Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SONO NORMAL O sono é um dos mais importantes comportamentos humanos, sendo necessário para garantir o funcionamento adequado de cérebro, ocupando aproximadamente um terço da vida. O sono pode parecer um processo passivo, porém, costuma estar associado a um alto grau de ativação cerebral. ELETROFISIOLOGIA DO SONO O sono é composto por dois estados fisiológicos: 1. Sono não REM Essa fase é considerada um estado hipoativo em relação a vigília, ou seja, as funções físicas são nitidamente menores do que na vigília → frequência cardíaca costuma baixar 5-10 batidas por minuto, a respiração é afetada da mesma forma e a pressão arterial também tende a abaixar. Além disso, movimentos corporais episódicos e involuntários também estão presentes, raramente há ereções penianas nos homens e o fluxo sanguíneo para a maioria dos tecidos (incluindo o cerebral) é reduzido. Os sonhos nessa fase, em geral, são lúcidos e propositados É subdividido em estágios de 1-4 → Quando as pessoas são acordadas de 30 minutos a 1 hora após o início do sono, elas estão desorientadas, e seu pensamento é desorganizado. Essa desorganização durante o despertar dos estágios 3 ou 4 pode resultar em problemas específicos, incluindo enurese, sonambulismo e pesadelos ou terrores noturnos do estágio 4. 2. Sono REM/paradoxal Cerca de 90 minutos após o início do sono, o não REM passa ao primeiro episódio REM da noite que é caracterizado por ser um tipo de sono que possui altos níveis de atividade cerebral e fisiológicas semelhantes aos da vigília → Pulso, respiração e PA elevados, fornecimento de oxigênio para o cérebro aumenta e a termorregulação fica alterada (uma condição pecilotérmica – estado em que a temperatura do animal varia com as alterações na temperatura do ambiente – é ativada), ou seja, o individuo possui uma incapacidade de responder a alterações na temperatura ambiente com tremores ou suores. Além disso, no estado REM é encontrado uma quase total paralisia dos músculos esqueléticos (posturais) – movimento corporal ausente. Nos homens, quase todo o período REM é acompanhado por ereções penianas parcial ou completa. Em relação a sonhos, nessa fase costumam ser abstratos e surreais O sono possui uma natureza cíclica: um periodo REM começa aproximadamente depois de 90-100 minutos durante a noite. O primeiro periodo REM costuma ser mais curto, durando 10 minutos; períodos REM posteriores costumam durar 15-40 minutos. Esses periodos de sono mudam ao longo da vida REGULAÇÃO DO SONO Acredita-se que não exista apenas um centro simples de controle do sono, mas um pequeno número de sistemas que se localizam no tronco encefálico e que se ativem e se inibem mutuamente. Merece destaque também o papel da serotonina na regulação do sono → A inibição da síntese de serotonina ou a destruição do núcleo de rafe dorsal do tronco cerebral, que contém quase todos os corpos serotonérgicos do cérebro, reduzem o sono por um período considerável. L-triptofano é um aminoácido precursores da serotonina → A ingestão de grandes quantidades dessa (1 a 15 g) reduz a latência do sono e o despertar noturno. No entanto, a deficiência dessa substância é associada com menos tempo de sono REM. A acetilcolina no cérebro está envolvida na produção do sono REM → Comparados com pessoas saudáveis, os pacientes que estão deprimidos apresentam latência encurtada de REM (60 minutos ou menos), uma porcentagem maior de sono REM e uma mudança na distribuição de REM da última metade à primeira metade da noite. A secreção de melatonina (hormônio regulador do ciclo circadiano) da glândula pineal é inibida por luz clara, então as concentrações séricas mais baixas de melatonina ocorrem durante o dia. Evidências mostram que a dopamina tem um efeito de alerta. Drogas que aumentam concentrações de dopamina no cérebro tendem a produzir excitação e vigília. Para aplicações clinicas, o sono é classificado em períodos de 30 segundos, com estágios definidos por três parâmetros: 1. Eletrencefalograma (EEG) → Consiste em atividade rápida, aleatória e de baixa voltagem, com ondas de serrote 2. Eletro-oculograma (EOG) → Registra os movimentos rápidos conjugados dos olhos que são a característica identificadora do estado do sono 3. Eletromiograma (EM) → São registrados