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Zoonose e Saúde Pública Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.ª Marianne Rachel Domiciano Dantas Martins Revisão Textual: Maria Cecília Andreo Introdução à Zoonose e Saúde Pública Introdução à Zoonose e Saúde Pública • Apresentar os conceitos sobre Saúde Pública Veterinária e zoonoses, bem como estas são classificadas; • Tratar conceitos de epidemiologia como prevalência, incidência, taxa de mortalidade, leta- lidade, entre outros. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Saúde Pública; • Saúde Pública Veterinária; • Zoonoses; • Conceitos Fundamentais em Epidemiologia. UNIDADE Introdução à Zoonose e Saúde Pública Saúde Pública A preocupação com a saúde individual e da população em geral é tão antiga como a história do homem na Terra. Já na Grécia antiga, a mitologia, que simbolizava o pen- samento humano bem como a moral de seu tempo, expressava não só preocupações com a saúde, mas nos mostrava uma tensão entre os cuidados com a saúde individual e a saúde coletiva. Esculápio (Figura 1), Asclépio em grego, filho de Apolo, foi dotado por seu pai da arte da cura, podendo, inclusive, restituir a vida. Plutão, alarmado com tal poder, conse- guiu que Júpiter eliminasse Esculápio com um raio. Havia vários oráculos de Esculápio, sendo o mais célebre o de Epidauro. Pessoas enfermas procuravam respostas para seu sofrimento dormindo no templo. As serpentes eram consagradas a Esculápio, sendo até hoje utilizadas como símbolo da medicina. Figura 1 – Esculápio, deus mitológico da medicina Fonte: Wikimedia Esculápio teve duas filhas, às quais transmitiu sua arte: • Panaceia, que dominava a arte da medicina curativa, terapêutica, preces e fármacos; • Higeia, seguida por quem concordava que a saúde resulta da harmonia entre o homem e o ambiente. Do equilíbrio entre terra, água, ar e fogo. Daí vêm as palavras higiene e higiênico (epidemiologia e saúde). 8 9 Desde que o homem começa a pensar sobre seus problemas, a saúde sempre apa- rece como questão fundamental. Até os dias de hoje, temos duas maneiras de abordar a questão: • Pela medicina individual, em que o bem-estar do paciente é o fundamental e este é tra- tado dissociado do restante da população e do ambiente – especialidade da Panaceia; • Pela medicina populacional, segundo a qual o bem-estar da população é funda- mental e o coletivo é prioritário em relação ou indivíduo – especialidade de Higeia. A Organização Mundial da Saúde, OMS (World Health Organization, WHO), define a saúde como: “Estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença.” Fonte: https://bit.ly/39YKWNX Esse é um conceito absoluto e deixa bem claro que o fato de o indivíduo não apresen- tar sintomas clínicos de doenças não significa que esteja em um bom estado de saúde. A saúde populacional é caracterizada como um estado médio de saúde de todos os indivíduos de uma população, as medidas preventivas se tornam aquelas de eleição tanto pela amplitude de sua resposta quanto pelo custo reduzido em relação às medidas curativas individuais. Para que uma ação sanitária (ou em saúde) possa ser desenvolvida, todas as causas devem ser identificadas para ser antagonizadas e passa a ser fundamental o conheci- mento da população e do ambiente em que está inserido. A saúde pública centra sua ação a partir da ótica do Estado com os interesses que ele representa nas distintas formas de organização social e política das populações. Na concepção mais tradicional, é a aplicação de conhecimentos (médicos ou não) com o objetivo de organizar sistemas e serviços de saúde, atuar em fatores condicionantes e determinantes do processo saúde-doença controlando a incidência de doenças nas po- pulações por meio de ações de vigilância e intervenções governamentais. Não deve ser confundida com o conceito mais amplo de saúde coletiva. Saúde Pública Veterinária Após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, diplomatas se reuniram para a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), e a constituição da OMS entrou em vigor em 07 de abril de 1948. Dentro da OMS foi proposta a criação