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COMPORTAMENTO E SOCIEDADE Prof. Mestre Clorijava Santiago ◦Raça e Etnicidade ◦ As categorias raça e etnia são muito utilizadas dentro e fora da academia e frequentemente são usadas como sinônimo. Mas isso não é verdade. Os dois conceitos são distintos e aplicáveis em diferentes situações. ◦ A história da classificação dos homens em raças é uma história de preconceitos e etnocentrismo. Não consideravam culturas e hábitos locais e atribuíam características sociais à raça. ◦ O primeiro trabalho visando classificar as raças humanas foi o de François Bernier, em 1684, “Nova divisão da terra pelas diferentes espécies ou raças que a habitam”. Posteriormente (SANTOS et al. 2010). Em 1790 foi realizado nos EUA o primeiro censo populacional. 16/11/2021 ◦A metodologia para classificação dos indivíduos demonstra a complexidade dos problemas raciais que já davam sinal de existência nesse país: homens brancos livres, mulheres brancas livres e outras pessoas, onde incluíam negros e nativos americanos. Essa classificação é baseada em fatores políticos, mais do que distinções raciais. 16/11/2021 ◦ Carolus Linnaeus (1758), criador da taxonomia moderna e do termo Homo sapiens, reconheceu quatro variedades do homem: ◦ 1) Americano (Homo sapiens americanus: vermelho, mau temperamento, subjugável); ◦ 2) Europeu (europaeus: branco, sério, forte); ◦ 3) Asiático (Homo sapiens asiaticus: amarelo, melancólico, ganancioso); ◦ 4) Africano (Homo sapiens afer: preto, impassível, preguiçoso). ◦ Linnaeus reconheceu também uma quinta raça sem definição geográfica, a Monstruosa (Homo sapiens monstrosus), compreendida por uma diversidade de tipos reais (por exemplo, Patagônios da América do Sul, Flatheads canadenses) e outros imaginados que não poderiam ser incluídos nas quatro categorias “normais”. Segundo a visão discriminatória de Linnaeus, a classificação atribuiu a cada raça características físicas e morais específicas. 16/11/2021 A taxonomia É a área da biologia responsável por identificar, nomear e classificar os seres vivos. A sistemática é uma área que também auxilia nesse processo, já que estuda as relações evolutivas entre os organismos, sendo cada vez mais utilizada nesse processo, assim como a biologia molecular. 16/11/2021 ◦ Séculos de preconceito, pré-julgamentos e associação de culturas distintas à características negativas só poderia gerar concepções negativas daqueles que não correspondessem aos padrões culturais europeus. ◦ Até hoje essa é uma luta travada por toda sociedade não-europeia, seja para legitimar padrões de comportamentos, de beleza ou até a linguagem. 16/11/2021 ◦ A diferença entre raça e etnia ◦ Precisamos começar esse tópico com a compreensão de que a ideia de raça é a base do pensamento racista. Foi com esse conceito que originou-se a ideologia da superioridade ou inferioridade racial. ◦ De acordo com Quijano (2000), o surgimento deste conceito tem como base a descoberta da América e a transformação do sistema econômico, que com as descobertas de novas terras para dominação europeia, transformou-se em um capitalismo colonial e eurocentrizado. 16/11/2021 ◦ O conceito de raça marca a distinção entre colonizadores e colonizados, separando a população entre superiores e inferiores. ◦ O termo raça tem uma variedade de definições geralmente utilizadas para descrever um grupo de pessoas que compartilham certas características morfológicas. A maioria dos autores tem conhecimento de que raça é um termo não científico que somente pode ter significado biológico quando o ser se apresenta homogêneo, estritamente puro; como em algumas espécies de animais domésticos. Essas condições, no entanto, nunca são encontradas em seres humanos (SILVA et al. 2010, p.122). 16/11/2021 ◦ Assim, entre antropólogos e geneticistas, há consensos sobre a não existência, do ponto de vista biológico, da raça humana ◦ O genoma humano é composto de 25 mil genes. As diferenças mais aparentes (cor da pele, textura dos cabelos, formato do nariz) são determinadas por um grupo insignificante de genes. As diferenças entre um negro africano e um branco nórdico compreendem apenas 0,005% do genoma humano (SANTOS, 2010, p. 122). 16/11/2021 ◦ O antropólogo Kabengele Munanga afirma que o conceito de raça é utilizado para manipulação política e ideológica. É um modo de buscar na ciência uma explicação que justifique a dominação branca europeia sobre os outros povos. Todavia, como vimos anteriormente, essa superioridade genética é uma falácia. 