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XLIV ENCONTRO DA ANPAD - EnANPAD 2020
Evento on-line - 14 a 16 de outubro de 2020 - 2177-2576 versão onlineXLIV ENCONTRO DA ANPAD - EnANPAD 2020
Evento on-line - 14 a 16 de outubro de 2020
2177-2576 versão online
Revisitando Marx: Contribuições para o Pensamento Social sob uma Visada não
Marxista
Autoria
Fabio Vizeu - vizeu@up.edu.br
Prog de Mestr e Dout em Admin - PMDA/UP - Universidade Positivo
Elizeu Barroso Alves - elizeu.balves@hotmail.com
Prog de Mestr e Dout em Admin - PMDA/UP - Universidade Positivo
Práticas de Gestão em Contexto Organizacional (PEGO-UNINTER)/Centro Universitário Internacional UNINTER
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior ? Brasil (CAPES) ? Código de Financiamento 001
Resumo
O presente ensaio visa recuperar o lugar que é devido a Marx de grande pensador de nosso
tempo, salientando sua contribuição ao pensamento social contemporâneo, diante do forte
reducionismo que testemunhamos recentemente no senso comum. Entendemos que essa
tarefa é necessária especialmente para o meio acadêmico de Administração que, por não
estimular uma formação mais consistente sobre pensadores clássicos do pensamento social,
se vê comprometido com o mesmo reducionismo panfletário presente nas redes sociais.
Assumimos que, em não sendo adeptos a nenhuma corrente marxista, os autores do presente
texto demonstram ser possível uma leitura dos conceitos fundamentais do pensamento de
Marx que seja contributiva a todo pesquisador da área de Administração. Também
defendemos que, em se tratando de haver muitos marxismos, é possível discordar e criticar,
mas aproveitando a principal contribuição deste que é um dos mais importantes pensadores
de nossa era, a leitura precisa do sistema social, econômico e político de nosso tempo
histórico, o capitalismo. Procuramos destacar o caráter epistemológico do materialismo
histórico/dialético, dando condições para que se compreenda as possibilidades e limitações
desta corrente diante de outras perspectivas onto-epistemológicas.
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Revisitando Marx: Contribuições para o Pensamento Social sob uma Visada não 
Marxista 
 
Resumo 
O presente ensaio visa recuperar o lugar que é devido a Marx de grande pensador de nosso 
tempo, salientando sua contribuição ao pensamento social contemporâneo, diante do forte 
reducionismo que testemunhamos recentemente no senso comum. Entendemos que essa tarefa 
é necessária especialmente para o meio acadêmico de Administração que, por não estimular 
uma formação mais consistente sobre pensadores clássicos do pensamento social, se vê 
comprometido com o mesmo reducionismo panfletário presente nas redes sociais. Assumimos 
que, em não sendo adeptos a nenhuma corrente marxista, os autores do presente texto 
demonstram ser possível uma leitura dos conceitos fundamentais do pensamento de Marx que 
seja contributiva a todo pesquisador da área de Administração. Também defendemos que, em 
se tratando de haver muitos marxismos, é possível discordar e criticar, mas aproveitando a 
principal contribuição deste que é um dos mais importantes pensadores de nossa era, a leitura 
precisa do sistema social, econômico e político de nosso tempo histórico, o capitalismo. 
Procuramos destacar o caráter epistemológico do materialismo histórico/dialético, dando 
condições para que se compreenda as possibilidades e limitações desta corrente diante de 
outras perspectivas onto-epistemológicas. 
 
Palavras-Chave: Epistemologia; Marxismo; Pensamento Social; Materialismo Histórico. 
 
Introdução 
 
Em tempos de histeria digital, onde o pensamento social de base acadêmica é 
desqualificado em prol de interesses reacionários e fascistas, testemunhamos um severo 
ataque a intelectuais de grande importância. Isso acontece particularmente a partir de uma 
retórica de polarização política, onde se constrói uma visão deturpada sobre o papel e a obra 
de grandes teóricos sociais, comprometendo o seu legado para a sociedade. Somente para citar 
um exemplo brasileiro, esse fenômeno pode ser observado na demonização feita a Paulo 
Freire e sua seminal contribuição para a Educação: além de inverdades sobre a reverberação e 
o impacto da Pedagogia do Oprimido (Freire, 2001) no mundo, testemunhamos ataques 
depreciativos de governantes contra este que é um dos mais importantes acadêmicos 
brasileiros, gerando perplexidade na comunidade acadêmica. 
Neste cenário de entorpecimento intelectual de grande parte da sociedade brasileira, 
certamente o intelectual mais atacado é Karl Marx. Continuamente demonizado pelo 
movimento reacionário, o marxismo se tornou uma espécie de xingamento, proferido por 
pessoas que não conhecem minimamente a obra deste que é, sem sombra de dúvidas, um dos 
mais importantes intelectuais de nosso tempo. 
Com o objetivo de resgatar o valor de Marx para o campo de estudos sociais – onde se 
inclui a área de Administração e os Estudos Organizacionais – escrevemos este ensaio para 
retomar o valor do pensamento marxista como fundamento do pensamento social, sem o qual 
não é possível se fazer qualquer leitura minimamente razoável da realidade contemporânea. E 
esta afirmação torna-se mais contundente se considerarmos que defendemos a importância do 
marxismo sem sermos filiados academicamente a esta corrente de pensamento. É assim que 
acreditamos estar a força de nosso argumento – a defesa de Marx para o pensamento social 
feita por não marxistas. 
O que intentamos no presente ensaio é o resgate de Marx para além do Manifesto do 
Partido Comunista ou, considerando a cronologia de sua obra, para antes. Defendemos que, 
para todos os estudantes e pesquisadores de subáreas das ciências sociais que não têm o 
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costume de uma formação séria de textos marxinianos e mesmo dos originais de Marx, é 
necessário compreender claramente a contribuição histórica e epistemológica deste autor. 
Neste ponto, preciso reconhecer que este pensador foi um dos primeiros a trazer luz a história 
e as transformações socioeconômicas de fundantes de nossa época. Marx fez, durante grande 
parte de sua vida, uma análise das transformações em que ele viveu, transformações estas 
fundantes do fenômeno central para os pesquisadores de Administração e Organizações, que é 
a instituição do Management e sua associação com o capitalismo, a industrialização e a 
racionalidade moderna (Vizeu, 2010). Sobre este ponto, Paulo Netto (1987, p. 76) apresenta 
que “a obra de Marx fundou um modo original de pensar a sociedade burguesa e a sua 
dinâmica” e isto foi feito a partir de uma epistemologia original do pensamento econômico, 
considerando que “o marxismo foi a primeira corrente a colocar o problema do 
condicionamento histórico e social do pensamento e a ‘desmascarar’ as ideologias de classe 
por detrás do discurso pretensamente neutro e objetivo dos economistas e outros cientistas 
sociais” (Löwy, 1994, p. 99). 
Marx (2011) apresenta em suas teses as formas pelas quais o capitalismo se tornou um 
sistema que cria mecanismos que garantem sua prevalência como dominante. Sobre este 
ponto, Singer (2002) salienta que o capitalismo é fruto de uma construção histórica e este se 
apresenta enquanto uma ideologia dominante que prioriza certas ideias, tais como a 
competição, o individualismo, e a economia de mercado. Contudo, estes valores burgueses se 
contrapõem a outros valores da sociedade moderna, como por exemplo, os valores de 
liberdade, igualdade e fraternidade do iluminismo. É assim que a dinâmica social de nosso 
tempo é marcada por progressos e atrasos, por disputas que refletem interesses conflituosos 
nem sempre evidentes por todos na sociedade – mesmo por aqueles que sofrem as 
inequidades de nosso tempo (a pobreza sistêmica, a guerra, a fome e a miséria 
contemporânea).Essa contradição é explicitada pela teoria marxista como um princípio fundamental do 
capitalismo, que revela não somente as bases sociológicas do lado nefasto de nosso tempo, 
mas também, uma dinâmica que dá pistas de como se pode pensar na superação dos 
problemas de nossa sociedade. Sobre esse ponto, Aron (2008, p.196) salienta que, na visão de 
Marx, “o caráter contraditório do capitalismo se manifesta no fato de que o crescimento dos 
meios de produção, em vez de se traduzir pela elevação do nível de vida dos trabalhadores, 
leva a um duplo processo de proletarização e pauperização”. Em certo sentido, a própria 
depreciação do pensamento marxista é, em si mesma, fruto de tal disputa ideológica, por isso, 
se faz necessário a defesa isenta de Marx e sua contribuição. 
Isto posto, nosso objetivo neste texto é revisitar os fundamentos teóricos e 
epistemológicos do pensamento de Marx, apontando suas contribuições ao pensamento social 
crítico. Ou seja, intentamos apresentar que o cerne do pensamento marxista são pressupostos 
que estão em todo pensamento social com intenção emancipatória, engajado em contribuir 
genuinamente para a superação dos problemas em nossa sociedade. Com isso, construímos 
uma apreciação de Marx sem incorrer em uma defesa messiânica como muitas vezes é 
proferida por autores que se apresentam como ‘marxistas clássicos’ que não se preocupam em 
tornar didático e acessível este autor para um público diferente de seus pares, que rechaçam 
qualquer tipo de críticas ou mesmo discordâncias pontuais com suas proposições. Assim, 
entendemos que se afastar desta leitura permite dar o devido crédito a este autor fundamental 
para o pensamento social contemporâneo. 
Villaverde (1986, p. 27), afirma que “ninguém conhecerá o marxismo se não conhecer 
o caráter do seu criador. A obra de um autor sempre foi um reflexo de si mesmo, de sua 
natureza mais íntima”. Dessa forma, quando Marx em sua obra ‘A Ideologia Alemã’ fazia o 
chamamento para os filósofos mudarem o mundo – em sua concretude – ele estava, segundo 
Gadotti (1989), denunciando que as filosofias e as doutrinas são inúteis se não contribuírem 
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para superar a desumanidade e a alienação. Essa é a grande reflexão promovida por Marx e 
que marcou o pensamento social de nosso tempo. Sem esse ímpeto emancipatório, não 
teríamos as conquistas sociais que permitiram frear um pouco as consequências nefastas do 
capitalismo. 
Para fugir do debate polarizado de base ideológica – que também existe no meio 
acadêmico de Administração - partimos da premissa que Marx fez em seus estudos uma 
análise definitiva do capitalismo, e nada mais do que isso (Fromm, 1970; Steinberg, 1982; 
Harnecker, 1983; Hobsbawn, 1984; Davies, 1986; Gadotti, 1989; Aron, 2008). Não nos 
interessa ressaltar o engajamento político deste pensador, expressa particularmente no 
‘Manifesto’, e que se concretizou nos regimes comunistas que se estabeleceram no século 
vinte; Apenas queremos difundir o Marx leitor do capitalismo, seus pressupostos e conceitos-
chave para compreender a dinâmica social deste sistema, revelando-o como um autor 
fundamental para os estudiosos da administração, mesmo que estes não desejem assumir uma 
postura política marxista. 
 
