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INFECÇÕES PULMONARES INTRODUÇÃO ● Pulmão: acreditava-se que é ambiente estéril ● Atualmente: Presença de colônias bacterianas em indivíduos saudáveis (“microbioma pulmonar”), cujos microorganismos variam com a região (VAS, VAI e parênquima pulmonar/alvéolos) ● Campo aberto de pesquisas ● Colonização (sistema respiratório é “aberto”): presença de bactérias sem evidência de resposta do hospedeiro ● Infecção: invasão e multiplicação de microorganismos nos tecidos com agressão e resposta inflamatória INFECÇÕES PULMONARES: PNEUMONIA Definição: Infecção no parênquima pulmonar com expressão clínica ● Alvéolos preenchidos por exsudato inflamatório comprometendo a função de trocas gasosas ● Vias de infecção: ar inalado e corrente sanguínea O desenvolvimento do quadro infeccioso depende de: ● Patogenicidade do agente ● Mecanismos de defesa ● Capacidade de resposta do hospedeiro Considerar.. ● Aumento de patogenicidade de agentes associado a uso de antibióticos cada vez mais de amplo espectro (seleção de organismos resistentes) ● Aumento de procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos (porta de entrada por redução da barreira física) ● Situações de imunossupressão ● Causa importante de óbitos em ambientes hospitalares Importância do seu conhecimento pelos médicos ● Etiopatogênese ● Manifestações clínicas ● Exames de imagem ● Tratamento Colonização.. ● Microorganismos altamente virulentos substituindo a microbiota normal em indivíduos saudáveis ● Microorganismos de virulência variável em indivíduos com baixa de suas defesas pulmonares Classificação (parâmetros) ● Distribuição anatômica ● Origem (hospitalar ou comunitária) ● Etiologia (bacteriana, viral, fungos, protozoários) ● Aspecto morfológico (específica ou inespecífica) Distribuição anatômica ● Pneumonia lobar: disseminação do processo inflamatório homogeneamente pelos lobo pulmonar ● Pneumonia lobular (broncopneumonia): disseminação em focos inflamatórios múltiplos acometendo lóbulos pulmonares por pequenas vias aéreas distais ● Pneumonia intersticial: disseminação do processo inflamatório predominantemente pelo interstício pulmonar Distribuição anatômica e aspectos morfológicos Pneumonia lobar: Macroscopia: consolidação do lobo atingido de aspecto homogêneo (substituição do ar dos alvéolos por exsudato inflamatório), com vias aéreas maiores permeáveis Microscopia: 1) Fase inicial ou de congestão: hiperemia intensa dos capilares septais com edema e poucos neutrófilos, muitas bactérias 2) “Hepatização” vermelha: hiperemia com alvéolos preenchidos por fluido, fibrina e bactérias. 3) “Hepatização” cinzenta: aumento de células inflamatórias e fibrina nos alvéolos, diminuição da hiperemia e número de bactérias, com liberação de enzimas pelas células inflamatórias com degradação da matriz extracelular, aspecto friável 4) Resolução: lise da fibrina e redução progressiva do exsudato, permitindo trocas gasosas Pneumonia lobular (broncopneumonia): Macroscopia: focos múltiplos, às vezes bilaterais de inflamação purulenta no parênquima pulmonar, com áreas confluentes que podem comprometer grande parte do pulmão Microscopia: hiperemia intensa dos capilares septais com edema e exsudato purulento na luz dos alvéolos e bronquíolos, com destruição da parede. Pneumonia intersticial: Macroscopia: comprometimento zonal ou difuso, por vezes bilateral, macroscopicamente pouco específico (apenas hiperemia) Microscopia: inflamação nitidamente intersticial, com alargamento dos septos alveolares por edema e infiltrado inflamatório mononuclear, alvéolos com pequena quantidade de fluidos, por vezes com membranas hialinas, indicativas de dano alveolar difuso Etiologia – Pneumonias bacterianas (padrão anatômico é a pneumonia lobar ou a broncopneumonia) ● Pneumonia