de um setor específico denominado Saúde Pública Veterinária, que foi definido pela consulta da OMS sobre “as tendências futuras na saúde pública veterinária”, realizada em Teramo, Itália, em 1999, como “a soma de todas as contribuições para o bem-estar físico, mental e social dos seres humanos através de uma compreensão e aplicação da ciência veterinária”. A saúde humana está intrinsecamente ligada à saúde e à produção animal. Essa liga- ção entre as populações humanas e animais e o ambiente circundante é particularmente 9 UNIDADE Introdução à Zoonose e Saúde Pública estreita em regiões em desenvolvimento em que os animais estão extremamente envol- vidos com transporte, energia, combustível e vestuário, bem como proteínas alimentares (carne, ovos e leite). Tanto nos países em desenvolvimento como nos industrializados, essa intrínseca relação pode levar a riscos graves para a saúde pública, com importantes consequências econômicas (OMS, 2012). Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, 2011), 60% dos patógenos humanos são zoonóticos, 75% das doenças humanas emergentes do último século são de origem animal e 80% dos patógenos possíveis de utilização em bioterrorismo são de origem animal. Muitas doenças têm o potencial de se espalhar por longas distâncias e tornarem-se problemas globais. Doenças animais bem conhecidas, com a prevenção estabelecida e que podem ser transmitidas aos seres humanos, tais como raiva, leishmaniose, brucelo- se e equinococose, continuam a ocorrer em muitos países, em especial nos países em desenvolvimento, onde afetam principalmente o segmento mais pobre da população humana, causando a morte de milhões de pessoas a cada ano. Grande parte das zoonoses impede a produção eficiente de alimentos de origem animal, especialmente das proteínas, tão necessárias à alimentação humana, e criam obstáculos ao comércio internacional de animais e produtos de origem animal, interferindo drasticamen- te na economia de países exportadores de alimentos. A Saúde Pública Veterinária tem como área de atuação: • Vigilância, diagnóstico, epidemiologia, controle, prevenção e eliminação de zoonoses; • Proteção de alimentos, gestão de aspectos de saúde de instalações para animais de laboratório e laboratórios de diagnóstico, pesquisa biomédica, educação em saúde e de extensão, produção e controle de produtos biológicos e dispositivos médicos; • Pode também incluir a gestão de populações de animais domésticos e selvagens, de proteção de água potável e do meio ambiente, e gestão de emergências de Saúde Pública. A Saúde Pública Veterinária é parte essencial da Saúde Pública e inclui vários tipos de cooperação entre as disciplinas que ligam a tríade da saúde: pessoas, animais, meio ambiente e todas as suas interações. Zoonoses A palavra zoonoses (Zoon: animal + nosos: doença), em sua origem, significa “doen- ça animal”, porém, o comitê da OMS traz uma definição muito mais abrangente: abran- gente: “Doenças e infecções em que possa existir relação homem-animal e vice-versa, seja diretamente ou através do meio ambiente, incluindo portadores, reservatórios e vetores” (OMS, 1965). A expressão “naturalmente transmissíveis” exclui as possíveis patologias que poderão ser transmitidas apenas em condições experimentais, em indivíduos submetidos a condi- ções artificiais, tais como imunossupressão ou diferentes formas de estresse. 10 11 Classificação das zoonoses Mais de 200 doenças transmissíveis enquadram-se na definição de zoonoses pro- posta pela OMS e, para facilitar o estudo dessas doenças, algumas classificações foram propostas. Vejamos algumas delas. Classificação segundo o sentido da transmissão Essa classificação leva em consideração o sentido da transmissão, se animal para homem; homem para animal ou as duas vias. Antropozoonose Doenças em que o agente é perpetuado pela transmissãoentre animais, podendo acometer seres humanos. São exemplos de antropozoonose a raiva – doença que circu- la entre os animais silvestres, incluindo o morcego, e, eventualmente, chega à espécie humana –, a leishmaniose e a leptospirose. Zooantroponose Doenças em que o agente