Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
© Hugo Luiz de Souza, 2016. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio sem a autorização prévia e por escrito do autor. A violação dos Direitos Autorais (Lei n.º 9610/98) é crime estalecido pelo artigo 184 do Código Penal. DIREÇÃO EDITORIAL Regina Gregório DIAGRAMAÇÃO Priscilla Carvalho CAPA Ocelio Targino REVISÃO Telma César Lemos FOTOGRAFIAS DE CASTANHAL Acervo de Amílcar Carneiro, e do autor Hugo Luiz de Souza Souza, Hugo Luiz de. Castanhal e suas Raízes - Evolução de uma Cidade / Hugo Luiz de Souza São Paulo: Editora Gregory, 2015. 120 p. ISBN: 978-85-8381-105-3 1. História. 2. Castanhal. 3. Evolução. I. Título Editora Gregory - 2012. Avenida: Alberto Ramos, 149 – Jd. Independência. 03222-000 – São Paulo/SP Telefone: (11) 4508-2048 www.editoragregory.com.br / www.livrariagregory.com.br Apresentação Caro leitor, Através deste livro, uma mistura de ficção e realidade, vamos saber de alguns fatos pitorescos e inusitados que aconteceram no decorrer da história de Castanhal, do seu início da colonização, até o ano de 1972. Vamos conhecer algumas figuras cômicas, como: Severino do Buraco e Caroço, o comedor de vidro, giletes e pregos. Vamos conhecer alguns dos primeiros comerciantes, políticos e outros que escreveram seus nomes na história de Castanhal, até aquela data. Vamos buscar entender o que essas pessoas signifi- caram para o crescimento da outrora “Vila de Castanhal”, hoje uma grande Cidade. Vamos buscar conhecer algumas histórias dramá- ticas e cômicas de moradores que aqui constituíram famílias, se divertiram, trabalharam, e enriqueceram nosso passado e ajudaram no desenvolvimento de nossa Cidade. Pessoas que deixaram suas marcas e suas histórias. Vamos também conhecer histórias de pessoas que irão nos confirmar a veracidade dos fatos, por exemplo, uma história cari- nhosa e apaixonante, um momento de puro amor, a protagonista desta bela história de amor é uma amiga e confiou-me para ser revelado neste livro um pouco de seu passado. Seu nome está nas páginas seguinte em: Uma Bela História de Amor. Também são protagonistas deste livro os Srs. José Lopes Guimarães, Antônio de Oliveira Pereira (Rubal), Leocádio Alves do Prado, Adalberto de Moraes e Maria de Castro Batista (Pauzinho), que aqui narram suas histórias. Dedicatória Com uma menção especial, dedico este livro ao pioneirís- simo Coronel Antônio de Souza Leal, e a todos os desbravadores Nordestinos, primeiros a chegarem aqui, aos seus descendentes que também ajudaram a cultivar a terra a que deram o nome de Castanhal. Talvez seja uma dedicatória tardia, mas honrosa, àqueles migrantes que fugiram da violenta seca Nordestina, partindo em busca do sustento de suas famílias, encontram neste, outrora, torrão de mata verde a céu aberto, razão para viverem, fixaram seus sonhos, nomes e juntos construíram suas histórias numa outra história. Esta história: Castanhal e Suas Raízes. Maria Fumaça e Estação Ferroviária de Castanhal ao fundo Agradecimentos especiais Adalberto de Moraes Aldo Ferreira do Vale Amílcar Queiroz Carneiro Antônio de Oliveira Pereira (Rubal) Antônio Carneiro Filho Antônio Salustiano Barbosa Antônio Teixeira da Costa (Preto) Carlos Araújo Genésio Martins da Silva Gildo Soares da Costa José Lopes Guimarães José Francisco de Souza (Tio Zeca) José Sampaio da Silva Melo (Zé Dantas) Leocádio Alves do Prado Maria de Castro Batista (Pauzinho) Nadir Maria de Magalhães Pereira Nelson Fernandes Omar Nascimento Profª Telma César Lemos Terezinha Nascimento Zélia Nascimento A todos aqueles que direta e indiretamente ajudaram a contar, neste livro, um pouco da história de Castanhal. Relato do autor Um dia, deparei-me com algo fantástico chamado cinema. Foi um acontecimento inesquecível para um garoto de 12 anos, naquele final dos anos 60. Passados exatos quarenta anos, percebo que as crianças daquela época eram ingênuas, se comparadas com as de hoje. Naquela época a garotada tentava enganar o porteiro do cinema para assistir a filmes impróprios para menores de 18 anos, hoje, encontramos filmes pornôs nas calçadas, porém, a beleza e o fascínio do cinema daquele tempo me esperavam na grande tela nos filmes de western, não nos filmes proibidos. Eu quero ser ator! Eu disse depois de assistir a uma sessão de cinema. O malabarismo com as armas, os galopes a cavalos, as brigas que nunca perdiam.... Tudo que é novo encanta, mas nem sempre é o que você quer ou precisa ser ou fazer. Nas brincadeiras dos meninos daquele tempo, costumávamos incluir as corridas a cavalo. Eu corria em cima de uma palha de açaí, como se fosse um cavalo, açoitando minhas próprias pernas, numa alegria para mim bem explicável: ali eu era o mocinho do filme que assistira na tarde de domingo passado. Naqueles dias, começou em mim um desejo imenso de ser ator. Foi quando paralelamente nasceu também outro desejo, o de casar com uma loura parecida com aquelas italianas ou ameri- canas dos filmes de western, minha fixação. O tempo foi passando e eu notando que não podendo ser um ator veio-me outra ideia na cabeça: Tornar-me um cantor. As músicas dos Beatles, Renato e seus Blue Caps e The Feevers embalavam-me cheio de sentimentos com o famoso ritmo iê, iê, iê. Ouvia também nossa famosa música popular brasileira, aquela que pode se ouvir sem agredir os ouvidos. As duas fantasias se misturaram na minha mente: cinema e música, e fui crescendo com elas na cabeça. Nos finais de semana, quando de minhas primeiras voltas na “rua” (ir ao centro da cidade) para assistir a filmes no Cine Argus ou dar uma “volta” na Praça da Igreja Matriz de São José, isso já no início dos anos 70, a beleza das coisas, as luzes da cidade, as casas de comércio, o movimento na estação, tudo era encanto para um menino de bairro pobre. Os anos foram se passando, o tempo das fantasias também, juntamente com minha puberdade e adolescência. Pensamentos mais concretos vieram logo após a adolescência e juventude, tornar-me um advogado; um grande empresário, ou mesmo um bom contador – pois achava que tinha tendência para área contábil – e ter meu próprio escritório, não vingaram. Nada disso aconteceu. Sou tímido por natureza, e desde quando eu namorava ou tentava namorar, só me manifestava para as meninas através de cartas, bilhetes e/ou poesias. Assim foi nascendo e crescendo a vontade de escrever e me manifestar através da escrita. Já adulto e casado, nasceu meu primeiro filho, Hugo Júnior, mais um incentivo para escrever, pois o assistindo sorrir e sua beleza de bebê fui inspirado a escrever sobre ele, num poema. Foi então que em 31 de março do ano de 2004 iniciei meu primeiro livro, um romance chamado “Elisa”, concluído no ano de 2007 e publicado em 2008. Em 2009 publiquei o meu segundo trabalho o livro “Interior A Força dos Sentimentos Positivos”. Agora, decorridos 40 anos daquela primeira fantasia, estou no meu terceiro trabalho, Castanhal e Suas Raízes: evolução de uma cidade, livro em que recordo as memórias do povo castanha- lense, vividas na belle époque da história de nossa Cidade Modelo. Primeira parte ........................................................................................................17 Origem dos fatos históricos ..................................................................................17 Capítulo I .................................................................................................................17 Traços da História da Castanhal antes de se fazer Cidade ................................17 Poesia em homenagem aos nordestinos, pioneiros de Castanhal ....................19 As Raças do Futuro ................................................................................................19 Capítulo II ...............................................................................................................20 Capítulo III ..............................................................................................................22O grande tapete verde ............................................................................................22 Capítulo IV ..............................................................................................................24 Lei 646 (Castanhal como Distrito) .......................................................................24 Capítulo V ...............................................................................................................25 Decreto Lei 600 (Castanhal como Cidade) .........................................................25 Capítulo VI ..............................................................................................................26 Histórias para recordar .........................................................................................26 Tributo aos Nordestinos – Retirantes em campos verdes .................................26 Capítulo VII ............................................................................................................30 Castanhal de muitos tempos .................................................................................30 Capítulo VIII ...........................................................................................................35 Nasce uma metrópole ............................................................................................35 Capítulo IX ..............................................................................................................37 A construção do Cliper ..........................................................................................37 Segunda parte .........................................................................................................38 Biografi as, depoimentos e ensaios ........................................................................38 Capítulo