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PLANEJANDO AÇÕES DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL Planejamento: elementos básicos, plano de ensino, elaboração Planejar em educação tem um sentido amplo, prevendo que as ações educativas possam permear o processo de ensino-aprendizagem, verificar as condições em que elas se estabelecem, físicas, sociais e conjunturais, antecipando problemas que possam ocorrer, tentando buscar alternativas para eles. Segundo o documento norteador “Instrutivo Metodologia de Trabalho em grupo para ações de alimentação e nutrição na Atenção Básica” temos a seguinte informação: “[...] a educação em saúde deve estimular, portanto, a reflexão dos indivíduos sobre sua vida, percebendo a saúde como um direito social (conquistado pela participação da sociedade); por conseguinte, deve ser pautada na reflexão crítica dos problemas” (BRASIL, 2016, p. 17). Além de um contexto educacional no ambiente escolar, devemos adaptar e planejar as ações de EAN a outros contextos pertinentes as demais áreas de atuação dos nutricionistas, sempre com foco nos direitos humanos, entre eles a alimentação como direito básico. E ainda, essas ações sempre serão pautadas na pedagogia, utilizando ferramentas e conceitos provenientes deste campo de conhecimento, a educação. Devemos elaborar este planejamento de ensino, [...] articulando as metas aos objetivos, os fundamentos, os conteúdos e as estratégias metodológicas, considerando os contextos comunitário e escolar, as condições e o clima, os sujeitos envolvidos, a qualidade, a habilidade e a experiência dos educadores(as) e o processo de avaliação e acompanhamento (SILVA;ZENAIDE, s.d., p. 2, grifo nosso). Vamos analisar cada um desses itens que compõem o planejamento das ações educacionais? Esta análise poderá ser eficiente na formulação de um plano de ação, ou ainda, um plano de ensino que contemple as ações de EAN. Conceitos do plano de ensino Principiamos, então, nossa incursão pelos objetivos: ter em mente quais os objetivos que gostaríamos de atingir com uma ação educacional promove que sejam delimitados assuntos, abordagens e metodologias que possam favorecer o processo de ensino-aprendizagem, coincidindo com o cumprimento desses objetivos. Enquanto objetivos, devemos ter em mente que eles devem ser claros, levar a uma condução e finalização de assuntos e cumprir etapas no processo de educação (PEREIRA, 2003). A fundamentação pode nos ajudar a justificar nossos objetivos, já que nos traz as bases para as ações educacionais. A ciência e seus estudos podem nos amparar na fundamentação dos nossos objetivos, assim como os documentos norteadores também o fazem. Os conteúdos tem profunda ligação com a fundamentação, é nos conteúdos que buscamos os conceitos que fundamentam nossos objetivos. Relacionar estes conteúdos e fundamentações aos saberes populares deve ser uma preocupação das metodologias da problematização. Esta ponte estabelece confiança, comunicação e valorização dos atores sociais e os saberes que carregam consigo. E por fim aliamos as estratégias metodológicas, que serão a maneira de efetivação dos objetivos traçados e dos conteúdos associados. A partir de estratégias podemos realizar a escolha das ferramentas didáticas que melhor se adaptem as situações em que irão ocorrer as formações e aos conteúdos que serão discutidos. Planejando ações de EAN Ao realizar o planejamento das ações de EAN, baseadas na elaboração de um plano de ensino, cabe relacionar algumas questões importantes. Uma visão crítica da educação e dos assuntos que por ela serão abordados pode favorecer a construção de ações de emancipação. Mas por falar em emancipação, vamos nos aprofundar nesta palavra? Ela tem estado presente em boa parte das nossas discussões, tanto de educação, quanto em políticas públicas, e ainda na alimentação e nutrição. Então, quando falamos em emancipação ligada aos conceitos de educação, estamos falando no conhecimento que transforma, que torna o indivíduo independente e capacitado para tomar suas decisões e discernir sobre os diversos aspectos de sua existência (FREIRE, 1996). Agora que já estamos munidos de informações sobre a importância e os elementos que devem compor um plano educacional, passamos a agregar estes conceitos a elaboração de um plano de ensino. Utilizando