16/11/2021 Etnia Já a palavra etnia é mais complexa, portanto mais assertiva. Advindo da palavra grega ethnikos, significa gentio, ou seja, aquele que vem de nação estrangeira. De acordo com SANTOS (idem): “É um conceito polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da aparência física”. Isso quer dizer que a definição e etnia considera aspectos culturais! Sendo assim, o emprego de tal conceito pode vir a terminar com a questão da superioridade genética não comprovada e colocar em pauta a diferença cultural. 16/11/2021 ◦ raça e etnia. O termo raça abrange as características fenotípicas, como tipo de cabelo, cor de pele, traços faciais ou corporais. Já o conceito de etnia é amplo e engloba os fatores culturais, tal qual a nacionalidade, filiação, religião, língua e tradições. Esse conceito é, portanto, mais acertado e assertivo. ◦ Há um problema grave em classificar indivíduos por cor de pele. Esse traço não determina sequer a ancestralidade. Em países miscigenados como o Brasil, isso fica evidente. ◦ Estudo sobre a genética da população brasileira revelou que 27% dos negros de uma pequena cidade mineira apresentavam uma ancestralidade genética predominantemente não africana. Enquanto isso, 87% dos brancos brasileiros apresentam pelo menos 10% de ancestralidade africana (SANTOS, 2010, p. 123). ◦ O conceito de raça segue sendo utilizado para censo e outras questões, como as que envolvem distinções físicas com alguma significância na área médica. Dados indicam que a população negra é mais atingida por diabetes, pressão alta e anemia falciforme, por exemplo (BRASIL, 2016). 16/11/2021 ◦ Todavia, é preciso cuidado. Diferenças não podem ser entendidas como superioridade ou inferioridade. Durante muito tempo as teorias sobre raça geraram o racismo, que impunha a crença no poder, autoridade e controle de uma raça sobre outra. Essa biologização das diferenças não pode ser usada para estabelecer hierarquias sociais com relações sociais desiguais. ◦ O racismo, como processo histórico de exclusão, gerou inúmeros problemas para a sociedade em todo o mundo e é ainda hoje um fator a ser considerado nos estudos sobre socialização. 16/11/2021 ◦ Raça e etnia no Brasil ◦ Um dos países mais miscigenados do mundo, o Brasil é ainda um país racista. Um estudo divulgado no El Pais em 19 de novembro de 2019 mostra o abismo entre negros e brancos no país. ◦ Os 130 anos de abolição da escravidão não foram suficientes para sanar as deficiências e disparidades da relação abusiva imposta por três séculos de exploração e falta de políticas públicas para negros. ◦ De acordo com Mendonça (2019, p. 1) ◦ O Brasil tem hoje a maioria da população (55,8%) composta por pretos e pardos, mas é justamente esse grupo que tem a maior taxa de analfabetismo, os menores salários e sofre mais com a violência e o desemprego. A desigualdade em relação à população branca começa desde o nascimento, já que a mortalidade entre crianças negras e pardas brasileiras é bastante superior à da população branca da mesma idade. Em 2017, 50,7% das crianças até 5 anos que morreram por causas evitáveis eram pardas e pretas, enquanto 39,9% eram brancas, segundo dados do Ministério da Saúde. 16/11/2021 ◦ Raça e etnia no Brasil ◦ Um dos países mais miscigenados do mundo,o Brasil é ainda um país racista. Um estudo divulgado no El Pais em 19 de novembro de 2019 mostra o abismo entre negros e brancos no país. ◦ Os 130 anos de abolição da escravidão não foram suficientes para sanar as deficiências e disparidades da relação abusiva imposta por três séculos de exploração e falta de políticas públicas para negros. 16/11/2021 ◦ A violência contra negros também é maior. Dados apontam que a cada 100 pessoas assassinadas no país, 75 são negras. Dentre os que sofreram violência policial que culminou em assassinato, 75,4% eram negros, entre 2017 e 2018. Mulheres negras também sofrem mais feminicídio, 61% das mulheres vítimas desse crise entre 2017 e 2018 eram negras (MENDONÇA, 2019). ◦ É possível, através destes dados, afirmar que o Brasil é um país racista, apesar de não praticar o racismo de forma ostensiva. 