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9 I. RESUMO Os transtornos envolvendo ansiedade são os distúrbios mentais mais co- muns. A ansiedade é um estado desagradável de tensão, apreensão e in- quietação – um temor que se origina de fonte conhecida ou desconhecida. Os sintomas físicos da ansiedade grave são similares aos do medo (como taquicardia, sudoração, tremores e palpitações) e envolvem a ativação sim- pática. Episódios de ansiedade leve são experiências comuns na vida e não justificam tratamento. Contudo, a ansiedade intensa, crônica e debilitante pode ser tratada com fármacos ansiolíticos (ou antiansiedade) e/ou com al- guma forma de psicoterapia. Como muitos dos fármacos ansiolíticos causam alguma sedação, eles podem ser usados clinicamente como ansiolíticos e como hipnóticos (indutores do sono). A Figura 9.1 resume os fármacos an- siolíticos e hipnóticos. Alguns antidepressivos também são indicados para certos distúrbios de ansiedade; contudo, eles são discutidos com outros an- tidepressivos (ver Cap. 10). II. BENZODIAZEPÍNICOS Os benzodiazepínicos são os ansiolíticos mais usados. Eles substituíram os barbitúricos e o meprobamato no tratamento da ansiedade e da insônia por serem fármacos considerados mais seguros e eficazes (Fig. 9.2). Ainda que os benzodiazepínicos sejam comumente usados, eles não são necessaria- mente a melhor escolha contra ansiedade ou insônia. Certos antidepressivos com ação ansiolítica, como os inibidores seletivos da captação de serotonina (ISCSs), são preferidos em vários casos, e os hipnóticos não benzodiazepíni- cos e os anti-histamínicos podem ser preferíveis contra insônia. A. Mecanismo de ação Os alvos para as ações dos benzodiazepínicos são os receptores do ácido γ-aminobutírico tipo A GABAA. (Nota: o GABA é o principal neuro- transmissor inibitório no sistema nervoso central [SNC].) Os receptores do GABAA são compostos de uma combinação, no somatório de cinco subunidades α, β e γ inseridas na membrana pós-sináptica (Fig. 9.3). BENZODIAZEPÍNICOS Alprazolam Clonazepam Clorazepate Clordiazepóxido Diazepam Estazolam Flurazepam Lorazepam Midazolam Oxazepam Quasepam Temazepam Triazolam ANTAGONISTA BENZODIAZEPÍNICO Flumazenil OUTROS ANSIOLÍTICOS Antidepressivos Buspirona BARBITÚRICOS Amobarbital Fenobarbital Pentobarbital Secobarbital Tiopental OUTROS HIPNÓTICOS Anti-histamínicos Doxepina Eszopiclona Ramelteona Zaleplona Zolpidem Figura 9.1 Resumo dos fármacos ansiolíticos e hipnóticos. Jose A. Rey Ansiolíticos e hipnóticos Capitulo_09_Whalen.indd 121 25/04/2016 10:00:49 122 Whalen, Finkel & Panavelil Para cada subunidade existem vários subtipos (p. ex., há seis subtipos da subunidade α). A fixação do GABA ao seu receptor inicia a abertura do canal iônico central, permitindo a entrada de cloro através do poro (Fig. 9.3). O influxo do íon cloreto causa hiperpolarização do neurônio e diminui a neurotransmissão, inibindo a formação de potenciais de ação. Os benzodiazepínicos modulam os efeitos do GABA ligando-se a um local específico de alta afinidade (distinto do local de ligação do GABA), situado na interface da subunidade α e da subunidade γ no receptor GABAA (Fig. 9.3). (Nota: esses locais de ligação, algumas vezes, são denominados receptores benzodiazepínicos [BZ]. Subtipos de recep- tores BZ comuns no SNC são designados de BZ1 ou BZ2 dependendo do local de ligação incluir uma subunidade α1 ou α2, respectivamente.) Os benzodiazepínicos aumentam a frequência da abertura dos canais produzida pelo GABA. (Nota: a ligação do benzodiazepínico ao seu re- ceptor aumentará a afinidade do GABA por seus locais de ligação, e vice-versa). Os efeitos clínicos dos vários benzodiazepínicos se corre- lacionam bem com a afinidade de ligação de cada fármaco pelo com- plexo receptor GABA-canal de íon cloreto. B. Ações Todos os benzodiazepínicos apresentam, em alguma extensão, as ações descritas a seguir. Cl– α A B C α αβ βγ Cl– GABA GABA Cl– Cl–Cl – Cl– Cl– Cl– Receptor vazio (sem agonistas) Receptor ligado com GABA Receptor ligado com GABA e benzodiazepínico A entrada de Cl– hiperpolariza a célula, tornando mais difícil sua despolarização e, por isso, reduz a excitabilidade neuronal A ligação do GABA é potenciada pelo benzodiazepínico, resultando em maior entrada de íons cloreto O receptor vazio é inativo, e o canal de cloreto acoplado está fechado A ligação do GABA causa abertura do canal de cloreto, levando à hiperpolarização da célula Benzodiazepínico Figura 9.3 Diagrama esquemático do complexo canal íon cloreto-GABA-benzodiazepínico. GABA, ácido γ-aminobutírico. 0 20 40 1.000 dose letal dose e�caz Relação = Os benzodiazepínicos são relativamente seguras, pois a dose letal é mais de 1.000 vezes maior do que a dose terapêutica típica Diazepam Fenobarbital Clorpromazina Mor�na Figura 9.2 Relação entre a dose letal e a dose eficaz para morfina (um opioide, ver Cap. 14), clorpromazina (um antipsicótico, ver Cap. 11) e os fármacos ansiolíticos e hipnóticos fenobarbital e diazepam. Capitulo_09_Whalen.indd 122 25/04/2016 10:00:50 Farmacologia Ilustrada 123 1. Redução da ansiedade: Em doses baixas, os benzodiazepínicos são ansiolíticos. A redução da ansiedade é atribuída à potenciação seletiva da transmissão gabaérgica em neurônios que têm a subu- nidade α2 em seus receptores GABAA, inibindo, assim, os circuitos neuronais no sistema límbico do cérebro. 2. Efeito hipnótico/sedativo: Todos os benzodiazepínicos têm pro- priedades sedativa e calmante, e alguns podem produzir hipnose (sono produzido “artificialmente”) em doses mais elevadas. O efei- to hipnótico é mediado pelos receptores α1-GABAA. 3. Amnésia anterógrada: A perda temporária da memória com o uso de benzodiazepínicos também é mediada pelos receptores α1-GABAA. A capacidade de aprender e formar novas memórias também é reduzida. 4. Efeito anticonvulsivante: Vários benzodiazepínicos têm atividade anticonvulsivante. Esse efeito é parcialmente mediado pelos re- ceptores α1-GABAA. 5. Relaxamento muscular: Em doses elevadas, os benzodiazepíni- cos diminuem a espasticidade do músculo esquelético, provavel- mente aumentando a inibição pré-sináptica na medula espinal, onde predominam os receptores α2-GABAA. O baclofeno é um rela- xante muscular que parece atuar nos receptores GABA na medula espinal. C. Usos terapêuticos Existem pequenas diferenças nas propriedades ansiolíticas, anticonvul- sivantes e sedativas entre os diferentes benzodiazepínicos. Contudo, a duração de ação varia amplamente no grupo, e considerações farmaco- cinéticas são importantes na escolha de um ou outro benzodiazepínico. 1. Distúrbios de ansiedade: Os benzodiazepínicos são eficazes no tratamento dos sintomas da ansiedade secundária ao transtorno de pânico, do transtorno de ansiedade generalizada (TAG), do transtorno de ansiedade social e por performance, do transtorno de estresse pós-traumático, do transtorno obsessivo-compulsivo e da ansiedade extrema encontrada, às vezes, em fobias especí- ficas, como o medo de voar. Os benzodiazepínicos também são úteis no tratamento da ansiedade relacionada com depressão e esquizofrenia. Esses fármacos devem ser reservados para a an- siedade grave, e não devem ser usados para lidar com o estresse da vida diária. Devido ao potencial de viciar, eles devem ser usa- dos somente por pouco tempo. Os benzodiazepínicos de ação mais longa, como clonazepam, lorazepam e diazepam, são prefe- ridos nos pacientes com ansiedade que pode exigir tratamento por tempo prolongado. Os efeitos ansiolíticos dos benzodiazepí- nicos são menos sujeitos à tolerância do que os efeitos sedativos e hipnóticos. (Nota: tolerância – isto é, diminuição da resposta com doses repetidas – ocorre quando o uso se estende por mais de uma ou duas semanas. A tolerância está associada a uma di- minuição na densidade de receptores GABA.) Ocorre tolerância cruzada entre benzodiazepínicos e etanol. Para o transtorno de pânico, o alprazolam é eficazpara tratamentos curtos ou longos, embora possa causar reações de abstinência em cerca de 30% dos pacientes. Capitulo_09_Whalen.indd 123 25/04/2016 10:00:51 124 Whalen, Finkel & Panavelil de ação mais longa formam metabólitos ativos com meias-vidas longas. Contudo, com alguns benzodiazepínicos, a duração clínica da ação não se correlaciona com a meia-vida real (senão a dose de diazepam só poderia ser administrada em dias alternados, devi- do a seus metabólitos ativos). Isso pode ser devido à velocidade de dissociação do receptor no SNC e à subsequente redistribuição para os tecidos gordurosos e outras áreas. 