as experiências em educação, através de um diagnóstico do foco das ações, chegaremos ao planejamento da EAN. Elaboração do plano de ensino As experiências em educação irão participar no momento da elaboração de nosso plano de ensino, seja na busca por metodologias ou até mesmo na definição de uma corrente de pensamento. Segundo Silva e Zenaide (s.d.), alguns pontos são fundamentais neste estabelecimento: visão crítica, visão politica da educação, ética e cultura democrática, universalidade de conceitos, possibilidade de uso de metodologias e ações múltiplas, definições de metodologias e materiais de acordo com a fase de ensino, promoção do diálogo, localização histórica, com vistas na interrelação entre passado, presente e futuro, e por fim, contemplar as instâncias de sensibilização, problematização, construção coletiva e acompanhamento sistemático dos processos educacionais em suas duas faces (professor e estudante). Em termos práticos, não existem modelos prontos para elaboração de um plano de ensino para EAN, mas o uso de exemplos de planos de educação básica e um passo-a-passo baseado em conceitos podem auxiliar em sua elaboração. Estruturalmente o plano de ensino (Figura 1) irá conter: assuntos a serem abordados, podendo ser apresentados em tópicos (com breve explicação dos tópicos); métodos e materiais a serem utilizados (elencados brevemente); referências bibliográficas (FUNDESCOLA, 1999). Métodos estão relacionados as metodologias aplicadas e materiais aos que serão utilizados para efetivação das ações. Caso as ações sejam a longo prazo, um cronograma das atividades poderá ser benéfico para uma visão geral das atividades. Caso deseje organizar um plano de ensino mais elaborado, o público-alvo, metas e resultados esperados, bem como os responsáveis pelas ações e monitoramento são possibilidades de ampliação deste documento. Lembrando ainda que este documento pode ser uma atividade conjunta, promovendo a intersetorialidade. Planejamento de programas de EAN De acordo com cada uma das áreas as necessidades do público-alvo podem variar, deste modo, as ações devem ser planejadas contemplando as demandas especificas. O tempo das ações também é outro fator que pode variar, assim como a heterogeneidade dos atores e a estrutura física. Há também as ações que podem ser planejadas, porém sem um grupo focal especifico, seria o caso das ações genéricas que podem ser trabalhadas com diversos públicos, fazer parte de documentos norteadores e materiais didáticos ou, ainda, participar da formação de outros profissionais (professores, agentes de saúde, enfermagem etc.), em equipes de trabalho de EAN mistas. A prática de EAN atravessa saberes através de sua interdisciplinaridade, e este ponto deve ser levado em consideração no planejamento das ações, colocando a intersetorialidade e o multiprofissionalismo em foco. Essa questão nos leva a outra, a formação pode ser diferenciada entre a profissional ou a educacional. Quando se tratam de ações que visam formar outros profissionais para as práticas de EAN, nossa abordagem deve levar em consideração os saberes dos profissionais e suas práticas. Já na abordagem educacional, muitas vezes, iremos partir de um panorama inicial de saberes, onde a escuta ativa vai ser a ferramenta para ouvir, compreender e esclarecer os pontos de conflito ou dúvidas. A articulação é a palavra fundante, nela conseguiremos basear nossas ações, desenvolver objetivos, traçar metas e promover atividades de EAN que cumpram o papel emancipatório da educação.Em seguida, passaremos para as fases deste planejamento, que poderão ser muito uteis na preparação das ações de EAN. Fases do planejamento de EAN As fases do planejamento podem ser distintas, primeiramente sobre como se dará este plano. O Marco de EAN preconiza que as ações sejam realizadas de maneira interdisciplinar, intersetorial e participativas (BRASIL, 2012). Mas existem momentos em que o desenvolvimento de planos de ensino poderá ficar a cargo somente do nutricionista. Cabe esclarecer que a busca constante de todos os profissionais que atuam em EAN é pela multiplicidade de visões acerca da alimentação. Buscando incluir atores e profissionais diversos, ainda que em alguns momentos o trabalho ocorra de maneira isolada, o objetivo é sempre o coletivo. Segundo Bezerra (2018, p. 