abaixo do queixo e registra uma redução marcante do tônus muscular FUNÇÕES DO SONO A maioria dos pesquisadores concorda que o sono exerce uma função homeostática restaurativa e parece ser essencial ao funcionamento normal da termorregulação e da conservação de energia. Como o sono não REM aumenta após o exercício e fome, esse estágio pode estar associado a satisfação de necessidades metabólicas. PRIVAÇÃO DE SONO A privação prolongada de sono pode levar o indivíduo a prejuízos físicos e cognitivos graves (desorganização do ego, alucinações e delírios), até mesmo a morte. Privar as pessoas do sono REM (acordando-as no inicio desse ciclo) aumenta o número de períodos REM e a quantidade de sono REM quando a pessoa pode dormir sem interrupção. Pacientes privados de REM podem exibir irritabilidade e letargia. NECESSIDADE DE SONO Algumas pessoas tem sono naturalmente curto, necessitando de menos de 6 horas de sono por noite para funcionar → Costumam ser eficientes, ambiciosas, socialmente adaptadas e satisfeitas. Pessoas com sono longo precisam de mais de 9 horas para dormir para funcionamento adequado → Apresentam mais períodos REM e mais movimentos rápidos dos olhos em cada período (densidade REM), tendendo a ser mais socialmente retraídas, deprimidas e ansiosas. A necessidade de sono aumenta com o trabalho físico, exercício, doença, gravidez, estresse mental geral e atividade mental aumentada. Sem pistas externas, o relógio natural do corpo segue um ciclo de 25 horas. A influência de fatores externos (como o ciclo dia-noite, rotinas diárias, períodos de refeição e outros sincronizadores externos) habitua a pessoa ao relógio de 24 horas → Os adultos dormem uma ou duas vezes. Esse ritmo não está presente ao nascimento, desenvolvendo-se ao longo dos primeiros 2 anos de vida. Algumas mulheres exibem alterações no padrão de sono durante fases do ciclo menstrual. Sonecas em diferentes períodos do dia diferem bastante em suas proporções de sono REM e não REM. Em alguém que dorme normalmente à noite, uma soneca na manhã ou ao meio dia inclui bastante sono REM, enquanto uma soneca no meio da tarde ou no início da noite tem muito menos sono REM. TRANSTORNOS DO SONO-VIGILIA TRANSTORNO DE INSÔNIA É definida como uma dificuldade de iniciar ou manter o sono, sendo uma das reclamações mais comuns relacionadas ao sono, podendo ser transitória ou persistente e que atinge 30-45% dos adultos. CRITÉRIOS DIAGNOSTICOS A. Queixas de insatisfação predominantes com a quantidade ou a qualidade do sono associadas a um (ou mais) dos seguintes sintomas: a. Dificuldade para iniciar o sono (em crianças, pode se manifestar como dificuldade para iniciar o sono sem intervenção de cuidadores). → Insônia da fase inicial do sono b. Dificuldade para manter o sono, que se caracteriza por despertares frequentes ou por problemas para retornar ao sono depois de cada despertar (em crianças, pode se manifestar como dificuldade para retornar ao sono sem intervenção de cuidadores) → Insônia de manutenção do sono c. Despertar antes do horário habitual com incapacidade de retornar ao sono → Insônia terminal B. A perturbação do sono causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no funcionamento social, profissional, educacional, acadêmico, comportamental ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. As dificuldades relacionadas ao sono ocorrem pelo menos três noites por semana. D. As dificuldades relacionadasao sono permanecem durante pelo menos três meses. E. As dificuldades relacionadas ao sono ocorrem a despeito de oportunidades adequadas para dormir. F. A insônia não é mais bem explicada ou não ocorre exclusivamente durante o curso de outro transtorno do sono-vigília G. A insônia não é atribuída aos efeitos fisiológicos de alguma substância H. A coexistência de transtornos mentais e de condições médicas não explica adequadamente a queixa predominante de insônia. Episódica: dura mais de 1 mês e menos de 3 meses Persistente: dura mais de 3 meses Recorrente: ocorrem dois ou mais episódios dentro de 1 ano INSÔNIA IDIOPÁTICA: costuma começar nos estágios iniciais da vida, às vezes, no nascimento, e continua ao longo dela. Sua causa é desconhecida, mas suspeita-se de desequilíbrios neuroquímicos na formação reticular do tronco cerebral, regulação prejudicada nos