3. Destino: A maioria dos benzodiazepínicos, incluindo o clordiaze- póxido e o diazepam, é biotransformada pelo sistema microssomal hepático para compostos que também são ativos. Para esses ben- zodiazepínicos, a meia-vida aparente representa a soma das ações do fármaco principal e seus metabólitos. Os efeitos termi- nam não só por excreção, mas também por redistribuição. Os ben- zodiazepínicos são excretados na urina como glicuronídeos ou metabólitos oxidados. Todos os benzodiazepínicos atravessam a placenta e podem deprimir o SNC do neonato, se forem administra- dos antes do parto. O uso dos benzodiazepínicos não é recomen- dado durante a gestação. Os lactantes também podem ser expos- tos aos benzodiazepínicos pelo leite materno. E. Dependência Pode-se desenvolver dependência física e psicológica aos benzodia- zepínicos se doses elevadas forem administradas por longos períodos. Todos os benzodiazepínicos são fármacos controlados. A interrupção abrupta resulta em sintomas de abstinência, incluindo confusão, ansie- dade, agitação, intranquilidade, insônia, tensão e (raramente) convul- sões. Os benzodiazepínicos com meia-vida de eliminação curta, como o triazolam, induzem reações de abstinência mais abruptas e graves do que as observadas com os de eliminação mais lenta, como o flurazepam (Fig. 9.5). F. Efeitos adversos Sedação e confusão são os efeitos adversos mais comuns dos benzo- diazepínicos. Ocorre ataxia em doses elevadas, impedindo as ativida- des que exigem coordenação motora fina, como dirigir automóvel. Pode ocorrer comprometimento cognitivo (diminuição da evocação de memó- ria e da retenção de novos conhecimentos) com o uso dos benzodiaze- pínicos. O triazolam com frequência apresenta rápido desenvolvimento de tolerância, insônia da madrugada e ansiedade durante o dia, bem como amnésia e confusão. Os benzodiazepínicos devem ser usados cautelosamente em pacientes com doença hepática. Eles devem ser evitados em pacientes com glau- coma de ângulo fechado agudo. Álcool e outros depressores do SNC potencializam seus efeitos hipnoticossedativos. Os benzodiazepínicos são, contudo, consideravelmente menos perigosos do que os ansiolí- ticos e hipnóticos mais antigos. Como resultado, as doses excessivas raramente são letais, a menos que outros depressores do SNC, como etanol, sejam ingeridos simultaneamente. III. ANTAGONISTAS DE RECEPTOR BENZODIAZEPÍNICO O flumazenil é um antagonista do receptor GABA que pode rapidamente reverter os efeitos dos benzodiazepínicos. O fármaco está disponível 12 1 2 3 4 567 8 9 10 11 24 6 12 18 Ação longa DURAÇÃO DE AÇÃO DOS BENZODIAZEPÍNICOS Clorazepato Clordiazepóxido Diazepam Flurazepam Quazepam Ação intermediária Alprazolam Estazolam Lorazepam Temazepam Ação curta Oxazepam Triazolam 3-8 horas 10-20 horas dias Figura 9.4 Comparação da duração de ação dos benzodiazepínicos. 0 20 40 60 80-40 -20 Flurazepam Alprazolam Temazepam Diazepam Triazolam Aumento no tempo total de despertar a partir do tempo basal (%) Os fármacos que são mais potentes e rapidamente eliminados (p. ex., triazolam) causam problemas de abstinência mais frequentes e graves Os fármacos menos potentes e mais lentamente eliminados (p. ex., �urazepam) continuam a estimular o sono mesmo após a interrupção Figura 9.5 Frequência da insônia de rebote resultante da interrupção do tratamento com benzodiazepínicos. 2. Distúrbios do sono: Poucos benzodiazepínicos são úteis como hip- nóticos. Eles diminuem a latência para dormir e aumentam o estágio II do sono não REM (sem movimentos rápidos dos olhos, do inglês rapid eyes movement). O sono REM e o sono de ondas lentas são diminuídos. No tratamento da insônia, é importante o equilíbrio entre o efeito sedativo necessário na hora de deitar e a sedação residual (“ressaca”) após o despertar. Os benzodiazepínicos comumente prescritos contra os distúrbios do sono incluem os de ação interme- diária (temazepam) e os de curta ação (triazolam). O de longa ação (flurazepam) é raramente usado, devido a sua longa meia-vida, que pode resultar em sedação excessiva durante o dia e acúmulo do fármaco, especialmente em idosos. Estazolam e quazepam são con- siderados de ação intermediária e longa, respectivamente. a. Temazepam: Esse fármaco é útil em pacientes que acordam frequentemente. Contudo, como o efeito sedativo máximo ocorre de 1 a 3 horas após a dose oral, ele deve ser administra- do de 1 a 2 horas antes da hora prevista para deitar. b. Triazolam: Enquanto o temazepam é útil contra a insônia cau- sada pela incapacidade de permanecer dormindo, o triazolam é eficaz para tratar indivíduos que têm dificuldade em começar a dormir. Em poucos dias, desenvolve-se tolerância, e a retirada do fármaco, em geral, resulta em insônia de rebote. Por isso, este fármaco não é um dos mais indicados e é mais usado de modo intermitente. Em geral, os hipnóticos devem ser usados por tempo limitado, geralmente menos de 2 a 4 semanas. 3. Amnésia: Em geral, os fármacos de ação curta são empregados como pré-medicação para procedimentos desconfortáveis e que provocam ansiedade, como endoscopias e procedimentos odonto- lógicos e angioplastia. Eles causam uma forma de sedação cons- ciente, permitindo ao paciente atender certas instruções durante esses procedimentos. Midazolam é o benzodiazepínico usado para facilitar amnésia e causar sedação antes da anestesia. 4. Convulsões: Clonazepam é usado ocasionalmente como trata- mento adjunto contra certos tipos de convulsões, e lorazepam e diazepam são fármacos de escolha no controle do estado epilético (ver Cap. 12). Devido à tolerância cruzada, clordiazepóxido, clora- zepato, diazepam, lorazepam e oxazepam são úteis no tratamento agudo da abstinência do etanol, reduzindo o risco de convulsões associadas à abstinência. 5. Distúrbios musculares: O diazepam é útil no tratamento de es- pasmos dos músculos esqueléticos, como os que ocorrem no esti- ramento, e no tratamento da espasticidade devida a doenças de- generativas, como esclerose múltipla e paralisia cerebral. D. Farmacocinética 1. Absorção e distribuição: Os benzodiazepínicos são lipofílicos. São rápida e completamente absorvidos após administração oral, distribuem por todo organismo e entram no SNC. 2. Duração de ação: A meia-vida dos benzodiazepínicos é importan- te clinicamente, pois a duração da ação pode determinar a utilida- de terapêutica. Os benzodiazepínicos podem ser divididos em gru- pos de curta, média e longa ação (Fig. 9.4). Os benzodiazepínicos Capitulo_09_Whalen.indd 124 25/04/2016 10:00:52 Farmacologia Ilustrada 125 de ação mais longa formam metabólitos ativos com meias-vidas longas. Contudo, com alguns benzodiazepínicos, a duração clínica da ação não se correlaciona com a meia-vida real (senão a dose de diazepam só poderia ser administrada em dias alternados, devi- do a seus metabólitos ativos). Isso pode ser devido à velocidade de dissociação do receptor no SNC e à subsequente redistribuição para os tecidos gordurosos e outras áreas. 3. Destino: A maioria dos benzodiazepínicos, incluindo o clordiaze- póxido e o diazepam, é biotransformada pelo sistema microssomal hepático para compostos que também são ativos. Para esses ben- zodiazepínicos, a meia-vida aparente representa a soma das ações do fármaco principal e seus metabólitos.Os efeitos termi- nam não só por excreção, mas também por redistribuição. Os ben- zodiazepínicos são excretados na urina como glicuronídeos ou metabólitos oxidados. Todos os benzodiazepínicos atravessam a placenta e podem deprimir o SNC do neonato, se forem administra- dos antes do parto. O uso dos benzodiazepínicos não é recomen- dado durante a gestação. Os lactantes também podem ser expos- tos aos benzodiazepínicos pelo leite materno. E. Dependência Pode-se desenvolver dependência física e psicológica aos benzodia- zepínicos se doses elevadas forem administradas por longos períodos. Todos os benzodiazepínicos são fármacos controlados. A interrupção abrupta resulta em sintomas de abstinência, incluindo confusão, ansie- dade, agitação, intranquilidade, insônia, tensão e (raramente) convul- sões. Os benzodiazepínicos com meia-vida de eliminação curta, como o triazolam, induzem reações de abstinência mais abruptas e graves do que as observadas com os de eliminação mais lenta, como o flurazepam (Fig. 9.5). F. Efeitos adversos Sedação e confusão são os efeitos adversos mais comuns dos benzo- diazepínicos. Ocorre ataxia em doses elevadas, impedindo as ativida- des que exigem coordenação motora fina, como dirigir automóvel. Pode ocorrer comprometimento cognitivo (diminuição da evocação de memó- ria e da retenção de novos conhecimentos) com o uso dos benzodiaze- pínicos. O triazolam com frequência apresenta rápido desenvolvimento de tolerância, insônia da madrugada e ansiedade durante o dia, bem como amnésia e confusão. Os benzodiazepínicos devem ser usados cautelosamente em pacientes com doença hepática. Eles devem ser evitados em pacientes com glau- coma de ângulo fechado agudo. Álcool e outros depressores do SNC potencializam seus efeitos hipnoticossedativos. Os benzodiazepínicos são, contudo, consideravelmente menos perigosos do que os ansiolí- ticos e hipnóticos mais antigos. Como resultado, as doses excessivas raramente são letais, a menos que outros depressores do SNC, como etanol, sejam ingeridos simultaneamente. III. ANTAGONISTAS DE RECEPTOR BENZODIAZEPÍNICO O flumazenil é um antagonista do receptor GABA que pode rapidamente reverter os efeitos dos benzodiazepínicos. O fármaco está disponível 12 1 2 3 4 567 8 9 10 11 24 6 12 18 Ação longa DURAÇÃO DE AÇÃO DOS BENZODIAZEPÍNICOS Clorazepato Clordiazepóxido Diazepam Flurazepam Quazepam Ação intermediária Alprazolam Estazolam Lorazepam Temazepam Ação curta Oxazepam Triazolam 3-8 horas 10-20 horas dias Figura 9.4 Comparação da duração de ação dos benzodiazepínicos. 