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AN02FREV001/REV 4.0 35 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DOCÊNCIA EM ENFERMAGEM Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 36 CURSO DE DOCÊNCIA EM ENFERMAGEM MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 37 MÓDULO II 6 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Em pleno século XXI, as formas de relações humanas estão organizadas em torno da sociedade do trabalho, o que envolve vários significados que fazem parte da sociedade moderna e contemporânea. Na sociedade do trabalho há mudanças constantes na organização social, econômica, política, cultural, e seus significados são alterados, exercendo forte influência no modo de relação entre os seres humanos, que muitas vezes deixam de conhecer uma relação harmoniosa num ambiente coletivo e vivem apenas em ambientes em que há o predomínio do individualismo e a única forma de comunicação é por meio do computador ou da internet, numa busca indireta de relações com o outro. A sociedade do trabalho é pautada pela racionalidade e pela dominação que o homem exerce no mundo tanto em âmbito material quanto nas relações sociais, podendo levar à não constituição da consciência de si mesmo e do próximo, quanto no individualismo possessivo, a qual a posse de objetos e a preocupação com o consumo refletem na busca de necessidades imediatas. Este é o momento de posições antagônicas que a nossa sociedade vem delineando e tentando superar em sua prática pedagógica. Libâneo (1988), por exemplo, separa as visões educacionais em liberais e progressistas. As visões liberais apresentam-se como forças reprodutoras da sociedade, a serviço de seus condicionantes, tornando-a sempre melhor e mais semelhante com o modelo de perfeição social harmônica idealizada. Mas ela tem suas raízes numa concepção dada (abordando a historicidade, a cultura, a autorreflexão da própria consciência), porém não transmuta, mas reproduz a ideologia dominante que varia desde os meios de produção e reprodução cultural da força cultural e da força de trabalho numa vertente biológica (meios quantitativos) e cultural (meios qualitativos). AN02FREV001/REV 4.0 38 Já as visões progressistas de que fala Libâneo (1988) buscam uma transformação da sociedade, tendo como principais representantes Paulo Freire, Snyders e Freinet. O preparo para o trabalho é cada vez mais delegado a uma instituição social específica, a escola, a qual atua de duas formas: cultura científico-literária (saberes práticos) e as regras dos bons costumes como manutenção do sistema capitalista, tendo por finalidade a otimização do sistema produtivo perante a padronização de um modelo. Sobre esta dupla modalidade de ação da escola, Althusser, à guisa de interpretação, diz que ‘enunciando este fato numa linguagem mais científica, dizemos que a reprodução da força de trabalho exige não só uma reprodução da qualificação desta, mas, ao mesmo tempo, uma reprodução da submissão desta às regras da ordem estabelecida; isto é, uma reprodução da submissão desta à ideologia dominante, para os operários, e uma reprodução da capacidade para manejar bem a ideologia dominante”. Para os agentes da exploração e da repressão, a fim de que possam assegurar também “pela palavra”, a dominação da classe dominante. Por outras palavras, a escola (mas também outras instituições do Estado, como a Igreja, ou outros aparelhos, como o exército) ensinam os saberes práticos, mas em moldes que asseguram a sujeição à ideologia dominante (grifo de Althusser) ou o manejo da prática desta. Todos os agentes da produção, da exploração e da repressão, não faltando os profissionais da ideologia, devem estar de uma maneira ou de outra penetrados desta ideologia para desempenharem conscienciosamente a sua tarefa, quer de explorados (os proletários), quer de exploradores (os capitalistas), quer de auxiliares da exploração (os quadros), quer de papas da ideologia dominante (os seus funcionários), etc. (LUCKESI:1994, p. 21-2). Como podemos perceber, Althusser ainda remete que, apesar dos esforços da escola e dos professores em promover um ensino inovador, com práticas mais eficazes, essa ainda irá repassar aos alunos ideologias ainda dominantes na sociedade: Na visão reprodutivista de Althusser, façam o que fizerem os professores, lutem, melhorem suas práticas, melhorem seus métodos e materiais, tudo será em vão, já que sempre reproduzirão a ideologia dominante e, pois, a sociedade vigente (LUCKESI, 1994, p. 48). Para superar esta visão reprodutora, conheceremos, de forma breve, alguns teóricos que norteiam o trabalho nas áreas psicológica e social. Para tanto, buscaremos superar a reprodução da sociedade por meio de uma educação como transformação da sociedade, tendo por perspectiva compreender a educação como AN02FREV001/REV 4.0 39 mediação de um projeto social, servindo de meio para realizar um projeto de sociedade que leve em conta os seus determinantes e condicionantes. Buscaremos a possibilidade de trabalhar pela sua democratização, de forma dialética, com as diferenças da luta de classes, com a concepção crítica do mundo no qual estamos inseridos e pelo desafio da transformação em seus mais diferentes âmbitos: sociais, políticos, econômicos, culturais, procurando uma compreensão sempre mais apurada. Entretanto, Gramsci (1891-1937), em seus estudos, não está preocupado apenas com as formas de manutenção, conservação, sustentação ou reprodução do poder ou da dominação de classes na sociedade capitalista, mas com a transformação dessa sociedade e com os caminhos das classes subalternas à tomada desse poder, desvendando e utilizando-se das próprias contradições, trabalhando realisticamente e criticamente, seguindo o espírito da décima primeira das "Teses sobre Feuerbauch", de Karl Marx (1818- 1883), segundo a qual, mais do que interpretar o mundo, é preciso transformá-lo. Assim, a perspectiva de Gramsci é sempre a de elaborar