geradores de sono do tronco cerebral ou disfunção do presencéfalo basal. O tratamento é difícil TRATAMENTO FARMACOLOGICO A insônia primária (que não está associada a qualquer condição física ou mental) pode ser tratada por hipnóticos (zolpidem, eszopiclona, zaleplon) ou benzodiazepínicos Lembrar que não se deve utilizar por mais de duas semanas, devido a tolerância e abstinência que esses medicamentos podem causar. Medicamentos para dormir de longa ação (p. ex., flurazepam, quazepam): são melhores para insônia no meio da noite; Fármacos de curta ação (p. ex., zolpidem, triazolam): são úteis para pessoas que têm dificuldade para pegar no sono. Além disso, agonista do receptor da melatonina ramelteon e antidepressivos sedativos (trazodona) também são prescritos para auxiliar o sono. TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL (TCC) Usa uma combinação de técnicas cognitivas e comportamentais para superar comportamentos disfuncionais, percepções errôneas e ideais distorcidas sobre o sono. As técnicas utilizadas pela TCC incluem: HIGIENE UNIVERSAL DO SONO → O foco são os componentes ambientais e de estilo de vida modificáveis que podem interferir no sono, assim como comportamentos que podem melhorá-lo. O tratamento deve focalizar 1 a 3 áreas problemáticas por vez. TERAPIA DE CONTROLE DO ESTIMULO: o objetivo é associar a cama com início rápido do sono. A primeira regra é ir para a cama quando estiver com sono. Segundo: use a cama apenas para dormir. Terceiro: não deite na cama e fique frustrado caso não consiga dormir. Após alguns minutos (não olhe para o relógio), levante-se, vá para outra sala e faça algo não estimulante até que a sonolência retorne, devendo ser repetida tanto quanto necessário. A quarta é reforçar os mecanismos básicos dos ciclos circadianos de sono-vigília; ou seja, despertar no mesmo horário todas as manhãs (independentemente do tempo deitado, do período de sono ou do dia da semana) e evitar por completo os cochilos. TERAPIA DE RESTRIÇÃO DO SONO: é uma estratégia criada para aumentar a eficiência do sono reduzindo-se a quantidade de tempo gasta acordado enquanto se está na cama TERAPIA DE RELAXAMENTO E BIOFEEDBACK : relaxamento progressivo, imagem guiada e exercícios de respiração profunda são todos efetivos se produzirem relaxamento. O objetivo é encontrar a melhor técnica para cada paciente TREINAMENTO COGNITIVO: O aspecto cognitivo do tratamento da insônia visa à resposta emocional negativa a uma avaliação da situação do sono. Acredita-se que a resposta emocional negativa produza excitação emocional, o que, por sua vez, contribui para perpetuar a insônia. INTENÇÃO PARADOXAL: Essa é uma técnica cognitiva que funciona para um número limitado de pacientes. A teoria é a de que a ansiedade com o desempenho interfere no início do sono. Assim, quando o paciente tenta ficar acordado o máximo possível, em vez de tentar cair no sono, a ansiedade de desempenho é reduzida e a latência do sono aumenta. Os benefícios da TCC a curto prazo são semelhantes a farmacoterapia, porém, seus benefícios perduram por até 36 meses após o tratamento. TRANSTORNO DE HIPERSONOLÊNCIA Hipersonolência se refere a sonolência excessiva (propensão a pegar no sono e, quando extrema, incapacidade de se manter acordado), sendo uma condição grave, debilitante, potencialmente fatal e não transmissível. A sonolência pode ser consequência de: 1. Sono insuficiente 2. Disfunção neurológica básica nos sistemas cerebrais reguladores do sono 3. Sono perturbado 4. Fase do ritmo circadiano de um individuo Dívida do sono: é produzida quando o sono é insuficiente, sendo cumulativa. Se uma pessoa reduz a duração do sono em 1 a 2 horas por noite e continuar com esse regime por uma semana, a sonolência irá alcançar níveis patológicos. Quando a dívida de sono é adicionada à perturbação do sono ou a uma disfunção neurológica básica nos mecanismos do sono, há um risco aumentado de que o indivíduo pegue no sono inesperadamente e sem aviso. A sonolência afeta adversamente a atenção, a concentração, a memória e os processos cognitivos mais elevados. Resultados graves da sonolência incluem fracasso escolar, perda de emprego, acidentes com veículos automotores e desastres industriais. A hipersonia primária é diagnosticada quando não se pode encontrar outra