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DESCRIÇÃO Este conteúdo se refere à metodologia de negociação segundo o Harvard Negotiation Project (Projeto de Negociação de Harvard), a principal referência mundial da área. Aqui, abordaremos tópicos como ferramentas para negociações complexas, relações comerciais e gestão de projetos. PROPÓSITO Apresentar o Harvard Negotiation Project a fim de fornecer ferramentas para os futuros profissionais de Relações Internacionais e de Comércio Exterior. OBJETIVOS MÓDULO 1 Relacionar a metodologia do Harvard Negotiation Project e as características da barganha. MÓDULO 2 Identificar as características do planejamento de Negociações Internacionais. INTRODUÇÃO A fim de expandir o interesse pelo tema trabalhado, sugerimos a seguinte reflexão: você já se imaginou participando de uma rodada de negociação importante para resolver algum problema complexo, de difícil solução? Imagine, antes de iniciarmos, quais seriam as principais dificuldades e escreva cada uma delas em uma folha de papel. Após a conclusão deste tema, compare suas impressões iniciais com os conhecimentos trabalhados e veja a sua evolução neste assunto. Este texto apresenta metodologia para a condução de negociações segundo teorias e ferramentas do Harvard Negotiation Project, que nos dão fundamento para a compreensão da barganha como ação na mesa de negociação. Apresentam-se os sete elementos da metodologia baseada em interesses como ferramentas para negociações complexas, conflitos internacionais, relações comerciais e gestão de projetos. MÓDULO 1 Relacionar a metodologia do Harvard Negotiation Project e as características da barganha CONCEITOS DA METODOLOGIA DO HARVARD NEGOTIATION PROJECT Foto: Shutterstock.com Apresentam-se os sete elementos da metodologia baseada em interesses como ferramenta para negociações complexas, como conflitos internacionais, relações comerciais e gestão de projetos. O método, desenvolvido a partir da década de 1980 na Escola de Direito da Universidade de Harvard pelo professor Roger Fisher (1922-2012) e seus colegas, será apresentado em diferentes contextos, sendo de vital importância para o aprendizado conectar os conceitos à sua realidade negocial em relações pessoais e profissionais. É seguro dizer que Roger Fisher é o precursor e maior expoente em negociação e gerenciamento de conflitos. O professor foi pioneiro em pesquisar e introduzir a negociação como disciplina acadêmica, fundando um dos mais renomados programas interdisciplinares do mundo no seio na Universidade de Harvard. Posteriormente, esse programa se tornou interinstitucional, incluindo o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a Tufts University. Foto: Shutterstock.com Desfile em homenagem à milionésima tonelada de comida do Plano Marshall, 1947. ENTRE 1947 E 1951 Após servir na Segunda Guerra Mundial como piloto de reconhecimento climático, Fisher trabalhou no Plano Marshall, em Paris, cujo escopo era a recuperação da Europa no pós- Guerra. 1958 Depois de terminar seu curso de Direito em Harvard, ele trabalhou como advogado discutindo importantes casos na Suprema Corte dos EUA e prestando consultoria em disputas internacionais. Ele retornou para a Escola de Direito de Harvard e se tornou professor em 1958. A essa altura, já perdera amigos na Guerra e vira disputas dispendiosas como litigante. Foto: Chensiyuan/ Wikimedia Commons, CC BY-SA 4.0 Escola de Direito de Harvard. Imagem: Shutterstock.com Negociador pensando em estratégias. 1979 Intrigado com a forma como gerenciamos nossas diferenças, Fisher transformou sua curiosidade em arte e ciência, fundando em 1979 com os seus alunos o Programa de Negociação de Harvard (Program on Negotiation – PON). A pesquisa se nutriu da coleta de dados e entrevistas com pessoas conhecidas como negociadores qualificados, visando entender o que as tornava eficazes. Acompanhe a seguir mais detalhes sobre tal pesquisa. Os estudos de conflitos partiram da seguinte pergunta: QUE CONSELHO EU PODERIA DAR A AMBAS AS PARTES EM UMA DISPUTA, QUE SERIA ÚTIL E LEVARIA A MELHORES RESULTADOS? Na melhor tradição de Harvard de levar o conhecimento acadêmico para o mundo real das relações humanas e dos negócios, a tese gerou o rascunho Mediação Internacional: um guia de trabalho , de abril de 1978, e, posteriormente, o best-seller internacional Como chegar ao sim: Como negociar acordos sem fazer concessões , que, além da autoria de Fisher, tem coautoria de William Ury e Bruce Patton, constituindo-se no marco teórico que popularizou o método então criado. A pesquisa do professor Roger Fisher foi a mola propulsora para a metodologia de negociação mais consagrada no campo das relações internacionais e comerciais, solução de conflitos e resolução de problemas (problem-solving ). Este texto demonstra como utilizá-la no campo das negociações complexas, caracterizadas por múltiplas partes, múltiplos interesses, múltiplos assuntos e fatores tangíveis e intangíveis. O objetivo é trazer aportes úteis para negociação de acordos multipartes que se projetem no tempo, impactando o ambiente de negócios e demandando uma série de obrigações. Imagem: Amazon.com Capa do livro Como chegar ao sim: Como negociar acordos sem fazer concessões , Editora Sextante, 2018. BARGANHA COMO CONCEITO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Assista ao vídeo com o professor Rodrigo Rainha sobre a história do conceito de barganha. PARTINDO DE UM PONTO FUNDAMENTAL: BARGANHA Imagem: Shutterstock.com Tudo nasce da necessidade da barganha. O comércio exterior é marcado por políticas, e a posição política de um país em face a outras nações cria um sistema de negociação em que, lado a lado, temos uma relação de compra e venda de bens e serviços. Nesse sentido, vamos explorar a lógica da negociação tendo em vista que todas as ações políticas – uma lei, uma emenda, um veto, uma rejeição de acordos, um ato ou tratado – incidem de forma direta no que chegará efetivamente à mesa de negociação. Não existe relação de barganha independente dos quadros políticos, e isso constitui o contexto de nosso estudo sobre a metodologia. Nesse sentido, chegamos ao poder de barganha, conceito que trabalha a relação dinâmica entre o controle político, as limitações impostas, o excesso de regras que diminuem o poder de barganha e a capacidade de alcançar acordos diante do que está na mesa. QUANTO MAIOR A INGERÊNCIA E O CONTROLE POLÍTICO, MENOR SERÁ O PODER DE BARGANHA; CONSEQUENTEMENTE, MAIS COMPLEXO É ALCANÇAR OS