conceitos que ajudem a classe operária e seus intelectuais (seu partido) a firmar a “hegemonia” do proletariado sobre o conjunto das classes subalternas e a disputar a “direção intelectual e moral” do conjunto da sociedade, visando à tomada do poder político e à alteração da situação de dominação (MOCHCOVITCH, 1992, p.10-11). Porém, a universalização do trabalho e a posse de mercadorias são elementos homogeneizadores da modernidade e como tais também podem ser entendidos como sacrifício, pois são mecanismos que geram o cansaço, o simulacro, as diferenças/inversão de valores entre sujeito e objeto e o esvaziamento do conteúdo e da identidade do ser humano. Para superar esta perspectiva, este trabalho visa à concepção de um homem integral, que é preparado para respeitar ao próximo, que valorize e integre- se nas diferenças, que desenvolva as suas habilidades e competências não apenas para atuar no mercado de trabalho, mas para atuar nas mais diferentes esferas e dificuldades da vida. Como destacamos no parágrafo anterior, que se dê possibilidade de desenvolvimento não só dos indivíduos das classes mais favorecidas, que a ação e o respeito mútuo sejam exercidos por todos. AN02FREV001/REV 4.0 40 Segundo Horkheimer & Adorno (1978, p. 48), a definição do homem como indivíduo implica que: [...] no âmbito das condiçõessociais em que vive e antes de ter consciência de si, o homem deve sempre representar determinados papéis como semelhante de outros. Em consequência desses papéis e em relação com os seus semelhantes, ele é o que é: filho de uma mãe, aluno de um professor, membro de uma tribo, praticante de uma profissão. Assim, essas relações não são para ele, algo extrínseco, mas relações em que se determina a seu próprio respeito, como filho, aluno ou o que for. Quem quisesse prescindir desse caráter funcional da pessoa, para procurar em cada um o seu significado único e absoluto, não conseguiria chegar ao indivíduo puro, em sua singularidade indefinível, mas apenas a um ponto de referência sumamente abstrato que, por seu turno, adquiriria significado em relação ao contexto social entendido como princípio abstrato da unidade da sociedade. Dessa forma, a educação, passa então a ter uma multiplicidade de definições e de concepções, que segundo Emile Durkheim é um processo socializador, tendo como funções principais a homogeneização e a diferenciação, ou seja: A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine. (DURKHEIM, 1995, p. 25-36). A Psicologia e a Sociologia, deste modo, atuam como ciências que permeiam o desenvolvimento humano e também como áreas de atuação profissional. Nas últimas décadas, destaca-se a necessidade de um novo profissional, capaz de atuar como intermediário entre as áreas humanas, exatas, biológicas e a educação. Grandes áreas destacam-se neste campo, como: as pesquisas experimentais da aprendizagem; o estudo e a medida das diferenças individuais; psicologia da criança; cultura e forma escolar. Assim, podemos destacar grandes teóricos que complementam suas obras tanto na área psicológica quanto social para os nossos estudos. AN02FREV001/REV 4.0 41 6.1 DURKHEIM Para Durkheim, a educação pode ser definida a partir de um exame crítico, tendo por finalidade analisar um conjunto de influências sobre a nossa inteligência ou sobre a nossa vontade, exercendo sobre os homens, ou, em seu conjunto, realiza na natureza por meio da ação dos membros de uma mesma geração, uns sobre os outros. Podem se diferenciar em dois tipos principais: a) segundo Kant (1724-1804), a educação deve desenvolver toda a perfeição e harmonia do indivíduo das faculdades humanas; b) segundo Mill (1806-1873), a educação teria por objeto fazer do indivíduo um instrumento de felicidade para si mesmo e para os seus semelhantes porque a felicidade é essencialmente e extremamente subjetiva, que cada um aprecia a seu modo. Para definirmos uma educação ideal, perfeita e universal, é preciso analisar a história, pois ela varia de acordo com o tempo e o meio, pois em cada momento há um tipo regulador de educação, pois esta é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança; particularmente, se destine. Dessa forma, a educação apresenta duplo aspecto: múltiplo (diferentes espécies de educação em determinada sociedade, quantos meios diversos nela existirem) e uno. AN02FREV001/REV 4.0 42 6.2 HERBART Segundo Herbart, é preciso ter um olhar para as ciências, tirar daí o exemplo a ser seguido nas práticas pedagógicas. É preciso experimentar, analisar os métodos e resultados e repetir as experiências para que a ciência da educação não vire joguete das seitas. Do educador exige-se a ciência e a capacidade intelectual para evitar grandes erros. A pedagogia deve, no seu ponto de vista, aproximar-se de outras ciências, especialmente da psicologia que analisa as emoções humanas e ajuda na observação do educando, mostrando o que é importante para o educador determinar como começar e conduzir seu trabalho. A pedagogia é a ciência da qual necessita o educador para si mesmo, que ajuda a formar sua conduta. O autor fala de sua paixão pela pedagogia e da criação de uma relação de confiança com seu educando. 