Prévia do material em texto
Geovana Sanches, TXXIV DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA GOLD Assim como o GINA se reúne para discussões acerca da asma, temos o GOLD para DPOC: iniciativa global pra a doença pulmonar obstrutiva crônica, o qual é um grupo multicêntrico que realiza atualizações anuais acerca desse tema. EPIDEMIOLOGIA A epidemiologia do DPOC é muito variável no mundo. O projeto platino determinou a prevalência da doença na América Latina, considerando pessoas acima de 40 anos, com VEF1/CVF < 0,7 (obstrução). • São Paulo: prevalência de 15,8% o 18% nos homens o 14% nas mulheres • Santigo e Montevideo: altas taxas o Considerar índice de tabagismo, hábitos da população, qualidade do ar... DENIFIÇÃO O DPOC pode ser definido por diversos parâmetros, como por critérios clínicos, fisiológicos, anatomopatológicos, entre outros. É uma doença comum e prevenível, tendo em vista que as causas são conhecidas e passíveis de remoção. Possui tratamento, porém sem cura após sua instalação. É causada por gases e partículas nocivas que levam a anormalidades irreversíveis na via aérea e/ou nos alvéolos (parênquima pulmonar). Cursa com limitação ao fluxo aéreo e sintomas persistentes. Alguns pacientes podem desenvolver enfisema genético, mas isso corresponde a menos de 5% dos pacientes acometidos. Nesses casos, a doença é desencadeada pelo déficit de alfa-1- antitripsina. FATORES DE RISCO • Tabagismo o Responsável por quase 90% de todos os casos de DPOC. • Ambiental o Contato com fogão a lenha principalmente • Ocupacional o Fábricas, indústrias, queima de combustível, poluição... Cigarro eletrônico Durante as décadas em 40 e 50, houve um aumento gritante no número de fumantes, cujas consequências foram colhidas nas décadas de 80 e 90 com um grande número de pacientes com DPOC. Foram realizadas diversas medidas contra o tabagismo nos anos 2000 e houve uma redução importante no número de tabagistas no mundo, especialmente no Brasil. Assim, esperava-se uma redução na prevalência de doenças relacionadas ao cigarro, mas surgiram novas modalidades de fumo, como o cigarro eletrônico. Ele é vendido e comercializado como menos maléfico que o cigarro tradicional, todavia isso não é uma realidade. Assim, atualmente vemos pacientes relativamente jovens com DPOC, o que se enquadra no EVALI (síndrome do cigarro eletrônico). Narguilé Além do aumento no uso de cigarro eletrônico, os narguilés também se tornaram muito prevalentes, sendo que cerca de 100 milhões de indivíduos fazem uso recreativo no mundo. Fumaça cigarro tradicional x narguilé Uma única sessão de narguilé equivale a exposição ao volume de fumaça de 100 a 200 cigarros. E a maioria dos indivíduos não se expõe apenas a uma sessão... 0 5 10 15 20 25 30 35 40-49 50-59 60 ou > 60 São Paulo Santiago Chile Cidade do México Montevideo Caracas Geovana Sanches, TXXIV Fora à exposição a fumaça e o comprometimento pulmonar, o narguilé apresenta outro problema: é comum que haja compartilhamento da mesma piteira, o que aumenta o risco de contrair diversas doenças infecto contagiosas: • Influenza • Herpes labial • Tuberculose (associação sugestiva) • Hepatite C (sem associação positiva) FISIOPATOLOGIA Ao compararmos um brônquio normal com o afetado pela doença, verificamos que o brônquio fica espesso e perde sua estrutura anatômica em decorrência do processo inflamatório e acúmulo de secreções. Além disso, há desestruturação dos alvéolos a partir do rompimento dos septos alveolares, o que origina o enfisema. Assim, o paciente com DPOC cursa com manifestações de bronquite crônica e enfisema. Com o DPOC instalado, há hiperinsuflação do paciente, o qual cursa com dispneia. Além disso, há exacerbações quando há acúmulo ainda