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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA PROTOZOÁRIOS PARASITAS DO HOMEM TRYPANOSOMA CRUZI É um protozoário encontrado em mamíferos e insetos vetores em 3 tipos de ambientes diferentes: silvestre (TcIII e TcIV), doméstico e peridoméstico (TcII, TcV, TcVI). Um grupo majoritário do trypanosoma cruzi (TcI) é frequentemente encontrado em ecossistemas silvestres e em infecções humanas na Amazônia. CICLO DE VIDA Ciclo de vida do T. cruzi é digenético, com um hospedeiro mamífero e um inseto. Em ambos, observa-se um estágio reprodutivo que não é infectante e outros infectantes que não se reproduzem. 01 - Durante uma refeição de sangue, um inseto vetor Triatominae infectado (ou barbeiro) libera tripomastigotas em suas fezes, perto do local da ferida da mordida. 02 - Tripomastigotas entram no hospedeiro através da ferida ou através das membranas mucosas intactas (p. ex., conjuntiva). Dentro do hospedeiro, os tripomastigotas invadem as células próximas ao local da inoculação, onde se diferenciam em amastigotas intracelulares. 03 - As amastigotas se multiplicam por fissão binária. 04 - Eles se diferenciam em tripomastigotas, em seguida, eclodem para fora da célula e entram na corrente sanguínea, podendo infectar células em vários tecidos; lá, transformam-se em amastigotas intracelulares e causam infecção sintomática. Na corrente sanguínea, tripomastigotas não se multiplicam. A multiplicação só recomeça quando os parasitas entram em outra célula ou são ingeridos por outro vetor. 05 - O barbeiro torna-se infectado alimentando-se de sangue humano ou animal que contenha parasitas circulantes. 06 - Os tripomastigotas ingeridos se transformam em epimastigotas no intestino médio do vetor. 07 - Os parasitas se multiplicam no intestino médio. 08 - No intestino grosso, eles se diferenciam em tripomastigotas metacíclicos infectantes, que são excretados pelas fezes. OUTROS PROTOZOÁRIOS ESPÉCIE CLASSE DOENÇA SINTOMAS TRANSMISSÃO Entamoebahis tolytica Rizópode amebíase ulcerações intestinais, diarreia, colite, enfraqueciment o ingestão de água ou alimentos contaminados com cistos, eliminados com fezes humanas Trypanosoma gambiensi Flagelado doença do sono Lesões meningoencefál icas, ingurgitamento de gânglios cervicais picada da mosca tsé-tsé (ocorre na África) Leishmania brasiliensis Flagelado leishmaniose tegumentar americana (úlcera de Bauru) ulcerações no rosto, braços e pernas necrose de tecidos conjuntivos picada do mosquito- palha ou birigui Trichomonas vaginalis Flagelado tricomoníase prurido, vaginite, uretrite, corrimento relação sexual; água, toalha e objetos úmidos contaminados Giardia lamblia Flagelado giardíase colite, com dores intestinais; diarreia ingestão de água ou alimentos contaminados com cistos, eliminados com fezes humanas Balantidium coli Ciliado balantidíase diarreia, febre, anorexia, cólicas abdominais, cefaleia, fraqueza ingestão de água ou alimentos contaminados com cistos, eliminados com fezes humanas Plasmodium vivax Esporozoá rio malária febre (terçã benigna) febres, anemias, lesões no baço, fígado e medula óssea picada da fêmea do mosquito- prego Toxoplasma gondii Esporozoá rio toxoplasmose (congênita ou adquirida) alteração no volume craniano; calcificações cerebrais; cório- retinite; retardo mental água contaminada com cistos eliminados com as fezes do gato ingestão de carne crua (porco, boi) com cistos APG 05 - Doença de Chagas Maria Luiza Sena – Med XIV FASA DOENÇA DE CHAGAS EPIDEMIOLOGIA É uma enfermidade de caráter endêmico, sobretudo do centro- oeste do México até o sul da Argentina e do Chile. Nos países industrializados, há uma mudança no padrão epidemiológico, decorrente do número crescente de imigrantes latinos infectados. É um problema global de saúde pública. No Brasil, a espécie mais importante de transmissão (Triatoma infestans), encontra-se sobre controle desde junho de 2006. Em 2020, foram confirmados 146 casos de DCA no Brasil, com uma letalidade de 2% (3/146), sendo que