ACORDOS. Pode parecer contraditório, mas não é uma crítica à ação governamental, que, embora democrática, acaba por incidir na dinâmica da negociação. Repare, não mudamos em nada o sentido de barganhar como negociar em uma relação, mas sinalizamos que para construir a análise de sua metodologia é necessário perceber seus condicionantes. Mas quais são os resultados possíveis de uma mesa de negociação? Concluir um acordo mutuamente benéfico. Há conflito de interesses a respeito do que foi estabelecido ou proposto Um acordo não pode ser imposto, ambas as partes precisam reconhecê-lo. Parece simples, mas não há nada de simples: para haver uma barganha existem interesses. Apesar do interesse, o fechamento não é trivial; sendo assim, para que haja uma definição é necessário estabelecimento de metodologias singulares. Entende-se que a habilidade de negociação é a mais importante da pós-modernidade. Em tempos de crises que vieram para ficar – fiscal, ética, de paradigmas, de mercados, de transição do modelo de escassez para a abundância –, saber negociar se tornou uma vantagem competitiva e um verdadeiro modelo de liderança. A negociação é onipresente, é um fato da vida. O profissional que não sabe negociar tem um problema grave em um mundo cada vez mais interconectado e de aceleradas mudanças, onde a construção de relacionamentos e o posicionamento frente à competitividade são cruciais. Utiliza-se a negociação para trêsgrandes objetivos: Dividir um valor escasso (deal-making ). Gerir conflitos de qualquer natureza (conflict management ). Solucionar problemas complexos (problem-solving ). A maioria das questões envolvendo relações internacionais abrange o alcance desses três objetivos, como se verá daqui para frente. Os quatro princípios da metodologia (FISHER; URY; PATTON, 2018) são: 1 Separar as pessoas do problema. 2 Focar os interesses em jogo, e não as posições das partes. 3 Criar opções de ganhos mútuos. 4 Usar critérios objetivos em todas as decisões e fases do processo de negociação. A negociação baseada em princípios, méritos ou integrativa é um processo que envolve preparação, condução e diagnóstico visando a criação de valor. Em dado momento é inevitável a distribuição do valor criado, o que se denomina negociação distributiva. ATENÇÃO O profissional de negócios deve estar focado em atingir o objetivo da organização que representa, aqui entendido como a melhor opção para atingir os interesses concretizada num acordo suficiente, realista, operacional e sustentável tecnicamente, que não gere problemas na fase de execução. Um bom acordo deve ser blindado em relação a regras de conformidade, especialmente normas de proteção de dados e compliance de diferentes naturezas, a depender dos países de origem, da cultura e dos acordos internacionais. COMPLIANCE javascript:void(0) O compliance refere-se a manter as regras. Ou seja, você precisa cumprir a legislação relevante, bem como quaisquer padrões internos ou externos. Quando você se envolve em negócios, há muitas formas de compliance que sua empresa e seus funcionários devem manter. Finalmente, cabe salientar que diferenças culturais se tornaram características dos modelos de negociação de diferentes países. A título de exemplo, os norte-americanos se caracterizaram por introduzir negociação de preços logo no começo das tratativas. Os chineses, ao contrário, buscam negociar toda a arquitetura do negócio e sua futura execução, deixando o preço por último. Essa abordagem faz todo o sentido quando se pensa que negociações comerciais envolvem aspectos complexos de execução, como logística, câmbio e políticas públicas dos partícipes. Por essa e por outras razões que modernamente se introduziram os chamados smart contracts (Os contratos inteligentes materializados em um programa de computador.) , de modo que o contrato muda automaticamente de acordo com fatos ocorridos após sua assinatura. OS SETE ELEMENTOS A abordagem de Harvard está fundada na análise e síntese de sete elementos-chave que permeiam todo o processo de negociação. Em outras palavras, o esquema a seguir cria o ambiente de debate posto à mesa para a barganha. Imagem: Rafael Machado de Oliveira A pesquisa do professor Roger Fisher concluiu que os sete elementos são comuns em quaisquer espécies de negociação, como comerciais (compra e venda), de conflitos ou solução de problemas. O negociador deve identificá-los e utilizá-los para preparar, conduzir e diagnosticar acordos. ATENÇÃO Salienta-se que a metodologia foi criada com foco em negociações complexas. Reputa-se complexa aquela que envolve múltiplas partes, múltiplos interesses em jogo, múltiplos fatores tangíveis (preço, produto, prazo etc.), intangíveis (reputação, precedente, confiança etc.) e resultados que se projetem no tempo. O entendimento atual é que a metodologia serve muito bem para as negociações complexas e para as simples, exemplo da venda direta. Atento a isso, Fisher conceitua negociação como a arte de construir relacionamentos de longo prazo e fechar acordos sustentáveis. Ao sintetizar os elementos do Programa de Negociação, estabeleceu as seguintes diretrizes para uma negociação por princípios: Imagem: Rafael Machado de Oliveira Em seguida, vamos caracterizar a mesa de negociação para entender como as forças destacadas se apresentam. TEMA DE POSICIONAMENTO GERAL Imagem: Shutterstock.com Inicialmente, deve-se salientar que cada negociação demanda preparação e condução customizada, inclusive no que toca à ordem de definição e abordagem dos sete elementos. O TEMA DE POSICIONAMENTO GERAL REPRESENTA O OBJETIVO ESTRATÉGICO QUE SE VAI DEFENDER OU REPRESENTAR NA NEGOCIAÇÃO. No campo das negociações internacionais, reputa-se inteligente definir o problema que se busca resolver, o que em teoria de negociação é definido como “tema de posicionamento geral” (SHELL, 2001, p. 63). Especificamente em relações comerciais, o posicionamento nem sempre está relacionado a preço; pode ser até o fechamento da venda direta. Contudo, pode dizer respeito a entrada em um novo mercado, disputa concorrencial, construção de relacionamentos de longo prazo, parcerias como joint ventures , prevenção de conflitos, consórcios para gestão de projetos e toda a gama de negociações possíveis no atual cenário de inovações disruptivas de um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo . JOINT VENTURES Referência ao denominado “mundo VUCA”, acrônimo derivado da expressão em inglês de volatility, uncertainty, complexity and ambiguity (BASTOS, 2020). Além