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Osteopor�� Histologi� �sse� O osso é composto por matriz orgânica e sais ósseos. A matriz orgânica é constituída, principalmente, por colágeno (destacando-se o colágeno tipo I) e substância fundamental amorfa (destacando-se os proteoglicanos), ambos secretados pelos osteoblastos. Os sais de cristais, compostos, principalmente, por cálcio e fósforo, se precipitam na matriz orgânica sob a forma de hidroxiapatita. As principais células que compõem o tecido ósseo são: osteoblastos, osteócitos (osteoblastos envoltos por matriz óssea) e osteoclastos. A superfície mais externa do osso compreende uma camada chamada de periósteo, a qual possui duas camadas. A camada mais externa é composta, principalmente, por fibras colágenas e fibroblastos. Já a camada mais interna é mais celularizada e apresenta as células osteoprogenitoras, as quais se diferenciam em osteoblastos. O endósteo, localizado na superfície mais interna do osso, é constituído por uma delgada camada de células osteogênicas achatadas, que revestem as cavidades do osso esponjoso, o canal medular, os canais de Havers e os de Volkmann. Do ponto de vista histológico, existem dois tipos de tecido ósseo: o não lamelar (imaturo ou primário) e o lamelar (maduro ou secundário). Ambos possuem os mesmos tipos de células e uma matriz bastante semelhante. O tipo não lamelar é um tecido mais desorganizado, com fibras colágenas dispostas de forma irregular, estando presente no processo de embriogênese e na reparação de fraturas. Já o tecido lamelar é mais maduro e possui fibras dispostas de forma regular. Do ponto de vista macroscópico podemos organizar o tecido ósseo em dois tipos: o tecido cortical e o tecido trabecular. O primeiro é bastante mineralizado e serve de revestimento para o segundo. O tecido trabecular, por sua vez, possui uma estrutura esponjosa, a qual permite que células hematopoiéticas se alojem. Fisiologi� �sse� A remodelação óssea é um processo no qual o osso antigo é substituído por um osso novo. Ela ocorre em média de 10% ao ano, o que leva a uma renovação de todo o esqueleto a cada 10 anos. Tal processo permite o reparo de microdanos ocasionados pelo desgaste, bem como a adaptação da estrutura óssea mediante alterações na resistência sobre a qual o osso é submetido. O período de maior ganho de massa óssea se dá na adolescência, atingindo-se o pico de massa óssea em torno dos 25 anos de idade. Entre 25 anos e 30 anos de idade, o processo de reabsorção e formação óssea se dá de forma equilibrada. Após os 30 anos de idade homens e mulheres começam a perder osso trabecular. A perda de osso cortical se dá a partir da menopausa em mulheres e após os 60 anos nos homens. Pode-se dividir a remodelação óssea em 5 fases: 1. Ativação: Um sinal é recebido para que determinado sítio ósseo seja remodelado. Acredita-se que os osteócitos sejam os regentes do processo de remodelação e responsáveis por essa ativação. Cristovão Júnior | Reumatologia | Medicina 2. Reabsorção: PTH: Paratormônio. RANK: Receptor ativador do fator nuclear κB RANKL: Ligante do receptor ativador do fator nuclear κB M-CSF: Fator estimulador de colônia de macrófagos OPG: Osteoprotegerina 3. Reversão: Há um sinal para finalizar a reabsorção e começar a formação de osso novo. Os mecanismos moleculares que regulam a reversão ainda não são bem compreendidos. 4. Formação: Osteoblastos recobrem a cavidade reabsorvida e iniciam a produção de colágeno e demais proteínas da matriz óssea, criando o osso novo. 5. Mineralização: A partir de um ambiente mineral propício, com adequada disponibilidade de cálcio e fosfato, há deposição de cristais de hidroxiapatita na matriz colágena, conferindo rigidez ao osso. A reabsorção óssea é um processo mais rápido que a formação óssea – enquanto a reabsorção dura de 2 a 3 semanas, a formação e mineralização duram de 2 a 3 meses. Definiçã� A osteoporose é uma doença osteometabólica caracterizada pela redução da densidade e qualidade do osso, que tem como o principal desfecho clínico a ocorrência de fraturas por baixo impacto, principalmente no quadril, na coluna e no antebraço. Classificaçã� A osteoporose