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DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL NO INÍCIO DA VIDA ADULTA E NO ADULTO JOVEM Antes da década de 1960, os jovens nos Estados Unidos normalmente concluíam o ensino médio, saíam de casa, arrumavam um emprego, casavam-se e tinham filhos, nesta ordem. Contudo, os tempos mudaram e, atualmente, o início da vida adulta é visto por muitos jovens como um momento de experimentação antes de assumir os papéis e as responsabilidades dessa nova fase. INFLUÊNCIA SOBRE OS CAMINHOS PARA A VIDA ADULTA Os caminhos individuais para a vida adulta são influenciados por fatores como gênero, capacidade acadêmica, primeiras atitudes em relação à educação, etnia, expectativas do final da adolescência e classe social. Cada vez mais, adultos emergentes de ambos os sexos prolongam a educação escolar e adiam a paternidade/maternidade (Osgood et al., 2005), e estas decisões geralmente são fundamentais para o sucesso futuro no trabalho (Sandefur et al., 2005) bem como para o bem-estar atual. Alguns adultos emergentes têm mais recursos – financeiros e de desenvolvimento – do que outros, o que depende do desenvolvimento do ego: uma combinação de capacidade de entender a si próprio e ao seu mundo, de integrar e sintetizar o que percebe e conhece, e de encarregar-se do planejamento do próprio curso de vida. Para isso, a influência da família é relevante. Adultos menos maduros eram mais propensos a ter tido pais que, aos 14 anos, inibiam a sua autonomia, os desvalorizavam e eram mais hostis em suas conversas (Billings, Hauser e Allen, 2008). Quanto mais desenvolvido o ego de um adulto, mais preparado ele estará para uma vida independente. DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE NO INÍCIO DA VIDA ADULTA O início da vida adulta oferece uma moratória, ou um alívio, das pressões do desenvolvimento e permite aos jovens a liberdade de experimentar vários papéis e estilos de vida. Entretanto, ela também representa um ponto crucial durante o qual os compromissos do papel adulto gradualmente se cristalizam. RECENTRALIZAÇÃO: nome dado ao processo subjacente à mudança para uma idade adulta, o qual apresenta três estágios que envolvem poder, responsabilidade e tomada de decisão. • ESTÁGIO 01: esse estágio representa o início da idade adulta emergente, no qual o sujeito ainda está inserido na família de origem, mas as expectativas de autoconfiança e autodirecionamento começam a aumentar. • ESTÁGIO 02: ocorre durante a idade adulta emergente. Nesse estágio, o indivíduo permanece conectado à família de origem (e pode ser financeiramente dependente dela) mas não está mais inserido nela. Próximo ao seu final, o indivíduo começa a assumir compromissos sérios e a obter recursos para sustentá-los. • ESTÁGIO 03: ocorre geralmente em torno dos 30 anos, quando o indivíduo entra no período adulto jovem. Este estágio é marcado por independência da família de origem (embora mantendo vínculos estreitos com ela) e compromisso com uma carreira, com um relacionamento amoroso e possivelmente com filhos. A MORATÓRIA CONTEMPORÂNEA: a moratória diz respeito a uma crise autoconsciente que leva à resolução. Aproximadamente 15% dos jovens adultos parecem regredir durante este período, e cerca da metade não apresenta qualquer mudança (Kroger, Martinussen e Marcia, 2009). Em vez de explorar ativa e cuidadosamente sua identidade, muitos adultos jovens parecem fazer pouca deliberação ativa e consciente, em vez disso adotando uma abordagem passiva (difusa) ou deixando os pais tomarem as rédeas de sua vida (execução). Não obstante, aproximadamente 3 de cada 4 jovens estabelecem algum tipo de identidade ocupacional no final da terceira década de vida. A confusão de identidade persiste para 10 a 20%, que não possuem o que Erikson chamou de fidelidade: fé em alguma coisa maior do que eles próprios (Côté, 2006). EXPLORAÇÃO DA IDENTIDADE ÉTNICA: a exploração da identidade é um pouco diferente para os