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1 FISIOLOGIA ANIMAL/GERAL AULA 1 Utilização da técnica de ELISA no diagnóstico da doença de Alzheimer PAULO SANTOS e ANTÓNIO MORENO 2013 DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DE COIMBRA 2 PARTE A INTRODUÇÃO A Doença de Alzheimer A Doença de Alzheimer (DA), descrita em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, é a forma mais frequente de demência nos países industrializados. A evolução da doença é muito lenta e a maior parte dos casos são precedidos de uma fase pré-‐clínica, com a duração de alguns anos, que é caracterizada por perturbações de memória. A incidência da DA aumenta com o avançar da idade, mas pode atingir pessoas mais novas, não sendo, portanto, um problema da velhice. As características clínicas da DA podem variar significativamente de pessoa para pessoa, com um início dissimulado que dificulta o diagnóstico. Porém, como a evolução é crónica e progressiva, é indispensável uma identificação correta e precoce da doença nas primeiras fases, a fim de permitir tratar os doentes e lhes prolongar a autonomia. Os sintomas Os sintomas não são iguais em todas as pessoas e, frequentemente, são influenciados pela personalidade, o estado físico, o grau de cultura e o estilo de vida. Um médico especialista (neurologista, geriatra, psiquiatra) com uma abordagem diagnóstica adequada e aprofundada, pode diagnosticar a doença após uma conversa clínica com o doente ou com os familiares, além de exames neuropsicológicos e instrumentais. As indagações preliminares para o diagnóstico Não existe um teste clínico que, por si só, permita formular um diagnóstico certo da DA. O diagnóstico é efetuado através da recolha de uma série de dados clínicos e laboratoriais que ajudam a excluir outras patologias suscetíveis de causarem os mesmos sintomas. Os exames indispensáveis ao diagnóstico são: • Avaliação neuropsicológica efetuada com o auxílio de baterias de testes padronizados; • TAC ou ressonância magnética (RM); • Exame clínico cuidadoso Outros métodos de diagnóstico têm vindo a ser desenvolvidos, no sentido de possibilitar um diagnóstico precoce da doença. Um desses testes consiste na utilização da técnica de ELISA (enzyme-‐linked immunosorbent assay) para detetar e quantificar a presença da proteína Tau no líquido cefalorraquidiano. Esta proteína é encontrada no interior dos neurónios, onde desempenha um papel na estabilização da rede de microtúbulos. Na DA, esta proteína sofre hiperfosforilação, formando tranças fibrilares no interior das células, um dos marcadores característicos da DA. Normalmente, o nível de Tau no líquido cefalorraquidiano é reduzido, pois 3 esta é uma proteína intracelular. Mas com o desenvolvimento da doença, e a consequente morte neuronal, o nível de Tau sofre um aumento. Um estudo realizado com um número elevado de doentes de Alzheimer mostrou que os níveis são sempre superiores a 200 pg/ml (Jones e Quax, 1998). Assim, a deteção e quantificação desta proteína no líquido cefalorraquidiano promete ser um dos métodos a utilizar no diagnóstico da DA. Fig. 1-‐ Representação esquemática da desagregação dos microtúbulos. E formação das tranças fibrilares no interior dos neurónios.(http://www.pueblo.gsa.gov/cic_text/health/alz-‐cure/alz-‐cure.htm) A técnica de ELISA A técnica de imunodetecção utilizada (ELISA) é uma técnica relativamente simples, que se baseia em quatro passos: A avaliação dos resultados poderá ser feita por visualização direta ou por quantificação através de um leitor de placas ELISA. Os poços que permanecem incolores são considerados negativos, ou seja, não possuem os anticorpos em estudo, enquanto os poços onde se desenvolve a cor azul são considerados positivos. Se pretender quantificar terá de realizar previamente uma curva padrão e analisar a placa com o auxílio de um leitor de placas ELISA. 4 1º-‐ Adição das amostras. As amostras são adicionadas aos poços existentes nas microplacas. As amostras contêm várias proteínas e podem conter, ou não o antigénio em estudo. Após um determinado período de tempo, necessário para que ocorra a ligação dos antigénios aos poços, procede-‐se à lavagem dos poços com detergente, para retirar os antigénios não ligados e também para bloquear ligações não especificas dos anticorpos ao plástico. 