pode ser classificada em primária, quando decorre dos efeitos da menopausa ou do envelhecimento, e em secundária, quando decorre de uma doença de base ou medicação. As principais causas secundárias: • Hipogonadismo • Síndrome de Cushing • Hiperparatireoidismo • Hipertireoidismo • Doença celíaca/síndrome de má absorção • Medicações: glicocorticoide, anticonvulsivantes, lítio • Doença pulmonar obstrutiva crônica • Doença neurológica crônica • Artrite reumatoide • AIDS/HIV • Osteogênese imperfeita • Homocistinúria • Síndrome de Marfan Fatore� d� risc� Modificáveis: - Etilismo (> ou igual a 3 doses/dia) - Tabagismo atual - Baixo índice de massa corpórea - Má nutrição - Deficiência de vitamina D - Desordens alimentares - Baixa ingesta de cálcio na dieta - Quedas frequentes Não modificáveis: - Idade - Sexo feminino - Raça - História familiar de osteoporose - Menopausa precoce ou hipogonadismo masculino - História de quedas - História familiar de fratura de quadril - Osteoporose secundária - Baixo índice de massa corpórea Fisiopatologi� Na osteoporose, o processo de reabsorção óssea se sobrepõe ao processo de formação de novo osso, o que torna a estrutura óssea frágil e suscetível a fraturas. Dentre as principais associações com os fatores de risco, pode-se citar: Pós-menopausa e menopausa precoce: A queda nos níveis do hormônio estrogênio leva ao aumento da reabsorção óssea, uma vez que o estrogênio estimula o osteoblasto a secretar osteoprotegerina, substância que se liga ao RANK, impedindo sua ligação com o RANKL e a consequente ativação de osteoclastos. Hiperparatiroidismo: O hormônio paratireóideo age, juntamente com a vitamina D, estimulando o osteoblasto a expressar a RANKL e ativar osteoclastos. Além disso, ele vai atuar aumentando a reabsorção de cálcio do osso para o meio extracelular. Quando em excesso, tal hormônio promove a existência de ossos frágeis associados a um rápido processo de reabsorção. Cristovão Júnior | Reumatologia | Medicina Glicocorticóides (GC): Os receptores de GC estão presentes em osteoclastos, osteoblastos e osteócitos, e no contexto de excesso de GC há diminuição crônica da formação óssea, perda de osteócitos e aumento transitório da reabsorção, justificando as graves fraturas vertebrais vistas particularmente nos primeiros 6 meses de uso de GC oral diário em doses altas (> 7,5 mg/dia de prednisona, por exemplo). Quadr� clínic� A osteoporose é uma doença de evolução clínica silenciosa, na qual os sintomas só aparecem após a ocorrência de uma fratura. No entanto, a maioria das fraturas cursa de forma assintomática e muitas vezes acabam sendo um achado incidental em radiografias de tórax e abdômen. A fratura vertebral é a manifestação clínica mais comum da osteoporose. Embora a maioria seja assintomática, as que promovem quadro de dor, também cursam com redução na altura do paciente e cifose. Este último, pode ocasionar comprometimento respiratório e cardíaco, diminuindo a qualidade de vida. Pacientes com múltiplas fraturas vertebrais podem, também, comprometer o abdômen, causando hérnia de hiato e incontinência urinária. Reduções de altura > 2 cm no último ano ou > 4 cm em relação à juventude falam a favor de fratura vertebral. A fratura de quadril também é bastante comum na osteoporose e, em geral, decorre de queda, podendo estar localizada em região de colo ou região transtrocantérica. A fratura do rádio distal (fraturas de Colles) é mais comum em mulheres logo após a menopausa, geralmente, decorrente de queda sobre a mão. Diagn�stic� Densitometria óssea (DMO): A DMO é um exame radiográfico que tem como objetivo avaliar a densidade mineral óssea. Indicações para DMO, segundo a Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO): • Mulheres com idade ≥ 65 anos e homens com idade ≥ 70 anos. • Adultos com antecedente de fratura por fragilidade, condição clínica ouuso de medicamentos associados à baixa massa óssea ou perda óssea . • Indivíduos em tratamento para osteoporose, para monitoramento de sua eficácia. • Mulheres na pós-menopausa ou na transição menopausal e homens acima de 50 anos, com fatores de risco. • Indivíduos para os quais são consideradas intervenções