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Módulo III Exame Físico Nutricional Autor: Cristina Martins. Doutora em Ciências Médicas: Nefrologia - UFRGS, Porto Alegre/RS; Mestre em Nutrição Clínica - New York University, EUA; Dietista Registrada (RD) - American Dietetic Association, EUA; Nutricionista- Chefe do Setor de Nutrição - Clínica de Doenças Renais, Curitiba/PR; Diretora Geral - Instituto Cristina Martins, Curitiba/ PR; Coordenadora do Curso de Capacitação em Nutrição Renal - Instituto Cristina Martins, Curitiba/PR. Este material é parte do livro Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico, publicado e distribuído pelo Instituto Cristina Martins. Copyright© 2008 by Instituto Cristina Martins Editoração e Ilustrações: Simone Luriko Saeki Todos os direitos reservados. É permitida uma (01) cópia impressa deste material exclusivamente para o aluno matriculado neste módulo do curso a distância Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico, desenvolvido pelo Instituto Cristina Martins. Para solicitar o livro Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico na íntegra, entre em contato com: Instituto Cristina Martins. e-mail: instituto@institutocristinamartins.com.br Home-page: www.institutocristinamartins.com.br 181 Exame Físico da Massa Gorda, do Sistema Neuromuscular e da Condição Hídrica Cristina Martins OBJETIVOS DE APRENDIZADO Após a leitura deste capítulo, você deverá estar apto a: Citar os principais locais (sítios) do corpo para avaliação das reservas de massa gordurosa. Descrever os principais sinais de depleção e de excesso das reservas de gordura corporal. Identificar os principais sítios para avaliação das reservas de massa muscular. Enumerar os principais sinais de depleção das reservas de massa muscular. Definir tônus muscular. Descrever técnica de exame físico para avaliação do tônus muscular. Descrever três métodos de avaliação subjetiva da força muscular de um indivíduo. Identificar três razões nutricionais para a realização da avaliação subjetiva neurológica. Citar a função de cada um dos nervos cranianos periféricos. Definir os principais sinais físicos de desidratação e de edema. Descrever a classificação dos graus de edema. 182 Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico PROBLEMATIZAÇÃO ESTUDO DE CASO J.S.A., sexo masculino, 69 anos de idade, foi hospitalizado devido à pneumonia. História de acidente vascular cerebral (AVC) há oito meses com hemiplegia à direita. Refere perda de aproximadamente 20kg desde o AVC. Relata que mora em casa com a esposa e duas filhas adultas, que o ajudam na realização das atividades funcionais diárias. Relata que depois do AVC não conseguiu mais trabalhar e foi aposentado por invalidez. Deambula com dificuldade. Refere fraqueza generalizada. Sinais de perda significativa de massa na região sub-orbital, do tríceps e do bíceps. Perda significativa também nas áreas das têmporas, da clavícula, dos ombros, da escápula, do adutor e do quadríceps. A avaliação da força muscular nos membros superiores e inferiores mostrou que, sem a presença da gravidade, o paciente completou a maioria dos movimentos com resistência regular. Observado engasgos com a ingestão de líquidos finos e demora para engolir os alimentos. Assimetria facial com paralisia parcial; pregas nasolabiais desiguais, fechamento labial incompleto, armazenamento de alimentos na boca, mas ausência de baba. Observada fala “molhada” após a ingestão alimentar. Notada pouca coordenação motora e dificuldade de manuseio dos talheres. Alteração na sensação da pele da face, da mandíbula, do maxilar e da testa; assimetria na abertura da mandíbula. Ao tocar a faringe com um cotonete, não houve elevação dela; pouca elevação do palato e pequeno reflexo de náusea; a língua ficou protraída. Saliva com aspecto pegajoso. Os olhos estão secos e encovados. A pele do braço apresenta turgor ruim. Não foi observada a presença de edema. No caso de J.S.A., foi descrita a perda significativa de massa nas regiões sub-orbital, do 1. tríceps e do bíceps. Qual das massas, gordurosa ou muscular, é principalmente observada nesses locais do corpo? E qual foi a principal massa perdida nas têmporas, no deltóide, no adutor e no quadríceps 2. do paciente J.S.A.: gordurosa ou muscular? Qual é o resultado da aplicação da escala de Lovett para o paciente J.S.A.?3. Qual é o resultado do índice de Karnofsky do paciente J.S.A.? 4. A partir dos dados do exame físico do paciente J.S.A., quais nervos cranianos superficiais 5. podem estar afetados? O que pode estar refletindo os seguintes sinais físicos de J.S.A.: fadiga, saliva com aspecto 6. pegajoso, olhos secos e encovados, turgor ruim da pele? Como e quais os locais do corpo foram provavelmente avaliados para concluir que o 7. paciente não apresentava edema aparente? 183 Exame Físico da Massa Gorda, do Sistema Neuromuscular e da Condição Hídrica INTRODUÇÃO O exame físico e o julgamento clínico, envolvidos na avaliação nutricional, são essenciais para a obtenção de resultados acurados e completos. Por motivos didáticos, este livro divide o exame físico em tecidos de proliferação rápida e de sistemas, e em massa gorda, magra e condição hídrica corporal. O exame físico das massas gordurosa, muscular e da condição de hidratação, juntamente com o sistema neurológico, colabora com aspectos importantes do diagnóstico nutricional. Reforça-se que, nessa parte da avaliação, a classificação do grau de depleção ou de excesso é feita através da impressão subjetiva do avaliador. O exame físico utiliza, principalmente, as técnicas de inspeção e de palpação (Capítulo 6). As duas técnicas são executadas ao mesmo tempo, em cada área do corpo, antes de se mover para outra região. O exame deve ser organizado para iniciar na cabeça e seguir até