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Relatório filme Quase Deuses - História da Medicina

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UNIVERSIDADE NILTON LINS
GRADUAÇÃO EM MEDICINA
HISTÓRIA DA MEDICINA E DAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE
HÁDILLA MARIA DO DESTERRO GONÇALVES CAVALCANTE
ISABELLA FRANCISCA MONTEIRO DE ARAÚJO
RELATÓRIO AVALIATIVO DOS FILMES “O FÍSICO” E “QUASE DEUSES”
MANAUS
2020
TEMA 1: O FÍSICO
1.0. Introdução
“Na Idade Média, a arte de curar desenvolvida no Império Romano é quase totalmente esquecida na Europa. Não há médicos ou hospitais, apenas “barbeiros” ambulantes com pouco conhecimento. Na mesma época, do outro lado do mundo, a ciência médica próspera.” A frase inicial do filme nos familiariza com o contexto histórico do enredo, no qual se viveu um período de estagnação do conhecimento e demarca uma discrepância indubitável entre a prática da medicina ocidental e oriental.
Nesse sentido, em uma obra repleta de simbolismos, conflitos entre os valores religiosos e científicos, e com enfoque na prática da medicina, recebemos a história pela perspectiva do jovem Rob Cole. Quando criança, o protagonista tem sua curiosidade instigada ao ver a apresentação de um leigo barbeiro, que seria uma espécie de “curandeiro” e, após a morte precoce de sua mãe, decide seguir os passos do personagem. 
Rob cresce ajudando-o e com o passar dos anos, se interessa cada vez mais acerca da arte de cura, principalmente depois perceber que tem o dom de prever a morte e que poderia utilizar isso a favor dos seus pacientes. Porém, para poder ajudar ainda mais os doentes, seria necessário que ele adquirisse mais conhecimento, saindo da Inglaterra rumo ao Oriente Médio, para ter aulas com um famoso e sábio médico Ibn Sina, que cuidava de uma universidade e de um hospital.
Decidido, então, parte para uma jornada rumo as terras desconhecidas, com o intuito de aprender com o melhor professor de medicina do mundo. Dessa maneira, acompanhamos a trajetória de aprendizado do protagonista, motivado, acima de tudo, pela busca do conhecimento, bem como pela vontade de salvar vidas.
Nesse sentido, será exposto no desenvolvimento, por meio de tópicos, com o intuito de organizar ideias, aspectos do filme que se correlacionam com a história da medicina, fazendo um paralelo entre o ficcional e real. Na conclusão, será atribuída a minha opinião, como estudante de medicina, sobre a obra, abordando passagens importantes que trazem uma reflexão enriquecedora para a minha carreira médica.
2.0. Desenvolvimento
2.1. Contexto Histórico – Medicina no Ocidente
	O período da Idade Média se mostrou inerte, no que se refere a evolução do conhecimento médico. O legado de Hipócrates e todo o aprendizado terapêutico adquirido durante o Império Romano foi barrado pela Igreja Católica, que considerava o estudo da medicina inadequado para os cristãos. As doenças eram vistas como castigos pelos pecados e muitos tratamentos eram resumidos apenas às orações.
É retratado, nos primeiros minutos do filme, a apatia de cuidados, quando a mãe do protagonista tem uma crise da “doença do lado” e, ao buscar ajuda, Rob é instruído apenas a rezar, pois nada poderia ser feito para aliviar a dor ou salvar a vida da sua mãe.
A ineficácia dos procedimentos mágico/religiosos era compensada com caridade. Foi assim que surgiram as instituições precursoras dos modernos hospitais, os xenodochia, asilos para doentes (também para viajantes) nos quais os pacientes recebiam, se não o tratamento adequado pelo menos conforto espiritual.
Cresceu a desconfiança nos médicos e a medicina se viu desmoralizada. Apesar disso, ainda se lidava com os doentes através de pseudociências e com conhecimentos empíricos. As raras cirurgias, conduzidas sem anestesia e sem qualquer assepsia, eram praticadas por barbeiros. 
