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G RU PO SER ED U CACIO N AL gente criando o futuro TEORIA E FUNDAMENTOS DE NATAÇÃO E LUTAS TEO R IA E FU N D AM EN TO S D E N ATAÇÃO E LU TAS MARCELO GUIMARÃES SILVA MARCELO GUIMARÃES SILVA TEORIA E FUNDAMENTOS DE NATAÇÃO E LUTAS ISBN 978-65-990685-3-9 9 786599 068539 Curitiba 2022 Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas Marcelo Guimarães Silva Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. S586t Silva, Marcelo Guimarães Teoria e fundamentos de natação e lutas /Marcelo Guimarães Silva. – Curitiba: Fael, 2022 322 p. : il. ISBN 978-65-990685-3-9 1. Educação física – Estudo e ensino 2. Natação 3. Lutas (Esporte) I. Título CDD 796.07 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Valmera Fatima Simoni Ciampi Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Ser Educacional Arte-Final Hélida Garcia Fraga Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Metodologia do ensino da natação | 7 2. Princípios do treinamento aplicados à natação | 39 3. Regras competitivas da natação | 69 4. Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático | 99 5. Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas | 129 6. Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas | 153 7. Fundamentos teórico-práticos das lutas | 173 8. Tipos de Lutas | 197 9. Movimentações utilizadas nas lutas | 221 10. Preparação física aplicada às lutas | 255 Gabarito | 289 Referências | 309 Prezado(a) aluno(a), Esta obra tem como principal objetivo abordar aspectos que tangem ao ensino e à prática de duas importantes moda- lidades esportivas, que têm tido nos últimos anos um enorme crescimento em número de praticantes no mundo todo, sobre- tudo no Brasil. Dividida em dez unidades, a obra mergulha em um universo de possibilidades para a atuação do profissional de Educação Física, que muitas vezes não se sente tão preparado para atuar em ambas as áreas, de natação e/ou lutas. O fato é que, explorar conceitos, metodologias, enfim, os principais aspectos que cerceiam o ensino dessas modalidades, torna o futuro profissional de educação física mais bem pre- Carta ao Aluno – 6 – Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas parado para o mercado de trabalho, em uma base de formação sólida, e conectada ao que o mercado atual demanda. Que esta leitura seja importante para sua formação acadêmica, e que sirva como base para que sua atuação seja mais bem consolidada, conec- tada a partir de um contexto mais dinâmico. Boa Leitura. Atenciosamente, Prof. Marcelo G. Silva 1 Metodologia do ensino da natação A natação pode ser compreendida como uma prática humana que visa o deslocamento na água ao utilizar movimentos coorde- nados sem o uso de material flutuante. Embora existam muitos conceitos acerca dessa modalidade esportiva praticada no meio aquático, o mais importante é entender o processo de maneira geral que leva o ser humano a deslocar-se em água, as técnicas utilizadas para tal, bem como meios e métodos de trabalhar o aprendizado e o aperfeiçoamento dessas técnicas. O propósito deste capítulo é apresentar a técnica conside- rada a mais correta possível, que deve ser utilizada na inicia- ção dessa modalidade tanto nas fases de aprendizado, quanto nas fases de aperfeiçoamento. Dessa forma, serão analisados os diferentes aspectos e maneiras de controlar o corpo, posiciona- mentos e coordenação entre braços e pernas, saídas e viradas, isto é, elementos fundamentais para que o indivíduo consiga se deslocar no meio aquático de forma correta a partir da técnica específica de cada nado. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 8 – 1.1 Aplicação da natação e seus diversos âmbitos Antes de tratarmos da metodologia da natação, é importante entender um pouco mais acerca da modalidade em suas diferentes possibilidades de inserção. Andries Júnior e Dunder (2002) descrevem um aspecto importate a ser considerado sobre as fases que o individuo deve dominar antes de ini- ciar a aprendizagem dos nados em si, as quais se resumem em: os primeiros contatos com a água, a respiração, a flutuação, a propulsão e a entrada na água. Após essas fases é que, segundo os autores, poderão ser introduzidos os aprendizados específicos dos estilos de nados propriamente ditos. A estrutura de ensino-aprendizagem desse esporte apresentada por Burkhardt e Escobar (1985) pode ser visualizada como uma pirâmide, possibilitando entendimento das capacidades, com a necessidade de uma base forte (elementar utilitária) com envolvimento de todos os proces- sos iniciais da modalidade (movimentos básicos, adaptações, segurança, maneiras de autosalvamento e salvamento de demais), seguida para uma progressão da prática formal competitiva do esporte. Se assim for o desejo do indivíduo, ele será capaz de evoluir até o alto rendimento esportivo. Ainda de acordo com esses autores, os três níveis de ensino citados anteriormente possuem estruturas semelhantes dependentes do nível de base possuída pelo indivíduo, como aspectos de coordenação, percepção corporal, expressão corporal e progressão de complexidade em função dos objetivos solicitados pelo aluno. Nesse sentido, vemos a natação esportiva (formal ou competitiva) apoiada no ensino-aprendizagem de esquemas de movimentos de maneira padronizada (características dos quatro estilos de nados: crawl, costas, peito e golfinho), e demais técnicas comuns do esporte, como saídas e viradas para estar habilitado a participar de competições. 1.2 Meios e métodos do ensino da natação De forma global, o ensino da natação tem se caracterizado pela sis- tematização de rotinas das chamadas “sequências pedagógicas” com- postas por conteúdos pré-determinados para o aprendizado técnico dos quatro estilos da natação competitiva, conforme descrito por Fernandes e Lobo da Costa (2006). – 9 – Metodologia do ensino da natação Sendo assim, é importante observar que, dentro desse processo pedagó- gico, uma das funções do professor e/ou treinador é proporcionar ao aluno/ atleta o conhecimento e a execução de uma tarefa, ou seja, possibilitar-lhe estabelecer uma relação com o que foi ensinado, em um contexto no qual a prática pedagógica seja desenvolvida de forma consciente, planejada, estru- turada, organizada e sistematizada, visando adequar os conteúdos e seus objetivos à realidade e possibilidade do aluno/atleta e ao ambiente. Embora tenhamos diferentes métodos no processo ensino-aprendiza- gem da natação, na atualidade, ressalta-se duas correntes como as principais de acordo com Caetano e Gonzalez (2013). A primeira, tecnicista, é aquela na qual o conteúdo é fragmentado e dividido em níveis de dificuldade e, a segunda, considera o processo de adaptação e familiarização ao meio aquá- tico como parte do conteúdo na aprendizagem do nadar. Fernandes e Lobo da Costa (2006) defendem uma outra maneira de organizar os conteúdos por meio da pedagogia, compreendida como os métodos e estratégias utilizados a fim de obter uma melhor assimilação do conteúdo por parte dos alunos, dentre as quais se destacam: a global, a analítica e a moderna. É importante destacar que a pedagogia global é caracterizada pelo aprendizado através da prática, no qual o professor/treinador se torna ausente no processo de aprendizagem. Na pedagogia analítica, o professor/ treinador organiza uma sequência, introduzindo o ensino dos movimentos fora do ambiente aquático de forma isolada (parte por parte). A pedagogia moderna é uma junção das pedagogias global e analítica, organizando o conteúdo do simples para o complexo, por meio da práxis pedagógica. Outras maneiras ou métodos a serem desenvolvidos no processo ensino-aprendizagem da modalidade podem ser aplicados. De acordo com Krug e Magri (2012), temos o global, o analítico e o analítico progressivo, métodos que corroboram,em grande parte, por aqueles defendidos por outros autores, entre os quais estão Fernandes e Lobo da Costa (2006). Por outro lado, Xavier (1986) traz uma das abordagens mais utilizadas no âmbito esportivo que também é amplamante adotada no processo de ensino-aprendizagem da natação, que consiste em três correntes de ensino, a destacar: a global, a analítica e a mista. Contudo, os autores fazem diversas subdivisões da analítica. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 10 – Nesse sentido, Krug e Magri (2012), Machado (2004) e Xavier (1986) defendem que a corrente global tem como premissa, dentro do processo ensino-aprendizagem, considerar o comportamento instintivo do sujeito, em que procura a resolução dos problemas que surgem. Além disso, de forma geral, as tarefas a partir dessa concepção ocorrem sem uma frag- mentação de gestos motores, sendo executadas em sua totalidade ao con- textualiar os movimentos com o nado. Na corrente analítica, conforme mencionado por Krug e Magri (2012), Machado (2004) e Xavier (1986), há fragmentação dos movimentos do nado, posto que a ação é trabalhada em partes, e, ainda nessa corrente, os movimentos que compõem o nado podem ser trabalhados de várias formas a partir de uma visão analítica. De certa forma, pode-se trabalhar com todas as partes de forma isolada e, posteriormente, uni-las; pode-se trabalhar com duas partes e depois uni-las, ou, ainda, trabalhar com uma terceira separadamente e depois uni-la às outras duas; pode-se trabalhar determinada parte, somar uma outra, trabalhar com as duas unidas e ir adi- cionando outras partes seguindo esse mesmo processo, bem como traba- lhar com qualquer parte do nado isoladamente de modo independente das outras partes. Portanto, essa corrente corresponde a um ensino sistemati- zado de maneira que os movimentos podem ser ensinados, inclusive, fora d’água de maneira fragmentada, o que torna o nado apenas movimentos mecânicos descontextualizados e/ou isolados. Por fim, há a corrente conhecida como mista, a qual é composta pela combinação da global e da analítica (XAVIER, 1986). Essa corrente tem como premissa central a de mesclar ambas, podendo trabalhar o nado completo, assim como em determinados momentos realizar sua fragmen- tação para dar ênfase a algum gesto específico. Saiba mais Machado (2004) descreve que a didática do ensino da natação requer uma sequência pedagógica. Assim, a aprendizagem pode ser subdividida em: adaptação ao meio aquático; respi- ração e flutuação; noções de deslizes; propulsão utilizando as pernas; propulsão utilizando os braços; coordenação; mergulho elementar; avaliação de habilidades. Independentemente do – 11 – Metodologia do ensino da natação método ou concepção de ensino adotada, faz-se essencial que uma sequência pedagógica seja estabelecida, pois será ela que norteará o trabalho do professor/treinador. Por fim, Caetano e Gonzalez (2013) trazem um outro método conhe- cido como ABC, sendo ele dividido em três tipos de tarefas e técnicas: 1) as fechadas (são técnicas estáveis, que não sofrem variação e representam a base do aprendizado); 2) as abertas (são técnicas que podem ser modifi- cas ou variadas); 3) as estratégias abertas (é a adaptação das técnicas em situações complexas). Vale ressaltar que, nessa concepção, o ensino da técnica só é importante quando o nadador se encontra em um estágio de especialização ou de aperfeiçoamento do estilo. Antes dessa fase, é impor- tante que o nadador experimente um leque de possibilidades de movimen- tos no intuito de aumentar as possibilidades das habilidades motoras. 1.2.1 Etapas e fases pedagógicas no ensino da natação As fases pedagógicas podem ser categorizadas em etapas de aprendi- zagem e de condicionamento físico. Em ambas etapas, segundo Machado (2004), o trabalho de aprendizagem e condicionamento físico acontecem simultaneamente. No entanto, na primeira etapa, o foco, como o próprio nome já diz, é a aprendizagem de gestos e movimentos técnicos pertinen- tes à execução dos nados, assim como na segunda, em que o foco passa a ser o desenvolvimento do condicionamento físico do sujeito. A literatura apresenta as fases pedagógicas, as quais geralmente são classificadas como: adaptação, iniciação, aprofundamento e treina- mento. Ainda de acordo com o autor, a adaptação é uma fase caracterizada por proporcionar aos alunos uma aproximação inicial ao meio aquático e é direcionada para aqueles alunos que não têm o domínio do próprio corpo nesse meio. Segundo Fernandes e Lobo da Costa (2006), essa fase deve proporcionar ao aluno a perspectiva de dominar todos os movimentos pos- síveis para que ele possa gozar de suas expectativas e objetivos pessoais. Machado (2004) menciona que, nessa fase, são trabalhados e explo- rados seis fundamentos: os primeiros contatos com a água, a respiração, a Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 12 – flutuação e a sustentação, a propulsão e o mergulho elementar. Em seguida, temos a iniciação, que, de acordo com Machado (2004), é a fase em que os alunos vivenciam o processo de aprendizagem dos quatro estilos, bem como as regras referentes a cada estilo, além dos nados, as suas saídas e viradas. Na fase de aprimoramento/aprofundamento, Machado (2004) cita que há o aprimoramento e o aperfeiçoamento dos quatro estilos de nado, assim como das técnicas de saída, viradas e do nado medley. Além disso, passa ser trabalhado o desenvolvimento do condicionamento físico. Na fase de treinamento, ainda de acordo com o autor, é onde são vivenciados os aspectos focados aos detalhes da fase anterior (aprimoramento) com o foco, sobretudo, no condicionamento físico. 1.3 Aspectos técnicos específicos dos nados: crawl, peito, costas e borboleta Nesta seção, serão apresentadas as técnicas específicas de cada um dos estilos da natação, mais especificamente, das técnicas de cada um des- tes quatro estilos: crawl, peito, costas e borboleta, analisando os movi- mentos da pernada, da braçada e da respiração, com o objetivo de elucidar a coordenação do nado completo. 1.3.1 Técnica do nado crawl Esse estilo é conhecido no mundo todo por ser de mais fácil apren- dizagem, sendo, atualmente, a modalidade de nado praticada nas provas de nado livre. A técnica do nado crawl é conhecida por ser a mais rápida de todas e Machado (2004) descreve sua análise técnica a partir dos seguintes elementos: 1) posição do corpo; 2) trabalho das pernas; 3) trabalho dos braços; 4) respiração. Nesse sentido, é importante obser- var, em primeiro lugar, a posição do corpo que deve ser rente à super- fície, de forma que ele esteja o mais paralelo possível à linha da água. Nesse contexto, a capacidade de flutuação do nadador deve ser levada em consideração, além da influência dos movimentos de seus braços e de suas pernas na manutenção da posição do corpo. Ainda de acordo com o autor, para que o nado seja, de fato, eficiente, é preciso que o corpo – 13 – Metodologia do ensino da natação realize um movimento de rotação, também chamado de rolamento, que auxilia na propulsão das pernas, na eficiência da fase submersa e no rela- xamento da fase aérea da braçada (MACHADO, 2004). Vale ressaltar a importância da rotação do tronco, a qual deverá ser realizada através do ombro, do quadril e do queixo, no momento da respi- ração lateral, com o intuito de reduzir a resistência da água com o corpo. Com a rotação do quadril e do tronco, haverá menos resistência, o indi- víduo realizará uma boa entrada de mãos na água, e estará trabalhando outros grupos musculares, tais como: os das costas, ombros e peitorais, reduzindo a resistência, ao obter uma melhor eficiência na braçada. Outro aspecto a ser destacado quanto à técnica do nado crawl é o ritmo, representado pela extensão do movimento e do relaxamento, em que a extensão do movimento dependerá da flexibilidade dos ombros, do comprimento do corpo ou da altura e do tempo da braçada. Dessa forma, aumentar a velocidade,realizando uma braçada longa, ao invés de aumentar a frequência da braçada, tornam-se as estratégias ideais. Carvalho (2008) descreve como principais características do nado crawl as seguintes: 2 posição ventral do corpo (barriga voltada para baixo); 2 movimentos alternados e coordenados das extremidades supe- riores e inferiores; 2 rosto submerso com água na altura da testa, olhando para frente e para baixo; 2 respiração lateral com rotação da cabeça, coordenada com os membros superiores para realizar a respiração; 2 um ciclo consiste numa braçada com o membro superior esquerdo e outra braçada com o membro superior direito e um número variável de pernadas. 