os pés. Cada lado do corpo deve ser comparado com o seu oposto. Passando por cada parte do corpo, o avaliador deve integrar a avaliação de todos os sistemas e massas. A pesquisa geral, que ocorre no contato inicial com o avaliado, revela muita informação, pelo fato de refletir o estado nutricional global. É observada a condição geral de saúde, incluindo sinais físicos de depleção nutricional, como a perda de peso, de músculo esquelético ou de gordura subcutânea. A perda profunda de peso é um dos pontos mais importantes observados na inspeção geral. Os achados encontrados na pesquisa geral usualmente refletem depleção nutricional de longo prazo, e não recente. RESERVAS CORPORAIS GORDUROSAS A perda de gordura e de massa muscular altera os contornos naturais do corpo. A perda gordurosa significativa é avaliada através da inspeção de áreas onde o tecido adiposo está normalmente presente. Em primeiro lugar, o exame é feito para a perda geral de tecido adiposo. A avaliação é julgada pelo delineamento definido dos ossos, dos músculos e das veias (1). Para a verificação da presença de tecido adiposo na região, uma prega da pele pode ser pinçada com os dedos indicador e polegar. O delineamento dos músculos dos membros superiores e das veias está claramente aparente em caso de perda de gordura. O déficit de gordura subcutânea é usualmente observado na face (depressão na região sub-orbital e das bochechas), tríceps, bíceps e linha lateral média axilar (cintura). GORDURA DA FACE: SUB-ORBITAL E BOCHECHA No exame físico das reservas adiposas da face, duas regiões são importantes para observação: a sub-orbital e as bochechas. O avaliador examina as reservas de gordura nestas regiões e classifica, subjetivamente, o grau de perda. Na avaliação da região sub-orbital, o avaliador investiga olhos encovados ou pele flácida na região. Essa depleção da gordura é, freqüentemente, chamada de “olhos fundos”. Em indivíduos com estado nutricional normal, o acúmulo de gordura embaixo dos olhos tem a aparência de edema leve. Em pacientes desnutridos, pode ser detectada depressão ou, às vezes, área escura abaixo dos olhos. O avaliador investiga, também, as reservas de gordura nas bochechas. A peleflácida na região pode significar perda gordurosa importante. Essa avaliação é mais significativa para os indivíduos jovens e crianças do que para os idosos. O Quadro 7.1 apresenta a classificação e a demonstração de características diferentes das reservas de gordura na face. GORDURA NA REGIÃO DO TRÍCEPS E DO BÍCEPS Na região do tríceps e do bíceps, o avaliador deve, com os dedos indicador e polegar, desprender a gordura da parte muscular. O aspecto de pele “solta”, flácida, indica perda de gordura subcutânea na região. A região do tríceps é a mais sensível às perdas. O avaliador deve examinar as reservas gordurosas e classificar, subjetivamente, o grau de perda. O Quadro 7.2 mostra as diferentes características de reservas adiposas corporais nessas regiões. GORDURA NA REGIÃO DA CINTURA Na região da linha média axilar, ao nível inferior das costelas, pode-se também avaliar as reservas de gordura corporal. Porém, esse não é um local tão sensível às mudanças como as regiões sub-orbital e do tríceps. O avaliador observa e/ou pinça, com os dedos indicador 184 Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico Quadro 7.2 Classificação da condição nutricional a partir das reservas de gordura no braço Depleção Grave Depleção Leve/Moderada Normal Excesso Perda grande de gordura subcutânea em ambas as regiões Sinais de perda de gordura subcutânea em uma região, mas não em outra Nenhuma perda de gordura subcutânea nas regiões do bíceps e do tríceps Quantidade excessiva de tecido gorduroso no braço Quadro 7.3 Classificação da condição nutricional a partir das reservas de gordura na região inferior da costela Depleção Grave Depleção Leve/Moderada Normal Excesso Quadro 7.1 Classificação da condição nutricional a partir das reservas de gordura na face Depleção Grave Depleção Leve/Moderada Normal Excesso Perda grande de gordura subcutânea na região sub-orbital e bochecha Algum sinal de perda de gordura subcutânea em ambas ou uma das regiões Nenhuma perda de gordura subcutânea em ambas as regiões Quantidade grande de tecido gorduroso, principalmente na bochecha 185 Exame Físico da Massa Gorda, do Sistema Neuromuscular e da Condição Hídrica e polegar, a gordura da cintura. A classificação (Quadro 7.3) é feita de maneira subjetiva pelo avaliador. RESERVAS CORPORAIS MUSCULARES Os músculos esqueléticos são grupos de células contráteis ou fibras. As fibras se contraem e produzem movimentos quando recebem um estímulo do sistema nervoso central (SNC). O SNC é responsável pelas funções musculares voluntárias e involuntárias. Portanto, por serem inter-relacionados, os músculos esqueléticos devem ser avaliados em conjunto com o SNC. Em condições de depleção nutricional e denervação (ex.: esclerose múltipla), as reservas musculares podem reduzir significativamente. O repouso prolongado no leito e o envelhecimento também causam perda dos músculos. A atrofia muscular generalizada pode ser facilmente detectada pela visualização dos contornos ósseos, principalmente na região da escápula, das vértebras e da cintura pélvica. Em geral, os grupos musculares das partes superiores do corpo são os mais susceptíveis à perda. Porém, no exame físico completo das reservas musculares, todas as regiões são examinadas, incluindo a face. A razão é que a avaliação de um único músculo não é capaz de refletir as reservas do corpo todo. Quando a doença é sistêmica, a perda da função muscular é global. Porém, o desuso de algum conjunto de músculos, devido a qualquer causa, pode atrofiar partes específicas do corpo. No caso de desnutrição grave, qualquer músculo é representativo