0 20 40 60 80-40 -20 Flurazepam Alprazolam Temazepam Diazepam Triazolam Aumento no tempo total de despertar a partir do tempo basal (%) Os fármacos que são mais potentes e rapidamente eliminados (p. ex., triazolam) causam problemas de abstinência mais frequentes e graves Os fármacos menos potentes e mais lentamente eliminados (p. ex., �urazepam) continuam a estimular o sono mesmo após a interrupção Figura 9.5 Frequência da insônia de rebote resultante da interrupção do tratamento com benzodiazepínicos. Capitulo_09_Whalen.indd 125 25/04/2016 10:00:52 126 Whalen, Finkel & Panavelil e não é eficaz para tratamento de curta duração ou para estados de ansiedade agudos. As ações da buspirona parecem mediadas pelos receptores de serotonina (5-HT1A), embora ela também tenha alguma afinidade pelos receptores D2 da dopamina e 5-HT2A da serotonina. As- sim, seu modo de ação difere do mecanismo de ação dos benzodia- zepínicos. Além disso, a buspirona não tem as propriedades anticon- vulsivantes e miorrelaxantes dos benzodiazepínicos. A frequência dos efeitos adversos é baixa, sendo os mais comuns cefaleia, nervosismo, náuseas e tonturas. Sedação e disfunções cognitivas e psicomotoras são mínimas, e a dependência é improvável. A buspirona não poten- cializa a depressão do SNC pelo etanol. A Figura 9.7 compara alguns dos efeitos adversos comuns da buspirona com os do benzodiazepínico alprazolam. V. BARBITÚRICOS Os barbitúricos foram, no passado, a base do tratamento usado para sedar o paciente ou para induzir e manter o sono. Com o tempo, foram amplamente substituídos pelos benzodiazepínicos, principalmente porque os barbitúricos induzem a tolerância e a dependência física e estão associados a sintomas de abstinência graves. Todos os barbitúricos são substâncias controladas. Certos barbitúricos, como o de ação muito curta tiopental, foram usados para induzir anestesia, mas são menos empregados atualmente devido aos novos fármacos com menos efeitos adversos. A. Mecanismo de ação A ação hipnoticossedativa dos barbitúricos se deve à sua interação com os receptores GABAA, potencializando a transmissão gabaérgica. O lo- cal de ligação dos barbitúricos no receptor GABA é diferente daquele dos benzodiazepínicos. Os barbitúricos potenciam a ação do GABA na entrada de cloreto no neurônio, prolongando o tempo de abertura do ca- nal de cloreto. Além disso, os barbitúricos podem bloquear os recepto- res excitatórios glutamato. Concentrações anestésicas de pentobarbital também bloqueiam os canais de sódio de alta frequência. Todas essas ações moleculares diminuem a atividade neuronal. B. Ações Os barbitúricos são classificados de acordo com sua duração da ação (Fig. 9.8). Por exemplo, o tiopental, de ação ultracurta, atua dentro de segundos e tem uma duração de cerca de 30 minutos. Em contraste, o fenobarbital tem duração de ação maior que um dia. Pentobarbital, seco- barbital, amobarbital e butalbital são barbitúricos de ação curta. 1. Depressão do SNC: Em doses baixas, os barbitúricos produzem sedação (têm um efeito calmante e reduzem a excitação). Em do- ses crescentes, eles causam hipnose, seguida de anestesia (perda das sensações) e, finalmente, coma e morte. Assim, qualquer grau de depressão do SNC é possível, dependendo da dosagem. Os barbitúricos não aumentam o limiar da dor e não têm propriedades analgésicas; eles podem inclusive exacerbar a dor. O seu uso crô- nico leva à tolerância. 2. Depressão respiratória: Os barbitúricos suprimem as respostas à hipóxia e aos quimiorreceptores ao dióxido de carbono (CO2). A dosagem excessiva é seguida de depressão respiratória e morte. 10 27 10 30 10 33 13 7 17 10 8 0 Cefaleia Tonturas Náuseas Sonolência Fadiga Buspirona Alprazolam Diminuição da concentração Observe que a buspirona mostra menor interferência com as funções motoras, uma vantagem que é particularmente importante em pacientes mais idosos Figura 9.7 Comparação dos efeitos adversos comuns da buspirona e do alprazolam. Os resultados são expressos como porcentagem dos pacientes que mostram cada sintoma. 12 1 2 3 4 567 8 9 10 11 0 20 30 40 50 10 Ação longa DURAÇÃO DE AÇÃO DOS BARBITÚRICOS Fenobarbital Ação curta 3-8 horas Pentobarbital Secobarbital Amobarbital Ação ultracurta Tiopental 20 minutos dias Figura 9.8 Barbitúricos classificados de acordo com sua duração de ação. apenas para administração intravenosa (IV). O início de ação é rápido, mas a duração é curta, com meia-vida de cerca de uma hora. Administrações frequentes podem ser necessárias para manter a reversão dos benzodiaze- pínicos de longa ação. A administração de flumazenil pode precipitar absti- nência em pacientes dependentes, ou causar convulsões se um benzodia- zepínico está sendo usado para controlar atividade convulsiva. Convulsões também podem ocorrer se o paciente ingere junto com antidepressivo tricí- clico ou antipsicótico. Os efeitos adversos mais comuns são tonturas, náu- sea, êmese e agitação. IV. OUTROS ANSIOLÍTICOS A. Antidepressivos Vários antidepressivos são eficazes no tratamento da ansiedade crô- nica e devem ser considerados fármacos de primeira escolha, espe- cialmente em pacientes com inclinação para dependência ou vício. Os ISCSs, como escitalopram ou paroxetina, ou os inibidores seletivos da captação de serotonina e norepinefrina (ISCSNs),como a venlafaxina ou duloxetina, podem ser usados sós ou prescritos em associação com uma dosagem baixa de benzodiazepínico durante as primeiras sema- nas de tratamento (Fig. 9.6). Após 4 a 6 semanas, quando o antide- pressivo começa seu efeito ansiolítico, a dosagem de benzodiazepíni- co pode ser reduzida gradualmente. Os ISCSs ou ISCSNs têm menor potencial de gerar dependência física do que os benzodiazepínicos, tornando-se o tratamento de escolha contra o TAG. Ainda que apenas certos ISCSs ou ISCSNs tenham sido aprovados para o tratamento do TAG, a eficácia desses fármacos é provavelmente um efeito da classe. Assim, a escolha entre esses antidepressivos pode ser feita com base nos efeitos adversos e no custo. Em geral, o tratamento com antide- pressivos e benzodiazepínicos contra os transtornos de ansiedade é necessário por longo período, de modo a manter a vantagem alcançada e evitar recaídas. B. Buspirona A buspirona é útil no tratamento crônico do TAG e tem eficácia compa- rável à dos benzodiazepínicos. Esse fármaco tem início de ação lento 0 00 14 101 28 42 56 Inicia o tratamento com um benzodiazepínico como o lorazepam Tratamento concomitante com antidepressivo como o escitalopram Retirada gradual do benzodiazepínico Dias D os e di ár ia d e lo ra ze pa m (m g) D os e di ár ia d e es ci ta lo pr am (m g) Figura 9.6 Orientação de tratamento da ansiedade persistente. Capitulo_09_Whalen.indd 126 25/04/2016 10:00:53 Farmacologia Ilustrada 127 e não é eficaz para tratamento de curta duração ou para estados de ansiedade agudos. As ações da buspirona parecem mediadas pelos receptores de serotonina (5-HT1A), embora ela também tenha alguma afinidade pelos receptores D2 da dopamina e 5-HT2A da serotonina. As- sim, seu modo de ação difere do mecanismo de ação dos benzodia- zepínicos. Além disso, a buspirona não tem as propriedades anticon- vulsivantes e miorrelaxantes dos benzodiazepínicos. A frequência dos efeitos adversos é baixa, sendo os mais comuns cefaleia, nervosismo, náuseas e tonturas. Sedação e disfunções cognitivas e psicomotoras são mínimas, e a dependência é improvável. A buspirona não poten- cializa a depressão do SNC pelo etanol. A Figura 9.7 compara alguns dos efeitos adversos comuns da buspirona com os do benzodiazepínico alprazolam. V. BARBITÚRICOS Os barbitúricos foram, no passado, a base do tratamento usado para sedar o paciente ou para induzir e manter o sono. Com o tempo, foram amplamente substituídos pelos benzodiazepínicos, principalmente porque os barbitúricos induzem a tolerância e a dependência física e estão associados a sintomas de abstinência graves. Todos os barbitúricos são substâncias controladas. Certos barbitúricos, como o de ação muito curta tiopental, foram usados para induzir anestesia, mas são menos empregados atualmente devido aos novos fármacos com menos efeitos adversos. A. Mecanismo de ação A ação hipnoticossedativa dos barbitúricos se deve à sua interação com os receptores GABAA, potencializando a transmissão gabaérgica. O lo- cal de ligação dos barbitúricos no receptor GABA é diferente daquele dos benzodiazepínicos. Os barbitúricos potenciam a ação do GABA na entrada de cloreto no neurônio, prolongando o tempo de abertura do ca- nal de cloreto. Além disso, os barbitúricos podem bloquear os recepto- res excitatórios glutamato. Concentrações anestésicas de pentobarbital também bloqueiam os canais de sódio de alta frequência. Todas essas ações moleculares diminuem a atividade neuronal. B. Ações Os barbitúricos são classificados de acordo com sua duração da ação (Fig. 9.8). Por exemplo, o tiopental, de ação ultracurta, atua dentro de segundos e tem uma duração de cerca de 30 minutos. Em contraste, o fenobarbital tem duração de ação maior que um dia. Pentobarbital, seco- barbital, amobarbital e butalbital são barbitúricos de ação curta. 1. Depressão do SNC: Em doses baixas, os barbitúricos produzem sedação (têm um efeito calmante e reduzem a excitação). Em do- ses crescentes, eles causam hipnose, seguida de anestesia (perda das sensações) e, finalmente, coma e morte. Assim, qualquer grau de depressão do SNC é possível, dependendo da dosagem. Os barbitúricos não aumentam o limiar da dor e não têm propriedades analgésicas; eles podem inclusive exacerbar a dor. O seu uso crô- nico leva à tolerância. 2. Depressão respiratória: Os barbitúricos suprimem as respostas à hipóxia e aos quimiorreceptores ao dióxido de carbono (CO2). A dosagem excessiva é seguida de depressão respiratória e morte. 10 27 10 30 10 33 13 7 17 10 8 0 Cefaleia Tonturas Náuseas Sonolência Fadiga Buspirona Alprazolam Diminuição da concentração Observe que a buspirona mostra menor interferência com as funções motoras, uma vantagem que é particularmente importante em pacientes mais idosos Figura 9.7 Comparação dos efeitos adversos comuns da buspirona e do alprazolam. Os resultados são expressos como porcentagem dos pacientes que mostram cada sintoma. 12 1 2 3 4 567 8 9 10 11 0 20 30 40 50 10 Ação longa DURAÇÃO DE AÇÃO DOS BARBITÚRICOS Fenobarbital Ação curta 3-8 horas Pentobarbital Secobarbital Amobarbital Ação ultracurta Tiopental 20 minutos dias Figura 9.8 Barbitúricos classificados de acordo com sua duração de ação. Capitulo_09_Whalen.indd 127 25/04/2016 10:00:53 128 Whalen, Finkel & Panavelil C. Usos terapêuticos 1. Anestésico: Os barbitúricos de ação ultracurta, como o tiopental, são usados por via IV para induzir anestesia, mas foram ampla- mente substituídos por outros fármacos. 2. Anticonvulsivante: O fenobarbital tem atividade anticonvulsiva específica que se diferencia da depressão inespecífica do SNC. Ele é usado por longos períodos no controle das convulsões tôni- co-clônicas. Contudo, o fenobarbital pode deprimir o desenvolvi- mento cognitivo em crianças e diminuir o desempenho cognitivo em adultos; portanto, deve ser usado apenas se outros tratamen- tos falharem. De modo similar, o fenobarbital pode ser usado no tratamento do estado epilético refratário. 