causa para sonolência excessiva que ocorre por pelo menos um mês. TIPOS DE HIPERSONIA SÍNDROME DE KLEINE-LEVIN: relativamente rara que consiste em períodos de sono prolongado (do qual os pacientes conseguem ser acordados) com períodos intercalados de sono normal e vigília alerta (períodos despertos costumam estar marcados por retração do contato social e retorno à cama na primeira oportunidade) Ela afeta sobretudo homens, no começo da adolescência (10-21 anos). Em sua forma clássica, os episódios recorrentes estão associados a sonolência excessiva, alimentação voraz, hipersexualidade e desinibição. HIPERSONIA RELACIONADA À MENSTRUAÇÃO: mulheres que apresentam episódios intermitentes de hipersonia marcante no início (ou pouco tempo antes) da menstruação. Os sintomas costumam durar por uma semana, resolvendo-se com a menstruação. O tratamento com contraceptivos orais é efetivo, então se acredita que o transtorno seja secundário a um desequilíbrio hormonal. HIPERSONIA IDIOPÁTICA: A idade de início costuma ser dos 15 aos 30 anos, e a hipersonia torna-se um problema vitalício. Além do sono noturno prolongado, não perturbado e não revigorante, a HI está associada com longos cochilos não revigorantes, dificuldade para despertar, embriaguez de sono e comportamentos automáticos com amnésia. Outros sintomas que sugerem disfunção do sistema nervoso autônomo são típicos, incluindo enxaquecas, desmaios, síncope, hipotensão ortostática e fenômenos do tipo Raynaud com mãos e pés gelados. Como o nome indica, a etiologia é desconhecida; no entanto, presume-se uma causa no sistema nervoso central → teorias sugerem três categorias gerais: Subgrupo 1 → indivíduos que são positivos para HLA-Cw2, têm disfunções no sistema nervoso autônomo e outros familiares afetados. Subgrupo 2 → pacientes com infecção pós-viral (p. ex., síndrome de Guillain-Barré [polineuropatia ascendente], mononucleose e pneumonia viral atípica). Subgrupo 3 -- não são familiares nem são pós-virais (i.e., verdadeiramente idiopáticos). TRATAMENTO A hipersonia causada por sono insuficiente é tratada estendendo-se e regularizando-se o período de sono. Porém, se a origem for outra, a sonolência costuma ser manejada farmacologicamente. Não há cura para essas condições, mas os sintomas são tratados com: ▪ Modafinil - substância promotora de vigília ▪ Psicoestimulantes tradicionais, como anfetaminas e seus derivados (se modafinil falhar). Apesar de as farmacoterapias serem os tratamentos de primeira escolha, a abordagem de tratamento geral deve incluir cochilosprogramados, ajuste de estilo de vida, aconselhamento psicológico, intervalos dos fármacos para reduzir a tolerância (se forem usados estimulantes) e monitoramento cuidadoso de uso de medicamentos além do prescrito, da saúde geral e do estado cardíaco. NARCOLEPSIA É resultado de uma anormalidade dos mecanismos do sono (mecanismos de inibição do REM) caracterizada pela sonolência excessiva durante o dia e sintomas que indicam a intrusão de aspectos do sono REM no estado de vigília (alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas, cataplexia e paralisia do sono) ▪ Cataplexia: perda repentina de tônus muscular, como abertura de mandíbula, queda da cabeça, fraqueza dos joelhos ou paralisia de todos os músculos esqueléticos com queda. Emoções fortes costumam ser “ativadores” da cataplexia (risadas e raiva) ▪ Alucinações hipnagógicas ou hipnopômpicas: experiências perceptivas vívidas, auditivas ou visuais, ocorrendo no início do sono ou ao despertar. As pessoas costumam ficar momentaneamente assustadas, mas em 1 a 2 minutos voltam a seu estado mental normal e se conscientizam de que não havia nada ali. ▪ Paralisia do sono: durante os episódios, as pessoas parecem estar acordadas e conscientes, mas são incapazes de mover um músculo. ▪ Indivíduos com narcolepsia relatam adormecer rapidamente à noite, mas costumam ter sono fragmentado. Pode ocorrer em qualquer fase da vida, mas geralmente ocorre antes dos 30 anos de idade. CRITERIOS DIAGNOSTICOS A. Períodos recorrentes de necessidade irresistível de dormir, cair no sono ou cochilar em um mesmo dia. Esses períodos devem estar ocorrendo pelo menos três vezes por semana nos últimos três meses. B. Presença de pelo menos um entre os seguintes sintomas: 1. Episódio de cataplexia, definido como (a) ou (b), que ocorre pelo menos algumas vezes por mês: a. a. Em indivíduos com doença de longa duração, episódios breves (variando de segundos a minutos) de perda bilateral de tônus muscular, com manutenção da consciência, precipitados por risadas ou brincadeiras. b. Em crianças ou em indivíduos dentro de seis meses a partir do início, episódios espontâneos de caretas ou abertura da mandíbula com projeção da língua ou hipotonia global, sem nenhum desencadeante emocional óbvio. 