6.3 CLAPARÈDE O doutor Edouard Claparède apresenta a teoria da educação funcional. Inicia seus estudos no século XV, com as teorias de Locke, passa por Herbart e chega a Dewey, trazendo a discussão sobre as ideais que fundamentaram a criação da teoria funcional. Nesse retrospecto o autor lembra que, já por volta de 1650, havia a discussão sobre as necessidades do espírito, a importância por investigar a criança e também a ideia de expor essa criança a várias experiências educativas. Sob esta perspectiva, sua teoria convergiu para a criação da psicologia moderna. Claparède também esclarece sobre a teoria da educação funcional, começando a descrever o ponto de vista funcional. Ele afirma que a psicologia funcional quer: “Oferecer um método de estudo e formular certo número de leis.” Diferente do ponto de vista estrutural e do mecanismo, o ponto de vista funcional é AN02FREV001/REV 4.0 43 aquele fundado na criação do desejo e que proponha desenvolver processos mentais considerando sua significação biológica e utilidade para ação presente ou futura. Para esta teoria o conhecimento precisa de uma função e mostra um fim que deve atingir. Claparède cria, então, as dez leis do comportamento, entre elas a lei de interesse momentâneo, a lei da reprodução do semelhante e a lei da autonomia funcional. Com isso, sua teoria traz a ideia de criança e da necessidade de conhecer esta criança em seus aspectos biológicos e psíquicos para criar uma pedagogia mais própria. Advoga em favor da psicologia como base da educação. O desenvolvimento da psicologia como ciência favorece o processo da educação. 6.4 PIAGET Piaget tem sua contribuição para a Psicologia da Educação, dizendo da importância de determinar a linha pedagógica para a escolha dos métodos a serem aplicados na aprendizagem. Colocando-se numa posição divergente da de Wallon. A diferença consiste basicamente na ideia de Wallon que trata da “incorporação gradual das crianças na vida social organizada pelo adulto”, enquanto ele, Jean Piaget, preocupa-se em “assinalar os aspectos espontâneos e relativamente autônomos” para a construção do conhecimento e relata então seu pensamento, que consiste em definir a inteligência como derivada da ação e que se desenvolve a partir da execução e coordenação de ações interiorizadas e reflexivas categorizadas em níveis relacionados às etapas de desenvolvimento da criança. Essa ação é tratada por operação, em que Piaget divide as etapas etárias como marcas para categorização destas fases do desenvolvimento: até 2 anos de idade, onde as operações não são capazes de representação ou pensamento; de 2 a 8 anos de idade é a fase da construção simbólica que permite a operação da inteligência sensório-motora se prolongar ao pensamento, mas ainda nesta fase o “pensamento inteligente” não está propriamente construído; dos 8 aos 12 anos acontece o nascimento das operações, porém muito dependente do estímulo concreto; e, por último, a partir dos 11-12 anos, a criança/adolescente atinge a fase AN02FREV001/REV 4.0 44 de construção de operações e conquista um “novo raciocínio” que não incide mais exclusivamente sobre o concreto, mas também sobre a formulação de hipóteses. As operações, que contribuem para a construção do conhecimento, constituem a expressão de coordenações nervosas que são elaboradasem função da maturação orgânica. Em suma, a construção de conhecimento acontece quando ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam em assimilação das ações e assim em construção de conhecimento e a busca deste equilíbrio é feita por adaptação e organização. Piaget fala da relação da Psicologia com a Filosofia e por fim das dificuldades encontradas no que se refere ao ensino das Humanidades: Língua, História, etc. que se valem mais da construção da memória do que da experiência para produção de conhecimento. Por último, Piaget considera a nova realidade educacional que sofre com o aumento vertiginoso de alunos, a dificuldade de encontrar professores com formação adequada aos novos métodos e as novas necessidades econômicas, técnicas e científicas da sociedade. Essa realidade força de certo modo a escolha dos métodos tradicionais. Piaget faz uma análise de alguns destes métodos tradicionais utilizados nos sistemas de ensino. Mostra por meio de sua leitura as contradições presentes dentro dos seus conceitos fundantes e mostra que há uma influência maior ou menor das novas teorias na aplicação destes métodos. 6.5 FREUD A educação acompanhou Freud desde os primórdios da teoria psicanalítica. Ele tentou compreendê-la, mas se desiludiu, pois todas as ideias surgidas da Psicanálise referentes a esta questão foram: [...] de certa forma, por ele “desditas” ou questionadas. O educador deve promover a sublimação, mas sublimação não se promove, por ser inconsciente. Deve-se ilustrar, esclarecer as crianças a respeito da sexualidade, se bem que elas não irão dar ouvidos. O educador deve se AN02FREV001/REV 4.0 45 reconciliar com a criança que há dentro dele, mas é uma pena que ele tenha esquecido de como era mesmo essa criança! E a conclusão, ao final de tudo: a Educação é uma profissão impossível. (KUPFER, 2006, p.50). Mesmo vendo a Educação como impossível, não deixou de investigá-la e, durante sua obra, relaciona a Educação, entre 1909 e 1912, com o recalcamento social das pulsões, que seriam fatores da neurose. Por outro ângulo, reconhece o lado positivo da educação, o de buscar o prazer por meio da adaptação à realidade e do desvio da sexualidade para questões socialmente aceitas, como a arte e investimento intelectual. Após esse período, Freud atribui à Educação a função de impedir a formação de sintomas relacionados a conflitos psíquicos, porém, em 1925, afirma que a educação não deve ser vista apenas com caráter preventivo e diz que deve-se evitar confundir ou substituir o trabalho pedagógico por uma intervenção psicanalítica (RIBEIRO; NEVES, 2006). Mesmo desiludido, Freud dizia que a relação Educação-Psicanálise ainda seria estudada detalhadamente no futuro e foi o que aconteceu depois da sua morte. Segundo Kupfer (2006), os teóricos que se propuseram a estudar a Psicanálise e a Educação tomaram três direções, a de criar uma disciplina Pedagógica Psicanalítica, a de transmitir a Psicanálise aos pais e professores para que estes a conhecendo pudessem evitar a neurose e, pôr fim, a tentativa de transmitir a Psicanálise aos representantes da cultura; porém nenhuma destas propostas, de fato, conseguiu unir Psicanálise e Educação, pois o processo de aprendizagem está ligado ao inconsciente, e para os educadores conseguirem atuar conforme a Psicanálise, eles teriam que assumir um papel como o do analista, mas isto não é possível, pois “seria necessário que o