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Página 1 Flávia Sanagiotto Ross Medicina UNOESC - TXXXV Bloqueadores Neuromusculares São antagonistas colinérgicos, fármacos que se ligam aos colinoceptores (muscarínicos ou nicotínicos) e previnem os efeitos da acetil-colina (ACh) ou outros agonistas colinérgicos. Os BNMs bloqueiam a transmissão colinérgica entre o terminal nervoso motor e o receptor nicotínico no músculo esquelético. Eles possuem alguma similaridade química com ACh e atuam como antagonistas (tipo não despolarizante) ou como agonistas (tipo despolarizante) nos receptores da placa motora da JNM. Os BNMs são úteis clinicamente durante cirurgias para facilitar a intubação endotraqueal e oferecer relaxamento muscular completo em doses anestésicas baixas, permitindo recuperação mais rápida da anestesia e diminuindo a depressão respiratória pós- cirúrgica. BLOQUEADORES NÃO DESPOLARIZANTES (COMPETITIVOS) Os fármacos BNMs aumentaram significativamente a segurança da anestesia, pois passou a ser necessário menos anestésico para obter relaxamento muscular, permitindo ao paciente se recuperar mais rápida e completamente após a cirurgia. Os BNMs não devem ser usados como substitutos de anestesia inadequadamente profunda. Mecanismo de ação: • Doses baixas: os fármacos não despolarizantes bloqueiam competitivamente a ACh nos receptores nicotínicos. Isto é, eles competem com a ACh pelo receptor sem estimulá-lo. Assim, esses fármacos impedem a despolarização da membrana da célula muscular e inibem a contração muscular. A ação competitiva pode ser superada pela administração de inibidores da colinesterase, como neostigmina e edrofônio, que aumentam a concentração de ACh na JNM. Os anestesiologistas empregam essa estratégia para diminuir a duração do bloqueio neuromuscular. Além disso, em dosagens baixas, os músculos respondem em graus variados à estimulação elétrica direta de um estimulador periférico, permitindo monitorar a extensão do bloqueio neuromuscular. • Doses elevadas: os bloqueadores não despolarizantes podem bloquear os canais iônicos na placa motora. Isso leva a um enfraquecimento adicional na transmissão neuromuscular, reduzindo, assim, a possibilidade de os inibidores da colinesterase reverterem a ação dos bloqueadores não despolarizantes. Com o bloqueio completo, o músculo não responde à estimulação elétrica direta. Ações: nem todos os músculos são igualmente sensíveis aos bloqueadores competitivos. Os músculos pequenos de contração rápida da face e dos olhos são mais suscetíveis e são paralisados primeiro, seguidos de dedos, pernas, músculos do pescoço e do tronco. Em seguida, são atingidos os músculos intercostais e, finalmente, o diafragma. Os músculos se recuperam na ordem inversa. Farmacocinética: todos os BNMs são injetados por via intavenosa (IV) ou ocasionalmente por via intramuscular (IM), pois não são eficazes por via oral. Esses fármacos possuem duas ou mais aminas quaternárias na sua estrutura anelar volumosa, que previnem sua absorção no intestino. Eles penetram pouco nas membranas, não entram nas células e nem atravessam a barreira hematencefálica. Vários desses fármacos não são biotransformados, e suas ações terminam por redistribuição. Por exemplo, o pancurônio é excretado inalterado na urina. O cisatracúrio é degradado espontaneamente no plasma e por hidrólise de éster. (Nota: o atracúrio foi substituído pelo seu isômero, cisatracúrio. Ele libera histamina e é biotransformado na laudanosina, que pode provocar convulsões. O cisatracúrio, que tem as mesmas propriedades farmacocinéticas do atracúrio, é menos propenso a causar esses efeitos.) Os aminoesteroides (vecurônio e rocurônio) são desacetilados no fígado, e suas depurações são mais demoradas em pacientes com doença hepática. Esses fármacos também são excretados inalterados na bile. A escolha de um desses fármacos depende do início e da duração do relaxamento muscular desejados. Efeitos adversos: Em geral, os fármacos são seguros, com efeitos