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1 Lara Mendonça P6 1. Compreender o TOC (definição, epidemiologia, diagnóstico, tratamento e quadro clínico); O TOC é caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões. Obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciados como intrusivos e indesejados, enquanto compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que um indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente. Alguns outros transtornos obsessivo-compulsivos e transtornos relacionados também são caracterizados por preocupações e por comportamentos repetitivos ou atos mentais em resposta a preocupações. Outros transtornos obsessivo-compulsivos e transtornos relacionados são caracterizados principalmente por comportamentos repetitivos recorrentes focados no corpo (p. ex., arrancar os cabelos, beliscar a pele) e tentativas repetidas de reduzi-los ou pará- los. Embora o conteúdo específico das obsessões e compulsões varie entre os indivíduos, certas dimensões dos sintomas são comuns no TOC, incluindo as de limpeza (obsessões por contaminação e compulsões por limpeza); simetria (obsessões por simetria e compulsões de repetição, organização e contagem); pensamentos proibidos ou tabus (p. ex., obsessões agressivas, sexuais e religiosas e compulsões relacionadas); e ferimentos (p. ex., medo de ferir a si mesmo ou aos outros e compulsões de verificação relacionadas). O especificador de TOC relacionado a tique é usado quando um indivíduo tem um transtorno de tique atual ou uma história passada. Epidemiologia Entre adultos, homens e mulheres são igualmente afetados, mas, entre adolescentes, os meninos costumam ser mais afetados do que as garotas. A idade média de início é por volta dos 20 anos. Em geral, os sintomas de cerca de dois terços das pessoas afetadas têm início antes dos 25 anos, e os sintomas de menos de 15% tem início depois dos 35 anos. Questões Diagnósticas Relativas à Cultura O TOC ocorre em todo o mundo. Existem semelhanças substanciais entre as culturas na distribuição por gênero, idade de início e comorbidade do transtorno. Além do mais, em todo o globo existe uma estrutura de sintomas similar envolvendo limpeza, simetria, acúmulo, pensamentos tabus ou medo de danos. No entanto, existem variações regionais na expressão dos sintomas, e os fatores culturais podem moldar o conteúdo das obsessões e compulsões. Questões Diagnósticas Relativas ao Gênero O sexo masculino tem idade de início mais precoce de TOC do que o feminino, além de maior probabilidade de ter transtornos de tique comórbidos. Diferenças de gênero no padrão das dimensões dos sintomas foram relatadas, por exemplo, com o sexo feminino tendo maior probabilidade de apresentar sintomas na dimensão da limpeza, e o masculino, nas dimensões dos pensamentos proibidos e de simetria. O início ou a exacerbação do TOC, assim como os sintomas que podem interferir na relação mãe-bebê (p. ex., obsessões agressivas levando à esquiva do bebê), foram relatados no período do periparto. Pensamentos suicidas ocorrem em pelo menos metade dos pacientes diagnosticados com TOC. O TOC está associado a uma qualidade de vida reduzida, assim como a altos níveis de prejuízo social e profissional. O prejuízo ocorre em muitos domínios diferentes da vida e está associado à gravidade do sintoma. Pode ser causado pelo tempo despendido em obsessões e executando compulsões. A esquiva de situações que podem desencadear as obsessões ou compulsões também pode restringir gravemente o funcionamento. Critérios diagnósticos A. Presença de obsessões, compulsões ou ambas: Obsessões são definidas por (1) e (2): 1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento. 2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. As compulsões são definidas por (1) e (2): 1. Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em 2 Lara Mendonça P6 resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. 2. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos. Nota: Crianças pequenas podem não ser capazes de enunciar os objetivos desses comportamentos ou atos mentais. B. As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. D. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental (p. ex., preocupações excessivas, como no transtorno de ansiedade generalizada; preocupação com a aparência, como no transtorno dismórfico corporal; dificuldade de descartar ou se desfazer de pertences, como no transtorno de acumulação; arrancar os cabelos, como na tricotilomania [transtorno de arrancar o cabelo]; beliscar a pele, como no transtorno de escoriação [skin-picking]; estereotipias, como no transtorno de movimento estereotipado; comportamento alimentar ritualizado, como nos transtornos alimentares; preocupação com substâncias ou jogo, como nos transtornos relacionados a substâncias e transtornos aditivos; preocupação com ter uma doença, como no transtorno de ansiedade de doença; impulsos ou fantasias sexuais, como nos transtornos parafílicos; impulsos, como nos transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta; ruminações de culpa, como no transtorno depressivo maior; inserção de pensamento ou preocupações delirantes, como nos transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos; ou padrões repetitivos de comportamento, como no transtorno do espectro autista). Especificar se: Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são definitivas ou provavelmente não verdadeiras ou que podem ou não ser verdadeiras. Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são provavelmente verdadeiras. Com insight ausente/crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido de que as crenças do transtorno obsessivo- compulsivo são verdadeiras. Especificar se: Relacionado a tique: O indivíduo tem história atual ou passada de um transtorno de tique. Tratamento O tratamento do TOC pode ser feito com recursos farmacológicos e psicoterápicos. Atualmente, existe consenso de que os melhores resultados são obtidos com essa combinação de recursos. Quando o quadro clínico tem intensidade leve, podemos tentar tratar o paciente apenas com terapiacognitiva-comportamental, deixando o medicamento para momento de maior gravidade dos sintomas. Quando o quadro clínico apresenta gravidade maior, existe a necessidade de tratamento com alguns dos medicamentos indicados, facilitando a programação terapêutica. Alguns pacientes recusam medicamentos, outros não aceitam a psicoterapia; por isso, é importante que o profissional conheça bem todas as possibilidades de abordagem terapêutica, para estar sempre apto a discutir e oferecer aos doentes e a seus familiares as mais diferentes intervenções terapêuticas estudadas. Dentro das possibilidades terapêuticas atuais, obtém-se melhora substancial da sintomatologia em pelo menos 60% dos pacientes com TOC (Jenike, 1998a; Goodman et al., 1990). Tal resultado deve-se ao refinamento das técnicas comportamentais e cognitivas, além do desenvolvimento de medicamentos com perfil farmacológico favorável e com ação antiobsessiva mais específica. No entanto, sempre existirá espaço para novas técnicas e abordagens, tanto psicoterápicas como farmacológicas, pois, como veremos a seguir, para certo grupo de pacientes a melhora ainda constitui objetivo a ser alcançado. Farmacoterapia Os efeitos iniciais costumam ser visto após 4 a 6 semanas de tratamento, apesar de 8 a 16 semanas normalmente serem necessárias para se obter máximo benefício terapêutico. A abordagem padrão é iniciar o tratamento com um ISRS ou clomipramina e depois passar a outras 3 Lara Mendonça P6 estratégias farmacológicas se as drogas serotoninérgicas não forem efetivas. As drogas serotoninérgicas aumentaram a porcentagem de pacientes com TOC que tendem a responder melhor ao tratamento com um índice de 50 a 70%. ISRS: Fluoxetina, fluvoxamina, sertralina, paroxetina, citalopram. Se o tratamento com clomipramina ou com ISRS não obtiver sucesso, muitos terapeutas aumentam a primeira dose com a adição de valproato, lítio ou carbamazepina. A adição de um antipsicótico atípico, como risperidona, ajudou em alguns casos. Estimulação cerebral profunda (ECP) 2- ENTENDER TEA (DEFINIÇÃO, CARACTERÍSTICAS, DIANÓSTICO, TRATAMENTO E PROGNÓSTICO); Antes conhecido por transtornos globais do desenvolvimento, é um grupo de síndromes neuroevolutivas, caracterizada por problemas de comunicação social e por comportamentos restritos e repetitivos. Antes do desenvolvimento do DSM-5, o conceito de TEA, envolvia 5 transtornos distintos, incluindo transtornos do autismo, de Asperger, desintegrativo da infância, síndrome de RETT e transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação. O TEA era caracterizado pela presença de três domínios: comunicação social, comportamentos restritos e repetitivos e desenvolvimento e uso de linguagem aberrante. Critérios diagnósticos A. Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto): 1. Déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais. 2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. 3. Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto): 1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). 2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). 3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). 4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento). C. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as 4 Lara Mendonça P6 capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida). D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente. E. Essas perturbações não são mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento. Deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista costumam ser comórbidos; para fazer o diagnóstico da comorbidades. Prognósticos Os melhores fatores prognósticos estabelecidos para as evoluções individuais no transtorno do espectro autista são presença ou ausência de deficiência intelectual e comprometimento da linguagem associados (p. ex., linguagem funcional por volta dos 5 anos de idade é um sinal de bom prognóstico), bem como outros problemas de saúde mental. Epilepsia, como um diagnóstico de comorbidade, está associada a maior deficiência intelectual e menor capacidade verbal. Ambientais. Uma gama de fatores de risco inespecíficos, como idade parental avançada, baixo peso ao nascer ou exposição fetal a ácido valproico, pode contribuir para o risco de transtorno do espectro autista. Genéticos e fisiológicos. Estimativas de herdabilidade para o transtorno do espectro autista variam de 37% até mais de 90%, com base em taxas de concordância entre gêmeos. Atualmente, até 15% dos casos de transtorno do espectro autista parecem estar associados a uma mutação genética conhecida, com diferentes variações no número de cópias de novo ou mutações de novo em genes específicos associados ao transtorno em diferentes famílias. No entanto, mesmo quando um transtorno do espectro autista está associado a uma mutação genética conhecida, não parece haver penetrância completa. O risco para o restante dos casos parece ser poligênico, possivelmente com centenas de loci genéticos fazendo contribuições relativamente pequenas. Tratamento O tratamento de TEA écomplexo, multidisciplinar e individualizado. Seu objetivo é aprimorar a comunicação, linguagem e interação social do paciente, somado a mudanças de conduta e de aspectos cognitivos, possibilitando assim melhor qualidade de vida, assim como maior independência. A equipe multidisciplinar engloba diversos profissionais da saúde como neuropediatra, psiquiatra infantil, fonoaudiólogo, psicopedagogo, terapeuta ocupacional, musicoterapeuta e outros. Não existe um tratamento farmacológico específico para o TEA, devendo ser individualizado e direcionado às comorbidades e sintomas, se presentes e se necessários.
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