educador tivesse em relação à criança a neutralidade de que pode gozar a desconhecida figura do analista” (MILLOT, 1981 apud KUPFER, 2006, p.75). Na história da Educação no Brasil, os referenciais teóricos vistos são: [...] a filosofia, a psicologia, a sociologia e a história da educação. No campo da psicologia, recorreram às teorias comportamentalistas e humanistas, a uma versão adaptacionista da psicanálise e mais recentemente aos estudos de Piaget e de Vigotsky. (DRÜGG, 1999, p. 78). Dessa forma, Ribeiro e Neves (2006) afirmam que a conexão entre Educação e Psicanálise pode se dar por meio de cinco elementos: a transferência AN02FREV001/REV 4.0 46 entre aluno e professor, a afetividade que medeia esta relação, o processo de identificação, a pulsão do saber e o acesso ao simbólico. Assim, atualmente, para os que estudam o tema, o indicado seria transmitir aos educadores a Psicanálise, não para a aplicarem, mas sim para mudarem sua postura perante os alunos; o que seria de acordo com Freud o uso “de uma educação psicanaliticamente esclarecida” (FREUD, 1913, p. 14). Desse modo, a função do estado em matéria de Educação com base nas teorias sociais e psicológicas deve ser o de proteger o respeito da razão da ciência, das ideias e sentimentos em que se baseia a moral democrática, fazer valer seu ensino nas escolas, velar pela aprendizagem das crianças, zelar pelo respeito que lhes devemos, manter e tornar consciente a comunhão de ideias e sentimentos que a sociedade se organiza e fiscalizar o ensino. 7 USO DA DIDÁTICA E SUA APLICABILIDADE NO ENSINO EM ENFERMAGEM Quando se analisa a trajetória profissional dos docentes, observa-se que os momentos iniciais de suas carreiras resultam de uma prática reprodutivista, ou seja, uma prática didática resultante da vivência escolar desses professores, o que faz com que esses, antes mesmo de começarem a ensinar, já conheçam de muitas formas, como é o ensino em decorrência de sua vida escolar anterior. Assim, a trajetória de vida faz com que o professor trabalhe com o conhecimento de forma similar com a que recebeu, e da mesma forma com que vivenciou suas experiências durante a escola. Esta situação decorre da temporalidade da formação do indivíduo, que se aplica não só à esfera profissional e escolar, mas também diretamente à sua carreira (TARDIF, 2002). Nos dias atuais, a prática pedagógica do enfermeiro professor vem sendo repensada devido à necessidade de mudança na formação do profissional de Enfermagem conforme estabelecido pelas Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Enfermagem (RODRIGUES; SOBRINHO, 2006), e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que surge no cenário da educação superior definindo, entre outras coisas, o estímulo ao conhecimento dos problemas AN02FREV001/REV 4.0 47 do mundo atual (nacional e regional) e a prestação de serviço especializado à população, estabelecendo uma relação de reciprocidade com a sociedade (BRASIL, 1996). Tais prerrogativas foram reafirmadas pelas Diretrizes Curriculares, para a maioria dos cursos da área de saúde, dentre eles o curso de enfermagem, apontando a importância do atendimento às demandas sociais (ALMEIDA, 2003; COTTA et al., 1998). Dessa forma, as instituições formadoras são convidadas a mudarem suas práticas pedagógicas, como uma tentativa de se aproximarem da realidade social e de motivarem seus docentes e discentes a tecerem novas redes de conhecimentos (MITRE et al., 2008). Nesse sentido, o processo de redirecionamento na formação dos profissionais de Enfermagem deve estar voltado para as transformações sociais, e as propostas pedagógicas devem dialogar com estas transformações (RODRIGUES; SOBRINHO, 2006). Conforme Rodrigues e Sobrinho (2006), uma das competências específicas para a docência superior é o domínio na área pedagógica. Por isso, é essencial que se domine, pelo menos, quatro eixos do processo ensino-aprendizagem (MASETTO, 2001): conceito de processo ensino-aprendizagem; o professor como conceptor e gestor do currículo; a compreensão da relação professor-aluno e aluno-aluno no processo; a teoria e prática básicas da tecnologia educacional. Dessa forma, entende-se que, para o enfermeiro assumir o papel de professor, ele precisa possuir conhecimento na área específica assim como conhecimento doprocesso educativo. E, nesse sentindo, a formação pedagógica é essencial, já que auxilia no planejar, organizar e implementar o processo ensino- aprendizagem (RODRIGUES; SOBRINHO, 2006). Além disso, Masetto (2001) ainda aponta que se exige do professor competências para a docência no ensino superior: ser competente em uma área de conhecimento se refere ao domínio dos conhecimentos básicos da área e experiência profissional do campo – envolve o domínio do conceito de processo-aprendizagem, integrando o desenvolvimento cognitivo, afetivo-emocional e de habilidades, bem como a AN02FREV001/REV 4.0 48 formação de atitudes, abrindo espaços para a interação e a interdisciplinaridade; possuir domínio da área pedagógica e exercer a dimensão política na prática da docência universitária – abrange a discussão, com os alunos, dos aspectos políticos e éticos da profissão e do seu exercício na sociedade, para que nela possam se posicionar como cidadãos e profissionais. Em algumas situações ainda se observa a ocorrência de um ensino centrado na figura do professor, que possui a autonomia do conhecimento, gerando estratégias repetitivas, geralmente com aulas expositivas, e consequentemente criando um fluxo unilateral de comunicação, o que acaba dificultando o desenvolvimento do pensamento crítico por parte do aluno aprendiz, que, na maioria das situações, assimila o que lhe é imposto, sem questionamentos (STACCIARIN; ESPERIDIÃO, 1999). Esta conduta caracterizada como o ensino tradicional, supõe que o indivíduo que aprende não possui a capacidade de controlar a si mesmo, necessitando ser conduzido por pessoas que sabem mais do que ele. Esse