X................................................................................................................38 Pioneiros na história Castanhalense. ...................................................................38 Manoel do Nascimento Sobrinho ........................................................................38 Biografi a ...................................................................................................................38 Adalberto de Moraes - relatado pelo próprio Sr. Adalberto. ............................40 Biografi a ...................................................................................................................40 Antônio de Oliveira Pereira ..................................................................................43 Biografi a ...................................................................................................................43 Casemiro Marques Guimarães .............................................................................48 Biografi a ...................................................................................................................48 Maria de Castro Batista e Hugo Souza ................................................................50 Sumário Biografia ..................................................................................................................50 Leocádio Alves do Prado .......................................................................................57 Capítulo XI ..............................................................................................................58 Aconteceu... Eles me contaram ............................................................................58 Uma Bela História de Amor ..................................................................................58 Por Nadir Silva de Magalhães Pereira ..................................................................58 Nasci de novo ..........................................................................................................61 Por Gildo Soares da Costa .....................................................................................61 Gildo Soares da Costa, nasceu na Vila 17 do Chico Correa, ou km 17 da Estrada de Curuçá-Castanhal, no dia 10/12/1943. ............................................61 Uma peripécia de quatro meninos .......................................................................64 Por Hugo Luiz de Souza .......................................................................................64 A História ...............................................................................................................66 Uma tragédia em família .......................................................................................68 Por Antônio Salustiano Barbosa ..........................................................................68 Antonio Teixeira da Costa (Preto) .......................................................................71 Antônio Carneiro Filho .........................................................................................73 José Sampaio da Silva Melo (José Dantas) ..........................................................77 José Francisco de Souza (Tio Zeca) .....................................................................80 Biografia e ensaio ....................................................................................................80 Astúcia de menino, Por Aldo Ferreira do Vale ...................................................83 Terceira parte ..........................................................................................................86 Demolição da Estação Ferroviária de Castanhal ................................................86 Romanceada ............................................................................................................86 Capítulo XII ............................................................................................................86 Dor Num Dia de 1972............................................................................................86 Um dia qualquer - NA Castanhal de Outrora ....................................................92 Por: Amilcar Queiroz Carneiro ...........................................................................92 No Cinzano Bar ...................................................................................................103 O picolezeiro e a Cigana ....................................................................................103 História de caçador (Caindo no buraco) ..........................................................108 A caminho da Prefeitura ....................................................................................110 Considerações .....................................................................................................111 “Uma cidade sem memória é um povo sem história”. ...................................111 Alguns rezadores fizeram seus nomes em Castanhal, a saber: .....................114 Glossário: ..............................................................................................................115 Referências ..........................................................................................................117 Bibliografia: ..........................................................................................................118 Prefácio Recebi o convite de meu confrade na Academia Castanhalense de Letras, o escritor Hugo Luiz de Souza, para prefaciar o seu livro “Castanhal e suas raízes”, tão subida honra emocionou-me. Ao ler o original, fiz o solicitado pelo autor aos seus futuros leitores, fechei os olhos, alcei voo e vieram-me os questionamentos: Como nasce uma cidade? E será que podemos empregar este verbo? Uma cidade nasce? Falo de nascer no sentido de ser gerada, pensada, premeditada e ai... acabada. Ah! Meu caro leitor, não falo de cidades planejadas como Brasília e Goiânia, mas, daquelas que surgem, silenciosamente, à sombra de alguma árvore. Com suas histórias. É assim que nasceu e nascea cada dia a cidade de Castanhal e deste nascer, Hugo nos mostra o legitimar, através de uma labo- riosa pesquisa sobre os textos oficiais: “A certidão de nascimento de Castanhal. ” Não seria diferente para este castanhalense que correu por sobre os trilhos, com saco de mangas às costas. Ele elenca alguns nomes dentre aqueles que viram Castanhal se tornar cidade. Narra-nos fatos, vidas, histórias de amor, de alegria, de dor, ou seja, histórias que compõem vida e a vida. Mas o ineditismo da obra subjaz de o fato desta história- -romance partir a partir de um recorte no tempo, para relatar o que poderia ter se passado no coração e na mente dos castanha- lenses que presenciaram um marco, a tênue linha entre o passado e o futuro, a demolição da Estação Ferroviária e suas histórias de idas e vindas. Destas vindas faço parte, embora me aportando na Estação Rodoviária, pois nos idos de 1975 já havia passado três anos de tão doída demolição. Ao ler esta, que é a terceira obra do escritor Hugo Luiz, percebo um imbricar de historia e literatura, mas vejo sobretudo que idas e vindas são movimentos que fazem nascer uma cidade e seus personagens. Aceito o convite e alço vôo é a senha. Ouso plagiar o poeta mineiro de Itabira: Chega mais perto contempla a cidade de Castanhal vista pelo escritor Hugo Luiz. “Trouxeste a chave? ” Hugo a nos dá. Entre... Professora Telma César Lemos Os relatos/depoimentos contados neste livro, por alguns dos pioneiros de Castanhal, são da Castanhal de um passado distante, até o dia da demolição da Estação, ocorrida no ano de 1972, quando se inicia nossa história romanceada. Hugo Luiz de Souza 17 Primeira parte Origem dos fatos históricos Capítulo I Traços da História da Castanhal antes de se fazer Cidade A origem do povo castanhalense é mais antiga do que se pensa, é composta por vários períodos, e neste livro vamos comentar alguns fatos compreendidos no período de 1893 até o ano de 1972. Um período pouco antes da data de 1893, precisa- mente em 1891 quando a seca do Nordeste estava matando de fome e sede o povo Cearense. Por todos os lados havia morte e miséria. A construção da Estrada de Ferro no Estado do Ceará havia para- lisado, levando milhares de nordestinos ao êxodo. Grande parte destes retirantes invadiu a Amazônia para trabalhar nas grandes plantações de seringais na extração de látex. No ano de 1893, no dia 02 de maio, chegaram os primeiros trilhos da Estrada de Ferro de Bragança, para serem assentados no local, onde dez anos depois foi construída a nossa estação de Castanhal. O tempo foi passando, meio devagar, caminhando para o futuro daquela pequena Vila. No ano de 1902, essa Vila começava a experimentar grandes modificações, na época o Governador do Estado do Pará o Dr. Paes de Carvalho dividiu a região em sete colônias que foram se desenvolvendo ao longo dos anos, a principal Colônia conhecida como José de Alencar, hoje centro da nossa cidade. ***************** Hugo Luiz de Souza 19 Poesia em homenagem aos nordestinos, pioneiros de Castanhal As Raças do Futuro Fazem anos.... Nosso chão verde e ondulado Ainda selvagem, sem o homem, ele se abria... Erraram nuvens pelo céu e então o gado Pelas campinas deste meu sertão mugia. Fazem anos, quase ontem.... Um belo dia O trem de ferro conhecemos, afinal Berrou, fumou, atravessou em correria De Bragança em direção à Capital. Olho-te mudo, hoje, em tua paisagem Até que a noite, com seu ar tão puro Fala que o trem fez a última viagem E o nordestino, vejo, a erguer seus braços Para gritar às raças do futuro Que Castanhal há de seguir seus passos. As Raças do Futuro - Poesia de Carlos Araújo, escrita pelo autor no dia 24 de fevereiro de 1984, quando Castanhal ainda chorava a destruição da Estação Ferroviária. ***************** Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 