23), “[...] o planejamento deve ser prioritariamente participativo para que possa ser legítimo e conduza a um processo de decisão adequada ao diagnóstico no qual se baseia e aos objetivos que busca atingir”. Logo, podemos trazer os seguintes passos para elaboração de um planejamento de ações de EAN. Vejamos, a seguir. • Equipe participante; • Diagnostico da realidade a ser abordada; • Objetivos das ações; • Avaliação das metas. Vamos nos aprofundar? A observação da equipe participante e os diálogos que se estabelecem neste planejamento conjunto pode se estabelecer em diferentes momentos. Reuniões, distribuição de tarefas e rodas de conversa ou grupos de trabalho focais podem ser instrumentos para que esta ocasião possa colaborar no planejamento das ações. O diagnóstico da realidade trará a coesão entre o conhecimento e a vida, realizando a tradução dos conhecimentos científicos e conceitos, acolhendo os saberes populares e fazendo a interpelação entre eles nas ações educacionais. Esta ação originará as atividades de EAN para a comunidade, que se sentirá ainda mais participante. É aquela sensação de que a atividade foi feita sob medida. Os objetivos das ações são o fator determinante para o bom andamento das atividades, como vimos anteriormente. Eles podem ser elencados em conjunto, ou em cada uma das áreas atuantes e juntos formarão um bloco de objetivos comuns a educação nutricional. Os objetivos estão diretamente relacionados as metodologias e aos materiais de trabalho que serão utilizados, assim como a definição de tempo e espaço que serão necessários a esta formulação. Fato que poderá ocorrer ao contrário, o tempo disponível para a atividade e local onde será realizada poderão influenciar na escolha dos objetivos que visam ser atingidos através de uma ação de EAN. E finalmente a avaliação das metas, este momento é multilateral, podendo ser realizado pelos profissionais participantes, de acordo com os objetivos que estabeleceram anteriormente, e ainda pelos próprios atores sociais alvo da ação. Sendo assim a avaliação se torna completa e posteriormente poderá ser utilizada para aprimorar as ações. Áreas de atuação do nutricionista em EAN Conectando ao tópico anterior, saber quais são as áreas de atuação do nutricionista e como funciona o planejamento de ações de EAN, nestas respectivas áreas, é outro dado importante. Ainda que todas as áreas tenham em comum o uso de recursos educacionais e bases pedagógicas e metodológicas, as demandas podem ser distintas. Podemos eleger que são campos de trabalho da nutrição: saúde; assistência social; segurança alimentar e nutricional; educação; agricultura; abastecimento; esporte e lazer; trabalho (através da alimentação coletiva) e comércio (através da indústria de alimentos e restaurantes comerciais). Mas ressaltando que o nutricionista pode estar presente nas ações em áreas que habitualmente não trabalha, ou que as ações planejadas por estes profissionais podem ser aplicadas por outros profissionais nestas mesmas áreas de atuação. Ações base em cada área Em cada uma das áreas haverão diferentes possibilidades de ensino para as ações de EAN. Elas diferem em público-alvo, local de desenvolvimento, tempo de duração, sendo possível inter-relacionar materiais e métodos. Cabe salientar que nem todas as áreas terão a educação nutricional como foco, mas sim a possibilidade de desenvolvimento de ações que auxiliem a EAN. Na área da saúde, as ações de EAN na saúde o objetivo de promover a alimentação saudável e adequada para público considerados sem enfermidades quanto para os grupos específicos, como diabéticos, hipertensos, gestantes e parturientes, crianças, entre outros. Para os grupos focais, o principal objetivo é a busca do equilíbrio entre as ações para controle ou cura das doenças/condições especiais e a manutenção de uma alimentação saudável. Na área de assistência social, a realidade das condições de vida são o foco das ações de EAN na assistência social, fontes de obtenção de alimentos de qualidade, programas sociais que possam promover uma alimentação adequada a populações que não tenham acesso aos alimentos, aproveitamento total dos alimentos e receitas nutritivas podem ser o mote das ações de EAN. No âmbito da segurança alimentar e nutricional, as ações de EAN e a SAN são inteiramente correlatas, ambas buscam