No filme, esse cenário de desordem é fielmente representado em diversas cenas enquanto o protagonista ainda está na Inglaterra. Vários procedimentos são praticados pelo barbeiro e por Rob sem uso de anestesia, como extração dentária, amputação de membros, sangria e cauterização. Além disso, é citado o uso de medicamentos “placebos”, pois eles tinham conhecimento que não melhorava a condição do paciente.
2.2. Contexto Histórico – Medicina no Oriente
Com características próprias e bem diferenciadas, a medicina árabe exerceu papel importante no estudo e na educação da cultura médica mulçumana, desenvolvendo universidades filiadas que educavam a próxima geração de médicos, contribuindo diretamente para o avanço nas pesquisas e prognósticos de diversas doenças, como a varíola e o sarampo.
Ao retratar o mundo árabe, o filme dá destaque ao mestre Ibn Sina, médico islâmico que deixou grandes contribuições para a história da medicina, sendo a de maior destaque a escrita do livro “Cânone da Medicina”, que contém alguns dos pensamentos mais esclarecedores, incluindo a distinção entre a mediastinite e a pleurisia, o reconhecimento da natureza contagiosa da tuberculose, a expansão das enfermidades pela água e pela terra, descrições minuciosas de problemas dermatológicos, as doenças sexualmente transmissíveis e as perversões, doenças do sistema nervoso.
Constantemente, o personagem de Ibn Sina mostra-se diferenciado na profissão, pois cita o “progresso científico” em alguns momentos do filme e mostra o lado humanizado do seu trabalho, como quando fala para seu aprendiz “Não tratamos doenças, tratamos as pessoas que sofrem com elas”.
No filme, a universidade é retratada como um centro de ensino, espaço de aprendizagem e experimentação, com uma grande diversidade de livros sobre procedimentos e tratamentos. Há cenas do filme em que é feita a anamnese do paciente e discutido o seu diagnóstico em grupo.
É retratado também os hospitais, onde os próprios estudantes obtinham conhecimento prático. Os diagnósticos se davam pela análise comportamental, observação das secreções corporais (urina, escarro, fezes). Os hospitais permitiam que os mais pobres se beneficiassem do conhecimento médico.
2.3. A Peste Negra 
A pandemia mais devastadora da história da humanidade, a peste negra fez milhões de vítimas no continente asiático e europeu. Como ainda não havia um desenvolvimento satisfatório da ciência médica nesta época, não se sabia as causas da peste e tampouco os meios de tratá-la ou de sanear as cidades e vilas. Os sintomas eram: afecções na pele, isto é, a doença provocava manchas negras, seguidas de inchaços em regiões de grande concentração de gânglios do sistema linfático, como a virilha e as axilas.
A forma de propagação era por meio dos ratos, que encontravam na sujeira das cidades, ambiente favorável para a sua reprodução.
No filme, o protagonista e o seu mestre se veem em meio à crise da doença e, mesmo sabendo que haveria muitas perdas, administrara, o hospital e não hesitam em ter contato com os pacientes. Após observação, Cole sabiamente descobre o vetor da doença são as pulgas dos ratos e, a partir daí, guia seus colegas na desinfecção da cidade, fazendo com que a taxa de mortos caia constantemente 
2.4. Estudo da anatomia
Na Idade Média, os médicos sabiam pouco sobre o corpo humano e isso acontecia porque a religião definia como proibido fazer dissecações, visto que o corpo deveria ser enterrado inviolado. ”Profanar o corpo de um homem e cometer o pecado da necromancia”. Todo o conhecimento que eles possuíam sobre a parte interna do corpo era com base no estudo anatômico de animais e fazia-se uma especulação sobre o corpo humano.
