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Elisa Figueiredo S3P1 - Protozoários intestinais (Amebíase e Giardia) Ciclos de vida de parasitas intestinais Ameba: - Parasitismo humano por Entamoeba histolytica e E. dispar - Os trofozoítos de E. histolytica/E. dispar são pleomórficos (15 e 20 µm) com um único núcleo e a p r e s e n t a n d o m o v i m e n t a ç ã o p o r pseudópodes, tipo lobópodes, e divisão assexuada por fissão binária simples - O núcleo, fora da mitose, apresenta um aglomerado de cromatina rico em DNA, (car iossoma ou endossoma), pequeno, compacto e localizado geralmente em sua porção central - A cromatina periférica, rica em RNA, é delicada, homogeneamente distribuída na periferia do núcleo - Os pré-cistos são intermediários entre trofozoítos e cistos, com um núcleo. Os cistos são esféricos ou ovais e parede cística rígida - Apresentam divisão múltipla por esquizogonia; podem conter um a quatro núcleos - Os cistos imaturos (com um ou dois núcleos) apresentam uma ou mais estruturas cilíndricas conhecidas como corpos cromato ides, constituídas por agrupamentos de ribossomos, em forma de bastão. Têm também um ou mais vacúolos de glicogênio, que servem como reserva de energia para essa forma de resistência - Habitam intestino grosso -> trofozoítos penetram no epitélio intestinal e dividem-se intensamente na submucosa levando a destruição das células -> podem ser eliminados nas fezes - São microaerófilas: necessitam de pouca quantidade de oxigênio - A transmissão do protozoário é orofecal, por contaminação de água e alimentos com cistos, dependendo de hábitos culturais, idade, saneamento básico, aglomeração populacional e nível socioeconômico GIARDIA - Giardia lamblia (duodenalis e intestinalis) é um parasito monoxeno cujo ciclo vital inclui essencialmente duas formas -> trofozoíto e cisto - Trofozoítos: * movimentam-se por meio de quatro pares de flagelos e dividem-se aparentemente de modo assexuado -> fissão binária longitudinal * contém dois núcleos diploides com cariossoma central grande mas sem cromatina periférica - O hábitat desse flagelado é o intestino delgado, (duodeno e as primeiras porções do jejuno) - A infecção humana ocorre pela ingestão de cistos eliminados nas fezes e são necessários de 10 a 100 cistos para que ocorra a infecção - O protozoário desencista-se na luz do intestino delgado -> após contato com ácido e proteases no estômago e intestino -> 2 trofozoítos de cada cisto Elisa Figueiredo - Apresenta 2 núcleos que funcionam de maneira igual e não apresentam mitocôndrias e peroxissomos, tem metabolismo simplificado e depende do hospedeiro para nutrientes Epidemiologia das protozooses intestinais - Giardiase é uma das infecções mais comuns por parasitas nos humanos -> altamente infecciosa e os cistos são liberados em quando quantidade (107 cistos por fezes) - Infecções por Entamoeba histolytica ocorrem no mundo em desenvolvimento - transmissão oro- fecal - Cerca de 280 milhões por Giardia duodenalis - São mais comuns em crianças pequenas acarretando deficiências nutricionais, atraso no crescimento e no desempenho escola - São mais prevalentes em regiões tropicais nos meses de verão e outono - Adquirida após ingestão de agua ou alimento contaminado ou pelo contato com pessoa infectada Etiofisiopatologia Ameba - O ambiente ácido do estômago serve como a primeira barreira contra os patógenos entéricos, mas os cistos de Entamoeba resistem ao baixo pH e o excistamento ocorre somente no lúmen do intestino delgado terminal ou nas primeiras porções do intestino grosso - A adesão das amebas à camada de muco que reveste o epitélio intestinal é a primeira etapa do processo que levará a uma erosão do epitélio da mucosa intestinal - Uma vez aderidas, as amebas secretam glicosidases e proteases, especialmente cisteína-proteases, que degradam os polímeros do muco - A lectina de adesão inibível por Gal/GalNAc (parasito e N-acetil-D-galactosamina do epitélio intestinal do hospedeiro) não somente participa do fenômeno de adesão ao muco, mas também bloqueia a deposição, na superfície das amebas, do complexo de ataque de membrana do sistema complemento, impedindo sua lise - A degradação da camada mucosa, como consequência da ação enzimática, torna possível o contato inicial entre as amebas e suas células-alvo, os enterócitos. A partir dessa etapa inicia-se o processo de quebra da barreira epitelial, com alteração do transporte de íons e de absorção de nutrientes, inflamação local e sistêmica e mudança da composição da microbiota intestinal que caracteriza a amebíase como doença - As amebas desencadeiam a morte das células do epitélio intestinal mediante apoptose e tragocitose (internalização de fragmentos de células hospedeiras vivas, resultando em elevação dos níveis intracelulares de cálcio e morte celular) - A morte celular estimula a produção de pré- interleucina (IL) 1β e de IL-1β, que, por sua vez, ativam o fator de transcrição nuclear NF-κB, o que resulta na produção de diversos mediadores de