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LACTENTE SIBILANTE Definição • Lactente sibilante também é conhecido como a Síndrome do bebê chiador. • Ocorrência de Sibilância no lactente (menor de 2 anos) > não basta ser apenas um episódio, já que pelo menos 50% dos lactentes menores de 2 anos terão pelo menos 1 episódio. • É necessário ter recorrência: o 3 ou mais episódios em 1 ano ou o Sibilância contínua com duração igual ou superior a 1 mês. • É bastante frequente > fatores anatômicos > menor calibre da via aérea, maior resistência ao fluxo aéreo e maior complacência da caixa torácica e inserção mais horizontalizada do diafragma; Quadro clínico • Normalmente a Sibilância acontece devido à infecção por agentes inalatórios virais > sobretudo RINOVÍRUS e VSR (Vírus Sincicial Respiratório); • Os pacientes abrem o quadro clínico com sintomas característicos de IVAS, como coriza, febre baixa e tosse; • Evoluem com desconforto respiratório e Sibilância ao exame físico > normalmente o quadro é autolimitado entre 7 a 10 dias de duração; • O problema está na recorrência, por isso é necessário o diagnóstico correto pelo médico e a observação para não recorrência. Fatores de risco • Identificar quais bebês que chiam e podem recorrer > são os que apresentam fatores de risco e precisam de maior atenção: o Sexo masculino; o Prematuros ou BPN (Baixo Peso ao Nascimento) > menor calibre da via aérea; o Uso de O2 neonatal; o História de atopia pessoal > principalmente dermatite atópica > aumento de IgA sérica também deve ser considerada como fator de risco nesse caso; o Se infecção por VSR no 1º ano de vida; o Aspiração alimentar ou DRGE; o Asma materna; o Tabagismo materno > diminui o calibre das vias aéreas. IMPORTANTE: mesmo que o lactente seja sibilante, a maioria não persiste com a sibilância até os 6 anos de vida. Apenas 30% dos sibilantes em idade escolar (5 a 10 anos) serão diagnosticados como asmáticos aos 6 anos de idade. O importante e necessário aqui é sabermos diagnosticar quais desses sibilantes possuem maiores chances de desenvolverem a asma futuramente. Para isso foram criados alguns escores, como serão apresentados abaixo: Índice preditivo de Asma (API) • 1 critério maior ou 2 critérios menores > risco de 4 a 10 vezes maior da criança ser diagnosticada com asma na idade escolar; • CRITÉRIOS MAIORES: o Um dos pais com asma; o Dermatite atópica. • CRITÉRIOS MENORES: o Rinite alérgica; o Sibilância não-viral; o Eosinofilia periférica maior ou igual a 4%. Índice preditivo de asma modificado (mAPI) • CRITÉRIOS MAIORES: acrescentou-se sensibilização a pelo menos 1 aeroalérgeno; • CRITÉRIOS MENORES: acrescentou-se sensibilização a leite, ovo ou amendoim (no lugar de rinite alérgica). Diagnóstico diferencial IMPORTANTE: nem tudo que chia é asma! • DRGE: pensar em criança que apresenta regurgitação e baixo ganho ponderal; • FIBROSE CÍSTICA: pensar em presença de uma criança com esteatorréia e/ou pneumonia de repetição, polipose nasal; • LARINGOMALÁCIA: quando ocorre estridor inspiratório (é um pouco semelhante à sibilância à ausculta, mas, é possível diferenciar); o Lembrete: a laringomalacia é definida como o distúrbio caracterizado pelo colapso das cartilagens laríngeas durante a inspiração, com obstrução da glote. Ela é a anomalia mais comum da laringe, bem como a causa mais frequente de estridor na criança. • CARDIOPATIA CONGÊNITA: quando a criança apresentar hipoxemia e sopro cardíaco, também associados ao baixo ganho ponderal. Tratamento • Após descartar os diagnósticos diferenciais; • Relacionado à infecção por vírus; • Tratar se estiver com os fatores de risco ou positividade nos fatores preditivos de asma; • É feito com corticoide inalatório, de acordo com os tratamentos dos asmáticos; • LEMBRAR: existem medidas profiláticas para esses casos e a mais importante é o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade > efeito protetor. ASMA Definição • É a doença pulmonar crônica mais comum na infância; • Doença inflamatória crônica que se manifesta por sintomas respiratórios, como tosse, falta de ar, compressão torácica e presença de sibilos na ausculta pulmonar; • Limitação variável ao fluxo respiratório que se resolve espontaneamente ou após o tratamento; • HIPERRESPONSIVIDADE DA VIA AÉREA! • Espirometria > para diagnosticar > depende da colaboração do paciente > normalmente consegue ser realizado para pacientes após os 6 anos de vida > DVO (distúrbio ventilatório obstrutivo) com resposta ao broncodilatador; • No asmático a espirometria pode ser normal entre as crises de asma; • Criança menor que 6 anos > não colabora com a espirometria > lançar mão da avaliação clínica com quadro clínico sugestivo e fazer o diagnóstico de suspeição de asma > verificar se a possibilidade é grande. Quadro clínico e diagnóstico • Crises asmáticas ao realizar exercícios, exposição a alérgenos, vírus respiratórios, mudança do tempo, exposição a fumaça e perfumes; • Evolução para sintomas respiratórios com sibilância; • Melhora com tratamento com beta2-agonista de curta duração (broncodilatador); • Atopias: o Paciente com dermatite atópica e rinite também pode sibilar por ser asmático; o Se for identificada a sensibilização por aeroalérgenos com dosagem de IgE no sangue ou se a eosinofilia for maior ou igual a 4%, ajuda a compor o quadro clínico do paciente asmático. • Todos esses exames ajudam a chegar muito perto de uma confirmação de asma, mesmo sem o exame espirométrico. Seguimento • É necessário avaliar continuamente a presença de fatores de risco de desfechos desfavoráveis no futuro, como internações em UTI, presença de comorbidades ou usar muito beta2 de curta duração > tudo isso indica que estou na presença de uma asma mais grave > talvez seja necessário um controle mais elevado para a doença; • Sempre avaliar a técnica inalatória com o dispositivo inalatório; • Tratar comorbidades como a rinite alérgica, adequadamente; • Feito o diagnóstico, uma parte importante do seguimento é a avaliação do controle clínico da asma > frequência dos sintomas nas 4 últimas semanas do paciente; Tratamento de manutenção • Tratamento base para a asma em crianças menores de 11 anos é feito através do uso de corticoide inalatório; • Nas crises, o tratamento é feito com beta2 de curta duração; • Alternativas: o Antagonista do leucotrieno: montelucaste de sódio > mais utilizado em crianças acima de 2 anos de idade que apresentam outras atopias, como a dermatite atópica. Também tem bom resultado quando o paciente apresenta uma asma persistente leve que é induzida por exercícios; o Beta2-agonista de longa duração: pode ser utilizado principalmente para crianças acima dos 5 anos de idade, sempre associado ao corticoide inalatório; o Tiotrópio (anticolinérgico de longa duração): utilizado também no Brasil para crianças maiores de 6 anos de idade. Estratificação em etapas para o tratamento: tratamento muda de acordo com a faixa etária: 6 a 11 anos de idade: • ETAPA 1: quando a criança só possui sintomas ocasionais e os sintomas já se resolvem com beta2 de curta duração, sem despertar noturno e função pulmonar normal > UTILIZAR apenas broncodilatador de curta duração NAS CRISES; • ETAPA 2: um pouco mais de sintomas ou maior frequência deles. É a etapa onde se encontram a maior parte dos pacientes. UTILIZAR corticoide inalatório em baixa dose OU Antileucotrieno como alternativa para aqueles pacientes com atopia ou asma persistente leve desencadeada por exercícios; • ETAPA 3: dose média de corticoide inalatório OU dose baixa de corticoide inalatório + associação com beta2 de longa duração. OU ainda: associar corticoide em baixa dose + associação com antileucotrieno. Os pacientes que entram nessa etapa são aqueles com crises mais graves ou muito frequentes; • ETAPA 4: corticoide inalatório de média dose + associação com beta2 de longa duração(ou