Breve Biografia 
 
 Para responder adequadamente a pergunta: ‘quem foi Karl Marx?’ é preciso saber de 
qual Marx estamos falando: do advogado? do jornalista? do Filósofo? do Sociólogo? do 
Historiador? ou do Militante, aquele de ‘O Manifesto do Partido Comunista’? Antes de tudo, 
é preciso entender que Marx foi um ser humano com anseios e decepções que foram lhe 
formatando ao longo de sua vida adulta. Neste sentido, “é de assinalar que sua obra é fruto de 
uma longa maturação, que ocupa pelo menos dois quintos do tempo em que Marx trabalhou” 
(Paulo Netto, 1987, p.23). Ou seja, sua obra está intrinsecamente relacionada com os 
acontecimentos de sua vida. Por exemplo, por conta de suas ideias, Marx foi obrigado a 
mudar de residência de forma constante, sendo expulso de países como França e Bélgica. 
Pertenceu ao grupo ‘Jovens Hegelianos’ no qual era composto por estudantes e jovens 
professores da Universidade Humboldt de Berlim que discutiam as ideias e posições do 
filósofo Georg Hegel (1770-1831). 
Karl Heinrich Marx nasceu em Trèves, hoje território alemão, anteriormente Reino da 
Prussia, no dia 05 de maio de 1918, filho de Heinrich Marx (1777-1838), um advogado judeu 
convertido ao protestantismo para poder exercer a profissão, e de Henriette Pressburg (1788–
1863). Karl Marx casou-se com Jenny von Westphalen (1814-1881) e teve 6 filhos, sendo 
eles: Jenny Caroline (1844-1883); Jenny Laura (1845-1911); Edgar Marx (1847-1855); Henry 
Edward Guy (1849-1850); Jenny Eveline Frances (1851-1852); Jenny Julia Eleanor (1855-
1898); e também houve um filho natimorto em julho de 1857 (Fougeyrollas, 1985). 
Em 1841 quando tinha 23 anos, Marx defendeu sua tese de doutoramento na 
Universidade de Iena. A tese tratava da teoria do conhecimento e fazia críticas às ideias de 
Hegel sobre religião (Gadotti, 1989). Em 1842, assumiu a direção do Jornal Gazeta Renana, 
na cidade de Colônia. Em 1844 iniciou sua vida em Paris e fortaleceu sua amizade com aquele 
que seria seu maior parceiro intelectual, Friedrich Engels (1820-1895). Em 1947, entrou para 
a Liga dos Justos – mais tarde renomeada para Liga dos Comunistas – e em 14 de março de 
1883 ele faleceu. Ao longo de sua vida, publicou inúmeros artigos e livros. Marx está 
sepultado no cemitério de Highgate, em Londres, no setor reservado às pessoas banidas e 
rejeitadas pela Igreja Anglicana. 
 
As Principais Teses de Marx 
 
Para devidamente apresentar as principais ideias de Marx, é preciso dar um passo para 
traz e falar um pouco de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), um dos filósofos mais 
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influente da Alemanha na sua época. É assim que, na Universidade Humboldt de Berlim, 
nasceu um grupo de estudantes e professores que ficaram conhecidos como Jovens 
hegelianos. Pertencendo a esse grupo, a trajetória intelectual de Marx se define a partir da 
influência que Hegel impingiu sobre sua visão de mundo, da mesma forma que representou 
uma alteridade para que Marx constituísse uma proposta de base epistemológica original, no 
momento em que este rompe com certo princípios do pensamento hegeliano e passa assumir 
sua absoluta autonomia intelectual. 
Conforme sugere o seguinte trecho de comentadores, importantes conceitos do 
pensamento marxista foram originados no pensamento hegeliano: 
 
A fonte primária do materialismo dialético marxista se funda na filosofia idealista de 
G.W. Hegel (1770-1831). Hegel enriqueceu a teoria com um termo crucial, a 
alienação, que explica a inter-relação entre a lógica e a História. Em lógica, ela 
especifica a contradição latente em todo ato de pensar, significando que uma ideia 
inevitavelmente provoca uma ideia oposta. O objetivo de Hegel era resolver essa 
contradição pela própria consciência. Nesse modelo, a alienação é dialética, ou 
seja, a inadequação de uma forma de consciência transforma-se em outra, e assim, 
sucessivamente, até que se chegue a uma ‘ciência apropriada. (Sim; Van Loon, 
2013, p. 16, grifos nossos). 
 
