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Dor o� Desconfort� Torácic� Introdução Queixa frequente no Pronto socorro, podendo ser causada por uma ampla gama de patologias O papel primordial do médico nesses casos, é descartar a presença de patologias graves e potencialmente fatais, principalmente a síndrome coronariana aguda (quase 20% dos casos de desconforto torácico) Fisiopatologia A dor pode ser dividida em dois tipos: ● Somática - Nesse caso as fibras entram na medula espinhal em níveis específicos seguindo a distribuição dos dermátomos, podendo ser precisamente descrita e bem localizada. Ex: Pleurite,, costocondrite e zoster ● Visceral - Fibras entram na medula em múltiplos níveis, sendo descrita geralmente como um desconforto, peso ou mal estar, e não tem localização precisa. Ex: Síndrome coronariana aguda e espasmo esofágico. Etiologia Musculoesquelética ● Lesões em costelas (fratura, metástase, trauma) ● Nervos sensitivos (herpes-zoster) ● Costocondrite (síndrome de Tietze) ● Fibromialgia ● Síndrome radiculares ● Dores musculares inespecíficas Gastrointestinais ● Refluxo gastroesofágico ● Espasmo esofágico ● Esofagite ● Úlcera péptica/gastrite ● Ruptura do esofago Causas psiquiátricas ● Transtorno do pânico ● Transtorno de ansiedade generalizada ● Depressão ● Transtorno somatoforme Causas vasculares ● Dissecção de aorta ● Aneurisma de aorta Causas cardíacas ● Isquêmica (Síndrome coronariana aguda) ● Não isquêmica (pericardite, estenose aórtica, cardiomiopatia hipertrófica Causas pulmonares ● Pneumotórax ● Embolia pulmonar ● Pneumonia ● Pleurite ● Hipertensão pulmonar Abdome superior ● Pancreatite ● Colecistite ● Abscesso subfrênico Manifestações Clínicas Alguns achados da anamnese e exame físico, podem indicar a patologia de base mais provável em cada caso: ● Idoso - Doença grave ● Desconforto durante o exercício físico - SCA ● Irradiação para o braço, ombro, pescoço e mandíbula - SCA ● Vomitos - Ruptura de esofago ● Déficit neurológico associado - Dissecção de aorta ● Dor de início súbito, intensidade crescente, do tipo “rasgando” - Dissecção de aorta ● Irradiação para o dorso - Dissecção de aorta ● Dispneia - SCA, edema pulmonar, DPOC, pneumonia, pneumotórax, IC ● História de trauma - Contusão pulmonar, contusão cardíaca, hemotórax, pneumotórax, hemopneumotórax, tórax instável ● Hipotensão - IC, edema pulmonar, SCA, pneumotórax hipertensivo, tamponamento, dissecção aórtica ● Diaforese - Doença grave ● PA e pulsos assimétricos - Dissecção aórtica ● Sopro sistólico em foco aórtico - Estenose aórtica ● Sopro diastólico - Insuficiência aórtica, dissecção aórtica ● Enfisema subcutaneo - Pneumotorax, ruptura de esofago ● Alteração neurológica - Dissecção aórtica ● Crepitações bilaterais - IC ● Febre - Pneumonia, pleurite Característica da Dor ● Definitivamente anginosa - Desconforto retroesternal desencadeado por esforço, irradiação para pescoço, mandíbula e ombro esquerdo, aliviada por repouso ou nitrato. ● Provavelmente anginosa - Apresenta a maioria das características da dor anginosa, mas é atípica em alguns aspectos. Sendo que a SCA ainda é a principal hipótese nesse caso. ● Possivelmente anginosa - Padrão atípico de dor torácica em que a SCA não é a principal hipótese, mas que ainda existe a necessidade de descartar a hipótese por meio de exames. ● Definitivamente não anginosa - Dor de aspecto evidente de origem não cardíaca. Dor Torácica Isquêmica ● Dor torácica do tipo anginosa (OBS: 30 a 42 % dos pacientes não apresentarão dor, podendo ter sintomas como palpitações, síncope, hipotensão, dor epigástrica, dispnéia, confusão, vômitos e diaforese, esses sintomas são os denominados