das questões mercadológicas e concorrenciais, é comum que novos produtos e tecnologias impactem a infraestrutura urbana e os serviços públicos, daí a necessidade de as negociações internacionais englobarem relações governamentais. Aqui cabe salientar as três dimensões da negociação: a emocional, a técnica (método e abordagem persuasiva) e o objeto da negociação (normas envolvidas, design do negócio ou serviço e as regionalidades). Nesse momento, falamos do objeto da negociação ao definir o tema de posicionamento geral. javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com DEVE SE QUESTIONAR O SEGUINTE: QUAL É O OBJETIVO DESTA NEGOCIAÇÃO? QUAIS SÃO OS INTERESSES QUE SE DESEJA ATENDER? Confira a seguir algumas recomendações: Uma recomendação preciosa é retirar o peso das questões de preço sobre a reflexão estratégica, e procurar pensar em médio ou longo prazo. Ao menos um dos negociadores tem que dominar integralmente o tema objeto da negociação, prática importante porque é comum se utilizar de diversos negociadores com funções diferentes no processo. Por exemplo, enquanto um cuida do objeto da negociação, outro pode zelar exclusivamente do processo (procedimento, reuniões, forma de abordagem, táticas, recuos etc .). Todo negociador deve ter mente que um bom acordo se constrói com argumentos e concessões. Na ocasião em que se negocia somente com argumentos corre-se o risco de entrar numa batalha: o seu argumento contra o argumento do outro. As concessões, materializadas em boas moedas de troca (easy tradeoffs ), são parte indispensável do processo. Postas essas advertências, deve-se definir com precisão o tema de posicionamento geral elaborando-o em uma oração que contenha o objetivo almejado de forma clara e o melhor argumento que sustente esse escopo. Na definição do tema é importante observar as possíveis coalizões, zelando, assim, pelo relacionamento. Da mesma forma, deve-se pensar na necessidade de negociar em duas frentes quando se trata de grandes organizações com múltiplos interesses e jogos de poder. De um lado, a negociação behind the table , atrás da mesa com as partes integrantes do mesmo lado, por exemplo: o convencimento do conselho de administração da empresa de que determinada aquisição é comercialmente viável e sustentável. Essa negociação deve necessariamente ser resolvida antes da negociação com a contraparte, chamada de negociação across the table . ATENÇÃO Ir para a mesa de negociação sem estar plenamente alinhado com seus pares é a receita para o fracasso. Dada a complexidade dos interesses em jogo, quando se trata de negociações internacionais isso não é incomum. Essa definição dos interesses de cada parte é fundamental para definir o regime de coalizões, afinal pode acontecer que sejam identificados no mesmo polo inicial de uma negociação entrepartes com interesses tão antagônicos que não reste alternativa senão trocar de posição para negociar em polos opostos. Finalmente, para dizer que é perfeitamente possível modificar/adaptar o tema de posicionamento geral durante o processo, cabe trazer à baila o ensinamento do emérito professor Michael Wheeler, da Harvard Law School: “a negociação é mais jazz do que ciência. É a improvisação sobre um tema. Você sabe onde quer ir, mas não sabe como chegar lá. Não é linear” (WHEELER, 2014, p. 10). São exemplos de temas de posicionamento geral para além de negociação de preço: Clique nas setas para ver o conteúdo. Objeto com interação. Imagem: Shutterstock.com Aquisição de ponto de venda para adquirir visibilidade comercial. Aquisição ou fusão de empresas para adquirir a carteira de clientes ou a base de dados da outra organização. Aquisição de produtos e serviços como estratégica de ocupação de mercados, influência em precificação ou concorrência. Construção de relacionamento de longo prazo entre as nações envolvidas. Estabelecimento de reciprocidade em negócios. Estabelecimento de joint venture para organização de um grande evento, projetos ou compartilhamento de tecnologias Uma boa guia para essa definição no planejamento é mirar um tema de posicionamento que contemple o objetivo do outro. Note-se que em relações potencialmente conflituosas a prudência na preparação e abordagem é bem resguardada ao se ter em mente a resolução do problema comum ou vilão como objetivo estratégico. Metodologicamente, em negociações de questões complexas, e relembrando as funções da negociação abordadas, é recomendável iniciar a abordagem pela resolução do problema. Em seguida, deve-se buscar a solução do conflito, quando existente ou latente. Somente após se deve abordar a divisão do valor escasso, como o preço. Como se disse, é uma ordem usualmente utilizada pelos orientais. Agora, que tal relembrar alguns pontos importantes sobre o que estudamos? Para isso, complete as frases com as palavras do quadro. comunicação criar valor distribuir valor fixar limites interesses comuns negociação relação de trabalho relacionamento separação solução do conflito tensa Deve-se lembrar de que toda a ---------- tem uma faceta necessariamente distributiva; ou seja, após ---------- haverá o momento de ---------- , discutir valor monetário, ---------- das responsabilidades e eventual divisão percentual. A negociação distributiva é intrinsicamente ---------- . Iniciar a abordagem pela resolução do maior problema a solucionar é produtivo pelas seguintes razões: clareia todos os ---------- na negociação; permite a ---------- entre as pessoas e o problema; facilita a construção de uma ---------- ; constrói pontes para a ---------- ao induzir a comunicação das partes. Em resumo, a resolução do problema diminui as tensões. É boa para os elementos ---------- e ---------- . VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERANDO O PRINCÍPIO DA NEGOCIAÇÃO, COMPREENDENDO O PAPEL DA BARGANHA E DOS PRINCÍPIOS, OBSERVAMOS QUE SÃO CENTRAIS OS SEGUINTES ASPECTOS: A) Podemos utilizá-la em três grandes objetivos: dividir um valor escasso, gerir conflitos de qualquer natureza e solucionar problemas complexos. B) Podemos utilizá-la como forma de conquistar confiança entre as partes envolvidas numa eventual negociação. C) Podemos utilizá-la para melhorar as margens de lucro dos agentes privados envolvidos na negociação. D) Podemos utilizá-la como forma de solucionar problemas e todas saírem ganhando. E) Podemos utilizá-la como poder de barganha para conseguir vantagens na mesa de negociação. 