grupos minoritários étnicos do que para a maioria da população branca. Muitos jovens de grupos minoritários, geralmente por questões econômicas, precisam assumir responsabilidades de adultos mais cedo do que seus pares. Ao mesmo tempo, eles tendem a valorizar as relações familiares íntimas e interdependentes e podem sentir-se obrigados a ajudar suas famílias financeiramente. Eles podem sofrer pressão para casar e ter filhos em uma idade precoce, ou a entrar no mercado de trabalho imediatamente em vez de ir para a universidade. Além disso, esses jovens precisam lidar com questões de identidade especiais relativas à sua etnia, o que pode se estender bem além da terceira década de vida. No caso de estarem vivendo em ambientes fora de sua cultura de origem, eles podem começar a questionar os valores tradicionais de seu grupo étnico. Para alcançar uma identidade étnica segura, eles devem vir a entender-se como parte de um grupo étnico e como parte da sociedade mais ampla. Jovens multirraciais têm o desafio adicional de descobrir onde eles se enquadram. A identidade étnica segura está relacionada à autoestima mais alta (Phinney et al., 2001; Umana-Taylor e Updegraff, 2006) e envolve sentimentos positivos tanto em relação à própria identidade pessoal quanto à cultura mais ampla. E, por isso, está ligada à maior aceitação de outros grupos, resultando em interações mais positivas entre grupos distintos e em reduções na discriminação. DESENVOLVENDO RELACIONAMENTOS ADULTOS COM OS PAIS Quando os jovens saem de casa, eles precisam concluir a negociação de autonomia iniciada na adolescência e redefinir seu relacionamento com seus pais como um relacionamento entre adultos. Pais que são incapazes de reconhecer esta mudança podem retardar o desenvolvimento de seus filhos. Embora não sejam mais crianças, os adultos emergentes ainda necessitam de aceitação, empatia e apoio dos pais, e o apego a eles continua sendo muito importante para o bem-estar. O apoio financeiro dos pais aumenta as chances de sucesso na vida adulta. Determinado estudo realizado com mais de 900 famílias neozelandesas sugere que os pais e os filhos adultos jovens se entendem melhor quando o jovem está seguindo um curso de vida esperado, mas adiou a responsabilidade da paternidade/maternidade até que os outros papéis adultos estejam bem estabelecidos (Belsky et al., 2003). A qualidade do relacionamento entre pais e filhos adultos pode ser afetada pelo relacionamento entre a mãe e o pai (Aquilino, 2006). Quando o adulto jovem se vê “preso no meio” entre dois pais conflitantes, transmitindo mensagens de um genitor para o outro, e tentando minimizar os conflitos entre eles (Amato e Afifi, 2006), pode haver consequências negativas. DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE As quatro abordagens ao desenvolvimento psicossocial do adulto são representadas pelos modelos do estágio normativo, modelo do momento dos eventos, modelos de traço e modelos tipológicos. Essas quatro abordagens fazem perguntas diferentes sobre a personalidade adulta, examinam aspectos diferentes de seu desenvolvimento e usam métodos diferentes. MODELOS DO ESTÁGIO NORMATIVO: tais modelos sustentam que os adultos seguem uma sequência básica de mudanças psicossociais relacionadas à idade. As mudanças são normativas no sentido de que elas parecem ser comuns à maioria dos membros de uma população; e elas surgem em períodos sucessivos, ou estágios, às vezes marcados por crises emocionais que preparam o caminho para o desenvolvimento. Erikson – intimidade x isolamento: se os adultos jovens não conseguem assumir compromissos pessoais profundos com os outros, dizia Erikson, eles correm o risco de tornarem-se excessivamente isolados e absorvidos em si mesmos. Entretanto, eles necessitam de algum isolamento para refletirem sobre suas vidas. À medida que trabalham para resolver demandas conflitantes de intimidade, competitividade e distância, eles desenvolvem um sentido ético, que Erikson