de todos. Para avaliar a musculatura, são usadas as técnicas de inspeção e de palpação. De modo sistemático, as reservas de massa muscular são observadas na região das têmporas, do deltóide e do quadríceps. O avaliador deve ter em mente que a massa muscular varia com o nível de atividade e com o estado nutricional. Atividades como levantamento de peso e corrida aumentam a massa muscular. Por outro lado, os músculos que não são usados, em situação de confinamento ao leito, especialmente dos braços e das pernas, atrofiam-se. A perda de massa muscular no quadríceps, por exemplo, pode ser avaliada pedindo ao paciente para se levantar, da posição sentada ou agachada. Pode-se avaliar, também, a capacidade do indivíduo em subir escadas. O Quadro 7.4 apresenta a classificação das perdas das reservas de massa muscular geral. Quadro 7.4 Classificação da condição nutricional a partir da perda das reservas de massa muscular geral Depleção Grave Depleção Leve/ Moderada Normal Sinal de perda grave em todas ou na maioria das regiões Sinais de perda em algumas regiões do corpo. Porém, sem evidência de perda em outras partes Sem evidência de perda MASSA MUSCULAR DA FACE: MÚSCULOS TEMPORAL E MASSETER Na face, os músculos das têmporas e o masseter (Fig. 7.1) são importantes devido à participação na mastigação. A atrofia do músculo temporal, com exposição do arco zigomático, sugere diminuição prolongada da mastigação. Essa redução pode ter ocorrido pela ingestão alimentar via oral deficiente ou ausente, ou devido a problemas como obstrução do trato digestório superior. Para visualizar os músculos das têmporas e o masseter, o avaliador pode virar a cabeça do paciente para o lado. Entretanto, em alguns casos, a região é melhor visualizada quando observada diretamente de frente. O avaliador observa a exposição, ou não, do arco zigomático e do contorno ósseo lateral da órbita. A exposição dessas estruturas ósseas forma o desenho virtual de uma “chave” (2) (Fig. 7.1). O Quadro 7.5 apresenta a classificação e a demonstração das características das reservas dos músculos temporal e masseter. Fig. 7.1 Demonstração dos músculos temporal e masseter, e do arco zigomático 186 Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico MÚSCULOS DA REGIÃO DO DELTÓIDE Clavícula Na região do deltóide, o primeiro passo para a avaliação das reservas musculares é a observação da extensão da linha da clavícula (Fig. 7.2). Quanto menor a massa muscular, mais proeminente é o osso. Forma-se uma depressão usualmente chamada de “saboneteira”. Um aspecto importante é que existem diferenças entre homens e mulheres nas características normais da musculatura da região. Nos homens com reservas musculares normais, a clavícula não é usualmente visível. Nas mulheres, mesmo em condições normais, a clavícula pode estar visível. O Quadro 7.6 demonstra as características de diversos níveis de reservas musculares na região da clavícula. Ombros e Escápula Como mostrado na Fig. 7.2, o músculo deltóide está conectado ao úmero, cobrindo a proeminência dos ombros, na parte anterior, lateral e posterior do corpo. Para avaliar essa musculatura, o avaliador pode posicionar os braços do paciente para baixo, ao lado do corpo. Deve ser possível pinçar o tecido muscular presente na junção do ombro. Na parte posterior do corpo, o avaliador observa a presença de depressões ao redor da escápula. Para melhor definir esses grupos musculares, o observador pode solicitar que o paciente estenda o braço para frente e empurre a mão contra um objeto sólido. O grau de perda pode variar na localização e na profundidade. O Quadro 7.7 demonstra características de reservas musculares nesta região. MÚSCULOS INTERCOSTAIS A região das costelas também pode refletir as reservas musculares corporais. Para avaliação dos músculos na região, o avaliador deve observar as depressões entre as costelas. A avaliação pode ser facilitada solicitando que o paciente coloque um braço estendido para frente e pressione a mão contra um objeto sólido. O Quadro 7.8 apresenta características de diversos níveis de reservas musculares na região das costelas. MÚSCULOS DO DORSO DAS MÃOS Os músculos interósseos, particularmente o adutor do polegar, são essenciais para a realização de atividadesda vida diária. Entre elas, a realização da própria alimentação (2). Embora esses músculos tenham reflexo da atividade laborativa, suas reservas também refletem a condição muscular corporal global. Para avaliar as reservas musculares na região, o avaliador solicita que o avaliado coloque as mãos apoiadas em superfície plana. O avaliador observa a condição de reserva dos músculos interósseos, particularmente o adutor. Para facilitar o exame do músculo adutor do polegar, o avaliador solicita que o avaliado pressione as pontas dos dedos polegar e indicador, uma contra a outra. Normalmente, o músculo irá protrair. Em casos de perda muscular do adutor do polegar, a região pode apresentar depressão, formando uma concha (2). A quantidade de tecido muscular do adutor apresenta variação entre os sexos. Caso esteja plano, pode ser sinal de desnutrição em homens. Porém, não necessariamente em mulheres. Quadro 7.5 Classificação da condição nutricional a partir da perda de massa muscular temporal e do masseter Depleção Grave Depleção Leve/Moderada Normal Depressão grande e profunda nas têmporas. Visualização do arco zigomático, contorno ósseo envolvendo a órbita e ramo ascendente da mandíbula Depressão leve/moderada próxima às têmporas. Pouca ou nenhuma exposição do arco zigomático Músculo aparente nas têmporas. Região reta e plana 187 Exame Físico da Massa Gorda, do Sistema Neuromuscular e da Condição Hídrica Fig. 7.2 Anatomia dos tecidos musculares da região do deltóide Quadro 7.6 Classificação da condição nutricional a partir