3. Hipnoticossedativo: Os barbitúricos são usados como sedativos leves para aliviar ansiedade, tensão nervosa e insônia. Quando usados como hipnóticos, eles suprimem o sono REM mais do que outros estágios. Contudo, o uso dos barbitúricos contra insônia de modo geral não é mais aceito, devido aos efeitos adversos e ao potencial para tolerância. Butalbital é usado comumente em produ- tos associados (com paracetamol e cafeína ou com ácido acetilsa- licílico e cafeína), como sedativo para ajudar no manejo de cefa- leias por tensão ou enxaquecas. D. Farmacocinética Os barbitúricos são bem absorvidos por administração oral e distribuem por todo o organismo. Todos os barbitúricos se redistribuem do SNC para as áreas esplâncnicas, para o músculo esquelético e, finalmen- te, para o tecido adiposo. Esse movimento é importante por causar a curta duração de ação do tiopental e derivados de ação curta similar. Os barbitúricos atravessam facilmente a placenta e podem deprimir o feto. Eles são biotransformados no fígado, e os metabólitos inativos são excretados na urina. E. Efeitos adversos Os barbitúricos causam sonolência, dificuldade de concentração e pre- guiça mental e física (Fig. 9.9). Os efeitos depressores do SNC são po- tencializados com os do etanol. Dosagens hipnóticas dos barbitúricos provocam “ressaca” que com- promete a capacidade do paciente de atuar normalmente durante vá- rias horas depois do despertar. Às vezes, ocorrem náuseas e tonturas. Os barbitúricos induzem as enzimas microssomais citocromo P450 (CYP450) hepáticas. Por isso, a administração crônica diminui a ação de vários fármacos que são biotransformados pelo sistema CYP450. Os barbitúricos são contraindicados em pacientes portadores de porfi- ria intermitente aguda. A retirada abrupta dos barbitúricos pode causar tremores, ansiedade, fraqueza, intranquilidade, náuseas e êmese,con- vulsões, delírio e parada cardíaca. A abstinência é muito mais grave do que aquela associada ao opioide e pode resultar em morte. Mor- te também pode ocorrer por dosagem excessiva. Intensa depressão respiratória está associada à depressão cardiovascular central e resul- ta em uma condição similar ao choque, com respiração superficial e P-450 P-450 P-450 Sonolência Vertigem Tremores Potencial de abuso Indução enzimática Náusea Figura 9.9 Efeitos adversos dos barbitúricos. Capitulo_09_Whalen.indd 128 25/04/2016 10:00:54 Farmacologia Ilustrada 129 infrequente. O tratamento inclui cuidados de apoio e descontaminação gástrica se a ingestão tiver sido recente. VI. OUTROS HIPNÓTICOS A. Zolpidem O hipnótico zolpidem não é relacionado aos benzodiazepínicos estru- turalmente, mas se fixa seletivamente ao receptor benzodiazepínico do subtipo BZ1. O zolpidem não tem propriedades anticonvulsivantes ou miorrelaxantes. Ele apresenta poucos efeitos de abstinência e pro- voca insônia de rebote mínima. Com o uso prolongado, ocorre pouca tolerância. O zolpidem é rapidamente absorvido no trato gastrintestinal (TGI), tem rápido início de ação e meia-vida de eliminação curta (cerca de 2-3 horas). Produz efeito hipnótico por cerca de 5 horas (Fig. 9.10). (Nota: também estão disponíveis um spray lingual e uma formulação de liberação prolongada. O comprimido sublingual é a formulação que pode ser usada para o despertar no meio da noite.) O zolpidem sofre oxidação hepática a produtos inativos, pelo sistema CYP450. Assim, fármacos como a rifampicina, que induzem esse sistema enzimático, encurtam a meia-vida do zolpidem, e fármacos que inibem a ioenzi- ma CYP3A4 podem aumentar a sua meia-vida. Os efeitos adversos do zolpidem incluem pesadelos, agitação, amnésia anterógrada, ce- faleia, distúrbios gastrintestinais, tonturas e sonolência diurna. Dife- rentemente dos benzodiazepínicos, nas dosagens hipnóticas usuais, os fármacos não benzodiazepínicos zolpidem, zaleplona e eszopiclona não alteram significativamente os vários estágios do sono e, assim, costumam ser os hipnóticos preferidos. Isso pode ser devido à sua relativa seletividade pelo receptor BZ1. Os três fármacos são substân- cias controladas. B. Zaleplona Zaleplona é um hipnótico não benzodiazepínico oral similar ao zolpidem; contudo, a zaleplona causa menos efeitos residuais nas funções psico- motoras e cognitivas em comparação ao zolpidem ou aos benzodiazepí- nicos. Isso pode ser devido à sua rápida eliminação, com uma meia-vida de cerca de 1 hora. A zaleplona é biotransformado pelo CYP3A4. C. Eszopiclona Eszopiclona é um hipnótico não benzodiazepínico oral que também atua no receptor BZ1. Revelou-se eficaz contra insônia por até 6 me- ses. É rapidamente absorvido (tempo para o pico de 1 hora), exten- samente biotransformado por oxidação e desmetilação pelo sistema CYP450 e excretado principalmente na urina. A sua meia-vida de eli- minação é de cerca de 6 horas. Os efeitos adversos da eszopiclona incluem ansiedade, xerostomia, cefaleia, edema periférico, sonolência e gosto desagradável. D. Ramelteona A ramelteona é um agonista seletivo dos subtipos de receptores de me- latonina MT1 e MT2. A melatonina é um hormônio secretado pela glân- dula pineal que auxilia na manutenção do ritmo circadiano subjacente Eszopiclona Ramenteona Início Duração 30 minutos 7 horas 20 minutos 7 horas 30 minutos 3 horas Zolpidem 30 mintuos 5 horas Zaleplona Figura 9.10 Início e duração de ação dos não benzodiazepínicos comumente usados como fármacos hipnóticos. Capitulo_09_Whalen.indd 129 25/04/2016 10:00:54 130 Whalen, Finkel & Panavelil Desvantagens terapêuticas Vantagens terapêuticas Diazepam Flurazepam Quazepam Lorazepam Pentobarbital Secobarbital Esses fármacos menos potentes e eliminados de forma mais lenta não apresentam insônia de rebote na interrupção do tratamento Não requerem biotransformação de fase I, portanto têm menos interações com outros fármacos e são mais seguros em pacientes com insuficiência hepática Os benzodiazepínicos podem perturbar a função intelectual e a destreza manual Os benzodiazepínicos apresentam potencial de dependência e podem ocorrer convulsões na sua retirada Início de ação mais lento do que os benzodiazepínicos Não apresenta atividade anticonvulsiva ou músculo-relaxante Rápido início de ação Os barbitúricos induzem tolerância, enzimas biotransformadoras de fármacos e dependência física e apresentam graves sintomas de abstinência Hidroxizina Zaleplona Zolpidem Não apresentam propriedades anticonvulsivas ou músculo- -relaxantes Útil no tratamento de longa duração contra a ansiedade crônica com sintomas de irritabilidade e hostilidade Não potencializa a depressão do SNC pelo etanol Baixo potencial de dependência E�caz por até seis meses Causam efeitos mínimos de abstinência A interrupção com frequência resulta em insônia de rebote Baixo potencial de abuso com efeitos de abstinência e dependência mínimos O fármaco pode ser usado por tempo prolongado Causam insônia de rebote mínima Pouca ou nenhuma tolerância ocorre com o uso prolongado Uso potencial no tratamento crônico de crises Benzodiazepínicos Clonazepam Clorazepato Clordiazepóxido Alprazolam Temazepam Triazolam Buspirona Eszopiclona Ramelteona Barbitúricos Fenobarbital Amobarbital Tiopental Outros fármacos Somente tem efeitos mínimos nas medidas objetivas de eficácia de sono Fármaco de escolha no tratamento dos distúrbios de pânico Figura 9.11 Vantagens e desvantagens terapêuticas de alguns fármacos ansiolíticos e hipnóticos. SNC, sistema nervoso central. ao ciclo sono-vigília normal. A indução e a promoção do sono parecem devidas à estimulação dos receptores MT1 e MT2 pela ramelteona. Ela é indicada para o tratamento da insônia caracterizada pela dificuldade de “começar” a dormir (aumento da latência até dormir). Tem potencial de Capitulo_09_Whalen.indd 130 25/04/2016 10:00:54 Farmacologia Ilustrada 131 Questões para estudo Escolha a resposta correta. 9.1 Qual das seguintes afirmativas está correta com relação aos benzodiazepínicos? A. Os benzodiazepínicos abrem diretamente os canais de cloreto. B. Os benzodiazepínicos têm efeito analgésico. C. A melhora clínica da ansiedade exige de 2 a 4 sema- nas de tratamento com benzodiazepínicos. D. Todos os benzodiazepínicos têm algum efeito sedativo. E. Os benzodiazepínicos, como outros depressores do SNC, facilmente provocam anestesia geral. 9.2 Qual dos seguintes fármacos é um hipnótico de ação curta? A. Fenobarbital. B. Diazepam. C. Clordiazepóxido. D. Triazolam. E. Flurazepam. Resposta correta = D. Embora todos os benzodiazepínicos possam causar sedação, os fármacos denominados “benzodiazepínicos” na Figura 9.1 são usados no tratamento de distúrbios do sono. Os ben- zodiazepínicos aumentam a ligação do GABAA ao seu receptor, que aumenta a permeabilidade ao cloreto. Os benzodiazepínicos não ali- viam a dor, mas podem reduzir a ansiedade associada à dor. Diferen- temente dos antidepressivos tricíclicos e dos inibidores da MAO, os benzodiazepínicos são eficazes poucas horas após a administração. Os benzodiazepínicos não produzem anestesia geral e são, por isso, fármacos relativamente seguros e com elevado índice terapêutico. Resposta correta = D. O triazolam é um fármaco de ação curta. Ele promove pouca sedação durante o dia. Os outros fármacos citados não são de ação curta. abuso mínimo e não foi observada evidência de dependência ou efeito de abstinência. Por isso, a ramelteona pode ser administrada por longos períodos. Os efeitos adversos incluem tonturas, fadiga e sonolência. A ramelteona pode aumentar os níveis de prolactina. E. Anti-histamínicos Alguns anti-histamínicos com propriedades sedativas, como difenidra- mina, hidroxizina e doxilamina, são eficazes no tratamento dos tipos leves de insônia situacional. Contudo, eles têm efeitos indesejados (comoos efeitos anticolinérgicos) que os tornam menos úteis do que os benzodiazepínicos e os não benzodiazepínicos. Alguns anti-hista- mínicos sedativos são comercializados em numerosos produtos de venda livre. F. Antidepressivos O uso de antidepressivos sedativos com forte perfil anti-histamínico ocorre há décadas. A doxepina, um tricíclico antigo com ação antide- pressiva e ansiolítica por ISCSN, foi aprovada recentemente para o tratamento da insônia em doses baixas. Outros antidepressivos, como trazodona, mirtazapina e outros antidepressivos tricíclicos antigos com forte propriedade anti-histamínica, são usados extrabula no tratamento da insônia (ver Cap. 10). A Figura 9.11 resume as desvantagens e as vantagens terapêuticas de alguns dos fármacos ansiolíticos e hipnóticos. Capitulo_09_Whalen.indd 131 25/04/2016 10:00:54 132 Whalen, Finkel & Panavelil 9.3 Qual das seguintes afirmações é correta com relação aos ansiolíticos e hipnóticos? A. O fenobarbital tem propriedades analgésicas. B. O diazepam e o fenobarbital induzem o sistema enzi- mático P450. C. O fenobarbital é útil no tratamento da porfiria intermi- tente aguda. D. O fenobarbital induz depressão respiratória, que é po- tencializada pelo consumo de etanol. E. A buspirona tem ações similares às dos benzodia- zepínicos. 