tipo de didática impede de forma frequente a criatividade, a iniciativa, a autorresponsabilidade e a autodireção (STACCIARIN; ESPERIDIÃO, 1999). Conforme Freire (apud HADDAD et al., 1993), esta prática é denominada de educação bancária, em que o papel do aluno é limitado a receber depósitos, guardar e arquivar, preocupando-se apenas com a transmissão do conhecimento e com a experiência do professor, sem se preocupar com os aprendizes como pessoas que fazem parte de um contexto maior. Dessa forma, acabam-se formando alunos passivos, memorizadores de conceitos abstratos e sem preparo para resolver questões práticas, fundamentadas na realidade em que vivem. O modelo de ciência que tem como base a compartimentalização do conhecimento em disciplinas – fragmentando o saber e estabelecendo dicotomias em torno das relações entre teoria e prática, razão e emoção, pensar e fazer – deve ser abandonado, já que não atende as transformações da sociedade (BATISTA, 2005). É preciso ampliar as possibilidades humanas de criatividade e interrogação buscando o desenvolvimento contínuo de pessoas e da sociedade. Assim, a formação pedagógica do professor é um meio essencial de superação deste modelo tradicional de ensino (RODRIGUES; SOBRINHO, 2006). AN02FREV001/REV 4.0 49 Conforme Stacciarin e Esperidião (1999), o saber deve ser construído de forma processual, de forma que professor e aluno assumam posições diferentes, porém, ocupem o mesmo nível na relação instituída, ou seja, juntos possam produzir o conhecimento, dessa forma, por meio desse processo de construção, não se pode negligenciar a experiência vivida por ambos. Bocchi et al. (1996) fazem algumas considerações a respeito da função do professor, do aluno e do relacionamento entre essas duas figuras, defendendo as estratégias de ensino com abordagem humanística. O professor cria condições que facilitam o aprendizado do aluno, estimulando a sua curiosidade de forma a encorajá-lo a escolher seus próprios interesses, desde que seja autodisciplinado, responsável por suas opções e crítico diante dos problemas futuros; ainda possibilita oportunidades para a sua participação ativa na formação e construção do programa de ensino do qual faz parte. O aluno, dessa forma, é respeitado “como pessoa” no processo contínuo de autorrealização com o uso completo de suas potencialidades e capacidades. Consequentemente, a relação decorrente entre o professor e o aluno tende a ser de autenticidade e congruência, o que pode facilitar o processo ensino- aprendizagem. Levando ainda em consideração que a graduação dura somente alguns anos, enquanto a atividade profissional pode permanecer por diversos anos, e que os conhecimentos e competências vão se transformando de forma rápida, torna-se essencial pensar em uma metodologia para uma prática de educação libertadora, na formação de um profissional ativo e apto a aprender a aprender (MITRE et al., 2008). Conforme Fernandes et al. (2003), o aprender a aprender na formação dos profissionais de saúde deve compreender o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a conviver e o aprender a ser, garantindo a integralidade da atenção à saúde com qualidade, eficiência e resolutividade. Por isso, as abordagens de ensino-aprendizagem pedagógicas progressivas têm sido construídas e implicam formar profissionais como sujeitos sociais com competências éticas, políticas e técnicas e dotados de conhecimento, raciocínio, crítica, responsabilidade e sensibilidade para questões relacionadas à vida e à sociedade, capacitando-os para intervirem em contextos de incertezas e complexidades (MITRE et al., 2008). AN02FREV001/REV 4.0 50 Assim, as metodologias ativas estão alicerçadas em um princípio teórico significativo: a autonomia, algo evidente na invocação de Paulo Freire (FREIRE, 1999). A educação atual deve pressupor um discente capaz de autogerenciar ou autogovernar seu processo de formação (MITRE et al., 2008). Freire (1999) propunha um processo ensino-aprendizagem que pressuponha o respeito à bagagem cultural do discente, bem como aos seus saberes construídos na prática comunitária. Isto só se torna possível na medida em que o docente tenha como características principais a humildade reconhecendo sua finitude, os limites de seu conhecimento, o ganho substantivo advindo da sua interação com o estudante e a importância de sua avaliação pelo aprendiz – e a amorosidade – especialmente dirigida ao discente e ao processo de ensinar, a partir da adoção de uma atitude de compaixão. A compaixão deve ser entendida como acolhimento radical, pressupondo o deslocamento do eu em direção ao outro, a partir de uma deferência incondicional à inserção deste último no mundo. É importante que a formação do docente em enfermagem seja consolidada com base no domínio de conhecimentos científicos e na atuação investigativa no processo de ensinar e aprender, de forma a recriar situações de aprendizagem por investigação do conhecimento de forma coletiva com o propósito de valorizar a avaliação diagnóstica dentro do universo cognitivo e cultural dos acadêmicos como processos interativos. Dessa forma, a tarefa do professor é se apropriar do instrumento científico, técnico, tecnológico, de pensamento, político, social e econômico e de desenvolvimento cultural para que ele seja capaz de pensar e propor soluções (PIMENTA; ANASTASIO, 2005). Assim, na busca de um processo de ensino-aprendizagem que contemple todas as dimensões necessárias ao exercício da docência (técnica, política, ética e estética) é necessário e essencial que sejam oferecidas condições de capacitação, qualificação e desenvolvimento dos professores na área de enfermagem no que diz respeito à área pedagógica, à perspectiva político-social e à pesquisa (FARIA; CASAGRANDE, 2004). AN02FREV001/REV 4.0 51 8 RECURSOS DIDÁTICOS NA DOCÊNCIA DE ENFERMAGEM E AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS APLICADAS À EDUCAÇÃO: RECURSOS AUDIOVISUAIS, TELEAULAS