com antileucotrieno) OU corticoide em alta dose (não muito recomendado) OU adicionar o tiotrópio em qualquer uma dessas combinações. Os pacientes nessa etapa são aqueles com crises muito graves ou sem melhora na etapa anterior. • ETAPA 5: Adicionar IgE. A opção também é adicionar corticoide oral em baixa dose OU anti-IL5 A partir dos 12 anos de idade (GINA 2019): • ETAPA 1: começar já com o uso do corticoide inalatório em baixa dose + beta2 de longa duração nas crises (precisa ser o formoterol, que é o que apresenta melhor resultado); • ETAPA 2: corticoide em baixa dose + associação com beta2 de longa em crises para a maioria dos pacientes OU antileucotrieno isolado (não muito recomendado) para casos de atopia ou asma leve persistente desencadeada por exercícios físicos; • ETAPA 3: corticoide em baixa dose + beta2 de longa duração OU corticoide de média dose OU de baixa dose + associação com antileucotrieno. Nesse caso é para as crises mais graves; • ETAPA 4: corticoide em dose média para alta + associação com beta2 de longa ou antileucotrieno e pode-se associar também tiotrópio nas duas combinações. Indicada para crises muito graves ou sem melhora na etapa anterior. • ETAPA 5: encaminha ao pneumologista pediátrico. Corticoide inalatório em alta dose + beta2 de lnga E/OU adicionar anti- IgE, anti-IL5 ou anti-IL4. Opção: adicionar corticoide oral em baixa dose. • Se não houve controle dos sintomas, existem três principais causas que devem ser observadas: o Técnica inalatória inadequada: é necessário utilizar espaçador com máscara para fazer a bombinha até os 4 a 5 anos. Após pode-se tirar a máscara, mas, precisa-se manter o espaçador para fazer a aplicação do corticoide inalatório. A não ser que seja aplicação por dispositivo de pó seco; o Má aderência ao tratamento; o Diagnóstico incorreto • Avaliar o paciente a cada 2 a 3 meses para verificar se mantém o tratamento, se desce ou sobe etapas. Exacerbação asmática = crise de asma Definição • Aumento progressivo dos sintomas respiratórios, com sibilância, e as vezes acompanhada de declínio do VEF1 ou PFE (se tiver essas medidas disponíveis); • Desencadeantes: vírus, alérgenos/irritantes ou má aderência aos tratamentos de controle da asma; • Cada tipo de crise tem uma forma de tratamento, de acordo com a classificação: Tratamento CRISE LEVE: • Broncodilatador de curta duração inalatório (salbutamol ou fenoterol): o 3 ciclos de 20 em 20 minutos; • Não tem necessidade de corticoide inalatório. • Após os 3 ciclos: o Paciente melhorou: alta com beta2 de curta por 5 dias (4 jatos 6/6 horas); o Se piorar: tratar como crise moderada. • Preferência para o uso da bombinha com uso do espaçador e uso da máscara para crianças menores de 5 anos de idade; • Técnica: sacudir a bombinha, acoplar no espaçador, apertar e contar até 10; se a criança tiver mais de 5 anos, lembrar de tirar a máscara e pedir para que ela inale bem. CRISE MODERADA • Além do beta 2 de curta, é necessário associar ipratrópio inalatório (potencializa o beta2 e tem efeito de broncodilatação e redução de secreção > principal benefício é reduzir a necessidade de internação); o 3 ciclos de 20/20 minutos. • Necessário associar corticoide VO nesse caso; • Paciente melhorou: alta com beta2 de curta duração por 5 a 7 dias e corticoide VO (prednisolona) por 3 a 5 dias; • Se piorar: tratar como grave; • Corticoide VO: mesma eficácia de IV. Deixar IV apenas se o paciente tiver muita dispneia, náuseas e muitos vômitos; CRISE GRAVE: • Beta2 de curta com ipratrópio + corticoide IV (já que o paciente está dispneico); o 3 ciclos de 20/20 minutos; • Necessária a oxigenoterapia: VNI (preferência e só para quem tem bom nível de consciência) ou IOT (para pacientes com queda de consciência, apneia, hipercapnia ou fadiga respiratória); • Se melhorar: alta com beta2 de curta por 7 dias e predinisolona por 3 a 5 dias; • Se não melhorar, tratar como quase fatal, utilizar: o O mesmo