1.3.2 Técnica do nado peito Machado (2004) descreve o nado peito como o estilo mais antigo de que se tem notícia em termos de sua utilização e de seu ensinamento. Tal nado é considerado, de acordo com o autor, o nado competitivo mais Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 14 – lento dentre todos, pois todos os seus movimentos são realizados dentro da água, não havendo fase aérea de recuperação. Atualmente, os nadadores de nado peito devem, após a saída e a cada virada, ficar submersos durante um ciclo de braços; na técnica generali- zada do nado, fazem uma braçada semicircular curta e uma pernada deno- minada chicotada, conforme mencionado por Maglischo (2010). Trata-se de um estilo de nado que requer do nadador grandes forças propulsivas em cada ciclo de braços e pernas, devido ao fato de ser o único estilo de nado em que não existe a fase área de recuperação. Além disso, Maglischo (2010) aponta, a respeito da técnica, que a evolução do nado e as mudanças de regras foram determinantes para as modificações técnicas ocorridas ao longo dos tempos nesse que é consi- derado um dos esportes mais antigos praticados pelos seres humanos, que passou a ter duas correntes de execução: o estilo plano, ou convencional, e o estilo ondulante, muito utilizados por atletas em competições. Machado (2004) destaca que, no estilo plano do nado peito, o atleta se mantém em uma posição mais horizontal, com os quadris permanecendo mais próxi- mos da superfície durante toda a execução. Já no estilo ondulante, o atleta tende a elevar o quadril no final da pernada, não se mantendo na horizontal e, portanto, provocando uma elevação maior do tronco para a respiração. Independentemente do estilo, a técnica para a evolução da velocidade do nado está na busca pela aceleração no momento da respiração, conside- rada a etapa de desaceleração do nado. Além disso, o nadador deve se concentrar em executar os movimentos de pernas e braços no tempo certo (coordenados), para um não inibir a execução do outro, ou seja, deve ser um trabalho contínuo, preciso e rítmico, no qual devem ocorrer as braça- das seguidas das pernadas, cada um dos movimentos a seu momento. De acordo com Carvalho (2008), alguns aspectos devem ser consi- derados no que tange a execução do nado peito (técnica), entre os quais estão: 1) a posição alta e natural do corpo, que, por meio de uma flutuação natural, poderá ser diferente para cada atleta. Além disso, o relaxamento muscular na execução torna-se essencial, no intuito de evitar gasto energé- tico desnecessário por meio do recrutamento de fibras musculares que não são tão recrutadas no movimento executado; 2) a busca pela redução da resistência da força de arrasto, devendo, nesse caso, o nadador, manter na – 15 – Metodologia do ensino da natação linha da superfície mãos, cabeça, quadril e calcanhares até alcançar a posi- ção inicial; 3) a importância da sincronização constante da energia, além da força e propulsão, ao ser mantida uma frequência otimizada que per- mita ainda aumentar a velocidade de execução e deslocamento na água. 1.3.3 Técnica do nado costas Esse estilo é considerado por Carvalho (2008) e Machado (2004) o único que proporciona ao aprendiz respiração constante, exigindo do aluno uma grande habilidade articular especialmente dos ombros. Para esses autores, esse deve ser o segundo estilo a ser abordado no ensino da nata- ção, podendo ser realizado paralelamente ao do nado crawl ou, até mesmo, após a sua aprendizagem completa. A progressão pedagógica para o ensino desse estilo deverá ser realizada simultaneamente para que o aluno ganhe mais compreensão sobre os movimentos realizados e, para isso, ele deverá compreender que tudo faz parte de uma compreensão global. Machado (2004) destaca a importância de manter a posição do corpo na água. Nesse contexto, trata-se de uma técnica que exige uma boa fltuação em decúbito dorsal do corpo. Em relação à propulsão de perna, a pernada em relação a força propulsora dos braços, o equilíbrio e o balanço do corpo devem ser especialmente analisados. É importante destacar que, assim como no nado crawl, a importância do mecanismo de rotação do tronco, mantendo uma boa estabilidade do quadril, e sua sincronização com as pernadas tornam-se fundamentais para, além de uma execução eficaz do gesto, o ganho em velocidade e a redução do gasto energético do movimento. Um aspecto importante destacado por Machado (2004) e corroborado por Maglischo (2010) é que esse estilo, ao ser ensinado por fases, permite ao treinador uma maior possibilidade de compreensão e de percepção, oferecendo ao seu aluno uma gravura mental de si mesmo para que ele tenha como meta um conceito de estilo ideal. No que tange o aspecto técnico, Machado (2004) ressalta que é preciso que o aluno saiba que, à medida que ele cresce e se fortalece, seu estilo toma um novo rumo e, para que sempre esteja em dia com este nado, ele deverá se dirigir a suas partes específias. Cabe ressaltar que as explicações, por sua vez, devem ser feitas Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 16 – fora d’água, uma estratégia que se demonstra confortável para que o aluno possa se concentrar, conforme descreve o autor. 1.3.4 Técnica do nado borboleta O nado borboleta, também conhecido como estilo “golfinho”, é o mais recente dentre todos, sendo considerado um dos nados de mais difícil execução, pois exige o uso de muita energia e força de membros superio- res para ser realizado segundo Machado (2004). Pelo fato da recuperação da braçada ser feita de forma simultânea e aérea, exige que os nadado- res realizem uma puxada com força e potência para conseguir retirar os membros da água, logo, o dispêndio energético é bastante elevado. No nado borboleta, observa-se que são altamente desgastantes os movimentos simultâneos de pernas e braços que fazem com que o nadador deva tirar ao mesmo tempo os membros superiores da água, conduzindo-os à frente sem que toquem a superfície. Maglischo (2010) destaca que esse estilo teve origem em uma modi- ficação do nado peito. A princípio, era realizado com a pernada de peito, com o passar do tempo, após a evolução do estudo da biomecânica, foi encontrada uma maneira diferente e mais eficiente de executar o nado: com a pernada similar ao movimento de golfinhos nadando. De acordo com Machado (2004), o nado borboleta pode ser repre- sentado por meio de uma análise sequencial, a qual é realizada a partir da fragmentação do corpo do nadador em: 1) posicionamento do corpo e da cabeça; 2) propulsão dos braços; 3) respiração; 4) propulsão de pernas; 5) coordenação completa. Massaud (2004) descreve a análise dessas ações motoras relacionando-as aos movimentos dos membros inferiores e dos membros superiores com a movimentação do nado crawl. Entretanto, con- sidera-se aqui um crawl duplo, em que os membros inferiores e os mem- bros superiores atuariam conjuntamente, cada um no seu ciclo de trabalho. Destaque O treinador/professor possui papel fundamental no processo técnico do nadador, e, nesse sentido, Machado (2004) apre- senta os dez mandamentos dos treinadores de natação, a saber: – 17 – Metodologia do ensino da natação 1) seja bastante organizado; 2) seja firme, mas justo; 3) mante- nha a serenidade; 4) seja um entusiasta;5) realize apreciações sinceras; 6) não tenha atletas favoritos, trate todos da mesma maneira; 7) mantenha um interesse sincero; 8) não grite com os atletas; 9) não destrua a possibilidade de comunicação; 10) veja seus nadadores de seis maneiras: com afeição, criatividade, segurança, realização, novas experiências e amor-próprio. 1.4 Posicionamento do corpo e posicionamento de braços e pernas nos nados: crawl, peito, costas e borboleta Nesta seção, serão apresentados os aspectos gerais relacionados às técnicas específicas dos movimentos da pernada, da braçada e da respi- ração de cada estilo de nado, com o objetivo de melhorar a compreen- são acerca da coordenação do nado completo. É importante destacar que cada estilo apresenta sua técnica específica. Entretanto, alguns elementos podem ser aplicados de maneira similar como, por exemplo, a rotação de quadril e entrada/saída de braços dos nados crawl e costas, as saídas e/ ou viradas, ou, ainda, o movimento de deslizar sobre a água, presentes no nado peito e borboleta, entre outros. A técnica, de fato, é unanimemente considerada como um dos parâ- metros mais importantes. Assim, ela se apresenta como preocupação cen- tral do processo de treino dessa modalidade, pois está associada a diversos aspetos, entre os quais estão: a melhoria da performance global e a redu- ção dos riscos de lesão. 1.4.1 Posicionamento do corpo e posicionamento de braços e pernas no nado crawl De acordo com Carvalho (2008) e Machado (2004), a posição do corpo deve ser rente à superfície, de forma que esteja o mais paralelo pos- sível à linha da água, conforme mostrado na Figura 1.1. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 18 – Figura 1.1 – Posição do corpo e da cabeça no nado crawl Fonte: Massaud (2004). Nesse contexto, a capacidade de flutuação do nadador deve ser levada em consideração, além da influência dos movimentos de seus braços e de suas pernas na manutenção da posição do corpo. Para um nado eficiente, o corpo deve realizar um movimento de rotação, também chamado de rola- mento, que auxilia na propulsão das pernas, na eficiência da fase submersa e no relaxamento da fase aérea da braçada. É importante ressaltar que Machado (2004) evidencia que a análise da técnica do nado crawl pode ser realizada a partir dos seguintes elemen- tos: 1) posição do corpo; 2) trabalho das pernas; 3) trabalho dos braços; 4) respiração. Uma atenção especial deve ser direcionada ao rolamento que deve ser realizado de forma efetiva, sem gerar resistência frontal, fazendo com que a cabeça gire ao final da fase submersa da braçada, conforme descreve Mas- saud (2004). Desse modo, o ombro oposto gira, ao aumentar a amplitude da braçada e posicionando melhor a mão à frente do corpo. Os quadris reali- zam uma curta rotação, posicionando as pernas diagonalmente. É fundamen- tal que haja um alinhamento horizontal do corpo, pois, segundo Carvalho (2008), tal ação permitirá minimizar a força de arrasto hidrodinâmico a que o nadador se sujeita, assim como favorecer a produção de força propulsiva pela ação dos segmentos motores horizontalmente. No nado crawl, o corpo deve estar o mais horizontal possível, com a cabeça em posição natural no pro- longamento do tronco e com as costas completamente planas (MASSAUD, 2004). Em adição, ao realizar uma observação frontal, deve-se perceber que o nadador deverá estar com um ombro de cada vez exposto fora d’água. Faz-se necesário, ainda, observar a posição da cabeça, pois, nesse caso, influencia muito a posição do corpo, conforme Machado (2004). – 19 – Metodologia do ensino da natação O autor menciona também que, ao levantar a cabeça, ou olhar mais para a frente, a tendência é de que as pernas afundem, o que é prejudicial à exe- cução técnica correta do nado. Dessa forma, o nadador deve manter sua cabeça rente à superficie (água), em posição natural no prolongamento do tronco e com as costas completamente planas, evitando que acompanhe a rotação sobre o eixo longitudinal do bloco tronco/membros inferiores, devendo mantê-la sempre fixa, como afirma Massaud (2004). Em relação à pernada, no nado crawl, Machado (2004) menciona que deve ser realizado o movimento alternado em direção vertical e, às vezes, diagonal (dependendo do grau de rolamento do corpo), ou seja, enquanto uma perna está em propulsão, a outra estará em recuperação. Carvalho (2008) o complementa ao citar que a pernada no crawl é caracterizada por uma oscilação solta dos membros inferiores, que realizam ações curtas, alternadas e diferenciadas, iniciando um antes que o outro termine. Tais ações se dão, principalmente, no plano vertical, cuja importância se faz no equilíbrio, na propulsão e na sustentação do corpo. Carvalho (2008) menciona que a eficiência da pernada está direta- mente ligada aos seguintes fatores: a completa soltura muscular que venha auxiliar para a chicotada que caracteriza este movimento; o ritmo sem inter- ferência de desaceleração e quebra de continuidade; a posição da perna, com os pés naturalmente voltados para dentro sem movimentos forçados, visando o relaxamento muscular, para manter em atividade a zona de revo- lução da água; o movimento solto do pé na posição indicada (flexão plantar do tornozelo), com grande flxibilidade dos tornozelos, para que a movi- mentação da água no nível dos dedos dos pés seja a mais atuante possível. É importante destacar que o movimento da pernada no crawl, que se inicia na articulação coxofemoral, é divido em dois momentos, segundo Maglischo (2010): 1) descendente; 2) ascendente. Ainda de acordo com autor, o primeiro movimento ocorre quando o nadador chuta a água para baixo. Primeiramente, ocorre uma leve flexão do quadril, na sequência, uma extensão dos joelhos em que os pés estejam em flexão plantar. Essa sequ- ência coordenada de movimentos lembra o movimento de uma chicotada. O segundo movimento, responsável por retornar a perna para a posi- ção inicial, ocorre a partir da extensão do quadril com o joelho estendido. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 20 – A pernada pode ser executada de três maneiras diferentes em relação às braçadas: dois tempos, quatro tempos e seis tempos. Na natação competi- tiva, existem os casos de pernadas de oito e, até mesmo, dez tempos para desenvolver maior velocidade. Isso se refere ao número de pernadas por ciclo de braçadas. Ou seja, em uma pernada dois tempos, o nadador exe- cuta duas pernadas por ciclo de braçada. Em uma pernada quatro tempos, o nadador executa quatro pernadas por ciclo de braçadas e assim sucessi- vamente (MAGLISCHO, 2010). No caso da braçada, Carvalho (2008) descreve que pode ser dividida basicamente em duas fases: a fase aérea, também chamada de fase de recuperação, que deve ser realizada com o cotovelo fletido e com certo relaxamento muscular. Essa fase se inicia quando os braços saem da água após a finalização (fase submersa) até entrar na água novamente (1.2a). Machado (2004) descreve a importância de orientar o nadador que o coto- velo seja retirado da água antes das mãos, ao fazer com que o cotovelo seja elevado e mantido sempre mais alto do que a mão, contribuindo com o relaxamento muscular. Além disso, ao manter essa relação entre mão e cotovelo, a entrada da mão na água se torna mais angulada, “cortando” a água. A fase submersa da braçada é dividida em três etapas, conforme Machado (2004): 1) apoio; 2) puxada; 3) empurrada (Figura 1.2b). Após a fase aérea, dá-se início à fase submersa pelo apoio, fase em que a mão entra na água e alonga à frente do ombro. Nessa fase, a mão entra na água ligeiramente voltada para fora, com o dedão voltado para baixo. Após penetrar na água a uma profundidade de aproximadamente 20 centímetros, ocorre uma flexão de ombro e uma extensão de cotovelo, posicionando a palma da mão para o fundo da piscina (MACHADO, 2004; MAGLISCHO, 2010). A segunda etapa, de acordo com os autores, é a puxada, momento em que o nadador, de fato, começa a“puxar” a água para trás, ou seja, inicia a parte propulsiva da braçada. Para isso, a mão e o antebraço se movimentam para trás, com uma leve mudança de direção. Primeira- mente, para fora, afastando-se do corpo, e, depois, para dentro, apro- ximando-se da linha medial (MACHADO, 2004). Esse movimento dá início ao formato sinuoso da braçada, também conhecido como “S”, fase – 21 – Metodologia do ensino da natação que termina quando o braço se posiciona abaixo do ombro, caracteri- zando o início da empurrada. A terceira fase, portanto, caracteriza-se pela mudança de movi- mento. Ao passar pelo ombro, Carvalho (2008) indica que o nadador para de “puxar” e começa a “empurrar” a água. Nessa fase, há, assim, um aumento na velocidade da braçada e na força por parte do nadador. Ao “empurrar” a água para trás, o nadador deve realizar a extensão do cotovelo, posicionando a mão próxima à coxa. Ao finalizar a braçada, inicia-se novamente todo o ciclo. A respiração no nado crawl, de acordo com Machado (2004), pode ser realizada tanto unilateral quanto bilateralmente. Nas duas formas, o movimento é o mesmo. A diferença é que, na primeira, o nadador a exe- cuta apenas para um lado, enquanto, na segunda, o nadador respira para os dois lados. Para que se tenha um rendimento ótimo na natação, é pre- ciso que o nadador mantenha um ritmo na respiração, coordenado com os movimentos dos braços, das pernas e do corpo (LIMA, 2009). Destaca-se que a respiração lateral é realizada sempre para o mesmo lado, durante a braçada direita ou esquerda. Assim, a respiração ocorre a cada duas, quatro, seis braçadas e assim sucessivamente, conforme descreve Lima (2009). No caso da respiração bilateral, ela ocorre para os dois lados alter- nados, ou seja, uma respiração durante a braçada direita e/ou durante a braçada esquerda. Porém, o mínimo de braçadas entre as respirações são três. Assim, a respiração ocorre a cada três, cinco, sete braçadas e assim sucessivamente (LIMA, 2009). Um aspecto que deve ser considerado acerca da técnica do nado crawl é a coordenação entre a braçada e a respiração. Carvalho (2008) menciona que o momento mais importante dessa coordenação ocorre quando o membro superior entra na água e quando o outro mem- bro superior está a completar o alinhamento lateral interior, o que permite ao corpo rodar para o lado do braço que vai iniciar a ação ascendente (membro superior “recuado”). Por outro lado, o autor destaca que a extensão para frente do membro superior que entra na água permite que o corpo fique novamente alinhado enquanto a ação ascendente é realizada. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 22 – Destaque Em relação à coordenação entre braçada e respiração, destaca-se que o movimento da respiração inicia quando o nadador gira a cabeça para o lado, inspirando à medida que a cabeça sai da água e expirando à medida que a cabeça retorna à posição ini- cial. A inspiração coincide com o início da fase da empurrada do braço submerso. Enquanto o braço esquerdo estiver na fase de apoio, o direito estará finalizando a fase da empurrada. Nesse mesmo momento, ocorrerá o giro da cabeça para o lado direto. Fonte: YOUNG, M. Front crawl arm technique. In: SWIM TEACH. [S. l.], c2020a. Disponível em: https://www.swim-teach. com/front-crawl-arm-technique.html. Acesso em: 12 maio 2021. Maglischo (2010) descreve, ainda, como um dos aspectos técnicos importantes do nado crawl, os fundamentos de saídas e viradas que são realizados obrigatoriamente em eventos competitivos. Em provas de velocidade como os 50 metros livre e os 100 metros livre, realizar uma boa saída é pré-requisito para um bom desempenho. Esse autor descreve que, atualmente, existem dois tipos de saída: 1) tradicional (agarrada), que é realizada com os dois pés apoiados no bloco de par- tida, alinhados à frente, levemente separados. Os joelhos ficam leve- mente flexionados, assim como o quadril e o tronco. As mãos devem segurar a parte frontal do bloco até que o arbitro dê o sinal de partida (Figura 1.2a); 2) atletismo (com um pé atrás), que recebe esse nome porque se assemelha muito ao posicionamento dos atletas de atletismo. A grande diferença entre esse tipo e o tradicional é a posição dos pés. Na saída de atletismo, um pé fica na parte anterior do bloco e o outro fica mais atrás (Figura 1.2b). Após o sinal, o nadador deve movimentar os braços para cima e para a frente, soltando o corpo para a frente e realizando a impulsão com as pernas. O salto deve realizar uma pará- bola, para que, ao entrar em contato com a água, os pés entrem pelo mesmo lugar que as mãos entraram. – 23 – Metodologia do ensino da natação Figura 1.2 – Posições de saídas na natação dorsal largo jarrete redondo maior tríceps braquial quadríceps gastrocnêmio e sóleo paravertebral Fonte: Massaud (2004). De acordo com Massaud (2004), ao sinal de partida do árbitro, o nada- dor que estará sobre o bloco (Figura 1.2) deverá executar os seguintes passos: 2 Tracionar contra o lado inferior do bloco para fazer com que o seu corpo inicie o desequilíbrio à frente; 2 Lançar a cabeça e as mãos para cima e à frente, sob o queixo, iniciando a projeção do corpo para o voo; 2 Decolar num ângulo de 45 graus; 2 Carpar ao passar pelo ponto mais elevado do voo, momento de se encaixar a cabeça entre os braços; Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 24 – 2 Na entrada da água, procurar fazer com que todo o corpo o faça no mesmo ponto onde entraram as mãos; 2 Manter as mãos sobrepostas, com os braços estendidos pressionando as orelhas, mantendo o corpo em uma posi- ção aerodinâmica. A fase submersa da saída do nado crawl deve iniciar por meio de uma curta e rápida pernada do estilo golfiho, aumentando gradativa- mente. Além disso, deve iniciar a primeira braçada um pouco antes de o corpo atingir a superfície, de forma que isso ocorra quando o nada- dor estiver realizando a varredura para cima. O último aspecto associado à ténica do nado crawl é a virada, considerada o momento em que o nadador chega na borda da piscina e, para não perder tempo, realiza um movimento que dê continuidade ao nado, conforme descreve Maglischo (2010). Essa virada pode ser simples ou olímpica (cambalhota), como pode ser visto a seguir. Na virada simples, o nadador deve tocar a borda com uma das mãos e levar os pés para a parede ao mesmo tempo em que posiciona a outra mão para o lado oposto da parede. Quando os pés atingem a parede, o nadador afunda a cabeça, posicionando-a entre os braços, que devem estar em posição hidrodinâmica (posição de “flecha”). Em seguida, o nadador realiza a impulsão com as pernas, em que o nada- dor, durante tal deslocamento, deverá executar a pernada de golfinho com o corpo bastante alinhado, até, no máximo, 15 metros (LIMA, 2009; MAGLISCHO, 2010). A virada olímpica é considerada mais complexa que a sim- ples por envolver um giro. Nesse caso, ao se aproximar da parede, o nadador não precisa tocá-la com mão, mas sua cabeça deve ficar a uma distância de, aproximadamente, 30 centímetros da borda. Nessa posição, o nadador deve agrupar o corpo, realizando uma camba- lhota em que leva os pés à parede. Ao tocar os pés na parede, o nadador posiciona o corpo em posição hidrodinâmica, com a cabeça entre os braços, e impulsiona a parede com as pernas (LIMA, 2009; MAGLISCHO, 2010). – 25 – Metodologia do ensino da natação 1.4.2 Posicionamento do corpo e posicionamento braços e pernas no nado peito Maglischo (2010) afirma que, atualmente, os nadadores de nado peito devem, após a saída e a cada virada, ficar submersos durante um ciclo de braços. Na técnica generalizada do nado, fazem uma braçada semicircular curta e uma pernada denominada chicotada. O nado peito é considerado o nado competitivo mais lento, devido ao fato de que é o único que não conta com a fase área de recuperação, mas que acarreta aos nadadores grandes forças propulsivas em cada ciclo de braços e pernas.Com relação à pernada, o nado peito requer uma ação das pernas no estilo de chicotadas estreitas. Essa forma de execução, em chicotadas, assemelha-se a uma hélice: os pés palmateiam para fora, para baixo e para dentro, bem como para trás. Massaud (2004) aponta que as plantas dos pés são as principais superfícies propulsivas, com deslocamento da água para trás como fólios, não como remos, como pode ser observado. Maglischo (2010) divide a pernada em quatro fases, como se pode observar na figura a seguir: 1) recuperação; 2) varredura para fora; 3) var- redura para dentro; 4) sustentação e deslizamento. Figura 1.3 – Fases da pernada do nado peito 1-2 Recuperação 2-3 Varredura para fora 3 Agarre 3-4 Varredura para dentro 4-5 Levantamento e deslize Fonte: Adaptada de Maglischo (2010). Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 26 – Referente às fases da pernada, temos a fase de varredura para fora, em que os pés são flexionados e girados para fora na articulação do torno- zelo, e as plantas, voltadas para fora e para trás, executarão um movimento circular com pressão simultânea no sentido lateral para fora e para baixo. Quanto menos para trás se deslocarem os pés, melhor será a eficácia da sustentação (MAGLISCHO, 2010; MASSAUD, 2004). Já na fase de var- redura para dentro, após o agarre (fase final da varredura para fora), os autores destacam que, no meio da trajetória de extensão dos joelhos), as pernas se movimentam para dentro, para baixo e para trás. As plantas dos pés devem estar voltadas para baixo e para dentro, até completarem a fase e terminarem somente para dentro. Durante essa fase, a velocidade e a pressão realizadas pelos pés devem aumentar continuamente com o pico ocorrendo antes de os pés reduzirem a pressão contra a água para iniciar a sustentação. A fase de sustentação e deslizamento é a continuação do movimento circular da varredura para dentro. De acordo com Massaud (2004), trata-se de um movimento feito para liberar a pressão contra a água para baixo e para dentro um pouco antes da união dos pés, que se projetam em direção à superfície para finalizar a propulsão da pernada e iniciar a sustentação. As pernas, então, subirão até se alinharem ao corpo, em uma posição imediatamente abaixo da superfície, iniciando a fase de deslizamento das pernas. E, finalmente, há a fase de recuperação, a qual consiste em uma flexão do joelho, realizando um movimento descontraído com pequeno gasto energético e, em seguida, uma extensão com o apoio necessário ao deslocamento com vigor e potência. Dessa forma, os pés devem se movimentar para a frente, simultaneamente, em flexão plantar, com os dedos apontando para trás, sendo importante, ainda, que os pés e as pernas se desloquem à frente dentro da linha do quadril, de modo que as pernas estejam na direção das coxas (MAGLISCHO, 2010). De acordo com Massaud (2004), a braçada do nado peito caracte- riza-se por possuir ênfase na lateralidade dos movimentos. Isso porque, partindo com os braços estendidos à frente da cabeça e mãos juntas, o início da braçada é realizado com pressão para os lados e ligeiramente para o fundo – o que se denomina “fase de apoio da braçada ou varredura para fora”. Além disso, ainda a respeito da técnica da braçada nesse estilo de nado, Machado (2004) explica que, durante essa abertura dos braços, – 27 – Metodologia do ensino da natação as mãos, inicialmente voltadas para baixo, vão girando lentamente para fora até ultrapassarem as linhas dos ombros, ponto em que elas, além da pressão lateral, exercerão um movimento para baixo, alcançando o agarre. Durante essa fase, o nadador não deve permitir que haja grande afasta- mento dos braços, para que, no momento de tração (movimento de aproxi- mação dos braços ao corpo), as mãos não ultrapassem a linha dos ombros e/ou do rosto. Massaud (2004) explica também que as mãos se deslocarão inclina- das, tendo como bordo de ataque o dedo mínimo e o de fuga, o polegar. No entanto, alguns nadadores, no início dessa fase, realizam uma ligeira flxão do punho, o que é aceitável, mas, ao alcançarem o agarre, suas mãos e seus antebraços deverão estar alinhados. As divisões da braçada do nado peito, de acordo com esse autor, podem ser feitas em três importantes fases e vistas diferentes: 1) varredura para fora; 2) varredura para dentro; 3) recuperação. Na fase de varredura para fora, ou apoio da braçada, Machado (2004) descreve que há uma ênfase na lateralidade dos movimentos. Ao partir com os braços estendidos à frente da cabeça, com as mãos unidas, o início da fase de apoio é realizado com uma pressão para os lados e, ligeiramente, para o fundo. Na abertura dos braços, as mãos, voltadas para baixo, vão girando lentamente para fora até ultrapassarem a linha dos ombros, ponto onde exercerão um movimento para baixo, o agarre. Deve-se evitar grande afastamento dos braços e, na tração, as mãos não devem ultrapassar a linha do ombro e do rosto, mas devem se deslocar inclinadas, tendo, como bordo de ataque, o dedo mínimo e, como de fuga, o polegar (MAGLISCHO, 2010; MASSAUD, 2004). A fase seguinte é caracterizada como a de varredura para dentro, ou tração, que consiste, de acordo com Maglischo (2010), em um movi- mento de pressão do antebraço, no início para dentro e para baixo, depois para dentro e para cima, tendo a flexão do antebraço sobre o braço com a adução do braço junto ao corpo, unindo as mãos. Os cotovelos se mantêm elevados, e as mãos e os antebraços giram para baixo e para dentro em torno deles. É importante destacar que o movimento da braçada com as mãos unidas à frente da linha do ombro deve atingir um ângulo de 80 graus Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 28 – nos cotovelos. Agora, o bordo de ataque passa a ser o polegar e o de fuga, o dedo mínimo, atingindo as mãos a velocidade mais alta (máxima). Por fim, há a recuperação, que se inicia após a finalização da fase de tração, sendo a última fase do ciclo da braçada. As mãos são projetadas à frente, próximas ou sobre a superfície, e, ao final, ocorrerá ou não o deslize, para logo iniciar um novo ciclo de braçada, com a preparação para a varredura para fora (MASAUD, 2004). A respiração, por sua vez, deve ocorrer durante a pressão inicial da braçada, ou seja, é durante o apoio que o nadador deve realizar a expiração. Ao realizar a tração, levará o tronco e retirará o rosto da água, momento em que realiza a inspiração. No lançamento dos braços à frente (recupe- ração), o rosto retornará à água (MASAUD, 2004). Ainda de acordo com o autor, os nadadores podem realizar uma respiração para cada ciclo de braçada, porém, em provas mais curtas, para ganhar velocidade e gerar menos resistência, os nadadores podem manter a cabeça na superfície, sem levantá-la para respirar. A coordenação dos movimentos de pernada e braçada com a respi- ração no nado peito são essenciais