pneumocócica (S. Pneumoniae ou pneumococo) é parte da microbiota normal de 20% dos adultos e responsável por 90% dos casos de pneumonia lobar, em indivíduos de 30-50 anos ● Patogênese: multiplicação bacteriana que provoca exsudação neutrofílica, sendo a complicação mais comum o dano alveolar difuso Pneumonia por Klebsiella (K. Pneumonie, gram negativa): ● comum em alcoólatras (40-60 anos) e com higiene oral precária ● Forma aguda: pneumonia lobar, com envolvimento de mais de um lobo, pulmão consolidado e de aparência mucóide ● Pleurite fibrinosa ✓ Necrose extensa com formação de abscessos ● Exsudato alveolar difuso, com neutrófilos e macrófagos xantomizados contendo bacilos gram negativos ● Forma crônica: fibrose por abscessos em organização contendo bacilos, podendo evoluir para bronquiectasias Pneumonia por Haemophylus (H. influenzae): ● bactéria gram negativa que causa pneumonias em especial em crianças e pacientes com bronquite crônica e bronquiectasias, encontra-se associado a infecções virais que destroem o epitélio favorecendo a aderência de bactérias (causa pneumonia destrutiva) ● Patogênese: aderência ao epitélio respiratório e pela secreção de enzimas que afetam os batimentos ciliares das células respiratórias, inativando a IgA secretória. Pneumonia por Estafilocócica (S. Aureos): geralmente há focos de hemorragia parenquimatosa e abscessos, podendo haver invasão da pleura e empiema Patogênese: geralmente precedida por quadro de infecção viral aguda ou subaguda (vírus influenza) ou sepse por infeção extrapulmonar Pneumonia por Legionella: ● pode ocorrer na forma esporádica (transmissão comunitária) ou em imunossuprimidos Quadro clínico precedido por febre, mal estar, mialgias, IR, diarreia e encefalopatia ● Quadro histológico semelhante a pneumonia Pneumocócica (fibrino-purulenta aguda) Pneumonia por pseudomonas: mais comum em pacientes com doenças pulmonares crônicas, com queimaduras, em imunossuprimidos ou com neoplasias hematológicas malignas ● Quadro clínico: broncopneumonia hemorrágica multifocal que poupa ápices pulmonares associado a derrame pleural serossanguinolento. ● Quadro histológico: exsudato purulento com hemorragia e necrose fibrinóide de parede de pequenos vasos contendo bacilos gram negativo Evolução de pneumonias: a grande maioria é resolvida sem deixar cicatrizes ● Virulência do agente agressor ● Resposta do hospedeiro Persistência do agente agressor: abscessos e cicatrizes Fibrose: danos permanentes ao arcabouço reticulínico e elástico do pulmão Abscesso pulmonar: coleção de secreção purulenta no interior de cavidade formada por agressão e destruição tecidual ● Complicação de pneumonias (Klebsiella e S. Aureus) ● Aspiração de material contaminado ● Infecção secundária em outras lesões (tumores, infartos) ● Êmbolos sépticos ● Lesões torácicas perfurantes Pneumonia por Influenza: os vírus desse grupo são de RNA classificados como A, B ou C (de acordo com sua nucleoproteína) e em subtipos conforme a combinação de sua hemaglutinina (H1 e H3) e sua neuraminidase (N1 ou N2) ● Gripe espanhola ● Gripe aviária (Influenza A – H5N1) ● Gripe suína (Influenza A – H1N1) Gripe suína (Influenza A – H1N1): transmitida exclusivamente em humanos, inicialmente descrita na Cidade do México em 2009, depois disseminando para a América do Norte, Europa e para os outros continentes (OMS – Pandemia global) ● ncubação: até 15 dias ● Quadro clínico: quadro gripal com febre, inapetência, cefaleia, mialgias e dispneia, pode progredir rapidamente para insuficiência respiratória aguda grave, especialmente em pacientes de risco ● Padrões de acometimento pulmonar: Dano alveolar difuso Dano alveolar difuso com bronquiolite necrosante Dano alveolar difuso com hemorragia alveolar grave Metaplasia escamosa do epitélio de vias aéreas superiores, inúmeras