considerava amarca do adulto. Relacionamentos íntimos demandam sacrifício e compromisso. Adultos jovens que desenvolveram um forte sentido do self durante a adolescência estão em melhor posição para fundir sua identidade com a de uma outra pessoa. Os psicólogos, baseando-se especialmente no trabalho de Erikson, identificaram tarefas do desenvolvimento que precisam ser realizadas para a adaptação bem-sucedida a cada estágio de vida (Roisman et al., 2004). Dentre as tarefas do desenvolvimento do adulto jovem estão: deixar a casa da infância para entrar na universidade, para trabalhar, para ingressar no serviço militar; desenvolver amizades novas e mais íntimas e relacionamentos afetivos; e desenvolver um sentido de identidade independente e autoconfiante (Arnett, 2000, 2004; Scharf, Mayseless e Kivenson-Baron, 2004). Outras tarefas do desenvolvimento deste período incluem completar a educação, entrar no mercado de trabalho e tornar-se financeiramente independente. A mensagem mais importante dos modelos do estágio normativo é que desenvolvimento envolve muito mais do que apenas chegar à idade adulta. Os seres humanos continuam a mudar e a se desenvolver durante toda a vida. MODELO DO MOMENTO DOS EVENTOS: em vez de examinar o desenvolvimento da personalidade adulta puramente em função da idade, tal modelo sustenta que o curso do desenvolvimento depende de quando certos eventos ocorrem nas vidas das pessoas. Os eventos de vida normativos são aqueles que normalmente acontecem em determinadas épocas da vida – tais como casar, ter filhos, tornar-se avô/avó e aposentar-se. De acordo com este modelo, as pessoas geralmente têm plena consciência tanto do seu momento quanto do relógio social – as normas e expectativas de sua sociedade para o momento apropriado dos eventos de vida. Se os eventos ocorrem na hora certa, o desenvolvimento prossegue sem problemas. Se não, pode ocorrer estresse. O estresse pode originar-se de um evento inesperado (tal como perder um emprego), de um evento que acontece fora de hora (ficar viúvo[a] aos 35 anos), ou da não ocorrência de um evento esperado e desejado (nunca casar, ou ser incapaz de gerar um filho). As diferenças de personalidade influenciam a forma como as pessoas respondem aos eventos de vida e podem mesmo influenciar seu momento. Por exemplo, uma pessoa resiliente tem probabilidade de experimentar uma transição mais fácil para a idade adulta e para as tarefas e eventos que se apresentam do que uma pessoa excessivamente ansiosa, que pode adiar decisões sobre relacionamento e carreira. O modelo do momento dos eventos deu uma contribuição importante para nosso entendimento da personalidade adulta ao enfatizar o curso de vida individual e desafiar a ideia de mudança universal, relacionada à idade. MODELOS DE TRAÇO: modelos de traço procuram estabilidade ou mudança nos traços da personalidade. Paul T. Costa e Robert R. McCrae desenvolveram e testaram um modelo dos cinco fatores, que são: • NEUROTICISMO: diz respeito a um grupo de seis traços/facetas que indicam instabilidade emocional, tal como ansiedade, hostilidade, depressão, insegurança, impulsividade e vulnerabilidade. • EXTROVERSÃO: também tem seis facetas, sendo estas: acolhimento, gregariedade, assertividade, atividade, busca de sensações fortes e emoções positivas. • ABERTURA PARA O NOVO: pessoas que estão abertas para o novo estão dispostas a tentar coisas novas e abraçam novas ideias. • CONSCIENCIOSIDADE: pessoas conscienciosas são empreendedoras: elas são competentes, organizadas, respeitosas, cautelosas e disciplinadas. • AMABILIDADE: pessoas amáveis são confiantes, francas, altruístas, obedientes, modestas e facilmente seduzidas. MODELOS TIPOLÓGICOS: a pesquisa tipológica busca complementar e expandir a pesquisa sobre traço examinando a personalidade como uma unidade funcional. Essa pesquisa identificou três tipos de personalidade: ego-resiliente, supercontrolado e subcontrolado. Esses três tipos diferem na resiliência do