promover uma alimentação que seja agente de saúde, que melhore a qualidade de vida das populações. Já na educação, o papel da educação junto a alimentação é uma associação comum. O público da educação pode ser facilmente identificado como o infantil, foco de ações relativas à alimentação, ainda a introdução de assunto em disciplinar do currículo escolar. Mas adultos também estão inseridos neste contexto e sua alimentação também é foco de EAN. No campo da agricultura, o estímulo a práticas agroalimentares que possam promover a saúde, diversidade de produção, respeito a cultura alimentar do país são os focos principais das práticas de EAN na agricultura. Através da agricultura, temos boa parte dos produtos alimentícios que são consumidos diariamente pela população, e este plantio pode ditar o consumo. Já o abastecimento, através de alimentos promotores de saúde, é o foco das ações de EAN neste ramo. Tanto em políticas públicas de acesso aos alimentos, que devem levar em consideração alimentos saudáveis e adequados, quanto as que regulam o mercado de alimentos devem ser pautadas nos conceitos de EAN. Alimentação coletiva A elaboração de um cardápio que promova o consumo de alimentos in natura e minimamente processados pode ser citada como uma ação que colabora para a EAN. Campo da agricultura Através da agricultura, temos boa parte dos produtos alimentícios que são consumidos diariamente pela população, e este plantio pode ditar o consumo. Abastecimento Tanto em políticas públicas de acesso aos alimentos, que devem levar em consideração alimentos saudáveis e adequados, quanto as que regulam o mercado de alimentos devem ser pautadas nos conceitos de EAN. Comércio Promoção da agricultura familiar, alimentos orgânicos e agroecológicos, informações sobre ultraprocessados, acesso a feiras livres, podem ser ações de EAN nesta área. No âmbito do esporte e lazer, muitas atividades esportivas estão associadas à alimentação. Atletas e praticantes amadores de atividades físicas podem ser foco de ações de EAN para que essas atividades sejam aliadas a alimentação saudável. A ideia da alimentação coletiva tem uma importante participação nas ações de EAN, tanto em atividades em grupos de trabalhadores, quanto orientadores de consumo que possam ser geradores de práticas saudáveis de alimentação. A elaboração de um cardápio que promova o consumo de alimentos in natura e minimamente processados pode ser citada como uma ação que colabora para a EAN. Por fim, o comércio (indústria de alimentos, comércio e restaurantes comerciais), políticas reguladoras de alimentos saudáveis e adequados, em conjuntocom outras áreas é uma forte ação de EAN. Promoção da agricultura familiar, alimentos orgânicos e agroecológicos, informações sobre ultraprocessados, acesso a feiras livres, podem ser ações de EAN nesta área. Avaliação do processo de ensino-aprendizagem A avaliação na educação fundamenta as ações que estão sendo realizadas, além de tem forte correlação com os objetivos estabelecidos para as atividades. É a partir da avaliação que podemos perceber se as escolhas metodológicas para os objetivos traçados estão cumprindo a sua função e se as relações educacionais estão se estabelecendo. A partir desta verificação, podem ser mantidos os mesmos métodos ou ainda realizar a adaptação do conteúdo a outro método, inclusive através da escuta ativa e avaliação dos próprios atores sociais/estudantes. Os métodos avaliativos podem variar, mas as metodologias ativas comportam avaliações de processos, ou seja, feitos em diversos momentos e de diversas maneiras, sendo uma avaliação contínua (LUCKESI, 2011). Conceitos pedagógicos de avaliação de ações A avaliação dos processos de ensino-aprendizagem são fatores bilaterais, eles avaliam os objetivos propostos. Logo, os estudantes ou atores sociais são avaliados, além das metodologias escolhidas, observando se estão sendo bem aceitas por eles, e verificam a eficácia do uso dos elementos didáticos por parte do profissional educador. Elementos didáticos, práticas pedagógicas e plano de ensino caminham lado a lado neste momento, pois servirão de base para interpretar os resultados das avaliações. Estes pontos de pausa para verificação de como está se dando a construção do conhecimento podem ser realizados inclusive pelos estudantes, em um sistema de