16/11/2021 ◦ Pobreza e Exclusão Social. Relações de Trabalho e Saúde ◦ Qual é a relação entre a pobreza, a exclusão social, as relações de trabalho e as condições de saúde de uma população? Questões de gênero e raciais interferem nesses indicadores? ◦ Sabemos que no mundo atual, absolutamente capitalista e neoliberal em sua maioria, o dinheiro é mais do que o papel com que compramos coisas: é prestigio, poder. ◦ Porém, não para todos. Alguns grupos em situação de discriminação, seja pelo gênero, pela identidade de gênero ou papel de gênero, ou ainda pela cor e etnia e até mesmo religião, não conseguem converter renda em prestigio e acesso à bens e garantias mínimas. De acordo com Reis e Schwartzman (2002, p.1) 16/11/2021 ◦ Qualquer análise que se faça da sociedade brasileira atual mostra que, ao lado de uma economia moderna, existem milhões de pessoas excluídas de seus benefícios, assim como dos serviços proporcionados pelo governo para seus cidadãos. Isto pode ser uma consequência de processos de exclusão, pelos quais setores que antes eram incluídos foram expulsos e marginalizados por processos de mudança social, econômica ou política; ou de processos de inclusão limitada, pelos quais o acesso a emprego, renda e benefícios do desenvolvimento econômico ficam restritos e determinados segmentos da sociedade. O resultado, em ambos os casos, é o mesmo, mas as implicações políticas e sociais podem ser muito distintas. Processos de exclusão social e econômica tendem a ser muito mais violentos e traumáticos do que situações de inclusão limitada. 16/11/2021 ◦ O desenvolvimento no Brasil é conhecido como “modernização conservadora”, ou seja, uma modernização seletiva, na qual a maior parte da população não é incluída no processo, seja em setores da economia, da sociedade ou da política. ◦ Há que se pensar: o que mantém essa sociedade tão pacifica frente às exclusões existentes? Estar colocado fora dos processos políticos e, muitas vezes do processo escolar, garante aos dominantes maior margem de manobra entre os dominados. A alienação política impede as demandas pelos direitos. ◦ Outro fator que explica a paralisação dos explorados e excluídos é o progresso lento dos indicadores sociais, com algumas estagnações econômicas, os dominantes, na figura dos governantes, pouco fazem, mas distribuem os direitos como a nomenclatura de benefícios. O povo sente-se privilegiado por receber aquilo que, na verdade, lhe é direito. Segundo Reis e Schwartzman (2002, p. 2), isso “talvez expliquem porque o Brasil tenha se mantido relativamente tranquilo, politicamente, ao longo destes anos, assim como a orientação conservadora de boa parte de seu eleitorado”. 16/11/2021 ◦ As grandes cidades concentram a maior parte da população. Isso significa que as carências maiores também estão concentradas nesses núcleos urbanos, que unem desemprego, violência urbana, serviços públicos deficitários dado o aumento populacional e, na área de saúde, discrepâncias incalculáveis entre o público e o privado, não obstante o Sistema Único de Saúde ser um programa de muito sucesso e exemplo em diversos países. ◦ Fatores culturais e a descrença na ciência também contribuem para que enfermidades antes consideradas extintas, como o sarampo, voltem a existir. 16/11/2021 ◦ A pobreza extrema: sentença de morte ◦ Há uma ligação direta entre o estado socioeconômico do indivíduo e sua condição de saúde. Segundo a revista científica The Lancet (2017) “a pobreza e a desigualdade social matam tantas pessoas em escala global quanto a obesidade, a hipertensão e o uso demasiado de álcool”. A pobreza tem sido um entrave gigantesco para a saúde no país. A mudança no tipo de pobreza e nas relações de trabalho são responsáveis pelo agravamento da desigualdade social. De acordo com Buss (2007, p.1) “a divisão internacional da produção e do trabalho que se delineou com a globalização trouxe, além dos maus resultados econômicos já apontados, também impactos sociais, ambientais e sanitários importantes”. ◦ O tipo de produção e trabalho industrial, das chamadas “indústrias sujas” que são instaladas em países mais pobres, contribuem para o agravamento da saúde dos trabalhadores, além de poluírem mais o meio ambiente. ◦ As relações de trabalho, cada vez mais abusivas e desiguais, produzem um trabalhador sem consciência de seus direitos e exposto à todo tipo de problema de saúde, seja física, como Lesão por Esforços Repetitivos (LER), intoxicação por agrotóxicos, câncer por exposição à agentes químicos cancerígenos até psicológicos, como Síndrome de Burnout e depressão. 