células epiteliais em alvéolos e vias aéreas e efeito citopático viral (células multinucleadas, citoplasma amplo, núcleos irregulares e pleomórficos) Etiologia – Pneumonias virais (padrão anatômico é a pneumonia intersticial) ● Pneumonia por Herpes Simplex: comprometimentofocal, nodular ou confluente do interstício e áreas de necrose centradas nos bronquíolos (broncopneumonia) ● Quadro histológico: “fantasmas” das paredes alveolares pela necrose com exsudato proteináceo, debris celulares e neutrófilos em alvéolos remanescentes, com inclusões típicas intranucleares “em olho de coruja” em macrófagos, células alveolares e presença de células multinucleadas com amoldamento de núcleos. Outras Pneumonias virais ● Varicela-zoster: semelhante ao Herpes Simplex com Pneumonia intersticial membranas hialinas e exsudato proteico, amorfo com necrose em distribuição peri-bronquiolar ● Adenovírus: destruição de bronquíolos com necrose de coagulação, infiltrado mononuclear, inclusões virais no epitélio alveolar e bronquiolar ● Citomegalovírus: aumento do volume das células infectadas, com inclusões intranucleares e intra-citoplasmáticas, centrais, cor vermelha, separadas da cromatina adjacente por halo claro característico. No citoplasma, granulações grosseiras e basofílicas (macrófagos, células endoteliais, intersticiais e epiteliais) ● Sarampo: pneumonia, juntamente com a encefalite, é a complicação mais grave em imunossuprimidos e crianças com desnutrição, muito grave e muitas vezes fatal. Microscopia: dano alveolar difuso e bronquiolite necrosante, metaplasia escamosa e células gigantes com inclusões virais (efeito citopático) caracterizadas por inclusões eosinofílicas nucleares e citoplasmáticas em macrófagos, endotélio e células epiteliais Etiologia – Pneumonias fúngicas Pneumonia por Aspergillus (Aspergilose pulmonar) ● Infarto hemorrágico, infiltrado inflamatório escasso, com hifas fúngicas invadindo parede dos vasos sanguíneos e permeando septos alveolares ● Morfologia: hifas finas, longas e septadas, dicotomizando em ângulos agudos, os micélios arranjam-se em paralelo e irradiam a partir de um ponto central, Grocott e PAS positivas Classificação (parâmetros) Etiologia – Pneumonias fúngicas Pneumonia por Candida (Candida sp) ● ✓ Comprometimento hematogênico: nódulos miliares com centro necrótico e inflamação aguda de intensidade variável, comprometendo difusamente os pulmões, podendo originar broncopneumonias e abscessos ● Comprometimento por aspiração: geralmente um evento terminal sem significado, acomete cavidade oral, esôfago, laringe ou traqueia e por serem aspirativas, acometem mais os bronquíolos e frequentemente contém células vegetais ● Morfologia: pseudohifas e gemulações (esporos) em filamentos longos (Grocott e PAS positivas). Pneumonia por Cryptococcus neoformans ● Fungo saprófita associado a fungemias e infecções em imunossuprimidos, com comprometimento pulmonar secundário ● Necrose extensa com associada a inflamação aguda e crônica, ocasionalmente com microabscessos ● Morfologia: fungos pequenos e ovalados, com brotamento simples, basofílicos na coloração de H&E, positivos para Grocott, PAS e mucicarmin (alcian blue) que evidencia cápsula cartilaginosa. Pneumonia por Pneumocystis jiroveci (Pneumonia de células plasmocitárias) ● Acomete crianças e adultos com imunossupressão, desnutrição e HIV ● Septos alveolares discreta ou moderadamente alargados por infiltrado mononuclear com predominantemente plasmocitário, alvéolos preenchidos por material proteico xantomizados contendo o microorganismo ● Morfologia: fungos pequenos em forma de semiluas, não identificados pelo H&E, positivos para Grocott Etiologia – Pneumonias por aspiração esulta de penetração de alimentos ou conteúdo gástrico nos pulmões Broncoaspiração aguda (grande quantidade) ● Vômitos