equivalentes isquêmicos. Isso ocorre principalmente em idosos, diabéticos e pacientes psiquiátricos) ● Dor pode durar 10 a 20 minutos, ou mais que 30 no caso do infarto ● Sintomas associados - palpitações, síncope, hipotensão, palidez cutânea, dispnéia, confusão, náuseas, vômitos e diaforese ● Exame físico - Geralmente é inexpressivo, podendo haver quarta bulha, sopro carotídeo, diminuição dos pulsos nos MMII, aneurisma abdominal e sequelas de AVC. Avaliação da Probabilidade de isquemia coronariana: Alta probabilidade ● História de coronariopatia ● Dor torácica do tipo anginosa ● Diaforese ● Edema de pulmão e crepitações ● Hipotensão ● Insuficiência mitral transitória ● Alterações transitórias no segmento ST > 0,05 mV ● Inversão da onda T com sintoma (>0,2 mV) ● Elevação de enzimas cardíacas Probabilidade intermediária: ● Dor ou desconforto torácico como principal sintoma ● Diabetes melito ● Sexo masculino ● Idade> 70 anos ● Doença vascular extracardíaca (ex; AVC) ● Ondas Q patológicas ● Anormalidades fixas no ECG (segmento ST ou onda T) Baixa probabilidade ● Dor reproduzida à palpação ● ECG normal ou onda T retificada Fatores de risco clássicos para DCA ● Tabagismo ● HAS ● DM ● HDL baixo ● LDL alto ● História de DCA prematura na família (<55 anos para homens ou <65 para mulheres) ● Idade - Homens> 45 anos e mulheres > 55 anos ● Obesidade ● Sedentarismo Outras Dores Cardiogênicas Pericardite: ● Dor do tipo pleurítica ● Piora quando o paciente, respira, deglute ou deita ● Pode haver febre, atrito pericárdico, mialgia, artralgia e rash cutaneo ● Geralmente precedido por um quadro gripal ● Mais aguda que a angina e com característica mais contínua ● Pode haver sinais de IC, quando houver miocardite associada Estenose aórtica Miocardiopatia hipertrófica Dor da Dissecção Aguda de Aorta É um evento considerado raro, porém com alta letalidade, devendo ser lembrada em casos de dor torácica Características da dor: ● Início súbito ● Forte intensidade desde o início (na dor anginosa geralmente a intensidade vai crescendo) ● A dor pode migrar para outros pontos, seguindo o trajeto da aorta Sinais e sintomas associados: ● Hipertensão (80 a 90% dos casos) ● Diferença pressórica entre os membros (50%) ● Diferença de pulso (8 a 12%) ● Sinais de derrame pleural ● Síndrome de Horner ● Disfagia e rouquidão ● Sudorese e palidez ● Pseudo hipotensão - Oclusão ou comprometimento das artérias braquiais ● Sopro de insuficiência aórtica aguda ● Atrito pericárdico (pouco comum) - Indica tamponamento cardíaco ● Sinais de tamponamento cardíaco - Bulhas abafadas, estase jugular e pulso paradoxal ● Déficit neurológico agudo - Paresia, plegia, AVC ● Hematêmese, hemoptise ● Sinais de insuficiencia cardiaca - Insuficiencia aórtica aguda ● Choque - Tamponamento pericárdico, sangramento para a pleura ou retroperitônio e ruptura de aorta ● Dor abdominal - Isquemia mesentérica ● Oclusão arterial aguda - insuficiência arterial periférica (membros), Isquemia renal, isquemia medular, IAM e AVC Dor de Origem Pulmonar Embolia pulmonar ● Dor torácica súbita (acomete 66% dos pacientes) ● Sinais associados - Dispnéia, tosse, hemoptise, síncope, taquipneia, taquicardia, sinais de TVP, febre, cianose Pneumotórax espontâneo ● Dor torácica de localização em dorso ou ombros ● Sinais associados - Dispneia, taquipneia, ausência de ruídos no hemitórax afetado Doenças do parênquima pulmonar - pneumonia, câncer, sarcoidose Hipertensão pulmonar Dor Esofágica e Gastroduodenal Doença do refluxo gastroesofágico ● Dor em queimação (pirose), pode ser descrita como sensação opressiva (podendo ser confundida com SCA) ● Pode irradiar para pescoço, braço e dorso ● A