Hegel foi um filosofo que leu atentamente livros de economia e política (Rosenfield, 2002). 
Com isso, Gadotti (1989) relata que Marx aprendeu com Hegel que as coisas estão em 
constante movimento transformador. Só que para Hegel, a dialética enquanto força da 
mudança é idealista, ou seja, o movimento da realidade se estabelece nas ideias (Gadotti, 
1989), e “Marx deu a ela um fundamento materialista, ou seja, ele afastou a alienação da 
‘mente autocontemplativa’ para aproximá-la da luta de classes como história real da 
consciência em progresso” (Sim; Van Loon, 2013,p. 18). Com isso, a teoria proposta por 
Marx, é denominada de materialismo histórico, onde para o autor, o movimento dialético da 
história humana se dá com as disputas sociais estimuladas por um fundamento ontológico 
particular, onde a base da ação humana é reprodução material da vida, dada trabalho. 
Conforme explica o próprio autor: 
 
Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, 
processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla 
seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de 
suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo – braços e pernas, 
cabeça e mãos –, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes 
forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, 
ao mesmo tempo modifica sua própria natureza (Marx, 2011, p. 211) 
 
Ou seja, Marx segue a lógica filosófica hegeliana na medida em que entende a 
transformação histórica a partir da dialética, mas não na contradição do pensamento lógico, e 
sim, na dinâmica pendular causada pelas disputas materiais concretas das necessidades 
humanas. Como sugere Fromm (1970, p. 19), “na terminologia filosófica ‘materialismo’ (ou 
‘naturalismo’) refere-se a uma opinião filosófica segundo a qual a matéria em movimento é o 
elemento constitutivo fundamental do universo”. Assim, é a disputa material a base do social, 
e a ação humana fundamental de transformação da natureza para atender a tais necessidades 
materiais é o trabalho, sendo este, a base de explicação das relações sociais. 
De acordo com a nova leitura de Marx sobre o pensamento dialético hegeliano, a 
consciência humana é uma expressão da materialidade da vida humana, da contradição 
expressa na experiência concreta, onde as relações sociais se dão pela capacidade de 
transformar a natureza para atender as necessidades materiais (alimentação, abrigo, vestuário, 
ferramentas, etc.). É neste ponto que Marx rompe com a tradição idealista do pensamento 
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social, colocando no trabalho o foco central da análise sociológica, econômica e política. 
Conforme muito claramente explicam Marx e Engels, a principal competência humana é 
justamente a capacidade de produzir os meios materiais da vida, ou seja, a capacidade de 
trabalhar: 
 
Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião e por tudo 
o que se queira. Mas eles próprios começam a se distinguir dos animais logo que 
começam a produzir seus meios de existência, e esse passo à frente é a própria 
consequência de sua organização corporal. Ao produzirem seus meios de existência, 
os homens produzem indiretamente sua própria vida material. (MARX; ENGELS, 
2001, p.10-11, grifo dos autores) 
 
Assim, para Marx, não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que 
determina a consciência, e isso ocorre nessa ordem pois parte-se da premissa ontológica do 
indivíduo vivo e real. Com isso, o principal fato social é a produção dos meios que permitam 
satisfazer as necessidades da própria vida material. Complementarmente, para Marx, a 
centralidade da práxis humana está na produção e na reprodução da vida social, expressa pelo 
trabalho como ação de transformação da natureza e mediador das relações sociais. Apesar de 
tal premissa ter ensejado críticas ao marxismo como uma teoria que reduz a complexidade 
humana as relações de trabalho – crítica este que retomaremos mais adiante – Gadotti (1989) 
sai em defesa de Marx afirmando que ele não supervalorizou a prática negando a teoria, mas 
que, sempre provisória, a verdade é alcançada através da prática e da reflexão teórica sobre 
essa prática. 
Ainda se posicionando ao debate filosófico de seu tempo, Marx apresenta a diferença 
entre o seu materialismo para o (velho) materialismo proposto por Ludwig Feuerbach (1804-
1872) – também de inspiração Hegeliana. Diferentemente de Feuerbach, a proposta marxista 
enfatiza o modo de produção da vida material condicionando o processo de vida social, 
política e espiritual em geral. 
Quando se trata de sua explicação teórica sobre a História, Marx apresenta que cada 
época apresenta um modo de produção particular que gera uma superestrutura que lhe é 
correspondente e que não é mais do que a expressão ideal das relações materiais dominantes. 
É assim que Marx diferencia os conceitos de superestrutura (ideais, cultura e consciência 
coletiva) da infraestrutura (sistema social de reprodução material da vida), ou seja a estrutura 
econômica (Harnecker, 1983). Por isso, Marx e Engels afirmavam que as ideias dominantes 
são, em todas as épocas, as ideias das classes dominantes. A classe social que detém e/ou 
controla os meios de produção material dispõe com isso, ao mesmo tempo, dos meios de 
produção intelectual (Marx; Engels, 2001). Dividindo a História em três momentos estruturais 
– Antiguidade, Idade Média e era Moderna, Marx aponta que, o modo de produção antigo é 
caracterizado pela escravidão; o modo de produção feudal, pela servidão; o modo burguês, 
pelo trabalho assalariado. São três modos distintos da exploração do homem pelo homem 
(Aron, 2008). 
O desenvolvimento histórico, a sucessão e descontinuidade dos diversos modos de 
produção ocorrem como um processo coletivo objetivo, determinado pelo antagonismo entre 
as forças produtivas e as relações de produção; esse antagonismo se manifesta ao nível social 
como luta de classes, o desejo da classe dominante em explorar os meios de materiais da vida 
intensificando a opressão da classe trabalhadora aumenta a contradição sentida objetivamente 
(fome, violência, constrição da liberdade, etc.), fazendo com que surjam condições reais da 
classe dominada assumir uma nova consciência de sua situação e mobilizar-se para a 
superação de sua condição (revolução). Ou seja, essa tomada de consciência também ocorre 
de forma material e coletiva, conforme sugere Sandroni (1989, p. 189): 
 
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(...) para o materialismo histórico, as transformações histórico-sociais e as 
revoluções não resultam da ação de grandes personalidades, mas sim da participação 
ativa das massas trabalhadoras. Esse foi o mecanismo que impulsionou a sucessão 
entre os diversos modos de produção; mas todas as estruturas sociais extintas 
geraram sempre novas formas de exploração das massas por uma nova classe 
dominante. Contudo, o modo de produção capitalista seria o último modo de 
produção baseado na existência de classes e das contradições entre elas. Sua 
extinção seria obra do proletariado revolucionário que instauraria seu próprio poder 
(a ditadura do proletariado) e edificaria uma sociedade baseada na propriedade 
coletiva dos meios de produção. 
 