ego, ou adaptabilidade sob estresse, e no controle do ego, ou autocontrole. • EGO-RESILIENTE: pessoas ego-resilientes são bem ajustadas: autoconfiantes, independentes, articuladas, atentas, prestativas, cooperativas e focadas na tarefa. • SUPERCONTROLADO: pessoas supercontroladas são tímidas, caladas, ansiosas e confiáveis; elas tendem a manter seus pensamentos para si e a afastar-se de conflito, e são mais sujeitas a depressão. • SUBCONTROLADO: pessoas subcontroladas são ativas, enérgicas, impulsivas, teimosas e facilmente distraídas. Esses tipos de personalidade, ou tipos semelhantes, existem em ambos os sexos, em todas as culturas e grupos étnicos, assim como em crianças, adolescentes e adultos. Um estudo longitudinal realizado em Munique demonstrou que tanto o tipo supercontrolado quanto o subcontrolado têm mais dificuldades do que os tipos mais resilientes em assumir papéis sociais adultos: sair da casa dos pais, estabelecer relacionamentos afetos e conseguir empregos. Ademais, mostrou que existe uma tendência à continuidade de certas atitudes e comportamentos desde a infância à vida adulta. Contudo, isso não significa dizer que as personalidades nunca mudam, ou que certas pessoas estão condenadas a uma vida de desajustamento – embora os tipos de personalidade estabelecidos na infância possam prever padrões de comportamento de longo prazo, certos eventos podem mudar o curso de vida (Caspi, 1998). Para jovens com problemas de ajustamento, por exemplo, o casamento com uma pessoa apoiadora pode levar a resultados mais positivos. AS BASES DOS RELACIONAMENTOS ÍNTIMOS Erikson considerava o desenvolvimento dos relacionamentos íntimos a tarefa crucial no período adulto jovem. A necessidade de estabelecer relacionamentos fortes, estáveis, estreitos e carinhosos é um forte motivador do comportamento humano. As pessoas se tornam íntimas – e permanecem íntimas – por meio de revelações compartilhadas, receptividade às necessidades do outro e aceitação e respeito mútuos. Os relacionamentos íntimos requerem autoconsciência; empatia; capacidade de comunicar emoções, resolver conflitos e manter compromissos; e, se o relacionamento é potencialmente sexual, tomar decisões sobre sexo. A formação de novos relacionamentos (como com parceiros amorosos), e a renegociação de relacionamentos existentes (como com os pais), têm implicações para se a personalidade permanece a mesma ou muda. Por exemplo, pessoas com alto neuroticismo tendem a acabar em relacionamentos nos quais elas se sentem menos seguras, e esses sentimentos crônicos de insegurança servem para torná-las mais neuróticas ao longo do tempo (Neyer e Lehnart, 2007). Em suma, personalidade e relacionamentos podem ser vistos como influenciando um ao outro. AMIZADE: as amizades durante o período adulto jovem podem ser menos estáveis do que nos períodos anteriores e posteriores devido à frequência com que as pessoas desta idade mudam de cidade (Collins e Van Dulmen, 2006). Esse tipo de relacionamento tende a centrar-se nas atividades de trabalho e de parentalidade e na troca de confidências e conselhos. Algumas “melhores amizades” são mais estáveis do que os laços com um amante ou um cônjuge. Adultos jovens solteiros recorrem mais às amizades para satisfazer às suas necessidades sociais do que adultos jovens casados ou pais jovens (Carbery e Buhrmester, 1998). O número de amigos e a quantidade de tempo passado com eles geralmente diminuem no decorrer do período adulto jovem. Ainda assim, as amizades são importantes para os adultos jovens. Pessoas que têm amigos tendem a sentir uma sensação de bem- -estar; ter amigos faz com que as pessoas se sintam bem consigo mesmas e tenham mais facilidade para fazer novos amigos (Hartup e Stevens, 1999; Myers, 2000). As mulheres normalmente têm mais amizades íntimas do que os homens. Os homens são mais propensos a compartilharinformações e atividades, e não confidências, com os amigos (Rosenbluth e Steil, 1995). As mulheres têm mais tendência