2. BARGANHA PODE SER CARACTERIZADA COMO UM PRINCÍPIO DA NEGOCIAÇÃO QUE PASSA: I – PELA FORÇA DO PODER POLÍTICO DE UM DETERMINADO PAÍS DIANTE DO OUTRO NA MESA DE NEGOCIAÇÃO. II – PELA ANÁLISE DAS FORÇAS E LIBERDADES POSSÍVEIS QUE PODEM ALCANÇAR UM ACORDO BENÉFICO, MAS TAMBÉM IMPEDITIVOS QUE NÃO PERMITAM O ACORDO. III – A BARGANHA NÃO PODE TER COMO PRINCÍPIO A IMPOSIÇÃO DE QUALQUER UMA DAS PARTES SOBRE A OUTRA. ESTÃO CORRETAS: A) Apenas I. B) Apenas II. C) Apenas III. D) Apenas I e II. E) Apenas II e III. GABARITO 1. Considerando o princípio da negociação, compreendendo o papel da barganha e dos princípios, observamos que são centrais os seguintes aspectos: A alternativa "A " está correta. A ideia é que a negociação não seja um processo de violência ou imposição. Ela deve respeitar as características locais, os meios políticos e sociais, mas ao mesmo tempo perceber que a mesa de negociação é um espaço de mediação e busca de soluções. 2. Barganha pode ser caracterizada como um princípio da negociação que passa: I – Pela força do poder político de um determinado país diante do outro na mesa de negociação. II – Pela análise das forças e liberdades possíveis que podem alcançar um acordo benéfico, mas também impeditivos que não permitam o acordo. III – A barganha não pode ter como princípio a imposição de qualquer uma das partes sobre a outra. Estão corretas: A alternativa "E " está correta. A resposta passa pelo entendimento de que um quadro de barganha é marcado por forças, disposições e possibilidades. No entanto, o resultado deve ser sempre reconhecido por ambos, nunca imposto ao outro. MÓDULO 2 Identificar as características do planejamento de Negociações Internacionais Definido o tema de posicionamento geral, sugere-se abordar, em seguida, o elemento alternativas, reforçando que a ordem de abordagem dos elementos aqui sugerida tem fundadas razões na natureza complexa das relações internacionais. De todo modo, reitera-se que cada negociação é única, e cada organização pode e deve estruturar sua própria metodologia. ALTERNATIVAS Foto: Shutterstock.com Inicialmente, cabe definir o elemento alternativa segundo a metodologia de Harvard. A característica essencial do elemento alternativa é a unilateralidade. Não se sujeita à vontade ou ação da outra parte. Se situa fora da mesa, não dependendo de quaisquer condicionantes da parte contrária. Essas observações são importantes porque é comum se confundirem os elementos alternativas e opções. javascript:void(0) Como se verá adiante, opções se concretizam em conjunto. Ainda que você construa opções sozinho, elas dependerão da aceitação da parte contrária e poderão ser aperfeiçoadas durante a negociação. Assim, a característica essencial desse elemento é a bilateralidade. Quando se está numa zona gris ou numa encruzilhada na negociação, uma pergunta útil para distinguir alternativa de opção é questionar se a ação ou omissão depende da outra parte. Se é unilateral, se trata de alternativa; se depende de qualquer ação ou omissão do outro, se trata de opção. BOAS ALTERNATIVAS SÃO FONTES DE PERSUASÃO, PODER E DECISÃO NA NEGOCIAÇÃO, AO CONSIDERARMOS QUE O PRIMEIRO CRITÉRIO PARA DEFINIR A VANTAJOSIDADE DE UM ACORDO É AFERIR SE ELE É MELHOR DO QUE AS ALTERNATIVAS DISPONÍVEIS. Metodologicamente se recomenda elencar todas as alternativas possíveis, aperfeiçoá-las e definir a melhor. O resultado será o seu BATNA. Quanto melhor seu BATNA, mais poder na negociação. Em seguida fixe dentre as alternativas a pior, ou WATNA (worst alternative to a negotiated agreement ). BATNA Acrônimo forjado pelo professor Roger Fisher para best alternative to a negotiated agreement . Na tradução de Como chegar ao sim se optou pela sigla MAPAN, melhor alternativa a uma proposta de acordo negociado. Outras publicações se valem das expressões MASA (melhor alternativa sem acordo) e MAAN (melhor alternativa a um acordo negociado). javascript:void(0) ALTERNATIVA É tudo que você pode fazer ou deixar de fazer se decidir não negociar ou sair da negociação sem um acordo. ATENÇÃO É possível e muitas vezes necessário negociar sem uma alternativa. Com frequência ocorre em segmentos monopolizados ou quando a assimetria de poder entre as partes é muito alta. São comuns processos de fusãoe aquisição em que a parte adquirida não tem alternativa senão ceder. Nesses casos não raro se limitará a negociar preço. A estratégia recomendável em seguida é identificar o BATNA do outro e construir sua linha de negociação, só mostrando o seu BATNA ou falando do deles quando for estritamente necessário. Começar a abordagem dos sete elementos pelas alternativas é produtivo porque se inicia o planejamento com a análise do contexto da negociação, do mercado em que está inserida, do histórico de relacionamento e de fatores conjunturais como preço, prazos e condições. Em geral, devem ser analisadas as três variáveis da chamada equação da negociação: tempo, informação e poder, aspectos cambiantes ao longo de todo o processo. EXEMPLO São exemplos de alternativas: • Adquirir do concorrente. • Instalar a fábrica em outra nação/Estado com regime tributário mais favorável. • Não negociar (inércia). INTERESSES: DEFINIÇÃO E MAPEAMENTO Foto: Pixabay Dando seguimento à abordagem sugerida aqui, passa-se à identificação dos interesses em jogo, incluindo metas, expectativas, assuntos e tópicos-chave para a negociação. A prospecção dos interesses amplia e aprofunda a definição do tema de posicionamento geral no âmbito subjetivo, sob a ótica de cada um dos partícipes e impactados. Essa ação requer, portanto, a listagem dos interesses de todas as partes diretamente envolvidas e impactadas. Prefacialmente, apresenta-se a definição do elemento interesses sob a ótica da metodologia de Harvard, distinguindo-o das chamadas posições. Rememora-se o ponto de inflexão da tradicional negociação posicional ou competitiva para a negociação por interesses ou cooperativa. Fisher, Ury e Patton (2018) se valem de metáfora elucidativa para definir interesses ao visualizar um iceberg à deriva: como se sabe, a parte visível, emersa, representa as posições numa negociação. A maior parte do iceberg , contudo, é a submersa, representando os interesses em jogo. Interesse, portanto, está atrelado à intenção, ao que está por trás da vontade declarada. INTERESSES São as verdadeiras razões que impulsionam o agir de pessoas ou de organizações. No campo das relações humanas, se trata das necessidades do indivíduo. Já na seara das organizações, há uma plêiade de interesses comerciais, mercadológicos etc. POSIÇÕES javascript:void(0) javascript:void(0) Define-se