É assim que pode-se definir a teoria marxista como uma teoria de Economia Política, 
onde a estrutura econômica se liga ao conceito mais amplo de totalidade social. Ou seja, a 
estrutura social fundamental de explicação da História é a estrutura econômica da sociedade 
(por isso, infraestrutura), sobre a qual se ergue a superestrutura (relações jurídicas, políticas e 
demais formas de consciência social). Esse conjunto de ideias reafirma e justifica tanto o 
modo de produção quanto as relações de dominação da classe social responsável por esta 
produção, determinando as bases das relações sociais de produção (forma de propriedade dos 
bens de produção, instrumentos de trabalho e seu desenvolvimento tecnológico, e mecanismos 
institucionais de mediação das classes sociais). Em última instância, as relações de produção 
representam o fio condutor que explica os fenômenos político-sociais de uma época. Contudo, 
é preciso considerar que a relação entre a estrutura e a superestrutura não se dá 
mecanicamente, é uma relação dinâmica, onde os fenômenos econômicos determinamos 
políticos, mas são também por eles influenciados (Sandroni, 1989). Conforme sugere um 
comentador do materialismo histórico: 
 
Se empregarmos a metáfora arquitetural de Marx e Engels do edifício com um 
alicerce ou infraestrutura e uma superestrutura que se constrói sobre esse alicerce, 
podemos dizer que a ideologia pertence à superestrutura. Mas a ideologia não se 
limita a ser apenas uma instância da superestrutura; ela desliza também pelas demais 
partes do edifício social, é o cimento que assegura a coesão do edifício. A ideologia 
dá coesão aos indivíduos em seus papéis, em suas funções e em suas relações. 
(Harnecker, 1983, p. 101). 
 
Outro conceito importante derivado desta interpretação da dinâmica histórica é a ideia 
de totalidade, representada pelo sistema infraestrutura-superestrutura. A questão de totalidade 
na linguagem marxista é chamada de formação econômico-social, atribuída pelas relações 
sociais (sobretudo, de natureza econômica), pelos meios de produção, pela cultura e pelas 
atitudes que caracterizam uma sociedade historicamente determinada e localizada. (Gallino, 
2005). Os fatos que acontecem no mundo são parte de um todo, são aspectos parciais de uma 
realidade totalizante. Por isso, ao se empenhar na solução de qualquer problema (seja social, 
seja individual), o ser humano precisa ter uma visão do conjunto de sua realidade, entender 
como tudo se encaixa em um processo histórico único. 
É a partir dessa visão de totalidade que se pode avaliar a importância de cada elemento 
que compõe o sistema social. No entanto, não significa dizer que o conceito de totalidade é a 
simples soma das partes que a constituem: os elementos individuais assumem características 
que não teriam se estivem fora do conjunto (Gadotti, 1989). Assim, esta totalidade é expressa 
no sentido estrito, onde ‘ o todo’ é formado por um conjunto de elementos justapostos, que 
não têm nenhuma forma específica isoladamente. Sobre esta ideia, Harnecker (1983) dá o 
exemplo de um pacote de açúcar, onde este ‘todo’ é constituído por certa quantidade de 
pequenos cristais de açúcar que tomarão a forma do recipiente que os contempla, sem que a 
mudança de lugar dentro da totalidade afete em nada cada cristal isoladamente. 
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O conceito de totalidade é fundamental para reconhecer a possibilidade da mudança 
social. As relações que compõe a totalidade, não são rígidas; se adaptam as forças da 
contradição vivida, mas mantendo a estrutura fundamental da totalidade. Por isso, entender tal 
estrutura é o passo, no materialismo histórico, para compreender a possibilidade de 
transformação social estrutural. Como lembra um comentador: 
 
A realidade é transformação. No entanto nem todas as mudanças têm o mesmo 
valor; é o que demonstra o princípio da passagem da quantidade à qualidade’. O 
princípio da passagem da quantidade à qualidade se aplica à sociedade e mostra que 
a História humana se transforma através de pequenas mudanças quantitativas, que se 
acumulam. Essa acumulação gradual não é um processo mecânico, mas supõe uma 
preparação e um desenvolvimento que pode ser atravessado por crises. No momento 
em que a sociedade faz a passagem de um estado a outro, temos o princípio do salto 
qualitativo. (Gadotti, 1989, p. 63). 
 
Com isso, é preciso considerar que no centro do pensamento de Marx está sua análise 
e exposição do caráter contraditório do regime capitalista, sendo este considerado como 
abarcando forças antagônica que tem potencial para que este sistema seja o próprio 
responsável pela sua autodestruição (Aron, 2008). Segundo Marx e Engels (2011), a ruína do 
capitalismo é inevitável pois a contradição deste sistema é alimentada pelo fato de que a 
burguesia tem a capacidade de criação de meios de produção mais poderosos, sendo que a 
distribuição de renda não ocorre no mesmo ritmo, e o resultante disso é o aumento de riquezas 
para uma minoria e o aumento da miséria para uma maioria. Destarte, a perspectiva de Marx é 
que tal contradição um dia irá se transformar em uma revolução, pois o proletariado constitui 
a maioria da população que, como classe, ou seja, numa unidade social irá aspirar o poder e 
transformar as relações sociais que os subjugam a uma condição deplorável (Marx; Engels, 
2011). E Marx não ignora outros grupos também participarão deste processo, tais como os 
artesãos, os pequenos burgueses, os comerciantes, os camponeses, e os proprietários de terra 
que, conforme o transcorrer do avanço do capitalismo, precisarão escolher um lado (Aron, 
2008) 
Contudo, Gadotti (1989) e Bronner (1999) lembram que, pelo raciocínio de Marx, 
apenas a miséria não basta para que os povos lutem para se libertar da exploração. Com isso, 
considera-se que os trabalhadores precisam descobrir as leis de transformação da História, 
para que, assim, tenham uma visão científica das mudanças sociais. Para que tal lente se 
constitua, é necessário chegar a explicação das causas econômicas dos fenômenos sociais, em 
outras palavras, é preciso buscar informações seguras sobre a situação econômica do período 
histórico analisado e suas relações com a estrutura estabelecida. Somente assim, se atingirá o 
que Marx chama de consciência de classe. 
Neste ponto, há mais um importante conceito tratado por Marx para compreender o 
processo de tomada de consciência da classe trabalhadora sobre as forças de dominação. É o 
conceito de Ideologia que, segundo Dicionário do saber moderno (1982), pode ser definido 
como o sentido de consciência social falsa que os agentes intelectuais de uma classe 
dominante elaboram, obscurecendo a natureza objetiva dos interesses materiais dessa mesma 
classe. Conforme indica o seguinte trecho: 
 
A ideologia se destina a assegurar a coesão dos homens na estrutura geral da 
exploração de classe. Destina-se a assegurar a dominação de uma classe sobre as 
demais, fazendo os exploradores aceitar suas próprias condições de exploração como 
algo fundado na “vontade de Deus”, na “natureza”, ou no “dever moral” e assim por 
diante. (HARNECKER, 1983, p. 103-104). 
 