autoavaliação, promotora de emancipação (LUCKESI, 2011). Segundo Silva e Zenaide (s.d., p. 8), “[...] a avaliação num Plano de Ação é um dos instrumentos de monitoramento e de planejamento do processo de implantação de um projeto elaborado”. Religando e estabelecendo conexão com os demais momentos do processo em si. Prever a avaliação, seu momento durante as atividades, que formato de avaliação será utilizado pode ser um dos passos do planejamento. Quanto mais ampla se der a avaliação, melhores os ajustes que podem ser feitos. Rever o que foi previsto no plano de ensino, avaliar questões como intersetorialidade, parcerias e o papel de cada um no processo pode ampliar o modo de ver a avaliação, numa proposta de emancipação (FREIRE, 1996). O engendramento dos processos de ensino-aprendizagem, culminam na construção do conhecimento nas mais diversas áreas, pois passando por planejamento, execução e avaliação mostram a circularidade da educação, que se transforma, se modifica para mudar os atores sociais, aprendendo com as experiências e se relacionando de forma contínua. Em termos de avaliação elas podem ser objetivas e subjetivas, qualitativas e quantitativas. Objetivas quando avaliam as relações estabelecidas entre a memória, a construção do conhecimento e o processo cognitivo dos estudantes. Nas avaliações subjetivas, ainda que exista um padrão de resposta, este tipo de avaliação permite visões distintas ou complementares de um mesmo assunto, demonstrando além da apreensão do conteúdo a possibilidade de elaborar um conceito e problematizar a questão. E segundo o Instrutivo de EAN as avaliações qualitativas e quantitativas podem ser definidas como, [...] a avaliação quantitativa pode ser escrita ou oral, com perguntas objetivas, no início e ao final de cada ação ou no fim de toda a intervenção nutricional, podendo avaliar conhecimentos, hábitos alimentares, percepções e satisfação com a atividade. [...] A avaliação qualitativa pode derivar de uma discussão final com os participantes, com o registro das falas, das dúvidas, dos sentimentos, das ansiedades, dos saberes e das impressões dos sujeitos e dos profissionais durante ou ao final das atividades. (BRASIL, 2016, p. 148, grifo nosso). Essa compreensão e conhecimento de métodos avaliativos colabora para que as modificações necessárias possam ocorrer em cada uma das áreas em que a EAN pode acontecer e que o processo avaliativo possa contribuir para a ressignificação do ato educacional. Avaliando a EAN Como vimos anteriormente existem modos de avaliar o processo de educação nutricional, aplicando algum dos métodos ou uma combinação deles. Como já mencionamos, o interessante é que além de avaliar os conteúdos e seu aproveitamento, possamos avaliar os métodos, elementos pedagógicos e a dinâmica das ações de EAN. Uma simples conversa com os atores sociais ou estudantes, após o período de dinâmica, poderá gerar avaliação do processo. Um resumo escrito das atividades, apontamento das informações que foram mais relevantes aos participantes, mapas conceituais ou esquemas dos principais pontos também são avaliações que poderão ser usadas. No âmbito da avaliação qualitativa da atividade, podemos pensar em um questionário com perguntas fechadas e abertas sobre a atividade. As percepções dos atores, o que sentiram em relação a abordagem, os materiais utilizados, as dinâmicas desenvolvidas e comentários abertos gerais podem fornecer o feedback para que a atividade em si seja avaliada. Promovendo ajustes e melhorias tanto para a continuidade do processo quanto para aplicação em novos grupos. Processos de ajuste pós-avaliação: analisando os dados coletados Os processos de ajustes após as avaliações demandam sensibilidade, rememoração da escuta ativa e empatia. E ainda a verificação do plano de ensino, pois ele irá fornecer o norte dos objetivos da ação, sendo assim possível verificar a obtenção ou não dos mesmos. Vamos exemplificar? Imagine que tenhamos promovido uma metodologia de confecção de cartazes de matriz fofa. Você conhece esta atividade? Ela determina forças, oportunidades, fraquezas e ameaças a um processo, que no caso pode ser a alimentação saudável. Em uma cartaz os atores sociais seriam convidados a discutir cada uma das instâncias e elencar quatro forças, quatro oportunidades, quatro fraquezas e quatro