em pacientes com redução do nível de consciência ou com transtornos no reflexo da tosse ● Doenças do esôfago (retenção de bolo alimentar) ou fístula tráqueo-bronco esofágicas Broncoaspiração crônica por doença do refluxo gastroesofágico (pequena quantidade), causando pneumonia recorrente e alterações de vias aéreas (bronquiectasias) Lesões pulmonares causadas por… ● Agressão química produzida pela secreção gástrica em contato com a mucosa ● Infecção por microorganismos da microbiota bucal (anaeróbios) Padrão morfológico: depende da quantidade de aspiração desde focos de necrose até necrose maciça e formação de abscessos, podendo evoluir com dano alveolar difuso Microscopicamente: restos de células vegetais e corpos estranhos na luz dos alvéolos e vias aéreas (reação tipo corpo estranho com células gigantes) TUBERCULOSE Tuberculose pulmonar Histórico: Foi descrita em múmias no Egito Descrita morfologicamente em 1804 por Laennec em 1804, associada à pobreza, condições de vida (saneamento básico, higiene, alimentação) e doenças debilitantes ● Brasil: doença ainda prevalece como doença de país subdesenvolvido ● Praticamente erradicada da Europa e EUA ● Últimas décadas: grande interesse no mundo todo pela associação com a AIDS ● Atualmente no Brasil... doença de alta morbidade e mortalidade ● OMS: 8 milhões de novos casos por ano e 2 milhões de mortes pela doença por ano Tuberculose pulmonar Doença da imunidade (condições que alteram as defesas do hospedeiro) ● AIDS ● Desnutrição ● Alcoolismo ● Uso de imunossupressores Agente: Mycobacterium tuberculosis, isolado em 1882 (bacilo de Koch – BK) Transmissão: de pessoas para pessoas por aerossóis, os pulmões são a porta de entrada da bactéria e o primeiro local a sofrer lesões Possui 3 componentes em sua parede: 1) Lipídeos: ativa monócitos e macrófagos e sua posterior transformação em células epitelioides e células gigantes multinucleadas 2) Proteínas (tuberculoproteínas): conferem sensibilização ao bacilo e contribuem para formação de células epitelioides e células gigantes 3) Carboidratos: responsáveis pela reação neutrofílica Reações do hospedeiro ● Resposta imunitária inata (reação inflamatória imediata inespecífica do hospedeiro): migração de leucócitos para os tecidos para eliminar/conter o agente agressor ● Resposta imunitária adaptativa (reação inflamatória específica) – reação granulomatosa ● Dependendo da carga bacilar inalada, alguns bacilos escapam de mecanismos habituais de fagocitose e atingem os alvéolos, especialmente em região superior de lobo inferior ou em segmento inferior do lobo superior, onde se forma nódulo subpleural chamado “complexo primário Tuberculose primária (primo-infecção) desencadeia reações: 1) Exsudativa (nódulo exsudativo) – resposta inata 2) Produtiva – resposta adaptativa (granulomatosa) 3) Produtivo-caseosa 4) Cicatrização Tuberculose primária (primo-infecção) desencadeia reações: 1) Exsudativa (nódulo exsudativo): macrófagos e neutrófilos alveolares atraídos pela fração de carboidrato da bactéria com resposta inflamatória inespecífica (pneumonia), os bacilos são fagocitados mas não são destruídos, permanecem vivos e se proliferam. 2) Produtiva: a resposta exsudativa não é suficiente para conter os bacilos, é acionada a resposta adaptativa, com liberação de IL-12 pelos macrófagos contendo bacilos que estimula linfócitos T a liberar citocinas (interferon γ – IFNγ), que é o principal ativador de macrófagos tornando-os capazes de matar o microorganismos e após ativados, eles liberam outras citocinas (TNF-α) e quimiocinas que comandam a reação de hipersensibilidade (teste cutâneo a tuberculina) e a formação de células epitelioides e granulomas com células gigantes multinucleadas 3) Produtivo-caseosa: macrófagos, células epitelioides e linfócitos T e neutrófilos