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1 MARCOS SANTIAGO – MÓDULO 8 Puericultura, exame físico e triagem neonatal Objetivo 1: Explicar a conduta da primeira consulta de puericultura e sua importância. Objetivo 2: Explanar a triagem neonatal disponível no SUS, assim como seus dados epidemiológicos. A consulta medica pediátrica é um processo de atenção integral à saúde da criança, que associadas a uma integração da relação médico-paciente-família. Composta por várias ações básicas: • Acompanhamento do processo de crescimento e desenvolvimento. • Identificação de situações de risco as quais as crianças estão submetidas. • Identificação, diagnostico e encaminhamento terapêutico de processos mórbidos (patológicos = doença). • Estabelecimento de condutas de acompanhamento de saúde da criança. PUERICULTURA Entre as consultas pediátricas, existem as consultas de puericulturas (consultas de revisão ou consultas periódicas) – que são cuidados preventivos da saúde da criança, desde o pré-natal até o final da adolescência, para proporcionar o melhor desenvolvimento físico, emocional, intelectual, moral e social. Essas consultas, possuem ação promotora de saúde, como: • Fatores individuais e ambientais de proteção e ameaça à saúde. • Monitoração do desenvolvimento • Imunizações • Testes de rastreamento • Orientação antecipatórias – nutrição, hábitos de vida, disciplina e segurança. • Aspectos relacionados ao exame físico. • Atuação biopsicossocial – atenção do indivíduo e a coletividade nos vários níveis de atenção, em ação preventiva e curativa, com foco na produção social de saúde. Fases: • Lactente – 0 a 2 anos; • Pré-escolar – 2 a 6 anos; • Escolar – 6 a 10 anos; • Adolescente – OMS: 10 a 19 anos, e pelo estatuto da criança: 12 a 18 anos. Frequência das consultas: • Primeira consulta – na 1º a 2º segunda semana de vida • Mensal até os 6 meses • Trimestral até os 2 anos • Semestral até os 5 anos • Anual até os 19 anos Características da consulta pediátrica: É diferente para o médico, porque cada criança possui características próprias e das relações familiares e sociais. • As peculiaridades da criança, principalmente do lactente, por estar em desenvolvimento, por ter uma imaturidade imunológica e no funcionamento dos sistemas, com isso dificulta em localizar os processos mórbidos. Ainda mais, por apresentar manifestações sistêmicas, que age em todo o corpo. Por isso, a consulta não pode limitar ao local do sintoma principal, e sim exame da criança como um todo. • Além das funções básicas da anamnese, exame física e orientações de tratamento, a consulta frisa em informações e orientações sobre alimentação, vacinação, o desenvolvimento e cuidados. Consultas possuem 4 momentos: 1. Anamnese - Os pais prestam as informações 2. Exame físico – identificação de sinais pelo medico 3. Formulação do diagnostico 4. Elaboração do plano terapêutico Fluxo de Atendimento – A captação da criança para o controle de crescimento e desenvolvimento, deve ser o mais precoce possível, sendo propostas as seguintes alternativas: • Visitas às maternidades, onde as mães serão orientadas sobre cuidados com o recém- nascido, aleitamento materno e será agendado atendimento para a unidade de saúde, mais próxima da residência da mãe; 2 MARCOS SANTIAGO – MÓDULO 8 • Captação dos recém-nascidos que chegam às unidades de saúde para realização do teste do pezinho, imunização, etc.; • Visitas domiciliares para crianças nascidas com critérios de risco, identificados pelo SINASC, que não compareceram na unidade de saúde nos primeiros 15 dias de vida; • Orientação às gestantes acompanhadas nos centros de saúde para retorno ao serviço até 15 dias após o parto para avaliação do RN e teste do pezinho; • Divulgação dos serviços de atenção materno- infantil oferecidos pela SMSA-BH, através de cartazes e folhetos, afixados e disponibilizados em maternidades, outros serviços de saúde, creches, escolas, igrejas, ônibus, etc. Calendário de atendimento: • Feito de forma intercalada, com atuação de toda equipe de atenção a criança. • Primeira consulta, deve ser feita preferencialmente pelo pediatra com 3 a 7 dias após alta da maternidade. Por ser a primeira semana de vida, sendo um momento para estimular e auxiliar a família nas dificuldades do aleitamento materno, verificar imunizações, triagem neonatal (teste do pezinho). • 15 dias após o parto, as gestantes acompanhadas no centro de saúde, passarão por consulta de enfermagem. Conteúdo da consulta: Os cuidados da saúde do bebe são realizados de forma individualizada, feito durante a primeira consulta, para acompanhar a evolução do RN-criança, através da caderneta de saúde da criança: • Nome e identificação da criança • Dados sobre a gravidez, parto e puerpério • Dados do nascimento • Rastreamento da triagem neonatal • Imunizações • Suplementações fólica de ferro e vit. A. • Informações sobre o RN, sobre – amamentação, primeiros dias de vida, alimentação, prevenção de acidentes. • Observações sobre a saúde bucal, ocular e auditiva • Intercorrências clinicas e tratamentos efetuados • Gráfico de perímetro cefálico, peso • Acompanhamento do crescimento/desenvolvimento da criança Anamnese: Avalia as condições do nascimento da criança (tipo de parto, local do parto, peso ao nascer, idade gestacional, índice de Apgar, intercorrências clínicas na gestação, no parto, no período neonatal e nos tratamentos realizados). E os, antecedentes familiares (as condições de saúde dos pais e dos irmãos, o número de gestações anteriores, o número de irmãos). Orientações gerais sobre os cuidados com o RN: • Situações de vulnerabilidade • Prevenção de acidentes • Realização de exames neonatais • Aleitamento • Posição supina Situações de vulnerabilidade para o RN: • Criança residente em área de risco; • Baixo peso ao nascer (inferior a 2.500g); • Prematuridade (menos de 37 semanas gestacionais); • Asfixia grave ou Apgar menor do que 7 no 5º minuto; • Internações/intercorrências • Mãe com menos de 18 anos de idade; • Mãe com baixa escolaridade (menos de oito anos de estudo); 3 MARCOS SANTIAGO – MÓDULO 8 • História familiar de morte de criança com menos de 5 anos de idade. Aleitamento materno: • Criança alimentada com leite materno até os 6 meses possui menor morbidade, ocasionando maiores efeitos benéficos a saúde. • Não prescrever suplementação. Vinculo pais e bebe: • Logo após o nascimento, ir ao encontro da mãe por si próprios, se colocados no tórax da mãe. Ocasionando a primeira mamada, que ocorre por 40 min. • Reconhecer a face da mãe após 4 horas. • Contato olho a olho. • Imitar expressões faciais após o nascimento. • Seguir objetos e alcança-los. • O melhor momento para interagir é quando o bebe esta quieto, bem alerta, com os olhos bem abertos como se estivesse prestando atenção. Por isso, é importante conhecer as competências e habilidades do bebe, para assim ter melhor interação. Exame físico: Na primeira consulta de puericultura, é preciso ser feito um exame físico completo. E, os achados do exame físico devem ser comunicados aos pais, como forma de perceber as necessidades do bebe. Antropometria: • Peso • Comprimento (criança deitada – até os 2 anos) • Altura/estatura (criança em pé – a partir dos 2 anos) • Perímetro cefálico – mede a partir de 24h depois do parto até o 6 dia de vida. Fita em cima da orelha. OBS: O perímetro tem que estar relacionado com o peso e altura, ou seja, se há ganho de peso e altura, a cabeça tem que acompanhar. Normal – está entre o 1 e 0. Microcefalia – abaixo de -2. Microcefalia grave – abaixo de -3. Medida da pressão arterial – Obter o ponto médio do braço (entre o acrômio eo olecrano), para obter a circunferência braquial. E, colocação do manguito. Pele, comprimento e perímetro cefálico – O peso deve ser avaliado em relação ao peso ideal ao nascer. Consideram-se normais tanto uma perda de peso de até 10% ao nascer quanto a sua recuperação até o 15º dia de vida. O perímetro cefálico com medidas acima ou abaixo de dois desvios-padrão (< -2 ou > +2 escores “z”) pode estar relacionado a doenças neurológicas, como microcefalia e hidrocefalia, o que necessita de uma melhor avaliação e encaminhamento. Desenvolvimento social e psicoafetivo – Observar e avaliar o relacionamento da mãe/cuidador e dos familiares com o bebê: como respondem às suas manifestações, como interagem com o bebê e se lhe proporcionam situações variadas de estímulo. 4 MARCOS SANTIAGO – MÓDULO 8 Estado geral: • Avalie a postura normal do recém-nascido: as extremidades fletidas, as mãos fechadas e o rosto, geralmente, dirigido a um dos lados. • Observe o padrão respiratório: a presença de anormalidades, como batimentos de asas do nariz, tiragem intercostal ou diafragmática e sons emitidos. • Avalie o estado de vigília do recém-nascido: o estado de alerta, o sono leve ou profundo e o choro. • Identifique sinais de desidratação e/ou hipoglicemia: pouca diurese, má ingestão (a criança não consegue mamar ou vomita tudo o que mama), hipoatividade e letargia. • A temperatura axilar normal situa-se entre 36,4ºC e 37,5ºC e não necessita ser medida rotineiramente em crianças assintomáticas, exceto na presença de fatores de risco, como febre materna durante o parto. Face – Pesquise alguma assimetria, malformação, deformidade ou aparência sindrômica. Pele – observar presença de edema, palidez, cianose e icterícia, bolhas e tonalidade. Crânios – Examine as fontanelas, a presença de abaulamento, áreas turgidas ou deprimidas. Olhos • Analisar reflexo motor • Teste do reflexo vermelho • Análise das pálpebras • Observar a presença de possíveis infecções Orelhas e audição • Através do teste da orelhinha • Análise de possível surdez ou deficiências auditivas • Observar também simetria, implantação e tamanho das orelhas Nariz – avalia a forma e a possível presença de secreção (o que pode indicar sífilis), e avaliar a asa do nariz. Boca: • Análise de alterações morfológicas, o que pode indicar dificuldade na amamentação. • Analisar úvula, tamanho da língua, palato, freio lingual e coloração dos