ameaças para aderir a uma alimentação saudável, de maneira conjunta e não individual. Estipulando um tempo limite de 30 minutos para discussão, eleição dos apontamentos e confecção do cartaz, percebe-se que em 25 minutos a maior parte dos atores ainda está realizando a discussão de que elementos serão elencados. Após uma hora de atividade todos os grupos terminam, mas alguns estão com os cartazes incompletos. Esta observação já é um passo da avaliação do método escolhido para dinâmica. Solicitando aos presentes avaliar a atividade, muitos comentários de dificuldades relacionadas ao entendimento de como realizar a atividade, de confecção do cartaz, de discutir com os demais membros, discordância entre os grupos, pouco tempo para realização a atividade, entre outros. Como utilizar estes dados para melhorar a experiência da ação? Podemos desmembrar os resultados das avaliações e ligar aos passos da atividade: a explicação sobre como realizar a atividade está clara e simples? Acessível a todos os participantes? O tempo previsto pode ser modificado? É possível um mediador para as discussões? Podemos melhorar a experiência da confecção do cartaz? A atividade pode ser proposta de outra maneira, mais simples? Todas essas respostas poderão compor um panorama para ajustes da atividade, bem como podem representar melhorias no aproveitamento das ações e da construção do conhecimento. Este processo é continuo, os ajustas são realizados, a atividade é novamente aplicada e podem surgir novos ajustes, numa metodologia ativa. Muitas vezes o processo flui e não são necessárias adaptações, logo, cada um dos casos de aprendizagem representa uma experiência. Tipos de Avaliação Cabe então nos aprofundarmos nos tipos de avaliação em educação para que a partirdisto possamos adaptar estes métodos as atividades de EAN. Segundo o Instrutivo de EAN, “é importante lembrar que a avaliação é a principal ferramenta para potencializar ações futuras e refletir sobre as ações realizadas” (BRASIL, 2016, p. 146). A avalição, em educação, se compõe de três pilares: eficiência dos métodos pedagógicos, da qualidade e das competências educativas. Cabe ao educador perceber e não ultrapassar a fina linha que a avaliação pode desempenhar em relação ao controle social do aprendizado, transformando a educação em um sistema de mera acumulação de dados. As avaliações de memorização são próprias de metodologias passivas de ensino, superadas, dando espaço a outras avaliações que melhor se adaptem aos processos de aplicação das metodologias ativas. Sendo a avaliação formativa a que mais se encaixa neste método. [...] A avaliação formativa é uma modalidade que acompanha permanentemente o processo de ensino-aprendizagem. Tal forma avaliativa dá importância aos saberes do aluno, motivando-o quanto a regularidade do seu esforço, a sua forma de entender e executar ações e a resolutividade aos problemas que utiliza (BELLAVER, 2019, p. 8). A mudança do eixo trata de práticas avaliativas, que refletem o processo em geral e interessam, em discussões, a toda comunidade da educação. Ainda que a avaliação conste como obrigatória na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em EAN estar motivado sobre o porquê do estabelecimento ou escolha de métodos avaliativos é fundamental. Diferindo, por exemplo, em termo da avaliação do círculo básico de educação, por exemplo, que qualifica o estudante para o avanço em outras etapas. Como aplicar os tipos de avaliação em EAN Segundo o Instrutivo de ações de EAN, o principal objetivo das avaliações em educação nutricional é a revisão dos métodos e os objetivos para melhorias nas próximas atividades. Diferente das avaliações em educação, elas não pretendem verificar quantitativa ou qualitativamente o grau de aprendizagem dos atores sociais, mas passam por esta percepção durante o processo (BRASIL, 2016). As modificações na qualidade de vida da população, o engajamento dos atores sociais nas demais ações, e a adoção voluntária a práticas alimentares saudáveis e adequadas são os frutos da avaliação das ações de EAN. Boa parte deste resultado pode ser obtido através de acompanhamento da saúde nutricional, ou seja, avaliação do estado nutricional, antes e depois do início das ações. Em educação, saúde e assistência social é um procedimento que detém maior facilidade de ser