16/11/2021 ◦ Em locais de extrema pobreza, há ausência de saneamento básico, além de higiene adequada e alimentação. A proliferação de doenças é mais rápida e fatal. ◦ Doenças como febre amarela, tuberculose, salmonela, DSTs e até algumas doenças antes extintas, como sarampo e poliomielite, podem voltar a surgir caso não haja atuação do Estado, fornecendo o que é direito do cidadão. ◦ Estudos apresentados pela Fundação Oswaldo Cruz apontam que a mortalidade infantil está intimamente relaciona à renda das famílias, às condições do domicilio, local e condição na qual a família vive e também ao nível educacional da mãe (BUSS, 2007). ◦ Não é apenas endereço que a morte por doenças facilmente curáveis possui: há também o fator cor. No Brasil, negros estão entre os grupos mais vulneráveis economicamente, e são atingidos brutalmente pelas estatísticas. É preciso, portanto, integração entre programas sociais e políticas públicas em massa para sanar os problemas brasileiros. Sem a presença do Estado agindo fortemente nesses pontos nefrálgicos, que incluem saúde, educação e segurança, há uma dificuldade intrínseca ao sistema de ocorrer qualquer melhoria nos índices de desenvolvimento humano e social do país. 16/11/2021 ◦ Mitos, Símbolos e Rituais ◦ Tendo como perspectiva a formação dos grupos sociais e a interação dos sujeitos neste contexto, alguns dos elementos mais preponderantes na construção dos sistemas de organização das sociedades são percebidos na formação dos mitos, símbolos e rituais. Mas, o que eles representam? ◦ 4.1 Mitos ◦ Os mitos são construções utilizadas para representar valores-guia para a comunidade ou para explicar eventos observados na realidade, além de serem elementos de transmissão de conhecimento e de tradição de determinados grupos sociais. Apesar de não terem origem na realidade concreta, os mitos não são elaborações fantásticas (ou seja, que partem da fantasia, da imaginação), como as lendas. 16/11/2021 ◦ Dos deuses do Olimpo na Grécia, passando pelos orixás de religiões de matriz africana, aos deuses celestes que criaram o mundo na visão dos Kalapalos, do Alto Xingu, os mitos expressam a origem das formações sociais e dá sentido às práticas comunitárias, além orientar as condutas para que se alinhem às expressões morais nele contidas. ◦ Mitos também se constituem como alegorias para a explicação de uma perspectiva reflexiva, porém, neste caso, há uma diferença essencial: nos mitos que orientam condutas, não há a identificação de um humanoque os possa ter criado, pelo contrário. A premissa do mito é a legitimação social dada à história e valores por ele reproduzidos. ◦ No mito como alegoria, há a identificação clara de sua criação humana, como no caso do Mito da Caverna, de Platão - que remete à necessidade do conhecimento da verdade pelos governantes (PLATÃO, 2014) e utilizada pelo filósofo no ensino aos discípulos. 16/11/2021 ◦ Símbolos ◦ Os símbolos, no contexto específico dos mitos e dos rituais, podem ser descritos como as “unidades interpretativas” dos mitos, e do conjunto moral por eles representado (WHITE, 2009). Os símbolos ainda auxiliam na organização segundo os valores morais expressos pelo mito, permitindo que os indivíduos identifiquem uma determinada condição ou contexto social, econômico ou religioso, apenas interpretando-o. ◦ Os símbolos são materiais: pinturas corporais, marcas físicas (cicatrizes, mutilações intencionais), adornos, vestimentas, são expressões simbólicas individuais correlatas aos mitos, ou ao conjunto de valores dele derivados, utilizadas também durante rituais, mas de forma mais recorrente no cotidiano. Existem ainda os símbolos das instituições - sociais, políticas e religiosas - como bandeiras, artefatos, que são utilizadas em contextos ritualísticos (LIMA, 1987), por exemplo como na troca de faixa presidencial quando um novo presidente é eleito no Brasil. 