farmacológicas para osteoporose. • Indivíduos que não estejam sob tratamento, porém nos quais a identificação de perda de massa óssea possa determinar a indicação do tratamento. Para o diagnóstico de osteoporose em pacientes adultos, as posições oficiais da ABRASSO recomendam a densitometria dos sítios esqueléticos da coluna lombar (região de interesse: L1-L4) e fêmur proximal (regiões de interesse: colo femoral e fêmur total), podendo ser complementada com a medida do antebraço distal (região de interesse: rádio 33%, também designada rádio 1/3). T-SCORE em Desvio-padrão (DP): Os limiares de escore T não devem ser aplicados a medições obtidas em mulheres na pré-menopausa ou em homens com idade inferior a 50 anos. Nessas situações, o escore Z correspondente deve ser relatado e não pode ser usado isoladamente para diagnosticar a osteoporose. A classificação diagnóstica para esses pacientes deve ser: um escore Z igual ou inferior a -2,0 DP é definido como “abaixo da faixa esperada para a idade”, e um escore Z acima de -2,0 DP deve ser classificado como “dentro dos limites esperados para a idade”. Cristovão Júnior | Reumatologia | Medicina A principal limitação à avaliação pela densidade óssea é que a maior parte das fraturas ocorre em indivíduos com escore T que não preenche critérios para osteoporose (< -2,5 DP). Assim, a densitometria óssea acaba tendo baixa sensibilidade quando utilizada isoladamente. Com o auxílio do FRAX pode-se ter uma melhor acurácia clínica do paciente, com os possíveis riscos futuros para fratura. O FRAX é um algoritmo que usa uma combinação de fatores de risco associados ou não à densidade óssea do colo do fêmur e fornece a probabilidade de fraturas maiores (fêmur, fratura vertebral clínica, úmero ou punho) ou, simplesmente, fratura de fêmur, em homens e mulheres, nos próximos 10 anos. A probabilidade de fratura nos próximos 10 anos é calculada a partir da idade, índice de massa corporal e fatores de risco dicotomizados como presença de fratura prévia por fragilidade, história familiar de fratura de fêmur, tabagismo atual, corticosteroide oral, artrite reumatoide, outras causas de osteoporose secundária e consumo excessivo de álcool. A probabilidade de fratura é computada, considerando o risco de fratura e o risco de morte. Indicações para rastreamento de fratura: • Mulheres acima de 70 anos e homens acima de 80 anos com escore T ≤ 1,0. • Mulheres na pós-menopausa e homens acima de 50 anos com fatores de risco específicos. - Redução da estatura de 4 cm ou mais desde o pico de altura. - Redução da estatura de 2 cm ou mais desde o início do acompanhamento clínico. - Uso crônico de corticoide. - Antecedente de fratura por trauma de baixa energia. A radiografia em duas projeções é suficiente para o rastreamento ou avaliação inicial do paciente com dor não radicular da coluna. No entanto, considerando-se sua reduzida acurácia, principalmente em quadros agudos, os casos de radiografia negativa e suspeita clínica suficiente devem ser complementados com ressonância magnética (RM) ou tomografia computadorizada (TC). Casos de trauma são mais bem avaliados diretamente por TC. Quadros de câncer ósseo ou metástase óssea são bem avaliados por RM. Classificação de fratura vertebral por análise semiquantitativa de Genant: Solicita-se exames laboratoriais para identificar causas secundárias, excluir outros diagnósticos e determinar se há contraindicações ao tratamento. Marcadores de remodelação óssea são produtos bioquímicos identificados no sangue ou na urina que refletem a atividade metabólica do tecido ósseo e são categorizados como marcadores de formação ou reabsorção óssea. A utilização da concentração dos marcadores para monitoramento da resposta terapêutica é útil e racional, uma vez que há associação evidente entre a redução dos marcadores de remodelamento e a redução do risco de fratura. Tratament� Não Farmacológico - Orientar dieta com alimentos fontes de cálcio e vitamina D. - Orientar banhos de sol (fonte importante de vitamina D). - Orientar a cessação do tabagismo, se presente. - Limitar o consumo de álcool. - Recomendar exercícios físicos de baixo impacto e levando-se em consideração o condicionamento físico e risco de fratura do paciente. - Suplementação de Cálcio e Vitamina D, se necessário (Idosos são mais suscetíveis a apresentar deficiência desses nutrientes) Prevenção de quedas: - Detecção dos idosos em risco de cair em qualquer nível de atenção à saúde. - Avaliar os fatores de risco modificáveis. - Intervenção para prevenção das quedas. 