da perda das reservas de massa muscular na região da clavícula Depleção Grave Depleção Leve/Moderada Normal Clavícula bastante proeminente Difícil de distinguir Clavícula não visível em homens; pode ser visível em mulheres Homens Mulheres Quadro 7.7 Classificação da condição nutricional a partir da perda de massa muscular na região dos ombros e escápula Depleção Grave Depleção Leve/Moderada Normal Ombros quadrados. A protrusão do acrômio é bastante proeminente. Escápula visível. Perda evidente de tecido nas depressões acima da escápula, entre esta e a articulação do ombro, e entre a espinha dorsal Embora os ombros não estejam quadrados, a protrusão do acrômio pode estar evidente. Os músculos podem parecer definhados. Podem existir depressões em todas as regiões ao redor do osso Ombros redondos, especialmente na junção entre o pescoço e o ombro. Escápula não proeminente. Não existem depressões ao redor do osso 188 Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico MÚSCULOS DAS PERNAS Quadríceps e Joelho Embora não sejam tão sensíveis quanto os grupos da parte superior do corpo, os músculos do quadríceps (Fig. 7.3) também podem ser examinados. Com o paciente em posição sentada, o avaliador pinça o quadríceps com os dedos indicador e polegar, para diferenciar o tecido muscular do gorduroso. Nesse momento, o avaliador pode, também, observar o grau de perda dos músculos ao redor do joelho. O Quadro 7.10 apresenta diferentes níveis de classificação da condição muscular do quadríceps e da região do joelho. Panturrilha Os músculos da panturrilha têm importância especial na deambulação (2). Para avaliar a condição muscular na região, o avaliador usa os dedos indicador e polegar para pinçar o músculo da panturrilha e determinar a quantidade Fig. 7.3 Anatomia muscular do quadríceps da coxa Quadro 7.8 Classificação da condição nutricional a partir da perda de massa muscular na região das costelas Depleção Grave Depleção Leve/Moderada Normal As costelas estão muito aparentes As costelas podem estar aparentes, mas as depressões não estão tão pronunciadas As costelas não aparecem Quadro 7.9 Classificação da condição nutricional a partir da perda de massa muscular nas mãos Depleção Grave Depleção Leve/Moderada Normal Depressão profunda do músculo adutor A depressão pequena do músculo adutor Mulher: músculo adutor plano. Homem: mús- culo proeminente Homens Mulheres 189 Exame Físico da Massa Gorda, do Sistema Neuromuscular e da Condição Hídrica de tecido. O Quadro 7.11 demonstra diferentes níveis de reservas de massa muscular na região da panturrilha. CAPACIDADE FUNCIONAL A capacidade funcional significa a habilidade que um indivíduo tem de desempenhar atividades da vida diária (trabalho, tarefas cotidianas e autocuidado) (3). Os músculos dão ao corpo a sua forma e a capacidade de se mover. Portanto, o exame muscular deve englobar a avaliação da mobilidade e da força. Estas condições determinam a capacidade funcional de um indivíduo. A capacidade motora, em geral, pode ser avaliada através da inspeção e da palpação dos braços, dedos, pulso, cotovelo e ombros. A condição dessas áreas reflete a habilidade que o indivíduo tem de comer e manipular talheres (4). A inspeção também pode identificar a presença de artrite e de outras alterações nas articulações, além de deformidades. Através da inspeção, é observada a simetria, o tônus e a força muscular. TÔNUS MUSCULAR Tônus muscular significa a capacidade de contração de um músculo, que determina a sua firmeza. O tônus reflete a resistência ao estiramento passivo apresentado por um músculo. Para testar o tônus muscular do braço, por exemplo, o avaliador pode mover o membro do avaliado ao redor do ombro, através de movimento passivo (5). É normal existir resistência leve. Então, o avaliador solta o braço do avaliado, que deve cair facilmente ao lado do corpo. Em condições anormais pode ocorrer rigidez muscular ou flacidez. A rigidez indica aumento do tônus muscular, possivelmente causado por lesão neuromotora superior, como no acidente vascular cerebral (5). A flacidez pode ser conseqüência de lesão neuromotora inferior. FORÇA MUSCULAR A força muscular é importante para determinar a função e a capacidade do músculo esquelético. O objetivo dessa avaliação é, também, identificar a capacidade funcional de um indivíduo. Além disso, a avaliação pode servir para acompanhar a resposta à Quadro 7.11 Classificação da condição nutricional a partir da perda de massa muscular na região da panturrilha Depleção Grave Depleção Leve/Moderada Normal Redução acentuada na região Difícil de detectar Aparência normal Quadro 7.10 Classificação da condição nutricional a partir da perda de massa muscular na região do quadríceps e do joelho Depleção Grave Depleção Leve/Moderada Normal Significativamente reduzido. Ossos do joelho protraídos Redução moderada ou pequena do quadríceps e ao redor dos joelhos Aparência normal 190 Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico terapia nutricional. Para isso, são realizadas medidas iniciais e periódicas. Um simples aperto de mãos entre o avaliador e o avaliado pode medir a força dos músculos da região. Outra maneira é o avaliador ficar de frente para o avaliado, estender os dedos indicador e médio de cada mão e solicitar que os segure e aperte (5). Para testar grupos musculares específicos, o avaliador pode solicitar que o avaliado mova seus músculos enquanto aplica resistência (Fig. 7.4). Para testar a força dos músculos que rodeiam os ombros, o avaliador pede ao avaliado para estender os braços com a palma da mão para cima, mantendo a posição por 30 segundos (5). Caso não consiga levantar os dois braços igüalmente e manter a palma da mão para cima, ou se um braço cai, provavelmente existe fraqueza nos músculos que rodeiam o