2. Deficiência de hipocretina, medida usando os valores de imunorreatividade da hipocretina-1 no líquido cerebrospinal (LCS) (inferior ou igual a um terço dos valores obtidos em testes feitos em indivíduos saudáveis usando o mesmo teste ou inferior ou igual a 110 pg/ mL). Níveis baixos de hipocretina-1 no LCS não devem ser observados no contexto de inflamação, infecção ou lesão cerebral aguda. 3. Polissonografia do sono noturno demonstrando latência do sono REM inferior ou igual a 15 minutos ou teste de latência múltipla do sono demonstrando média de latência do sono inferior ou igual a 8 minutos e dois ou mais períodos de REM no início do sono TRATAMENTO Não existe cura, mas é possível administrar os sintomas. Em casos mais leves, cochilos forçados em horas especificas do dia podem ajudar pacientes com essa condição + ajustes no estilo de vida Casos mais graves, se beneficiam com medicamentos estimulantes → modafinil ou psicoestimulantes tradicionais Em pacientes com cataplexia, pode-se usar ainda antidepressivos tricíclicos ou ISRS (esses fármacos possuem a capacidade de suprimir o sono REM) → Fluoxetina, modafinil e imipramina TRANSTORNOS DO SONO RELACIONADO À RESPIRAÇÃO APNEIA E HIPOPNEIA OBSTRUTIVAS DO SONO (AOS) São caracterizadas por obstrução repetitiva ou parcial da via aérea superior durante o sono, resultando na redução de saturação arterial de oxigênio e despertar transitório, após o que a respiração recomeça normalmente. Para ser definido como apneia precisa ter uma pausa de respiração por 10 segundos ou mais. Já uma redução de respiração por menos de 10 segundos é considerado como hipopneia. FATORES DE RISCO PARA O AOS SÃO: sexo masculino, ter alcançado a meia idade, ser obeso ou ter micrognatia, retrognatia, anormalidades nasofaríngeas, hipotireoidismo e acromegalia. DIAGNOSTICO: características clinicas associadas a AOS são; ▪ Sonolência excessiva ▪ Ronco ▪ Obesidade ▪ Sono inquieto ▪ Despertar noturno engasgado ou em busca de ar ▪ Boca seca e dores de cabeça pela manhã ▪ Suor noturno pesado Polissonograma: fluxo aéreo oral cessa completa (uma apneia) ou parcialmente (uma hipopneia) →expansão abdominal e torácica, indicando esforços contínuos do diafragma e dos músculos acessórios da respiração para que o ar passe pela obstrução → A saturação de oxigênio arterial diminui, e com frequência se observa bradicardia, que pode ser acompanhada de outras arritmias, como contrações ventriculares prematuras → Ao final, ocorre um reflexo de despertar, visto como um sinal de vigília e possivelmente como um artefato motor dos canais de EEG. Nesse momento, o paciente pode ser visto realizando nítidos movimentos breves de agitação na cama. TRATAMENTO: ▪ Perda de peso ▪ Intervenção cirúrgica com o objetivo de criar uma via aérea desobstruída o No início, eram realizadas traqueostomias o Atualmente, tenta-se a modificação do palato mole ou cirurgia maxilomandibular ▪ Pressão positiva das vias aéreas (PAP) o Fluxo de ar na máscara faz pressão positiva que compensa o colapso orofaríngeo produzido pela pressão torácica inspiratória negativa. ▪ Aparelhos orais o A abordagem geral é manipular a posição da mandíbula, levantar o palato ou reter a língua o É benéfico em casos leves e moderados de AOS APNEIA CENTRAL DO SONO (ACS) É definida como ausência de respiração devido à falta do esforço respiratório, tende a ocorrer nos idosos e são resultados da falha periódica dos mecanismos do SNC que estimulam a respiração. ACS IDIOPÁTICA: Os pacientes em geral têm pressão parcial de CO2 arterial (PaCO2) normal baixa enquanto acordados e apresentam uma resposta ventilatória elevada ao CO2. Eles apresentam sonolência durante o dia, insônia ou acordam com falta de ar. A polissonografia revela cinco ou mais apneias centrais por hora de sono. RESPIRAÇÃO DE CHEYNE-STOKES: é um padrão respiratório único que consiste em hiperpneias prolongadas que se alternam com episódios de apneia e hipopneia que estão associados com esforço ventilatório reduzido. Esse padrão é mais comum em homens mais velhos com insuficiência cardíaca congestiva ou AVC. Assim como na ACS primária, o paciente apresenta sonolência diurna, insônia e despertar com falta de ar. A polissonografia revela 10 ou mais episódios de apneia e hipopneia centrais por hora de sono. ACS DEVIDA A CONDIÇÃO CLÍNICA NÃO SENDO CHEYNE—STOKES: Essa forma de ACS costuma ser causada por lesão no tronco cerebral associada com uma ampla gama de etiologias variáveis. Os critérios diagnósticos requerem frequência polissonograficamente verificada de 10 ou mais apneias e hipopneias centrais por hora de sono com um padrão respiratório de crescendo-decrescendo acompanhado de despertares e sono fragmentado. ACS COMÓRBIDA COM USO DE OPIOIDES : existe uma associação com uso crônico de medicamentos opioides de longa ação e comprometimento do controle neuromuscular respiratório levando a ACS. ACS DEVIDA A USO DE DROGA OU DE SUBSTÂNCIA: Episódios de apneia central podem ser provocados por diversas drogas ou combinações de drogas que alterem o controle muscular levando a ACS. Os critérios diagnósticos são o índice de apneia central (número de episódios por hora) de cinco ou mais, e o paciente deve estar tomando medicamento(s) há pelo menos dois meses. ACS DEVIDA A ALTA ALTITUDE: A apneia central no início do sono é universal em elevações acima de 7.600 m, mas pode ocorrer a 5.000 m (especialmente com rápida elevação).APNEIA DO SONO PRIMÁRIA DA INFÂNCIA: Essa forma de ACS envolve apneias ou hipopneias prolongadas com hipoxemia concomitante, bradicardia ou ambas. Essa condição aflige recém-nascidos prematuros, presumivelmente porque seu tronco cerebral ainda não está completamente desenvolvido e exacerbada por outros problemas médicos, que comprometem ainda mais o estado fisiológico e de desenvolvimento do bebê. HIPOVENTILAÇÃO RELACIONADA A SONO HIPOVENTILAÇÃO IDIOPÁTICA: Afeta pacientes que não apresentam doenças pulmonares, obesidade, cifoescoliose ou outras condições estruturais que possam causar hipoventilação. Além disso, essas pacientes possuem pulmões normais e uma redução na ventilação alveolar, resultando em dessaturação de oxigênio arterial relacionada ao sono, provavelmente devido ao enfraquecimento da quimiorresponsividade. A polissonografia revela episódios de respiração superficial com duração maior do que 10 segundos associados com dessaturação de oxigênio arterial e despertar frequente do sono relacionado com as perturbações respiratórias ou variações na frequência cardíaca. Os pacientes com frequência reclamam de sonolência diurna excessiva, despertar frequente do sono ou insônia. SÍNDROME DA HIPOVENTILAÇÃO ALVEOLAR CENTRAL CONGÊNITA (MALDIÇÃO DE ONDINE): A hipoventilação resulta da falha em controlar de maneira automática a respiração. Apesar de estar presente no nascimento, a síndrome de hipoventilação central congênita pode não ser inicialmente reconhecida. Em formas graves, o tratamento exige suporte ventilatório contínuo. HIPOVENTILAÇÃO COMÓRBIDA RELACIONADA AO SONO: Ocorre quando a hipoventilação é uma consequência de uma condição clínica, como, por exemplo, patologia vascular ou do parênquima pulmonar, obstrução das vias aéreas inferiores ou distúrbios neuromusculares ou torácicos. HIPOVENTILAÇÃO RELACIONADA AO SONO DEVIDA A PATOLOGIA VASCULAR OU DO PARÊNQUIMA PULMONAR: Doença pulmonar parenquimal (doenças pulmonares intersticiais) ou doença vascular (anemia falciforme) são a causa primária da hipoxemia. A hipoxemia noturna pode levar a hipertensão pulmonar arterial, cor pulmonale e disfunção neurocognitiva. HIPOVENTILAÇÃO RELACIONADA AO SONO DEVIDA A OBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS INFERIORES : É diagnosticada por uma relação volume expirado no primeiro segundo (VEF1)/ capacidade vital forçada (CVF) menor que 70% do valor previsto nos testes de função pulmonar (TFPs). A hipoxemia noturna pode levar a hipertensão pulmonar arterial e cor pulmonale. A hipoxemia prolongada também pode causar dano ao cérebro. Estudos do sono revelam que saturação prolongada da oxi-hemoglobina durante o sono ocorre na ausência de