a conversarem com suas amigas sobre seus problemas conjugais e a receber conselhos e apoio (Helms, Crouter e McHale, 2003). Muitos adultos jovens incorporam os amigos a suas redes familiares escolhidas. Esses amigos íntimos e apoiadores são considerados parentes fictícios, em outras palavras, a família psicológica da pessoa. AMOR: de acordo com a teoria triangular do amor, de Robert J. Sternberg (1995, 1998b, 2006), a maneira pela qual o amor se desenvolve é uma história. Os amantes são seus autores, e a história que eles criam reflete suas personalidades e suas concepções de amor. De acordo com Sternberg (1986; 1998a, 2006), os três elementos, ou componentes, do amor são: intimidade, paixão e compromisso. • INTIMIDADE: diz respeito ao elemento emocional. Envolve autorrevelação, que leva à ligação, ternura e confiança. A comunicação é uma parte essencial da intimidade. • PAIXÃO: diz respeito ao elemento motivacional. Baseia-se em impulsos interiores que traduzem a excitação fisiológica em desejo sexual. • COMPROMISSO: diz respeito ao elemento cognitivo. É a decisão de amar e permanecer com a pessoa amada. A formação de um sentido de realização da identidade também parece afetar a qualidade dos relacionamentos amorosos. Em um estudo de 710 adultos emergentes, o estado de realização da identidade estava associado com sentimentos mais fortes de companheirismo, valor, afeição e apoio emocional dentro de relacionamentos amorosos (Barry et al., 2009). Isto apoia as afirmações de Erikson (1973) de que a formação de um sentido de identidade seguro é necessária para o estabelecimento de relacionamentos íntimos de alta qualidade. ESTILOS DE VIDA CONJUGAIS E NÃO CONJUGAIS Em muitos países ocidentais, as normas atuais para estilos de vida socialmente aceitáveis são mais flexíveis do que eram durante a primeira metade do século XX. As pessoas se casam mais tarde, quando se casam; mais pessoas têm filhos fora do casamento, se tiverem filhos; e mais pessoas rompem seus casamentos. Algumas pessoas permanecem solteiras, algumas se casam novamente, e outras vivem com um parceiro de qualquer sexo. Algumas pessoas casadas com carreiras distintas têm casamentos itinerantes, às vezes chamados de convivência à distância (Adams, 2004). Em síntese, não existe o tal casamento ou família “típicos.” VIDA DE SOLTEIRO: Há indicações de que as crenças religiosas podem afetar a taxa de casamento. Mães urbanas que tiveram um bebê fora do casamento eram mais propensas a eventualmente se casar se frequentassem a igreja regularmente. Pode ser que a participação em um grupo social no qual as preocupações de casamento e família são modeladas e apoiadas regularmente socialize essas mulheres a esperar e desejar o casamento em um grau maior (Wilcox e Wolfinger, 2007). Alguns adultos jovens permanecem solteiros porque não encontraram os parceiros certos; outros são solteiros por opção. Mais mulheres hoje se sustentam sozinhas, e há menos pressão social para casar. Ao mesmo tempo, muitos adultos solteiros estão adiando o casamento e os filhos devido à instabilidade econômica (Want e Morin, 2009). Alternativamente, algumas pessoas querem ser livres para mudar-se para outras partes do país ou do mundo, seguir carreiras, aprimorar a educação ou realizar trabalhos criativos sem se preocupar em como sua busca pela autorrealização afeta outra pessoa. Alguns gostam de liberdade sexual. Alguns acham o estilo de vida excitante. Alguns apenas gostam de estar sozinhos. Outros adiam ou evitam o casamento por medo que ele acabe em divórcio. CONCUBINATO: o concubinato, ou coabitação, é um estilo de vida cada vez mais comum, no qual um casal não casado envolvido em um relacionamento sexual mora junto. Seu aumento nas últimas décadas reflete a natureza exploratória do início da vida adulta e a tendência a adiar o casamento. CASAMENTO: na maioria das sociedades, a instituição do casamento é considerada a melhor forma de garantir a proteção e a criação dos filhos. O