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Assim sendo, a ideologia se apresenta a partir de três aspectos: (i) Hipóstase, 
reificação, separação do contexto histórico-social originário de ideias e crenças que procedem 
de um determinado grupo ou classe; (ii) Sistemas de ilusões, ideias falsas de representações 
mistificadoras da realidade social; (iii) conjunto de ideias (conhecimento, juízos, valores) da 
classe dominante (Gallino, 2005). Segundo Harnecker (1983), a ideologia é uma ‘mentira 
piedosa’, pois apresenta uma dupla serventia, onde age por um lado sob a consciência dos 
explorados para fazê-los aceitar como natural sua condição de explorados, bem como age 
sobre os membros da classe dominante para permitir-lhes exercer como natural sua 
exploração e sua dominação. Conforme salienta o autor: 
 
As ideologias, como todas as realidades sociais, só se tornam inteligíveis através de 
sua estrutura. A ideologia comporta representações, imagens, sinais, etc., mas estes 
elementos considerados isoladamente não fazem a ideologia; é o sistema, seu modo 
de combinar-se, o que lhes dá sentido; é sua estrutura que determina seu significado 
e função. Pelo fato de estar determinada por sua estrutura, a ideologia supera como 
realidade todas as formas nas quais é vivida subjetivamente por este indivíduo. A 
ideologia, portanto, não se reduz às formas individuais nas quais é vivida e, por isso, 
pode ser objeto de um estudo objetivo. É por isso que podemos falar da natureza e 
da função da ideologia e estuda-la. (Harnecker, 1983, p. 104). 
 
Uma forma de olhar a ideologia é pelo conceito de Marx sobre a alienação do 
operário, que significa não só que o seu trabalho se torna um objeto, uma existência exterior a 
si prórpio, mastambém que este mesmo trabalho existe fora dele, independentemente dele, 
estranho a ele e se converte numa potência autônoma relativamente a ele; que a vida que ele 
emprestou ao seu objeto se lhe opõe como algo hostil e estranho. Neste ponto, Marx partiu da 
teoria da alienação de Ludwig Feuerbach (1804-1872), filósofo alemão que mostrou como o 
homem abdica de sua própria essência ao criar a imagem de um ser absoluto e superior – 
Deus – que, embora criado pelo homem, é visto por este como seu criador. 
Para Marx, a alienação ocorre não apenas nesse plano religioso (do homem em relação 
a Deus) como sugeriu Feuerbach, mas em muitos outros domínios: a alienação do cidadão em 
relação ao Estado, do soldado em relação a sua bandeira, e, principalmente, do trabalhador em 
relação ao capital. No sistema capitalista, segundo Marx, os produtos do trabalho passam a ser 
meras mercadorias que subjugam o homem, invertendo a lógica da potência humana do homo 
faber (aquele que transforma a natureza para atender a sua necessidade de produção da vida); 
ao invés de servirem a ele, o que deveria acontecer, já que são criações suas, os produtos do 
seu trabalho lhe aprisionam a sua condição de dominado e explorado (DICIONÁRIO DE 
ECONOMIA, 1989). Assim, no cerne de seu pensamento estava que “Marx acreditava ser a 
classe operária a mais alienada; daí a emancipação da alienação ter de começar 
necessariamente pela libertação dessa classe” (Fromm, 1970, p. 60). Vale lembrar que Marx 
testemunhou uma revolução – a Burguesa – a qual derrubou o regime monárquico. E, o por 
quê isso não poderia se repetir com o proletariado? 
Para explicitar esse processo, Marx usa três termos: (i) Entäusserung; (ii) Verässerung 
e (iii) Entfremdung, sendo que estes são traduzidos muitas vezes como alienação. Entretanto, 
de acordo com Aron (2008, p. 235), “o termo que corresponde, aproximadamente, à palavra 
alienação é o último, que etimologicamente significa: torna-se estranho a si mesmo”. É assim 
que, para Marx, “há duas modalidades econômicas: a alienação imputável à propriedade 
privada dos meios de produção (proletários) e a segunda à anarquia do mercado (burgueses)” 
(ARON, 2008, p.236). A alienação somente é possível pela transfiguração das ideias, 
promovida pela ideologia. 
Em termos de síntese histórica explicitada por Marx, temos a superestrutura como 
ideologia, pois esta representa um modo de pensar característico do comportamento de classe 
(o que nós ‘tomamos como dado’, como natural). “A ideologia é literalmente baseada na 
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infraestrutura econômica – os meios pelos quais ela produz a si mesma, sua riqueza, e quem 
possui tais meios de produção”. (Sim; Van Loon, 2013, p. 21). Ou seja, a totalidade histórica 
permanece explicada pelos conceitos de infraestrutura e superestrutura, sendo que, na era 
Moderna, a estrutura econômica fundamental é o modo de produção capitalista constituído a 
partir da emergência de duas classes: o burguês, aquele que detém o controle dos meios de 
produção vigentes em nossa época – expressos pelo sistema do capital – e a classe 
trabalhadora (proletário), a quem resta, neste sistema, traduzir o único bem que lhe é 
ontologicamente próprio – sua capacidade de trabalhar – como elemento da lógica de 
reprodução do capital. É assim que Marx explica pela sua teoria de valor que a lógica do 
capital é a produção de mercadoria, sendo o trabalho alienado ao trabalhador na medida que, 
no capitalismo, ele se transfigura como mercadoria. 
Marx, assim como Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823), 
considerava que o valor de toda mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho 
socialmente necessário para produzi-la. Assim, mercadoria é 
 
aquilo que se produz para o mercado – para ser vendido ou trocado – e não para o 
uso próprio de quem produz. No quadro da produção capitalista, a força humana não 
serve a quem a exerce, mas a quem a emprega. Assim, os trabalhadores são 
transformados em instrumentos e o processo de produção passa a dominar o ser 
humano (Gadotti, 1989, p. 71). 
 
Ou seja, a mercadoria é a reificação da lógica mercantil, a do valor de troca. Isso 
ocorre com a inversão histórica do dinheiro como meio de equivalência para tornar-se um 
valor em si mesmo, o dinheiro em estado puro, em outras palavras, o capital. A lógica de 
mercado é a lógica da troca que potencializa a reprodução do dinheiro em estado puro, 
criando a capacidade deste acumular (quando reinvestido na mercadoria) e concentrar-se. Por 
isso, para Marx, o Capital é uma entidade separada do homem, o ente que se autoreproduz 
desconectado com a essência do ser humano, a sua capacidade de produzir seus meios de 
viver. É troca e a acumulação primitiva do capital que faz com que esse processo natural – 
trabalho – seja subvertido a uma lógica de exploração, é a troca de mercadorias mediada pela 
reprodução do dinheiro que explica o sistema de dominação vigente em nosso tempo. 
Conforme indica Aron: 
 
A troca que vai da mercadoria a mercadoria é, pode-se dizer, troca imediatamente 
inteligível, imediatamente humana, mas é também troca que não proporciona lucro 
ou excedente. Enquanto passamos da mercadoria para a mercadoria, mantemo-nos 
numa relação de igualdade. (...) Contudo, há um segundo tipo de troca, que vai do 
dinheiro ao dinheiro, passando pela mercadoria, com a particularidade de que no fim 
do processo de troca possuímos uma quantia em dinheiro superior àquela da fase 
inicial. (Aron, 2008, p. 210). 
 