lábios Pescoço • Análise da simetria facial e posição viciosa da cabeça • Observar possíveis sinais de torcicolo congênito Tórax – avalia a assimetria, porque elas podem sugerir malformações cardíacas ou pulmonares ou de coluna. Faz também palpação da clavícula, para avaliar se há fraturas que podem levar a perda ou diminuição dos movimentos dos braços. Observa também algum indicio de sofrimento respiratório de esforço para respirar, batimento da asa do nariz. Além de observar se há alguma turgência na região ou abaulamento e cianose, sopros cardíacos e o pulmão. Abdome – observa a respiração, a forma do abdome, se ele está dilatado, que pode sugerir presença de liquido, distensão gasosa. Se está escavado, que pode indicar hérnia diafragmática. Além de observar a região umbilical, se está vermelha, com edema, com secreções fétidas. Genitália – nos meninos é preciso apalpar o saco escrotal para sentir a presença dos testículos, se houve a decídua correta, a depender o médico pode informar a mãe que isso se trata de um procedimento comum, ainda mais em prematuros. Além de analisar se há acumulo de liquido ao redor dos testículos. Na genitália feminina, os pequenos lábios e o clitóris estão mais proeminentes. Pode haver secreção esbranquiçada, devido à passagem de hormônios maternos. Ânus e reto – verifica a posição e permeabilidade anal, além de observar se há fissuras. Sistema osteoarticular – examina os membros inferiores e superiores, a resistência a extensão e flexão dos membros, a possibilidade de flacidez excessiva e a possível presença de paralisia. Coluna vertebral – Examine toda a coluna, em especial a área lombo-sacra. Avaliação neurológica – O recém-nascido ainda está com o sistema nervoso central em desenvolvimento. Ele possui diversos movimentos reflexos e estes são primitivos. Que são respostas automáticas a determinados estímulos externos. Tipos de reflexos: Reflexo da marcha – que está presente de 0 a 2 meses de vida, e é testado suspendendo a criança e depois a coloca em uma superfície que pode ser o da maca. Ao coloca-la na superfície já é nítido o reflexo quando ela tenta apoiar o pezinho. 5 MARCOS SANTIAGO – MÓDULO 8 Reflexo de colocação das pernas (reflexo de placing) – que também dura até os 2 meses de vida. É testado levantando a criança verticalmente e encosta o pé dela na borda da maca por exemplo e aí ela faz uma flexão para pôr o pé em cima da maca. Como se ela tivesse subindo degraus. Reflexo tônico cervical assimétrico (magnus de kleijn) – Esse reflexo está presente até o quarto mês de vida. Testa com a criança em decúbito dorsal e aí vai virar a cabeça dela a 90o para um dos lados. Quando vira, o membro superior do lado em que virou a cabeça faz uma extensão e o outro membro superior faz uma flexão. Reflexo da Sucção – ele acontece de 0 a 5 meses e é essencial para a sobrevivência da criança. Pode ser testado com a introdução do dedo entre os lábios e aí ele vai tentar fazer a sucção. Associado a ele tem também o reflexo da busca, em que é feito um estimulo leve nos lábios do bebê e ele procura a mama para fazer a sucção. Reflexo de Moro – um dos mais famosos e dura até em torno dos 6 meses de vida e pode ser testado de diversas formas. Uma delas é deixar o bebe deitado e levantar só a parte pélvica e é como se ele levasse um susto. Pode ser feito também uma queda súbita da cabeça em extensão. Com isso, o bebê a faz extensão dos membros superiores, com extensão dos dedos da mão e depois ele fecha os membros superiores. Reflexo de preensão palmar e plantar – Em que é feito pressionando o polegar na região palmar e plantar do bebe e ele faz a flexão, como se fosse apertar o polegar. Reflexo de Galant – É desencadeado por estímulo tátil na região dorso lateral. Observa-se encurvamento do tronco ipsilateral ao estímulo. Ele curva o tronco para o lado do estimulo. 6 MARCOS SANTIAGO – MÓDULO 8 Além disso, é preciso avaliar a situação de vulnerabilidade, se a criança reside em área de risco. Se teve baixo peso ao nascer. Se foi prematuro, se passou por asfixia. Se houve internações. Se há histórico familiar de morte de crianças com menos de 5 anos. É preciso avaliar também a questão do aleitamento materno, revisar a técnica da amamentação (assistir à amamentação) verificando se o aleitamento, se a sucção está sendo eficiente. Se as condições da amamentação persistirem instáveis, marcar retornos em intervalos curtos para estímulo, correção das falhas. É preciso prevenir contra o uso de chupeta pelo menos nas 3 primeiras semanas e para a desnecessidade do uso de chá ou água nos intervalos das amamentações, é preciso estimular o aleitamento exclusivo até os 6 meses de vida. É importante também prevenir a família que as cólicas vespertinas começam a partir de 3 semanas de vida. Além de fazer orientações gerais, como a lavagem das mãos sempre que for pegar o bebê, orientações sobre o banho e cuidados com o coto umbilical, que deve ser mantido sempre limpo e seco.
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