adversos mínimos. FÁRMACOS DESPOLARIZANTES Os fármacos bloqueadores despolarizantes atuam por despolarização da membrana plasmática da fibra muscular, similarmente à ação da ACh. Entretanto, esses fármacos são mais resistentes à degradação pela acetilcolinesterase (AChE) e, assim, despolarizam as fibras musculares de Página 2 Flávia Sanagiotto Ross Medicina UNOESC - TXXXV modo mais persistente. A succinilcolina é o único relaxante muscular despolarizante usado atualmente. Mecanismo de ação: o bloqueador neuromuscular despolarizante succinilcolina liga-se ao receptor nicotínico e atua como a ACh, despolarizando a junção neuromuscular. Diferentemente da ACh, que é destruída instantaneamente pela AChE, o fármaco despolarizante persiste em concentração elevada na fenda sináptica, permanecendo fixado ao receptor por um tempo maior e causando uma estimulação constante do receptor. (Nota: a duração da ação da succinilcolina depende da sua difusão da placa motora e da hidrólise pela pseudocolinesterase plasmática. Variantes genéticas nas quais os níveis de pseudocolinesterase plasmática são baixos ou ausentes apresentam paralisia neuromuscular prolongada.) O fármaco despolarizante inicialmente causa a abertura do canal de sódio associado ao receptor nicotínico, o que resulta na despolarização do receptor (fase I). Isso leva a abalos contráteis transitórios do músculo (fasciculações). A ligação persistente torna o receptor incapaz de transmitir impulsos adicionais. Com o tempo, a despolarização contínua dá origem a uma repolarização gradual quando o canal de sódio se fecha ou é bloqueado. Isso causa resistência à despolarização (fase II) e paralisia flácida. Ações: como ocorre com os bloqueadores competitivos, os músculos respiratórios são paralisados por último. A succinilcolina inicialmente provoca breves fasciculações no músculo, causando dor muscular. Isso pode ser evitado com administração prévia de pequena dose de bloqueador neuromuscular não despolarizante, antes da succinilcolina. Em geral, a duração da ação da succinilcolina é extremamente curta, devido à rápida hidrólise pela pseudocolinesterase. Contudo, a succinilcolina que alcança a JNM não é biotransformada pela AChE, permitindo que o fármaco se ligue aos receptores nicotínicos. A sua redistribuição ao plasma é necessária para a biotransformação (a vantagem terapêutica dura poucos minutos). Usos terapêuticos: devido ao rápido início, a succinilcolina é útil quando é necessária intubação endotraqueal rápida durante a indução da anestesia (a ação rápida é essencial quando a aspiração do conteúdo gástrico deve ser evitada durante a intubação). Ela também é usada durante tratamento com choque eletroconvulsivo. Farmacocinética: A succinilcolina é injetada por via IV. Sua breve duração de ação resulta da redistribuição e da rápida hidrólise pela pseudocolinesterase do plasma. Por isso, algumas vezes, ela é administrada por infusão contínua para manter um efeito mais longo. O efeito do fármaco desaparece rapidamente ao ser descontinuado. Efeitos adversos: • Hipertermia: A succinilcolina potencialmente pode induzir hipertermia maligna em pacientes suscetíveis. • Apneia: A administração de succinilcolina em um paciente deficiente de colinesterase plasmática ou que tem uma forma atípica da enzima pode levar à apneia prolongada devido à paralisia do diafragma. A liberação rápida de potássio pode contribuir também para prolongar a apneia em pacientes com desequilíbrios eletrolíticosque recebem este fármaco. A succinilcolina deve ser usada com cautela ou mesmo não ser usada em pacientes com desequilíbrios eletrolíticos sob tratamento com digoxina ou diuréticos (como os pacientes com insuficiência cardíaca). • Hiperpotassemia: A succinilcolina aumenta a liberação de potássio das reservas intracelulares. Isso é particularmente perigoso em pacientes queimados ou com lesão tecidual extensa, nos quais o potássio é perdido rapidamente pelas células.
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