20 Capítulo II Naqueles dias (Início do Século XX). Naqueles dias, nossa cidade, que algum tempo atrás era conhecida como “Núcleo Colonial de Castanhal” e décadas antes chamada de “Campos de Castanhal”, era chamada de “Vila de Castanhal”. Tudo começara com um pequeno Núcleo ao redor ou as margens de um bonito e grande igarapé chamado de “Igarapé Castanhal”, localizado onde é hoje o Camping Ibirapuera. A nascente desse igarapé localizava-se bem atrás do Camping e era chamado Nascente Riacho Fundo. Para o conhecimento do leitor, a nascente Riacho Fundo ainda existe e continua enchendo o igarapé do Camping Ibirapuera. A história de Castanhal se funde com a história de Bragança, essa elevada à categoria de cidade no dia 2 de outubro de 1854. Diz-se que pelos idos anos de 1858, Bragança que já era um importante centro e possuía agência de correios e telégrafo, havia sido explorada por Franceses nos anos 1613, e Castanhal servira de passagem entre Belém e Bragança. Chamada anteriormente de Vila do Caeté e depois Pérola do Caeté, posteriormente Souza do Caeté é hoje, Bragança, que desde o ano de 1854 era também centro de zona agrícola, já capaz de abastecer o mercado da Capital Belém com gêneros alimentícios básicos, desta época em diante, poderíamos dizer que Castanhal começa a dar os primeiros passos rumo à construção do que é hoje a cidade de Castanhal. Talvez possamos dizer que igualmente a Cidade de Bragança, Castanhal fora também explorada, primeiramente por Franceses e Índios Tupinambá, uma vez que há fatos históricos contados em livros que eles estiveram aqui, lemos esta informação no livro “História do Povo Castanhalense”, dos autores Carujo e José Lopes Guimarães. Hugo Luiz de Souza 21 Segundo a história de Castanhal, contada no livro “História do Povo Castanhalense”, de Carujo e José Lopes Guimarães, Castanhal pode ter sido habitada pelos índios Tupinambás lá pelos idos 1616, quando da fundação de Belém. No livro consta que “a História do Povo Castanhalense está intimamente ligada às origens da fundação da cidade de Belém...”. No livro “História do Povo Castanhalense”, podemos encontrar uma história rica que traz informações de diversos livros como exemplo: “História do Pará”, Vol. I, p: 52 de Ernesto Cruz; “Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil”, de Capristano de Abreu, e “Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará”, Vol. I, p: 19. Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 22 Capítulo III O grande tapete verde Mata fechada representando Castanhal de outrora, ainda sem casas edifi- cadas, ainda sem moradores... Voltando aos anos 1800, sem precisar a data, convido o leitor a imaginar – com um olhar lá do alto – o que era naqueles dias chamada “Campos de Castanhal”. Como num sonho imaginemos agora de olhos bem fechados um enorme tapete verde a perder de vista. Como visionário, vamos pensar ser uma ave planando e pousando no ar, deixar se arrastar pela correnteza dos ventos, por alguns minutos e viajar no tempo. Nessa nossa viagem, que começa agora, vamos abrir nossos olhos e olhar calmamente para baixo. Vamos voar um pouco no lado Norte e ver as futuras cidades de Curuçá, Marapanim, Marudá e o oceano banhando-as com lindas praias verdes... Agora vamos em direção Hugo Luiz de Souza 23 ao lado Oeste, e veremos Santa Izabel do Pará, Santo Antonio do Tauá. Que maravilha ver tudo isso do alto! Agora vamos voar para o lado Leste e ver São Francisco do Pará e Santa Maria do Pará. Não dá vontade nem de descer daqui, é tudo tão bonito! Agora vamos dar uma volta no ar e olhar para o lado Sul, veremos Inhangapi com o seu maravilhoso rio e São Miguel do Guamá, também com seu belo rio cortando a cidade, mas estamos em 1800 e toda essa imagi- nação ainda é sonho e tudo que vemos neste momento é o grande tapete verde. Lá embaixo, além de inúmeras espécies de caças, de pássaros, árvores frutíferas e entre diversas espécies de madeira nobres, vemos castanheiras centenárias, ali nascidas, doadas a nós pela própria natureza, pois esta natureza desejará batizar nossa cidade de Castanhal.Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 24 Capítulo IV Lei 646 (Castanhal como Distrito) Depois do período de desbravamento, povoamento e coloni- zação da nossa sonhada Castanhal já ter recebido o título de Núcleo Colonial no ano de 1889, foi então criado o Distrito de Castanhal no dia 06 de junho de 1899, passando à categoria de Vila pela Lei nº 646 e instalada a Lei no dia 15 de agosto de 1901. No dia 1º de novembro de 1905, sob a Lei 957, a Vila de Castanhal foi incorpo- rada ao Município de Belém, causando grande decepção do povo e total alvoroço da classe política de Castanhal, sendo logo reparado o erro cometido. A partir dessa tentativa, ascendeu o grande desejo do Castanhalense em tonar sua Cidade independente do jugo da Capital do Estado. Hugo Luiz de Souza 25 Capítulo V Decreto Lei 600 (Castanhal como Cidade) Privilegiadamente localizada entre Belém e Bragança, já nos primeiros anos como Vila, Castanhal servia como pólo para as duas cidades e outros municípios vizinhos. O rápido desenvolvimento da Vila de Castanhal a transforma em Município no dia 28 de janeiro de 1932, sob o Decreto Lei nº 600, assinado pelo então Major Interventor Joaquim de Magalhães Cardoso Barata. Castanhal a partir daí só cresceu impulsionada por seu povo Nordestino e seus descendentes que com amor e sacrifício plantaram e colheram os frutos da terra por eles adotada. Esse mesmo povo nordestino que segundo alguns disseram no passado, pode ter nomeado a cidade com o nome de Castanhal, porque a princípio eles se instalavam nas sombras de grandes e frondosas castanheiras que existiam nas margens do “Igarapé Castanhal”. Após a inauguração do Mercado Municipal, em 02 de feve- reiro de 1933, no mês de julho de 1939 dava-se início a construção da Prefeitura Municipal, sendo esta inaugurada no mês de março de 1940, na administração do Prefeito Maximino Porpino da Silva. Castanhal rumava ao seu sucesso de grande Cidade. ***************** Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 26 Capítulo VI Histórias para recordar Tributo aos Nordestinos – Retirantes em campos verdes Em uma das primeiras viagens da locomotiva a vapor, ainda inaugurais, podemos dizer assim: talvez numa Terça ou Quinta-Feira os dias de viagens do comboio misto de passageiros e cargas, para a Estação da Vila de Castanhal; Ou talvez num dia de Domingo no Comboio chamado de Recreio, que saía de Belém às 4 horas da manhã também rumo à nossa Estação, eis que chega o tão esperado trem, dele desembarcam algumas famílias, vindas do Nordeste Brasileiro, que começam a povoar a pequena Vila. O trem parou. É o ano de 1904. Estão todos ainda eufóricos e em clima de festa na Estação Ferroviária de Castanhal, pois há pouco tempo havia sido inaugurada a Estrada de Ferro. Imagino o vislumbre de crianças e até de alguns adultos chegando, e se deparando com aquele “grande” movimento. Imagino um menino correndo dentro do vagão do trem querendo logo sair e pego no colo por seu pai, que o ajuda a descer calmamente, pela larga porta do vagão, assim que esta se abre. Imagino numerosas famílias se aglomerando no interior da Estação com seus filhos e bagagens, pedindo informações sobre onde se instalar e trabalhar, mas sem o que fazer e na falta de dinheiro, muitos migrantes se valiam da Estação e das mangueiras espalhadas em toda extensão da Estrada de Ferro para se acomodarem e para a troca de mercadorias e pertences. Fico imaginando tudo isto. Neste mesmo ano de 1904, uma família Nordestina muito especial, vinda do Rio Grande do Norte, chegava à Colônia de Icuí ou Anhanga Velha, hoje São Francisco do Pará. A família Sobrinho como ficou conhecida, manteve contato direto com uma Hugo Luiz de Souza 27 família vizinha também muito especial, a Teixeira, de onde mais tarde sairia o ilustre padre Manoel Teixeira, ele que viria desen- volver grandes trabalhos espirituais com jovens em Castanhal e Municípios vizinhos, fazendo suscitar o desejo de servir a Deus em muitos desses jovens, que mais tarde se tornariam freiras e padres em nossa Cidade... Monsenhor Teixeira, como terminou seus dias, foi também o grande construtor de Capelas e Igrejas nos Bairros de Castanhal. Ainda nesse ano de 1904, no dia 12 de outubro, era inaugurado o Grupo Escolar de Castanhal (Escola Estadual Cônego Leitão), momento que estava em andamento a construção da Igreja Matriz de São José. O tempo passou... A família Sobrinho cresceu e um menino se destacou entre seus irmãos, Manoel do Nascimento Sobrinho que tinha 10 anos ao chegar à primitiva Vila, foi crescendo em tamanho e também em sabedoria... Os muitos afazeres do dia a dia ajudando seus pais nas atividades agrícolas, não lhe davam tempo de ir à escola, mas face às dificuldades e distância – e sozinho, à luz de lamparina, deu seus primeiros passos rumo aos livros e aos estudos... O tempo foi passando, e outras famílias foram chegando, quer seja a pé, a cavalo em carroças e em trens. E a Vila de Castanhal foi crescendo em movimento e população. Mais um espaço de tempo... No dia 06 de janeiro do ano de 1922 Manoel Sobrinho casou-se com Raimunda Moreira, na locali- dade de Anhanga Velha (São Francisco do Pará), onde nasceram os filhos Laura, Milton, Neuza, Omar e Maria. Depois mudaria para a Colônia de Ianetama, onde nasceria mais uma filha, Terezinha. No ano de 1930, o movimento no centro da Vila, nos arre- dores da Estação, já estava em grande aceleração. Trens chegavam às horas marcadas, com passageiros que ficariam para tocarem suas vidas e outros que passariam com destino a Bragança em viagens de negócios. Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 28 Foto da década de 1940 - Estação Ferroviária de Castanhal – o comércio em expansão Na Estação Ferroviária, paralelamente àquele movimento de pessoas e máquinas, entrando, saindo, vendendo e trocando, temos aquela que seria a notável família Sobrinho que já havia deixado a então Colônia de Icuí ou Anhanga Velha, e também deixara para trás a Colônia de Ianetama e chegava à Vila de Castanhal, agora a cavalo e este trazia no seu lombo e bem acomodada num caçuá (cesto de vime ou cipó) a menina Terezinha, nascida na Colônia de Ianetama, que tinha apenas um ano de idade, a ela o futuro reservaria o cargo de diretora das Escolas Estadual e Municipal Pe. Salvador Traccaiolli e Maria da Encarnação, Terezinha contribuiria grande parte de sua vida com a educação. Já bem instalado na “Cidade” na Vila Porpino, Manoel Sobrinho dá início a sua nova vida, com mais outros filhos que foram nascendo na Cidade, são eles: Pedro, Raimundo, Stela, Luíza, Ana Maria, Zélia e Ana, a caçula. E Manoel Sobrinho, que desde criança, havia se dedicado aos estudos, sozinho e à luz de lamparina decorou livro após livro, tornou-se um autodidata, poeta, letrista e cantor, cantando para a família e para os amigos. Foi Agente de Estatística, Agente do INSS, guarda-livros (contador) de vários comerciantes de Castanhal, São Francisco do Pará e Inhangapí e Delegado de Polícia. Segundo os Hugo Luiz de Souza 29 depoimentos de suas filhas Omar Nascimento e Zélia Nascimento, o pai Manoel foi muitas vezes tentado a ser político, candidatar-se a vereador, mas nunca aceitou. Formou todos os filhos, se desdo- brando em trabalhos diversos, mas não quis ser homem público. ... E Castanhal continua sua história... “E a história de Castanhal não se completaria sem a história de Manuel do Nascimento Sobrinho”. Dados e informações sobre Manoel Sobrinho por Omar, Zélia e Terezinha Nascimento. ***************** Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 30 Capítulo VII Castanhal de muitos tempos Entre as necessidades fundamentais do povo que começou erguer a Cidade de Castanhal, buscando alternativas para sua sobrevivência, lembramos a Castanhal do tempo que para se desen- volver nos estudos, obter o Diploma do Primário, hoje Ensino Fundamental, o aluno precisaria viajar paraBelém. Castanhal é do tempo, que para se conseguir um melhor desenvolvimento escolar e obter cursos secundários, hoje Ensino Médio, o estudante precisava procurar a Capital do Estado, Belém do Pará, para fazer vestibular, cursar uma faculdade precisaria embarcar no trem, e ir e voltar todos os dias de Belém, ou morar lá, quer fosse de favores nas casas de parentes ou casas alugadas, ou não, nas classes de melhor poder aquisitivo alugavam ou compra- vam-se casas e apartamentos. Castanhal é do tempo, que para alguém conseguir um melhor emprego, desenvolver o talento ou exercer a profissão que sua formação exigia, essa pessoa precisava se deslocar para Belém. Castanhal é do tempo, que aqui se plantava a malva, o arroz, o milho, o feijão e se carregava em burros, cavalos e carroças até a Estação para a venda ou troca. E nesse tempo esses mesmos plan- tadores tomavam banhos em igarapés, onde hoje estão construídos prédios e casas, os igarapés que passavam pelos fundos dos quin- tais, eram os banheiros de hoje. Castanhal é do tempo, que o padeiro deixava o pão feito à mão nas portas das casas, e se ouvia ao chegar a Estação, às cinco horas da manhã, o grito do vendedor de tapioca: Olha a tapioooca! Tapioooca, então antes de pegar o trem o viajante comprava um Hugo Luiz de Souza 31 cafezinho na lanchonete da Estação ou do Cliper e a tapioca do vendedor ambulante. Castanhal é do tempo, que havia as casas de luz vermelha, aonde os homens iam para se divertirem, o jovem rapaz ia procurar sua primeira mulher. A Rua do Fogo, como era chamada (hoje Av. Maximino Porpino) eram 24 casas feitas todas elas de tábuas numeradas de A a Z, treze casas (quartos) de um lado da Rua (hoje Banpará, sendo que duas casas ficavam de frente para a Rua Senador Lemos) e mais onze do outro lado (hoje Microlins) que começavam no canto da atual Rua Maximino Porpino e seguia para a hoje BR (antes não havia construção, era só mato). As mulheres que frequentavam a “Vila” vinham de vários lugares (outras cidades) para Castanhal. Aqui elas alugavam os quartos com o proprietário chamado de Pedro Galinha, assim chamado porque comprava ovos e galinhas dos moradores e ia vender em Belém. Os quartos serviam para essas mulheres morarem e ao mesmo tempo levarem “seus” homens e lá ganhavam o pão de cada dia para seu sustento, elas que foram as primeiras prostitutas de Castanhal, a Castanhal de uma época distante e bem diferente da de hoje. Os nomes dessas mulheres e seus amantes (muitos deles homens influentes da época), por enquanto vão ficar somente nas suas memórias e nas memórias daqueles que conhecem suas histó- rias e passaram por lá, e lá viveram momentos de suas vidas bem particulares. Vamos deixar que o tempo se encarregue desta tarefa. Castanhal é do tempo, que para se obter um remédio neces- sário à cura de uma moléstia mais grave era preciso recorrer à Belém, pois a primeira farmácia, a Sampaio, do Sr. João Câncio Sampaio só viria surgir em Castanhal, nos anos 1913, no entanto, com limitação na oferta de medicamentos. Depois se instalou a Farmácia “São José” do Sr. Santos Rocha e posteriormente, em 1953, a Farmácia Central, trazida pelo Sr. José Holanda Pereira, em parceria com o Sr. Hélio de Moura Melo. Vale aqui destacar que o Sr. José Holanda Pereira, tinha grande tino para o comércio e foi um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento de Castanhal, Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 32 naqueles anos 50. Empreendedor que era José Holanda Pereira não escolhia local para fazer seus negócios, ele armava seu “escritório” embaixo de mangueiras, bancos de praça, mesas de bares e balcões dos estabelecimentos comerciais do centro da Cidade, como exem- plos: Café Passarinho, Cinzano Bar, Cliper e Estação Ferroviária. Seu sócio, o Sr. Hélio de Moura Melo indiscutivelmente foi outro expert no fazer negócios. Com muita visão de futuro, Hélio Melo cresceu como empresário e fez crescer Castanhal, junto com seu irmão Eládio Melo estendeu sua rede de farmácias. Ambos torna- ram-se produtores de pimenta do reino e Hélio Melo foi um dos sócios fundadores, ao lado de Pedro Coelho da Mota e Inácio Gabriel Filho, da Hiléia Indústria de Produtos alimentícios S.A. Foto década de 50 / 60 – Centro de Castanhal em pleno movimento – Ao fundo a Estação Ferroviária Castanhal é do tempo que alguém chamado de Severino do Buraco, aprontava “poucas e boas” na cidade, montado no seu cavalo, como conta o Sr. Leocádio: Olha. O Severino do Buraco era um “cabra” encrenqueiro, gostava de mexer e fazer confusão com as pessoas, e gostava de brigar, puxar faca e desafiar todo mundo. O Severino morava na Rua 28 de Janeiro com a “Manga dos Bois” ou Washington Bastos, que o pessoal chamou por muito tempo rua do “curre”, curro e depois rua Hugo Luiz de Souza 33 do “curre”, curro velho, isso porque os homens vaqueiros desciam do trem com bois, onde hoje é o canto da Av. Barão do Rio Branco com Av. Altamira, tomavam um atalho até a Rua 28 de janeiro, onde ficava o curro ou matadouro, esse atalho ficou conhecido como Rua do Curro. Naquela época, por trás do SESC, havia uma ladeira íngreme (foi aterrada) e era de difícil acesso chegar onde morava o Severino, pois o lugar onde ele ficava parecia um buraco e também era um esconderijo, por isso, o apelido e quando ele fazia confusão se escondia lá, e nem a polícia chegava perto, porque ele se armava e dizia: “Quem vier aqui embaixo vai morrer cortado de facão ou crivado de balas”. É verdade que toda vez que o Severino ia para Cidade comprar o “rancho”, ele costumava adentrar no Mercado Municipal montado a cavalo, pedia seu quilo de carne com osso, e sem desmontar do animal pagava ao açougueiro, saia tranquilamente e ia embora e as pessoas ficavam só olhando. Severino costumava entrar também no Bar Esperança ou Bar dos Magalhães (hoje prédio onde funciona o SINE, na Av. Barão do Rio Branco. O Bar pertencia a Francisco Alves de Magalhães Filho, o Chico Magalhães). O Severino causava grande transtorno e, às vezes, muita confusão entre os frequentadores do Bar. Parece que Severino gostava muito de andar a cavalo ou não gostava de andar a pé, não é verdade? Severino era muito conhecido e tinha muitos amigos, inclu- sive o Delegado Luís Quincas que era seu compadre. Mas certa vez Severino causou muita confusão e sem desmontar de seu cavalo, recebeu voz de prisão do Delegado, que lhe disse com a voz brava: - Severino? - Sim, compadre. - Severino. Você é meu amigo e também é meu compadre, não leve a mal, mas vou lhe prender. Pode apear do seu cavalo e me acompanhar até a delegacia. O Severino então disse: - Não tem problema, não, compadre... E Severino atendeu à autoridade sem reclamar, desceu do cavalo e seguiu ao lado dele até a delegacia. O Delegado Luís Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 34 Quincas foi caminhando atrás do cavalo e do Severino. Naquela época a coisa era assim, era muito tranquilo, havia muito respeito e a Lei era cumprida. ***************** Foto década de 40/50 – Comércio na Av. Barão do Rio Branco na lateral da Estação Ferroviária de Castanhal. Hugo Luiz de Souza 35 Capítulo VIII Nasce uma metrópole Castanhal crescia rapidamente e se desenvolvia economica- mente em função de sua privilegiada localização geográfica, pois era passagem obrigatória para os Municípios vizinhos. Até então sua única via de transporte era a Estrada de Ferro de Bragança, que cortava Castanhal para abastecer o comércio local. Na Castanhal dos anos 40, a Casa Exportadora Primor, cujo proprietário chamava-se Rogério Fernandez, ficava localizada na esquina da Avenida Magalhães Barata com a Avenida Barão do Rio Branco, onde futuramente se instalaria a loja “A Elétrica”. Primor era uma empresa de beneficiamento de arroz, juta e algodão, naquela época era