para a execução eficaz da técnica do nado. Sendo assim, Machado (2004) ressalta essa sicnronização apoiada pelos seguintes movimentos alternados: as pernas se mantêm estendidas > apoio da braçada; as pernas se mantêm estendidas > tração da braçada; início da recuperação da braçada > início da recuperação das pernas (fase lenta); segunda metade da recuperação da braçada > fase rápida da recu- peração das pernas; final da recuperação da braçada > ação com extensão das pernas (pressão). No que tange as saídas no nado peito, Massaud (2004) enfatiza que o principal objetivo desse fundamento técnico é fazer com que o nadador vá o mais longe possível, com a velocidade mais alta, evitando perda de tempo. Isso não é diferente no nado peito, a não ser na fase aquática, no processo de movimento submerso chamado de “filipina”. Desse modo, a saída do bloco de saída no nado peito é idêntica à dos nados crawl e borbo- leta, sendo caracterizados como nados em posição ventral. O nadador se posiciona sobre o bloco de saída (plataforma) e, ao sinal de partida, reage, lançando-se na água.A concentração no momento de saída é um diferen- cial para o sucesso no tempo de reação ao estímulo. São dois os tipos de – 29 – Metodologia do ensino da natação saída: de agarre e de atletismo, ou track (MAGLISCHO, 2010; MAS- SAUD, 2004). Ambas são efetivas e se diferenciam apenas pela posição dos pés no bloco de partida, em que o atleta/nadador deve ter a possibili- dade de experimentar as duas opções e escolher, com o conselho de seu treinador, a que mais favorece sua performance. Maglischo (2010) descreve que, após a entrada na água, o nada- dor deverá permanecer com o corpo totalmente estendido, com braços estendidos à frente e mãos sobrepostas e juntas. Ao sentir a diminuição da velocidade de deslocamento, deve realizar a primeira braçada (idên- tica à braçada aquática do nado borboleta), empurrando a água para trás (assemelha-se a uma fechadura), finalizando o movimento com os bra- ços colados na lateral do corpo, até o momento em que sua velocidade de deslocamento submerso seja signifiativa. De acordo com Massaud (2004), ainda submerso, o nadador deve fazer a recuperação dos braços sob o corpo, mantendo mãos, antebraços, braços e cotovelos o mais pró- ximo possível do corpo, buscando diminuir a resistência frontal do des- locamento. A partir da passagem das mãos sob o rosto, as pernas iniciam a preparação para a ação (recuperação). Ao fializar a extensão dos braços à frente do corpo, o nadador realiza a pernada, deslizando em direção à superfície, e inicia o nado peito. Finalmente, a respeito das viradas no nado peito, Maglischo (2010) aponta que são semelhantes às do nado borboleta, que podem ser descritas em três fases distintas. Ao se aproximar da borda da piscina, o nadador deve ajustar sua braçada e a velocidade para tocar a borda com as duas mãos, simultaneamente, com os braços estendidos. Após o toque, deve, imediatamente, retirar um dos braços, por dentro da água e junto ao corpo, direcionando-o em direção à borda oposta à da virada. Junto a esse movi- mento, paralelamente, as pernas se flexionarão em direção à borda junto com o quadril. Deve-se apoiar os pés na parede de forma firme para apro- veitar a impulsão do corpo, buscando aplicar força para recuperar a velo- cidade do nado. O braço que se manteve na borda a pressiona, para auxílio da recuperação, flexionando-se sobre a cabeça do nadador um pouco antes do braço passar sobre a cabeça. Nesse momento, será realizada a respira- ção, para, em seguida, o nadador, em decúbito lateral, submerso, unir as mãos e realizar o impulso da borda. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 30 – Saiba mais O nado peito possui três estilos de sincronização, a saber: 1. Contínuo: o praticante não fará a parada de braços à frente, realizando o deslize. Ao finalizar a recuperação da braçada, sempre dará início a um novo ciclo, ou seja, assim que as per- nas estiverem se unindo, os braços se abrirão. 2. Deslizante: indicada para nadadores iniciantes no estilo peito devido à faci- lidade de coordenação e execução. A cada ciclo de braçada e pernada, antes de iniciar um novo, o nadador realiza um des- lize, mantendo o corpo estendido. 3. Superposição: o ciclo de braço começa antes que se tenha terminado a pernada, ou seja, quando as pernas se unem, os braços estão no final da varredura para fora, no agarre. Fonte: Maglischo (2010). 1.4.3 Posicionamento do corpo e posicionamento de braços e pernas no nado costas No nado costas, o corpo deverá permanecer na horizontal em decú- bito dorsal, realizando movimentos de rolamento laterais, em seu eixo longitudinal (MASSAUD, 2004). Conforme o autor, alguns nadadores possuem difiuldades para manter um bom alinhamento lateral devido à forma de execução dos movimentos de braços alternados, geralmente os direcionando demasiadamente para os lados, não apenas na recuperação, mas, também, na fase inicial da parte aquática da braçada. O alinhamento horizontal é algo que merece destaque, pois alguns nadadores mantêm a cabeça um tanto elevada, acarretando o abaixamento do quadril, aumen- tando, assim, a força de arrasto. Ainda segundo Massaud (2004), a cabeça deve permanecer apoiada na água, passando junto à parte posterior ou mediana das orelhas. Já a pernada, de acordo com Maglischo (2010), é subdividida em duas etapas: 1) ascendente (mais forte); 2) descendente (mais fraca). – 31 – Metodologia do ensino da natação Nesse caso, os membros inferiores realizam movimentos de forma alter- nada: para cima (fase propulsiva) e para baixo (fase não propulsiva). Esses movimentos iniciam no quadril, com batimentos de pernas para cima ini- ciando na rotação da coxa. Em relação aos pés, devem permanecer em inversão e flexão plantar. Massaud (2004) complementa ao citar que as pernadas consistem em movimentos na direção geral (seguindo a rotação do corpo), facilitando o rolamento que o corpo necessita fazer para a pro- pulsão e para o alinhamento do corpo (Figura 1.4). Figura 1.4 – Posição do corpo no nado costas (pernada) reto abdominal jarrete glúteo maior dorsal largo tríceps braquial Fonte: Massaud (2004). A braçada do nado costas, segundo Machado (2008) e Massaud (2004), pode ser dividida em seis etapas: 1) Primeira varredura para baixo: o nadador estará com o braço completamente estendido (inclusive mão e dedos unidos). O braço deve entrar na água de maneira alinhada entre a cabeça e a articulação do ombro (ângulo próximo a 10 graus), com a palma da mão voltada para fora, com o dedo mínimo sendo o primeiro ponto a entrar em contato com a água; 2) Primeira varredura para cima: Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 32 – nesse momento do nado, o tronco iniciará o rolamento lateral, para que seja possível, com o braço estendido, fazer um movimento para baixo. O punho deverá estar ligeiramente flexionado (em direção ao dedo mínimo), com a mão movimentando para longe da linha do ombro; 3) Segunda varredura para baixo: nesse ponto, a mão deve se movimentar para baixo, em dire- ção aos pés, e o cotovelo deve fletir e se direcionar para baixo, passando o nível da mão. Dessa maneira, o punho vai flexionar, voltando-se aos pés. Assim, o tronco segue em rolamento, auxiliando a propulsão da mão que está submersa e mantendo a referência do braço que está em recuperação; 4) Segunda varredura para cima: nesse momento, o braço deve se movimen- tar para baixo e, simultaneamente, para trás (até que esteja completamente estendido e posicionado abaixo da linha da coxa). Dessa forma, haverá uma aproximação do braço ao tronco e posterior extensão do antebraço (projeção da mão ao fundo da piscina), possibilitando o rolamento do corpo para o lado oposto do braço e a saída do ombro desse mesmo lado; 5) Liberação/saída: ao finalizar o estágio propulsivo, a mão deve se movimentar para cima, trás e dentro, em direção à superfície da água. Assim, o braço assumirá uma posi- ção estendida, de maneira vertical, para cima; 6) Recuperação: ao finalizar o ciclo do braço, de maneira estendida, com o polegar saindo da água e a palma da mão voltada para a perna, acontecerá um movimento semicircular do braço fora d’água, com rotação do braço para que, ao finalizar a fase de recuperação, a mão esteja novamente voltada para fora. Massaud (2004) destaca que a técnica de respiração para o nado cos- tas consiste na inspiração feita, prioritariamente, pela boca, quando um dos braços estiver em apoio e o outro estiver iniciando a fase de recupe- ração, e na expiração pelo nariz. Porém, ressalta-se que esse ritmo e essa sequência não são obrigatórios, visto que o rosto está fora d’água, por- tanto, cada indivíduo pode adaptar a respiração da melhor maneira para o ótimo desempenho de seu nado. Em relação à coordenação, é fundamental, de acordo com Massaud (2004), que tal aspecto seja fortemente trabalhado, visto que, enquanto um braço está em movimento de varredura, o outro está em recuperação. Assim, a coordenação é imprescindível para que possaser realizado o ciclo de braçada junto com as pernadas. Normalmente, é identificado, em cada ciclo de braçadas, um total de seis pernadas. – 33 – Metodologia do ensino da natação A saída do nado costas não recebe a mesma importância que é dada aos demais estilos de nado (MACHADO, 2004). O autor destaca como motivo o fato de que esta poição de saída pode ser considerada cômoda, ao possuir como principal preocupação o impulso para trás. Porém, à medida que o nadador avança, podem ser encontradas falhas decorrentes de uma saída mal executada. Nas competições, as saídas do nado costas devem ser realizadas do bloco de partida, onde o nadador se posiciona, conforme os comandos do árbitro de partida. Massaud (2004) descreve as fases da saída do nado costas: 1) posicionar-se de pé atrás do bloco de partida da raia em que for nadar; 2) ao sinal do primeiro apito longo, o nadador estará autorizado a entrar na piscina; 3) com os nadadores dentro da água, o árbitro dará um novo apito, e os nadadores deverão tomar posição no bloco de partida, mantendo seus pés abaixo do nível da água; 4) ao comando do árbitro de “às suas marcas”, todos os nadadores deverão se posicionar, flexionando os braços e pescoço. A cabeça ficará encaixada entre os braços e o quadril próximo aos pés. No momento da saída, o nadador tentará colocar o seu corpo mais alto em relação à superfície, ou seja, mais próximo ao bloco, para a realização do voo da partida ao comando do árbitro (Figura 1.5). Figura 1.5 – Saída do nado costas (Fase III) jarrete redondo maior dorsal largo trapézio IV bíceps braquial deltoide posteiror Fonte: Massaud (2004). 5) assim que todos os nadadores estiverem posicionados, imóveis, o árbitro dará o comando de partida; 6) ao sinal de partida, o nadador Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 34 – deverá iniciar a extensão do pescoço (como se tentasse olhar para a borda oposta à da saída) e elevação do quadril para, logo em seguida, soltar suas mãos do bloco, lançando seus braços em direção à cabeça e aproximando as mãos para a entrada da água; 7) a posição ideal de entrada do corpo na água é de forma que, por onde entrarem as mãos, deverá entrar, pro- gressivamente, o resto do corpo; 8) no deslocamento submerso, o corpo deverá atingir uma profundidade em torno de 50 a 60 centímetros abaixo da superfície. Durante esse deslocamento, o nadador deverá executar a pernada de golfiho, com o corpo bem alinhado, até o máximo 15 metros. E, finalmente, há a virada do nado costas, em que os nadadores se orientam pelas bandeirinhas demarcatórias que ficam a cinco metros das duas cabeceiras, sobre a mesma posição onde as balizas mudam de cor, para a mesma referência em outros estilos de nado (MACHADO, 2004). De acordo com o autor, quando o nadador passar pela demarcação, sentindo-se próximo da parede, executará uma revolução no corpo. Ao ficar de bruços, em posição de nado crawl, fará a aproximação e realizará a virada como se fosse de nado livre, reto sobre o eixo do corpo, e realizará a virada com um forte impulso na parede com ambas as mãos para trás e unidas. Executará as “golfinhadas” e iniciará o nado, conforme realizado no momento da saída. O nadador não pode esquecer que os braços ficam unidos, comprimindo a cabeça, com as mãos se sobrepondo até o início do nado (MACHADO, 2004). Massaud (2004) destaca, ainda, que, ao reali- zar a propulsão, há um pequeno deslize, as pernas iniciam o movimento de golfinho, a expiração é efetuada sob a água, um dos braços realiza uma poderosa braçada que leva o corpo para a superfície e, iniciando nado completo, evitando respirar até que o equilíbrio tenha sido dominado na segunda ou terceira braçada. Ainda de acordo com Massaud (2004), para realizar a virada do nado costas, ao se aproximarem da borda, os nadadores, com o objetivo de virar e retornar, deverão girar o corpo, passando da posição dorsal para a ven- tral, realizando um único movimento de braço, semelhante à braçada de crawl, com a cambalhota, assim que atingir a coxa. O autor explica que tais movimentos deverão ser realizados de forma contínua e o nadador deverá estar na posição dorsal antes que os pés deixem a parede da pis- cina, evitando, assim, uma possível desclassifiação. – 35 – Metodologia do ensino da natação 1.4.4 Posicionamento do corpo e posicionamento de braços e pernas no nado borboleta Machado (2004) define a análise dos movimentos do nado borboleta como realizada a partir da fragmentação do corpo do nadador em: 1) posi- cionamento do corpo e da cabeça; 2) propulsão dos braços; 3) respiração; 4) propulsão de pernas; 5) coordenação completa. De fato, para realizá-lo, o nadador deve se posicionar de decúbito ventral, o mais horizontal possível, rente à superfície. Devido ao movi- mento realizado pelo quadril e pelas pernas e da fase aérea da braçada, os ombros constantemente saem da água, caracterizando o movimento ondulatório (Figura 1.6). Figura 1.6 – Posição do corpo no nado borboleta Fonte: Massaud (2004). É importante destacar que a cabeça tem uma importante função nesse nado. De acordo com Massaud (2004), quando a braçada estiver na fase submersa, a cabeça fica em posição neutra, com o olhar do nadador vol- tado ao fundo da piscina. Nas braçadas em que são realizadas a respira- ção, à medida que o braço finaliza a fase submersa e inicia a fase área, a cabeça se projeta para a frente, mantendo posicionado o rosto (olhos, boca e nariz) para fora d’água. Nesse momento, o queixo fica próximo à super- fície. Nas braçadas em que o nadador não respira, a linha da superfície da água deve estar tocando a testa. Machado (2004) aponta que o movimento da braçada desse nado pode ser dividido em duas fases: aérea e submersa. A fase submersa é dividida em quatro etapas: entrada, extensão, tração e empurrada. A entrada ocorre quando os braços retornam da fase aérea. Os cotovelos se mantêm mais altos do que a mão, determinando o posicionamento das pal- mas das mãos voltados para trás. Por conseguinte, a primeira parte a entrar na água são os dedos polegares. A distância entre os braços é de, aproxi- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 36 – madamente, 50 centímetros ou rente aos ombros. O cotovelo fica leve- mente flexionado à frente da cabeça. Ao entrar na água, a braçada inicia a etapa de extensão. Assim, os cotovelos são estendidos à frente, buscando o alongamento máximo do movimento dos braços. De acordo com Machado (2004), esse