causam a morte dos bacilos existentes nos granulomas e na dependência do número de bacilos e na hipersensibilidade do hospedeiro, surge necrose caseosa no centro do granuloma epitelioide 4) Cicatrização: com a morte dos bacilos e controle da multiplicação bacteriana, o granuloma segue o curso natural da reparação de toda a reação inflamatória com deposição de colágeno induzida pelo fator de crescimento fibroblástico (FGF), secretado por macrófagos, com cicatrização hialinizaçãoe calcificação. ● Esta reação inflamatória inicial e sua formação de granulomas com ou sem necrose ocorre mais em região inferior do lobo superior ou na superior do lobo inferior, subpleural é o nódulo de “Ghon” ● Os bacilos alcançam os linfáticos e linfonodos hilares com o mesmo tipo de resposta inflamatória (linfadenite tuberculosa granulomatosa), formando o “Complexo primário ou complexo de Ghon” Este complexo primário pode… ● Evoluir para cura com destruição dos microorganismos, fibrose, hialinização e calcificação (cicatriz) ou ficar na sua forma latente (bacilos viáveis) por muito tempo mas sem provocar lesões e evoluir com tuberculose secundária no caso de queda de imunidade do hospedeiro ● Não haver cura da infecção, com persistência e multiplicação dos bacilos nos tecidos, podendo se disseminar pelos pulmões (vias aéreas) e para outros órgãos (via sanguínea) – tuberculose primária progressiva (ocorre em uma minoria que tem o primeiro contato (menos de 5% dos casos), evoluindo como pneumonia caseosa ou tuberculose miliar Tuberculose secundária ● Mais comum em adultos e ocorre em indivíduos que tiveram a primo-infecção ● Queda da imunidade, há reativação dos bacilos latentes com multiplicação dos bacilos nos tecidos, dando origem a novos granulomas (tuberculose por reativação) ● Por serem aeróbios, multiplicam-se preferencialmente nos ápices pulmonares onde as lesões da tuberculose secundária são mais comuns Tuberculose secundária: Formas macroscópicas ● Tuberculose apical: granulomas produtivos e produtivoscaseosos com nódulos fibróticos e calcificados em ápices, com extensas lesões fibrocaseosas em ápices pulmonares (surtos repetidos ● Tuberculose ácino-nodosa: a partir da lesão apical ou de reativação da lesão primária há disseminação dos bacilos pelas vias aéreas, com transporte dos bacilos pelos brônquios formando lesões axiais peri-brônquicas, comprometendo ácinos pulmonares inteiros (“condensação parenquimatosa com a forma acinar”), podendo atingir pleura (pleurite tuberculosa) ● Tuberculose cavernosa: quando ocorre necrose extensa nos locais atingidos, o material necrótico se liquefaz e é drenado por um brônquio dando origem a grandes cavitações (“cavernas tuberculosas”) ● Tuberculose miliar: disseminação pelos pulmões através dos vasos sanguíneos, formando múltiplos pequenos nódulos Pode se disseminar para outros órgãos via hematogênica (rim, ossos, SN, genitais), atingir a pleura com continuidade (pleurite tuberculosa), bacilos deglutidos podem causar a tuberculose intestinal. DOENÇAS PULMONARES OBSTRUTIVAS CRÔNICAS (DPOC) E ASMA DPOC: Doenças pulmonares obstrutivas são entidades clínicopatológicas que tem em comum obstrução crônica ao fluxo do ar em qualquer nível da árvore respiratória Atualmente: Pneumopatias obstrutivas estão entre as doenças crônicas mais comuns no mundo todo, particularmente entre crianças e idosos (países em desenvolvimento - pacientes em situação de privação). OMS: dados de 2012 – 3 milhões de mortes por esta causa (6% de todas as mortes registradas globalmente) Doença prevenível e controlável DPOC – sexta principal causa de morte, um quarto de todas as internações no setor público por problemas respiratórios Fatores de risco: tabagismo e fumo passivo, poluição (combustíveis da biomassa), alérgenos variados, agentes ocupacionais, estados