é perpetuado pela transmissão entre os seres humanos, podendo acometer eventualmente animais. Um exemplo de zooantroponose é quando a tuberculose humana por Mycobacterium tuberculosis atinge os bovinos. É um fato relativamente raro que ocorre quando um tratador doente tem contato constante com os animais. Anfixenose São doenças em que o agente é mantido pela população humana e animal indistinta- mente. Temos como exemplos algumas estafilococoses e estreptococoses, por meio das quais os agentes circulam entre humanos e animais. Classificação segundo os ciclos de manutenção do agente etiológico Essa classificação leva em conta o ciclo do agente, se faz ciclo em uma única espécie, se necessita de mais de uma espécie, se há necessidade de um invertebrado ou se faz parte do ciclo no solo. Zoonoses diretas São classificadas como zoonoses diretas aquelas em que o agente pode persistir com passagens sucessivas em uma única espécie de animal vertebrado. O agente não se altera ao passar de um hospedeiro para outro. É a transmissão de um hospedeiro ver- tebrado infectado a um hospedeiro vertebrado susceptível. Exemplos são leptospirose, raiva, brucelose e ebola. Ciclozoonoses Nas ciclozoonoses o agente necessita obrigatoriamente passar por duas espécies dis- tintas de animais vertebrados para que o seu ciclo se complete, ou seja, participação de mais de uma espécie de hospedeiro vertebrado na cadeia de transmissão. 11 Admin Destacar Admin Destacar Admin Destacar Admin Destacar Admin Destacar Admin Destacar Admin Destacar UNIDADE Introdução à Zoonose e Saúde Pública As ciclozoonoses são divididas em: • Euzoonoses: ciclozoonose em que o homem é um dos hospedeiros obrigatórios do agente. Tem a participação de um vertebrado e o ser humano na cadeia de trans- missão, como no complexo teníase-cisticercose; • Parazoonoses: ciclozoonose em que o homem é um hospedeiro acidental. A au- sência do ser humano não impede o fechamento do ciclo. Um exemplo é o com- plexo equinococose-hidatidose. Metazoonoses Nas metazoonoses o agente necessita passar por hospedeiro invertebrado para que o seu ciclo se complete. O hospedeiro invertebrado é essencial para o ciclo biológico do agente. São exemplos de metazoonoses a febre maculosa, que faz parte do ciclo no carrapato do gênero Amblyoma; a encefalite equina americana, que necessita de mos- quitos; doença de Chagas, em que o Trypanosoma necessita do barbeiro; leishmaniose, em que o protozoário Leishmania necessita do mosquito palha (Lutzomyia sp). Saprozoonose Classifica-se como saprozoonose quando o agente necessita passar por transforma- ções que ocorrem no ambiente externo em ausência de parasitismo. É necessário um hospedeiro vertebrado e um elemento não pertencente ao reino animal (solo, matéria orgânica, água), como na toxoplasmose, em que o protozoário matura seu oocisto, e a toxocaríase, em que o ovo do Toxocara se torna embrionado no solo. Conceitos Fundamentais em Epidemiologia Vamos discutir alguns conceitos importantes para garantir um bom entendimento das zoonoses estudadas neste curso. Como já vimos, segundo a OMS, saúde pode ser con- ceituada como: “Estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença.”. Esse conceito proposto pela OMS é absoluto, porém, Leser (1985) atribuiu graus de saúde em sua classificação: • O indivíduo sente-se doente; • Não sente doente, mas a doença pode ser detectada por métodos diagnósticos; • A doença não pode ser detectada; • Não há configuração de agravo à saúde. Além de entender e classificar a saúde de um indivíduo, convém, em saúde pública, entender o conceito de Saúde Populacional, que pode ser definida como: O valor médio da saúde resultante de um grupamento de indivíduos. 