obtido. Já nas demais áreas, medidores de consumo de alimentos in natura e minimamente processados e desperdício, bem como o engajamento as ações pontuais de EAN podem ser interpretados como resultados, passíveis de relatórios de avaliação das ações de educação nutricional. Os relatórios são bons métodos de registro dos resultados avaliativos das ações de EAN, através deste registro e arquivamento de dados é possível acompanhar o histórico do cumprimento dos objetivos das ações de educação nutricional junto aos atores sociais. Um ótimo exemplo de avaliação de ações de EAN pode ser o trabalho de desperdícios de alimentos em coletividade. Uma escola é um bom local para avaliar esta ação. Uma planilha com o peso total de desperdício de alimentos, pós refeição, de cada uma das turmas de alunos envolvidos na atividade e sua progressão após outras atividades de sensibilização pode demonstrar os resultados da ação. Se tivermos dois quilos de alimentos desperdiçados no início da ação, e depois de atividades de teatro, participação na horta escolar e atividade de confecção de cartazes sobre a alimentação saudável o desperdício diminuir para 500 gramas, temos uma avaliação positiva das atividades. Adaptando avaliações para situações específicas de EAN Conhecer previamente os atores sociais e seus saberes em relação à alimentação pode ser um fator auxiliar na busca por avaliações que demonstrem a evolução do processo de construção do conhecimento acerca da alimentação. Em grupos com pouco ou nenhum acesso a alfabetização, uma avaliação escrita pode ser um fator de afastamento e constrangimento dos atores sociais. Uma escala hedônica pode ser uma ótima forma de avaliar as crianças pequenas em relação as atividades desenvolvidas. E um relato verbal das relações estabelecidas nas atividades em adultos com baixo acesso à escolaridade também podem cumprir a função de avaliação. A elaboração de questionários intuitivos, podem ser outro método avaliativo de EAN, podendo ser aplicado em uma grande fatia de atores sociais que tem acesso a escolarização. Já perguntas abertas podem ser uma forma eficiente de avaliar, em públicos que tiveram amplo acesso a escolarização ou profissionais multiplicadores, assim como resumos dos assuntos ou elaboração de organogramas. A imparcialidade no momento de intepretação das avaliações, ou um olhar crítico que se avalia conjuntamente com os resultados da avaliação dos atores, pode estabelecer uma didática de melhoramento contínuo das ações de EAN nas mais diversas áreas de atuação dos nutricionistas. Elaboração de materiais educativos Parte do trabalho educacional relacionado à EAN é a elaboração de matérias educativos. Eles tanto podem ser utilizados nas próprias atividades quanto podem fornecer aprofundamento para os atores sociais e estudantes nos assuntos relativos à alimentação e à nutrição. O que significa essa diferença entre se informativo e educativo? O texto informativo tem um único objetivo: informar. Ele traz informações ao leitor, sem cunho relacional com outras instancias. Já o conteúdo educativo tem por obrigação promover a reflexão entre as informações e a construção do conhecimento. Ou seja, ele leva o leitor a pensar e problematizar aquilo que está lendo, gerando um ato educacional. Vamos a um exemplo? Se estivermos elaborando um material sobre o aumento no consumo de frutas e diminuição do consumo de suco (natural ou artificial) entre crianças, trazer somente a informação de que devemos trocar um pelo outro e exemplos de frutas, o material pode ser ótimo informativo. Já se colocarmos nele um breve esclarecimento dos motivos pelos quais devemos priorizar, em crianças, o consumo de frutas in natura ao invés de sucos, exemplos de como as frutas podem ser consumidas e uma lista de frutas em uma determinada época ou região, o material se torna educativo. Como dissemos, anteriormente, levar em consideração os norteadores de consumo, leis, instrutivos e outros documentos oficiais, que já passaram por longo processo de validação e pesquisa, também é um excelente caminho para trazer as bases conceituais aos materiais educativos em EAN. Lembrando que a linguagem utilizada pode tanto favorecer quanto dificultar o acesso ao conhecimento. Termos técnicos em abundância, dados sem contextualização, falta de objetividade ou clareza