maior de ar. Cria-se um ciclo com destruição cada vez maior do pulmão, o que faz com que o paciente sofra limitações, diminuindo a capacidade de exercício e baixando muito a qualidade de vida relacionada à saúde. Com a progressão da doença, o indivíduo fica sem força ou folego para realizar qualquer atividade, permanecendo com dispneia de repouso. ESPIROMETRIA Normal Pacientes sem alterações respiram apenas o volume corrente, mas possuem capacidade a capacidade de reserva inspiratória e expiratória. Pacientes com DPOC Os indivíduos com DPOC podem até ter força para assoprar, mas o fluxo de ar tem dificuldades para sair devido a obstrução da via aérea. Com isso, há uma demora maior para a saída do ar. O volume corrente é parecido com o de indivíduos normais, mas em situação de esforço, a capacidade de reserva inspiratória e expiratória é muito menor, de forma que o paciente não consegue acompanhar a demanda do organismo e cursa com dispneia. QUADRO CLÍNICO As exposições aos fatores de piora (tabagismo, ambientais e ocupacionais) podem continuar mesmo após a instalação da doença, o que piorará o quadro. Com isso, ele pode apresentar exacerbações, com crises frente a um quadro que já está previamente ruim. Geovana Sanches, TXXIV As comorbidades, tanto causadas pelo próprio tabagismo, quanto outras, geram uma limitação e perda de qualidade de vida ainda maior para esses pacientes. O quadro clínico característico inclui dispneia progressiva, inicialmente aos esforços e com a progressão da doença, ao repouso; tosse crônica; e expectoração. Há dois extremos para caracterização dos pacientes – pink puffer e blue bloatter – mas, na maioria dos casos, os pacientes apresentam quadro clínico com mistura de ambos os fenótipos. Enfisema (Pink Puffer: soprador róseo) • Assintomático ou com sintomas • Rosado • Dispneia progressiva • Tórax em tonel o Decorrente da hiperinsuflação • Murmúrio vesicular diminuído • Tempo expiratório prolongado • Uso de musculatura acessória • Tiragem • Emagrecimento o Perda de peso decorrente da deficiência de troca gasosa à maior gasto energético para a respiração • Normalmente respira “soprando” Bronquite (blue bloatter: inchado azul) • Tosse produtiva • Dispneia • Cianose • Sibilos/estertores • Cor pulmonale: o Devido as alterações brônquicas, o paciente tem alterações vasculares dentro do pulmão, levando à hipertensão pulmonar e consequente sobrecarga no coração, principalmente em câmera direita. • Pouca perda de peso e em decorrência do cor pulmonale, pode-se apresentar edemaciado. EXAME RADIOLÓGICO No exame radiológico, nota-se sinais de hiperinsuflação, com coloração mais transparente (remete a maior quantidade de ar no interior do pulmão). Além disso, o tórax aparece mais comprido (aumento do diâmetro ântero- posterior), com espaços intercostais alargados, assim como o mediastino. O coração fica afilado e é denominado coração em gota. As cúpulas diafragmáticas ficam retificadas e abauladas para baixo. ESPIROMETRIA Na espirometria, verifica-se alterações compatíveis com obstrução à relação VEF1/CVF muito abaixo do LIN. Além disso, não há resposta broncodilatadora, tendo em vista que se trata de uma alteração fixa na estrutura anatômica. Caso seja verificada uma resposta bronco- dilatadora positiva, podemos pensar que há alguma condição associada, ou seja, não se trata de uma DPOC pura. Geovana Sanches, TXXIV Normal Pacientes sem alterações respiram apenas o volume corrente, mas possuem capacidade a capacidade de reserva inspiratória e expiratória. Pacientes com DPOC Os indivíduos com DPOC podem até ter força para assoprar, mas o fluxo de ar tem dificuldades para sair devido a obstrução da via aérea. Com isso, há uma demora maior para a saída do