todos os óbitos ocorreram no estado do Pará. A região Norte apresentou a maior taxa de incidência da doença. A maioria dos casos era do sexo masculino e cerca de 6% das mulheres estavam gestantes. ETIOLOGIA T. cruzi é o agente etiológico da DCA, o qual tem a capacidade de desenvolver-se em dois diferentes hospedeiros -> triatomíneo (inseto invertebrado, vetor natural do T. cruzi) e o ser humano, além de animais domésticos e silvestres. ❖ No ciclo silvestre, a infecção geralmente é benigna, ao contrário do que acontece no ser humano. TRANSMISSÃO VETORIAL Ocorre por meio do contato do triatomíneo (barbeiro) infectado pelo T. cruzi com seres humanos. O contágio se dá por meio das fezes contaminadas do barbeiro com uma solução de continuidade da pele do ser humano, podendo a lesão ser provocada pela própria picada do inseto. O barbeiro tem hábitos noturnos e elimina as fezes logo após o repasto, fazendo com que as pessoas se autoinoculem ao coçarem o local. O período de incubação é de 8-10 dias a partir da contaminação vetorial. TRANSMISSÃO TRANSFUSIONAL É considerada responsável pela urbanização da doença, por meio da doação indiscriminada de sangue sem a devida tiragem sorológica. O período de incubação costuma ser de 20-40 dias. TRANSMISSÃO CONGÊNITA No Brasil, essa modalidade de transmissão é responsável por até 9% dos casos de DCA. A lesão placentária é responsável por essa via de transmissão, a qual pode ocorrer a partir do 3º mês de gestação. O feto contaminado, além da prematuridade, pode apresentar sinais e sintomas da doença, incluindo hepatoesplenomegalia já ao nascer. ! A prevalência de gestantes chagásicas é de 2%, e apenas 1% delas é capaz de transmitir a infecção ao bebê. FISIOPATOLOGIA Independente da forma de transmissão, as alterações patológicas são conhecidas a partir do contato do T. cruzi com o ser humano. Na transmissão pela via vetorial, após um período de incubação, os tripanosomas invadem as correntes sanguínea e linfática, localizando- se em praticamente todos os órgãos. No sangue, o tripanosoma não sofre divisões, mas dentro das células sim, levando à ruptura das células parasitadas, com consequente reação inflamatória. ❖ Essa inflamação focal constitui a reação básica da DCA. Com a evolução da infecção, os pequenos focos formados podem agrupar-se, gerando um processo inflamatório difuso, podendo acometer diferentes órgãos e tecidos riscos em macrófagos. Miocardite (inflamação do miocárdio) é uma manifestação comum nessa fase, na qual o infiltrado mononuclear, seguido de edema e congestão, leva à dissociação das fibras miocárdicas. ❖ Miocardite nessa fase geralmente é acompanhada de pericardite serosa e de endocardite. CORAÇÃO é um órgão-alvo do T. cruzi, bem como SNA e as camadas musculares e plexos intramurais das vísceras ocas (intestino). As lesões se mantêm por longo período, desde a fase aguda da doença até o surgimento das alterações em órgãos-alvo. ❖ Na forma indeterminada, o coração apresenta-se de tamanho normal e sem disfunções. A forma crônica cardíaca caracteriza-se por cardiomiopatia dilatada, consequente a uma miocardite crônica difusa e fibrosante. ❖ Nessa forma, sobressaem lesões do sistema de condução cardíaco, com infiltrado inflamatório e fibrosante. QUADRO CLÍNICO Fase Aguda -> infecção primária ou reativação da fase crônica. As manifestações podem não aparecer. Fase Crônica -> pode aparecer na forma indeterminada, forma cardíaca, forma digestiva e forma mista. FORMA AGUDA Apenas 35% dos casos agudos apresentam sintomas comuns da doença, o que acaba contribuindo para o não reconhecimento dessa fase. Sinais e sintomas podem aparecer com intensidades variadas,sendo por vezes inespecíficos. Quadro clínico inicial: febre, mal-estar, anorexia, fadiga, cefaleia e edema de face e membros e enfartamento ganglionar. ❖ Hepatoesplenomegalia está presente em até 30% dos casos. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Sinal de Romanã -> presente em 48% dos pacientes, sendo caracterizado por edema bipalpebral unilateral, indolor, de coloração róseo-violeta, acompanhado de conjuntivite não purulenta, dacriadenite e linfonodos satélites (principalmente os pré-auriculares). Chagoma de inoculação -> lesão cutânea pouco saliente, avermelhada, pouco dolorosa, arredondada e que pode ulcerar, sendo acompanhado de enfartamento ganglionar satélite. A forma aguda pode apresentar manifestações: ❖ Neurológicas -> meningoencefalite. As manifestações podem apresentar-se por meio de convulsões, contraturas e paralisias. ❖ Cardíacas -> as manifestações podem acometer o epicárdio, miocárdio ou endocárdio. É comum a presença de bloqueio atrioventricular (BAV) de 1º grau, taquicardia e alterações de repolarização ventricular. As manifestações clínicas da forma aguda da DCA costumam regredir espontaneamente. Após essa fase, os pacientes entram para a forma crônica/indeterminada da doença. ! DCA aguda exige notificação compulsória. FORMA CRÔNICA FORMA INDETERMINADA (FI) Presente em pacientes soropositivos e/ou com T. cruzi positivo e que não exibem o quadro clínico próprio da doença, apresentando também resultados de ECG de repouso, radiografia de tórax, esôfago e cólon normais. ❖ Se forem feitos exames mais específicos, algumas alterações podem ser observadas, geralmente discretas. FI apresenta caráter benigno e tem baixo potencial evolutivo. Não são descritos casos de morte súbita por essa forma da DCA. FORMA CARDÍACA É a forma clínica mais expressiva da doença, principalmente por sua morbimortalidade. A forma cardíaca pode ser dividida em: Função ventricular normal -> arritmias e distúrbios de condução intraventricular e atrioventricular, sem disfunção ventricular. As arritmias geralmente são acompanhadas de palpitações, tonturas, lipotimia e síncope. A principal causa de óbito nessa forma da doença é a morte súbita. Função ventricular comprometida -> o quadro clínico nesse estágio depende de: IC, arritmias e tromboembolismo. A maioria dos sintomas estão relacionados com maior comprometimento do VD, associada a arritmias ventriculares e atriais e distúrbios de condução atrio e intraventricular. Nesse caso, os pacientes apresentam mais episódios de fadiga do que de dispneia. Muitos pacientes apresentam dor torácica, possivelmente em virtude de anormalidades da microcirculação causadas pelo processo inflamatório. Ao exame clínico: cardiomegalia significativa com ictus cordis impulsivo e difuso, sopros de insuficiência mitral e tricúspide e desdobramento amplo se 2ª bulha. ! AVE são mais comuns em pacientes com IC de etiologia chagásica do que em outras etiologias. O prognóstico se agrava à medida que o quadro congestivo progride e as arritmias se tornam de difícil controle. Insuficiência Cardíaca IC é mais grave na cardiopatia chagásica do que em outras síndromes da doença. ❖ Sintomas iniciais: fadiga, sonolência, cansaço muscular e oligúria. Manifestações de falência ventricular direita são mais comuns que as de falência ventricular esquerda. Nos estágios mais avançados, pode haver sinais de baixo débito sistêmico e anasarca. ❖ Pode ser observado também abaulamento precordial, impulsões sistólicas visíveis e desvio do ictus para a esquerda. Arritmias Por vezes é assintomática, podendo trazer aos pacientes o risco de morte súbita. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Arritmias extrassistólicas -> são as mais frequentes. São percebidas pelo paciente como palpitações, mas também podem ser assintomáticas. ❖ Bradiarritmias -> geralmente são sintomáticas, podendo determinar tonturas, escurecimento visual, lipotimias e crises de Morgagni-Adams-Stokes (síncopes). ❖ Taquiarritmias -> são de grande risco e associadas à morte súbita. A maioria tem sintomatologia que varia desde palpitações, náuseas e vômitos até escurecimento visual e síncopes. FORMA DIGESTIVA Acomete 10-12% dos indivíduos infectados na forma crônica. A destruição dos plexos nervosos ao longo do TGI produz alterações funcionais e morfológicas, principalmente no esôfago, cólon ou em ambos. Manifestações clínicas mais comuns são aquelas associadas ao megaesôfago (disfagia, regurgitação, dor epigástrica) e o megacólon (constipação intestinal crônica, distensão abdominal). ! A forma digestiva é menos comum que a forma cardíaca. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico parasitológico direto baseia-se no encontro de tripomastigotas em amostras de sangue capilar ou venoso -> útil na fase aguda da infecção. Em preparações não fixadas, pode-se observar batimento flagelar do parasito com uma coloração vital simples, usando-se azul de metileno. Na fase crônica, utiliza-se com mais frequência os métodos diagnósticos indiretos, orientados a identificar componentes da resposta imune específica contra o parasito. FASE AGUDA OU INFECÇÃO CONGÊNITA Microscopia -> detecção de tripomastigotas sanguíneos em exame a fresco em lâmina, em gota espessa ou esfregaço corado, ou após centrifugação em tubos de micro-hematócrito. Sorologia -> para detecção de anticorpos anti-T.cruzi da classe IgG são necessárias duas coletas com intervalo mínimo de 21 dias entre uma coleta e outra. Para confirmação, é necessária preferencialmente execução pareada, que permita comparar os resultados ou a variação de pelo menos dois títulos sorológicos. ❖ Detecção de anticorpos anti-T.cruzi da classe IgM -> técnica complexa e com resultados de falso-positivos. O paciente deve apresentar alterações clínicas compatíveis com DCA e história epidemiológica sugestiva. É mais adequado na fase aguda tardia. Reação em cadeia da polimerase (PCR) -> pode detectar e quantificar o DNA do parasito no sangue com alta sensibilidade. Possibilitam determinar o genótipo do parasito. FASE CRÔNICA Sorologia -> níveis elevados de anticorpos IgG, na reação de imunofluorescência direta, hemaglutinação indireta ou ELISA indicam infecção crônica. Reação em cadeia de polimerase (PCR) -> podem detectar DNA do parasito no sangue ou em tecidos com razoável sensibilidade. Os testes quantitativos possibilitam avaliar se houve redução na carga parasitária após o tratamento. TRATAMENTO Não há cura espontânea para o paciente infectado pelo T. cruzi, independente da forma clínica. FORMA AGUDA Além do tratamento etiológico, devem ser instituídos repouso e uso de sintomáticos, além de medicação de suporte (antitérmicos, diuréticos, sedativos, anti-convulsivantes). Nessa fase, o tratamento é feito com: ❖ Benzonidazol -> 5-10mg/kg/dia dividido em 2-3 doses ao longo de 60 dias. FORMA INDETERMINADA Não há solicitação de exames sorológicos para DCA nessa forma clínica. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Uma vez confirmada a condição de portador da FI, o paciente deverá ser informado e devidamente esclarecido, cabendo ao médico ressaltar a benignidade do seu quadro clínico. ❖ Deve-se orientar o paciente para a não doação de sangue e de órgãos. Não existe restrição à atividade sexual. Às gestantes com essa forma clínica, recomenda-se atenção quanto à possibilidade de transmissão congênita. ❖ Mulheres portadoras da FI não devem restringir a amamentação, exceto em vigência de sangramento mamilar importante. FORMA CARDÍACA O prognóstico do paciente chagásico é semelhante ao da população em geral enquanto o ECG estiver normal, podendo a realização seriada desse exame detectar a evolução para a forma cardíaca. Em pacientes com sintomas/sinais compatíveis com acometimentocardíaco mas sem alterações no ECG, uma investigação adicional pode ser necessárias para excluir outras etiologias e definir a existencia ou não da cardiopatia chagásica. Ecocardiograma -> melhor exame para avalia a função miocárdica, permitindo identificar maracadores importantes para a classificação da cardiopatia. Nos pacientes chagásicos com IC descompensada, deve-se procurar possíveis fatores precipitantes reversíveis, que poderiam estar causando ou exacerbando a descompensação -> infecção, arritmia grave, não adesão terapêutica, ingestão aumentada de sódio, HA, consulmo de álcool, disfunção tireoidiana, gravidez e anemia.
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