dor tem associação com a alimentação ● Melhora com o uso de nitratos, antiácidos, bloqueador de canais de cálcio ou repouso ● Pode haver regurgitação alimentar Úlcera péptica ● Dor em região epigástrica ou andar superior do abdome, podendo ser referida em região subesternal ou retroesternal ● Ocorre após refeição e melhora com o uso de antiácidos Ruptura de esofago ● Dor excruciante, retroesternal ou em andar superior do abdome ● Causada por vômitos incoercíveis ou trauma ● Associada a pneumomediastino e enfisema subcutâneo Dor Osteomuscular ● Bem localizada ● Desencadeada pela mobilização de grupo muscular ou articular específica, ou até mesmo por uma posição específica ou respiração profunda.● Palpação reproduz a dor ● História de atividade física não costumeira Dor Psicogênica ● Dor difusa e imprecisa (indivíduo tem dificuldade para descrevê-la) ● História de depressão ou transtorno de ansiedade ● Exame físico inocente Eletrocardiograma Deve ser realizado em até 10 minutos da chegada do paciente Apresenta sensibilidade de 45-60% para SCA - Cerca de metade dos pacientes não terão o diagnóstico no primeiro ECG. Nesses casos é importante a realização dos ECG seriados, intervalo de 3-4 horas nas primeiras 12 horas de internação. A alteração mais típica da DCA é a elevação do segmento ST > 1 mm em 2 ou mais derivações contíguas (sendo que ausência de elevação de ST não descarta SCA): ● Elevação do ST - IAM com supra ● Ausência da elevação do ST, mas com elevação de enzimas cardíacas - IAM sem supra ● Ausência de elevação do ST e ausência de elevação de enzimas cardíacas - Angina instável Marcadores de Necrose Miocárdica São representados pela: ● Mioglobina - É o marcador mais precoce, mas apresenta pouca especificidade ● CK MB - Muito útil nos casos de reinfarto, já que a troponina permanece elevada por um período muito longo. ● Troponina I e troponina T - Sendo que este último é o que apresenta melhor perfil para o diagnóstico de SCA Dosar os marcadores na admissão e após 6 a 12 horas do início da dor. Nem sempre os marcadores vão estar elevados logo no início do evento Relação entre nível sérico dos marcadores de necrose e o tempo transcorrido após o evento isquêmico. Válido ressaltar que outras entidades clínicas podem provocar elevação de troponinas: Outras condições isquêmicas ● Taqui e bradiarritmias ● Dissecção aórtica ● Estenose aórtica grave ● Cardiomiopatia hipertrófica ● Choque ● Insuficiência respiratória aguda ● Anemia grave ● Espasmo coronariano ● Vasculite Lesão não isquêmica ● Trauma cardíaco ● Procedimentos cardiológicos ● Miocardite ● Drogas cardiotóxicas ● Rabdomiólise com envolvimento do coração Multifatorial ● IC ● Insuficiência renal ● Cardiomiopatia de Takotsumoto ● Hipertensão pulmonar grave ● Edema de pulmão ● Doença grave ● Sepse grave ● Choque séptico ● Doença neurológica grave ● Exercício extenuante ● Doenças infiltrativas do miocárdio Radiografia de Torax Útil para diagnóstico diferencial de doenças não isquêmicas: ● Pneumonia ● Pneumotórax ● Câncer de pulmão ● Derrame pleural Pode apresentar sinais sugestivos de: ● TEP ● Derrame pericárdico ● Hipertensão pulmonar TC de tórax Útil para diagnóstico de: ● Embolia pulmonar ● Dissecção aórtica aguda Outros Exames Ergonometria Ecocardiograma - Dissecção aórtica, Tamponamento cardíaco, hematomas intramurais, RNM - Útil na avaliação dos grandes vasos Endoscopia digestiva alta - Avaliar causas gastrointestinais USG abdominal - Abscessos subfrênicos e colecistite Algoritmo de Atendimento do Paciente com Dor torácica Referência Livro de emergências clínicas da USP - 10 Edição - 2016
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