9.4 Um homem de 45 anos ferido em um acidente de automó- vel é trazido ao pronto-socorro. A alcoolemia na admis- são é de 275 mg/dL. Os registros hospitalares revelam internação prévia devido a convulsões relacionadas com etanol. Sua esposa confirma que ele andou bebendo mui- to nas últimas 3 semanas. Que tratamento deve ser ini- ciado se o paciente tiver síndrome de abstinência? A. Nenhum. B. Lorazepam. C. Pentobarbital. D. Fenitoína. E. Buspirona. 9.5 Qual dos seguintes fármacos é um hipnótico de ação curta e melhor para a indução do sono do que para sua manutenção? A. Temazepam. B. Flurazepam. C. Zaleplona. D. Buspirona. E. Escitalopram. 9.6 Qual dos seguintes fármacos tem efeito ansiolítico rápido e é o mais indicado para controlar a ansiedade aguda? A. Buspirona. B. Venlafaxina. C. Lorazepam. D. Escitalopram. E. Duloxetina. 9.7 Qual dos seguintes hipnoticossedativos é agonista do receptor de melatonina como mecanismo de indução do sono? A. Zolpidem. B. Eszopiclona. C. Estazolam. D. Ramelteona. E. Difenidramina. 9.8 Todos os seguintes fármacos para tratar insônia são fár- macos controlados e podem ter risco de viciar ou criar dependência, EXCETO: A. Zaleplona. B. Flurazepam. C. Doxepina. D. Zolpidem. E. Triazolam. Resposta correta = D. Barbitúrico e etanol são uma associação po- tencialmente letal. O fenobarbital é incapaz de alterar o limiar da dor. Com relação à afirmativa B, somente o fenobarbital induz a síntese do sistema metabolizador CYP450 hepático. O fenobarbital é contraindi- cado no tratamento da porfiria intermitente aguda. A buspirona não tem as propriedades anticonvulsivantes ou miorrelaxantes dos ben- zodiazepínicos e causa sedação mínima. Resposta correta = B. É importante tratar as convulsões associadas à abstinência do etanol. Os benzodiazepínicos, como clordiazepóxi- do, diazepam ou lorazepam (este de curta ação), são eficazes para controlar esse problema. Eles são menos sedativos do que o pento- barbital ou a fenitoína. Resposta correta = C. Dentre os fármacos citados, a zaleplona tem a menor meia-vida e duração de ação. Buspirona e escitalopram não são eficazes como hipnóticos. Temazepam e flurazepam tem dura- ções de ação mais longas e diminuem o acordar noturno, mas têm maior risco de sedação durante o dia e efeito ressaca comparado com o da zaleprona. Resposta correta = C. Os benzodiazepínicos têm eficácia contra an- siedade na primeira dosificação, enquanto os outros fármacos neces- sitam de 2 a 8 semanas para produzir melhora significativa. Resposta correta = D. Dentre os fármacos citados, a ramelteona é o único agonista do receptor da melatonina que promove o sono, es- pecialmente sonos interrompidos. Zolpidem, eszopiclona e estazolam utilizam o receptor benzodiazepínico, e a difenidramina é um antago- nista do receptor da histamina. Resposta correta = C. Considera-se que somente a doxepina, um fár- maco tricíclico com propriedades anti-histamínicas, não tem risco de viciar ou criar dependência, enquanto todos os demais citados são classificados na lista IV do Drug Enforcement Administration (DEA, EUA), que inclui fármacos com algum risco para viciar ou criar depen- dência, especialmente se forem usados por longos períodos. Capitulo_09_Whalen.indd 132 25/04/2016 10:00:55 Farmacologia Ilustrada 133 9.9 Todos os seguintes fármacos podem causar comprometi- mento cognitivo, incluindo problemas de memória, quan- do usados nas doses recomendadas, EXCETO: A. Difenidramina. B. Zolpidem. C. Alprazolam. D. Fenobarbital. E. Ramelteona. 9.10 Qual dos seguintes fármacos é o melhor para ser usado na unidade de emergência para pacientes suspeitos de ter re- cebido ou ingerido dose excessiva de benzodiazepínico? A. Diazepam. B. Ramelteona. C. Flumazenil. D. Doxepina. E. Naloxona. Resposta correta = E. Todos os fármacos listados, exceto a ramel- teona, são associados com comprometimento cognitivo, incluindo prejuízo à memória. A difenidramina possivelmente causa seus pro- blemas cognitivos por seus efeitos anticolinérgicos e anti-histami- nérgicos. Zolpidem, alprazolam e fenobarbital são bem conhecidos como causadores de prejuízo cognitivo, incluindo amnésia anteró- grada. A ramelteona tem dados de segurança que estendem por 6 meses e é um hipnótico não controlado que atua como agonista no receptor da melatonina. Considera-se que não apresenta risco de comprometimento cognitivo quando comparada com os demais fár- macos listados. Resposta correta = C. O flumazenil só é indicado para reverter os efei- tos dos benzodiazepínicos antagonizando no receptor de benzodiaze- pínico. Deve ser usado com cautela devido ao risco de convulsões se o paciente está recebendo benzodiazepínico por muito tempo ou se a dosagem excessiva foi feita com mistura de fármacos. O naloxona é um antagonista do receptor opioide. Os outros fármacos não são eficazes em reverter os efeitos dos benzodiazepínicos. Capitulo_09_Whalen.indd 133 25/04/2016 10:00:55 Capitulo_09_Whalen.indd 134 25/04/2016 10:00:55 Esta página foi deixada em branco intencionalmente. 10 I. RESUMO Os sintomas da depressão são sensação de tristeza e desesperança, bem como incapacidade de sentir prazer em atividades usuais, alterações nos padrões de sono e apetite, perda de vigor e pensamentos suicidas. A mania é caracterizada pelo comportamento oposto, ou seja, entusiasmo, raiva, pensamentos e fala rápidos, extrema autoconfiança e diminuição de autocrí- tica. Este capítulo oferece uma visão geral dos fármacos usados no trata- mento da depressão e da mania. II. MECANISMOS DOS ANTIDEPRESSIVOS A maioria dos fármacos antidepressivos úteis clinicamente (Fig. 10.1) po- tencializa, direta ou indiretamente, as ações da norepinefrina e/ou da sero- tonina (5-HT) no cérebro. Isso, juntamente com outras evidências, levou à teoria das aminas biogênicas, que propõe que a depressão se deve às deficiências das monoaminas, como norepinefrina e serotonina, em certos locais-chave do cérebro. Já a mania seria causada por produção excessiva desses neurotransmissores. Contudo, trata-se de uma teoria muito simplis- ta, que não explica por que os efeitos farmacológicos de qualquer antide- pressivo e antimania na neurotransmissão ocorrem imediatamente, ao pas- so que a evolução temporal para a resposta terapêutica precisa de várias semanas. Isso sugere que a diminuição da captação dos neurotransmisso- res é apenas o efeito inicial do fármaco, que pode não ser diretamente responsável pelos efeitos antidepressivos. III. INIBIDORES SELETIVOS DA CAPTAÇÃO DE SEROTONINA Os inibidores seletivos da captação de serotonina (ISCSs) são um grupo de fármacos antidepressivos que inibemespecificamente a captação da seroto- nina, apresentando uma seletividade de 300 a 3.000 vezes maior para o transportador de serotonina do que para o de norepinefrina. Isso contrasta INIBIDORES SELETIVOS DA CAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISCS) Citalopram Escitalopram Fluoxetina Paroxetina Sertralina INIBIDORES DA CAPTAÇÃO DE SEROTONINA E NOREPINEFRINA (ICSN) Desvenlafaxina Duloxetina Venlafaxina Levomilnaciprana ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS Bupropiona Mirtazapina Nefazodona Trazodona Vilazodona Vortioxetina ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS (ADT) Amitriptilina Amoxapina Clomipramina Desipramina Doxepina Imipramina Maprotilina Nortriptilina Protriptilina Trimipramina Fluvoxamina INIBIDORES DA MONOAMINOXIDASE (IMAO) Isocarboxazida Fenelzina Selegilina Tranilcipromina Figura 10.1 Resumo dos antidepressivos. (Continua) Jose A. Rey Antidepressivos Capitulo_10_Whalen.indd 135 25/04/2016 10:01:08 136 Whalen, Finkel & Panavelil PARA TRATAR DISTÚRBIOS BIPOLARES E MANIA Carbamazepina Lamotrigina Lítio Ácido valproico Figura 10.1 (Continuação) Resumo dos antidepressivos. com os antidepressivos tricíclicos (ADTs) e os inibidores da captação de se- rotonina e norepinefrina (ICSN), que inibem a captação de norepinefrina e de serotonina não seletivamente (Fig. 10.2). Além disso, os ISCSs têm es- cassa atividade bloqueadora em receptores muscarínicos, α-adrenérgicos e H1-histamínicos. Portanto, os efeitos adversos comuns associados aos ADTs, como hipotensão ortostática, sedação, xerostomia e visão turva, não são observados comumente com os ISCSs. Como têm efeitos adversos dife- rentes e são relativamente seguros, mesmo em dosagens excessivas, os ISCSs substituíram os ADTs e os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) como fármacos de escolha no tratamento da depressão. Os ISCSs incluem fluoxetina, citalopram, escitalopram, fluvoxamina, paroxetina e sertralina. O escitalopram é o S-enantiômero puro do citalopram. A. Ações Os ISCSs bloqueiam a captação de serotonina, levando ao aumento da concentração do neurotransmissor na fenda sináptica. Os