tratamento para grave, mais os fármacos abaixo; o Sulfato de magnésio IV (sempre em crianças acima de 2 anos e pode levar a hipotensão e hiperMg) ou o Beta2 EV (pode levar a taquicardia e HipoK) ou o Aminofilina IV (raramente utilizada, já que tem risco de toxicidade). • Sempre manejar em UTI nesses casos. • Se ainda assim o paciente não melhorar: IOT e manutenção na UTI; • Considerar Rx de tórax se há suspeita de complicações respiratórias. FIBROSE CÍSTICA Características e definição • Doença genética sistêmica autossômica recessiva, mais comum em caucasianos; • Acontece devido à mutação do gene CFTR, localizado no braço longo do cromossomo 7 que codifica uma proteína transmembrana que é chamada de regulador de condutância transmembrana da fibrose cística > que é um canal de cloro; • Existem mais de 2000 mutações no gene CFTR, mas, a mais comum que acontece em 68% dos casos mundiais, é a F508del > deleção de 3 nucleotídeos > leva à deleção de um resíduo da fenilalanina na posição 508 da proteína; • CFTR: o Canal de cloro presente em todas as células epiteliais; o Regulado pelo AMPc e também atua como regulador de outros canais; o Normalmente, em paciente sem fibrose cística, há a secreção de cloro para a luz do ducto por meio do CFTR e induz a secreção de Na, e consequentemente água, favorecendo a fluidificação das secreções, de forma geral; o Na fibrose cística: mutação do CFTR > não secreção do cloro > maior a reabsorção de sódio > água retida > secreções espessas em todos os órgãos > pulmões, pâncreas exócrino, sistema reprodutor e sistema hepatobiliar; Teste do pezinho • Triagem através da dosagem do IRT (tripsinogênio imunorreativo): marcador indireto de dano pancreático > ele reflui para a circulação quando temos obstrução pancreática. Na fibrose cística essa obstrução é precoce, no período fetal, por isso é possível fazer o teste de triagem. • É feito em torno de 3 a 5 dias de vida > alta sensibilidade e baixa especificidade, ou seja, quando tenho o primeiro IRT alterado (elevado), preciso dosar novamente até no máximo 4 semanas de vida. Se o segundo estiver alterado, então temos maior risco de o paciente apresentar fibrose cística. Faz-se então o teste do cloro no suor; Teste do cloro no suor • Função do canal de cloro na célula ductal sudorípara: aqui é o inverso, o CFTR reabsorve o cloro (que está na secreção e é levado para dentro da célula) > com isso, temos a reabsorção de sódio e água por outros canais > com isso nós evitamos a desidratação por evitar a perda excessiva de água > faz sentido o canal ser invertido nesse caso; • Na fibrose cística esses canais nas células sudoríparas não funcionam corretamente, então temos perda de sódio, de cloro e de água no suor > “suor salgado” > risco de desidratação, principalmente no lactente. • Positivo: quando temos Cl maior que 60 mmol/L; • Duvidoso: entre 30 e 60 mmol/L (para lactentes. Para crianças considera-se o corte em 40 mmol/L); • Normal: quando o Cl está menor que 30 mmol/L (para crianças considera-se acima de 40 mmol/L); • O teste do cloro é o padrão ouro e é feito através da iontoforese depois do estimulo da pilocarpina. Diagnóstico • Se houver 2 testes no suor positivos ou se houver mutação no gene CFTR em ambos os alelos (qualquer uma entre as 2 mil mutações); IMPORTANTE: cuidado com o íleo meconial (que se manifesta por distenção abdominal e vômitos biliosos e o RN não tem a eliminação do mecônio) > é uma causa importante do resultado falso negativo do IRT. Ou seja, se o paciente com íleo meconial fez o teste do pezinho e deu normal, precisa encaminhar para fazer o teste do cloro no suor, já que o íleo meconial é uma das principais manifestações da fibrose cística, uma das mais precoces; Quadro clínico • Decorrente da alteração do canal de cloro; • Secreções espessas: trato respiratório, pâncreas exócrino, sistema hepatobiliar e reprodutormasculino (azoospermia obstrutiva = não tem os ductos