enzimas; 
• O quimo é preparado para a 
eliminação pela ação de 
bactérias, que fermentam 
quaisquer carboidratos 
restantes e liberam hidrogênio, 
dióxido de carbono e gases 
metano. Estes gases contribuem 
para os flatos no colo, 
denominada flatulência quando 
é excessiva; 
• As bactérias também convertem 
quaisquer proteínas restantes 
em aminoácidos e fragmentam 
os aminoácidos em substâncias 
mais simples: indol, escatol, 
sulfeto de hidrogênio e ácidos 
graxos; 
• Um pouco de indol e escatol é 
eliminado nas fezes e contribui 
para o seu odor, o restante é 
absorvido e transportado para o 
fígado, onde estes compostos 
são convertidos em compostos 
menos tóxicos e excretados na 
urina; 
• As bactérias também 
decompõem a bilirrubina em 
pigmentos mais simples, 
incluindo a estercobilina, que dá 
às fezes a sua coloração marrom; 
• Os produtos bacterianos que 
são absorvidos pelo colo 
incluem várias vitaminas 
necessárias para o metabolismo 
normal, entre as quais algumas 
vitaminas B e a vitamina K; 
• Dos 0,5 a 1,0 ℓ de água que 
entra no intestino grosso, tudo 
exceto aproximadamente 100 a 
200 mℓ normalmente é 
absorvido por osmose. O 
intestino grosso também 
absorve íons, incluindo sódio e 
cloreto. 
Referências: 
• Tratado de Fisiologia Médica- 
Guyton; 
• Fisiologia Humana- Silverthorn; 
• Princípios de Anatomia e 
Fisiologia- Tortora; 
• Histologia Básica- Junqueira e 
Carneiro.

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