ar. O volume corrente é parecido com o de indivíduos normais, mas em situação de esforço, a capacidade de reserva inspiratória e expiratória é muito menor, de forma que o paciente não consegue acompanhar a demanda do organismo e cursa comdispneia. EXACERBAÇÃO AGUDA • Piora da dispneia • Aumento da secreção • Alteração da coloração da secreção Caso o paciente apresente pelo menos duas das alterações, já é indicativo de exacerbação aguda. As causas mais comuns que atuam como deflagradores desse quadro são: infecções virais (principal) ou bacterianas secundárias; pneumotórax; TEP; descompensação cardíaca; deterioração da própria doença. DIAGNÓSTICO Diferentemente da asma, o diagnóstico de DPOC não é apenas clínico. Junto à história clínica, na qual normalmente encontramos fator de exposição, é necessário realizar espirometria, a qual é mandatória no diagnóstico. A obstrução é confirmada caso a relação VEF1/CVF esteja < 0,7 pós BD. Vale lembrar que pacientes que apresentam melhora com resposta broncodilatadora não apresentam DPOC pura. A partir da confirmação do diagnóstico, classifica-se o DPOC de acordo com os estágios GOLD, o qual leva em consideração o VEF1 pré- broncodilatador (tendo em vista que já afastamos a probabilidade de resposta antes dessa etapa). É importante não confundir os estágios GOLD com as classificações do distúrbio obstrutivo utilizadas na análise da espirometria. CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DO PACIENTE Além da classificação do paciente de acordo com os critérios acima mencionadas, temos que avaliar o paciente do ponto de vista clínico. Fenótipo exacerbador Estudos demonstraram que 71% dos exacerbadores frequentes no ano 1 e 2 foram exacerbadores frequentes no ano 3. Ou seja, quanto mais exacerbações o paciente apresenta em um ano, maior a chance de apresentar mais exacerbações nos anos subsequentes. Escala de sintomas MRC A escala de sintomas MRC foi desenvolvida para classificar a dispneia em pacientes com DPOC, mas pode ser utilizada para classificação de dispneia provenientes de outras afecções. Geovana Sanches, TXXIV Os dois primeiros graus definem pacientes com poucos sintomas, enquanto os demais já apresentam um certo grau de limitação. Classificação GOLD A classificação GOLD clínica leva em consideração os sintomas do paciente associado as exacerbações por ele apresentadas. Deve ser utilizada para classificar todos os pacientes com DPOC. • A e B: pacientes que não têm ou tem apenas 1 exacerbação sem internação • C e D: pacientes que têm duas ou mais exacerbações ou 1 exacerbação grave que cursou com internação • Lado esquerdo (A e C): pacientes pouco sintomáticos (MRC 0 ou 1) • Lado direito (B e D): pacientes muito sintomáticos (MRC ≥ 2) A partir dessas variáveis, faremos as divisões e classificaremos os indivíduos em quatro grupos: A. Pouco sintomático e com pouca exacerbação B. Muito sintomático e com pouca exacerbação C. Pouco sintomático e com muita exacerbação D. Muito sintomático e com muita exacerbação Associadamente a letra, utilizaremos a classificação seguindo o VEF1, de forma que ao fim teremos, por exemplo: Gold 1A. TRATAMENTO De acordo com a classificação estabelecida pelos critérios GOLD, será definido o tratamento do paciente. A. Broncodilatador ocasional para melhora dos sintomas. B. LABA ou LAMA de uso fixo, a depender de qual for mais viável para o paciente. C. Preferencialmente LAMA de uso fixo: os estudos demonstraram que esse perfil de paciente apresenta melhor controle da doença com essa classe de medicamentos. D. Normalmente é um paciente cujo tratamento não é tão eficaz. Faz-se associação de drogas, sendo as principais opções: • LAMA o Antagonistas dos receptores de acetilcolina muscarínicos