como posição aquilo que as partes dizem que querem, o que é externalizado, publicizado e, muitas vezes, colocado na mesa para iniciar a negociação. A posição em geral não apresenta o porquê se quer, ou para que se quer. É a vontade declarada, o sentido literal. É aparente e tem a característica de imediatidade. COMENTÁRIO É comum que negociações fiquem restritas a conflitos de posições. Quando isso ocorre, a tendência é que o negociador se feche e se apegue a essa posição. Observa-se que quanto mais contundentes são as alegações, mais difícil é se afastar delas, em razão do gatilho da coerência comum aos humanos. O mais grave é quando o representante assume uma posição de forma tão arraigada que prejudica o interesse real do representado. Tem-se aí a má gestão do elemento relacionamento, particularmente da tensão entre representante e representado, com efeitos que vão desde o fracasso na resolução do problema até o prejuízo econômico. A utilização de ferramentas negociais e mediativas e das reuniões são formas de prospectar e compor interesses das partes e desenvolver os elementos relacionamento e comunicação. A ocultação dos interesses reais tanto pode ser uma estratégia de atuação como uma forma de moldar a percepção da outra parte alterando o foco, o enquadramento do objeto. A isso chama- se framing em teoria de negociação (BAZERMAN, 1992, p. 31-41). O framing (moldura ou enquadramento) é a forma como se apresenta uma informação ou proposta com vistas a persuadir o outro a ver as coisas como você quer. O objetivo é valorizar ou depreciar o objeto da negociação para justificar concessões ou influenciar percepções de valor. Trata-se da abordagem persuasiva utilizada na comunicação escrita (proposta comercial, memorando de entendimentos etc.) e oral (manifestações públicas). Imagem: Shutterstock.com Ao tratar de interesses, sugerem-se algumas ações para identificação precisa. Inicialmente observa-se que todo projeto de maior envergadura contém uma matriz de stakeholders (envolvidos). Ali, o negociador encontrará todos os impactados, permitindo uma segura prospecção de interesses dos envolvidos na negociação. A identificação de todos os impactados é uma bússola para a preparação. Em seguida, projete perguntando os motivos para aquele impactado ter ou não interesse na negociação. Busque essas respostas com precisão, evitando suposições. Embora inevitáveis, as suposições não devem embasar a preparação e a negociação em si. O bom negociador faz uso de dados, fatos, argumentos válidos, ofertas e concessões. Após a identificação dos interesses, a segunda ação importante é a classificação. A doutrina de Harvard identifica os interesses, sob perspectiva subjetiva, em comuns, diferentes e opostos. Aqui entra em cena o conceito de framing antes apresentado. A forma como se apresenta uma proposta ou se trata um problema é determinante para os resultados alcançados. É o que evidenciam todas as pesquisas e a prática. Taticamente, os interesses devem ser apresentados e tratados precisamente na seguinte ordem: Inicialmente os comuns.. Em seguida os diferentes. Por último, os opostos. Essa prática tem plena consonância com as funções de um processo de negociação e as tensões inerentes. Veja: a resolução de um problema comum (remoção de barreira comercial, adequação às normas de regulação ou compliance) antes ou concomitante ao conflito serve para que as partes desenvolvam uma relação de trabalho. Para isso, tratar interesses comuns pode gerar empatia e criar valor na negociação (fazer crescer o bolo). Os interesses diferentes, por sua vez, têm um papel fundamental. Eles representam as moedas de troca da negociação, acionam o gatilho da reciprocidade e constroem o padrão cooperativo para a última e intrinsicamente tensa etapa, a abordagem dos interesses opostos, que podem levar a uma negociação distributiva nos casos de divisão de valor escasso e fixação das responsabilidades. A teoria de negociação reconhece três tensões inerentes ao processo: Imagem: Shutterstock.com Criar valor versus gerar valor. Imagem: Shutterstock.com Empatia versus assertividade. Imagem: Shutterstock.com Representante versus representado. Rememorando as funções da negociação e correlacionando-as com a ordem de abordagem dos interesses e as tensões do processo, pode-se inferir a seguinte relação: Funções de negociação Abordagem dos interesses Tratamento das tensões inerentes Resolução de problemas Interesses comuns Criar valor Gerar empatia Resolução de conflitos Interesses diferentes e opostos Criar valor Ser assertivo com o problema e afável com as pessoas Divisão de valor escasso (preço) Interesses opostos Distribuir valor Ser assertivo Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Cumpre salientar que interesses diferentes são ricas fontes para a criação de opções, etapa que será vista em seguida. De fato, toda vez que se identifica um interesse diferente deve-se atentar para a oportunidade de criar uma opção ou moeda de troca. Exemplos de interesses diferentes que podem gerar opções de ganhos mútuos: Clique nas setas para ver o conteúdo. Objeto com interação. Imagem: Shutterstock.com Recursos financeiros e/ou logísticos: um parceiro tem o capital necessário e o outro tem expertise e recursos humanos. Valores diferentes: para um, o bem é valioso; e para o outro, não. A empresa considera valiosa a fusão para aumento de marketshare . Para o outro, o que mais importa é a distribuição de dividendos aos acionistas. Prognósticos:visão de futuro. Para um se trata de negócio de ocasião; para o outro, de um passo numa estratégia de expansão. Visão de risco: percepções diferentes. Uma empresa inequivocamente assume o risco, característica intrínseca ao empreendedorismo. A outra cede um recurso mediante valor fixo, independentemente da lucratividade do negócio. Tempo: necessidade/urgência diferentes. A empresa/pessoa pode ter pressa e a outra, não. Finalizada a descrição dos interesses comuns, diferentes e opostos das partes diretas e impactadas, passa-se ao registro das metas e expectativas. Se o acordo tiver objeto pecuniário, divisão de valor escasso e/ou apuração econômica (como valor de ações no mercado), essa etapa é o momento adequado de se abordar os três preços (MOURÃO, 2014, p. 120-127). Confira: Primeiro preço O primeiro preço é chamado de valor de reserva, que representa o limite da sua concessão. Em exemplo simples e didático de compra e venda, o valor de reserva seria o valor mínimo do vendedor e o valor