pós-infecciosos, dieta e estados nutricionais. Tabagismo: fator etiológico mais importante para desenvolvimento de bronquite crônica e enfisema DPOC (a prática médica agrupa estas duas entidades): ● Bronquite crônica (vias aéreas) ● Enfisema pulmonar (parênquima pulmonar) DPOC: BRONQUITE CRÔNICA Definição clínica: “tosse persistente com produção excessiva de muco na maioria dos dias de um período de 3 meses, por pelo menos 2 anos consecutivos” Clínica: tosse e expectoração maiores pela manhã e nos meses de inverno e em casos mais evoluídos, dispneia, hipoxemia e cianose, podendo evoluir com sintomas de Cor pulmonale, ICD como complicação tardia Agravamento do quadro clínico: inflamação brônquica aguda e infecções. Etiopatogênese: exposição prolongada a agentes irritantes inalados, sobretudo produtos do tabaco e agentes poluentes atmosféricos, com inflamação de vias aéreas e do parênquima pulmonar com alterações estruturais, clínicas e funcionais, com obstrução progressiva do fluxo aéreo Alterações inflamatórias relacionadas a bronquite crônica: ● Linfócitos: Limitação do fluxo aéreo relacionado ao aumento de Linfócitos T supressores em diferentes estágios de ativação em parede brônquica e parênquima pulmonar, implicados na lesão do parênquima pulmonar e no recrutamento de neutrófilos ● Neutrófilos: ambiente de citocinas propício ao acúmulo de neutrófilos na luz brônquica (aumento IL-8 eTNF-α e diminuição IL-10), aumento de neutrófilos nas glândulas submucosas, que contribui para a hipersecreção brônquica ● Macrófagos: aumentados em número nas vias aéreas e em parênquima pulmonar, especialmente onde há destruição da parede alveolar (liberam mediadores inflamatórios que promovem a quimiotaxia de neutrófilos Alterações inflamatórias relacionadas a bronquite crônica: Células epiteliais: são fontes de mediadores inflamatórios na DPOC, alguns deles envolvidos no recrutamento e adesão de neutrófilos Outros mediadores envolvidos na DPOC: citocinas, moléculas de adesão, proteína quimiotática para macrófagos, fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos, TNF-β e EGF (estes dois últimos envolvidos no remodelamento das vias aéreas) Aspectos morfológicos ● Alterações macroscópicas: espessamento da parede de árvore brônquica com acúmulo de secreção esbranquiçada na luz ● Alterações microscópicas: hipertrofia de glândulas submucosas com hipersecreção de muco, aumento do número de células caliciformes, metaplasia escamosa (com ou sem alterações displásicas), infiltrado inflamatório rico em mononucleares e fibrose da parede bronquiolar, podendo haver diminuição do número de bronquíolos. Acúmulo de macrófagos pigmentados na luz alveolar com fibrose da parede bronquiolar (“bronquiolite respiratória do fumante”) DPOC: ENFISEMA Definição clínica: “aumento anormal e permanente do tamanho dos ácinos pulmonares associado a destruição dos septos alveolares, sem fibrose evidente” Etiopatogênese: desbalanço entre proteases e antiproteases, onde predominam as proteases, o que resulta na destruição dos septos alveolares (interação de fatores constitucionais e ambientais) Fontes de proteases (enzimas proteolíticas) no trato respiratório baixo são: neutrófilos e macrófagos alveolares, presentes em maior número em pulmões de tabagistas (acumulam-se em região centrolobular dos pulmões) ● Neutrófilos: liberam serino-elastase ● Macrófagos: liberam metaloelastases ● Fluido que lubrifica o epitélio respiratório: anti-proteases, a mais importante é a α-1 antritripsina que tem a maior atividade anti-elastase no parênquima pulmonar Etiopatogênese: ● População normal (90% exibe o genótipo normal para α-1 antritripsina, mas vários outros genótipos estão associados a esta deficiência). Indivíduos homozigotos para deficiência tem diminuição dessa enzima e na sua maioria