episódios detectáveis de apneia ou hipopneia. HIPOVENTILAÇÃO RELACIONADA AO SONO DEVIDA A DISTÚRBIOS NEUROMUSCULARES E TORÁCICOS : Miastenia grave e esclerose lateral amiotrófica (ELA) ocorrendo junto com AOS podem exacerbar a hipoxemia produzida pelos distúrbios neuromusculares e torácicos. TRANSTORNO DO SONO DO RITMO CIRCADIANO São condições que envolvem um desequilíbrio entre o período de sono desejado e o real → Dessincronia entre o relógio biológico circadiano interno do indivíduo e o ciclo de sono-vigília desejado/convencional Em circunstâncias normais, o marca-passo circadiano interno é reiniciado todos os dias pela luz brilhante, convenções sociais, estimulantes e atividade. Em casos nos quais esses fatores não conseguem reentrar no ritmo circadiano, ocorrem os transtornos do sono do ritmo circadiano TIPO FASE DO SONO ATRASADA Ocorre quando o relógio biológico é mais lento do que as 24 horas ou se inicia mais tarde do que o horário desejado → Indivíduos com fase do sono atrasada são mais alertas no fim da tarde e no início da noite, ficam acordados até tarde e se sentem mais cansados de manhã. Essas pessoas costumam ser chamadas de notívagas. TIPO FASE DO SONO AVANÇADA Ocorre quando o ritmo circadiano se inicia mais cedo → Indivíduos com fase do sono avançada ficam sonolentos no fim da tarde e querem ir deitar mais cedo e acordar mais cedo e se sentem mais alertas cedo de manhã. TIPO SONO-VIGÍLIA IRREGULAR Ocorre quando o ritmo circadiano de sono-vigília está ausente ou é reduzido de forma patológica, geralmente associado a transtornos neurodegenerativos (doença de Alzheimer e transtornos de neurodesenvolvimento em crianças) → Indivíduos com essa condição têm uma quantidade normal de sono durante um período de 24 horas; no entanto, ele é fragmentado em três ou mais episódios que estão presentes de maneira irregular. Há sintomas de insônia à noite e sonolência excessiva durante o dia. Cochilos longos durante o dia e vigília inadequada à noite estão presentes. TIPO SONO-VIGÍLIA NÃO DE 24 HORAS (CORRIDA LIVRE) Transtorno típico de pessoas cegas ou com problemas de visão que ocorre quando o marca-passo circadiano de sono- vigília tem um ciclo maior ou menor do que 24 horas e não reinicia a cada manhã. Em circunstâncias normais, a ressincronização desse ritmo ocorre diariamente em resposta ao ciclo dia-noite → Se o relógio circadiano tiver um ciclo maior do que 24 horas e não reiniciar todos os dias, o indivíduo passará por insônia da fase inicial do sono e sonolência diurna. Os problemas de sono atingem o ápice quando os relógios circadiano e ambiental estão a 12 horas um do outro e então começam a se aproximar, simulando uma resolução progressiva e uma fase avançada do sono. Em algum momento, os relógios entram em consonância, e o ciclo de sono-vigília fica normal por alguns dias, após os quais os ciclos de insônia e hipersonia recomeçam. TIPO TRABALHO EM TURNOS Muitos serviços exigem operação 24 horas (p. ex., transporte, serviços de saúde). Esses trabalhadores sofrem de insônia, sonolência excessiva ou ambas TIPO JET LAG Removido do DSM-5, o jet lag ainda é reconhecido como um transtorno do ritmo circadiano do sono pelo ICSD-2. Com o advento das viagens aéreas em alta velocidade, uma dessincronização induzida entre os relógios circadiano e ambiental tornou-se possível → Quando um indivíduo viaja rapidamente entre muitos fusos horários, ou a fase circadiana avança, ou um atraso de fase é induzido, dependendo da direção da viagem. Em geral, o deslocamento em um ou dois fusos não produz um problema prolongado; contudo, viagens entre continentes podem ser marcadas por grandes dificuldades de ajuste da rotina de sono-vigília. DEVIDO A UMA CONDIÇÃO CLÍNICA Típicos de pessoas que costumar dormir à vontade → doenças que os mantêm de cama, durante hospitalizações (perturbação por barulho, luz e pelos procedimentos terapêuticos e de monitoramento realizados), durante o uso de medicamentos com propriedades sedativas e em algumas formas de demência, resultando em padrões caóticos de sono-vigília que afetam adversamente o ritmo circadiano. TRATAMENTO CRONOTERAPIA: técnica usada para reiniciar o relógio biológico → envolve retardar progressivamente a fase da pessoa até que o oscilador circadiano esteja sincronizado com os horários de