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Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS EM LESÕES ERITEMATOESCAMOSAS: As dermatoses eritematoescamosas são aquelas que apresentam lesões eritematosas (avermelhadas) e descamativas, com aspecto ressecado. O aspecto das escamas pode ser furfuráceo (”esfarelado”) ou laminar. Lesões descamativa em região plantar DERMATITE SEBORREICA: A dermatite seborreica é uma dermatose crônica não contagiosa e frequente, ocorrendo principalmente em regiões ricas em glândulas sebáceas e, ocasionalmente, áreas de dobras cutâneas. Observa-se predominância discreta em homens, sendo a presença de história familiar positiva um importante predisponente. Algumas condições, como infecções fúngicas (Candida, Pityrosporum orbiculare) e tensão emocional são consideradas como agravantes das lesões. O quadro clínico da dermatite seborreica divide-se entre aquela do lactente e a do adulto, a saber: Dermatite seborreica do lactente: Se inicia nos primeiros meses de vida, sendo caracterizada por escamas gordurosas e aderentes, fixas numa base eritematosa sobre o couro cabeludo (“crosta láctea”), e por manchas eritematoescamosas na face, tronco, dobras e áreas intertriginosas. Quando presente, o prurido é discreto. Sintomas gerais, como febre, diarreia e vômitos geralmente acompanham as lesões. Tais erupções tendem a regredir gradualmente, mas também podem representar estágios iniciais de quadros mais graves. Crosta láctea em lactente Acometimento eritematoescamoso em pescoço Dermatite seborreica do adulto: Cursa com lesões eritematoescamosas em face, área retroauricular, axilas e região pubiana. Em crianças, essas escamas são mais espessas e difíceis de destacar. A dermatite seborreica pode preceder ou ocorrer junto à psoríase, criando um quadro intermediário de “seboríase” Infecções secundárias por fungos ou Staphylococus aureus são frequentes nesses pacientes Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Manifestações no couro cabeludo com descamação mínima são conhecidas como pitiríase capitis (caspa). Lesões eritematodescamativas típicas em glabela (esq.) e sulco nasogeniano (dir.) O quadro conta com períodos de acalmia e recaída, que podem ser precipitados pelo calor, suor excessivo, fricção, tensões emocionais ou uso excessivo de álcool. O diagnóstico é simples, porém torna-se necessário diferenciar essa condição de outras manifestações, como: Psoríase: possui placas circunscritas em couro cabeludo, além de acometimento de joelhos e cotovelos; Pitiríase rósea: lesões se concentram no tronco, com múltiplas erupções ovaladas e sem preferência por locais com maior concentração de sebo; Eczema atópico: tem início tardio em bebês, sendo acompanhado por rinite, asma ou atopias diversas. O tratamento da dermatite seborreica, assim como suas formas clínicas, divide-se em duas modalidades: Lactentes: remoção das escamas em couro cabeludo com óleo mineral aquecido, limpeza das áreas afetadas com água boricada ou permanganato de potássio, associada ao uso de cremes com corticoides e pastas protetoras (área das fraldas); Adultos: uso de sabonetes com ácido salicílico/enxofre, bem como de xampus antifúngicos ou com zinco piridiona, complementada por soluções tópicas de esteroides. Formas resistentes podem ser manejadas com fototerapia UVB ou análogos de vitamina D3 (calcipotriol). PITIRÍASE RÓSEA: A pitiríase rósea é uma condição inflamatória subaguda marcada por lesões eritematoescamosas disseminadas e progressivas, supostamente associadas à infecção por herpes vírus 7. Sua incidência é maior no verão e outono, principalmente em adultos jovens. O quadro clínico se inicia um medalhão, lesão escamosa arredondada, de centro amarelado e descamativo, com bordas levemente elevadas. Grande número de formações semelhantes, porém de tamanho menor, começam a surgir depois de 1-2 semanas. Os locais acometidos são sempre em áreas cobertas da pele, como o tronco (seguindo a direção das costelas), pescoço e parte proximal dos membros, respeitando o couro cabeludo É importante evitar aquecimento excessivo (roupas de tecido fino) e realizar trocas frequentes de fraldas Em caso de infecção fúngica/bacteriana, é necessário uso de medicações sistêmicas como predinisona (1 mg/kg/dia), escalando para a tetraciclina (500 mg/2x por dia por 10 dias, e 500mg em dose única por mais 20 dias) Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Lesões anulares em tronco e base de membros na pitiríase rósea O prurido, quando presente, é brando, porém pode se acentuar com a exposição a fortes emoções ou a medicações antifúngicas. O diagnóstico é clínico, mas é necessário descartar outras hipóteses como dermatite seborreica e psoríase, além de sífilis secundária (avaliação sorológica) e dermatofitose (exame micológico). O tratamento não é obrigatório, uma vez que as lesões involuem em até 8 semanas, mas o uso de hidrocortisona é aplicável a pacientes com queixa de coceira. O uso de fototerapia para abreviar o período de regressão apresenta resultados