12 Admin Destacar Admin Destacar Admin Destacar Admin Destacar Admin Destacar 13 Vejam que, quando trabalhamos com população, é a saúde do grupo como um todo que importa, e não a saúde de cada indivíduo em particular. Vejam que, em um grupo muito grande, sempre haverá indivíduos com a saúde alterada, porém, se em termos médios a saúde for adequada, considera-se satisfatório. Prevenção Para que uma ação sanitária possa ser desenvolvida, todas as causas devem ser iden- tificadas para ser antagonizadas. As ações que visam antagonizar as possíveis causas de doença constituem a prevenção. Epidemiologia Entendendo a etimologia da palavra, temos: • Epi: sobre; • Demos: população; • Logos: estudo. A epidemiologia estuda os efeitos da doença e considera sua distribuição no espaço, no tempo e na população, ao mesmo tempo que busca os principais eventos capazes de explicar ou influenciar sua ocorrência. História natural da doença A história natural das doenças (Figura 2) abrange o conhecimento da evolução da doença num indivíduo, na ausência de tratamento, num período suficiente para que se chegue a um desfecho (cura ou óbito). O tempo de evolução e as manifestações variam em cada indivíduo. As característi- cas gerais são bem conhecidas e permitem a aplicação de medidas de intervenção (de prevenção ou terapêuticas) para alterar o curso pela cura, pela diminuição da incapaci- dade ou pelo prolongamento da vida. Ex po siç ão Ho riz on te cl ín ico Alterações Patológicas Fase susceptível Fase doença Subclínica Fase Doença com Manifestações Clínicas Fase Recuperação Incapacidade ou Importe Momento mais Frequente de Diagnóstico Figura 2 – Esquematização da história natural da doença 13 UNIDADE Introdução à Zoonose e Saúde Pública A fase susceptível é representada no momento em que o indivíduo se encontra hígido, porém, susceptível ao agente etiológico. Segue o momento da exposição, em que o agente etiológico entra em contato com o indivíduo, iniciando uma sequência de fatos que vai resultar na expulsão desse agente ou na sua instalação e posterior início da doença. O desenvolvimento do agente vai provocar alterações no organismo que futuramente vão justificar seus sintomas. Na fase inicial, ainda assintomática, alterações patológicas podem ser detectadas por técnicas diagnósticas, essa fase é denominada fase da doença subclínica. O aparecimento dos primeiros sintomas caracteriza a fase com manifestações clínicas, em que normalmente surgem as reclamações que levam o indivíduo a procurar auxílio e na qual normalmente ocorre o diagnóstico. O final do processo acontece com a recuperação espontânea, a incapacidade permanente do paciente ou seu óbito. Chamamos de período de incubação o intervalo entre a exposição efetiva do hospe- deiro suscetível a um agente biológico e o início dos sinais e sintomas clínicos da doença nesse hospedeiro e de horizonte clínico o período que se inicia com os sintomas. A tran- sição entre a fase subclínica e clínica é quando ocorre o diagnóstico. Cadeia epidemiológica A cadeia epidemiológica (Figura 3) é constituída de todos os elementos envolvidos na transmissão do agente etiológico de um hospedeiro a outro. São os elos da cadeia epide- miológica: • FI: fonte de infecção; • VE: vias de eliminação; • VT: vias de transporte; • PE: porta de entrada; • S: susceptível. FI VE VT PE S Figura 3 – Representação esquemática da cadeia epidemiológica Fonte de infecção Fonte de infecção é um hospedeiro vertebrado que alberga o agente causador da doença com potencial de o eliminar. A fonte de infecção pode ser classificada como: • Doente: aquele que padece com o agente etiológico, apresentando sintomas da doença; • Reservatório: hospedeiro responsável pela manutenção do agente etiológico em determinado ambiente; • Portador: hospedeiro que não está apresentando sintomas da doença, podendo ser convalescente,quando já esteve doente; em incubação, aquele que ainda não está doente; e o permanente, aquele que não apresentou nem vai apresentar a doença. 