casamento permite a divisão do trabalho e uma partilha de bens materiais. Idealmente, ele oferece intimidade, compromisso, amizade, afeto, realização sexual, companheirismo e uma oportunidade de crescimento emocional, bem como novas fontes de identidade e autoestima (Gardiner e Kosmitzki, 2005; Myers, 2000). Entretanto, os Estados Unidos e outras sociedades pós-industriais têm testemunhado um enfraquecimento das normas sociais que antigamente tornavam o casamento quase universal. ➔ O que o casamento significa para os adultos emergentes e jovens hoje? Uma equipe de pesquisa conduziu entrevistas profundas e abertas com adultos jovens de 22 a 38 anos em três áreas urbanas e na área rural de Iowa. Esses entrevistados viam o casamento tradicional com seus papéis de gênero rígidos como não sendo mais viável no mundo de hoje. Antes, eles esperam maior espaço para interesses e buscas individuais, tanto dentro como fora do casamento. Eles dão mais ênfase à amizade a à compatibilidade e menos ao amor romântico (Kefalas, Furstenberg e Napolitano, 2005). De fato, a vasta maioria de adultos nos Estados Unidos hoje considera o propósito primário do casamento como sendo “a felicidade e satisfação mútua dos adultos” mais do que como sendo baseado em parentalidade e filhos (Pew Research Center, 2007a). Em vez de considerar o casamento um passo inevitável em direção à idade adulta, como no passado, os adultos jovens de hoje tendem a acreditar que, para ser casada, a pessoa já deve ser um adulto. A maioria planeja casar, mas apenas quando se sentirem prontos. Eles acreditam que ser independente financeiramente e estabelecer-se em empregos ou carreiras estáveis são tremendos obstáculos (Kefalas et al., 2005). A transição para a vida de casado provoca grandes mudanças em relação a funcionamento sexual, disposições de vida, direitos e responsabilidades, apegos e fidelidades. Entre outras tarefas, os cônjuges precisam redefinir a ligação com suas famílias originais, equilibrar intimidade com autonomia e estabelecer um relacionamento sexual gratificante. As pessoas casadas tendem a ser mais felizes do que as não casadas, embora as que estão em casamentos infelizes sejam menos felizes do que as não casadas ou as divorciadas (Myers, 2000). As pessoas que se casam e permanecem casadas tendem a ficar em melhor situação financeira do que aquelas que não se casam ou que se divorciam (Hirschl, Altobelli e Rank, 2003; Wilmoth e Koso, 2002). A felicidade conjugal foi positivamente afetada pelo aumento dos recursos econômicos, tomada de decisões iguais, atitudes não tradicionais quanto ao gênero e apoio à norma do casamento para a vida inteira; ela foi negativamente afetada pela coabitação antes do casamento, por romances extraconjugais, pelas demandas de emprego e horas de trabalho mais longas. O aumento das responsabilidades dos maridos no trabalho doméstico pareceu diminuir a satisfação conjugal entre eles, mas a melhorou entre as esposas (Amato et al., 2003). De fato, “compartilhar as tarefas domésticas” é visto como muito importante para o sucesso conjugal por aproximadamente 62% dos entrevistados norte-americanos (Pew Research Center, 2007b). Um fator subjacente à satisfação conjugal pode ser uma diferença no que o homem e a mulher esperam do casamento. As mulheres tendem a dar mais importância à expressividade emocional – a sua própria e a de seus maridos – do que os homens (Lavee e Ben-Ari, 2004). Os esforços dos homens para expressar emoção positiva a suas esposas, prestar atenção às dinâmicas do relacionamento e reservar um tempo para atividades focadas na construção do relacionamento são importantes para as percepções das mulheres da qualidade do casamento (Wilcox e Nock, 2006). PATERNIDADE/MATERNIDADE Aspessoas em sociedades industrializadas normalmente têm menos filhos hoje do que em gerações anteriores, e começam a tê-los mais tarde na vida, em muitos casos porque passam os anos de sua idade adulta emergente aprimorando a educação