Sendo a força de trabalho uma mercadoria cujo valor é determinado pelos meios de 
vida necessários à subsistência do trabalhador (alimentos, roupas, moradia, transporte, etc.), 
se este trabalhar além de um determinado número de horas, estará produzindo não apenas o 
valor correspondente ao de sua força de trabalho (que lhe é pago pelo capitalista na forma de 
salário), mas também um valor a mais, um valor excedente sem contrapartida, denominado 
por Marx de mais-valia. É desta fonte (o trabalho não pago) que a parte fundamental do lucro 
é produzida, tornando o processo de exploração do trabalho – otimização da produção de 
mais-valia – uma medida fundamental do sistema capitalista. Aliado ao conceito de mais-
valia, temos o conceito de Fetichismo da mercadoria, onde nas condições da produção 
mercantil baseada na propriedade privada dos meios de produção desenvolve-se a ilusão ou 
representação ideológica de que as mercadorias são dotadas de propriedades inatas, forças 
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extra-humanas que terminam por influir no destino das pessoas. Assim, o fetichismo das 
mercadorias é a tendência de tratá-las como fetiches, ou seja, objetos dotados de propriedades 
mágicas que lhes conferem uma vida própria. 
Neste sentido, Vizeu (2010) aponta que o Management se torna uma importante 
instituição do capitalismo industrial na medida que seu objetivo é maximizar pela eficiência 
do trabalho, por meio de uma racionalização que potencializa tecnicamente o processo 
produtivo mais também e principalmente, cria condições materiais de mais-valia. É assim que 
testemunhamos ao longo de toda a trajetória do pensamento administrativo moderno a 
intenção de garantir o aumento da produtividade pela sofisticação da exploração do 
trabalhador, especialmente pela construção ideológica do discurso gerencial (Vizeu, 2019). 
Enquanto a taxa de lucro, dada pela relação entre a mais-valia e o capital total 
necessário para produzi-la, define a rentabilidade do capital, a taxa de mais valia – a relação 
entre a mais-valia e o capital variável (salários) – define o grau de exploração sobre o 
trabalhador. Mantendo-se inalterados os salários, a taxa de mais-valia tende a elevar-se 
quando a jornada e/ou a intensidade do trabalho aumenta (aumentando a mais-valia absoluta), 
ou como aumento da produtividade nos setores que produzem os artigos de consumo habitual 
dos trabalhadores (aumentando a mais-valia relativa), (DICIONÁRIO DO SABER 
MODERNO, 1982). A o processo de exploração dado com a conversão de todo o valor 
econômico de nosso tempo ao dinheiro, conforme aponta o próprio Marx: “o dinheiro é a 
mercadoria absolutamente alienável, por ser a forma a que se convertem todas as outras 
mercadorias ou o produto da alienação geral delas” (Marx, 2011, p. 137). É o dinheiro em 
estado puro que se estabelece como mola propulsora da exploração global do regime 
capitalista (Santos, 2000). Essa é a contradição fundamental de nosso século, a mola do 
progresso e da desgraça contemporâneos, identificada pela leitura sociológica do materialismo 
histórico. Conforme aponta o seguinte comentador: 
 
O século das revoluções e suas ideias têm seus limites, mas a sociedade não foi 
pensada de certo modo para que pudesse abrigar transformações de tal monta? A 
pergunta vai além: se o capitalismo é contraditório, pois se apresenta como o sistema 
mais racional de produção de riquezas ao mesmo tempo que produz a maior pobreza 
associada a ela, o que pode levar à sua superação? Note-se a dupla face do problema. 
De um lado, demanda uma explicação científica do capitalismo existente – nesse 
ponto a proposta política de Marx e Engels pretende avançar em relação àquela dos 
socialistas utópicos, que não cuidam de examinar no pormenor os movimentos do 
capital (Giannotti, 2000, p. 8). 
 
Assim, a verdadeira questão dialética para Marx é entender como que, mesmo 
abarcando uma forte contradição interna, o capitalismo se reproduz e se mantém. A resposta 
dada pelo pensador é que o faz com que o Capitalismo perdure são dois mecanismos 
normalmente camuflados, os quais Marx objetiva expor e trazer à consciência revolucionária. 
O primeiro é o consumismo – que alimenta o ímpeto pela produção de mercadorias; o 
segundo mecanismo é a produção da mais-valia, por meio da qual a produção capitalista 
prospera em explorar mais tempo do trabalho do que o que é realmente pago. Essa é uma 
análise complexa, da qual precisamos reter apenas o essencial - a natureza oculta, camuflada 
ou inconsciente do sistema em funcionamento (Sim; Van Loon, 2013). 
 
Muitos Marxismos: Debate entre os Interpretes, Comentadores e Críticos de Marx 
 
Nosso objetivo nesta subseção é buscamos trazer luz as contradições sobre os 
pensamentos de Marx que ganharam corpo – seja pela constante reflexão sobre os 
acontecimentos históricos que sucederam a morte de Marx, seja pela ampliação da reflexão 
social dada a partir da pluralidade epistemológica que se estabeleceu na primeira metade do 
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século XX. Neste contexto, temos diversas interpretações sobre o que Marx quis dizer ou 
então o que Marx diria em tal situação; também testemunhamos revoluções que impactaram 
em um novo cenário geopolítico, como foi o caso da Revolução Russa, justificada a partir de 
uma interpretação de Lenin sobre a aplicação das ideias marxistas na conjuntura social de seu 
país, uma sociedade de base agrícola e nada industrializada (o que gera dúvida sobre a 
inevitabilidade da revolução proletariada, já que Marx apontava a Revolução Comunista 
como a consequência inevitável da contradição social de países industrializados). Conforme 
afirma Aron (2008, p. 186) 
 
Não tem muito interesse, portanto, indagar se Marx foi stalinista, trotskista, 
partidário de Khruchtchev ou de Mao. Karl Marx teve a sorte, ou a infelicidade, de 
ter vivido há um século. Não deu respostas às questões que formulamos hoje. 
Podemos procurar responde-las por ele, mas as respostas serão nossas, não dele (...) 
perguntar o que teria pensado Marx significa querer saber o que um outro Marx teria 
pensado no lugar do verdadeiro Marx. A resposta, contudo, é possível, mas é 
aleatória e de pouco interesse. 
 