1. Exercício físico estruturado e supervisionado (reduz em 23% a incidência de quedas). 2. Adaptação ambiental para redução do risco de cair. Cristovão Júnior | Reumatologia | Medicina 3. Manejo da hipotensão ortostática. 4. Correção para melhora visual. 5. Revisão e gestão medicamentosa. 6. Vitamina D. 7. Cuidados com os pés e calçados. 8. Manejo das comorbidades. 9. Revisão de dispositivos de auxílio à marcha. 10. Educação para a prevenção de quedas. 11. Abordagem em idosos com demência. Farmacológico: Bisfosfonatos (1º linha): São medicamentos antirreabsortivos. Podem ser classificados em dois tipos: Aqueles que se assemelham ao pirofosfato (clodronato e etidronato) com ação citotóxica no ATP e os mais potentes contendo nitrogênio (alendronato, risedronato, pamidronato e ácido zoledrônico) induzem a apoptose dos osteoclastos. Alendronato: Único da classe fornecido pelo SUS. Não há dados consistentes sobre a segurança na gravidez, portanto, são contraindicados durante a gravidez e a lactação. Denosumabe: Anticorpo monoclonal totalmente humanizado contra o ligante do receptor ativador do fator nuclear do kappa B (RANKL). O denosumabe na dose de 60 mg administrado de forma subcutânea a cada 6 meses foi aprovado para: a) tratamento de mulheres na pós-menopausa com osteoporose; b) tratamento de perda óssea por terapia de supressão hormonal em pacientes com câncer de próstata ou mama; c) osteoporose em homens. O denosumabe também pode ser utilizado em pacientes com disfunção renal, uma vez que não há metabolização do medicamento pelos rins, e em metástases ósseas. É importante ressaltar que pacientes que usam denosumabe, não podem fazer “holiday” desta medicação, devido ao risco elevado de fratura vertebral com a suspensão da mesma. Se o denosumabe for suspenso, um bisfosfonato (preferencialmente alendronato) deve ser prescrito. Raloxifeno: Modulador seletivo dos receptores estrogênicos (selective estrogen receptor modulators – SERM). Esta medicação liga-se ao receptor estrogênico com alta afinidade e exerce tanto efeito agonista (metabolismos lipídico e ósseo) quanto antagonista (mama) em relação aos estrógenos, de maneira tecido-específica. Na mulher pós-menopausada com osteoporose, observou-se redução do risco de fraturas vertebrais e de novos casos de câncer de mama após 4 anos de terapêutica. Essa terapia não alterou significativamente os riscos de eventos cardiovasculares como um todo, porém os reduziu em mulheres com aumento do risco cardiovascular. A terapia hormonal (TH) normalmente consiste em estrógeno e progesterona em mulheres na pós-menopausa com o útero, e só estrógeno em mulheres histerectomizadas. Teriparatida (PTH 1-34 recombinante humano): A secreção contínua de paratormônio (PTH) leva a uma resposta catabólica no esqueleto, o que é demonstrado pelo modelo de hiperparatireoidismo primário grave. No entanto, se o paratormônio é administrado em dose baixa e de modo intermitente, observa-se uma propriedade anabólica, principalmente em osso trabecular. O PTH em doses diárias (20 mcg pela manhã) diminui a apoptose dos osteoblastos, aumentando a sua atividade formadora. Nessa dosagem, eminjeções subcutâneas por 18 a 24 meses, reduziu as fraturas vertebrais e não vertebrais. A principal limitação ao seu uso é o custo, devendo ser restrito a casos de moderada a alta gravidade, com fraturas já presentes ou alto risco de fraturas e naqueles com resposta ineficaz aos bisfosfonatos. Após o término do tratamento, é fundamental a prescrição de um agente antirreabsortivo para evitar a perda de massa óssea adquirida com esta medicação anabólica. Entretanto, não se recomenda o uso de bisfosfonato oral concomitante à teriparatida. Cristovão Júnior | Reumatologia | Medicina
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