Uma das passagens mais emblemáticas do filme é quando Rob faz a dissecação, consentida em vida, de um cadáver, porém infringe as leis. Ele faz anotações pertinentes sobre o funcionamento do corpo humano e que posteriormente, serviria para ajudar na cirurgia da doença do lado, que hoje é conhecida como apendicite.
Logo, é possível observar que por vezes, costumes culturais podem interferir no progresso da ciência ao barrar por exemplo, o desenvolvimento da anatomia e de novas técnicas que promoveriam saúde.
3.0. Conclusão
Com pouco tempo de instrução, o jovem presencia um surto da peste negra em sua cidade e, devido ao pouco conhecimento sobre a doença e a grande taxa decontágio, ocorrem muitas mortes. Nesse contexto, ao desabafar com seu professor por não conseguir salvar a todos, nos deparamos com um ensinamento que acredito ser de extrema importância: “Um sucesso dentro de muitos fracassos. Bem, é um fardo que todo médico tem que aprender a suportar” 
Na nossa profissão, é necessário entender a fala do personagem. Apesar de ter a certeza de que foi feito tudo que estava em seu alcance, nem sempre será possível salvar a vida do paciente. Por isso, deve haver um preparo psicológico para assimilar essa informação e para lembrar de todas as vezes que logrou êxito.
Uma passagem do filme que também me chamou bastante atenção e que julgo de muita relevância, ocorre quando Cole estuda, com consentimento, o corpo do paciente que acabara de morrer. Ao dissecá-lo, o personagem principal consegue ter uma noção maior do funcionamento do corpo humano e, posteriormente, com conhecimento adquirido através dos seus estudos, consegue realizar uma cirurgia de apendicite. Por conseguinte, presenciamos o quão necessário e imprescindível o cadáver é para o estudo da anatomia humana, sendo esse, um dos motivos pelo qual deve ser tratado com respeito. 
Em suma, o filme, para mim, reitera a ideia que me vem imediatamente à cabeça quando se trata de profissões da área da saúde e, em especial, a medicina: vocação. 
Apesar de todos os entraves, desde a dificuldade em chegar na escola médica, até os impasses religiosos, Cole persistiu por acreditar na sua vocação e permaneceu fiel ao desejo de salvar vidas. Em momento algum, se envaideceu pela sabedoria ou deixou de tratar seus pacientes.
Dentre suas qualidades como estudante de medicina e necessárias para ser um bom profissional, destaco a perseverança, a dedicação, o altruísmo e a curiosidade.
Em suma, compartilho, em pensamento, da mesma mensagem transmitida pelo protagonista. Acredito que deve haver prazer em cuidar da saúde do próximo e da promoção da sua qualidade de vida. Deve-se olhar o paciente com uma visão humanística, zelosa e empática. 
TEMA 2: QUASE DEUSES
1.0. Introdução
 	O filme Something the Lord made, ou quase Quase Deuses na versão em português, narra a história real de Vivien Thomas (1910-1985), um jovem carpinteiro e afro-americano, residente na cidade de Nashville nos Estados Unidos. Além deste, o outro protagonista do filme é o Dr. Alfred Blalock (1899 – 1964), um médico renomado e especialista em realizar cirurgias. A obra cinematográfica retrata a vida de duas pessoas completamente diferentes, tanto em níveis de classe social, quanto escolaridade, poder aquisitivo e também na cor da pele. Essas duas histórias se cruzam e dão origem à um longa-metragem bem conduzido pelo diretor Joseph Sargent.
 	O foco da obra é a narrativa da segregação racial e a superação de vida do jovem Vivien. Nos Estados Unidos, local onde ocorre a dramaturgia, em meados da década de 1930, os negros eram discriminados, separados como raça inferior, tratados como escória, e vivam em uma liberdade escravizada, ou seja, eram marginalizados em todos os aspectos da vida em sociedade, apesar de serem livres de acordo com a constituição americana. Essa situação era experimentada não apenas dentro de instituições privadas, mas também em locais públicos, por exemplo, os negros não podiam frequentar ambientes destinados à elite branca.