questionáveis, pois pode causar irritação à pele. ERITRODERMIA ESFOLIATIVA: A eritrodermia esfoliativa descreve uma síndrome marcada por eritema persistente generalizado, acompanhado por prurido e descamação. Eritema difuso em palmas e antebraços, com lesões escamosas laminar Três principais causas podem ser ligadas à essa condição: complicação de dermatoses prévias (ex.: dermatite seborreica, pênfigo foliáceo), reação à medicamentos e como fase inicial de linfomas. A evolução do quadro cursa com exacerbações e remissões, persistindo por meses a anos, o que leva ao desenvolvimento de liquenificações e enfartamento de linfonodos nas áreas lesionadas. O desenvolvimento de placas infiltrativas ou nódulos tumorais é sugestivo de linfoma de pele. O diagnóstico é baseado no aspecto clínico das formações descamativas e na anamnese do paciente, sendo importante avaliar o uso de medicações e a ocorrência de outras doenças cutâneas. De modo geral, o tratamento se direciona à causa da síndrome, empregando banhos sedativos, antibióticos/corticoides sistêmicos e anti-histamínicos (se prurido) caso necessário PARAPSORÍASE: “Parapsoríase” são afecções com lesões eritematoescamosas, não ou pouco pruriginosas, de evolução crônica e que se assemelham à psoríase. Além das lesões, sintomas gerais (anorexia, febre) e alopecia são observadas nessa síndrome Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Essas manifestações podem ser decorrentes de reações inflamatórias idiopáticas na pele ou da micose fungoide, uma forma de linfoma de células T. Duas apresentações clínicas são descritas dentre as parapsoríase, a saber: Parapsoríase em grandes placas (liquenoide ou variegata): se desenvolve em áreas cobertas, inicialmente como formações eritematosas com leve descamação, mas que adquirem cor róseo-castanha com o avançar do quadro; Parapsoríase em grandes placas em abdome Parapsoríase em pequenas placas: suas lesões (podem ser digitiformes) surgem no tronco e nas coxas, com tonalidade rósea a castanho- amarelada, geralmente sem infiltração. Parapsoríase em pequenas placas, acastanhadas e digitiformes na lateral do tronco O diagnóstico necessita da correlação entre a presença de lesões sugestivas e a avaliação microscópica, que revela processos inflamatórios inespecíficos. Pacientes devem ser submetidos a acompanhamento histopatológico,de forma a excluir ou detectar precocemente a evolução para linfoma. O tratamento consiste no uso de cremes ou pomadas com esteroides, associados à aplicação de PUVA ou ultravioleta B para o clareamento das formações. Cabe ressaltar que essa é uma síndrome de curso crônico, podendo se estender por meses a anos. CANDIDÍASE CUTÂNEO MUCOSA: A candidíase é causada por diversos fungos do gênero Candida, principalmente o Candida albicans, microrganismo comensal encontrado na superfície da pele, intestino e mucosas oral e vaginal. Sua ação patogênica se dá de modo oportunista, aproveitando-se da quebra de barreiras de proteção ou da queda da imunidade celular. Essa condição é mais comum nos neonatos, porém idosos e adultos também podem ser afetados. Como fatores predisponentes, destacam-se: Fatores intrínsecos: extremos etários, gestação, neutropenia, doenças do sistema endócrino e imune; Fatores extrínsecos: realização de procedimentos cirúrgicos, uso de dentaduras, antibióticos, anti- neoplásicos, corticoides e contraceptivos; Fatores menores: sudorese (ou contato com umidade), traumatismos na pele. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS De acordo com o sítio onde ocorreu a disseminação patogênica da Candida, múltiplas apresentações clínicas podem ser observadas, a saber: Candidíase oral: apresentação mais frequente, marcada por placas brancas que podem se tornar eritematosas ou enegrecidas; Lesões por candidíase em palato Quelite angular: há eritema, descamação e fissuras nos ângulos da boca, sendo observada em indivíduos desnutridos ou desdentados; Eritema acentuado na quelite angular Candidíase genital: divide-se em vulvovaginite e balanoposite, que apresentam lesões eritematosas ou esbranquiçadas de aspecto cremoso. No homem ocorre eritema, edema e ardor; Aspecto típico da vulvovaginite em genitália externa Candidíase intetriginosa: marcada por lesões eritematosas pruriginosas, úmidas e exsudativas em região de dobras (axila, glúteos, mamas, interdigitais), podendo evoluir para fissuras e erosões com lesões satélites associadas; Candidíase submamária Candidíase folicular: presença de pústulas ou erosões crostosas na área da barba, sendo comum em imunossuprimidos e diabéticos; Candidíase da região das fraldas: placas eritematosas com descamação margeando genitais e nádegas, com pústulas satélites em região inguinal; Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Placas por candidíase em nádegas Candidíase ungueal (paroníquia por Candida): cursa com edema doloroso e eritema ao redor da matriz ungueal; Comparação entre dígito saudável e acometido por candidíase ungueal Candidíase mucocutânea crônica: ocorre em indivíduos