deferentes formados, os espermatozoides ficam presos nos testículos); • Tríade: 1. Baixo ganho pondero-estatural; 2. Esteatorréia (síndrome disabsortiva); 3. PNM de repetição. Pulmonares • Secreção espessa > diminuição do clearance mucociliar > favorece a colonização bacteriana (são pacientes que se apresentam cronicamente colonizados) > principalmente H. influenzae, podendo evoluir com S. aureus e P. aeruginosa; • Todas essas bactérias levam à inflamação e infecção com lesão pulmonar, principalmente a P. aeruginosa que é muito patogênica; • No fim da vida, em casos mais graves, pode ocorrer a infecção por Burkholderia cepacia, com declínio rápido e acentuado da função pulmonar, com pior prognóstico. Inclusive depois de transplante pulmonar; • A inflamação crônica leva a formação de bronquiectasias, que são achados característicos na TC de tórax desses pacientes, além da perda da função pulmonar com distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO) grave; • No Rx de tórax, se o paciente é mais grave, encontramos espessamento brônquico e bronquiectasias (mas, não é muito comum em pacientes não muito graves). São identificadas principalmente nos ápices dos pulmões. • TC é possível uma visualização melhor das bronquiectasias (brônquios com diâmetros aumentados); • Também é possível visualizar na TC um aprisionamento aéreo (parênquima mais “preto”) em contraste com as áreas em cinza mais claro (menos densas, com parênquima normal); • Também é possível visualizar a presença de atelectasias (colapso pulmonar); • Bronquioloectasias: circuladas em laranja, que são impactações mucoides nos bronquíolos terminais. • O paciente com colonização pulmonar crônica evolui com períodos de exacerbação. Nesse período tem piora de tosse, aumento do escarro, queda do VEF1, pode cursar com sintomas sistêmicos, como anorexia e fadiga. Geralmente tem bactéria identificada no escarro > não necessariamente precisa-se ter agravamente do Rx de tórax; • Se ocorre a piora clínica, é necessário realizar o tratamento: direcionado para a colonização prévia do paciente > então é importante uma boa anamnese para que se saiba sobre colonizações anteriores. Exemplo: o Paciente colonizado por S. aureus e P. aeruginosa: internar e tratar com Oxacilina + Ceftazidima + Amicacina. TGI: • Comprometimento do pâncreas exócrino: síndrome disabsortiva > esteatorréia (fezes mal cheirosas, brilhosas e volumosas). Baixo ganho ponderal e menor absorção de vitaminas lipossolúveis. Pacientes muito desnutridos podem evoluir com hipotrofia de subcutâneo, muscular e prolapso retal; • Sistema hepatobiliar: elevação de transaminases hepáticas: TGO, TGP, GGT e FA e apresentação de hepatopatia como evolução, podendo chegar à cirrose (a minoria dos casos isso acontece); • Lembrar que em lactentes o risco de desidratação com hipoNa e alcalose metabólica hipoCl é maior: estão perdendo muito cloro, sódio e água no suor devido à mutação do CFTR > esse quadro acontece principalmente em dias quentes e na vigência de infecções como gastroenterocolite aguda, em que já ocorrem perdas naturalmente. Nesse quadro, recomenda-se a reposição de Na VO. Tratamento • Pulmonar: secreção em excesso > fisioterapia respiratória e orientação para atividade física regular para facilitar a liberação dessa secreção; o Medicamento para fluidificar a secreção: Dornase-alfa inalatória > quebra as pontes de DNA dos neutrófilos degenerados na secreção pulmonar, fluidificando a secreção. o Também pode-se utilizar inalação hipertônica (NaCl 7%): auxilia um pouco o clearence mucociliar. Fluidifica as secreções por meio da osmose > deve ser sempre usada com broncodilatador, já que a hipertonia pode causar broncoespasmo; o Pode ser necessário o uso de azitromicina 3x por semana, principalmente naqueles com colonização crônica por P. aeruginosa > atua como imunomodulador (não necessariamente como efeito antibiótico); o ATB inalatório: com o objetivo