 	Outrossim, um outro contexto presente na vida do personagem Vivien foi a mais grave crise econômica mundial do século 20, a Grande Depressão. Nesse período, o protagonista é demitido de seu emprego, pois a empresa que o contratou estava dando preferência para quem tinha uma família para sustentar, o que não se aplicava na vida do jovem. Além disso, o jovem perde todas as economias que juntou por um período de 7 anos. Após esses acontecimentos, Viven consegue uma vaga de trabalho no Laboratório de Cirurgias Experimentais Vanderbilt para ser zelador.
 	Ademais, quando personagem começa a trabalhar no laboratório, o Dr. Alfred enxerga no jovem negro uma pessoa de grande talento e de fácil aprendizagem, e não apenas um trabalhador comum. Além disso, após anos trabalhando no hospital Johns Hopkins, o médico Alfred é chamado para ser o chefe do departamento de cirurgias e isso dá ao mesmo uma maior liberdade para escolher com quem trabalharia. O cirurgião logo assume a missão de pesquisar uma solução para uma doença conhecida como o caso do bebê azul, manifestada por um problema cardíaco que até então não se sabia como solucionar.
 	No decorrer do filme é notório o preconceito que Vivien sofre apenas por ser negro e trabalhar em um laboratório do hospital, além disso muitas pessoas o viam com maus olhos pois o mesmo não era formado em medicina. Todavia, o médico sabendo das habilidades e capacidades do rapaz, faz com o que o mesmo permaneça trabalhando para ele no laboratório, ajudando-o em toda a pesquisa para solucionar o problema cardíaco que atingia milhares de pessoas. Juntos, eles conseguiram desenvolver a cirurgia de Blalock-Taussing que foi um marco na história da medicina. Assim, a vida de Vivien é repleta de superação de obstáculos e o filme é emocionante porque retrata a persistência e é capaz de levar esperança para aqueles que pensam em desistir em meio às dificuldades da vida.
2.0. Desenvolvimento
2.1. Contexto histórico – A Grande Depressão
 	O filme ocorre em um contexto histórico marcado pela Grande Depressão, também conhecida como Crise de 1929, uma grande crise econômica que persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. Esse momento histórico é considerado o pior e o mais longo período de recessão econômica do sistema capitalista do século XX. Entre as consequências estiveram presentes as altas taxas de desemprego, quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, bem como reduções absurdas na produção industrial, nos preços das ações, e em praticamente todo o medidor de atividade econômica mundial.
 	Para compreender melhor a razão do protagonista ter perdido sete anos do seu salário, com longas horas e jornadas de trabalho investidos na poupança no banco, é necessária a compreensão de anos antes da crise. Para começar, com o fim da Primeira Guerra Mundial, os países europeus encontravam-se devastados, com a economia enfraquecida e com forte retração de consumo, que abalou a economia mundial. Os Estados Unidos por sua vez, lucraram com a exportação de alimentos e produtos industrializados aos países aliados no período entreguerras.
 	Como resultado dessas atitudes, entre 1918 e 1928 a produção norte-americana cresceu de forma estupenda. A prosperidade econômica gerou o chamado "American way of life" (modo de vida americano). Havia emprego, os preços caíam, a agricultura produzia muito e o consumo era incentivado pela expansão do crédito e pelo parcelamento do pagamento de mercadorias. Porém, a economia europeia posteriormente se restabeleceu e passou a importar cada vez menos dos Estados Unidos. Com a retração do consumo na Europa, as indústrias norte-americanas não tinham mais para quem vender, havia mais mercadorias que consumidores, ou seja, a oferta era maior que a demanda, consequentemente os preços caíram, a produção diminuiu e logo o desemprego aumentou. Portanto, a crise de 1929  que fez com que Vivien perdesse seu emprego foi uma crise de superprodução. 