é o momento em que o nadador se prepara para a fase propul- siva da braçada, mantendo as mãos a, aproximadamente, 15 centímetros abaixo da superfície. Em seguida, temos a etapa da tração, em que os punhos se flexionam levemente, apontando as pontas dos dedos para o fundo da piscina enquanto o nadador empurra a água para trás. Assim, as mãos, que estavam posicionadas à frente, se direcionam até a linha do ombro. A última etapa da fase submersa é a empurrada, e, segundo o autor, é definida quando os cotovelos se estendem novamente, “jogando” a água para trás, e as mãos passam pelas coxas. Trata-se, portanto, de uma etapa a ser realizada com velocidade, pois ela é responsável pela produção da força que faz a cabeça e os ombros do nadador saírem da água. De acordo com Machado (2004), o movimento das pernas é simultâneo e tem uma ação vertical (Figura 1.7), ou seja, de cima para baixo. Embora seja descrito como pernada, esse movimento se inicia na cervical. Portanto, o nadador deve realizar de forma sequencial e coordenada a flexão do pes- coço, do tronco e do quadril, e a extensão dos joelhos. Especificamente, os membros inferiores realizam dois movimentos: descendente e ascendente. Figura 1.7 – Pernada no nado borboleta Fonte: Massaud (2004). – 37 – Metodologia do ensino da natação No nado borboleta, a respiração é realizada na posição frontal e, geralmente, é executada a cada duas braçadas. No momento em que a cabeça está submersa, o nadador deve expirar o ar pelonariz. Ao posicionar a cabeça para fora d’água, com o queixo próximo à super- fície, o nadador realiza a inspiração pela boca (MACHADO, 2004; MASSAUD, 2004). Em relação à saída do nado borboleta, Maglischo (2010) destaca que é idêntica à do nado livre. Ainda de acordo com o autor, em geral, a maioria dos atletas, após entrar na água, realiza o movimento da pernada de golfinho até, no máximo, 15 metros. Em cima do bloco, os nadadores podem se posicionar com os dois pés paralelos ou um na frente e outro atrás (similar à saída de atletismo). Ao sinal de partida, os braços se direcionam à frente simultaneamente com a impulsão dos membros inferiores no bloco. O voo tem o formato de uma parábola, fazendo o nadador tocar a água primeiro com as mãos, enquanto o resto do corpo entra no mesmo ponto que as mãos. Em relação à virada, Maglischo (2010) explica que deve ser executada da seguinte maneira: as mãos tocam simultaneamente na parede e, de imediato, uma delas perde o contato com a parede e se direciona para baixo, ao mesmo tempo em que os pés se direcionam à parede. Durante esse movimento, a mão que estava em contato com a parede faz um movimento de semicírculo acima da cabeça até entrar na água. As duas mãos se encontram embaixo da água ao mesmo tempo em que os pés pressionam a parede. Após impulsionar a borda, o nadador mantém a posição hidrodinâmica e inicia o movi- mento da pernada de golfinho. Atividades 1. No processo de ensino-aprendizagem da natação, temos três correntes de ensino – global, analítica e mista – ampla- mente utilizadas pelos treinadores na atualidade. Nesse sentido, descreva algumas das principais caracterísiticas de cada uma delas. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 38 – 2. Quais elementos devem ser considerados na análise técnica do nado crawl? Explique-os. 3. No nado peito, a pernada pode ser dividida em quatro fases. Quais fases são essas? Descreva-as. 4. Descreva, de forma breve, as quatro etapas da fase submersa da braçada do nado borboleta. 2 Princípios do treinamento aplicados à natação Os princípios da prescrição de um programa de exercício físico na natação são de extrema importância para a organiza- ção do treinamento e para atingir resultados eficazes. De fato, a compreensão dos princípios cientificos do treinamento da nata- ção permite melhor compreender a relação entre as variáveis de controle intervenientes do treinamento em seus diferentes modelos de periodização e em suas respectivas fases e etapas ao longo de todo o processo. Especificamente na natação, é sempre preciso selecionar um método de treinamento para trabalhar com o desenvolvimento do condicionamento e das capacidades físicas. Tal treinamento deve abranger do aprendizado até o nível competitivo, além disso, ele- mentos específicos da preparação física referentes a cada estilo de nado devem ser evidenciados juntamente com os principais métodos utilizados na periodização deste treinamento. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 40 – Nesse sentido, o propósito deste capítulo é, além de descrever a periodização do treinamento na natação a partir das variáveis intervenien- tes no treinamento do condicionamento físico específico da modalidade, apresentar os métodos mais adequados para trabalhar as capacidades físi- cas em diferentes fases. 2.1 Princípios científicos da preparação na natação O treinamento desportivo de sucesso deve ser alicercado por um pro- grama de treinamento cujos princípios estejam, de fato, alinhados aos obje- tivos daquela modalidade, respeitando as características de cada fase, do atleta, isto é, um conjunto de variáveis que devem ser monitoradas. Assim, visa-se atingir o melhor desempenho desse atleta ao longo de uma tempo- rada, por exemplo. Obviamente, isso não seria diferente para a natação. Em relação à alta performance na natação, o conhecimento científico representado pelos princípios do treinamento fisico, além dos métodos e modelos de treinamentos atrelados à periodização/estruturação de treina- mento, tornam-se ferramentas imprescindíveis e obrigatórias para que o treinador tenha as condições necessárias para desenvolver o máximo da performance do atleta. É evidente que muitas outras variáveis estão envol- vidas nesse processo, sendo que, muitas, são relativamente complexas de serem controladas. Por outro lado, o foco desta seção está no treinamento em si, que é considerado uma das variáveis que podem ser controladas, porém, ainda dependente de fatores que a cercam. Há a necessidade de reduzir ao máximo a probabilidade de tomada de decisão equivocada por parte da comissão técnica (treinador), sendo crucial que o planejamento de treinamento seja desenvolvido o mais especificamente possível para cada atleta, de acordo com o tipo de prova, os objetivos, as competições, entre outros elementos pertinentes. Atualmente, temos um conjunto de variáveis conhecidas como prin- cípios do treinamento físico. Tais princípios são determinantes para as res- postas agudas e crônicas frente ao treinamento físico, isto é, determinam os resultados esperados da elaboração de um treinamento, sejam eles liga- dos à saúde ou à performance. – 41 – Princípios do treinamento aplicados à natação Nesse sentido, esta seção trará um panorama geral sobre os princípios gerais do treinamento esportivo, incluindo a natação, em que esses princí- pios sejam evidenciados, ao mostrar a importância de cada um deles e cor- roborar com o que apresentou Maglischo (2010). De acordo com o autor, não existe um método que, aplicado isoladamente, vá treinar melhor cada um dos vários sistemas de energia do corpo humano, considerando que um programa de treinamento, para que seja bem-sucedido, deve atentar-se aos seguintes princípios segundo Bompa (2012) e Maglischo (2010): 2 adaptação – o termo adaptação refere-se a mudanças que ocorrem em resposta ao treinamento. O processo adaptativo ocorre quando os diversos órgãos e tecidos do corpo ope- ram em um nível mais elevado do que o habitual. A princí- pio, ocorre alguma insuficiência funcional, porque os órgãos e tecidos devem proporcionar mais força, mais energia, mais agentes químicos, etc. do que o habitual. Essa adaptação nada mais é do que uma transformação morfofuncional do músculo, conforme descreve Fleck e Kraemer (2017). Ainda de acordo com esses autores, a adaptação ocorre da seguinte maneira: mediante esforço físico, ocorre uma redução imediata das respostas funcionais orgânicas, nesse caso, asso- ciada principalmente às respostas fisiológicas do sistema imuno- lógico. Em seguida, no período de repouso, o organismo retorna à sua homeostase, ocorrendo, então, uma supercompensação (a recuperação supera o estado inicial, ao colocar o organismo em um novo estado inicial). Sendo assim, a adaptação tem rela- ção direta, mas não exclusiva, com o tempo de repouso. Essas mudanças representam a quebra da homeostase e repercutem diretamente nas respostas fisiológicas ao exercício. Portanto, a adaptação do organismo ocorre predominantemente na fase de recuperação, tornando essa variável tão importante quanto o estímulo. Mcardle, Katch, F. e Katch V. (2016) destacam, do ponto de vista energético, a existência de duas fontes principais de estímulos e, consequentemente, adaptações diferentes. Essas fontes são diretamente ligadas à contração muscular durante a realização do movimento e conduzidas basicamente por duas Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 42 – vias: aeróbica (produção de energia com o uso do oxigênio - via da fosforilação oxidativa) e anaeróbica (produção de energia sem a necessidade imediata do oxigênio - sistema fosfocreatina e a glicólise anaeróbica), ambas muito presentes na natação. Dependendo do tipo da prova nadada, por exemplo, 50m ou 100m, exigem das vias anaeróbias, enquanto provas de resistên- cia, por exemplo, 1500m, exigem das vias aeróbias. Portanto, as características de uma prova devem sempre ser levadas em consideraçãono que tange o principio da adaptação. 2 sobrecarga – a sobrecarga pode ser definida como o estresse ou a carga de trabalho imposta sobre o corpo visando uma resposta ou adaptação. Essa sobrecarga deve ser elevada gradualmente e sob acompanhamento das respostas orgânicas ocasionadas pelo aumento da referida carga/estresse, ou seja, à medida que as capacidades de força, potência e/ou resistência melhoram em decorrência do treinamento (BOMPA, 2012; FLECK; KRAE- MER, 2017; MAGLISCHO, 2010). A base para o princípio da sobrecarga, conforme mencionado por Maglischo (2010), é o fato de que não ocorrerá adaptações, a menos que as demandas do treinamento sejam maiores do que as demandas habituais incidentes em determinado mecanismo fisiológico. Portanto, na prática, quando uma pessoa aumenta as demandas habituais incidentes em determinado sistema, pode-se dizer que esse sistema está sobrecarregado. O intervalo de recuperação, de acordo com Gobbi, Villar e Zago (2005), também tem relação direta com a sobrecarga. Trata-se de uma variável importante a ser considerada, pois acaba influenciando a intensidade e a densidade do treina- mento, refletindo na adaptação ao treinamento. Dessa forma, quanto mais tempo entre as séries de exercício, por exemplo, maior será a recuperação das reservas energéticas imediatas para a execução da próxima série. Assim, conforme destacado pelos autores, é possível entender que sobrecarga e adaptação “andam juntas” dentro de um treinamento físico, de acordo com o que é apresentado na Figura 2.1, que evidencia a super- – 43 – Princípios do treinamento aplicados à natação compensação da capacidade funcional. Para que essa capaci- dade funcional seja aumentada, há necessidade de que as vari- áveis sobrecarga e adaptação se relacionem positivamente com estímulo e repouso, caso contrário, poderá ocorrer um destrei- namento ou regressão da capacidade funcional. Figura 2.1 – Ilustração do princípio da sobrecarga e adaptação 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 SEMANAS SOBRECARGA SOBRECARGA SOBRECARGA CAPACIDADE FUNCIONAL CA RG A DE TR AB AL HO Fonte: adaptada de Gobbi, Villar e Zago (2005). 2 continuidade – esse princípio se manifesta quando há uma rela- ção positiva entre sobrecarga e adaptação. Assim, a continuidade preconiza que a sobrecarga de treinamento seja suficiente para causar adaptações e/ou que não exista interrupção prolongada do processo de treinamento ou adaptação, conforme descrevem Fleck e Kraemer (2017), Gobbi, Villar e Zago (2005). As adap- tações crônicas e mais duradouras são obtidas mediante a conti- nuidade do treinamento. Esses autores destacam a importância de estabelecer um planejamento complexo e sistematizado para melhorar ou manter a performance motora, principalmente no que diz respeito a atletas. Na prática, o nadador não conseguirá cumprir um volume de nado se não progredir paulatinamente em suas capacidades. Portanto, a continuidade é considerada um processo lento, que envolve questões como motivação, disciplina e foco para que as mudanças crônicas apareçam. Dentre os aspectos fisiológicos que permeiam a continuidade, Fleck e Kraemer (2017) desta- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 44 – cam o endócrino, uma vez que uma maior produção hormonal influencia no estímulo ao crescimento de fibras musculares, na conversão de tipos de fibras musculares e na plasticidade e qua- lidade dessas fibras. Gobbi, Villar e Zago (2005) salientam que é pela continuidade do treinamento que a supercompensação ocor- rerá, e, mediante o processo sequencial de estímulos, o corpo deverá se adaptar ultrapassando o limiar da capacidade funcio- nal inicial destacado nas fases de adaptação e sobrecarga. 2 especificidade – de acordo com Bompa (2012), Fleck e Kraemer (2017), Gobbi, Villar e Zago (2005), o princípio da especifici- dade está diretamente relacionado com o objetivo a ser atingido dentro do treinamento. Esse princípio se baseia nos processos de sobrecarga e adaptação sofridos pelo organismo em decorrência da prática do treinamento. Uma característica importante desse princípio é que os gestos motores de um treinamento devem ser o mais próximos daqueles exigidos durante a respectiva performance. No caso específico da natação, por ser desenvolvida em ambiente aquático, torna-se muito mais eficaz para a performance treinar seus fundamentos, de fato, nadando, e não se exercitando fora d’água, como mui- tos treinadores pensavam num passado não muito remoto. Tal prática, inclusive, acaba se tornando prejudicial para a evolu- ção do atleta. De fato, pode acontecer que um atleta de natação consiga obter bons ganhos treinando musculação para fortale- cer seus músculos. Entretanto, esse não deve ser seu principal método de treinamento, tendo em vista que sua performance almejada se dá dentro d’água, como afirma Maglischo (2010). O autor complementa mencionando que o treinamento também pode ser específico para o tipo de nado utilizado pelos atletas em competição, e que, embora os estilos de nados recrutem fibras musculares mais específicas, variando de um estilo para outro, a transferência no uso muscular talvez seja considerável de um tipo de nado para outro; algumas fibras não são submetidas ao mesmo esforço de um determinado tipo de nado para outro, e isso deve ser levado em consideração. É importante conside- – 45 – Princípios do treinamento aplicados à natação rar também o percentual da quilometragem de treinamento em seu(s) tipo(s) de nado principal(is), pois esse é o único modo pelo qual os atletas podem ter certeza de que estão treinando as fibras musculares que serão utilizadas nas provas. Finalmente, um aspecto importante a se destacar está relacionado às várias fases do sistema metabólico, já que o treinamento de resistên- cia e o treinamento de velocidade enfatizam aspectos diferen- tes desses sistemas, e devem ser considerados na estruturação do programa de treinamento na natação. Bompa (2012) descreve como um aspecto importante relacio- nado à especificidade o fato de que, para aplicar tal princípio, não necessariamente é preciso haver uma imitação perfeita do gestual utilizado em performance, mas sempre o entendimento de como esse gestual pode ser explorado em diferentes aborda- gens. Maglischo (2010) descreve a importância de serem leva- dos em consideração pelo menos quatro aspectos da especifici- dade durante o planejamento de um programa de treinamento para nadadores, entre os quais estão: 1) a atividade para a qual o nadador está treinando; 2) o tipo de nado que o atleta utilizará na competição; 3) o tipo de prova; 4) as partes do sistema metabó- lico que devem ser submetidas ao esforço. 