antidepressi- vos, incluindo os ISCSs, em geral precisam de 2 semanas para produzir melhora significativa no humor, e o benefício máximo pode demorar até 12 semanas ou mais (Fig. 10.3). Os pacientes que não respondem a um antidepressivo podem responder a outro, e aproximadamente 80% ou mais respondem a pelo menos um antidepressivo. B. Usos terapêuticos A indicação primária dos ISCSs é a depressão, para a qual eles são tão eficazes quanto os ADTs. Vários outros transtornos psiquiátricos também respondem favoravelmente aos ISCSs, incluindo transtorno obsessivo- -compulsivo, de pânico, de ansiedade generalizada, de estresse pós- -traumático, de ansiedade social, além de transtorno disfórico pré-mens- trual e bulimia nervosa (para a qual apenas a fluoxetina está aprovada). C. Farmacocinética Todos os ISCSs são bem absorvidos após administração oral. Os picos séricos ocorrem em média entre 2 e 8 horas. Alimentos têm pouca in- fluência na absorção (exceto com a sertralina, cuja absorção aumenta com a alimentação). A maioria dos ISCSs tem meia-vida entre 16 e 36 horas. Ocorre extensa biotransformação pelo citocromo P450 (CYP450) e conjugação com glicuronídeo ou sulfato. A fluoxetina difere dos outros fármacos da classe por ter uma meia-vida muito longa (50 h), e a meia- -vida do metabólito ativo, S-norfluoxetina, é ainda mais longa, beirando os 10 dias. Está disponível como preparação de liberação prolongada, permitindo uma dosificação semanal. A fluoxetina e a paroxetina são potentes inibidores da isoenzima CYP450 (CYP2D6), responsável pela eliminação dos fármacos ADTs, antipsicóticos e alguns antiarrítmicos e β-antagonistas adrenérgicos. Outras isoenzimas CYP450 (CYP2C9/19, CYP3A4, CYP1A2) estão envolvidas com a biotransformação do ISCS e podem também ser inibidas em vários graus pelos ISCSs. As dosagens de todos esses fármacos devem ser reduzidas em pacientes com insufi- ciência hepática. D. Efeitos adversos Embora se considere que os ISCSs tenham efeitos adversos me- nos graves do que os ADTs e os IMAOs, eles não são isentos de efei- tos adversos, como cefaleia, sudoração, ansiedade e agitação, efeitos gastrintestinais (GI) (náuseas, êmese e diarreia), fraqueza e cansaço, FÁRMACO INIBIÇÃO DA CAPTAÇÃO Norepi nefrina Serotonina Inibidores seletivos da captação de serotonina Fluoxetina 0 ++++ Inibidores da capta- ção de norepinefri- na e serotonina Venlafaxina Duloxetina ++* ++++ ++++ ++++ Antidepressivo tricíclico Imipramina Nortriptilina ++++ ++++ +++ ++ Figura 10.2 Especificidade relativa pelos receptores de alguns fármacos antidepressivos. *A venlafaxina inibe a captação da norepinefrina apenas em doses altas. ++++, afinidade muito forte; +++, afinidade forte; ++, afinidade moderada; +, afinidade fraca; 0, pouca ou nenhuma afinidade. Efeito antidepressivo Administração de antidepressivo 2 a 12 semanas Início de ação Depressão meses Figura 10.3 O efeito terapêutico dos principais antidepressivos inicia-se após várias semanas. Capitulo_10_Whalen.indd 136 25/04/2016 10:01:08 Farmacologia Ilustrada 137 disfunções sexuais, alterações de massa corporal, distúrbios do sono (insônia e sonolência) e interações farmacológicas potenciais menciona- das (Fig. 10.4). Além disso, os ISCSs são associados com hiponatremia, especialmente em pacientes idosos e naqueles cuja volemia esteja dimi- nuída ou que estejam fazendo uso de diuréticos. 1. Distúrbios do sono: A paroxetina e a fluvoxamina em geral são mais sedativas do que estimulantes e podem ser úteis em pacien- tes que têm dificuldade em dormir. Por outro lado, pacientes que se sentem cansados ou se queixam de sonolência excessiva podem se beneficiar de um dos antidepressivos ISCSs mais estimulantes, como a fluoxetina e a sertralina. 2. Disfunções sexuais: Disfunções sexuais, incluindo perda de libi- do, ejaculação retardada e anosgarmia, são comuns com os ISCSs. Uma opção para lidar com as disfunções sexuais induzidas pelos ISCSs é trocar o antidepressivo por outro com menos efeitos adversos sexuais, como a bupropiona ou a mirtazapina. Alternati- vamente, a dosagem pode ser diminuída. 3. Uso em crianças e adolescentes: Os antidepressivos devem ser usados com cautela em crianças e adolescentes, pois cerca de uma a cada 50 crianças torna-se suicida em consequência do tratamento com ISCS. Pacientes pediátricos devem ser observa- dos quanto ao agravamento da depressão e a pensamentos suici- das com o início ou mudança de dosagem de qualquer antide- pressivo. Fluoxetina, sertralina e fluvoxamina estão aprovados para uso em crianças no tratamento do transtorno obsessivo- -compulsivo; fluoxetina e escitalopram estão aprovados para tra- tar a depressão infantil. 4. Superdosagem: Doses excessivas de ISCS em geral não cau- sam arritmias cardíacas, com exceção do citalopram, que pode causar prolongamento do intervalo QT. (Nota: os ADTs têm risco significativo de causar arritmias em doses excessivas.) Convul- sões são possíveis porque todos os antidepressivos podem baixar o limiar convulsivo. Todos os ISCSs têm potencial de causar sín- drome serotonínica, especialmente se forem usados em presença de IMAO ou outro fármaco fortemente serotoninérgico. Essa sín- drome inclui sinais como hipertermia, rigidez muscular, sudora- ção, mioclonia (abalos musculares clônicos) e alterações no esta- do mental e nos sinais vitais. 5. Síndrome da interrupção: Todos os ISCSs têm potencial de cau- sar a síndrome de interrupção, particularmente os fármacos com meias-vidas mais curtas e metabólitos inativos. A fluoxetina tem o menor risco de causar a síndrome de interrupção ISCS, devido à sua meia-vida mais longa e ao metabólito ativo. Os possíveis sinais e sintomas da síndrome de interrupção de ISCS incluem cefaleia, mal-estar e sintomas de gripe, agitação e irritabilidade, nervosismo e alterações no padrão de sono. IV. INIBIDORESDA CAPTAÇÃO DE SEROTONINA E NOREPINEFRINA Venlafaxina, desvenlafaxina, levomilnaciprana e duloxetina inibem a capta- ção de serotonina e norepinefrina (Fig. 10.5). Esses fármacos, denominados Náusea Ansiedade Sonolência Insônia Disfunção sexual Interação de fármacos Figura 10.4 Alguns dos efeitos adversos comumente observados com o uso dos ISCSs. Capitulo_10_Whalen.indd 137 25/04/2016 10:01:09 138 Whalen, Finkel & Panavelil ICSNs, podem ser eficazes no tratamento de depressão em pacientes nos quais os ISCSs foram ineficazes. Além disso, a depressão com frequência é acompanhada de sintomas dolorosos crônicos, como dor lombar e dor mus- cular, contra os quais os ISCSs são relativamente ineficazes. Essas dores são, em parte, moduladas por vias de serotonina e norepinefrina no sistema nervoso central (SNC). Tanto os ICSNs como os ADTs, com sua inibição da captação de serotonina e de norepinefrina, são eficazes algumas vezes para aliviar a dor associada com a neuropatia diabética periférica, a neuralgia pós-herpética, a fibromialgia e a dor lombar. Os ICSNs, ao contrário dos ADTs, têm pouca atividade em receptores adrenérgicos α, muscarínicos ou histamínicos e, assim, têm menos efeitos adversos mediados por esses re- ceptores do que os ADTs. Os ICSNs podem causar síndrome de interrupção se o tratamento for suspenso de modo súbito. A. Venlafaxina e desvenlafaxina A venlafaxina é um potente inibidor da captação de serotonina e, em do- sagens médias e altas, é inibidor da captação de norepinefrina. A venla- faxina produz inibição mínima das isoenzimas CYP450 e é substrato da isoenzima CYP2D6. A desvenlafaxina é o metabólito ativo, desmetilado da venlafaxina. Os efeitos adversos mais comuns da venlafaxina são náu- seas, cefaleia, disfunções sexuais, tonturas, insônia, sedação e constipa- ção. Em doses elevadas, pode ocorrer aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca. A atividade clínica e o perfil de efeitos adversos da desvenlafaxina são similares aos da venlafaxina. B. Duloxetina A duloxetina inibe a captação de serotonina e norepinefrina em todas as dosagens. Ela é extensamente biotransformada no fígado em metabólitos inativos e deve ser evitada em pacientes com disfunção hepática. Efeitos adversos GI são comuns com a duloxetina, incluindo náuseas, xerosto- mia e constipação. Insônia, tonturas, sonolência, sudoração e disfunção sexual também são observadas. A duloxetina pode aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca. Ela é um inibidor moderado da isoenzima CYP2D6 e pode aumentar a concentração de fármacos biotransformados por essa via, como os antipsicóticos. C. Levomilnaciprana Levomilnaciprana é um enantiômero do milnaciprana (um ICSN antigo usado contra a depressão na Europa e contra a fibromialgia nos EUA). O perfil de efeitos adversos é similar ao dos demais ICSNs. É biotransfor- mado primariamente pela CYP3A4 e, assim, a atividade pode ser altera- da por indutores ou inibidores desse sistema enzimático. V. ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS Os antidepressivos atípicos são um grupo misto de fármacos que têm ação em vários locais diferentes. O grupo inclui bupropiona, mirtazapina, nefazo- dona, trazodona, vilazodona e vortioxetina. A. Bupropiona Este fármaco é um inibidor da captação de dopamina e norepinefina fraco, aliviando os sintomas de depressão. A bupropiona também é útil para diminuir a fissura por alguma substância e atenuar os sintomas de Resposta pós-sináptica O fármaco antide- pressivo bloqueia a captação do neurotransmissor NEURÔNIO PRÉ-SINÁPTICO FENDA SINÁPTICA Norepinefrina Serotonina NEURÔNIO PÓS- -SINÁPTICO Venlafaxina Duloxetina Figura 10.5 Mecanismo de ação proposto para os antidepressivos ICSNs. Capitulo_10_Whalen.indd 138 25/04/2016 10:01:09 Farmacologia Ilustrada 139 abstinência da nicotina em pacientes que tentam parar de fumar. Os efei- tos adversos podem incluir boca seca, sudoração, nervosismo, tremores e um aumento dose-dependente do risco de convulsões. A incidência de disfunções sexuais é baixa. A bupropiona é biotransformada pela CYP2B6, e o risco de interações entre fármacos é relativamente baixo, considerando que poucas substâncias inibiem ou induzem essa enzima. Contudo, a bupropiona pode inibir a CYP2D6 e, assim, aumentar a ex- posição a substratos dessa isoenzima. O uso da bupropiona deve ser evitado em pacientes sob risco de convulsões ou naqueles que sofrem de transtornos de alimentação, como bulimia. B. Mirtazapina Mirtazapina aumenta a neurotransmissão de serotonina e norepinefrina, servindo como antagonista nos receptores pré-sinápticos α2. Além disso, parte da atividade antidepressiva pode ser relacionada ao antagonismo de receptores 5-HT2. Esse fármaco é sedativo devido à sua potente ativi- dade anti-histamínica, mas não causa os efeitos adversos antimuscaríni- cos dos ADTs, nem interfere na função sexual, como os ISCSs. Frequen- temente, ocorre aumento do apetite e da massa corporal (Fig. 10.6). A mirtazapina é acentuadamente sedativa, o que pode ser uma vantagem em pacientes deprimidos com dificuldade para dormir. C. Nefazodona e trazodona Estes fármacos são inibidores fracos da captação de serotonina. Seus efeitos terapêuticos parecem estar relacionados com a capacidade de bloqueio dos receptores 5-HT2A pós-sinápticos. Os dois fármacos são sedativos, provavelmente devido à potente atividade bloqueadora H1. A trazodona é usada comumente extrabula para o controle da insônia. A trazodona foi associada ao priapismo, e a nefazodona, ao risco de he- patotoxicidade. Ambos os fármacos são antagonistas leves a moderados nos receptores α1, o que contribui para ortostasia e tonturas. D. Vilazodona Vilazodona é um inibidor da captação de serotonina e um agonista par- cial em 5-HT1A. Embora a extensão da contribuição da atividade do recep- tor 5-HT1A para seu efeito terapêutico seja desconhecida, esse possível mecanismo de ação torna-o singular entre os ISCSs. O perfil de efeitos adversos da vilazodona é similar ao dos ISCSs, incluindo o risco da sín- drome de descontinuação se for interrompido abruptamente. E. Vortioxetina Vortioxetina usa como mecanismo de ação sugerido para tratar a depres- são uma combinação de inibição da captação de serotonina, agonismo 5-HT1A e antagonismo 5-HT3 e 5-HT7. Não está claro em que extensão as outras atividades além da inibição da captação de serotonina influen- ciam o efeito geral da vortioxetina. Os efeitos adversos comuns incluem nauseas, êmese e constipação, que podem ser esperados devido a seus mecanismos serotoninérgicos. VI. ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS Os ADTs bloqueiam a captação de norepinefrina e serotonina no neurônio pré-sináptico e, portanto, se fossem descobertos atualmente, poderiam ser Aumento de massa corporal Sedação Figura 10.6 Alguns efeitos adversos comumente observados da mirtazapina. Capitulo_10_Whalen.indd 139 25/04/2016 10:01:09 140 Whalen, Finkel & Panavelil fármacos são biotransformados pelo sistema microssomal hepático (e assim podem ser suscetíveis aos fármacos que induzem ou inibem as isoenzimas CYP450) e são conjugados com ácido glicurônico. Por fim, os ADTs são excretados como metabólitos inativos pelos rins. E. Efeitos adversos O bloqueio dos receptores muscarínicos leva a visão turva, xerostomia, retenção urinária, taquicardia sinusal, constipação e agravamento do glaucoma de ângulo fechado (Fig. 10.7). Esses fármacos afetam a condu- ção cardíaca de modo similar ao da quinidina e podem causar arritmias que ameaçam a vida em situação de dose excessiva. Os ADTs também bloqueiam os receptores α-adrenérgicos, causando hipotensão ortostá- tica, tonturas e taquicardia reflexa. A imipramina é a mais provável, e a nortriptilina é a menos provável, de causar hipotensão ortostática. A sedação pode ser significativa, especialmente durante as primeiras se- manas do tratamento, e está relacionada com a capacidade que esses fármacos têm de bloquear os receptoresH1 histamínicos. O aumento de massa corporal é um dos efeitos adversos dos ADTs. Disfunção sexual ocorre em uma minoria de pacientes, e a incidência é menor do que a associada com o ISCS. Os ADTs (como todos os antidepressivos) devem ser usados com cau- tela nos pacientes com transtorno bipolar, mesmo durante seu estado depressivo, pois podem causar alteração para comportamento manía- co. Os ADTs têm índice terapêutico estreito (p. ex., 5-6 vezes da dose máxima diária de imipramina pode ser letal). Os pacientes deprimidos que são suicidas devem receber somente quantidades limitadas desses fármacos e devem ser observados de perto. Interações de fármacos com os ADTs são mostradas na Figura 10.8. Os ADT podem agravar certas condições médicas, como hiperplasia prostática benigna, epilepsia e arritmias preexistentes. VII INIBIDORES DA MONOAMINOXIDASE A monoaminoxidase (MAO) é uma enzima mitocondrial encontrada em ner- vos e outros tecidos, como fígado e intestino. No neurônio, a MAO funciona como “válvula de segurança”, desaminando oxidativamente e inativando qualquer excesso de neurotransmissor (norepinefrina, dopamina e serotoni- na) que possa vazar das vesículas sinápticas quando o neurônio está em repouso. O IMAO pode inativar reversível ou irreversivelmente a enzima, per- mitindo que as moléculas do neurotransmissor fujam da degradação e, as- sim, se acumulem dentro do neurônio pré-sináptico e vazem para o espaço sináptico. Os quatro IMAOs disponíveis atualmente para o tratamento da de- pressão incluem fenelzina, tranilcipromina, isocarboxazida e selegilina. (Nota: a selegilina é usada também no tratamento da doença de Parkinson. Ela é o único antidepressivo disponível em sistema de administração trans- dérmico.) O uso de IMAOs é limitado devido às complicadas restrições de dieta exigidas durante a utilização desses fármacos. A. Mecanismo de ação A maioria dos IMAOs, como a fenelzina, forma complexos estáveis com a enzima, causando inativação irreversível. Isso resulta em aumento dos estoques de norepinefrina, serotonina e dopamina no interior dos Náuseas Sonolência Xerostomia Constipação Retenção urinária Visão borrada Taquicardia Arritmias Aumento de massa corporal Figura 10.7 Alguns dos efeitos adversos comumente observados com os ADTs. Potencializa efeitos das aminas biogênicas por evitar sua remoção da fenda sináptica Sedação tóxica Aumento mútuo: hipertensão, hiperpirexia, convulsões e coma Antidepressivos tricíclicos Fármacos adrenérgicos de ação direta Fármacos adrenérgicos de ação indireta Etanol e outros depressores do SNC Inibidores da MAO Bloqueia os efeitos dos fármacos simpa- ticomiméticos de ação indireta evi- tando que o fármaco alcance seu local de ação intracelular Figura 10.8 Fármacos que interagem com os antidepressivos tricíclicos. SNC, sistema nervoso central; MAO, monoaminoxidase. referidos como ICSNs, exceto pelas diferenças nos efeitos adversos dessa nova classe de antidepressivos. Os ADTs incluem as aminas terciárias imi- pramina (o protótipo do grupo), amitriptilina, clomipramina, doxepina e trimi- pramina, e as aminas secundárias desipramina e nortriptilina (o metabólito N-desmetilado da imipramina e amitriptilina, respectivamente) e protriptilina. Maprotilina e amoxapina são antidepressivos “tetracíclicos” e comumente são incluídos na classe geral dos ADTs. Pacientes que não respondem a um ADT podem se beneficiar de outro fármaco desse grupo. A. Mecanismo de ação 1. Inibição da captação do neurotransmissor: Os ADTs e a amo- xapina são inibidores potentes da captação neuronal de norepine- frina e serotonina no terminal nervoso pré-sináptico. Maprotilina e desipramina são inibidores relativamente seletivos da captação de norepinefrina. 2. Bloqueio de receptores: Os ADTs também bloqueiam os recep- tores serotoninérgicos, α-adrenérgicos, histamínicos e muscaríni- cos. Ainda não se sabe se alguma dessas ações é responsável pelo benefício terapêutico dos ADTs. Contudo, as ações nesses receptores provavelmente são responsáveis por muitos dos seus efeitos adversos. A amoxapina também bloqueia os receptores 5-HT2 e dopamina D2. B. Ações Os ADTs melhoram o humor e o alerta mental, aumentam a atividade física e reduzem a preocupação mórbida de 50 a 70% dos indivíduos com depressão. O início da melhora do humor é lento, necessitando de 2 semanas ou mais (Fig. 10.3). A resposta do paciente pode ser usada para ajustes da dosagem. Após a resposta terapêutica, a dosagem pode ser reduzida gradualmente para melhorar a tolerância, a menos que ocorra recaída. Dependência física e psicológica raramente foram registradas. Exige a retirada lenta para minimizar a síndrome de descontinuação e os efeitos colinérgicos de rebote. C. Usos terapêuticos Os ADTs são eficazes no tratamento de depressão moderada e grave. Alguns pacientes com transtorno de pânico também respondem aos ADTs. A imipramina tem sido usada para controlar a enurese em crian- ças com mais de 6 anos; contudo, tem sido amplamente substituída por desmopressina e tratamentos não farmacológicos (alarmes de enurese). Os ADTs, particularmente a amitriptilina, têm sido usados para auxiliar a prevenção da enxaqueca e tratar síndromes de dor crônica (p. ex., dor neuropática), em inúmeras condições em que a causa da dor é desco- nhecida. Dosagens baixas de ADT, especialmente doxepina, podem ser usadas contra insônia. D. Farmacocinética Os ADTs são bem absorvidos após administração oral. Por sua nature- za lipofílica, são amplamente distribuídos e facilmente penetram o SNC. Como consequência da biotransformação de primeira passagem muito variável, os ADTs têm biodisponibilidade baixa e inconsistente. Esses Capitulo_10_Whalen.indd 140 25/04/2016 10:01:10 Farmacologia Ilustrada 141 fármacos são biotransformados pelo sistema microssomal hepático (e assim podem ser suscetíveis aos fármacos que induzem ou inibem as isoenzimas CYP450) e são conjugados com ácido glicurônico. Por fim, os ADTs são excretados como