2.2. Contexto histórico – Segregação Racial
 	Outro tópico importante abordado no filme é a questão da segregação racial. Nos Estados Unidos o processo de formação do país se deu de duas formas: na região Sul houve escravidão e na região Norte ocorreu o trabalho livre e assalariado. No Sul prevaleceu o modelo da grande propriedade de terras e da monocultura, nesse modelo assentou-se o uso do trabalho escravo, mais precisamente de escravos negros do continente africano. Sendo assim, durante o período em que predominou a escravidão no Sul dos EUA, os negros escravos eram, assim como no Brasil e em outras partes do mundo à época, considerados mercadoria de seus donos e não indivíduos portadoresde direitos.
 	Nos anos finais da década de 1860, após a libertação dos escravos, apareceram as primeiras tentativas de implementação das políticas segregacionistas, pois para muitos cidadãos brancos sulistas era inaceitável que os negros, recém-libertos, tivessem os mesmos direitos e ocupassem os mesmos espaços que eles. Esse contexto histórico fica claramente evidente no filme devido ao preconceito que o jovem negro sofreu por sua cor da pele ao trabalhar no laboratório do hospital. O lema que vigorava nessa época era “Separados, mas iguais”, estabelecendo afastamento entre negros e brancos nos trens, estações ferroviárias, hotéis, restaurantes, teatros, entre outros. Assim, ao ver Vivien em seu local de trabalho, muitas pessoas duvidam de suas habilidades e capacidades, discriminando-o sem nem ao menos conhecê-lo e utilizando a cor da pele como parâmetro para exclusão.
 	A luta por condições iguais do trabalhador perpassa de forma explicita o enredo do filme, a exemplo dos professores negros que queriam ganhar igual aos brancos, bem como o protagonista Vivien que recebia seu salário inferior à sua função técnica. No filme há evidências de que as afinidades entre as pessoas são determinadas pelas suas condições de vida, classe e etnia. Como expõe o irmão do protagonista, “só os pobres têm uns aos outros” fazendo alusão que mesmo perdendo todas as suas economias, devido à Grande Depressão, o que lhe restava era a família, amigos e os seus valores adquiridos ao longo da vida.
2.3. Síndrome do Bebê Azul
 	A doença que gerou o desfecho final do filme foi a tetralogia de Fallot, uma cardiopatia congênita cianótica. Em uma época cheia de preconceitos e dificuldades, o processo da pesquisa e da cirurgia cardíaca foi um marco na medicina moderna. Isso porque o coração, naquela época, era considerado intocável e inoperável. A patologia consiste de quatro anormalidades anatômicas, por isso a denominação “tetralogia”, enquanto que “Fallot” é uma referência ao médico francês Arthur Fallot (1850-1911) que descreveu os detalhes desses defeitos que são responsáveis pela síndrome do bebê azul. 
 	Além disso, a patologia também conhecida como Bebê Azul, deve-se ao fato do pigmento respiratório dos mamíferos, a hemoglobina - protéina transportadora de gases- estar na forma reduzida, ou seja, não estar ligado ao oxigênio molecular, mas sim à água, formando a desoxiemoglobina, que possui a cor azul. A história natural da Tetralogia de Fallot varia de acordo com a severidade da obstrução da via de saída do ventrículo direito, mas 25% das crianças com esta cardiopatia morrem antes do primeiro ano de vida se não tratadas. A taxa de mortalidade em pacientes não tratados chega a 50% aos 6 anos, mas, na atual era da cirurgia cardíaca, crianças com formas mais simples dessa condição gozam de boa sobrevida em longo prazo, com excelente qualidade de vida. 