Com isso, temos que há até os dias atuais muitos ‘marxismos’, ou melhor, muitas 
correntes do pensamento social que assume fundamentos das ideias de Marx. Com essa 
premissa, sugerimos que, não somente o pensamento social declaradamente marxista (ou 
marxiano) expressa o marxismo, mas todo pensamento social de base emancipatória e que 
intenta realizar a crítica social em nosso tempo. 
Ao se debruçar nas linhas teóricas de base marxista vemos uma diversidade nem 
sempre fácil de diferenciar, como o debate entre as pretensamente ‘correntes oficiais’, como, 
por exemplo, a disputa entre o leninismo-estalinismo e a posição de Rosa Luxemburgo (1871-
1919), que combatia o ‘socialismo por decreto’ instaurado por Lenin (Hobsbawm, 1984), ou 
mesmo a crise entre os pensadores marxistas alemães que induziu o nascimento da Escola de 
Frankfurt (Freitag, 2004). Fravre e Fravre (1991) lembram que, com a morte de Engels em 
1895, se dá a partida cronológica dos marxismos pós o período contemporâneo de Marx, pois 
até então, Engels era o responsável pela representação das ideias do marxismo. Fromm (1970) 
chama a atenção para a ironia da História que é justamente não ter limites para as deturpações 
e erros de interpretação das teorias de Marx, mesmo em uma época com abrangente fontes de 
dados. 
Marx não viveu o suficiente para ver Lenin e ‘seus camaradas’ tomarem o poder na 
Rússia czarista e agrícola; não viveu para ver a linha de montagem que fora aplicada por 
Henry Ford (1863-1947); também não viu Adolf Hitler (1889-1945) amendrontar o mundo na 
Segunda Guerra Mundial, e não viu as inovações em produtos e serviços oriundos dessa 
Guerra, bem como a ascensão dos Estados Unidos da América como potência econômica-
militar; não viu a bolsa de valores desse país ter um colapso em 1929 e seu reflexo no mundo; 
não viu as ideias de Einstein viabilizarem a criação da bomba atômica; e, finalmente, não 
testemunhou Mao Tsé-Tung (1893-1976) e sua China Revolucionária. Por isso, não é possível 
atribuir a Marx as críticas e discrepâncias dos marxismos; como sugerimos nesse ensaio, para 
entender Marx se faz necessário considerar o mundo em que ele vivia e como essa moldava o 
seu pensar, sendo esse pensar, fortemente delimitado pelos conceitos de sua época, apesar de 
termos destacado a originalidade do pensamento de Marx e o fato de que seus conceitos 
fazem muito sentido para explicar os dias atuais. Por isso, a base do pluralismo marxista – os 
muitos marxismos – é justamente o complexo desenrolar da história após Marx e Engels, no 
extremo século XX, parafraseando Eric Hobsbawm em seu texto de fechamento da coleção 
das eras que estabeleceram a modernidade. 
Baseado no pluralismo ensejado pelas múltiplas interpretações da obra de Marx, 
Codato e Perissinotto (2011) apresentam algumas críticas em como o marxismo se estabelece 
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nestas múltiplas visadas: (i) o determinismo marxista; (ii) o fatalismo histórico, onde, após a 
transformação social do Estado Comunista, se encerra a História; (iii) O viés cientificista e 
positivista de Marx, negado por parte das correntes marxistas; (iv) a dificuldade de se 
conhecer qual o verdadeiro Marx; (v) o engajamento messiânico que prescreve um marxismo 
puro e duro; (vi) O oportunismo de um marxismo construído a partir de uma ideologia 
universitária, com convicções políticas; (vii) a disputa entre diversos comentadores de Marx; 
(viii) A superação da crise do pensamento marxista do início do século XX por um 
neomarxismo; (ix) a dureza de uma ortodoxia marxista; (x) a existência de um marxismo com 
viés funcionalista; (xi) as dificuldades de interpretação ensejadas pelas múltiplas facetas de 
Marx (historiador, O filósofo, O jornalista e cientista) (xii) a presunção do marxismo 
analítico. 
Os autores ainda consideram que, a despeito dos esforços do marxismo do século XX 
se posicionar contrariamente às ciênciassociais positivistas, ainda mantém características 
fundamentais da perspectiva sociológica clássica. Neste sentido, como lembrou Theda 
Skocpol (1947-), os marxistas posteriores a Marx não abandonaram a sua perspectiva 
funcionalista, cujo o apontamento básico era explicar a função do Estado na dominação, 
acumulação e reprodução do capitalismo. De um lado, Marx entende o Estado como um ente 
social constituído a partir de uma perspectiva essencialmente funcional, vendo no Estado a 
organização responsável pela reprodução das relações de dominação de uma dada sociedade; 
no caso do marxismo, pretende-se explicar determinados fenômenos sociais sempre a partir 
das consequências benéficas que eles produzem para a classe dominante, ou por outra, sempre 
a partir da funcionalidade desses fenômenos para a reprodução dos mecanismos de dominação 
de classe (Codato; Perissinotto, 2011) 
Os aspectos levantados anteriormente revelam que, entre os muitos marxismos, há 
disputas por interpretações, e até mesmo críticas a certos fundamentos explicitados nos textos 
originais do autor. Quanto a isso, Barbara Freitag, devedora da Escola de Frankfurt – 
denominada por muitos como o neomarxismo (Lara; Vizeu, 2019) – aponta três grandes 
equívocos da teoria Marxista (Freitag, 2004, p. 40): 
 
Ø a tese da proletarização progressiva da classe operaria não se confirmou, não ocorrendo a revolução 
proletária como se esperava, em consequência de uma constante degradação das condições da vida 
dessa classe. Horkheimer admite que o capitalismo conseguiu produzir um excedente de riquezas que 
desativou o conflito de classes, radicalizando a ideologização das consciências, cooptadas pelo sistema. 
Ø a tese das crises cíclicas do capitalismo, decorrentes das alternâncias da produção excessiva e da falta 
de consumo, por um lado, e de consumo excessivo que leva a falta de produtos, por outro, devido à 
intervenção crescente da atividade estatal sobre a organização da economia. 
Ø a esperança de Marx de que a justiça poderia se realizar simultaneamente com a liberdade revelou-se 
ilusória. Efetivamente, o capitalismo conseguiu criar riquezas que a longo prazo até podem assegurar 
um grau de justiça maior, reduzindo as desigualdades materiais entre os homens, mas ao preço da 
redução sistemática da liberdade. 
 
Villaverde (1986) também comenta que Marx apresentou algumas contradições 
internas, ou seja, certos fundamentos que induziriam a uma inevitável ruína do capitalismo. 
Tais fundamentos são tomados como leis – no estrito sentido positivista do imperativo social 
como lei universal – e que são: (i) Lei da Queda dos Lucros (ii) Lei do Aumento da Pobreza; e 
(iii) Lei da Concentração do capital. A partir dessas leis – afirma o comentador – que Marx 
preconizava que teríamos inevitavelmente o colapso do sistema, baseado na seguinte 
sequência de fatos: ao competirem entre si, os capitalistas tenderiam a adquirir novos 
maquinários no intuito de reduzir seus custos de produção, e tal movimento iria provocar uma 
queda geral nos lucros, já que adquirir tecnologias mais sofisticadas de produção seria algo 
possível apenas pelos grandes capitalistas, levando assim, a falência dos menores, passando 
estes a integrar a classe dos proletários; ainda, a aquisição de novas e modernas máquinas 
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resultaria na dispensa de mão-de-obra, gerando desemprego. De acordo com a tese de Marx, 
isso iria gerar, de um lado, um pequeno número de ‘super-capitalistas’ e, do outro, uma 
colossal massa de proletários miseráveis, sem meios para comprar os bens por eles 
produzidos. Neste contexto social, teríamos uma recessão, uma consequente revolta e, 
finalmente, à revolução violenta que destruiria o capitalismo. A crítica a esta visão fatalista da 
revolução proletária e contestada pelos eventos históricos que se sucederam, que 
testemunharam a grande concentração do capital, mas sem transcorrer na crise social que se 
preconizou. 
Badaloni (1987), também apresenta a crítica feita a Marx por marxistas celebrados, 
como é o caso de Antonio Gramsci (1891-1937). Segundo este autor, as saídas propostas por 
Marx foram constituídas tendo como referência a forma como ao seu tempo se testemunhava 
novas formações políticas e sociais, ou seja, através da organização política e da luta, 
mecanismos mediadores da constituição das consciências e das vontades. Porém, Gramsci 
aponta que na Rússia de Lenin-Stalin o processo histórico queimou todas as etapas, sem que 
se estabelecesse a nova ordem proclamada, demonstrando, assim, os limites do pensamento de 
Marx, seu gradualismo diante da transformação e o risco de que tal gradualismo pudesse ser 
apreendido e dominado pela prática burguesa. 
Finalmente, Sader (1991) comenta que, na atualidade, o marxismo perdura de dois 
modos diferentes. Por um lado, ele é tratado como uma ideologia ou sistema totalizador, pelo 
qual certos intelectuais produzem a ‘ciência da História’ nas mais diferentes disciplinas e 
onde burocratas e ditadores justificam suas ações políticas e organizam a realidade onde 
agem. De outro, o marxismo atual se apresenta como uma fonte de elaborações sobre aspectos 
pontuais de nossa realidade, de forma a ajudar a intelectuais produzirem novos 
conhecimentos, permitindo que militantes de diferentes movimentos sociais formulem seus 
projetos e formas de ação. Essa forma é expressa nos temas que reconhecemos a todo 
momento nos noticiários, tais como a luta pelo direito à moradia, movimentos por reforma 
agrária, movimentos ambientalistas, entre outros. Por isso, cabe observar que esse segundo 
modo de marxismo já não é mais a totalização capaz de nos explicar o sentido absoluto da 
ação social. De acordo com Sader (1991), essa tarefa cabe a cada um de nós, em cada uma das 
aventuras intelectuais ou políticas que nos engajamos. Essa é talvez, uma das maiores lições 
que os movimentos sociais recentes nos deixaram. 
A despeito das críticas ao marxismo, entendemos que além das limitações e diferenças 
das muitas vertentes do marxismo, o que permanece é seu núcleo duro onto-espistemológico, 
que suporta tanto a explicação teórica do capitalismo, onde conceitos fundamentais deste 
corpo teórico são fundamentais para entender as dimensões históricas, sociais, políticas e 
culturais de nosso tempo, mas também quanto ao método de investigação proposto por Marx, 
que tem por premissa fundamental a dialética das contradições sociais como ponto de 
investigação das questões não aparentes das complexas relações sociais. Entendemos que, 
tanto os conceitos teóricos criados por Marx quanto sua postura metodológica podem ser úteis 
para qualquer pesquisador social, mesmo que este não assuma-se como um marxista, o 
signatários de algum dos muitos marxismos que se desenvolveram diante das disputas de 
interpretação da obra do pensador frente a realidade social que sucedeu após sua morte 
(Hobsbawm, 1982). 
 