o comércio mais importante de Castanhal e sua instalação foi um momento de grande destaque para a nossa economia,que dava seus passos largos rumo à grande Metrópole que se tornaria num futuro bem próximo. Nos primeiros anos da década de 1950, dois grandes amigos, o Sr. Hélio de Moura Melo e Sr. José Holanda Pereira traziam para Castanhal a Farmácia Central, e a expansão do comércio se inten- sificava a cada dia. No ano de 1955, foi inaugurada a primeira agência bancária, o Banco de Crédito da Amazônia, hoje Banco da Amazônia S.A. Com a abertura da Rodovia Castanhal-Belém, no ano de 1956, o frenesi do desenvolvimento comercial tomou conta dos habitantes e do comércio local. Com isso muita gente de outras localidades, que passava pela Estação a negócio, vindo de Belém ou de Bragança, foi ficando por aqui mesmo, transformando Castanhal, a cada ano que passava, na Cidade mais desenvolvida Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 36 da Região Bragantina e Região do Salgado, o que posteriormente lhe fez por merecer o título de “Cidade Modelo”. Nos primeiros anos da década de 1960, o então Prefeito de Castanhal Sr. Pedro Coelho da Mota, considerado o melhor Prefeito que Castanhal já teve, trazia para Castanhal duas grandes empresas: CTC - Companhia Têxtil de Castanhal e Hiléia Indústria de Produtos alimentícios S.A. ***************** Foto década de 60 - Em destaque o Cliper, a Farmácia Sampaio ao centro e visão parcial da Estação Ferroviária de Castanhal. Hugo Luiz de Souza 37 Capítulo IX A construção do Cliper O Cliper era um complexo comercial, o ponto de encontro de muita gente que logo se tornaria famosa no meio social e político da cidade de Castanhal. O Cliper fora construído pelo Sr. Rubal no ano de 1947. “Era um tradicional espaço que abrigava uma elegante barbearia, (do Sr. Enéas), bar e lanchonete, algo chique para a época, que foi demolido na gestão do Prefeito Pedro Coelho da Mota, para dar lugar à urbanização da cidade que se fazia necessária no final da década de 1960”. Após a demolição do Cliper, fora aberta uma rua onde hoje se inicia a Trav. Benjamim Constant, canto com a Av. Barão do Rio Branco, ou seja, o Cliper ficava no largo onde hoje fica a loja Jomóveis e a Farmácia Sampaio, e era frequentado diariamente pelo Sr. Deocleciano Macedo (Deoclécio) proprietário do Cinzano Bar, Tio Bito, Rubal, Adalberto de Moraes, Zé Romão, José Francisco, Maximino Melo Ferreira e outros. No Cliper, foram vividas muitas aventuras, emoções e encontros amorosos. O Cliper foi um palco de muitos outros encontros: de políticos, de simples amigos, de jogadores da Seleção de Castanhal, de cantores da terra e dos que nos traziam seus shows de outras cidades e de aventureiros que passavam por Castanhal, enquanto o trem parava na nossa Estação para embarque e desem- barque. Enfim, de muitos e muitos outros encontros que estão nas memórias do tempo. ***************** Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 38 Segunda parte Biografias, depoimentos e ensaios Capítulo X Pioneiros na história Castanhalense. Manoel do Nascimento Sobrinho Biografia Manoel do Nascimento Sobrinho chegou à Vila de Castanhal, no ano de 1904, junto com a construção da Estação Ferroviária de Castanhal, um dos nordestinos pioneiros que ajudaria no surgimento da grande Castanhal. Data de nascimento: 09/07/1894 (Baixa Verde - João Câmara) – Rio Grande do Norte. Filho de Miguel Francisco do Nascimento e Maria Francisca da Anunciação. Quando chegou à Vila de Castanhal trazido por seus pais, Manoel Sobrinho foi trabalhar na lavoura, na Colônia Ianetama, localidade chamada Travessa 21, hoje um Bairro de Castanhal. Casou com Dona Raimunda Moreira, no dia 06 de janeiro de 1922. Já no ano de 1930 precisou mudar para a cidade (Castanhal), pois seus filhos davam início aos estudos. Alugou uma casa na Vila Porpino que ficava na Rua Marechal Deodoro. Manoel do Nascimento Sobrinho, foi mais um dos que chorou, pelo menos por duas vezes pela dor que sentiu em seu peito, por atos de pura insensatez com a história de Castanhal: 1. Quando derrubaram as velhas e frondosas mangueiras das ruas (o melhor programa da criançada numa época Hugo Luiz de Souza 39 de mangas, apanhando-as das árvores ou derruban- do-as de baladeiras. Era toda a sorte delas: mangas comuns, mangas rosa, mangas espada, manguita, etc); 2. E quando retiraram da Avenida Barão do Rio Branco os trilhos da Estrada de Ferro (outro divertimento para garotada que colocava pedaços de barras de sabão nos trilhos para ver o trem patinar suas rodas). Manoel Sobrinho foi Tesoureiro da Sociedade São Vicente de Paulo, no ano de 1951. Homem religioso e de muita fé, desenvolveu trabalho junto à Ação Católica, Apostolado da Oração, Irmandade do Santíssimo Sacramento, Conferência Vicentina e outras Associações e movi- mentos religiosos. Homem de presença marcante tinha a fé em Deus, a honra e o amor ao próximo como princípio do ser humano, tinha na família seu principal alvo de vida, nela se apoiava, e para ela vivia. Homem íntegro enxertava a dedicação à família e nos seus versos, suas histórias, a beleza do seu canto e das palavras à sua vida e ao seu modo de viver. Transformava suas idéias no lado doce da vida dignificando esta vida junto à esposa, aos filhos, e aos amigos, que agora passo a elencar: Adalberto de Moraes, Monsenhor Manoel Teixeira, Pedro Coelho da Mota, Casimiro Guimarães, Álvaro Menezes da Silva, Francisco Cavalcante Lacerda, José Alves de Lemos, Orvácio Bastos, Laureno Alves de Lemos, Nilo Francisco da Silva, José Eletricista, Lauro Cardoso, Severino Batista de Lima e Miranda Conor. Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 40 Adalberto de Moraes - relatado pelo próprio Sr. Adalberto. Biografia Adalberto de Moraes, nasceu no dia 24 de dezembro de 1919, numa casa simples e solitária no meio da floresta, casa essa, que, assim como um Sítio entre Macapazinho e Boa Vista, recebia o nome de Mazagão. Adalberto se criou na localidade de Boa Vista, onde quando criança descia de canoa junto com mais três amigos para ir à Macapazinho estudar, isso até 1930. Depois de algum tempo mudou-se de vez para Macapazinho. No ano de 1933, foi estudar na Vila do Apeú, em uma escola onde hoje está localizada a casa do Sr. José Martins, sua Profª era a Sra. Ana Maria Gonçalves Gomes, que indicou o então garoto Adalberto de Moraes para estudar em Castanhal, cursando a 5ª Série, por ter Adalberto, junto com outro garoto da época, se destacado brilhantemente na 3ª Série. No dia 1º de janeiro de 1935 Adalberto se mudou para Castanhal. Trouxe nas mãos a indicação para mostrar à Profª Emília Gimenez de Lima, naquele momento Diretora do Colégio Cônego Leitão, que não confiou muito no documento e pediu para o garoto Adalberto fazer o teste de admissão. Adalberto fez o teste sendo aprovado para cursar a 5ª Série. Foi o início de uma carreira bem-sucedida tanto na vida social como política e religiosa. No ano de 1944, Adalberto também foi convocado para atender por 15 dias, ao Governo Federal, na Segunda Guerra Mundial. No período que prestou serviço militar ele foi morar em Belém e se apresentava todos os dias no Quartel General, ele acompanhou o desenvolvimento de Castanhal, fez muitos amigos tornando-se um homem público e político. No cargo de vereador conseguiu com sua astúcia e inteligência 11 Escolas Municipais, como ele mesmo relata a seguir: Hugo Luiz de Souza 41 No dia 19 de janeiro de 1947, Hernani Lameira foi eleito Prefeito Municipal de Castanhal, derrotando seu opositor Antônio Lins de Albuquerque. Infelizmente o Prefeito Hernani Lameira não concluiu seu mandato, pois veio a falecer durante sua gestão como Prefeito, assumindo o cargo de Prefeito o Vice-Prefeito e presidente da Câmara Municipal, o Sr. Orvácio Bastos. Eleição de 1950 – João Soares de Melo (o Joca Vicente) deixou o cargo de Vereador para concorrer ao cargo de Prefeito, nas eleições de 1950, e eu assumi em seu lugar, pois na eleição anterior eu havia ficado como1º suplente, no ano de 1947. Nessa época um dos meus amigos que também concorreu na eleição, o Inácio Gabriel Filho, foi eleito Vereador. Foi então que em 1950 fui novamente candidato a Vereador e venci, ficando, desta vez até o final do mandato. Eu tinha uma casa de comércio onde eu morava, hoje ainda é uma casa de comércio e localiza-se ao lado da Eletromóveis, na Trav. Benjamim Constant. Lá, eu aproveitava os momentos de descon- tração com os colonos e ouvia suas reclamações: “Seu Adalberto! Na Colônia não tem escola! ” Aí eu lhes perguntava: Se eu fizer um abaixo-assinado, vocês pegam as assinaturas do povo? Depois do acordo, eu então lhes fazia o abaixo-assinado, e através dele conseguia as Escolas para várias Colônias. No final do mandato do Prefeito Joca Vicente, deixamos 22 Escolas funcionando. Como Vereador, fiz projeto junto ao D.E.R. (Departamento de Estrada de Rodagem), pedindo largura de 40m para a estrada que hoje é a Rodovia BR-316; Projeto junto a Câmara de Vereadores, com um pedido de doação do terreno (campinho de futebol onde eu e a garotada jogávamos bola), para as Irmãs do Preciosíssimo Sangue, onde hoje estão construídos o Noviciado (Casa das Irmãs) e Colégio São José. No ano de 1955, entrei na sociedade com o Português Sr. José Maria da Silva e mais um ex-funcionário, o Sr. Sebastião, primeiros sócios do estabelecimento comercial Padaria Primavera, onde fiquei como sócio até seu fechamento nos anos 80. Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 42 Adalberto de Moraes que com apenas nove anos de idade já recebia sua primeira prova de fogo: a missão de “pular” uma série escolar – fato raro na vida de estudantes, ele dava início a uma trajetória de conquistas na sua vida, sempre morando na Cidade de Castanhal. Menino muito inteligente, criativo e trabalhador e com muita intuição nos negócios e visão de futuro, Adalberto torna-se empresário e homem público. A despeito de muitos outros polí- ticos, mostrou que poderia ser político honesto trabalhando com seriedade para uma comunidade. Hoje é um homem de 90 anos feliz, lúcido e trabalhando em negócio próprio, é religioso e ajuda o Pároco da Igreja de São José como Diácono, e o faz com muita sabedoria e dedicação. Foto de janeiro de 2010, Hugo e Sr. Adalberto em seu estabelecimento comercial na Av. Barão do Rio Branco. Hugo Luiz de Souza 43 Antônio de Oliveira Pereira Biografia (Rubal), nasceu no dia 03 de março de 1927, na Colônia Sapereira, núcleo pertencente a então Vila de Castanhal. Sapereira, hoje Jardim Tóquio, era também uma parada do trem que cortava o centro de Castanhal, mas não era parada obrigatória igual nas Estações, o trem só parava lá quando havia passageiros para embarque ou desembarque. Rubal é carinhosamente chamado, tendo completado 83 anos de idade, recebeu esse apelido quando criança, mas nem seus pais ou ele mesmo se lembra do lugar ou de quando foi apelidado pela primeira vez. O próprio Sr. Rubal nos conta: O apelido de Rubal vem da infância. Com a idade de cinco anos eu lembro bem, a família toda se mudou para a Vila de Castanhal, recém transformada em Município. Meu pai, Firmo Martins Pereira, era carpinteiro e em sua visão de futuro via muitas obras a serem feitas e o Município precisava de mão de obra quali- ficada. Foi então que acompanhei o meu pai nas várias construções determinadas por Magalhães Barata, então Governador do Estado do Pará, e conduzidas por Comandante Assis, primeiro Intendente do novo Município. Eu era um garoto travesso, como a maioria dos que moravam às margens da Estrada de Ferro, e vivia brincando nas muitas mangueiras que existiam por toda a Rua Augusto Montenegro (hoje Av. Barão do Rio Branco). Lembro que certa vez quando eu estava com 12 anos, lá pelos anos de 1939 eu estava derrubando, a pedrada, mangas da mangueira, que ficava na frente da Prefeitura, nessa época o Prefeito era o Maximino Porpino da Silva. Havia outros garotos também atirando pedras na mangueira, e viram um homem se aproximar da gente, então correram, mas não deu tempo de me avisarem, quando de repente chegou perto de mim aquele Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 44 homem grande e gordo com cara feia, era o Delegado Apucre – ele era mau, era temido por todos, e parecia estar com muita raiva logo me questionou por que eu estava jogando pedra na Prefeitura, e fui surpreendido com puxões nas duas orelhas enquanto ele me dizia: “Então é você, moleque, que está jogando pedra!”. Ele deixou as minhas orelhas vermelhas, mas como era amigo do meu pai, não lhe contou. Em 1932, testemunhei a construção do Mercado Municipal na esquina da Av. Barão do Rio Branco com a Trav. Quintino Bocaiúva, onde hoje está o Bradesco. Da Usina de Força e Luz, prédio que por muito tempo foi usado pela COSANPA. Da primeira caixa d`água da cidade que ficava na Trav. 1º de Maio, por trás de onde é hoje a Igreja Assembleia de Deus. Do primeiro Posto de Saúde do Município, o SESP ainda hoje erguido na esquina da Rua Senador Lemos, com a Trav. Cônego Leitão. Como ajudante de meu pai trabalhei em construções mais importantes a exemplo da construção da Prefeitura Municipal, obra de Maximino Porpino da Silva. Na administração de Hernani Lameira, eu já era carpinteiro, fui incumbido de construir o Clipe, mas continuei construindo casas, carrocerias para caminhões e o que me pediam para fazer com madeira. Numa certa vez um amigo me perguntou: - Oh! Rubal. Você é mestre de obras, sabe fazer de tudo com a madeira, mas você não tem outro sonho não, trabalhar com outra coisa? Então eu lhe disse: Olha. Desde criança que trabalho e invento coisas, comecei vendendo água nas casas que eu carre- gava do igarapé do burrinho, transportando em roladeiras, barris de madeira adaptados para o transporte de água. Também lá na Estação já fui vendedor de frutas que colhia nos sítios. Desde quando fui morar com o Padre José Maria do Lago, no Seminário, que trabalho inventado coisas com madeira e me dá prazer traba- lhar com madeira, mas meu grande sonho é ser carpinteiro da EFB (Estrada de Ferro de Bragança), trabalhar nas oficinas de Marituba, Hugo Luiz de Souza 45 construindo vagões, pois além de fazer o que eu gosto também estaria amparado por um emprego Federal. O tempo passou e o sonho de ser carpinteiro da EFB nunca se realizou em minha vida. Quando as estradas de rodagem começaram a surgir e o transporte rodoviário foi gradativamente tomando lugar dos trens, comecei a fabricar carrocerias. Numa época em que não havia ônibus, os donos de caminhões adaptavam as carrocerias para transporte de cargas e passageiros, eram os famosos paus-de-arara. A demanda cresceu muito então eu tive que contratar pessoas, mesmo assim não dava para atender a todos, por falta de capital para compra de material. Naquela época, tudo era feito a mão, mas tudo ficava perfeito, foi quando surgiu em Castanhal um comer- ciante de Igarapé-Açú, pedindo com urgência uma carroceria para um caminhão que iria fazer linha Castanhal-Belém, era Simão Jatene. Ele sabia de minha reputação na Cidade e me levou a Belém e abriu crédito em lojas de ferragens. O tempo passou e quando os paus- de-arara deram lugar aos ônibus, eu já estava no comércio da madeira e material de construção, em sociedade com Waldir Pismel e Manoel de Jesus. MAVAPE era o nome de nossa firma, que por muitos anos foi referência no comércio castanhalense. Aconteceram muitas coisas na minha vida que não lembro, é claro. Aqui em Castanhal muita gente me conhece, mas essas pessoas não têm conhecimento do que já fiz aqui. Algumas coisas eu me lembro, por exemplo: Eu já fui vereador por dois mandatos, no tempo em que não havia remuneração para essa categoria. Participei de várias atividades a exemplo da implantação do Projeto de Reflorestamento do antigo IBDF. Fui assessor do Dr. Waldemar Cardoso junto à implantação do Campo Florestal, pois naquela épocahá mais de 50 anos, eu já era um homem preocupado com problemas ecológicos. Fui designado para assessorar os primeiros funcionários da ACAR-PARÁ, hoje EMATER, que precisavam dar orientação aos colonos que não sabiam plantar sem aquela tradi- cional derruba e queima de coivara. Participei da Campanha para a Construção de Fossas Sanitárias do SESP, fundei Ação Católica Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 46 e o Círculo Operário do qual muito me orgulho. Com alguns poucos recursos mantive essas entidades filantrópicas, que tinham até Escola. Neste mesmo espaço esteve funcionando por um longo tempo o grupo Escolar Cônego Leitão, que em obras de reforma não tinha para onde remanejar seus alunos. Aconteceu uma coisa engraçada para os dias de hoje que vale a pena contar: Lá no início dos anos 60 quando o INDA (Instituto Nacional do Desenvolvimento Agrário) veio fazer fotos e filmagens na cidade de Castanhal, que era candidata ao título de Município Modelo, fui encarregado de falar com todas as pessoas que tinham carros na cidade para rodarem pela Av. Barão do Rio Branco, assim criaria certo ar de movimento. Não consegui mais do que doze veículos, entre caminhões e carros pequenos. Hoje acho graça quando passo pela Av. Barão do Rio Branco e não vejo vaga para estacionar. Não nego que sou um homem predestinado a ser feliz, posso dizer que não tenho inimigos, e acho que ninguém tem raiva de mim. Gente da minha época resta pouca e pouca gente tem 82, 85 90 anos. Daqueles homens do passado eu sei que ainda restam alguns que estão vivos: Adalberto Moraes, meu grande amigo e que já completou 90 anos e continua trabalhando. Adalberto é um homem bom, é religioso e trabalhador. O Outro, também meu amigo é o Leocádio Prado, homem decente, brincalhão, gosta de contar uma piada e depois que conta, ri com o outro, ele é divertido. Tem também o meu compadre Assis, da Casa Monteiro, tem o Zé Felix. Tem mais alguns que não me lembro no momento. Rubal – O construtor de grandes obras em Castanhal e grande construtor de obras espirituais. Rubal, que construiu grandes casas e prédios na outrora Castanhal, que se desenvolvia a passos largos, continua construindo obras espirituais atendendo pessoas em sua residência. Rubal é espírita e dá palavras de conforto, aconselha e orienta aquele que o procura para esse fim. Sempre de semblante sereno e muito gene- roso, segura com um leve aperto as mãos dos que lhe busca orações e conforto espiritual. Rubal. Homem observador, desprovido de qualquer vaidade humana, vive simples como sua natureza requer. Hugo Luiz de Souza 47 Diz sempre a verdade e o que sente e o que precisa aquela pessoa necessitada de seus conselhos. Antônio de Oliveira Pereira (Rubal) Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 48 Casemiro Marques Guimarães Biografia Casemiro Marques Guimarães, nasceu na Cidade de Castanhal-Pará, no dia 28 de Maio de 1909, no ano em que se inau- gurava no documento o prédio da Estação Ferroviária, construída no Governo Augusto Montenegro (1901 - 1908). Filho de Severino Vieira Guimarães e Adelaide Marques Guimarães, eles são os bravos nordes- tinos e símbolos autênticos do povoamento do município. Casemiro, nome que junto a outros, por seus importantes feitos desde os tempos em que Castanhal era apenas uma pequena e promissora Vila, cons- titui uma página nobre na história de Castanhal. Casemiro concluiu seus estudos no Grupo Escolar (atual Escola Estadual Cônego Leitão), único estabelecimento de ensino público daquela época, construído no ano de 1904. Carpinteiro de profissão, esta herdada de seu pai, Casemiro que por autorização do Intendente Alfredo Marques, também chegou a atuar como responsável pelo serviço de ilumi- nação pública da Vila, que funcionava através do sistema de lampiões a carbureto, cujos aparelhos eram acesos por ele nos postes, que não eram mais que duas dúzias por toda a