14 15 Vias de eliminação Via de eliminação é o trajeto pelo qual o agente, a partir da fonte de infecção, atinge o meio ambiente. São exemplos de vias de eliminação: • Trato respiratório: secreções; • Trato digestório: fezes; • Vias urinárias: urina; • Sangue; • Descamação da pele. Vias de transmissão Via de transmissão é o método de transferência do agente etiológico de uma fonte de infecção para um novo hospedeiro suscetível. A transmissão pode ocorrer de forma direta ou indireta. • Transmissão direta (contágio): transferência rápida do agente etiológico, sem a interferência de qualquer veículo. Normalmente, ocorre por contato ou proximida- de entre os indivíduos; • Transmissão indireta: transferência do agente etiológico por meio de veículos animados ou inanimados. Como veículos inanimados, temos vários utensílios utili- zados no dia a dia, como instrumentos e aparatos utilizados nos sistemas de saúde. Enquanto veículos animados, temos os vetores, que são artrópodes que transpor- tam o agente etiológico e muitas vezes são fundamentais no ciclo desses agentes. Vias de penetração Consideramos uma via de penetração o trajeto pelo qual o agente se introduz no novo hospedeiro. A via de penetração oferece acesso a tecidos nos quais o agente pode multiplicar-se ou ao local onde a toxina, por ele produzida, pode agir. Frequentemente, as vias de eliminação e de penetração são coincidentes. As vias mais importantes de penetração são: • Trato respiratório; • Trato digestivo; • Trato urinário; • Pele e mucosas. Medidas de ocorrência de uma doença na população Para entender a dinâmica de uma determinada doença em uma população, é neces- sário quantificar sua ocorrência, para que possamos entender, prever e tomar medidas que possam interferir nesse processo de disseminação. Seguem algumas das medidas mais utilizadas no estudo das doenças. • Incidência: A incidência reflete o número de casos novos de uma doença, ou evento adverso à saúde, ocorridos durante um período especificado em uma população sob risco de desenvolver a doença ou evento de interesse; 15 UNIDADE Introdução à Zoonose e Saúde Pública • Prevalência: A prevalência é dada pelo número de indivíduos afetados por deter- minada doença em uma população em determinado ponto no tempo, dividido pelo número de indivíduos dessa população no mesmo intervalo de tempo. Enquanto a incidência se refere a casos novos, a prevalência nos informa o total de casos; • Taxa de mortalidade: Todo tipo de taxa nos revela uma ideia de velocidade e trata- -se de medida utilizada para previsão. A taxa de mortalidade se refere ao número de óbitos em uma população definida, por todas as causas ou por uma determinada causa, dividido pelo tamanho da população em um tempo definido; • Taxa de morbidade: A taxa de morbidade expressa a frequência da doença na população. Temos, então, a ideia do risco de ficar doente. É dada pelo número de doentes por uma causa em um determinado período dividido pelo tamanho da população em um tempo definido; • Letalidade: A letalidade mede a probabilidade de um indivíduo, atingido por uma doença, morrer em razão dessa mesma doença; expressa o prognóstico e o grau de gravidade de determinada doença. É dada pelo total de óbitos por determinada cau- sa pelo total de doentes por essa causa em dada população em um tempo definido. Formas de ocorrência da doença na população As doenças podem ocorrer nas populações seguindo padrões preestabelecidos. São estes: • Ocorrência endêmica: as doenças têm presença constante na população, sendo que a incidência é conhecida e previsível; • Epidemia: dizemos que a doença está em estado epidêmico quando a incidência está acima do nível endêmico, ou seja, foi superior àquilo que era esperado para aquela população naquele período; • Pandemia: quando temos uma epidemia disseminada que compromete grande parte da população, em que muitos países podem ser afetados, caracterizando uma pandemia; • Ocorrência esporádica: são aquelas que ocorrem irregularmente e ao acaso, não existe nível de ocorrência esperado ou previsível. São necessárias circunstâncias locais para serem desencadeadas. Prevenção das doenças transmissíveis e ações profiláticas As medidas preventivas são constituídas de um conjunto de procedimentos que visam proteger e melhorar a saúde de uma população e, portanto, sua qualidade de vida, seja impedindo a entrada da doença em áreas geográficas ainda livres, seja protegendo as populações de regiões onde a doença já ocorre. Níveis de prevenção A prevenção das doenças pode ocorrer em três níveis: primário, secundário e terciário. O nível primário ocorre no período pré-patogênico e é