2º-‐ Adição do anticorpo primário. Uma solução contendo o anticorpo primário (Ab), desenvolvido contra a proteína em estudo é adicionado aos poços. Se a amostra conter o antigénio, ligará os Ab. Os Ab não ligados são depois removidos por lavagem. 3º-‐ Adição do anticorpo secundário. Uma solução, contendo o anticorpo secundário,que tem ligado uma enzima cromática, é adicionada aos poços e incubada, para permitir a ligação dos anticorpos secundários aos anticorpos primários. Os anticorpos secundários não ligados são depois removidos por lavagem. 4º-‐ Adição do substrato para a enzima. Uma solução contendo o substrato para a enzima, que se encontra ligada ao anticorpo secundário, é adicionada aos poços e incubada durante um curto período de tempo, de modo a permitir o desenvolvimento da cor (1). (1) – Reação colorimétrica descrita em anexo Objetivos v Consolidar conhecimentos relativos à doença de Alzheimer; v Aplicar a técnica de ELISA; v Conhecer as potencialidades e debilidades dos testes de diagnóstico para a doença de Alzheimer. 5 PARTE B PARTE EXPERIMENTAL Este trabalho experimental deverá ser realizado em grupo com 4 elementos. Procedimento 1. Identifique os tubos com a indicação do grupo a que pertence; 2. Marque a tira de 12 poços como indicado na figura seguinte; a. Qual o motivo pelo qual todos os poços estão em triplicado? 3. Coloque 50 µl do controlo positivo nos poços marcados com (+); 4. Coloque 50 µl do controlo negativo nos poços marcados com (-‐); 5. Coloque 50 µl do “LCR” obtido em cada um dos grupos com poços respetivos (G1, G2, G3 ou G4); 6. Espere 5 minutos; a. Qual o objetivo desta incubação? 7. Lave os poços para retirar os antigénios não ligados; 6 a. Vire a tira de poços sobre uma pilha de toalhas de papel e bata suavemente algumas vezes de modo a retirar todo o liquido; b. Encha com cuidado cada poço com o tampão de lavagem, tendo cuidado para não entornar para o poço vizinho; c. Vire a tira de poços sobre uma pilha de toalhas de papel e bata suavemente algumas vezes de modo a retirar todo o liquido; d. Descarte as 2 toalhas do topo da pilha; 8. Repita o ponto anterior; 9. Proceda à ligação do anticorpo primário aos poços, transferindo 50 µl para cada um dos poços; 10. Espere 5 minutos; a. Qual o objetivo desta incubação? 11. Lave todos os poços, repetindo o ponto 7 duas vezes; 7 2x 12. Coloque 50 µl do anticorpo secundário em cada um dos poços; 13. Espere 5 minutos; a. Qual o objetivo desta incubação? 14. Retire os anticorpos secundários não ligados repetindo o ponto 7 três vezes; 3x 15. Coloque 50 µl do substrato enzimático em cada um dos poços; 16. Espere 5 minutos; a. Qual o objetivo desta incubação? 17. Observe e registe os resultados; 8 18. Proceda à leitura no Leitor de placas ELISA ao comprimento de onda de 655nm (opcional). Resultados Assinale, na figura seguinte, quais os poços que apresentaram cor azul e responda às seguintes perguntas. 1. O LCF das amostras analisadas pelo seu grupo continha proteínas Tau? 2. Se o resultado foi positivo, significa que é portador da doença de Alzheimer? 3. Poderá obter um resultado falso positivo? 4. Indique outros testes onde a técnica de ELISA poderá ser utilizada. 9 Bibliografia ELISA Immuno Explorer kit instruction manual. Bio-‐Rad, (2004) Jones, B. e Quax, W. (1998) Alzheimer tau test and detergent cellulose. Made by genetic engineering (No. 9 in a series of articles to promote a better understanding of the use of genetic engineering). Journal of Biotechnology 66, 229–233 10 Anexo Deteção colorimétrica Os anticorpos secundários utilizados na técnica de ELISA estão ligados a enzimas. A deteção dos anticorpos secundários, que se encontram ligados aos anticorpos primários, é efetuada através de uma reação enzima-‐substrato. Nesta aula prática o anticorpo secundário utilizado está ligado a uma peroxidase de rábano (Horseradish peroxidase, HRP). Na presença de peróxido de hidrogénio (H2O2), a HPR cataliza a oxidação do substrato 3,3’,5,5’-‐ tetrametilbenzideno (TMB). A oxidação do TMB pela HRP resulta na formação de um produto azul.
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