E VIDEOAULAS Podemos compreender que o uso das tecnologias de ensino trata-se do uso de programas, métodos, materiais e esquemas para, com o uso da Psicologia experimentaldo comportamento, produzir aprendizagem. A análise experimental do comportamento prega que por meio de testes e atividades programadas, com estímulo e respostas esperadas, o aluno é levado passo a passo a atingir os objetivos propostos. Skinner (1972) fala de condicionamento operante, que é composto por um estímulo, seguido por um comportamento que incidirá em uma consequência. Se o efeito é agradável resultará na repetição do comportamento – reforço –, mas, em caso de punição, a frequência ou uso do comportamento diminuirá ou se extinguirá. Assim, as ações de ensino devem ser programadas e controladas de forma criteriosa. E esse é o papel do professor: promover condições e ambiente para a experiência do ensino. O autor cita e detalha alguns argumentos de objeção ao uso da análise experimental do comportamento, porém, segundo Skinner (1972), o uso de programas e tecnologias não tira a criatividade e iniciativa do aluno. Respondendo às críticas mais contundentes: “Por que os professores fracassam?” Skinner (1972) levanta algumas hipóteses para responder a essa questão: a falta de conhecimento do método, a falta de treinamento e a responsabilidade pela punição (reforço negativo) por parte desses profissionais, além da falta de consciência do seu papel no processo de ensino. O uso das tecnologias por pessoas mal formadas ou mal treinadas pode ao invés de garantir a eficiência do ensino, promover o desinteresse e resistência dos alunos à aprendizagem. Assim, o ensino deve prever estratégias de inclusão e de inserção. Uma vez definida e caracterizada a exclusão social, a sua erradicação implica um duplo AN02FREV001/REV 4.0 52 processo de interação positiva entre os indivíduos excluídos e a sociedade a que pertencem e que passa por dois caminhos: o dos indivíduos que se tornam cidadãos plenos; o da sociedade que permite e acolhe a cidadania. A este duplo processo, chamamos integração (na sociedade), não no sentido de “assimilação”, mas antes no entendimento da teoria dos sistemas que permite considerar a integração como um processo de interação entre uma das partes e outras partes de um todo e com este todo, assumindo essa interação episódios de interdependência positiva (solidariedade), mas também de tensão e confronto (conflitualidade). Nesse sentido, a integração (social) de que aqui falamos é o processo que viabiliza o acesso às oportunidades da sociedade, a quem dele estava excluído, permitindo a retomada da relação interativa entre uma célula (o indivíduo ou a família), que estava excluída, e o organismo (a sociedade) a que ela pertence, trazendo-lhe algo de próprio, de específico e de diferente, que o enriquece e mantendo sua individualidade e especificidade que a diferencia das outras células que compõem o organismo. Nesses termos, a integração é sempre uma oportunidade de mais valia para a sociedade, por meio do seu enriquecimento pela diversidade. Como duplo processo que foi referido, a integração associa duas lógicas: a do indivíduo que passa a ter acesso às oportunidades da sociedade, podendo escolher se as utiliza ou não (em última análise, ninguém pode ser obrigado a sair da sua situação de exclusão social, apenas se podendo viabilizar e aumentar as possibilidades de escolha) – a este processo (se a opção for pela positiva) chamaremos de inserção na sociedade; a da sociedade que se organiza de forma a abrir as suas oportunidades para todos, reforçando-as e tornando-as igualitárias – a este processo chamaremos de inclusão. Inserção e inclusão são assim as duas faces de um processo (duplo) que é o da integração. Ao nível dos fatores de exclusão social antes enunciados, isto implica: remover ou, pelo menos, minimizar os fatores macro e meso e, por outro AN02FREV001/REV 4.0 53 lado, reforçar e maximizar as oportunidades permitidas pela sociedade, o que remete para o conceito de “inclusão” e de “sociedade inclusiva”; remover ou, pelo menos, minimizar os fatores micro e, sobretudo, promover as capacidades e competências individuais e familiares, o que faz apelo ao conceito de “inserção” e de empowerment. Quanto a este último aspecto, e se retomar as dimensões da exclusão social atrás apresentadas, estamos a falar da promoção e reforço das capacidades e competências em seis níveis: competências do SER, ou seja, competências pessoais – reforço de autoestima e da dignidade, autorreconhecimento, etc.; competências do ESTAR, ou seja, competências sociais e comunitárias – reativação ou criação das redes e dos laços com os familiares, com a vizinhança e com a sociedade em geral, permitindo a retomada ou desenvolvimento das interações sociais, etc.; competências do FAZER, nomeadamente competências profissionais – qualificações profissionais, aprendizagem de tarefas socialmente úteis, partilha de saberes-fazeres, etc.; competências do CRIAR, ou seja, o que podemos designar por competências empresariais – capacidade de sonhar e de concretizar alguns sonhos, assumindo riscos, protagonizando iniciativas, liderando projetos (mesmo os mais simples) de qualquer tipo, etc.; competências do SABER, ou seja, competências informativas – escolarização, outras aprendizagens de saberes formais e informais, desenvolvimento de modelos de leitura da realidade e de capacidade crítica, fundamentação das decisões, etc.; competências do TER, consubstanciadas no que se poderia apelidar de competências aquisitivas – acesso a um rendimento e sua tradução em poder de compra, capacidade de priorizar e escolher consumos, etc. Se, como se viu, os fatores econômicos podem ser decisivos na explicação de grande parte das situações de exclusão social, consequentemente também a dimensão econômica da integração assume importância crucial, quer na perspectiva AN02FREV001/REV 4.0 54 da inserção (processo assumido pelos indivíduos e famílias), quer na da inclusão (mudança da sociedade que reforça e abre as oportunidades que oferece aos seus membros, se torna mais democrática e equitativa e viabiliza a cidadania de forma generalizada). A nossa concepção de família traduz-se na inclusão de todos em prol da construção de uma sociedade justa, solidária e cidadã. 