caracterizado pela promoção da saúde. Visa impedir ou evitar a introdução do agente no ecossistema e a instalação no indivíduo do processo doença. As ações indicadas para o período pré-patogênico do processo doença estão relacionadas: 16 Admin Máquina de escrever pré ptogenico , patogenico, patogenico tardio 17 • À estrutura: caracterizada pela adequação do ambiente, da habitação, da alimentação, do lazer e de convívio social ou da densidade populacional; • À educação: ações que levam à comunidade os conhecimentos essenciais relativos às ações de saúde; • Ao saneamento: ações dirigidas diretamente aos componentes ambientais, eliminando riscos à saúde da população. • À proteção específica: utilização de imunógenos com o objetivo de aumentar a proteção específica da população. O nível secundário de prevenção ocorre no período patogênico, atuando no doente com o objetivo de impedir a progressão e a disseminação da doença. Suas ações estão relacionadas à identificação das fontes de infecção, por meio de diagnóstico adequado. Uma medida adequada nessa fase é o isolamento das fontes de infecção. O nível terciário de prevenção atua no período patogênico tardio e sua função é a reabilitação do paciente. Intensidade da ação preventiva Dependendo da intensidade das ações implementadas, conseguimos atingir diferen- tes objetivos. Podemos dizer que em um programa de prevenção de uma determinada doença é possível ter como objetivo controlar ou erradicar a doença. • Controle: Conjunto de medidas ou ações empregadas com o objetivo de reduzir a frequência da ocorrência de uma doença já presente na população, até que ela se detenha em níveis compatíveis com a realidade existente; • Erradicação: Conjunto de ações dirigidas com os fins específicos de eliminar uma doença de um determinado território. Trata-se de um procedimento radical e inten- sivo, cujo sucesso depende de integração ampla envolvendo diferentes segmentos profissionais e múltiplas medidas sanitárias. A erradicação seria o nível mais eleva- do das ações de prevenção aplicadas a uma doença. Em Síntese As zoonoses são doenças transmissíveis ao homem, com a participação dos animais em diversos níveis. O controle é uma tarefa multidisciplinar com a participação de vários profissionais da saúde, incluindo o Médico Veterinário. A saúde pública se preocupa com o controle das zoonoses, uma vez que acarretam epidemias, prejuízos econômicos deri- vados do alto custo dos tratamentos e do impedimento da comercialização de animais e seus produtos. O entendimento das zoonoses é fundamental para todas as áreas de atuação do médico veterinário, como a clínica de animais de companhia e produção, a criação de animais de interesse econômico, a produção de alimentos de origem animal bem como a atuação em saúde pública juntamente com as autoridades governamentais. 17 UNIDADE Introdução à Zoonose e Saúde Pública Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Organização Pan-Americana de Saúde (OPOS) Para informações atualizadas sobre zoonoses no Brasil e na América Latina, reco- mendo o siteda Organização Pan-Americana de Saúde (OPOS). https://bit.ly/3uFlV22 Centro de Controle de Zoonoses-SP Para informações aplicadas sobre zoonoses na cidade de São Paulo, recomendo o site do Centro de Controle de Zoonoses-SP. https://bit.ly/3fWhxYp Livros Fundamentos de Epidemiologia FRANCO, L. J.; PASSOS, A. D. C. Fundamentos de epidemiologia. 2. ed. Barueri: Manole, 2001. Leitura Vigilância em Saúde – Zoonoses Para entender a abordagem de Saúde Pública em relação às zoonoses do Ministério da Saúde, segue caderno de atenção básica – zoonoses do Ministério da Saúde. https://bit.ly/31WrDAy 18 19 Referências LESER, W. S.; BARBOSA, V.; BARUZZI, R. G.; RIBEIRO, M. D. B.; FRANCO, L. J. Elementos de epidemiologia geral. São Paulo: Atheneu, 1985. ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. WALDMAN, E. A.; ROSA, T. E. C. Vigilância em saúde pública. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP, 1998. v. 3000. 225 p. Site visitado WORLD HEALTH ORGANIZATION. Disponível em: <http://www.who.int/zoono- ses/vph/en/>. Acesso em: 05/04/2021. 19