anérgicos à Candida, que desenvolvem lesões crostosas avermelhadas no couro cabeludo, face e extremidades. Candiíase mucocutânea crônica com crostas em face, acompanhada por placas brancas na língua O tratamento consiste no uso de antifúngicos tópicos, à exemplo da nistatina, usada tanto na manifestação genital (creme) quanto na orofaríngea (bochechar e engolir 100 mil UI/ml 12/12h, por duas semanas). O paciente deve ser orientado a identificar e evitar fatores que desencadeiam a candidíase. Em quadros refratários, redicivantes ou de acometimento ungueal, o medicamento de escolha é o fluconazol (150mg/semana), com duração dependente da área afetada, variando entre 4 e 24 semanas. SÍFILIS: A sífilis é uma infecção sexualmente transmitida causada pelo Treponema pallidum, bactéria Gram-negativa que tem o homem como reservatório natural. Duas classificações podem ser usadas para definir os estágios da sífilis adquirida, a saber: Quanto ao tempo de infecção: o Recente: tempo de evolução < 1 ano; o Tardia: progressão superior a 1 ano. De acordo com as manifestações clínicas: o Primária: ocorre após 10 a 90 dias (média de 3 semanas) do contato infectante, marcada pela presença do cancro duro, lesão única e indolor com grande número de treponemas, e linfadenopatia inguinal, de evolução autolimitada após 2 a 6 semanas; Os antifúngicos imidazólicos, a exemplo do cetoconazol, são empregados na quelite angular, intertriginosa e em lesões na área das fraldas. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Lesões ulcerosas em sífilis primária, no foco de entrada da bactéria o Sífilis secundária: se desenvolve entre 6 semanas e 6 meses após a infecção, com lesões maculares no tronco ou eritematoescamosas palmoplantares (“colar de Biett”), além de placas branco-acinzentadas em mucosas, alopecia em clareira, madarose e sintomas gerais inespecíficos. Regride de forma espontânea depois de 4 a 12 semanas; Apresentação cutânea típica em sífilis secundária o Latente: momento no qual se dá a maioria dos diagnósticos, pois, mesmo com ausência de sintomas, mantém-se reatividade laboratorial; o Terciária: evolução rara, em sua maioria depois de 2 a 40 anos do contato inicial. Há inflamação e destruição tecidual, com formação de goma sifilítica (tumorações com tendência de liquefação) e comprometimento neurológico, como meningite aguda e demência. Principais manifestações da sífilis por estágio da infecção O diagnóstico dessa doença requer a realização de exames laboratoriais, que podem ser exemplificados em: Exame direto (microscopia de campo escuro, esfregaço, imunofluorescência direta): baseia-se na pesquisa pelo T. pallidum, empregada nos estágios primário e secundário da infecção. Detecção de T. pallidum em teste direto com microscopia de campo escuro (esq,) e imunofluorescência direta (dir.) Testes imunológicos (mais utilizados): o Testes treponêmicos (FTA-Abs): identificam anticorpos específicos contra antígenos bacterianos, sendo bastante importantes para a confirmação do diagnóstico. Nesse estágio há forte ativação imune, o que resulta em maior produção de anticorpos, favorecendo a positivação de testes diagnósticos Na maior parte dos pacientes, esses testes se mantém positivos pelo resto da vida, portanto não são indicados para monitoramento terapêutico Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS o Testes não treponêmicos (VDRL): investigam a presença de anticorpos anticardiolipina, que não são específicos para o T. pallidum, seja de forma quantitativa (titulações) ou qualitativa. Curva sorológica na evolução clínica da sífilis O estabelecimento diagnóstico da infecção requer a realização de outra prova laboratorial (geralmente treponêmica) como confirmação do teste de triagem (não treponêmico). Esquema geral de investigação diagnóstica na sífilis O medicamento de escolha para o tratamento da sífilis é a penicilina, com esquema que varia conforme o estágio clínico da doença: Sífilis primária, secundária e latente recente (duração < 1 ano): Penicilina G benzatina 2,4 milhões UI, por via intramuscular (1,2 milhão/glúteo) em dose única; Sífilis latente tardia (> 1 ano), latente com duração ignorada e sífilis terciária: penicilina G benzatina 2,4 milhões UI intramuscular, com administração semanal ao longo de 3 semanas (dose total de 7,2 milhões UI); Neurossífilis: penicilina cristalina, 18- 24 milhões UI/dia, administrada por via intravenosa (infusão contínua ou 4/4h) por 14 dias. Estratégias terapêuticas da sífilis Após a primeira dose de penicilina, pode haver exacerbação de lesões cutâneas associadas à dor, prurido ou eritema, regredindo espontaneamente após 12 a 24 horas.Os testes não treponêmicos se tornam positivos em cerca de 3 semanas após a infecção. Assim, após um resultado inicial negativo e forte suspeita clínica, a repetição do exame é indicada depois de 30 dias Em caso de alergia à penicilina, pode ser utilizada a doxacilina VO (exceto em gestantes) ou a ceftriaxona IM (gestantes ou não)
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