8.1 CONCEPÇÃO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Para que a função da pré-escola, ou da educação infantil, assuma a sua verdadeira função, torna-se imprescindível analisar o seu real contexto sobre vários e diversos enfoques. Primeiramente, o uso das tecnologias tem por objetivos e primazias os desenvolvimentos: cognitivos (interação com o ambiente, estruturação do conhecimento físico, conhecimento lógico-matemático, conhecimento social e ampliação da capacidade de comunicação de pensamentos e de sentimentos, através das diferentes formas de expressão simbólica); afetivos (interação empática com os pares e com os adultos, desenvolvimento da autoconfiança, iniciativa, responsabilidade e independência e incorporação de normas de conduta social); motores (coordenação, inteligentemente, da ação corporal, percepção das suas possibilidades e limitações e utilização do corpo como elemento de comunicação). Para que estes objetivos sejam alcançados, e possamos nos desenvolver e aprender, Piaget aponta que: a assimilação se inter-relaciona com a acomodação, cujo equilíbrio gera a organização interna do sujeito e a sua adaptação ao ambiente. Em segundo lugar, temos que refletir acerca dos recursos humanos, da formação desses recursos e das possíveis estratégias políticas, sociais e econômicas que geram este tema. Além disso, a preparação de profissionais para que possam compreender e desmistificar estes processos de evolução tanto do pensamento do educando quanto da formação contínua e de especialização nestas áreas. Estas áreas de reflexão podem ser assim subdivididas, conforme a seguir.AN02FREV001/REV 4.0 55 8.1.1 Política Para a atuação de uma educação que ultrapasse os limiares da qualidade, torna-se necessário a implantação de uma política de consciência, o qual este mecanismo deverá organizar-se para financiar desde o nascimento do bebê uma educação com princípios éticos, estéticos e de consciência – crítica – reflexiva acerca dos problemas que estão em seu torno. Mas para que esta atuação seja ativa e atinja todos os níveis, é imprescindível que este financiamento possua níveis de cobertura e tipos de serviços propícios para toda a comunidade, investir na relação e na razão adulto- criança desde o seio materno e familiar, para depois transcender com a comunidade, contratação, formação e especialização contínua de profissionais para a atuação nas mais diversas áreas, redesenhar e redescobrir a relação e formas de prevenção entre o ambiente e a saúde e desempenho de todos os agentes para a garantia e a qualidade da educação e formação de cidadãos. 8.1.2 Economia O mundo conheceu, durante o último meio século, um desenvolvimento econômico sem precedentes. Estes avanços se devem, antes de mais nada, à capacidade dos seres humanos de dominar e organizar o meio ambiente em função das suas necessidades, isto é, à ciência e à educação, motores principais do progresso econômico. Tendo, porém, consciência, por meio de análises da Comissão Internacional da UNESCO sobre Educação para o Século XXI, de que o crescimento atual depara-se com limites evidentes, devido às desigualdades que induz e aos custos humanos e ecológicos que comporta, torna-se necessário definir a educação, não apenas na perspectiva dos seus efeitos sobre o crescimento econômico, mas de acordo com uma visão mais larga: a do desenvolvimento humano. AN02FREV001/REV 4.0 56 O desenvolvimento humano é um processo que visa ampliar as possibilidades oferecidas às pessoas. Em princípio, estas possibilidades podem ser infinitas e evoluir com o tempo. Contudo, em qualquer nível de desenvolvimento, as três principais, do ponto de vista das pessoas, são ter uma vida longa e com saúde, adquirir conhecimentos e ter acesso aos recursos necessários a um nível de vida decente. Na falta destas oportunidades, muitas outras permanecerão inacessíveis. O desenvolvimento humano, pelo contrário, junta à produção e distribuição de bens e serviços, a amplificação e utilização das potencialidades humanas. O conceito de desenvolvimento humano engloba e ultrapassa todas as questões relativas à sociedade – crescimento econômico, trocas, emprego, liberdades políticas, valores culturais, etc. – na perspectiva da pessoa humana. Concentra-se, pois, na ampliação das possibilidades de escolha – e aplica-se tanto aos países em desenvolvimento como aos países industrializados. A educação sob esta perspectiva consiste na capacidade de a humanidade dotar e dominar o seu próprio desenvolvimento, este que deverá estar baseado na participação responsável de todos os membros da sociedade, no incitamento à iniciativa, ao trabalho em equipe, as sinergias, mas também ao emprego próprio e ao espírito empreendedor: é preciso ativar os recursos de cada país, mobilizar os saberes e os agentes locais, com vista à criação de novas atividades que afastem os malefícios do desemprego tecnológico. Nos países em desenvolvimento esta é a melhor via de conseguir e alimentar processos de desenvolvimento endógeno, como é o caso do Brasil, que por meio de legislações está modificando a cara da nossa educação, as quais as suas estratégias estão sendo concebidas de forma coordenada e complementar, tendo por base comum a busca de um ensino que se adapte às nossas circunstâncias. AN02FREV001/REV 4.0 57 8.1.3 Social Mesmo com a sociedade do consumo e do desenvolvimento, aferir valores, costumes, nomenclatura e convenções que fazem parte da cultura onde se vive, os mesmos são exigidos no processo adaptativo do sujeito à sociedade, ou seja, a tradição histórica dos nossos mitos, ritos e costumes não podem, em nenhuma circunstância e/ou momento, deixar de ser livres e autônomos para a propagação da historicidade de qualquer local e ou ambiente do globo. 