com o que se pretende comunicar podem ser fatores decisivos na recepção deste material posteriormente. Materiais gerais Assim como ocorre com as ações educacionais que serão aplicadas diretamente aos atores sociais, pode acontecer da produção de materiais educativos ser realizada sem a ciência de público específico. Cabe ressaltar que não conhecer o público para o qual o material se destina não exclui o fato de termos ciência de que podemos ter um grupo focal. Elaborar materiais de EAN para adultos e para crianças é bastante distinto. Durante o processo de elaboração, cabe realizar um plano de ensino, que deverá conter informações como a citada. O material também pode ser realizado para determinadas demandas, como doenças e condições de saúde especiais. Logo, esta informação ajudará a compor o corpo do material. Procurar variar os métodos de construção do material didático é um caminho quetambém é interessante. Dispomos de uma grande gama de formatos nos quais a construção do conhecimento se dá, com metodologias próprias e ativas para a elaboração de material de apoio. Jogos, caça-palavras, poemas, figuras, indicação de outros meios de obtenção de conhecimento (vídeos, livros, sites) podem quebrar o marasmo da leitura, estimulando os estudantes e pesquisas mais e se relacionar verdadeiramente com o material em suas mãos. Os objetivos do material ainda irão determinar a quantidade de conhecimento que será repassado naquela ação. Temos desde folders ou folhetos explicativos até livros, e de acordo com o tamanho do material iremos selecionar a quantidade de elementos didáticos e conteúdo que iremos utilizar para compor o material. Materiais para públicos específicos Os materiais específicos podem tanto ser para as ações presenciais, em que temos um público já definido e conhecendo melhor este público temos condições de elaborar um material focado. Quanto para questões especificas, como o caso da gestação, introdução alimentar, doenças crônicas não transmissíveis, e outros tantos assuntos que podem ser foco de EAN. Todos estes materiais têm como ponto delicado a fundamentação. É nela que devemos contextualizar o que a EAN trata, mas sem ser genéricos demais. A correlação ao que se propõem uma educação nutricional e como ela se liga à situação chave do material é o ponto em que este material torna- se relevante. Os conceitos fundantes de cada uma dessas áreas específicas deve ser outro ponto de observação. Outra ligação importante, com a educação, é as bases da pedagogia e da metodologia, que devem sempre ser visitadas para fornecer respostas as perguntas corriqueiras na elaboração dos materiais. É através da educação e seus conceitos que poderemos traduzir o conhecimento que adquirimos e que possa ser bem recepcionado pelos atores sociais em geral. Documentos e norteadores como base para elaboração de materiais educativos de EAN Após nossa excursão aos documentos educativos e como torná-los meios de construção do conhecimento acessível a todos, cabe citar e resumir os principais documentos norteadores que poderão fazer parte deste processo. Levar em consideração a motivação das ações de EAN, é um norteador para saber que assuntos buscar nos materiais de apoio que possam auxiliar tanto nas atividades quanto na elaboração de outros materiais. Durante todo nosso material temos falado do Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas (BRASIL, 2012), sendo o principal documento oficial quando se fala em EAN. Os dois Guias Alimentares vigentes, Guia Alimentar para População Brasileira (BRASIL, 2014) e o Guia Alimentar para crianças menores de 2 anos (BRASIL, 2019) são os principais documentos quando as buscas são por conceitos relacionados à alimentação saudável e adequada. É nele que serão encontrados os meios de obter uma alimentação promotora de saúde, para todas as fases da vida, sendo focado especificamente na população brasileira, que faz a adaptação a realidade de que tanto falamos. O Instrutivo é uma metodologia de trabalho em grupos para ações de alimentação e nutrição na atenção básica (BRASIL, 2016) é um documento voltados as ações de EAN em unidades básicas de saúde, mas pode ser utilizado em diversas áreas, já que traz além de conteúdo exemplos de ações práticas de educação nutricional.
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