Vila. Implantado novo sistema de iluminação: caldeira a vapor, e já na administração do Intendente Francisco Assis, Casemiro não quis mais continuar no novo serviço e assumiu de vez a profissão herdada de seu pai: a carpintaria. Casemiro também foi político e teve participação importante em luta pela fundação do Município. Como desportista, junto a outros abnegados do futebol, como Ubirajara Marques, Lauro Cardoso, Gervácio Bastos, Joca Vicente, Vicente Lima, Dadá Pismel e Zé Torres integrou o grupo pioneiro do Castanhal Esporte Clube, fundado no dia 7 de setembro de 1924. Mas sua paixão mesmo era a carpintaria, então equipou uma oficina ao lado de sua casa. Na sua profissão construiu alguns prédios públicos e inúmeras casas residenciais de taipa na Cidadezinha que Hugo Luiz de Souza 49 aos poucos surgia. Seu Casemiro era perito também na confecção de armas de fogo, o que só deixou de fazer quando partiu para a eterni- dade, no dia 18 de setembro de 1996. Casemiro, pelas muitas virtudes de que era possuidor e pelo muito que fez por esta terra, permanece vivo na memória de todos que o conheceram e tiveram sua amizade. Homem simples e inteligente numa época de poucos e, às vezes, nenhum atrativo na Vila onde nasceu. Desde muito cedo Casemiro já mostrava intuição para as descobertas, quando começou a confeccionar armas de fogo, e como carpinteiro que logo se tornou inventou muitos modelos de móveis e imóveis, ficando conhecido na Vila de Castanhal como o carpinteiro que fazia de tudo. Homem de bom relacionamento com todos, Casemiro gostava de fazer amigos, mesmo, às vezes, preferindo ficar sozinho meio a reflexões. Por ter nascido no ano de 1909, acompanhou todo o desenvolvimento da Vila de Castanhal até tornar-se uma bonita e desenvolvida Cidade. Participou de vários momentos impor- tantes, sejam eles políticos, religiosos ou sociais de nossa Cidade, foi jogador de futebol e um dos fundadores do Clube de Castanhal. Dados biográficos por José Lopes Guimarães, escritor e historiador e filho de Casemiro Marques Guimarães. Casemiro Marques Guimarães e José Lopes Guimarães Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 50 Maria de Castro Batista e Hugo Souza Biografia Maria de Castro Batista, nasceu no dia 26 de outubro de 1927, no engenho do Sr. José Paulino, na localidade chamada de Igarapé-Açú ou Igarapé-Açuzinho, saindo de Castanhal ficava há aproximadamente dois km antes do Barro Branco, lá havia um igarapé chamado Cabeça de Porco onde o pessoal do engenho e da Colônia tomavam banho. Cabeça de Porco foi o primeiro local de trabalho de Maria Batista ainda criança, onde raspava mandioca e também tomava banho junto com outras crianças e adultos. Seus pais Adelaide Castro Soares e João Batista dos Santos mudaram-se da Colônia de Pitimandeua para Igarapeaçuzinho ainda jovens... Numa conversa verdadeira e aberta comigo, autor deste livro, no dia 17 de janeiro de 2010, em sua residência, dona Maria de Castro Batista, a Pauzinho, esclareceu alguns momentos marcantes de sua vida, vividos em Castanhal e Belém: - Olha meu filho, eu era ainda uma jovem inexperiente quando deixei a roça, a raspagem de mandioca, os banhos no igarapé Cabeça de Porco e a família lá no Engenho para vir morar na Vila de Castanhal. Quando eu cheguei àquela antiga Vila de Castanhal, no dia 19 de dezembro de 1948 fui morar na residência do casal Dona Nazaré e Seu Herculano. Depois fui morar na casa do senhor José Coceira, pai do Odilardo, da Hiléia. Odilardo ainda era um garoto e vivia azucrinando minha paciência na cozinha, ele me cutucava e brincava comigo. Aí aconteceu que o Seu José Coceira mudou-se com a família para Belém, e até minutos antes de viajarem ele me perguntou: - Oh! Maria, você não quer mesmo ir morar em Belém? - Não, seu José. Eu tenho meu filho que está lá na Colônia com a minha mãe, e sei que se eu for não vou vê meu filho nova- mente, tão cedo. Sabe como é, né? Hugo Luiz de Souza 51 Acabei ficando mesmo por aqui. Como não consegui logoemprego, fiquei ao Deus dará. Aqui conheci muita gente bacana, me diverti muito e cai na vida... E fui vivendo. Aqui havia um Delegado chamado de “Apucre”, ele era ruim demais, não só tinha fama não, ele era ruim mesmo, todo mundo tinha medo dele. Parece que ele gostava de prender as pessoas, e prendeu a mim também. Durante toda minha vida fui presa sete vezes, não porque brigava, mas porque eu chamava “nomes feios”, só por isso. As pessoas tinham outra educação, não gostavam de ouvir palavrões. Eram outros tempos aqueles. Lembro que a primeira vez que me levaram presa eu era ainda muito jovem e fui incentivada por uma amiga a fumar maconha. Aconteceu que nessa primeira vez eu dançava numa festa com uns amigos, entre eles estava a minha paquera Queiroga e a tal amiga que me ofereceu o cigarro, e ela me disse: - Fuma Pauzinho, que deixa a gente leve, tranquila. Tu vai gostar. - Então fumei... Aí o Queiroga numa espécie de aposta disse para os nossos amigos: - Vamos dar uma garrafa de cachaça para Pauzinho para animar esta festa. Bebi e fiquei doidona, caí de porre e amanheci na casa da amiga. Quando acordei o Delegado Luis Quincas estava lá e recebi dele voz de prisão, essa foi a primeira vez que fui presa, mas não demorei muito lá, o Delegado recebeu um bilhete do Seu João Barata, homem influente na cidade e meu amigo (nada a ver com o Major Barata), pedindo para me soltar. O tempo foi passando... Eis que uma vez eu estava no Café Passarinho, do seu Afonso. A data? Mais ou menos lá pelos anos 1950, entraram dois homens, um deles era Eduardo, era Cearense e tinha uma empresa de ônibus em Belém, sua mulher Dona Eduarda, nascera em Portugal. Ele entrou, olhou para mim dos pés a cabeça, pediu um café para o seu Afonso e disse: - Estou procurando alguém para ir trabalhar na minha casa, em Belém. Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 52 Decidi na hora ir com ele para Belém, pois aquela minha vida não estava muito legal, não. Então partimos rumo a Belém, mas quando o carro começou descer a ladeira, hoje Rua 28 de Janeiro, o frio na barriga me fez chorar de arrependimento. Mesmo assim e depois dele ter parado o carro e perguntado se eu queria voltar, eu disse que iria para Belém. Lá conheci a esposa dele Dona Eduarda e também a sogra dona Prazeres, eram portuguesas. Dona Eduarda gostava muito de beber cachaça com maracujá e acabamos bebendo juntas e uma vez tomamos um porre ela e eu. Mas logo no dia em que cheguei lá na casa, ela me chamou de lado para conversar e tivemos uma pequena conversa, para começar ela perguntou: - Oh, Maria? - Sim senhora, eu respondi. - Você é moça? - Não, senhora, eu tenho um filho que está aos cuidados de minha mãe, na colônia... - Bom. O que você fizer da porta de casa para fora, eu não quero saber, nem me interessa. - Um dos motoristas da empresa de ônibus do Seu Eduardo chamava-se Jamil e quando nos vimos pela primeira vez, houve logo um clima de paixão, aquela atração de primeira vez. Ele morava na garagem dos ônibus e tudo então ficou mais fácil para início de namoro entre nós dois. Da atração virou paixão, paixão daquelas loucas. A gente se encontrava toda noite e eu fiquei muito apaixonada, acho que ele também. Mas ele deixou o emprego, não me lembro o motivo, só sei que ele deixou a empresa e também a garagem e se mudou para outra cidade, eu fiquei totalmente arrasada, desgostosa da vida e sem vontade de viver. Para não sofrer mais (não sou mulher de sofrer!) Larguei o emprego e voltei para Castanhal. Aqui em Castanhal, cheguei um pouco frágil de sentimentos e logo encontrei afago nos braços de outra pessoa, só que ele era casado, seu nome era Luís Muniz. Ele era daqueles homens descon- trolados quando o assunto é bebida e farra, parece que quer tudo só para um dia. Acontece que todas as noites eu tinha que ir levá-lo totalmente embriagado até a casa dele. Quando a gente chegava Hugo Luiz de Souza 53 lá na porta da casa eu me escondia e ele chamava por sua mulher: “Estrogilda? Tô aqui. Depois de alguns minutos sua mulher abria a porta e o levava para dentro da casa enquanto eu ficava assistindo aquela mesma cena, todas as madrugadas, até o dia em que eu e a Estrogilda nos conhecemos, então eu não quis mais continuar o caso e o deixei de vez. - Na minha vida, até aqui, tive algumas tristezas, mas muito mais alegrias. Como eu já falei sempre fui amiga de todos e todos sempre foram meus amigos. Mas no meio dessas pessoas há um homem que eu tenho que mencionar, é o Chico Magalhães. Meu filho, o Agenor, já estava com nove anos, e certo dia eu estava com ele quando encontrei o Chico e tivemos a seguinte conversa: - Oh! Pauzinho? - Vi certa seriedade na sua pergunta, então eu respondi: sim, Chico. - Me dá esse teu filho? - Foi uma mistura de alegria e tristeza ao mesmo tempo, mas aceite. O Agenor viveu com o Chico Magalhães até os 15 anos, quando já estava preparado para o trabalho e para o mundo. Aconteceu comigo outra confusão também nos anos 1950. Eu era amiga de todo o mundo e todo mundo de mim, contanto que não me enchesse a paciência... pois eu não levava desaforo para casa. Esse episódio que vou contar aconteceu também numa festa (risos), é que eu gostava mesmo muito de festa. Eu tinha meus 23 anos e estava numa festa como já disse lá na Ajuricaba (hoje Bairro Nova Olinda), o salão ficava na Rua 28 de Janeiro próximo a Avenida Altamira, quando a Inês tirou graça comigo... Dei uma surra nela. Então a “turma da deixa disso” salvou ela de mais uns tapas, aí ela saiu correndo, dizendo que ia buscar uma faca e voltaria para me cortar. Pensa que eu fiquei com medo? Fiquei foi esperando ela que nunca apareceu (risos). Só voltei a ver a Inês depois de dois anos, então tudo já estava bem e tudo ficou bem. Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 54 Olha. Minha vida é cheia de muita coisa, mas eu não me lembro mais. Tive muitos encontros amorosos na Estação, no Cliper, no Café Passarinho, no Merendinha Bar, no Mercado, mas eu não vou contar. Bebi e me diverti muitas vezes no Cinzano Bar, do Deoclécio, ele era engraçado.... Conheci o Seu José Gregório, pai do Mundinho da Prefeitura, ele era muito engraçado, gostava de contar piadas para a gente se divertir, quando passava uma mulher se rebolando ele dizia: Mexe mais! Antigo prédio da Prefeitura Municipal de Castanhal Outro episódio que me lembro... Aconteceu quando o Major Joaquim Cardoso de Magalhães Barata vinha visitar Castanhal, naquela época havia uma espécie de rampa feita de madeira construída quase à frente do Mercado, era o pontilhão que dava acesso para o outro lado da rua, para a Prefeitura, precisamente hoje é a Trav. Quintino Bocaiuva. O trem parava bem ao lado dela, a porta se abria então o Major Barata aparecia e ficava por um instante parado no meio da porta olhando toda aquela gente que esperava por ele, na frente do mercado e espalhada pela rua. Era uma festa a chegada dele, havia a nítida manifestação dos seus correligionários e também a manifestação do povo aplaudindo e gritando o nome dele. O Seu João Barata que não tinha parentesco com o Major, mas era um homem influente, trabalhava na Coletoria de Castanhal, ia junto com a esposa dona Felícia falar com o Major, então eu pedia para ela que eu fosse junto, e eu conversava com o Major e peguei muitas vezes na mão dele, conversei muitas vezes com o Major Barata... Hugo Luiz de Souza 55 Naquele tempo, quando era época de política eu e minha amiga Luzia íamos para a Coligação e nos divertíamos muito, bebíamos e comíamos à vontade, foi um tempo muito bom aquele. Aqui tinha um rapaz que era meio doidão, o nome dele era Paulo Mata Velha. Eu era amiga dele e doidona também, e no dia do casamento dele, passamos a noite juntos, foi sua noite de solteiro. No outro dia, ele casou. Algum tempo antes dessa noite, a gente andava bebendo por aí nas festas e eu estava grávida, na saída de uma dessasfestas ele jogou o carro em cima de mim numa brincadeira maluca e causou um acidente comigo e eu perdi meu bebê. Lá no Cliper, vi muitas cenas bacanas, bonitas, mas de lá eu vi uma cena muito triste foi lá no Merendinha Bar, que ficava perto da loja hoje Porta Larga, foi uma das cenas mais triste: O Raul Ferreira que era um cara muito mau, ele gostava de usar seu revólver para fazer confusão e intimidar pessoas, nesta vez atirou e atingiu um rapaz que foi socorrido no SESP, que também funcionava como hospital na época em Castanhal, mas o rapaz não resistiu e morreu. Teve tiroteio, mas o Raul Ferreira fugiu, passou um tempão longe daqui, acabou voltando e continuou aprontando. Uma vez eu e minha sobrinha fomos com ele para o Apeú tomar banho no rio. Chegando lá, havia um homem pescando, por nada ele queria atirar no homem, ele ia matar o pobre coitado, aí eu disse: Oh! Raul! Não faça isso com o homem! Ele está pescando para levar os peixes para a família dele! E então ele olhou para mim, refletiu por um instante e disse: - É mesmo Pauzinho. E ele não atirou no homem. O tempo foi passando, e depois de ele ter aprontado muito, levou um tiro nas costas, foi atirado por um soldado de nome Joaquim Belério, e Raul ficou paralítico, mesmo assim não se intimidou e continuou aprontando, andava com um motorista particular que o levava para todo lugar, até que ele veio a falecer, de doença, e foi o fim da lenda Raul Ferreira. O Prefeito Mimo (Maximino Porpino Filho) como eu lhe chamava era meu amigo desde a juventude, nós nos conhecemos na Galeria Porpino. A gente brincava e bebia juntos. Minha casa Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 56 foi ele quem me deu, desde o terreno e mandou construir. O Mimo foi só meu amigo e nunca tivemos outra relação a não ser amizade. Um fato muito importante: mesmo antes dele se tornar Prefeito de Castanhal, até sua morte, todos os Domingos eu costumava ir ao Camping Ibirapuera, na casa dele, buscar o meu almoço, era assim que ele chamava para a quantia em dinheiro que me dava. Nunca casei, tive quatro filhos de pais diferentes, mas sou muito feliz. Minha vida foi mais vitoriosa do que “sacrificosa.” Minha mãe viveu 108 anos, quero viver só os 100 (risos). Estes relatos são apenas um pouco (fragmentos) de minha vida. Maria de Castro Batista (Pauzinho) Maria de Castro Batista, mulher de fibra, negra e guerreira, para conseguir seu objetivo que é ser feliz, ter liberdade, desde jovem encarou a vida de frente, enfrentando todas as adversidades, sozinha, depois que decidiu deixar os pais na Colônia criando e cuidando de seu primeiro filho. Aprendeu a conviver com as diver- gências enfrentando as dificuldades com garra e muita coragem num tempo de preconceitos, assim conviveu e buscou ser amiga de todos e sempre foi respeitada por todos, até hoje, trabalhando e vivendo com sua filha e netos, no Bairro da Estrela, em Castanhal. Maria de Castro Batista e Hugo Souza Hugo Luiz de Souza 57 Leocádio Alves do Prado Leocádio Alves do Prado, nasceu em Castanhal no dia 10 de dezembro de 1930. Seu pai Manoel Alves do Prado nasceu na cidade de Guarabira, no Estado da Paraíba e chegou a Castanhal no ano de 1901, fugindo da seca que cobria todo nordeste. Sua mãe Júlia de Melo Prado nasceu no Estado do Amazonas, veio para Castanhal antes de 1901, após o período áureo da borracha, encon- trando aqui seu futuro marido. Leocádio desde criança presenciou a transformação de Castanhal, quando nos anos 40 dava-se o início desta. Estudou na Escola Cônego Leitão e tem como melhor lembrança a professora Zilma Porpino, filha do ex-prefeito Maximino Porpino da Silva. Foi comerciante por longos anos na esquina da Av. Barão do Rio Branco com a Rua Maximino Porpino, loja Renascença, de propriedade do Sr. Inácio Koury Gabriel, onde presenciava e ouvia muitas histórias da Nêga Antônia, que diziam se transformava em Matinta Pereira, saia nas noites suburbanas assobiando e assustando crianças e adultos, ela era mãe do Vitalino, que derrubava as mangueiras, pago pela Prefeitura. Ouvia histórias da Chica Cipó, que nos seus últimos dias perambulava pela cidade como uma mendiga, porém num passado não muito distante teria sido “namorada” de muita gente “boa” de Castanhal. Como ele mesmo diz: “ouvi histórias de muita gente, histórias que ficaram perdidas no passado.” Consultado sobre sua opinião acerca da modernização de Castanhal, Leocádio disse: “Rapaz! Sou a favor da modernização, mas em minha opinião o Prefeito Almir Lima devia ter deixado um trecho de trilhos – um pedaço da estrada de ferro – compreendido entre a Estação de Castanhal até o Apeú, para servir de turismo. Quem nunca andou de trem, teria a oportunidade para usufruir de uma fantástica viagem. Castanhal ganharia dinheiro, e ainda manteria a construção da obra.” Castanhal e suas raízes - Evolução de uma Cidade 58 Capítulo XI Aconteceu... Eles me contaram Uma Bela História de Amor Por Nadir Silva de Magalhães Pereira A década era de 1940, Nadir estava na flor da idade com seus 20 anos, uma moça linda, estudante do Colégio Santa Catarina, em Belém, onde era muito querida no meio dos amigos e professores. Natural de Castanhal, Nadir tinha muitos pretendentes (teria o rapaz que quisesse) querendo lhe namorar, em especial um rapaz de nome Miranda Conor, que além de amigo era muito apaixonado por ela. Filha do então Prefeito de Castanhal naqueles anos 40 (1943 - 1944) o Sr. Francisco Alves de Magalhães, Nadir buscava de vez em quando o gabinete do seu pai e também as Secretarias da Prefeitura Municipal de Castanhal, para aprender os ofícios do trabalho, ir se adaptando como ela mesma diz. Com sua beleza feminina conquistou muitos corações na cidade daquela época, mas ela prefere falar somente da pessoa mais especial na sua vida, como ela narra, a seguir: Meu filho. Vou lhe contar como aconteceu o meu primeiro encontro com o grande amor de minha vida... Muitos jovens se aproximavam de mim para namorar, mas eu não via nada de interessante neles para um namoro mais sério, compreende? Eu não sentia no meu coração aquele desejo de iniciar namoro com nenhum deles... E por fim acabavam mesmo se tornando meus grandes amigos. Mas num dia, num belo dia e muito especial, o meu coração foi finalmente conquistado. Aconteceu que não houve aula para mim Hugo Luiz de Souza 59 e pensando no meu aprendizado na Prefeitura viajei imediatamente para Castanhal e quando desci do trem logo avistei aquele rapaz lindo desembarcando umas malas, ele também me olhou e logo fez disparar o meu coração. Ficamos por uns segundos nos fitando dire- tamente nos olhos, enquanto a paixão tomava conta de nossos cora- ções (risos)... Daquele dia em diante, o coração daquela jovem, que brin- cava sem querer com os corações dos rapazes castanhalenses, foi fisgado pelo também jovem rapaz chamado Walder que morava naquela época em Jambuaçu. ... Ele trabalhava no trem como carregador, era um rapaz pobre, bonito e muito inteligente. Passado alguns dias, estávamos conversando o Walder, o Miranda e eu, quando ele me perguntou: Você gosta de receber cartas? Eu lhe respondi: Adooooro. A partir daquele momento fomos um só, e o meu coração foi só felicidade. Ele foi um marido maravilhoso e me fez muito feliz. Sou uma mulher muito feliz. A protagonista desta linda história de amor é Dona Nadir Silva de Magalhães Pereira, que relatou a mim (autor) sua bela história e narra sempre com o mesmo entusiasmo quando o assunto é o grande amor de sua vida: o seu marido. Dona Nadir, como é carinhosamente conhecida e chamada por todos os seus amigos, nasceu em Castanhal, no dia 07 de Outubro de 1927, casou em 1949 aos 22 anos com Walder Pereira. Dessa união nasceram os seus sete filhos: Eliana Barriga, Cândida, Antônio de Pádua, Francisco Neto, Walder Filho, Iolanda e Walber. Dedicou parte de sua vida à formação dos filhos e hoje com muito orgulho ela diz: formei
Compartilhar