ombro, em ambos os lados ou naquele que caiu. O próximo passo é segurar e puxar as mãos do avaliado com o cotovelo flexionado, enquanto ele realiza força oposta. Para testar a força do bíceps, o avaliador empurra o braço do avaliado para baixo, enquanto este realiza força oposta (Fig. 7.4). Para o tríceps, o avaliador puxa o braço para cima, enquanto o avaliado o força para baixo. Para avaliar a força dos membros inferiores, o avaliador solicita que o paciente deite em posição supina e levante as duas pernas ao mesmo tempo (5). O avaliador observase o paciente consegue realizar a tarefa ao mesmo tempo e à mesma distância. Para testar a força do quadríceps, o avaliador pede ao avaliado abaixar as pernas e levantá-las novamente, enquanto pressiona as coxas anteriores para baixo (5). Para avaliar a força na parte inferior da perna, o avaliador pede para o paciente flexionar seus joelhos e colocar os pés retos na cama (5). Então, o avaliador puxa a parte inferior da perna do avaliado para frente, enquanto este resiste, e a empurra de volta. Por fim, para avaliar a força do tornozelo, o avaliador pede ao paciente para empurrar o pé para baixo, contra sua resistência. Então, puxar para cima, com pressão oposta (5). Escala de Lovett A escala de Lovett é usada para medir a força muscular (Quadro 7.12). Através da aplicação de alguns ou todos os testes anteriormente descritos, o grau da força muscular pode ser classificado dentro de uma escala de 0 a 5. O zero representa “nenhuma” e o cinco reflete o “máximo” de força (5). Quadro 7.12 Escala de Lovett para determinação da força muscular (6) Classificação Resultado Descrição 5 Normal Completa o movimento com resistência total 4 Bom Completa o movimento com boa resistência 3 Regular Completa o movimento com resistência regular, na presença da gravidade 2 Ruim Completa o movimento somente sem a presença de gravidade 1 Traços Não completa movimento algum nas articulações; evidência leve de contração muscular 0 Zero Nenhuma evidência de contração muscular Índice de Karnofsky Outro método que pode ser usado para avaliar a capacidade funcional é o índice de Karnofsky (7). Este é um método antigo, desenvolvido para medir o nível de atividade de pacientes oncológicos e a necessidade de cuidados médicos (8). É uma medida global do grau de independência do indivíduo. O índice de Karnofsky é uma escala simples e prática. Um ponto importante do instrumento é a indicação do prognóstico do paciente. Classifica o indivíduo em três grandes grupos, conforme o grau de capacidade física (Quadro 7.13), e em 11 categorias. O prognóstico acompanha o resultado percentual, que varia do normal (100%) até o óbito (0%). Fig. 7.4 Teste para força muscular 191 Exame Físico da Massa Gorda, do Sistema Neuromuscular e da Condição Hídrica SISTEMA NEUROLÓGICO O sistema neurológico controla todas as funções corporais. Em virtude da complexidade, a avaliação neurológica nutricional pode parecer complicada. Porém, a simples observação da fala do paciente é suficiente para avaliar o seu nível de orientação e de consciência. Também, assistir o avaliado na execução de atividades simples, como caminhar, permite a avaliação da capacidade motora. Como o indivíduo se movimenta? Como se senta? Como se levanta? Como está deitado? Como se mexe no leito? Com essa análise, é possível avaliar a força e a simetria dos movimentos. A coordenação motora pode ser testada solicitando que o avaliado toque o dedo indicador no nariz. Também, pode ser solicitado que o paciente realize tarefas simples, como simular uma refeição, levando os utensílios até a boca (4). A avaliação neurológica tem o objetivo principal de avaliar a capacidade do indivíduo em executar, de maneira independente, as tarefas relacionadas à alimentação. Essas incluem o movimento da mão à boca, o uso de utensílios para pegar os alimentos e o manuseio de pratos, copos e canudos. A condição de alerta mental e os sinais de demência ou de distúrbios de comportamento podem ser observados através da conversa (entrevista) com o avaliado. A maneira como o indivíduo responde às perguntas fornece idéia sobre seu nível de orientação e memória. Pelo fato da confusão e da desorientação não serem imediatamente aparentes, o uso de perguntas abertas, ao invés de fechadas (Capítulo 5) podem ser mais apropriadas para a avaliação. Caso existam dúvidas sobre o estado mental do paciente, perguntas específicas podem ser realizadas, como o nome do avaliado, o nome da mãe, a idade ou quem é o presidente atual do país (5). A Escala de Glasgow é uma ferramenta utilizada para avaliar o nível de consciência do paciente. Ela está apresentada no Capítulo 20 deste livro. O exame neuromuscular tem como objetivo avaliar a força dos músculos e os reflexos do corpo. Os reflexos podem ser testados para identificar distúrbios no SNC (4). No ato do reflexo, um músculo é contraído quando o tendão é percussionado. Eles são testados através do uso de um martelo específico. Para resultar em resposta do tendão, o membro do avaliado deve estar relaxado e posicionado de maneira apropriada e simétrica. O examinador segura o martelo entre os Quadro 7.13 Escala de Karnofsky para avaliação da capacidade funcional (8) Capacidade Física Índice (%) Critério Específico/Prognóstico Grupo 1 Capaz de exercer suas atividades normais e trabalhar 100 Normal; bom estado geral, sem queixas. Nenhuma evidência de doença Não necessita de cuidados especiais 90 Capaz de realizar normalmente as atividades de rotina. Sinais e sintomas mínimos de doença 80 Executa atividades de rotina com esforço. Apresenta alguns sinais e sintomas da doença Grupo 2 Incapaz de trabalhar. Capaz de viver em casa Necessita de grau variável de assistência 70 Incapaz de executar atividades normais ou realizar trabalho ativo, mas