8.1.4 Físico Para que o ser humano se desenvolva, desde a infância é preciso trabalhar com as capacidades e habilidades. É de suma importância que a criança descubra os atributos dos objetos através de ações concretas e sensoriais. Esta descoberta se dará a partir da experimentação que o indivíduo ter na relação do eu-objeto- mundo. Esta relação se dará das mais diversas formas: com a boca, com as mãos, com a linguagem, resumidamente, o ser vai desvendando os mistérios do mundo que o rodeia utilizando todas as partes do seu corpo. Nesta interação, a criança observa e assimila as leis físicas que ocorrem nas relações dos objetos entre si e entre o sujeito e o objeto. Esta ação é uma prática ativa, na qual a criança e o futuro adulto devem ser os protagonistas do mundo que os rodeiam. Dessa forma, os recursos audiovisuais ganham força e materializam-se na educação por meio dos aparatos pedagógicos e tecnológicos como CDs, redes sociais, Skype e sequências didáticas televisivas (videoaulas). Segundo Mill (2011, p. 15), para quem está começando seus estudos pela modalidade de educação a distância, é importante compreender alguns procedimentos adotados pela universidade formadora e também é necessário AN02FREV001/REV 4.0 58 entender as principais características da proposta pedagógica do curso de Educação a Distância da instituição mantenedora do curso. Assim, pretendemos trazer ao estudante algumas noções introdutórias sobre a educação a distância (também denominada pela sigla EaD). A educação a distância é considerada uma forma alternativa e complementar para a formação do cidadão (brasileiro e do mundo) e tem se mostrado bastante rica em potenciais pedagógicos e de democratização do conhecimento. Hoje, de forma geral, a EaD caracteriza-se fundamentalmente pela separação física (espaço-temporal) entre aluno e professor, bem como pela intensificação do uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) como mediadoras da relação ensino-aprendizagem. Trata-se de uma modalidade que apresenta como característica essencial a proposta de ensinar e aprender sem que professores e alunos precisem estar no mesmo local ao mesmo tempo. Para que isso ocorra, são utilizadas diferentes tecnologias e ferramentas como programas computacionais, livros, CD-ROMs e recursos da Internet, disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem (AVA), que podem ser simultâneas (como webconferências, salas de bate-papo, Skype e MSN) ou não simultâneas (a exemplo de fóruns, ferramentas para edição de textos web e e-mails). Em suma, a educação a distância é uma modalidade educacional que faz uso das tecnologias telemáticas (baseadas nas telecomunicações e na informática). Segundo Dowbor: As transformações que hoje varrem o planeta vão evidentemente muito além de uma simples mudança de tecnologias de comunicação e informação. No entanto, as TICs, como hoje são chamadas, desempenham um papel central. E na medida em que a educação não é uma área em si, mas um processo permanente de construção de pontes entre o mundo da escola e o universo que nos cerca, a nossa visão tem de incluir estas transformações. Não é apenas a técnica de ensino que muda, incorporando uma nova tecnologia. É a própria concepção do ensino que tem de ser repensada. Na modalidade de EaD, os papéis de educando e de educador diferem da modalidade presencial. O estudante deve aprender a organizar sua agenda e seus horários e locais de estudos. Em geral, pela natureza da sua participação na EaD, fica mais evidente a sua atuação como sujeito ativo no processo de construção do conhecimento;precisa aprender a interagir, a colaborar e a ser autônomo. O AN02FREV001/REV 4.0 59 educador, por sua vez, precisa compreender as implicações do redimensionamento espaço-temporal para a sua prática pedagógica nesse novo paradigma de ensino e de aprendizagem, que exige uma pedagogia própria em quase todos os aspectos da relação docente-conhecimento-aluno. Tanto para alunos quanto para docentes, o trabalho em equipe é fundamental para que os objetivos educacionais sejam atingidos. Observa-se que em virtude da natureza da sua participação efetiva na construção do conhecimento, tanto os educadores (professores e tutores) quanto o educando são parceiros nesse processo, e a percepção de colaboração entre os pares e envolvidos ganha destaque. Do ponto de vista da terminologia da educação a distância e da sua definição, concordamos com Moore e Kearsley, que tratam a área em suas multidimensões: educação a distância é o aprendizado planejado que ocorre normalmente em um lugar diferente do local do ensino, exigindo técnicas especiais de criação do curso e de instrução, comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas especiais (MOORE; KEARSLEY, 2008, p. 2). Dessa definição, os autores destacam quatro aspectos constitutivos da educação a distância: o estudo da EaD é um estudo de aprendizado e ensino; o estudo da EaD é um estudo de aprendizado que é planejado, e não acidental; o estudo da EaD é um estudo de aprendizado que normalmente está em um lugar diferente do local de ensino; e o estudo da EaD é um estudo de comunicação por meio de diversas tecnologias. Obviamente, a docência compartilhada (professores, tutores, projetistas, etc.) é indispensável para auxiliar a aprendizagem do educando e, por isso, é também inadequado o uso do termo aprendizagem a distância (ou e-learning), em que o educando é muitas vezes visto como autodidata ou capaz de aprender somente com o apoio de materiais didáticos e sem a mediação dos docentes (professores ou tutores). Dessa forma, como argumenta Moore e Kearsley (2008, p. 2-3), o mais adequado é adotar o termo EaD como educação a distância. AN02FREV001/REV 4.0 60 FIM DO MÓDULO II
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