desenvolvem enfisema, 10-20 anos mais cedo em tabagistas ● α-1 antritripsina (enzima que tem a maior atividade antielastase no parênquima pulmonar) ● Fumo e outros irritantes químicos (poluição atmosférica, fumaça de queimadas): papel importante nos enfisemas ● Fumo e enfisema: a fumaça do cigarro é constituída por uma mistura complexa de diferentes componentes (mais de 4000 substâncias distintas), envolvidas no enfisema com aumento da atividade em células inflamatórias e ação lesiva de agentes oxidantes Etiopatogênese - Fumo: ● Promove a liberação pelos macrófagos de fatores quimiotáticos para neutrófilos ● Nicotina é quimiotática para neutrófilos ● Constituintes irritantesda fumaça depositam-se em bifurcações da árvore respiratória, especialmente na origem dos bronquíolos, estimulando reação inflamatória, com alteração em células endoteliais e promovendo aderência de neutrófilos no endotélio ● Estimula a liberação de elastase pelos neutrófilos e aumenta a atividade proteolítica das elastases dos macrófagos ● Agentes oxidantes agridem diretamente os componentes da matriz extra-celular e reduzem a eficiência do sistema antiprotease (inibem a ação da α-1 antritripsina), causando destruição parenquimatosa. Patogênese: ● Estreitamento e tortuosidade das pequenas vias aéreas por inflamação e fibrose (bronquiolite), aumenta a resistência das vias aéreas ● Perda do ancoramento alveolar e da força do recolhimento elástico, com fechamento precoce das pequenas vias aéreas na expiração ● Diminuição da elasticidade pulmonar pela perda do componente elástico de septos alveolares Repercussões fisiopatológicas: alteração na função respiratória e na circulação pulmonar ● Redução no fluxo aéreo ● Dificuldade do acesso ao ar inspirado ● Redução da superfície de trocas ● Compressão dos capilares septais (pelo aumento do ar residual) e vasoconstrição arteriolar por hipóxia – COR PULMONALE Clínica: tosse e expectoração produtiva, cianose, hipoxemia, infecções bacterianas de repetição, retenção de CO2 (hipercapnia), aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (em tonel), espaços intercostais alargados e abaixamento da cúpula diafragmática Classificação segundo a distribuição anatômica (exame macroscópico dos pulmões) ● Centroacinar ou centrolobular (tabagistas e com bronquite crônica): acomete porção central do ácino pulmonar e bronquíolo, poupando os alvéolos distais, associado a antracose intensa (acometendo mais lobos superiores) ● Pan-acinar ou panlobular (deficiência de α-1 antritripsina): todo ácino está aumentado (acometendo mais lobos superiores) ● Parasseptal ou acinar distal: acomete porção distal do ácino nas regiões subpleurais e septos interlobulares, nas regiões superiores do pulmão podendo surgir em áreas adjacentes a fibrose, cicatrizes ou atelectasias. Acomete pacientes jovens (causa frequente de pneumotórax espontâneo) ● Irregular ou paracicatricial: envolve o ácino de forma irregular, associado a cicatrizes de processos inflamatórios antigos. Aspectos morfológicos (macroscopia): ● Pulmões aumentados de volume, pálidos, com perda da elasticidade e com bolhas em ápices ● Superfície de corte com pequenas cavidades por dilatação de vias aéreas distais ● Classificação do enfisema pela localização das lesões Aspectos morfológicos (microscopia): ● Destruição da parede de bronquíolos e alvéolos ● Dilatação de alvéolos, sacos e ductos alveolares formando pequenas cavidades ● Redução do leito capilar pulmonar ● Obstrução, redução da luz e tortuosidade de bronquíolos ● Bronquite e bronquiolite ASMA Definição: doença respiratória crônica de vias respiratórias caracterizada por hiper-reatividade brônquica (broncoconstrição) e hipersecreção de muco em resposta a estímulos variados ● Doença prevalente acometendo cerca de 5% da população mundial ● Mortalidade