de tirar principalmente a P. aeruginosa da via aérea; o Oxigenoterapia: hipoxemia e hipertensão pulmonar > em casos de VEF1 menor que 30%, é necessária a indicação para transplante pulmonar. • TGI: o Indicar dieta hipercalórica e hiperproteica; o Precisa receber enzimas pancreáticas para que a alimentação seja digerida de forma adequada; o Reposição de vitaminas ADEK; o Se tiver quadro hepatobiliar: necessário o uso de Ursacol (esse fármaco contém como princípio ativo o ácido ursodesoxicólico, que é um ácido biliar fisiologicamente presente na bile humana, embora em quantidade limitada. O ácido ursodesoxicólico inibe a síntese hepática do colesterol e estimula a síntese de ácidos biliares, restabelecendo desta forma o equilíbrio entre eles); o Se mesmo com os tratamentos acima o paciente evoluir com perda ponderal, pode ser que seja necessária uma gastrostomia para melhorar a nutrição e função pulmonar. TUBERCULOSE NA INFÂNCIA Características e definição • Cerca de 10% dos casos de tuberculose no mundo acometem crianças menores de 15 anos de idade > 50 casos/100 mil crianças; • Geralmente a doença é decorrente da exposição domiciliar a um adulto bacilífero, por isso é importante investigar todos os contatos familiares; • Quando exposta, a criança apresenta maior risco de infecção e adoecimento. Crianças menores de 1 ano tem risco de 40% de adoecimento quando expostas contra 10 a 20% nas crianças maiores de 10 anos de idade; • A cada 10 crianças expostas > 3 a 4 já estarão com a infecção latente e 1 com a doença ativa; A apresentação da tuberculose na infância • Geralmente é pulmonar (85% dos casos); • Apenas 20% dos casos a baciloscopia é positiva (bastante inferior dos adultos, que é de 65%); • É paucibacilar na infância > produz menos exsudação, menos formação de cavernas e também há dificuldade de amostras de escarro nessa faixa etária > ou seja, a baciloscopia negativa na infância NÃO DESCARTA DIAGNÓSTICO DE TUBERCULOSE PULMONAR > geralmente vai mesmo ser negativa; • 15% extrapulmonar: o Mais comum é a linfoganglionar (65% dos casos); o 15% é meningoencefalite (neurotuberculose); o Causas menos frequentes: pleural e osteoarticular. Diagnóstico na infância • Lembrar que a baciloscopia não é o melhor exame nesse caso; • Levar em consideração então: o Exposição a adulto bacilífero; o Teste tuberculínico (PPD): se for reator (5 mm ou mais em 2 horas), significa que teve contato prévio com o bacilo da tuberculose. IMPORTANTE: independe do tempo de vacinação da BCG (mudou recentemente), então atualmente considera-se reator todos que tem 5 ou mais. o Quadro clínico compatível: ▪ Infecção respiratória que NÃO melhora com o tratamento habitual (como da pneumonia); ▪ Tosse persistente há mais de 15 dias com perda ponderal/baixo ganho, febre baixa por mais de 15 dias, linfadenomegalia, as vezes até esplenomegalia. ▪ Rx de tórax alterado: lobos superiores (que parecem pneumonia, mas, não melhoram com o tratamento). Geralmente acompanhada de adenomegalia hilar (pode ser tão grande, que comprime os brônquios, levando a atelectasia ou até mesmo enfisema) ou paratraqueal; o Escore de pontos: classifica se o risco é alto ou baixo e é baseado nos fatores acima. ▪ Tuberculose pulmonar provável: maior ou igual a 40 pontos; ▪ Possível: 30 a 35 pontos; ▪ Pouco provável: 25 pontos ou menos. Tratamento da tuberculose • Etambutol: não é utilizado antes porque pode causar neurite óptica > é difícil de rastrear em crianças menores de 10 anos, porque não sabem referir exatamente o embaçamento na vista causado pelo medicamento; • Prednisona na neurotuberculose: redução das sequelas; • Incomum os efeitos adversos por toxicidade, por isso não precisa-se do rastreio com transaminases hepáticas, mas sim Rx de tórax com 2 meses e ao término do tratamento. Investigação de contatos e ILTB • Conheceros fluxogramas de investigação dos contatos; • Caso índice: aqueles casos de pacientes