 	O filme relata que a maioria da comunidade acadêmica do Hospital John Hopkins não concordou com a ideia de uma cirurgia cardíaca do Dr. Blalock quando este marcou uma data para a operação em um bebê. Seria a primeira cirurgia cardíaca da história, e muitos a classificaram como uma heresia científica. No momento da operação, o médico não se sentia seguro para dar prosseguimento sem o auxílio de seu parceiro, mas Vivien Thomas não estava na sala de cirurgia por questões raciais. Logo, o médico sabendo que por anos Vivien havia estudado sobre a doença e possuía conhecimento e habilidade suficiente para auxiliá-lo, o dr. Blalock apenas deu início aos procedimentos quando seu braço direito estava ao seu lado, orientando-o. 
 	A cirurgia foi um sucesso e rapidamente o Dr. Alfred Blalock ganhou reconhecimento acadêmico mundialmente, mas este reconhecimento não foi estendido ao seu companheiro, Vivien. Apesar da participação do jovem protagonista ter sido fundamental na descoberta de um meio para realizar o procedimento cirúrgico quanto na técnica aplicada na sala de cirurgia. Essa situação fica evidente no filme quando jornais vão entrevistar o médico e não se importam com os relatos do jovem por ele ser negro e não diplomado. Essa situação reforçou os estereótipos da segregação racial tão vigente à época nos Estados Unidos.
3.0. Conclusão
 	Diante do exposto acima fica notória a trajetória de superação do jovem negro em um ambiente inóspito nos Estados Unidos. O jovem Vivien Thomas que guardou suas economias por anos, repentinamente se vê sem dinheiro algum e logo após esse momento o mesmo é dispensado do seu emprego devido à Grande Depressão. Todavia esses fatores não paralisaram Thomas, pois ele conseguiu um emprego no laboratório do hospital e lá fez o necessário para desenvolver suas habilidades por meio da leitura de livros da medicina e da criação de instrumentos e novas técnicas cirúrgicas. Ou seja, os fatores sociais e econômicos não foram capazes de impedí-lo de ajudar a salvar a vida de milhares de pessoas com uma patologia cardíaca congênita.
 	Como o filme foi baseado em fatos reais, sabe-se que após a morte do Dr. Blalock, em 1964, Thomas permaneceu Hospital por mais 15 anos trabalhando no Laboratório. Todavia somente em 1976, o personagem principal foi condecorado com um título de Doutor Honorário, mas devido a restrições, ele recebeu um título de Doutor em Direito e não em Medicina. Além disso, Thomas também foi nomeado para o corpo docente da Johns Hopkins Medical School como Instrutor de Cirurgia.
 	No epílogo, quando o sonho de Vivien se torna realidade, recebendo o título de Doutor Honoris Causa, também se realiza o “eu tenho um sonho” de Martin Luther King, ativista contra o preconceito e a segregação racial. De maneira análoga ao que aconteceu no filme, sabe-se ainda persiste no mundo o preconceito e a discriminação racial, todavia essa barreira deve ser vencida todos os dias por todos os membros da sociedade, entendendo que as relações políticas, econômicas, culturais, sociais, religiosas e principalmente no campo científico não podem servir jamais para inferiorizar e discriminar um grupo ou um indivíduo, seja por aspectos raciais, de crença ou valores.
 	Por fim, sabe-se que o Dr. Vivien Thomas, nunca cursou o curso de medicina, mas com sua determinação, mudou o rumo das pesquisas em torno no coração e chefiou e ensinou diversos médicos nos processos das cirurgias cardíacas. Hodiernamente nos Estados Unidos são realizadas em média 1.750.000 cirurgias cardíacas por ano graças ao que esses dois homens fizeram em vida. Assim, Vivien Thomas é um homem que merece o reconhecimento de ter superado obstáculos como preconceito, a falta de dinheiro e deve ser lembrado como alguém que realizou trabalho árduo e diversos estudos e pesquisas por anos com o objetivo exclusivo de salvar vidas e melhorar a qualidade de vida de pessoas com a Tetralogia de Fallot.

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