é capaz de cuidar de si próprio 60 Necessita de auxílio ocasional, mas é capaz de cuidar da maioria de suas atividades básicas 50 Requer auxílio considerável em quase todas as atividades e deve ser assistido, freqüentemente, por equipe médica Incapaz de manter o autocuidado 40 Incapacitado, requer auxílio e cuidados especiais, para todas as atividades diárias, e deve ser assistido por equipe médica Grupo 3 Requer cuidado institucional ou hospitalar A doença pode estar progredindo rapidamente 30 Gravemente incapacitado; necessita de hospitalizações esporádicas, apesar da morte não ser iminente 20 Muito doente; necessita de hospitalização; precisa de tratamento ativo de suporte 10 Moribundo; grande risco de morte iminente 0 Morte 192 Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico dedos polegar e indicador, permitindo que este se movimente livremente entre a palma das mãos e os outros dedos. Com movimentos do pulso, o martelo é batido rapidamente sobre o tendão (4). Os reflexos são geralmente testados na patela, no calcanhar (Aquiles), no bíceps, no braquioradial e no tríceps (Fig. 7.5). O tendão patelar é, usualmente, o mais fácil de testar. Para flexionar o joelho e esticar os tendões, a parte inferior das pernas deve estar pendurada. Então, o tendão recebe uma batida, abaixo da patela. O joelho deve se estender. Os reflexos devem ser comparados um lado com o outro do corpo. A resposta do reflexo é classificada em uma escala de 0 a 4. O zero indica nenhum reflexo, o 2+ reflete a resposta média normal e 3-4 indica hiperatividade. Através dos testes de reflexos dos tendões profundos, podem ser identificados a tetania, a neuropatia periférica ou o edema doloroso das articulações. A perda de movimentos musculares espasmódicos involuntários no tornozelo ou no joelho pode ocorrer devido à neuropatia periférica. Esta pode ser conseqüência da deficiência de tiamina ou de vitamina B12. Outra avaliação neurológica importante é a dos nervos cranianos. Esses coordenam as fases oral, gástrica e intestinal da ingestão. A Fig. 7.6 mostra a localização dos nervos cranianos. O Apêndice 7.1 apresenta as técnicas para avaliação de cada nervo, assim como suas possíveis anormalidades. CONDIÇÃO HÍDRICA A condição hídrica é parte do exame físico nutricional. Os sinais extremos opostos das anormalidades hídricas são a desidratação e o edema. O Apêndice 7.2, ao final deste capítulo, mostra as principais características das alterações no estado de hidratação. DESIDRATAÇÃO No exame físico nutricional, é importante observar a cor e a turbidez da urina. As características dela refletem o estadohídrico do avaliado. A urina normal é clara e de cor âmbar-amarelo. Em condições de desidratação, o volume urinário é pequeno. E a urina Fig. 7.5 Teste de reflexos de tendão profundo. Fonte: adaptado de Springhouse, 2002 (5) e DNS, 2000 (9) Fig. 7.6 Localização dos nervos cranianos. Fonte: Lefton, 1999 (10) 193 Exame Físico da Massa Gorda, do Sistema Neuromuscular e da Condição Hídrica Fig. 7.8 Edema de depressão de palpação. O edema pode ser sistêmico (corpo inteiro) ou localizado. As causas do edema sistêmico incluem insuficiência cardíaca, insuficiência renal, com retenção de sal e água, e hipoalbuminemia. Causas de edema localizado são: a estase venosa ou linfática e posição corporal prolongada (ex.: sentado ou em pé). No exame físico para edema, as manifestações devem ser observadas nos membros inferiores e no sacro. Em um indivíduo deambula e se movimenta, o tornozelo e os pés são os melhores locais para a avaliação. A presença de edema na região sacral é importante de ser examinada naqueles com atividade física restrita. Ou seja, pacientes acamados e em cadeira de rodas podem exibir edema dependente na região sacral (12). Com o edema, a pele tem aparência esticada, brilhante e inflada. ocorre palidez localizada. A inspeção das veias do pescoço pode mostrar jugular distendida, indicando acúmulo corporal de líquidos. O avaliador usa os dedos indicador, médio ou o polegar para pressionar gentilmente o local (Fig. 7.8). Então, o edema de depressão (Fig. 7.8) resulta da pressão de um dedo ou instrumento. É conseqüência do acúmulo de líquido no espaço intersticial. A condição pode ocorrer devido a desnutrição protéica e por várias outras causas, como a insuficiência cardíaca, a gestação, a imobilização e veias varicosas. Na desnutrição, o edema é resultado da diminuição da pressão oncótica dentro dos vasos sangüíneos. O problema ocorre devido aos níveis baixos de albumina sérica (<2,5mg/dL). Esse edema pode ser classificado em uma escala de 1 a 4. Também existe o edema muscular (Fig. 7.9). pode estar escura e concentrada. O turgor da pele é, também, um reflexo do estado hídrico (11). Em adultos, o turgor é avaliado através do pinçamento delicado de uma prega da pele do antebraço, com os dedos indicador e polegar (Fig. 7.7). Em crianças, a prega é geralmente pinçada na região abdominal. A prega é, então, liberada. Caso a pele retorne rapidamente à sua forma original, isso é sinal de turgor bom. Porém, caso a prega só retorne lentamente à sua forma original (mais de 30 segundos) ou mantenha a posição elevada, significa que o turgor está ruim. O sinal pode indicar perda de líquido (desidratação) ou redução excessiva de peso. Além do turgor ruim da pele, outros sinais precoces de desidratação incluem: cefaléia, fadiga, perda de apetite, boca e olhos secos, urina escura e com odor forte, saliva espessa, tontura ao mudar de posição, e outros (Apêndice 7.2). EDEMA O lado oposto da desidratação é o edema. Este reflete acúmulo corporal de líquidos. O edema generalizado pode estar relacionado à pressão oncótica diminuída, a partir dos níveis baixos de albumina sérica. A hipoalbuminemia pode estar relacionada à ingestão alimentar