Considerações Finais: as Contribuição de Marx para o Pensamento Social 
 
De um lado, tido como um santo; de outro tido como um vagabundo, pai de todos os 
fascistas. De um lado, o que ‘sonhou’ em um mundo melhor para os pobres; de outro, o que 
criou uma teoria para justificar a morte de milhões de pessoas. Seja para o bem ou para o mal, 
Karl Marx, até os dias atuais é lembrado. Porém, faz-se mister que seu legado seja recuperado 
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diante da crise ideológica atual, onde ainda se trava a mesma disputa de interesses de classe, 
da luta entre elites e dominados, privilegiados e excluídos. Todavia, vale lembrar que a atual 
disputa política foi incrementada pela tecnologia da informação, que manipula as ideias de 
forma mais sofisticada, que induz ao erro pessoas aparentemente esclarecidas, como é o caso 
da comunidade acadêmica. Nosso ensaio foi construídopara dialogar com essa comunidade, 
para que não se tenha dúvidas da contribuição para os pesquisadores sociais da obra de Marx 
sobre as interpretações que temos de nosso cotidiano, mesmo que nos permitamos discordar 
das muitas versões do marxismo. 
Na leitura de Marx sobre o período histórico moderno, o célebre pensador explicou 
como a burguesia foi a primeira elite a mostrar o que a atividade humana é capaz de realizar. 
Se, por um lado, nunca antes tivemos tanto avanço tecnológico e conquistas materiais, por 
outro, também temos inequidades nunca antes vistas. O capitalismo transformou as relações 
das pessoas com as outras e consigo mesmas, ou seja, a realidade do capitalismo era o 
diferente de tudo visto até então, e seus impactos estão e foram enraizados em todas as 
camadas das sociedades contemporâneas, desde a forma como as leis são promulgadas até o 
jeito do viver em família. Quem revelou a lógica deste sistema, quem desvelou os meandros 
de nosso tempo, permitindo que pudéssemos reconhecer caminhos possíveis de superação de 
nossas contradições – mesmo que apontados por outras vertentes do pensamento crítico – foi 
Marx. Ele é o grande pensador de nosso tempo, e, a ele, deve ser dado o devido crédito. 
Isso não significa dizer que todo pesquisador social precisa assumir o marxismo como 
ideologia; na verdade, o que propusemos é que é sim preciso assumir a importância do 
materialismo histórico para a compreensão do capitalismo. Sem isso, é improvável que se 
teria constituído qualquer explicação consistente sobre as complexas relações sociais 
contemporâneas, presentes no pensamento geopolítico, na relação entre a saúde e tecnologia, 
na crise ambiental, nos movimentos migratórios recentes, etc. 
Para o acadêmico da área de Administração, acompanhamos o pensamento de Vizeu 
(2010; 2019), que aponta como fundamental a compreensão da Administração sob o olhar 
acadêmico a explicação de Marx sobre o sistema capitalista. A administração como campo 
social tem seu sentido histórico, é surgiu deste processo. Na verdade, entendemos que o 
capitalismo recente deve muito a própria técnica e conhecimento administrativo, seja pela 
sofisticação da reprodução dos mecanismos do sistema de autoreprodução, seja como 
ideologia justificadora de práticas nefastas. A literatura de administração está repleta de 
exemplos que revelam essa contradição, e faz-se necessário que se reconheça o quanto a área 
deve a Marx, e precisa compreendê-lo de forma isenta. 
Assim sendo, longe do Marx pregado nas redes sociais e fake news como o incitador 
de massas e dos oportunistas, temos que Marx é um dos maiores intelectuais de nosso tempo, 
pois avança no campo sociológico sobre a proposta de utópicos como Robert Owen (1771-
1858), sem necessariamente desrespeitar suas iniciativas. O que Marx realiza em seu tempo é 
a denúncia do olhar idealista que se omitia a época dos acontecimentos políticos que 
consolidavam um novo regime institucional, fazendo um verdadeiro chamamento para que os 
intelectuais de seu tempo não somente se preocupassem em descrever o mundo, mas também, 
em contribuir para sua transformação (Marx; Engels, 2001). Isso significa que “a meta de 
Marx era a emancipação espiritual do homem, sua libertação dos grilhões do determinismo 
econômico, sua reintegração como ser humano, sua aptidão para encontrar unidade e 
harmonia com seus semelhantes e com a natureza” (Fromm, 1970, p.15). conforme salienta 
um comentador: 
 
Marx denuncia os limites da emancipação política, quando não acompanhada da 
emancipação social, onde este expõe: ‘a emancipação política é a redução do homem 
a membro da sociedade civil, a indivíduo egoísta e independente, por um lado, e, por 
outro, o cidadão, a pessoa moral. Somente quando o homem real, individual, tiver 
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reencontrado em si mesmo o cidadão abstrato e se tiver tornado, em sua ida 
empírica, em seu trabalho e em suas relações individuais, um ser coletivo... é que a 
emancipação humana se realizará’ (Fougeyrollas, 1985, p.14) 
 
Assim, seguindo a leitura feita por Lara e Vizeu (2019), queremos chamar a atenção 
dps acadêmicos da área de Administração para um conceito central no pensamento de Marx, 
que embora possa ter sido deturpado por ditadores e interpretes, está presente mesmo nestes, e 
recuperado com veemência pela Escola de Frankfurt – a emancipação. Neste sentido, segundo 
Fromm (1970, p. 55) a “meta de Marx não se limita à emancipação da classe operária, mas 
visa a emancipação de todo ser humano através do retorno a atividades não-alienadas”. Em 
que o homem se reconheça como tal, visto que mesmo os burgueses sofrem pela 
autorregulamentação do mercado. Rompa com a cortina da ideologia que desumana os 
homens, tornando-os mercadorias. E, se ao menos hoje, há espaço para discussão sobre os 
papeis do mercado na vida – tanto da classe trabalhadora, quanto do capitalista – isso deve-se 
a Marx. Recuperar o valor deste grande pensador foi a principal intenção deste breve ensaio. 
 
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