diminuiu cerca de 40% na última década pelo manejo clínico/tratamento (mortalidade maior em países em desenvolvimento) ● Crianças e adolescentes, também adultos ● 5% - doença grave e de difícil controle, refratária a tratamento (corticosteroides) ● Novos tratamentos individualizados para forma grave: Ac monoclonais anti-IL-5 Achados clínicos: episódios recorrentes de dispneia, sibilos (chiados) e tosse associados a bronco-constrição, reversíveis com tratamento clínico Divisão em duas categorias: 1) Asma atópica: inicia-se na infância, influência familiar (predisposição genética), quando há evidência de sensibilização e resposta imunitária a certos antígenos (associado a eczema e rinite alérgica) 2) Asma não atópica: não se identifica um alérgeno predisponente (mecanismos menos claros pois os alérgenos são pouco conhecidos): infecções respiratórias virais, contaminantes atmosféricos, fumaça de cigarro, frio, estresse, exercício físico, etc * Asma induzida por medicamentos (aspirina e AINH) * Asma ocupacional (exposição ocupacional a plástico, madeira, algodão, etc) Asma atópica (forma clássica e mais estudada): inicia-se na infância, influência familiar, quando há evidência de sensibilização e resposta imunitária a certos antígenos (associado a eczema e rinite alérgica) Alérgenos inalados: pó doméstico, pelo de animais, pólen, alguns alimentos Etiopatogênese: ✓ Alérgenos entram em contato com a mucosa respiratória, capturados por células dendríticas que reconhecem o antígeno, processando-o e apresentando ao a Linfócitos T auxiliares, desencadeando uma reação de hipersensibilidade tipo I. Etiopatogênese: Asma clássica Mastócitos revestidos por IgE são expostos ao Ag, há degranulação destes e liberação de produtos que: ● Causam bronco-constrição, vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e aumento da produção de muco ● Recrutamento e ativação de eosinófilos, neutrófilos, basófilos, macrófagos para o sítio inflamatório, perpetuando a resposta inflamatória ● Eosinófilos (frequentes em asmáticos), seus grânulos tem substâncias, entre elas a proteína básica principal (MBP) que lesa o epitélio brônquico expondo terminações nervosas sensitivas que respondem com bronco-constrição, vasodilatação e hipersecreção de muco ● Os macrófagos pulmonares de asmáticos tem maior número de receptores para IgE e liberam citocinas pró-inflamatórias * Resposta imediata: desaparece em 30-60-min (espontânea ou com tratamento) * Resposta tardia: aparece em 60% dos pacientes e se manifesta de 6-8h após com nova crise Evolução da asma (remodelamento brônquico): a persistência da inflamação pode provocar alterações estruturais irreversíveis em vias aéreas de asmáticos (fibrose com espessamento da parede), com piora progressiva e irreversível da função respiratória ● Aspectos morfológicos (macroscopia): pulmões hiperinsuflados (“mal asmático”) e com secreção espessa obstruindo brônquios e bronquíolos. ● Aspectos morfológicos (microscopia): secreção abundante na luz das vias respiratórias, descamação epitelial, espessamento da membrana basal, edema de submucosa, hipertrofia da musculatura lisa e infiltrado inflamatório mononuclear com eosinófilos ● * Células escamosas descamadas misturadas com a secreção mucóide formam arranjos conhecidos como espirais de Curschmann Aspectos morfológicos (microscopia) na fase de remodelamento brônquico: ● Fibrose abaixo da membrana basal (deposição de colágeno) ● Espessamento da submucosa ● Hipertrofia e hiperplasia das células musculares lisas ● Hipertrofia e hiperplasia das glândulas mucosas e aumento das células caliciformes ● Espessamento da adventícia por infiltrado inflamatório ● Alteração em fibras elásticas com elastose e fragmentação das fibras ancoradas na membrana basal
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