e estabelecendo uma carreira. A porcentagem de famílias com filhos caiu de 45% em 1970 para cerca de 32% hoje (Fields, 2004). A PATERNIDADE/MATERNIDADE COMO EXPERIÊNCIA DO DESENV.: o primeiro filho marca uma transição importante na vida dos pais. Junto com o sentimento de emoção, admiração e espanto, a maioria dos novos pais experimenta alguma ansiedade em relação à responsabilidade de cuidar de uma criança, ao compromisso de tempo e energia que ela acarreta e ao sentimento de permanência que a paternidade/maternidade impõe a um casamento. A gravidez e a recuperação do parto podem afetar o relacionamento de um casal, às vezes aumentando a intimidade e às vezes criando barreiras. O ENVOLVIMENTO DOS HOMENS E DAS MULHERES NA PATERNIDADE/MATERNIDADE: ainda que a maioria das mães agora trabalhe fora de casa, as mulheres passam mais tempo cuidando dos filhos do que suas contrapartes na década de 1960. Isso ocorre porque, em primeiro lugar, muitas pessoas adiam a parentalidade até um momento em que desejam passar mais tempo com seus filhos. Além disso, as normas sociais mudaram; os pais, hoje, sentem mais pressão para investir tempo e energia na criação dos filhos. E eles sentem uma necessidade de vigiar seus filhos mais de perto devido a preocupações com crime e com outras influências negativas (Bianchi et al., 2006). Os homens de hoje estão mais envolvidos do que nunca nas vidas de seus filhos e no cuidado das crianças e nas tarefas domésticas (mas ainda cuidam bem menos que as mulheres). Pais com longas jornadas de trabalho, especialmente, expressaram que têm muito pouco tempo para se dedicar aos filhos. Pesquisas demonstram que pais envolvidos na vida dos seus filhos são mais satisfeitos com suas próprias vidas. COMO A PATERNIDADE/MATERNIDADE AFETA A SATISFAÇÃO CONJUGAL: muitos estudos revelaram que a satisfação conjugal normalmente diminui durante os anos de criação dos filhos. Entretanto, outros estudos pintam um quadro diferente. Por exemplo, um estudo comparando casais que se tornaram pais um ano após o casamento com casais que não tiveram filhos não encontrou diferenças na satisfação conjugal ou no amor que expressavam um ao outro um ano após o casamento (McHale e Huston, 1985). Além disso, se o casal era ou não era feliz antes da gravidez e se a gravidez foi ou não planejada também parece afetar a satisfação conjugal antes do nascimento de um filho (Lawrence et al., 2008). Um estudo revelou até um pico de satisfação conjugal um mês após o parto (Wallace e Gotlib, 1990). Uma tentativa recente de entender esses achados contrastantes sugere que quando os estudos são examinados em conjunto, uma pequena, mas significativa diminuição na satisfação conjugal é comum um a dois anos após o nascimento de um filho. Entretanto, visto que este declínio também é encontrado em casais casados sem filhos, isto pode ser um processo relacional mais geral do que específico à transição para a condição de pais (Mitnick, Heyman e Slep, 2009). Independente das particularidades de como a criação de filhos poderia afetar a satisfação conjugal, os novos pais provavelmente experimentam estressores que poderiam afetar sua saúde e seu estado mental. Eles podem sentir-se isolados e esquecer o fato de que outros pais estão passando por problemas semelhantes. A divisão das tarefas domésticas entre o homem e a mulher pode tornar-se um problema, por exemplo, se a mulher estava trabalhando fora de casa antes de se tornar mãe, está agora em casa, e a carga do trabalho doméstico e do cuidado da criança cair principalmente sobre seus ombros (Cowan e Cowan, 2000; Schulz, Cowan e Cowan, 2006). Uma coisa tão simples como o choro do bebê, que mantém os pais acordados à noite, pode diminuir a satisfação conjugal durante o primeiro ano de maternidade/paternidade (Meijer e van den Wittenboer, 2007). Combinar trabalho e papéis familiares geralmente é bom para a saúde mental e física tanto dos homens quanto das mulheres e para a vitalidade do relacionamento (Barnett e Hyde, 2001). Entretanto, os benefícios dos papéis múltiplos dependem de quantos papéis cada parceiro assume, das demandas de tempo de cada papel, do sucesso ou satisfação que os parceiros obtêm de seus papéis e o grau em que os casais mantêm atitudes tradicionais ou não tradicionais a respeito dos papéis de gênero. MATERNIDADE/PATERNIDADE E TRABALHO: os casais que têm trabalhos remunerados podem enfrentar demandas extras de tempo e energia, conflitos entre o trabalho e a família, possível rivalidade entre os cônjuges e ansiedade e complexo de culpa em relação a satisfazer as necessidades dos filhos. A família é mais exigente, sobretudo para mulheres que têm empregos em período integral, quando existem filhos pequenos. As carreiras são exigentes, principalmente quando a pessoa que trabalha está se estabelecendo ou é promovida. Ambos os tipos de demandas frequentemente ocorrem no período adulto jovem. QUANDO O CASAMENTO TERMINA O divórcio, muito frequentemente, leva a um novo casamento com um novo parceiro e à recomposição de uma família, que inclui filhos de um ou ambos os parceiros de antes do casamento atual. MOTIVOS QUE LEVAM AO DIVÓRCIO: em uma pesquisa realizada com mulheres divorciadas, as razões mais citadas para o fracasso de um relacionamento são incompatibilidade e falta de apoio emocional, além da falta de apoio na carreira. Agressão do cônjuge estava em terceiro lugar, sugerindo que a violência doméstica pode ser mais frequente do que geralmente se pensa. De acordo com uma pesquisa randomizada realizada por telefone com 1.704 pessoas casadas, a maior probabilidade de qualquer um dos cônjuges propor divórcio existe quando os recursos econômicos do casal são aproximadamente iguais e suas obrigações financeiras mútuas são relativamente pequenas (Rogers, 2004). Em vez de permanecer juntos “por causa dos filhos”, muitos cônjuges em disputa concluem que expor os filhos a um contínuo conflito entre os pais causa maiores estragos. E, para o crescente número de casais sem filhos, é mais fácil retornar ao estado de solteiro (Eisenberg, 1995). Adultos com pais divorciados são mais propensos a esperar que seus casamentos não durem (Glenn e Marquardt, 2001) e a se divorciar, eles próprios, do que aqueles cujos pais permaneceram juntos (Schulman et al., 2001). Entretanto, este processo pode ser afetado por um casamento subsequente dos pais. Adultos jovens que tiveram pais que se casaram novamente e tiveram um relacionamento de alta qualidade em seu segundo casamento não eram mais propensos a divorciar-se eles próprios, sugerindo que as influências atuais desempenham um papel forte nos relacionamentos (Yu e Adler-Baeder, 2007). ADAPTANDO-SE AO DIVÓRCIO: o divórcio tende a reduzir o bem-estar de longo prazo, principalmente para o parceiro que não o pediu ou que não se casa novamente. Especialmente para os homens, o divórcio pode ter efeitos negativos sobre a saúde física ou mental, ou ambas. As mulheres têm maior probabilidade do que os homens de experimentar uma redução acentuada nos recursos econômicos e nos padrões de vida após a separação ou o divórcio; entretanto, as mulheres em casamentos infelizes se beneficiam mais da dissolução do relacionamento do que os homens em casamentos infelizes. As pessoas que eram – ou pensavam que eram – felizes no casamento tendem a reagir mais negativamente e a se adaptar mais lentamente ao divórcio (Lucas et al., 2003). Por outro lado, quando o casamento era altamente conflituoso, seu término pode melhorar o bem-estar a longo prazo Um fator importante no ajuste é o desapego emocional do ex-cônjuge. Pessoas que discutem com seusex-parceiros ou que não encontraram um novo parceiro ou cônjuge sofrem mais. Uma vida social ativa, tanto durante como depois do divórcio, ajuda (Amato, 2000; Thabes, 1997; Tschann, Johnston e Wallerstein, 1989). REFERÊNCIA: PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013.
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