deficiente, às perdas de proteínas ou à alteração no metabolismo protéico. Além da hipoalbuminemia, o edema pode ocorrer devido a problemas cardiopulmonares e renais. A presença de ascite (edema localizado na região abdominal) também pode ser um sinal de depleção nutricional. Portanto, em análise do problema, o avaliador deve considerar somente aquele que resulta da desnutrição. Então, devem ser descartadas todas as outras causas, antes de associar o edema ao estado nutricional. A presença e o grau do edema são avaliados através da utilização das técnicas de inspeção e Fig. 7.7 Sinal de desidratação: turgor ruim da pele 194 Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico CONCLUSÃO Um componente importante da avaliação nutricional subjetiva é o exame físico. Por motivos didáticos, o exame físico pode se dividir em tecidos de proliferação rápida, de massas corporais e da condição hídrica. Neste capítulo, foi discutida a avaliação das massas gorda e magra, e todas as implicações da depleção dessas reservas, como a redução da capacidade funcional. Na avaliação das reservas gordurosas, alguns sítios corporais são essenciais de serem observados, como a região sub-orbital, as bochechas, as áreas do tríceps, bíceps e costelas inferiores. Para as reservas de massa muscular, vários sítios de observação são, também, utilizados. Entre eles, estão os os músculos das têmporas, o masseter, o adutor, das regiões da clavícula, escápula, ombros, intercostais, quadríceps, joelho e panturrilha. As reservas musculares são, primariamente, responsáveis pela capacidade funcional, ou de desempenho físico, de um indivíduo. Portanto, não só as reservas, mas a função dos músculos é importante de ser avaliada. Para avaliar a função muscular, o exame físico busca informações sobre a mobilidade (tônus) e a força. A rigidez e a flacidez são ambos sinais anormais para o tônus muscular. A força é avaliada de várias formas, incluindo o uso de testes específicos em membros superiores e inferiores do corpo. A Escala de Lovett é uma ferramenta que pode ser utilizada para avaliação da força muscular. Outro instrumento que avalia a capacidade funcional é o Índice de Karnofsky, no qual os resultados indicam o prognóstico do paciente. Pelo fato do sistema neurológico controlar todas as funções do corpo, sua avaliação subjetiva também é essencial para a análise dos riscos nutricionais de um indivíduo. Os reflexos podem ser testados na avaliação de distúrbios do SNC. A avaliação da atividade dos nervos cranianos superficiais é um aspecto importante do exame físico nutricional. A última parte é a avaliação da condição hídrica. Dois extremos podem ser observados: a desidratação e a sobrecarga (edema). Achados físicos diversos caracterizam ambos os distúrbios e direcionam para a terapia nutricional adequada. Enfim, o exame físico nutricional, envolvendo a avaliação das reservas e da função das massas corporais e da condição hídrica, exige técnicas e treinamento especializado. Fig. 7.9 Classificação dos graus de edema. Adaptado de DNS, 2000 (9) Edema +1 Edema +2 Depressão leve (2mm) Contorno normal Associado com volume líquido intersticial 30% acima do normal Depressão mais profunda após pressão (4mm) Prolonga mais do que o +1 Contorno quase normal Edema +3 Edema +4 Depressão profunda (6mm) Permanece vários segundos após a pressão Edema de pele óbvio pela inspeção geral Depressão profunda (8mm) Permanece por tempo prolongado após a pressão, possivelmente minutos Inchaço evidente Edema Muscular O líquido não pode mais ser deslocado devido ao acúmulo excessivo no interstício Sem endentação Palpação do tecido é firme ou dura A superfície da pele é brilhante, morna e úmida 195 Exame Físico da Massa Gorda, do Sistema Neuromuscular e da Condição Hídrica REFERÊNCIAS 1. Jeejeebhoy K: Nutritional assessment. Gastroenterology Clinics of North America 27(2):347-369, 1998 2. Lameu E, Andrade PV, Luiz RR: Avaliação Muscular Subjetiva, in: Lameu, E, editor. Clínica Nutricional. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. p. 179-187 3. Neal LJ: Basic musculoskeletal assessment: tips for the home health nurse. Home HealthCare Nurse 15(4):227-235, 1997 4. Hammond K: History and physical examination, in: Matarese, LE, Gottschlich, MM, editors: Contemporary Nutrition Support Practice. 2 ed. St. Louis: Saunders; 2003. p. 14-30 5. Springhouse: Assessment made incredibly easy. 2 ed. Ambler, Lippincott Williams & Wilkins, 2002 6. Ignatavicius DD: Assessment of the musculoskeletal system, in: Ignatavicius, DD, Workman, ML, Mishler, MA, editors: Medical- Surgical Nursing: A Nursing Process Approach. Philadelphia: W.B. Saunders Company; 1995. p. 1042 7. Schag CC,Heinrich RL, Ganz PA: Karnofsky performance status revisited: Reliability, validity and guidelines. 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Rio de Janeiro: Revinter; 2005. 196 Avaliação do Estado Nutricional e Diagnóstico APÊNDICE 7.1 A Avaliação dos Nervos Cranianos Superficiais NERVO/FUNÇÃO TESTE ANORMALIDADE Olfatório (I) Olfato Solicitar que o paciente faça testes com diferentes odores. Alteração do olfato. Ótico (II) Visão Solicitar que o paciente reconheça imagens. Deficiência visual, cegueira parcial ou completa. Oculomotor (III) Movimento dos olhos, elevação da pálpebra superior, acomodação e reflexos à luz Observar movimentos e reflexos oculares Alteração dos movimentos oculares conjugados (na mesma direção) ou convergentes, ptose (queda da pálpebra superior), acomodação deficiente (foco próximo) Troclear (IV) Rotação ocular para baixo e para cima Solicitar que o paciente direcione o olhar para objetos localizados acima ou abaixo da sua linha visual Habilidade alterada em olhar para baixo e para cima, inclinação compensatória da cabeça Trigêmio (V) Sensação das