16/11/2021 ◦ Rituais ◦ Os rituais se constituem como elementos de travessia: é por meio dos rituais que se estabelece a conexão entre símbolo e mito, e é por meio dele que os mitos são reafirmados, propagados e fortalecidos (PEIRANO, 2000). ◦ Objetivam afirmar e reproduzir a tradição, baseada nos mitos, e em nível social, atuam pontuando momentos de transição (formaturas, bar mitzvás ou o baile de debutante), entre um momento da vida e outro, e que podem imprimir mudanças no status social dos sujeitos envolvidos. ◦ Os rituais são comumente ligados à religião, mas podem também ser expressões institucionais. Os rituais reafirmam a importância do mito e dos símbolos na organização social, não deixando-os perder seu significado ao longo do tempo (PEIRANO, 2000; LIMA, 1987). ◦ No processo de compreensão desses sistemas, há três campos científicos diferentes, mas complementares, essenciais: a Filosofia, a Antropologia e a Sociologia. ◦ A Filosofia grega clássica especializou-se em estudar os mitos e os símbolos correspondentes, a fim de contrapor sua perspectiva racional de explicação do mundo às perspectivas míticas. A escolha e a reflexão eram os elementos que deveriam guiar o ser humano, para além dos mitos. Entretanto, a função do símbolo e do ritual como expressões e orientadores de conduta não eram abandonados, especialmente na explicação do espaço, da função e das particularidades do ser humano diante do cosmo. 16/11/2021 ◦ Na perspectiva de Platão e Aristóteles (PLATÃO, 2014), os mitos propunham um padrão de comportamento para os humanos baseado numa concepção de bem que era externa aos sujeitos - provinha dos deuses. Ao romper com o mito, a filosofia platoniana indica que, embora o bem não fosse inerentemente humano, a sua busca o era e, por isso, as condutas humanas e em grupo, as condutas sociais, se derivariam da busca pelo bem maior, pela felicidade, e dessa busca se estabeleceriam as regras de orientação dos comportamentos e, por fim, da moral e da ética. ◦ A leitura antropológica de Bronislaw Malinowiski analisa a constituição dos mitos a partir da fé orgânica, intrínseca aos indivíduos, utilizada para compreender as normas sociais. Assim, as normas estariam dadas por estruturas externas aos humanos, e os mitos auxiliariam a compreender os sentidos dessas estruturas (MALINOWISKI. 1988). ◦ O antropólogo francês Claude Levi-Strauss, ao analisar a constituição dos mitos e sua importância sobre as diversas organizações sociais em sociedades nativas nas Américas do Norte e do Sul, entende que a estrutura dos mitos não muda entre as diferentes formações sociais, ainda que a etnia, a língua, a religião, sejam aparentemente muito distintas (LEVI-STRAUSS, 2011). ◦ Por isso, os mitos seriam, para o antropólogo, expressões inerentes à reflexão humana sobre o divino - o divino, assim, só existiria pela leitura humana e sua busca pela explicação do mundo e da própria existência, que se repetiria de sociedade em sociedade. ◦ Antropologia cultural - Sahlins (2003) recorre à filosofia hegeliana para propor, por meio da negação, a inexistência do inconsciente social comum que seria responsável pela formação dos mitos para os autores da antropologia cultural. 16/11/2021 ◦ A inovação da obra de Sahlins (2003) recai sobre a ideia de que os eventos (históricos, como guerras, novas tecnologias, ou ainda naturais, como climáticos - secas, enchentes) poderiam não apenas intervir, como alterar, reconstruir ou construir um mito “novo” - ou seja, a ideia da ponte externa e inconsciente entre os humanos na explicação mítica do mundo seria refutada pela impressão de fatos externos importantes. ◦ As leituras antropológicas são, assim como as filosóficas, retomadas pelo saber sociológico na análise dos mitos, rituais e símbolos por este campo. O que a diferencia das outras áreas e o processo de descolamento do divino na interpretação da forma e dos impactos da tríade sobre as sociedades, especialmente a partir do século XVIII e da formação do modo de produção capitalista, que reorganiza as formas de trabalho, e portanto, a sociedade e suas interações, bem como a forma e o exercício do poder. 16/11/2021 ◦ Nesse sentido, os símbolos e os rituais recebem maior atenção, e são compreendidos como forma de manutenção dos valores da moral que sustenta o poder econômico - e político (HOBSBAWM, 1984). ◦ Assim, desprende-se a ideia de que haveria qualquer tipo de essência ou busca inerente ao homem, bem como a externalidade de uma consciência que pudesse formar os mitos, mas a sociologia assume a ideia de que símbolos e rituais são veículos de poder que, embora atuem também como elementos interpretativos, atuam à serviço da manutenção do status quo (BOURDIEU, 1989). 16/11/2021 OBRIGADO 16/11/2021
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