bacilíferos > infectantes; • Contato: aquele que vive no mesmo ambiente no momento do diagnóstico; • Convocar todos os que convivem; • A solicitação ou não de exames vai depender do quadro clínico do paciente e da idade: o Criança em ambiente familiar em contato com paciente sintomático, precisa-se investigar para tuberculose doença; o Se o contato é assintomático, solicita-se exames de acordo com a idade: ▪ Menos de 10 anos de vida: Rx de tórax e PPD; ▪ Mais de 10 anos: PPD. • Contatos assintomáticos menores de 10 anos de idade: o Rx de tórax e PPD: ▪ Rx suspeito (opacidade ou adenomegalia) > investigar TB doença > avaliar o quadro clínico e PPD e tentar fechar com escore de pontos; ▪ Rx normal: avaliar PPD. Se for reator, significa que existe uma infecção latente pela TB. Se PPD não reator, repetir em 8 semanas > se teve conversão (aumento do PPD em 10 mm ou mais em relação ao anterior), estou diante de uma infecção latente por TB. Se não teve conversão, o paciente está liberado em alta. • Contatos assintomáticos maiores de 10 anos de idade: o Começo a investigação com PPD: ▪ Se é reator > proceder com Rx de tórax > se normal, estou diante de uma infecção latente pela tuberculose. Se for suspeito, investigar TB doença; ▪ Se não reator > repetir em 8 semanas > se conversão: solicitar Rx de tórax e avaliar se existe alteração radiológica. Se não teve conversão, alta para o paciente. • Nódulo calcificado não é sinal de doença atual! Notificação e tratamento • Notificação compulsória da ILTB; • Lembrar que o paciente é diagnosticado com ILTB se teve contato com bacilífero + PPD reator + está assintomático + apresenta Rx de tórax normal, então vai seguir com um dos tratamentos abaixo; • Tratamento para evitar a evolução para a TB doença: o Isoniazida por 9 meses (270 doses) ou o Rifampicina por 4 meses (120 doses); o Em crianças menores de 10 anos a preferência é para a rifampicina (tem solução oral, a Isoniazida só tem comprimidos). Combate à tuberculose na infância Apresentado em 3 frentes: 1. Tratamento da tuberculose doença; 2. Tratamento da ILTB; 3. Quimioprofilaxia primária e vacinação. Quimioprofilaxia primária • Feita quando tenho um RN que vai nascer em uma casa em que será exposto a um adulto bacilífero (que foi diagnosticado atualmente e começou ou vai começar o tratamento). • Objetivo: evitar infecção do RN que apresenta alto risco de adoecimento pela TB; • Se tem contato com familiar abacilífero, não precisa da quimioprofilaxia primária; Como é feita a quimioprofilaxia primária em caso de contato com bacilífero • Ao nascer, não recebe a BCG, mas, recebe Isoniazida por 3 meses > ao término, faz PPD: o PPD reator: com Rx normal e assintomático > estamos diante de um RN ILTB > tratamento com Isoniazida por 3 meses (total de 6 meses); o PPD não reator: não foi infectado, não continua a Isoniazida > vacinar com a BCG; o Pode substituir pela Rifampicina: nesse caso, se o PPD estiver reator, ao invés de complementar por mais 3 meses, complementa apenas com mais 1 mês de Rifampicina. • Se a mãe está com TB bacilífera, pode amamentar? o Sim. Desde que o RN tenha sido submetido ao tratamento com a quimioprofilaxia e a mãe utilize máscara cirúrgica ao amamentar. Controle da TB na infância • A estratégia mais eficaz: fazer a busca ativa nos adultos; • Diagnóstico precoce; • Tratamento adequado; • Tratamento da ILTB; • Essas medidas acima são muito mais eficazes que a vacina da BCG para o controle da tuberculose! Vacina BCG • É a vacina composta pelo bacilo de Calmette-Guérin: cepa do Mycobacterium bovis; • Aplicada logo ao nascimento; • Intradérmica; • Só pode ser aplicada em crianças com peso acima de 2 kg; • Só protege contra as formas graves: neurotuberculose (meningoencefálica) e tuberculose miliar. Não protege contra a TB pulmonar. • Não precisa mais revacinar se não evoluir com cicatriz > recomendação do MS.
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