estruturas muco- cutâneas da face, escalpo, boca, nariz e dentes. Testar a face, juntamente com a mandíbula, maxilar e testa, com um objeto pontiagudo (alfinete), um de ponta cega (abaixador de língua) e outro macio (cotonete). Também, pode-se pedir ao paciente para fechar os dentes e observar a força da contração muscular. Alteração da sensação da pele facial ou da mucosa oral; baba. Controla os músculos da mastigação Solicitar que o paciente abra e feche a mandíbula. Então pedir para resistir às tentativas do examinador de fechar a mandíbula Alteração da capacidade mastigatória; assimetria na abertura ou fechamento da mandíbula; atrofia muscular. Abducente (VI) Movimento dos olhos Observar movimentos e reflexos oculares Incapacidade de desviar os olhos lateralmente; pode resultar em visão dupla. Facial (VII) Controle dos músculos da expressão facial e músculos dos lábios e bochechas. Pedir ao paciente para sorrir até mostrar os dentes e levantar as sobrancelhas, ou pedir para mostrar os dentes inferiores e superiores. Assimetria facial, paralisia facial parcial ou completa, atrofia muscular; reflexo do piscar alterado, pregas nasolabiais desiguais, fechamento labial incompleto. Baba. Armazenamento de alimentos na boca. Controle do paladar nos 2/3 anteriores da língua Solicitar que o paciente faça testes com diferentes paladares Alteração da percepção do paladar. Inervação das glândulas lacrimais, submandibulares e sublinguais. Observar secreção salivar. Perguntar ao paciente sobre sua produção de lágrimas. Produção de saliva ou lágrimas alterada, assimétrica ou ausente. Vestibulococlear (VIII) Audição e equilíbrio Testar audição e equilíbrio Alteração da sensação de equilíbrio ou de estímulos de orientação de audição. Glossofaríngeo (IX) Deglutição; sensação da faringe, amígdalas, palato mole; elevação do palato mole Reflexo de náusea: tocar a faringe posterior com um cotonete. Procurar por elevação da faringe e retração da língua. Pedir ao paciente para dizer “Ahhh”. Procurar por elevações bilaterais do palato mole e linha média da úvula. Alteração da deglutição, nenhuma elevação faríngea, elevação limitada do palato, armazenamento de alimentos na boca, tempo prolongado de alimentação e possível risco de aspiração. Controle do paladar no terço posterior da língua Solicitar que o paciente faça testes com diferentes paladares Alteração da percepção de paladar. Inervação da glândula parótida Observar simetria das parótidas. Alteração das secreções de parótida. Vago (X) Deglutição: movimento do palato mole, faringe e laringe. Testar os nervos glossofaríngeo e vago ao mesmo tempo (ver procedimento do glossofaríngeo). Língua protraída. Deve estar na linha média. Alteração da deglutição, disfagia. Fala Rouquidão, alteração da fala. Controle dos reflexos cardiorespiratórios Síncope, tontura. Controle das secreções e a mobilidade gastrintestinal Refluxo, disfagia, dispepsia, síndrome de Dumping, gastroparesia, acloridria. Acessório Espinhal (XI) Inervação do trapézio esternomastóide Avaliar a rotação da cabeça e simetria dos ombros Elevação do ombro ou rotação da cabeça assimétrica ou limitada Hipoglosso (XII) Inervação dos músculos da língua Testar os nervos glossofaríngeo e vago ao mesmo tempo (ver procedimento do glossofaríngeo). Língua protraída. Deve estar na linha média. Desvio da língua, atrofia, disfagia, armazenamento de alimentos na boca, tempo prolongado de alimentação. Adaptado de Touger-Decker R, Sirois DA. Support Line, 18(5):1-6, 1996; Brody R. Nutr Clin Pract, 14:S47-S51, 1999 197 Exame Físico da Massa Gorda, do Sistema Neuromuscular e da Condição Hídrica APÊNDICE 7.2 Avaliação do Estado de Hidratação Apresentação Clínica Possíveis Etiologias Desidratação (déficit de líquidos corporais) ALTERAÇÕES NOS SINAIS VITAIS INGESTÃO INADEQUADA DE LÍQUIDOS Pressão arterial diminuída/hipotensão postural Pressão venosa central diminuída Pressão da artéria pulmonar diminuída Ritmo cardíaco aumentado (taquicardia) Temperatura aumentada Resistência vascular sistêmica aumentada ACHADOS FÍSICOS Ingestão hídrica menor que a excreção Diminuição aguda do peso (≥0,5kg/dia) Olhos secos, encovados Urina de coloração escura, oligúria (<30mL/ h sem insuficiência renal) Membranas mucosas secas Saliva “pegajosa” Turgor ruim da pele Pele fria, pálida e úmida Veia jugular achatada (<3 cm quando vazia ou em descanso) EFEITOS MENTAIS Tontura Confusão DADOS LABORATORIAIS Sódio sérico elevado Cloreto sérico elevado Uréia sérica elevada Creatinina elevada Hemoglobina elevada Osmolaridade sérica elevada Gravidade urina-específica elevada Líquidos intravenosos (IV) Ingestão de líquidos via oral Líquido insuficiente via sonda PERDAS EXCESSIVAS Diaforese Diarréia/vômitos Fístulas, drenos, ostomias Diálise, hemofiltraçao Febre persistente Feridas, queimaduras, paracentese Hemorragia Poliúria Medicamentos Anabolismo Edema (excesso de líquidos corporais) ALTERAÇÕES NOS SINAIS VITAIS Pressão arterial aumentada Débito cardíaco aumentado Pressão venosa central aumentada Pressão da artéria pulmonar aumentada ACHADOS FÍSICOS Ingestão hídrica maior que a excreção Aumento agudo de peso (≥0,5kg/dia) Olhos empapuçados e saltados Urina com coloração clara Pele úmida Edema (periférico e sacral) Anasarca Encurtamento da respiração, dispnéia Distensão da veia jugular (>3cm ao sentar) INGESTÃO EXCESSIVA DE LÍQUIDOS Procedimentos cirúrgicos Líquidos IV RETENÇÃO INTERSTICIAL DE LÍQUIDOS Hipoalbuminemia PROCESSOS DE DOENÇA Insuficiência renal Insuficiência hepática, ascite Insuficiência cardíaca congestiva SIADH Hipertensão severa Adaptado de Charney P, Malone, A.: ADA pocket guide to nutrition assessment. Chicago, American Dietetic Association, 2004 Informação do Módulo3 Capitulo7_ebook
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