máximo do comprador. A pergunta a ser respondida é até onde se pode ceder em termos de valores monetários. É necessário definir com precisão seu limite máximo ou mínimo de preço dependendo da posição em que estiver. Em seguida, estime o valor da outra parte. Com essa informação, terá sido encontrada a chamada ZOPA (zone of possible agreement ), ou a zona de possível acordo. A ZOPA situa-se entre os valores de reserva de cada parte. O mínimo de um e o máximo do outro. Na área comercial, um bom negociador é chamado de designer de ZOPA, exatamente pela javascript:void(0) capacidade de realizar uma adequada análise preditiva dos valores em torno dos quais a negociação girará. Segundo preço O segundo preço é chamado de valor ou preço-alvo, que representa a meta mais alta possível em termos pecuniários. As pesquisas de campo em negociação demonstram que aqueles que possuem metas claras e elevadas fecham melhores acordos. Além disso, uma meta clara em valores evita o gatilho da escassez e as decisões precipitadas que frequentemente conduzem o acordo de preço para uma faixa muita próxima do valor de reserva, resultando no que se chama de “deixar dinheiro na mesa”. Terceiro preço Por fim, há o chamado preço âncora, que é aquele colocado na mesa de negociação para iniciar a parte distributiva do processo. Um dilema comum é exatamente decidir quando colocar o preço na mesa, uma vez que a âncora exerce um forte poder de impacto e influencia as percepções de valor das partes. A prática mais frequente é que deve ancorar a negociação aquele que detém maiores informações. Quando se está negociando um objeto que não é passível de mensuração pecuniária imediata, chamamos esse limite da concessão de condição básica. Uma negociação internacional em que se debate sobre reciprocidade de tratamento nas trocas comerciais sem que haja um valor preciso pode ter como condição básica o seguinte: uma das partes só aceitará o tratado se houver equilíbrio na balança comercial. SEJA QUAL FOR O OBJETO, É IMPRESCINDÍVEL LISTAR DE FORMA CLARA OS LIMITES NA NEGOCIAÇÃO. Finalmente, um planejamento adequado impõe definir e registar no campo dos interesses a lista de assuntos e tópicos-chave a serem abordados, iniciando com os temas de conhecimento geral dos envolvidos (é comum haver um ramo técnico altamente especializado) até o design do negócio e possíveis cláusulas. OPÇÕES: CRIAÇÃO E CRITÉRIOS DE ESCOLHA VALOR DE RESERVA É necessário definir com precisão seu limite máximo ou mínimo de preço dependendo da posição em que estiver. Foto: Shutterstock.com A adequada prospecção de interesses precede a etapa mais desafiadora de uma negociação: a criação de opções (Por definição, opções são todas as propostas viáveis que atendam aos interesses das partes.) de ganhos mútuos que conduzam ao fechamento. A melhor opção deve atender aos seus interesses de forma plena, os interesses do outro de forma satisfatória, e os de outrem de forma tolerável. Para esse objetivo, é preciso haver bastante engajamento no processo de criação de valor. É uma etapa vocacionada a consumir tempo e paciência. Conforme se esclareceu ao tratar do elemento alternativas, a característica intrínseca das opções é a sua bilateralidade. Deve se construí-las com a outra parte. É recomendável que se crie o máximo de opções antes para levar à mesa. Contudo, elas só se aperfeiçoam com a concordância expressa ou no mínimo com a intervenção do outro. Daí rememorar o critério útil para distinguir opção (Requer, no mínimo, a aceitação da outra parte.) de alternativa (Não traz qualquer espécie de condicionamento para ser exercida. É o que o negociador pode fazer fora da mesa.) . EXEMPLO Considerando as mais variadas espécies de negociação, a criação de opções pode se dar tanto de forma livre e espontânea no momento como demandar processos mais sofisticados. Por exemplo, o brainstorm , o design thinking , a prototipagem, a criação de projetos específicos e a utilização de ferramentas de análise estratégica para modelagem e abordagem de problemas complexos. Há uma ampla gama de metodologias e ferramentas das ciências da Administração que podem e devem ser utilizadas em negociação. De fato, um dos mais instigantes desafios e oportunidades dos novos modelos de negócios é trabalhar a transversalidade entre ramos do conhecimento e segmentos diferentes de pessoas. AO SE LIDAR COM CASOS COMPLEXOS, O FOCO É DUPLO: ESTRATÉGIA NEGOCIAL PARA AS PESSOAS E PARA A SOLUÇÃO. Conforme já desenvolvido por Sangalli e Oliveira (2019), uma metodologia de análise extremamente útil no campo das negociações complexas como as internacionais é a análise PESTAL, desenvolvida originalmente pelo professor Francis Aguilar (1967), da Harvard Business School, e publicada no livro Scanning the Business Environment , de 1967. O método evoluiu com a contribuição de outros autores para o acrônimo PEST, que significava os fatores político, econômico, social e tecnológico, sendo acrescentados os fatores ambiental e legal, completando a sigla PESTAL, como é conhecida em português. Trata-se de uma matriz para análise de cenários complexos cuja montagem demanda resposta às seguintes questões: quais os fatores [P] políticos, [E] econômicos, [S] sociais, [T] tecnológicos, [A] ambientais e [L] legais envolvidos na situação-problema? P Políticos E Econômicos S Sociais T Tecnológicos A Ambientais L Legais Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal A análise PESTAL permite o contraste das posições e interesses das partes em relação a cada uma dessas questões. É possível prever o que é relevante na disputa, adiantando possíveis soluções. A ferramenta também colabora para a transversalidade, uma vez que a análise pode ser fatiada entre os especialistas de cada área. A seguir, algumas sugestões para criação de opções: Não caia na tendência de pensar só no que é bom para si, restringindo as opções. Use a PESTAL para pensar nos riscos. Considere que resolver o problema do outro também é problema seu. Use brainstorm : liste opções sem discutir. Separe o ato de criar opções do ato de julgá-las. Convide o outro a participar. Inclua itens que possa excluir depois. Aperfeiçoe opções mais promissoras antes de descartá-las, pois podem melhorar significativamente e se tornarem fechamentos de compromisso. Lembre-se de que quase sempre há mais de uma opção. Não incorra nos principais obstáculos para criação de ganhos mútuos: DECISÕES PREMATURAS Barrar opções com críticas e recusas precipitadas. RESPOSTA ÚNICA Achar que existe