inflamação (IL-1α, IL-8, IL-6, COX-2, GM- CSF) e no recrutamento de neutrófilos -> lesão epitelial GiarDia - Giardia coloniza preferencialmente o duodeno e o jejuno - Os trofozoítos aderem ao epitélio com auxílio do disco adesivo presente em sua superfície ventral, bem como de proteínas com ação de lectina -> giardina-a1 Elisa Figueiredo - As lesões mais evidentes na morfologia da mucosa intestinal são a atrofia de vilos e a hiperplasia das criptas, que podem reduzir a superfície disponível para a absorção de nutriente (borda em escova) - A interação entre os trofozoítos e o enterócito induz a liberação de quimiocinas -> atraem mastócitos e células dendríticas - A inflamação produz a ruptura das junções aderentes entre as células epiteliais e a apoptose dos enterócitos - Os trofozoítos consomem grande quantidade de arginina em seu metabolismo energético; a falta de arginina disponível para o enterócito aumenta sua propensão à apoptose - A perda das junções aderentes intercelulares e a morte celular por apoptose produzem aumento da permeabilidade intestinal - O aumento da secreção de cloretos pelo enterócito, levando ao acúmulo de líquido no lúmen intestinal, e a hipermotilidade intestinal, decorrente do aumento de secreção de hormônios digestivos como a motilina -> diarreia, agravada pela hiperplasia das criptas intestinais que reduz a superfície disponível para a absorção de água e nutrientes - Acredita-se que a giardíase produza alterações na composição da microflora intestinal que podem afetar a resposta do hospedeiro à presença do próprio parasito e de outros patógenos intestinais Manifestações clinicas Ameba - 80% das infecções por E. histolystica são assintomáticas -> risco de contaminação a comunidade - Síndromes diarreicas e desintéricas - Ocorre dor moderada em cólica precedendo as evacuações, bem como tenesmo retal - Desinteria amebiana ou colite amebiana: diarreia com muco e sangue nas fezes - Os amebomas são lesões pseudotumorais resultantes de necrose, inflamação e edema da mucosa e submucosa do cólon - Edema e hiperemia – lesões inespecíficas precursoras de ulcerações focais - intenso infiltrado inflamatório - Necrose amebiana de fígado -> início súbito, com dor no hipocôndrio direito que aumenta à inspiração profunda, geralmente acompanhada de febre - Pulmão é atingido por contiguidade -> aspecto necrótico e lesões múltiplas Elisa Figueiredo GiarDia - Pode ocorrer infecção assintomática ou diarreia transitória - Pacientes graves apresentam diarreia, náusea, vômito, anorexia, desidratação, flatulência, fezes fétidas, distensão, cólicas abdominais e perda de peso - Doença diarreica, com duração entre 2 e 4 semanas -> esteatorreia e o desconforto abdominal - Febre é incomum Diagnóstico Ameba - O diagnóstico laboratorial daamebíase intestinal é rotineiramente realizado por meio de exame parasitológico de fezes. Em fezes diarreicas ou d i s e n t é r i c a s , p r e d o m i n a m a s f o r m a s trofozoíticas; nas fezes formadas predominam os cistos - Os métodos laboratoriais mais sensíveis para o diagnóstico da amebíase humana são aqueles fundamentados na reação em cadeia da polimerase (PCR) - Os testes sorológicos (ELISA) são positivos para anticorpos na maioria dos indivíduos com amebíase intestinal invasiva (75%) e abscesso amebiano (90%) GiarDia - Diagnóstico por meio de exame parasitológico de fezes -> encontram-se trofozoítos do parasito na fezes diarreicas e cistos nas formadas - Para a detecção de antígenos: o teste mais utilizado tem como alvo a glicoproteína GSA 65, presente em cistos e trofozoítos -> 90% de sensibilidade e perto de 100% de especificidade - Os principais alvos de PCR são os genes 18S rRNA e gdh Tratamento Ameba - As estratégias de tratamento baseiam-se em agentes com ação predominante no lúmen intestinal, utilizados nas formas não invasivas, e aqueles com melhor penetração nos tecidos, utilizados nas formas invasivas. Na forma intestinal assintomática, utilizam-se geralmente uma dicloroacetamida (etofamida) ou uma benzilamina (teclosan) como amebicidas de ação luminal nos seguintes esquemas: * Etofamida: 500 mg, 2 vezes/dia, durante 3 dias * Teclosan: 500 mg, de 8 em 8 horas, por 1 dia, ou 100 mg, 3 vezes/dia, durante 5 dias GiarDia - Os compostos n i t ro imidazól icos, como metronidazol, tinidazol, secnidazol, ornidazol e nimorazol, são os principais agentes atualmente empregados no tratamento da giardíase - São recomendados os seguintes esquemas terapêuticos: * Tinidazol, secnidazol, ornidazol, nimorazol: 2 g, dose única, em adultos; 50 mg/kg, também dose única, em crianças * Metronidazol: 250 mg, 3 vezes/dia, durante 5 a 10 dias, em adultos; 5 mg/kg/dia, 3 vezes/dia, por 5 a 10 dias, em crianças. Referências: MURRAY, P.; ROSENTAL, K. S.; PFALLER, M. A. Microbiologia Médica. 8a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. GOLDMAN, L. SCHAFER, A. I. Cecil Medicina. 24a ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
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