metabólitos inativos pelos rins. E. Efeitos adversos O bloqueio dos receptores muscarínicos leva a visão turva, xerostomia, retenção urinária, taquicardia sinusal, constipação e agravamento do glaucoma de ângulo fechado (Fig. 10.7). Esses fármacos afetam a condu- ção cardíaca de modo similar ao da quinidina e podem causar arritmias que ameaçam a vida em situação de dose excessiva. Os ADTs também bloqueiam os receptores α-adrenérgicos, causando hipotensão ortostá- tica, tonturas e taquicardia reflexa. A imipramina é a mais provável, e a nortriptilina é a menos provável, de causar hipotensão ortostática. A sedação pode ser significativa, especialmente durante as primeiras se- manas do tratamento, e está relacionada com a capacidade que esses fármacos têm de bloquear os receptores H1 histamínicos. O aumento de massa corporal é um dos efeitos adversos dos ADTs. Disfunção sexual ocorre em uma minoria de pacientes, e a incidência é menor do que a associada com o ISCS. Os ADTs (como todos os antidepressivos) devem ser usados com cau- tela nos pacientes com transtorno bipolar, mesmo durante seu estado depressivo, pois podem causar alteração para comportamento manía- co. Os ADTs têm índice terapêutico estreito (p. ex., 5-6 vezes da dose máxima diária de imipramina pode ser letal). Os pacientes deprimidos que são suicidas devem receber somente quantidades limitadas desses fármacos e devem ser observados de perto. Interações de fármacos com os ADTs são mostradas na Figura 10.8. Os ADT podem agravar certas condições médicas, como hiperplasia prostática benigna, epilepsia e arritmias preexistentes. VII INIBIDORES DA MONOAMINOXIDASE A monoaminoxidase (MAO) é uma enzima mitocondrial encontrada em ner- vos e outros tecidos, como fígado e intestino. No neurônio, a MAO funciona como “válvula de segurança”, desaminando oxidativamente e inativando qualquer excesso de neurotransmissor (norepinefrina, dopamina e serotoni-na) que possa vazar das vesículas sinápticas quando o neurônio está em repouso. O IMAO pode inativar reversível ou irreversivelmente a enzima, per- mitindo que as moléculas do neurotransmissor fujam da degradação e, as- sim, se acumulem dentro do neurônio pré-sináptico e vazem para o espaço sináptico. Os quatro IMAOs disponíveis atualmente para o tratamento da de- pressão incluem fenelzina, tranilcipromina, isocarboxazida e selegilina. (Nota: a selegilina é usada também no tratamento da doença de Parkinson. Ela é o único antidepressivo disponível em sistema de administração trans- dérmico.) O uso de IMAOs é limitado devido às complicadas restrições de dieta exigidas durante a utilização desses fármacos. A. Mecanismo de ação A maioria dos IMAOs, como a fenelzina, forma complexos estáveis com a enzima, causando inativação irreversível. Isso resulta em aumento dos estoques de norepinefrina, serotonina e dopamina no interior dos Náuseas Sonolência Xerostomia Constipação Retenção urinária Visão borrada Taquicardia Arritmias Aumento de massa corporal Figura 10.7 Alguns dos efeitos adversos comumente observados com os ADTs. Potencializa efeitos das aminas biogênicas por evitar sua remoção da fenda sináptica Sedação tóxica Aumento mútuo: hipertensão, hiperpirexia, convulsões e coma Antidepressivos tricíclicos Fármacos adrenérgicos de ação direta Fármacos adrenérgicos de ação indireta Etanol e outros depressores do SNC Inibidores da MAO Bloqueia os efeitos dos fármacos simpa- ticomiméticos de ação indireta evi- tando que o fármaco alcance seu local de ação intracelular Figura 10.8 Fármacos que interagem com os antidepressivos tricíclicos. SNC, sistema nervoso central; MAO, monoaminoxidase. Capitulo_10_Whalen.indd 141 25/04/2016 10:01:10 142 Whalen, Finkel & Panavelil MAO MAO A B Metabólitos inativos Norepinefrina Serotonina Dopamina Vesícula sináptica Metabólitos inativos Norepinefrina Serotonina Dopamina Os IMAOs evitam a inativação das monoaminas no interior do neurônio, causando a difusão de um excesso de neurotrans- missor para a fenda sináptica Transmissão monoaminérgica normal Efeitos dos IMAOs Resposta pós-sináptica FENDA SINÁPTICA NEURÔNIO PÓS- -SINÁPTICO Resposta pós-sináptica FENDA SINÁPTICA NEURÔNIO PÓS- -SINÁPTICO Vesícula sináptica A MAO inativa as monoa- minas (norepinefrina, se- rotonina e dopamina) que vazam da vesícula sináptica Figura 10.9 Mecanismo de ação dos IMAOs. neurônios e subsequente difusão do excesso de neurotransmissor para a fenda sináptica (Fig. 10.9). Esses fármacos inibem a MAO não só no cérebro, mas também no fígado e no intestino, onde catalisam desamina- ções oxidativas de fármacos e substâncias potencialmente tóxicas, como a tiramina, que é encontrada em certos alimentos. Por isso, os IMAOs mostram elevada incidência de interações com fármacos e com alimen- tos. A selegilina administrada na forma de adesivo transdérmico pode produzir menor inibição da MAO hepática e intestinal em dosagens bai- xas, porque se evita a biotransformação de primeira passagem. B. Ações Embora a MAO esteja completamente inibida após alguns dias de trata- mento, a ação antidepressiva dos IMAOs, como a dos ISCSs, ICSNs e ADTs, é retardada em várias semanas. A selegilina e a tranilcipromina apresentam efeito estimulante tipo anfetamina, o qual pode causar agita- ção e insônia. C. Usos terapêuticos Os IMAOs são indicados para pacientes deprimidos que não respondem ou são alérgicos aos ADTs ou que apresentam forte ansiedade. Uma subcategoria especial de depressão, denominada depressão atípica, pode responder aos IMAOs preferencialmente. Devido ao risco de inte- rações entre fármacos e entre fármaco e alimentos, os IMAO são consi- derados os fármacos de última escolha em vários centros de tratamento. D. Farmacocinética Os IMAOs são bem absorvidos por administração oral. A regeneração de enzima, quando é inativada irreversivelmente, varia, mas em geral ocorre várias semanas depois de terminar a administração do fármaco. Assim, quando houver troca de antidepressivos, deve haver um intervalo mínimo de 2 semanas após o fim do tratamento com IMAO e o início de outro antidepressivo de qualquer outra classe. Os IMAOs são biotransformados no fígado e excretados rapidamente na urina. E. Efeitos adversos Efeitos adversos graves, frequentemente imprevisíveis, devido a in- terações com fármacos e alimentos, limitam o amplo uso dos IMAOs. Por exemplo, a tiramina, que está presente em alimentos como queijos envelhecidos e carnes, fígado de aves, peixes em conserva ou defu- mados e vinhos tintos normalmente é inativada pela MAO no intestino. Indivíduos tratados com IMAO são incapazes de degradar a tiramina presente na dieta. A tiramina causa liberação de grande quantidade de catecolaminas armazenadas nos terminais nervosos, resultando em “crise hipertensiva” com sinais e sintomas como cefaleia occipital, rigi- dez no pescoço, taquicardia, náuseas, hipertensão, arritmias cardíacas, convulsões e possivelmente colapso. Os pacientes precisam, portanto, ser orientados para evitar alimentos contendo tiramina. A fentolamina ou a prazosina são úteis no tratamento da hipertensão induzida por tiramina. Outros possíveis efeitos adversos do tratamento com IMAO incluem sonolência, hipotensão ortostática, visão turva, xerostomia e constipação. Devido ao risco de síndrome de serotonina, o uso de IMAO com outros antidepressivos é contraindicado. Por exemplo, os ISCSs Capitulo_10_Whalen.indd 142 25/04/2016 10:01:11 Farmacologia Ilustrada 143 Fenelzina Tranilcipromina Amitriptilina Amoxapina Clomipramina Desipramina Doxepina Imipramina Maprotilina Nortriptilina Protriptilina Trimipramina ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS/POLICÍCLICOS INIBIDORES DA MONOAMINOXIDASE Ganho de massa corporal Bupropiona Mirtazapina Nefazodona Trazodona ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS Citalopram Escitalopram Fluoxetina Fluvoxamina Paroxetina Sertralina INIBIDORES SELETIVOS DA CAPTAÇÃO DE SEROTONINA INIBIDORES DA CAPTAÇÃO DE SEROTONINA E NOREPINEFRINA Duloxetina Venlafaxina Desvenlafaxina Potencial elevado para hipotensão ortostática Sedação; pode ser útil contra a agitação Distúrbios gastrintestinais Figura 10.10 Efeitos adversos de alguns fármacos usados no tratamento da depressão. não devem ser coadministrados com IMAOs. Tanto os ISCSs quanto os IMAOs precisam de um período de eliminação, de 2 semanas no mínimo, antes da administração de fármaco do outro tipo, com exceção da fluoxetina, a qual deve ser suspensa no mínimo 6 semanas antes de iniciar o IMAO. Além disso, os IMAOs têm várias outras interações críticas com fármacos, e é necessária cautela quando forem administr- dos concomitantemente. A Figura 10.10 resume os efeitos adversos dos fármacos antidepressivos. VIII. TRATAMENTO DA MANIA E DO DISTÚRBIO BIPOLAR O tratamento do transtorno bipolar aumentou em anos recentes, devido ao maior reconhecimento do transtorno e também pelo aumento do número de medicamentos disponíveis. A. Lítio Os sais de lítio são usados aguda e profilaticamente no tratamento de pacientes bipolares. O lítio é eficaz no tratamento de 60 a 80% dos pa- cientes que exibem mania e hipomania. Embora vários processos celu- lares sejam alterados pelos sais de lítio, o mecanismo de ação é des- conhecido. O índice terapêutico do lítio é extremamente baixo, e os sais de lítio podem ser tóxicos. Os efeitos adversos podem incluir cefaleia, xerostomia, polidipsia, poliúria, polifagia, distúrbios GI (o lítio deve ser ad- ministrado com alimento), tremor fino nas mãos, tonturas, fadiga, reações dérmicas e sedação. Os efeitos adversos devidos a níveis plasmáticos mais elevados indicam toxicidade e incluem ataxia, fala enrolada, tremo- res grosseiros, confusão e convulsões. A função tiroidiana pode diminuir e deve ser monitorada. Ao contrário de outros estabilizadores do humor, o lítio é eliminado pelos rins, e
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