uma única resposta para o problema. PACOTE IMUTÁVEL OU BOLO FIXO Gerar desperdício ao recusar boas opções apenas porque formam um pacote. Destrinche, trabalhando com interesses comuns, diferentes e opostos. "O PROBLEMA É DELES" Não fazer perguntas ou pedir sugestões à contraparte. Conclusivamente, o negociador tem que ter como objetivo final um compromisso com a melhorde muitas opções, que não cause perdas e seja boa para todos. Em negociações comerciais, as variáveis de preço, prazo, produtos e condições trazem um enorme leque de opções quando combinadas. QUANTO MAIS OPÇÕES, MAIS RICA É A NEGOCIAÇÃO. LEGITIMIDADE LEGITIMIDADE COMO CONCEITO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS Assista ao vídeo com o professor Rodrigo Rainha sobre a história do conceito de legitimidade. Após a definição do design do negócio na etapa de construção de opções, passa-se a abordar e tratar da sustentação financeira, técnica, normativa e de conformidade da negociação. As opções devem ser submetidas ao crivo dos padrões de legitimidade, que conceituada de acordo com a doutrina de Harvard representa os critérios objetivos, que não dependem exclusivamente da vontade e do subjetivismo das partes, e que se revelem razoáveis para se chegar a uma solução. São evidências neutras e validações externas que suportem os argumentos e o compromisso. No setor privado, geralmente, são critérios de referência aceitos no mercado, na comunidade ou em certas organizações, que auxiliam o estabelecimento da correção de determinada solução. EXEMPLO Preços de mercado, testemunhos de clientes (Prova Social), prêmios obtidos pela organização (Autoridade), tabela FIPE, valor do metro quadrado no bairro, valor das ações em bolsa, média praticada por outras empresas do mesmo porte e segmento, cultura organizacional etc. É relevante se pensar em justiça do acordo, devido ao seu conteúdo moral e social. Lax e Sebenius (2009) definem o contrato social subjacente como um encontro de expectativas, ou seja, as partes têm que sair da negociação com sentimento duradouro de satisfação. O gosto amargo inibe futuras negociações. De fato, as noções de justiça (fairness ) e de legitimação (legitimacy ) são, na visão de Bruce Patton, Douglas Stone e Sheila Heen (2011), uma das mais poderosas motivações humanas. É comum uma negociação fracassar por não parecer justa para uma das partes. ATENÇÃO Nas negociações internacionais, os padrões e normas aplicáveis devem estar ajustados aos interesses das organizações no contexto dos mercados em que atuam. As negociações comerciais são geralmente pautadas em critérios mercadológicos. Boas práticas recomendam agregar aos critérios de preço as normas de compliance , pareceres, estudos, pesquisas, tradição, reciprocidade e precedentes, que funcionam como robustos critérios de legitimidade. O uso de critérios objetivos envolve padrões justos (questões objetivas) e procedimentos justos (o processo de negociação). Sendo assim, analise os critérios a seguir e marque se ajudam ou não na construção de padrões de legitimidade. RESPONDA: Buscar conjuntamente os critérios objetivos para resolver a questão, ou seja, qual critério preferimos? SIM NÃO Argumentar e estar aberto a contra argumentações. SIM NÃO Refletir sobre qual critério eles podem aceitar. SIM NÃO Refletir se seu critério é persuasivo. SIM NÃO Jamais ceder à pressão. SIM NÃO javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) FEEDBACK Isso mesmo! É importante pensarmos “qual critério preferimos?” e não em “qual critério eu prefiro”. FEEDBACK Não é bem assim. É necessário pensarmos conjuntamente e não de forma individualizada. FEEDBACK Isso mesmo! É importante argumentar e estar aberto a contra-argumentações para entrar em consensos. FEEDBACK Opa! É necessário sim argumentar e estar aberto a contra-argumentações para entrar em consensos. FEEDBACK Isso mesmo! Faz parte de uma boa negociação refletir sobre os critérios que o outro pode ou não aceitar. FEEDBACK Não é bem assim. É necessário refletir sobre os critérios que o outro pode ou não aceitar, pois faz parte de uma boa negociação. FEEDBACK Isso mesmo! Essa reflexão ajuda a construir padrões de legitimidade. FEEDBACK Opa! Essa reflexão é sim uma excelente maneira de construir padrões de legitimidade. FEEDBACK Isso mesmo! Mantenha o foco e jamais ceda à pressão. FEEDBACK Apesar de ser bem comum essa ideia, ela não está correta. Lembre-se de que a adequada gestão do relacionamento e da comunicação (que estão acima do círculo de valor no diagrama dos sete elementos) demanda persuadir o outro a aceitar nosso critério sem pressionar, e estar aberto a argumentos racionais. O resultado é um acordo sustentável, blindado a quaisquer questionamentos. COMPROMISSO Foto: Shutterstock.com O percurso que este texto propõe inicia com a definição do tema de posicionamento geral e passa pelas alternativas, interesses, opções e legitimidade, permeados pelo relacionamento e comunicação entre as partes. Tudo para chegar ao compromisso (o que as partes pretendem no futuro): um acordo suficiente, realista e operacional. A PREMISSA PARA FECHAMENTO É SABER O GRAU DE AUTORIDADE PARA FIRMAR O COMPROMISSO, TANTO O NOSSO COMO O DO OUTRO. Uma análise que deve ser feita sobre autoridade é questionar o momento de deixar isso claro. Às vezes, é prudente perguntar logo no início se a outra parte tem poderes para fechar, até mesmo para evitar trocas de informação especulativas. Se não for assim, quando se está próximo do fechamento deve se deixar clara a autoridade dos partícipes. Em seguida, deve se certificar a suficiência do processo de criação de opções e da fase distributiva: tudo foi ouvido e aprendido? Definidas a autoridade e a suficiência da criação e distribuição de valor, deve-se formular o acordo em conjunto, esclarecendo as situações de compromisso e refletindo quanto à credibilidade e ao mecanismo de incentivos para cumpri-lo. É imprescindível ser realista. Evitar se deixar capturar pela dimensão emocional da negociação e pensar com o neocórtex é uma missão. O resultado são compromissos bem planejados, que conduzam para cumprimento sem sobressaltos e blindados perante terceiros. DICA Uma prática criativa e útil na preparação da negociação é trazida pelo professor James Sebenius (2009) em sua obra de negociação avançada. Consiste no exercício do discurso da vitória e funciona da seguinte forma: antes de partir para a negociação, você deve escrever versões de trinta segundos, três minutos e dez minutos do “discurso da vitória” da outra parte. Esse é o discurso de “defesa do acordo” que o outro fará perante seus pares e interessados quando for comunicar o compromisso entabulado, explicando os motivos pelos quais o acordo que fecharam é justo, razoável e muito melhor do que as alternativas. Funciona como uma inversão de papéis e nos reporta à negociação behind the table , já abordada. Se você não consegue escrever um discurso convincente de defesa do compromisso para o outro, significa que sua proposta não foi persuasiva o bastante e que talvez não tenha prospectado com suficiência os interesses do outro lado. Você deve ajudar o outro a defender o acordo, mostrando de forma clara as vantagens para todos os interessados. Finalmente, para formalização é imprescindível um contrato escrito suficiente, de acordo com as boas práticas que regem a negociação no ramo e, se necessário, com supervisão jurídica. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ALÉM DAS QUESTÕES MERCADOLÓGICAS E CONCORRENCIAIS, APONTE MAIS TRÊS DIMENSÕES IMPORTANTES DA NEGOCIAÇÃO: A) Emocional, técnica (método e abordagem persuasiva) e o objeto da negociação (normas envolvidas, design do negócio ou serviço e as regionalidades). B) Criativa, formal (respeito às normas e às tradições de uma boa negociação) e eficaz. C) Inovadora, ousada (capacidade de elaborar estratégias para sair de situações difíceis) e alegre. D) Eficaz, virtuosa (a sorte é um elemento que não deve ser negligenciado nas negociações) e altiva. E) Violenta, nacionalista (marcado pela predação dos mercados e a disputa individual dos interesses). 2. QUAIS SÃO AS TRÊS TENSÕES INERENTES AO PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO? A) Criarrentabilidade versus gerar prejuízo, competição versus solidariedade e satisfação versus decepção. B) Frustação, euforia e prudência. C) Criar valor versus gerar valor, empatia versus assertividade e representante versus representado. D) Gerar empatia versus egoísmo, resiliência versus preguiça e produtividade versus charlatanismo. E) Gerar lucros, impor interesses e ameaçar os interlocutores. GABARITO 1. Além das questões mercadológicas e concorrenciais, aponte mais três dimensões importantes da negociação: A alternativa "A " está correta. A dinâmica de negociações deve ser marcada por princípios, para que o mercado seja equilibrado e as negociações, saudáveis. 2. Quais são as três tensões inerentes ao processo de negociação? A alternativa "C " está correta. A metodologia utilizada aponta para construção de representantes legitimados, técnicos, de forma a partir de fatores reconhecidos, empatia, fundamentando a ideia de negociações por princípios. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente tema trouxe aportes úteis da mais consagrada metodologia de negociação para preparação, condução e diagnóstico de acordos em casos complexos, notadamente negociações internacionais. A metodologia criada pelo professor Roger Fisher e seus colegas na escola de Harvard nos trouxe um senso comum organizado. Uma bússola para nos guiar em conflitos e projetos multipartes, com múltiplos interesses e fatores em jogo. Cabe salientar que os sete elementos podem ser usados na preparação e condução da negociação, e fomentam o aprendizado a partir de sua aplicação. Com efeito, é possível sindicar a qualidade de um acordo e o processo que o originou a partir das seguintes perguntas: O compromisso firmado foi melhor do que as alternativas? O acordo e o processo atenderam aos meus interesses, aos interesses da outra parte e aos de terceiros impactados? Foi compromissada a melhor opção, sem desperdícios? O acordo atende a critérios comuns e públicos de legitimidade? O compromisso é suficiente, operacional e realista? A comunicação entre as partes foi adequada, bilateral e amigável? O relacionamento saiu fortalecido da negociação? A prática tem demonstrado que a parte que zela pelos sete elementos os transforma em fonte de poder nas suas negociações, construindo pontes e obtendo melhores resultados. O conhecimento que o Programa de Negociação de Harvard trouxe das ciências da Administração, da Psicologia, da Economia Comportamental e tantos outros ramos para a construção de consenso se tornou uma vantagem competitiva. Espera-se que essa metodologia se dissemine para a solução de problemas complexos, com foco em ações de impacto que efetivamente transformem a realidade. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AGUILAR, F. J. Scanning the Business Environment New York: Mac Millan Co., 1967. BASTOS, Rodrigo. Estratégia em um mundo VUCA – O fim de uma era. LinkedIn, 23 jun. 2017. Consultado na internet em: 31 mar. 2021. BAZERMAN, Max H.; NEALE, Margaret A. Negotiating Rationally. New York: The Free Press, 1992. FISHER, R.; URY, W. L.; PATTON, B. Como Chegar ao Sim: Como negociar Acordos sem Concessões. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. LAX, D.; SEBENIUS, J. Negociação 3-D: ferramentas poderosas para modificar o jogo nas suas negociações. Porto Alegre: Bookman, 2009. MOURÃO, Alessandra Nascimento Silva e Figueiredo (coord.). Resolução de conflitos: fundamentos para negociação para o ambiente jurídico. São Paulo: Saraiva, 2014. SANGALLI, Juliano; OLIVEIRA, Rafael. A negociação como ferramenta de gestão de demandas complexas. In : SELEM, Lara; BERTOZZI, Rodrigo. Advocacia do Futuro – Cases de Sucesso para um Novo Mundo Jurídico. Curitiba: Juruá, 2019. SHELL, G. Richard. Negociar é preciso: estratégias de negociação para pessoas de bom senso. São Paulo: Elsevier, 2001. STONE, Douglas; PATTON, Bruce; HEEN, Sheila. Conversas difíceis: como argumentar sobre questões importantes. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. WHEELER, M. A arte da negociação: como improvisar acordos em um mundo caótico. São Paulo: Leya, 2014. EXPLORE+ Busque algumas negociações internacionais transmitidas e disponível nas redes sociais como A arte da negociação, Diego Faleck, TEDxSantos. Você conhece o Observatório de Negociações Internacionais da América Latina (Onial)? Lá, você pode conhecer muito da afirmação do que aqui foi exposto na prática. Paulo Furquim nos apresenta um bom artigo sobre barganha e negociação internacional. Leia a reportagem da Gazeta do Povo: Chipre deu uma lição de como barganhar no cenário internacional, de Filipe Figueiredo, publicada em 15 dez. 2020. CONTEUDISTA Rafael Machado de Oliveira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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