de ação longa (Long Acting Muscarinic Antagonist). Apesar de não abrirem a luz do brônquio, tornam-na um pouco mais maleável, diminuem a tensão e facilitam a passagem do ar. o Exemplo: Brometo de tiotrópio. • LAMA + LABA o Utilizado para pacientes muito sintomáticos o LABA= beta-2 agonistas de ação longa. § Exemplos: salmeterol e formoterol • ICS + LABA o O corticoide inalatório pode ser utilizado para casos em que há eosinófilos > 300 Corticoide inalatório O uso de corticoides deve ser realizado para pacientes com história de hospitalização por exacerbação de DPOC; ou 2 ou mais exacerbações moderadas ao ano; ou eosinófilos > 300 cels/uL; ou história prévia ou simultânea de asma. Considera-se o uso para pacientes com uma exacerbação moderada ao ano; ou eosinófilos entre 100 e 300 cels/uL. Há contraindicação para os pacientes que apresentam pneumonia de repetição; eosinófilos < 100 cels/uL; ou história de infecção por micobactéria. Tratamento medicamentoso: seguimento É importante lembrarmos que o DPOC, após instalação, não regride. Sendo assim, em todas as consultas cabe ao médico verificar se não Geovana Sanches, TXXIV houve evolução. A partir disso, avalia-se cada paciente individualmente para verificar se o medicamento será mantido, mudanças de dose ou alterações na medicação. Broncodilatadores podem ser utilizados pois, apesar de não ter resposta significativa, há uma pequena melhora e isso alivia um pouco o sintoma de falta de ar do paciente – ajuda ele a desinsuflar e aumenta a qualidade de vida. O Roflumilast, citado no tratamento das exacerbações, é um inibidor de fosfodiesterase 4, agindo na parede do brônquio. É utilizado para pacientes que não apresentam melhora com outros tratamentos e tem como principais efeitos colaterais gastrite e diarreia. Outra opção é a utilização de azitromicina contínua, 3x ao dia, por 1 a 2 anos diretamente. Apresenta efeito imunomodulador, podendo diminuir a inflamação brônquica. Para início desse tratamento, o paciente não pode ser tabagista. Tratamento não farmacológico • Mudanças no estilo de vida • Cessação do tabagismo Tabagismo e redução da função pulmonar Ø Há uma grande perda no VEF1 em pacientes fumantes. Ø Caso o indivíduo continue fumando após o desenvolvimento de DPOC, normalmente há óbito até os 70 anos. Ø A cessação do tabagismo não faz com que o paciente atinja os níveis de pacientes que nunca fumaram, mas há aumento na taxa de sobrevida Vacinação • Influenza o Para todos os pacientes o A maior causa de exacerbações são infecções virais, especialmente por Influenza. • Pneumococo o DPOC ≥ 65 anos o DPOC < 65 anos com VEF1 < 40% do predito Reabilitação O paciente com DPOC possui alterações estruturais sistêmicas, cursando com perda de massa óssea. Além disso, tendo em vista o acometimento em paciente mais idosos e que o paciente apresenta falta de ar com descondicionamento físico, há aumento ainda maior dessa perda de massa muscular. Sendo assim, é muito importante que ele faça reabilitação, visando o fortalecimento da musculatura, especialmente de braços e pernas. Além disso, é necessário ensinar ao paciente a respirar de acordo com sua condição vigente, melhorando todo o quadro clínico. Oxigenoterapia prolongada domiciliar (OPD) A oxigenoterapia aumenta a sobrevida dos pacientes com DPOC e está indicada para todo paciente que nos períodos de estabilidade clínica, apresente: • PaO2 < 55mmHg ou Saturação < 88% • PaO2 < 60mmHg ou Saturação < 89%, no portador de poliglobulina ou cor pulmonale Segundo o estudo apresentado, pacientes que utilizaram oxigênio tiveram redução sobre a menor sobrevida, ou seja, eles viveram por mais tempo. É recomendado que o paciente utilize a oxigenoterapia por no mínimo 15h ao dia.