sono-vigília pretendidos FOTOTERAPIA: expor um indivíduo a luzes brilhantes (parte azul do espectro de luz - acima de 10 mil lux) pode alterar o ritmo biológico endógeno, modificando o ponto de ativação do relógio biológico → Terapia de luzes brilhantes no início da manhã para avançar de fase em indivíduos com síndrome da fase do sono atrasada. De modo semelhante, a exposição a luzes brilhantes de noite pode ajudar os pacientes com síndrome da fase do sono avançada. MELATONINA: O uso experimental para tratar o transtorno do ritmo circadiano em cegos, por exemplo, tipo sono-vigília não de 24 horas, obteve sucesso, mas ainda está sendo usada off label → Em circunstâncias normais, os níveis de melatonina começam a subir ao anoitecer e permanecemelevados até o amanhecer (A luz brilhante suprime a liberação dessa substância, de certa forma, ela é o sinal de escuro no cérebro). De interesse, o único medicamento aprovado para transtorno do sono tipo trabalho em turnos é o composto de promoção da vigília, modafinil. Esse fármaco é aprovado para o tratamento de sonolência que ocorre durante trabalhos no turno da noite. PARASSONIAIS/TRANSTORNOS DO DESPERTAR PARCIAL SONAMBULISMO É um tipo de transtorno do despertar do sono não REM, caracterizados por episódios repetidos de levantar-se da cama durante o sono e deambular. Durante o sonambulismo, o indivíduo se apresenta com o olhar fixo e o rosto vazio, praticamente não responde aos esforços de comunicação por parte de outras pessoas e pode ser acordado apenas com muita dificuldade (Quando acorda, costuma parecer confuso. É melhor tentar levar os sonâmbulos de volta para a cama gentilmente, em vez de tentar acordá-los agarrando, sacudindo ou gritando. Em seu estado de confusão, eles podem pensar que estão sendo atacados e podem agir com violência para se defender) A caminhada sonambula costuma ter seu inicio perto do fim do primeiro ou segundo episódio de sono de ondas lentas. O sonâmbulo frequentemente consegue interagir com o ambiente (p. ex., evita tropeçar em objetos). Contudo, pode interagir com o ambiente de maneira inadequada, o que às vezes resulta em ferimentos (p. ex., sair por uma janela ou andar pela estrada). Há casos em que os sonâmbulos cometeram atos de violência. Sonambulismo em adultos é raro, ocorrendo principalmente em crianças, entre 4 e 8 anos, desaparecendo espontaneamente após a adolescência. TERROR NOTURNO É um outro tipo de transtorno do despertar do sono não REM, sendo caracterizado por um despertar repentino no primeiro terço da noite com medo intenso, normalmente começando com um grito ou choro agudo e é acompanhado de manifestações comportamentais de intensa ansiedade beirando o pânico. Os terrores noturnos podem ser desprovidos de imagens ou conter apenas fragmentos de imagens muito breves, mas assustadoramente vívidos, embora às vezes sejam estáticos. Um indivíduo que sofre de terror do sono em geral se senta na cama, não responde a estímulos e, se acordado, fica confuso ou desorientado. Vocalizações podem ocorrer, mas elas costumam ser incoerentes. Independentemente da intensidade desses eventos, costuma existir amnésia para os episódios e podem ser exacerbados por febre e abstinência de depressores do SNC, além da privação de sono. PESADELOS/ATAQUES DE ANSIEDADE DOS SONHOS É um tipo de transtorno do despertar do sono REM, comum em crianças (3-6 anos) sendo definidos como sonhos assustadores ou aterrorizantes, que produzem ativação simpática que acaba por despertar o indivíduo. Quando desperta, a pessoa costuma se lembrar do sonho (diferentemente dos terrores do sono) → Alguns pesadelos são recorrentes, e existem relatos de que, quando ocorrem em associação com transtorno de estresse pós-traumático, podem ser lembranças do próprio evento, podendo persistir por muitos anos. TRATAMENTO: técnicas comportamentais podem ser úteis tais como higiene universal do sono, terapia de controle de estímulo, terapia de sonhos lúcidos e terapia cognitiva também podem melhorar o sono e reduzir pesadelos. Em pacientes com transtorno de estresse pós-traumático relacionado a pesadelos, a nefazodona (antidepressivo atípico) também aumenta os benefícios terapêuticos. Os benzodiazepínicos também podem ser úteis; entretanto, ainda são necessários mais ensaios controlados.
Compartilhar