2 individualidade biológica – esse princípio refere-se às caracte- rísticas peculiares de cada indivíduo que interferem no programa de treinamento a ser elaborado. Maglischo (2010) destaca em seu texto que a maior parte das pesquisas indicam dois fatores como sendo importantes nesse processo: 1) o estado de condi- cionamento do atleta, ao ter início o treinamento; e 2) seu patri- mônio genético. Nesse sentido, Bompa (2012), Gobbi, Villar e Zago (2005), Fleck e Kraemer (2017) descrevem que indivíduos com a mesma idade cronológica, por exemplo, podem apresen- tar maturação biológica diferente. Portanto, essa individuali- dade ainda pode incluir fatores genéticos, tipo de composição de fibras musculares, gênero, envelhecimento e, até mesmo, o ambiente em que o indivíduo está inserido. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 46 – Com relação ao nível de condicionamento, Maglischo (2010) destaca, baseado na maior parte das pesquisas, que o período de descanso torna-se fundamental e esses atletas evoluirão drastica- mente durante as primeiras 6 a 12 semanas. Além disso, todos os aspectos do desempenho, potência,resistência, velocidade etc. melhorarão de forma excepcional, independentemente do tipo de ênfase do treinamento, de velocidade ou resistência. Vale ressal- tar ainda que a velocidade de progresso cairá consideravelmente depois das primeiras semanas, sendo que alguns atletas se esta- bilizarão e, aparentemente, seu progresso será muito pequeno durante longos períodos por terem se aproximado de seus limites genéticos em certos mecanismos fisiológicos, conforme desta- cam também McArdle, Katch F. e Katch V. (2016). Por outro lado, esses nadadores melhorarão um pouco mais, embora de forma mais lenta, caso persistam e não treinem excessivamente. Na prática, o VO2 máx aumentará de 20 a 30% durante as pri- meiras 8 a 12 semanas de treinamento; depois desse período, os atletas poderão continuar melhorando o VO2 máx em mais 20 a 30%, mas talvez tenham que transcorrer de 1 a 2 anos antes que isso ocorra, conforme apresentado por McArdle, Katch F. e Katch V. (2016). Já em relação ao patrimônio genético, Maglischo (2010, p. 356) destaca que: estudos com gêmeos idênticos têm demonstrado repetidamente que a hereditariedade determina em grande parte a resposta máxima ao treinamento para diversos mecanismos fisiológicos, tanto aeró- bicos como anaeróbicos; fatores genéticos como o percentual de cada tipo de fibra muscular certamente afetam o modo com que determinado atleta responde a certos tipos de treinamento. Na prática, um atleta com grande percentual de fibras muscu- lares de contração rápida tenderá a responder favoravelmente ao treinamento de força, velocidade e potência. Por outro lado, quando o treinamento for direcionado para a melhora da capaci- dade aeróbica, o atleta especialista em provas de velocidade terá um desempenho certamente inferior ao daqueles que possuem um grande percentual de fibras musculares de contração lenta, – 47 – Princípios do treinamento aplicados à natação cuja resposta otimizada se dá em treinamentos/provas nos quais predominam a resistência. 2 reversibilidade – esse princípio, de acordo com Bompa (2012), Fleck e Kraemer (2017), Gobbi, Villar e Zago (2005), relata que a reversibilidade está intimamente ligada à continuidade: se imposta de maneira correta e constante, a sobrecarga propor- ciona continuidade aos objetivos traçados, ao passo que, se os estímulos forem insuficientes para gerar adaptações, ocorrerá o princípio da reversibilidade. Maglischo (2010) descreve que a reversibilidade pode ser influenciada por dois fatores principais a serem considerados: períodos longos demais entre as sessões de treinamento e períodos curtos demais de recuperação, impe- dindo a regeneração completa do organismo e a elevação da capacidade funcional. Nesse sentido, períodos muito longos entre as sessões de trei- namento e, ao mesmo tempo, períodos curtos demais entre as sessões, poderão favorecer a reversibilidade. Bompa (2012) evi- dencia que, se no primeiro caso o período mais longo permitir que o organismo alcance a homeostase da condição inicial da capacidade funcional, no segundo, o tempo insuficiente de des- canso tampouco proporcionará a supercompensação, mantendo o organismo na mesma condição inicial, ou até abaixo dela. Estudos prévios, de acordo com Maglischo (2010), demonstra- ram perdas em adaptações aeróbicas e anaeróbicas entre 7 e 10%, quando os atletas interromperam o treinamento durante apenas 3 semanas. Esse nível de redução levou a perdas no desempenho de resistência entre 25 e 30% e a declínios no desempenho de velocidade de 8 a 12%. As perdas no desempenho foram consi- deravelmente maiores quando o treinamento havia sido descon- tinuado por um período mais longo. Depois de 4 a 12 semanas sem treinamento, as adaptações aeróbicas declinaram de 15 a 20% e as anaeróbicas de 18 a 50%. O desempenho de resistên- cia caiu até 40% e o de velocidade de 14 a 30% (MCARDLE; KATCH, F; KATCH, V, 2016). Maglischo (2010) destaca que Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 48 – períodos mais longos sem treinamento causam perdas ainda maiores no desempenho. Na prática, o autor traz em sua obra um estudo feito com nadadores universitários. 85 dias sem trei- namento resultaram em nados 3,4% mais lentos para os 50m (cerca de 0,80s mais lentos) e 7% mais lentos para os 400m (17s mais lentos). Os picos de lactato também declinaram em 22% (2 a 3mmol/L mais baixos), e a potência de nado estacionário contra resistência durante esse período caiu 12%. Esse resultado sugere que a potência do nado, uma vez perdida, demandará mais tempo para o retorno aos níveis precedentes em compara- ção com a re-sistência do nado. A Figura 2.2 mostra o princípio da reversibilidade onde a queda na capacidade funcional devido a periodos de recuperação curtos demais não fornece o tempo suficiente para haver supercompensação. Figura 2.2 – Ilustração do princípio da reversibilidade Tempo/Dias Ca pa ci da de F un ci on al 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Estímulo/Exercício Estímulo/Exercício Fonte: adaptada de Gobbi, Villar e Zago (2005). A partir do que foi apresentado nesta seção, entende-se que todos os princípios do treinamento físico encontram-se inter-relacionados e devem ser observados em igual importância, haja vista sua relevância na perodi- zação do treinamento na natação. – 49 – Princípios do treinamento aplicados à natação 2.1.1 Condicionamento físico para natação A prática da natação é considerada uma atividade que pode variar de moderada a vigorosa de acordo com as diretrizes do Colégio Ame- ricano de Medicina do Esporte (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2014). Garber et al. (2011) sugerem que um treinamento direcionado à melhoria do condicionamento físico consiste na realização de sessões de exercícios de intensidade moderada cinco vezes por semana com duração de 30 a 60 minutos, ou de intensidade vigorosa três vezes por semana com duração de 20 a 60 minutos, possibilitando combinar sessões com as diferentes intensidades na frequência de três a cinco vezes por semana com duração de 20 a 60 minutos. Hines (2008) traz, em sua obra, uma definição interessante para o con- dicionamento físico aplicado à natação, na qual trata a respeito da capa- cidade de expressar a técnica desenvolvida no período e na intensidade escolhida. Além disso, menciona que esse condicionamento é específico da atividade que está sendo praticada, e cita como exemplo o fato de uma pessoa poder ter um alto nível de condicionamento físico para corridas em distância ou para o ciclismo e ser completamente incapaz de nadar. Outros podem ser aptos para a natação em longas distâncias, mas não conseguir realizar uma chegada em alta velocidade na piscina. Esses fatores certa- mente corroboram para a especificidade do treinamento, nesse caso, mais evidenciado devido ao ambiente e o gesto motor completamente distintos para as modalidades esportivas mencionadas. Cumpian (2019) descreve um aspecto importante relativo ao condi- cionamento físico da natação, o qual sugere como ideal que estes aspectos sejam desenvolvidos através da divisão em etapas/fases. Nesse contexto, Maglischo (2010) e Salo e Riewald (2011) mencionam ainda que, em uma fase inicial, se deve buscar, sobretudo, os avanços relacionados à condição cardiorrespiratória dos sujeitos, geralmente dando ênfase ao treinamento com base aeróbia, independentemente do estilo de nado. À medida que o treinamento evolui, o trabalho de condicionamento passa a ser mais espe- cífio, ampliando o trabalho com base anaeróbia. No intuito de aperfeiçoar a aptidão física, deve-se considerar um aspecto muito importante que é Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 50 – o planejamento voltado para o condicionamento físico dos atletas numa tentativa de associar a melhora do desempenho, nesse caso, marcada pelo condicionamento físico juntamente com o desenvolvimento das habilida- des técnicas relativas à execuçãodos nados. Além disso, conforme sugere Cumpian (2019), é importante aliar a aprendizagem ao condicionamento. É importante ressaltar que a natação é uma das modalidades espor- tivas que mais demandam esforço do indivíduo, e que, independente- mente do nível de aptidão física, ao nadar, o indivíduo desenvolve todas as capacidades físicas básicas - força, velocidade, resistência, flexibili- dade e coordenação motora. Porém, o trabalho a ser realizado diante de cada capacidade acaba recebendo destaques diferentes, podendo estar direta ou indiretamente ligado aos objetivos principais de cada estilo de nado. Vemos isso, por exemplo, ao comparar o estilo peito com o costas, cuja técnica de nado é totalmente diferente, o que influencia diretamente no dispêndio energético para a execução do nado (CUMPIAN, 2019; MAGLISCHO, 2010). O nado rápido (velocidade), conforme descreve Salo e Riewald (2011), é baseado na eficiência e na eficácia, onde eficiência significa ser capaz de nadar rapidamente sem desperdiçar esforço e energia e eficácia é o poder de produzir um resultado – que, nesse caso, significa efetivamente usar as forças que você gera para chegar ao final da piscina. Esses dois conceitos dependem da capacidade de gerar as forças que impulsionam o corpo atra- vés da água da maneira apropriada e ainda minimizam a resistência que você enfrenta ao atravessar a piscina. Essa capacidade, segundo os autores, é influenciada por vários fatores, entre os quais estão: a técnica do nado; a força, a potência e a flexibilidade; a posição do corpo e a hidrodinâmica; o nível de condicionamento físico; além do tipo e forma corporais. Na prática, é possível perceber a relação entre condicionamento físico e eficácia do nado, sobre a qual Salo e Riewald (2011) apresentam um interessante exemplo. Os autores mostram que o indivíduo, a partir do momento que melhorar o seu desempenho em atravessar a piscina ou gerar propulsão, notará que o número de braçadas necessárias para nadar uma determinada distância em um certo ritmo diminuirá. Sendo assim, ele conseguirá nadar, por exemplo, 100 repetições do nado crawl em um ritmo de 1:15 fazendo 16 braçadas por piscina. E, conforme este mesmo indiví- – 51 – Princípios do treinamento aplicados à natação duo desenvolve mais eficiência e se torna mais efetivo em usar a força a fim de gerar propulsão, passará a precisar de apenas 15 ou, até mesmo, 14 braçadas por piscina, mantendo o mesmo ritmo de 1:15. Na seção a seguir, serão apresentadas algumas das principais valên- cias físicas que podem ser desenvolvidas na prática da natação e devem ser frequentemente trabalhadas ao longo das etapas ou fases de uma perio- dização de treinamento, de forma mais ou menos agudas, dependendo dos objetivos estabelecidos para cada um desses períodos e competições a serem considerados. 2.1.1.1 Valências físicas desenvolvidas na prática da natação No intuito de corroborar com a melhora do desempenho do atleta, é importante desenvolver habilidades técnicas relativas à execução dos diferentes estilos de nados em conjunto com o condicionamento físico. Assim, será possível desenvolver a aptidão física conforme mencionado por Cumpian (2019). A primeira valência, considerada de base, a ser trabalhada na natação é a resistência cardiorrespiratória, uma vez que está presente direta- mente em todos os tipos de nado. É importante, ainda, destacar que o trei- namento variará de acordo com a distância percorrida pelo nadador e seu objetivo segundo Maglischo (2010). O tipo de prova influencia, de fato, nas diferentes vias metabólicas que são exigidas. Por exemplo: em provas cujas distâncias são curtas, há predominância das vias anaeróbias, pois a potência e explosão são elementos predominantes para que a performance seja a mais eficaz possível. Por outro lado, em distâncias longas, as vias aeróbias são exigidas, uma vez que se faz necessário um volume mais alto de O2 exigido, além de serem caracterizadas como provas de resistência, nas quais a fadiga ocorre, haja vista provas de 1500m, por exemplo. A força é outra variável relevante para o desempenho de nadadores, pois está diretamente associada ao deslocamento do nadador, levando em conta a força propulsiva empregada a qual deve ser, no mínimo, superior à força de arrasto hidrodinâmico imposta pela água, contrária ao sentido de deslocamento do nadador. De acordo com Machado (2006), nadadores Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 52 – de alto nível conseguem diminuir a força de arrasto em função da técnica apurada durante as braçadas, conseguindo, inclusive, aumentar a veloci- dade sem aumentar significativamente a resistência. É importante destacar, ainda, que fatores como tamanho, posição e velocidade dos movimentos dos segmentos, ao passo que a força de arrasto possui uma relação direta com o tamanho, o formato, a posição e a velocidade do corpo do nadador, e podem influenciar as forças propulsivas realizadas pelos praticantes. Maglischo (2010) enfatiza a importância do treinamento da coorde- nação motora, a qual é desenvolvida principalmente no início do apren- dizado e, em razão de sua funcionalidade nas técnicas de nados, a ênfase deve ser direcionada principalmente à fase de adaptação, pois o trabalho da técnica está diretamente relacionado à aprendizagem e ao aperfeiçoa- mento dos movimentos específicos do nado. Uma melhor eficácia na exe- cução do movimento por meio de uma coordenação gestual bem definida permitirá que o indivíduo se movimente em água com o menor dispêndio energético e de forma eficaz, o que é considerado a situação ideal. Outra variável importante, porém não trabalhada com um trei- namento específico, é a flexibilidade, que auxilia desde a melhora da amplitude de movimento até a prevenção de lesões (AMERICAN COL- LEGE OF SPORTS MEDICINE, 2014). Entretanto, embora tenha um papel importante durante o nado, nessa proposta não há nenhum trabalho específico para desenvolvê-la, o que ocorrerá de maneira indireta durante as aulas (CUMPIAN, 2019). Para refletir... Na prática, pense em um nadador de elite, que, ao nadar 50m e 100m, leva um tempo aproximado de 21 a 25s e 47 a 52s, res- pectivamente. A fim de atingirem altas velocidades, os nada- dores empregam uma alta frequência de braçada, o que exige força, potência e técnica consideráveis. Para que esse nadador alcance uma elevada força propulsiva e vença as forças de arrasto, as vias anaeróbias de fornecimento de energia para os músculos devem estar altamente preparadas e adaptadas a essa demanda. Adaptações como aumento do recrutamento de unidades motoras, maior excitabilidade dos motoneurô- nios, aumento da quantidade de proteínas contráteis como – 53 – Princípios do treinamento aplicados à natação a actina e a miosina, aumento das reservas de adenosina tri- fosfato (ATP), glicogênio e fosfocreatina intracelular, entre outras, possibilitam produzir altos níveis de força nesses atletas (MCARDLE; KATCH F.; KATCH,V., 2016). Em razão das diferentes distâncias percorridas durante as provas, os nadadores podem ser classificados como velocistas, fundistas e meio-fun- distas. Os atletas nadadores necessitam de endurance e de velocidade para obter o melhor desempenho. Porém, o fato de ser uma atividade aquática faz com que haja uma preocupação com a fisiologia específica das demandas energéticas desses atletas (MCARDLE; KATCH, F.; KATCH, V., 2016). A preparação física na natação pode ser atingida a partir da união de diversos fatores cujo entendimento não depende apenas do domínio do conhecimento e do conteúdo de treinamento, mas também das experiên- cias adquiridas pelo treinador e sua equipe. Nesse sentido, é evidente que o condicionamento físico pode ser decisivo para a performance do atleta e deve ser trabalhado em qualquer um dos níveis de treinamento da natação, da iniciação ao alto rendimento, respeitando as etapas e fases do treinamento, da periodização e dos objeti- vos encontradosem cada uma destas. Cabe ao treinador e sua equipe defi- nirem, além das etapas, os exercícios mais adequados para aprimorarem de forma efetiva tais valências físicas mencionadas de forma plena. 2.2 Periodização do treinamento na natação Periodização significa a divisão do tempo total de treinamento em períodos específicos. Ou seja, é a organização das variáveis intensidade, volume, frequência e intervalo de recuperação. Ela é a responsável por colocar cada variável em uma organização que permita ganhos no treina- mento, respeitando o calendário e os objetivos desenhados para o atleta (BARBANTI et al., 2004). A periodização do treinamento de atletas de alto rendimento é um tema de constante debate, e a natação, por ser um dos poucos espor- tes aquáticos, tem as suas características peculiares quando comparada Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 54 – aos esportes terrestres. Os avanços da ciência e as diferentes possibi- lidades de avaliação e treinamento desses atletas vêm crescendo ano após ano, e as investigações acerca do treinamento aperfeiçoadas no intuito de fazer com que o atleta esteja sempre em seu ápice em uma determinada competição ou período. De acordo com Gomes (2009), o crescimento constante do calendário de competições e o aumento dos prêmios pagos levam a uma intensifi- cação nos aspectos relacionados à preparação esportiva e, consequente- mente, a uma evolução nos enfoques teórico-metodológicos e soluções tecnológicas, com o objetivo de buscar cada vez mais o máximo do aper- feiçoamento esportivo. Nesse sentido, o autor destaca que: [...] a periodização do processo de treinamento esportivo consiste, antes de tudo, em criar um sistema de planos para distintos perío- dos que perseguem um conjunto de objetivos mutuamente vincu- lados. O plano de treinamento constitui um sério trabalho cientí- fico, que prevê perspectivas possíveis a curto, médio e longo prazo (GOMES, 2009, p. 149–150). Ainda de acordo com Gomes (2009), a periodização de um treina- mento esportivo é evidenciada como algo que constitui a principal pre- paração do atleta, a qual compreende uma maneira de orientar o desen- volvimento físico e o aperfeiçoamento esportivo do nadador e abrange as sessões práticas dos tipos de preparação - técnica, física (funcional) e tática. Além disso, também de acordo com o autor, encontramos em prática, ainda hoje, uma classifiação quanto ao momento histórico da cria- ção da periodização: sistematização do treino (origem até 1950), modelos clássicos (1950 a 1970) e modelos contemporâneos (1970 até a atuali- dade), sendo que alguns desses modelos de periodização continuam sendo utilizados, enquanto outros não. 2.2.1 Modelos de periodização de treinamento Modelos de periodização de treinamento físico são cruciais para o planejamento a longo prazo, conforme destaca Bompa (2012). Os mode- los descrevem fundamentos propostos por estudiosos da área que aplica- ram e teorizaram seus achados e embasaram a proposição desses modelos até a atualidade. Tais modelos são úteis na orientação quanto ao direcio- – 55 – Princípios do treinamento aplicados à natação namento da carga de trabalho e em que momento utilizar mais intensidade ou volume a fim de alcançar a forma esportiva, o que ocorre na natação. De acordo com Platonov (2008) e Tavares Junior (2014), o modelo clássico é o mais utilizado na prática. Tal modelo, cuja origem remonta à década de 1950, fundamenta-se na síndrome de adaptação geral, que con- siste em diferentes fases para atingir a forma esportiva: desenvolvimento, conservação e perda. Assim, nesse modelo de periodização, o ciclo anual de treinamento, ou macrociclo, é dividido em três períodos bem definidos: preparatório, competitivo e transitório, relacionados às diferentes fases de forma desportiva, em que deverão ser realizadas diferentes proposições entre volume e intensidade dos estímulos. Destaque No que tange a periodização do teinamento, vale destacar a forte influência da União Soviética nesse contexto com desta- que para Lev Pavlovich Matveev, considerado o pai da perio- dização, pois foi a partir do seu modelo de periodização clás- sica que evoluíram e surgiram outros modelos. Ainda que o modelo de Matveev tenha surgido nos anos 1950, ele perdura até os dias atuais, sendo um modelo eficiente, embora não adequado a todas as modalidades e necessidades esportivas, incluindo a natação. Em meados dos anos 1970, surge o modelo modular proposto por Vorobjev. O racional desse modelo era oposto àquele proposto por Matveev, uma vez que, no treinamento modular, se preconiza a preparação específica (e não a geral), com mudanças intensas e frequentes de volume e intensidade das cargas de treinamento durante toda a temporada. Vale destacar, de acordo com Bompa (2012) e Tavares Junior (2014), que esse é considerado o primeiro modelo a se afastar do modelo clássico e do emprego da preparação geral. Já o modelo pendular foi proposto por Arosjev e Kalinin também nos anos 1970. De acordo com Bompa (2012), trata-se de um aperfeiçoa- mento do método proposto por Matveev, em que são mantidos os períodos Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 56 – de preparação, mas são acrescidos pressupostos sobre o descanso ativo e sua relação positiva com a capacidade no restabelecimento do traba- lho. Gomes (2009) menciona que esse método tem como característica a preconização da sequência de microciclos básicos e de regulação no res- tabelecimento eficaz e na capacidade de suportar ritmos elevados e reduzi- dos de trabalho geral pelo organismo do atleta. Platonov (2008) e Tavares Junior (2014) destacam que o fundamento básico do modelo pendular é impor vários picos de rendimento durante uma temporada, aproximando- -se do calendário competitivo anual. Na década de 80, o modelo por blocos foi proposto por Yuri Verkhoshanski, caracterizado por ser um modelo que apresentou mudan- ças importantes no que vinha sendo preconizado até então, mas, ainda, com forte influência do método clássico (BOMPA, 2012). Esse modelo é um método de cargas concentradas propício aos desportos com caracteri- zação de força. Para isso, são propostos três blocos: bloco A (preparação física especial), bloco B (preparação técnico-tática) e bloco C (competi- ções). Platonov (2008) deixa claro que esse é considerado um método ade- quado para atletas de elite (repare que não há preparação geral). Segundo Bompa (2012), Platonov (2008) e Tavares Junior (2014), a ideia central do método por blocos consiste em sobrepor parte dos conteúdos dos blo- cos aproveitando os efeitos retardados do bloco anterior, utilizando cargas concentradas, unidirecionais e com elevados volumes, ao promover recu- perações incompletas e processo de supercompensação. Cabe, ainda, res- saltar que o modelo por blocos apresenta dois grandes blocos: preparação e competição, um mais volumoso e menos intenso e o outro mais intenso e menos volumoso, no qual deverão ocorrer os melhores resultados. Finalmente, o modelo ondulatório é caracterizado pela variação fre- quente de volume e intensidade durante as sessões de treinamento, bus- cando estimular diferentes qualidades físicas. Platonov (2008) evidencia que, devido suas características próprias, esse modelo pode ser aplicado por períodos curtos (semanas ou meses), longos (anos) ou para preparação competitiva. Conforme mencionou Gomes (2009), essa variação é interes- sante porque permite que sejam feitas modificações frequentes de volume e intensidade. Ademais, considera-se, ainda, um modelo que tem como objetivo buscar a redução dos riscos de lesões e overtraining, além de – 57 – Princípios do treinamento aplicados à natação eliminar o tédio e melhorar a recuperação do indivíduo entre os estímulos. Bompa (2012) e Tavares Junior (2014) descrevem os mesociclos de trei- namento divididos de maneira similar à periodização clássica, mas levam o nome do objetivo a ser alcançado, como mesociclo de força máxima,de força rápida, de descanso ativo, etc., conforme apresentado na Figura 2.3. Nessa figura, é possível verificar um exemplo de distribuição variada entre volume e intensidade durante um macrociclo do modelo ondulatório, sendo que esse modelo se caracteriza pela variação entre volume e inten- sidade ao longo de macrociclos, mesociclos ou, até mesmo, microciclos. Figura 2.3 – Exemplo de modelo ondulatório Intensidade Volume Carga 100% 80% 70% 65% Mesociclos Hipertrofia Força máxima Força rápida Fase de pico Descanso ativo Duração 4 semanas 2 semanas Macrociclo Fonte: adaptada de Tavares Junior (2014). Enfim, cada um dos modelos de treinamento apresentados nesta seção mostram os fundamentos e características peculiares que devem ser utilizadas nas periodizações em treinamento físico, considerando aquelas que melhor se adequem a cada desporto, atleta, condições de temporada/ competições etc. 2.2.2 Periodização específica para a natação De fato, a periodização tem como objetivo proporcionar ao atleta nas competições a forma esportiva, ou seja, o estado no qual o atleta está Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 58 – preparado para obter resultados esportivos favoráveis. Esse fenômeno é composto por vários aspectos como físico, psicológico, técnico e táctico, e, somente a partir da existência de todos, pode-se afirmar que o atleta encontra-se preparado adequadamente (SUZUKI e VIEIRA, 2019). Os autores mencionam, ainda, que uma periodização bem elaborada, no caso da natação, adequada para cada indivíduo e suas características particu- lares, seja ele atleta ou não, as adaptações alcançadas levam ao máximo rendimento durante as sessões. Assim, o organismo tende a trabalhar de maneira econômica, visando atender às necessidades do corpo submetido a certo tipo de estímulo. Salo e Riewald (2011) descreveram que, na maioria dos esportes, geralmente, a temporada é dividida em quatro fases: 1) preparação e treinamento; 2) desenvolvimento de potência e força específicas do esporte; 3) competição; 4) descanso e recuperação. Entretanto, esses autores ainda incluem, no caso específico da natação, uma uma fase pre- liminar, que permite que o atleta se familiarize novamente com a água no início de uma temporada. Essa passa a ser, de acordo com os autores, a primeira fase de um plano periodizado. É importante ressaltar, ainda, que cada uma dessas fases cumpre uma função específica na preparação dos atletas para as demandas exclusivas do treinamento e da competição. Outro aspecto fundamental a destacar quando se trabalha de forma planificada/estruturada é que o técnico ou treinador consegue estruturar o programa de maneira periodizada, pro- jetando o treinamento para que seja alcançado o pico da performance esperado no momento conveniente a partir de estratégias estabelecidas ao longo da temporada. A lista de benefícios do treinamento periodizado é muito extensa, e, segundo Salo e Riewald (2011, p. 200), alguns aspectos são de interesse específico para os nadadores: (1) Ajuda a estruturar o treinamento de modo a desenvolver todos os atributos necessários a um nadador: resistência, potência e força. Com frequência, os ganhos nessas áreas são maiores do que os que seriam obtidos se você não fizesse um plano de treinamento perio- dizado. Acrescenta variedade ao treinamento e pode aumentar o nível de motivação, ao mesmo tempo em que ajuda a impedir pla- – 59 – Princípios do treinamento aplicados à natação tôs de desempenho. (2) Fornece uma estrutura e uma progressão lógica para o treinamento. Primeiro, você cria uma base de força e depois se concentra no desenvolvimento da potência. Esse tipo de sobrecarga progressiva é uma maneira saudável de desenvolver força e melhorar o desempenho, porque você não tenta aumentar a intensidade muito precocemente. (3) Reduz o risco de treinamento excessivo e esgotamento. (4) Ajuda na prevenção de lesões, forne- cendo oportunidades de descanso e recuperação. 2.2.3 Fases do plano de treinamento periodizado para natação Salo e Riewald (2011) descrevem as cinco fases que devem fazer parte do seu plano de treinamento periodizado para Natação: 1 fase preli- minar; 2 fase de treinamento; 3 fase de competição; 4 fase de campeonato; 5 fase de descanso ativo. A seguir, será apresentada de forma detalhada cada uma destas fases importantes para as etapas de uma periodização ou planejamento do trei- namento na natação. 2 Fase preliminar: é estabelecida no início da temporada e tem como finalidade alcançar determinados objetivos, dentre os quais se destacam: a) estabelecer uma regularidade no treinamento, que inclui reconquistar a percepção da água, enquanto também desenvolve rotinas de aquecimento e pré-competição. Essa pri- meira fase da temporada também é a época ideal para trabalhar o condicionamento físico geral fora da água; b) trabalhar a técnica e desenvolver uniformidade e eficiência nas braçadas. Uma das principais áreas de aprimoramento na natação resulta do aperfei- çoamento da técnica; c) treinar a técnica no início da temporada, quando ainda não está cansado, é fundamental para o sucesso. Nesse sentido, compreender a função da fase preliminar torna-se fundamental para o processo como um todo, uma vez que é um período específico para que o atleta “se fami- liarize” com a água depois de um tempo afastado do treina- mento intenso, sendo uma fase caracterizada ainda por ter início após o período de descanso ativo. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 60 – 2 Fase de treinamento: o foco dessa fase de treinamento está em desenvolver um nível básico de condicionamento físico e resis- tência muscular, isto é, elementos essenciais para o desenvol- vimento do nadador, também conhecidos como força básica e condicionamento (valências físicas do condicionamento). A fase se caracteriza por apresentar um maior volume de trabalho, tanto na piscina quanto em seus treinos de força e condicionamento fora d’água. Salo e Riewald (2011, p. 202-203) mencionam algumas diretrizes específicas enfatizadas nessa fase: a) Para criar uma base verdadeiramente sólida de força e con- dicionamento físico, dedique pelo menos seis semanas à fase de treinamento. Um período ainda mais longo (oito semanas ou mais) pode ser melhor. Use resistência moderada e muitas repeti- ções no treinamento de força para criar condicionamento cardior- respiratório e resistência muscular. b) Na água, faça atividades intensas e rápidas quase todos dias. Desde que você use a técnica adequada e a mecânica correta da braçada (mesmo quando está cansado), poderá manter um nado rápido durante toda a tempo- rada, que o levará a enormes benefícios na fase de campeonato. c) O trabalho executado durante essa fase serve como base para desenvolver a potência e a força específicas para Natação. O pico do seu desempenho também será determinado em grande parte pelo trabalho executado nesse período. d) Se você dedicar a essa fase a atenção que ela merece, alguns eventos poderão parecer mero treinamento e você não precisará descansar muito no início da fase de competição. O benefício a longo prazo de realizar um período maior de treinamento sólido compensa qualquer possível ganho de curto prazo que você ob-teria descansando para uma competição no início da temporada. 2 Fase de competição: é definida por Salo e Riewald (2011) como a principal parte da temporada competitiva que culmina com o campeonato do final da temporada. Na universidade e no ensino médio, a fase de competição é uma temporada de eventos duplos. Para os másteres e nos grupos de nadadores jovens, essa é a temporada competitiva sem campeonatos. São apresentados, a seguir, alguns pontos específicos que devem ser focados nessa fase: a) o aumento do trabalho executado durante a fase de trei- namento, tornando-o mais específico para certos eventos e tipos de nado. Nessa etapa, é importante dedicar-se ao nado rápido – 61 – Princípios do treinamento aplicadosà natação todos os dias, ou seja, ao trabalho com a velocidade e à mecânica específicos da competição (como a frequência das braçadas e as contagens de ciclos); b) o treinamento de força e o trabalho de condicionamento devem se tornar mais específicos para natação e mudar da criação de resistência muscular para o desenvolvi- mento de força e potência; c) em termos fisiológicos, embora ainda deva existir um componente aeróbio presente, o foco deve ser treinar com intensidade e com uma proporção trabalho/des- canso que reflitam as demandas da competição;. d) a fase de competição deve durar de quatro a seis semanas, para que você possa desenvolver a potência e a força necessárias para nadar o mais rápido possível. 2 Fase de campeonato: essa fase abrange as semanas que antece- dem o campeonato e também o próprio evento. Nela, os nadado- res esperam atingir o seu pico de desempenho. O foco dessa fase é a recuperação e a reposição da energia, além disso, deve ajustar seu nado para que tudo esteja perfeito na prin- cipal competição. Também nesse caso, o treinamento deve ser específico para Natação - o atleta nada nos ritmos de competição, com as respectivas frequências de braçada. Pesquisas indicam que é possível manter o pico apenas por cerca de três semanas. Depois disso, seu desempenho sofrerá diminuições e será preciso voltar aos níveis de trabalho correspondentes às fases de treina- mento ou de competição para atingir esse pico novamente (SALO e RIEWALD, 2011, p. 204). 2 Fase de descanso ativo: esse é o período final da temporada competitiva, quando o atleta deve fazer uma pausa mental e física no treinamento intenso. Salo e Riewald (2011) descre- vem que essa fase não deve ser de inatividade como, erronea- mente, muitos pensam. Pelo contrário, deve-se estabelecer um treinamento do tipo cruzado e, ainda, alguns exercícios aeróbi- cos para manter o nível de condicionamento físico. Esses auto- res destacam também que uma ou duas semanas sem nadar não irá resultar em um destreinamento significativo, sendo essen- cial para que o organismo se recupere do estresse vivenciado ao longo da temporada. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 62 – É importante destacar que, dentro de cada fase, também existem os ciclos. Dessa forma, Salo e Riewald (2011) citam que, mesmo que o atleta esteja na fase de competição, um ciclo que se concentra em desenvolver a potência e as capacidades específicas para natação poderá ter, dentro dessa fase, alguns dias que sejam focados no trabalho em resistência, e vice-versa. Um dos aspectos positivos dessa estratégia é que, ao fazer esses “ciclos” entre os períodos de trabalho e descanso, será permitido que sejam manipuladas a intensidade, a frequência e a variação dos exer- cícios. Consequentemente, o atleta conseguirá se recuperar com capa- cidade de atingir picos de desempenho. Os autores destacam que, no caso em que se busca dois picos durante o ano, deverão ser repetidas todas as fases duas vezes. Entretanto, ao tentar atingir mais de dois picos em um ano, há chances de que o limite do desempenho seja atin- gido, porque não haverá tempo suficiente para se dedicar ao trabalho necessário a cada fase. Em adição, Maglischo (2010) cita uma importante etapa, a de poli- mento para nadadores, cujo objetivo é reduzir o estresse físico, men- tal e emocional imposto ao corpo, de modo que ele possa se recuperar totalmente até a competição. Salo e Riewald (2011) destacam que o poli- mento está incorporado à cultura da natação e é necessário para que os nadadores refinem suas técnicas e estratégias de competição. É importante aplicar essa etapa do polimento nos momentos corretos dentro da periodi- zação, pois um dos erros que ocorrem está na percepção dos treinadores ao enfatizar demais o polimento por acharem que poderia ser uma maneira de compensar um ano inteiro de treinamento inadequado ou de falta de estrutura no planejamento da temporada, o que, de fato, deve ser evitado. Vale destacar também que a fase do polimento “típico” dura de uma a três semanas, estando essa fase associada ao período de descanso ativo, sendo que a duração do polimento depende de vários fatores, ao incluir o histó- rico do treinamento. Por exemplo: um nadador que faz muito treinamento de alta intensidade (como um velocista) geralmente precisa de um período de polimento mais longo quando comparado a um nadador que faz um tra- balho menos intenso no treinamento (como um de distância). A natureza intensa do nado de velocidade impõe um grande esforço ao corpo, que demora um pouco mais para se recuperar. – 63 – Princípios do treinamento aplicados à natação Em relação ao plano de treinamento periodizado, Salo e Riewald (2011) mencionam a importância do desenvolvimento de um programa periodizado que identifica as principais competições durante o ano, preen- chendo o restante do tempo com base nelas, ao invés de planejar a partir do começo da temporada. O planejamento das fases subsequentes é algo que também deve ser cuidadosamente elaborado, com atenção à necessi- dade de estruturar um planejamento que apresente objetivos detalhados para cada semana de treinamento durante o ano todo, incluindo exercícios, séries, repetições e cargas específicas. Saiba mais Nos Jogos Olímpicos de 2004, a equipe norte-americana de natação trabalhou de uma forma considerada inovadora. Por meio de um programa de treinamento de 3 para 1, os atletas repetiram um ciclo de três dias de treinamento seguido por um dia de folga. Nesses três dias ativos, a carga de trabalho variava dependendo do evento do qual cada atleta participaria, mas, em termos gerais, o padrão consistia em sessões de treinamento duplas nos dias 1 e 3 e uma única sessão no dia 2. Nos dias 1 e 3, a sessão matinal geralmente era na sala de musculação e a vespertina na água. O treinamento no segundo dia do ciclo de 3 também era na água. Os resultados foram excelentes, compro- vando a importância do descanso e da recuperação combina- dos a um treinamento apropriado, os quais levaram a equipe a alcançar ótimos resultados (SALO; RIEWALD, 2011, p. 201). 2.2.4 Programas de treinamento desenvolvidos para a natação Em relação à periodização do treinamento na natação, Salo e Riewald (2011) apresentam uma proposta dividida em grupos, entre os quais estão: 1) nadadores de grupos jovens - 14 anos ou menos (considerando os fato- res especiais do trabalho com esses nadadores); 2) nadadores de compe- tição de grupos jovens com mais de 14 anos; 3) nadadores universitários; Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 64 – 4) nadadores másteres e triatletas; 5) nadadores cujo objetivo geral princi- pal seja manter o condicionamento físico (podem não desejar competir). Nesta seção, serão apresentados alguns exemplos de programas de trei- namento específicos para a natação, a partir da proposta desses autores, com o foco nas fases iniciais até a universitária, considerada ideal para a participação em competições de alto nível na modalidade. 2 Para nadadores jovens: Salo e Riewald (2011) destacam que os nadadores com menos de 14 anos que entram em um programa de força e condicionamento devem ser sempre supervisionados e entender a importância de seguir as instruções específicas do treinador. A segurança é mais importante do que qualquer ganho que possa ser obtido em um programa de força para essa faixa etária. É importante destacar que, nessa fase, a resistência deve ser de leve a moderada – o nadador deve poder realizar de 25 a 30 repetições antes de ficar cansado. A Figura 2.4 mostra o plano de treinamento sazonal para nadadores jovens. Figura 2.4 – Exemplo de um plano de treinamento sazonal para nadadores jovens Fonte: Salo e Riewald (2011, p. 211). 2 Programas de treinamento para nadadores de competição jovens: para esse grupo, Salo e Riewald (2011) destacam que o programa no solo deve ser introdutório. A maior parte do tra- – 65 – Princípios do treinamento aplicadosà natação balho deve se concentrar em desenvolver resistência, usando pesos leves a moderados ou, até mesmo, atividades com ape- nas o próprio peso corporal. Nas primeiras fases do desenvol- vimento, os programas de treinamento na piscina e no solo devem enfatizar a técnica. A seguir, é apresentado um exemplo de um plano de treinamento sazonal para os nadadores desse grupo (Figura 2.5), o qual destaca como a temporada pode ser periodizada nas fases do treinamento. Figura 2.5 – Exemplo de um plano de treinamento sazonal para nadadores de competição jovens Fonte: Salo e Riewald (2011, p. 214). 2 Nadadores universitários: o programa de treinamento apresen- tado por Salo e Riewald (2011) é baseado no padrão de programa de treinamento universitário norte-americano estabelecido pela Universidade do Sul da Califórnia (USC), o qual enfatiza o desenvolvimento da estabilidade axial e também da força geral. Além disso, concentra-se no desenvolvimento da potência e do condicionamento atlético geral com exercícios desenvolvidos, principalmente, fora do ambiente aquático. Abaixo, é possível verificar na Figura 2.6 um modelo básico apresentado por Salo e Riewald (2011) para esse grupo. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 66 – Figura 2.6 – Exemplo de um plano de treinamento sazonal para nadadores universitários Fonte: Salo e Riewald (2011, p. 220). Por meio desses exemplos de periodização apresentados, fica evi- dente que a natação, assim como qualquer outra modalidade esportiva, depende de uma estruturação ou planejamento de treinamento bem estabe- lecidos, de fato, apoiados na ciência, para que os resultados sejam alcan- çados. Nessas periodizações, destaca-se as fases do plano de treinamento periodizado para natação conforme discutido na seção 1.3.1. Atividades 1. Qual a importância de trabalhar a periodização de treinamento na natação, alicerçada pelos princípios científicos do treina- mento desportivo? 2. Em geral, de que maneira deve ser constituído um programa básico de treinamento de natação, que tenha seu foco direcio- nado à melhoria do condicionamento físico? 3. A periodização tem como objetivo proporcionar ao atleta, nas competições, a forma desportiva, isto é, o estado no qual esteja preparado para obter resultados desportivos favoráveis. Nesse – 67 – Princípios do treinamento aplicados à natação sentido, cite cada uma das fases que compõem uma temporada, e seu(s) respectivo(s) principal(is) objetivo(s). 4. Num programa de treinamento direcionado a nadadores jovens, com menos de 14 anos, qual devem ser os cuidados básicos a serem adotados? 3 Regras competitivas da natação A natação é uma das modalidades esportivas mais anti- gas, que acompanha o homem desde o seu surgimento. Pra- ticada de forma rudimentar, não tinha o caráter de esporte, como ocorre atualmente. Obviamente, muitas mudanças acon- teceram ao longo dos tempos - o fato de se deslocar na água de uma extermidade à outra de um rio, por exemplo, era visto como fator de sobrevivênca. A história nos apresenta, por meio de documentos em geral (imagens, gravuras, entre outros), a natação sendo desenvolvida, independente do viés, já no Antigo Egito. Em 3.000 a.C., por exemplo, os filhos dos nobres aprendiam a nadar desde cedo (MACHADO, 2006); essa prática se asse- melhava ao que é praticado hoje. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 70 – Atualmente, a natação é praticada e desenvolvida de forma estrutu- rada e fundamentada em técnicas menos rudimentares, sendo estas aper- feiçoadas, com fins diversos: lazer, saúde/estética, sobrevivência, além da prática formal do esporte (profissionalização). É importante entender- mos que diversos outros fatores estão envolvidos, quando tratamos desta modalidade como esporte de fato, a começar pelo uso de regras, que visam normalizar a modalidade ao redor do mundo, uma espécie de universa- lização do esporte, tornando-o muito mais organizado enquanto prática formal, assim como ocorre com outras modalidades esportivas. Neste sentido, este capítulo tem como propósito trazer um pano- rama geral acerca das regras oficiais da natação, contextualizando a importância das regras oficiais para a modalidade, relacionadas aos dife- rentes estilos, suas particularidades, entre outros aspectos. Busca apre- sentar, ainda, nesse contexto formal do esporte, o papel e funções da arbitragem, o que caracteriza ainda mais a formalidade e importância de sua inserção na sociedade. 3.1 Contextualização histórica e a evolução das regras na natação Na Era Moderna, os Jogos Olímpicos, em Atenas, ocorreram de 6 a 15 de abril de 1896, simbolizando o reconhecimento e o retorno do culto ao esporte, tendo a natação como uma das modalidades integrantes. No final do século XIX, a Grécia, país-sede dos primeiros Jogos Olímpicos de Verão da Era Moderna, estava enfrentando uma forte crise política e econômica, logo, não possuía recursos para organizar as Olímpiadas, con- forme descrevem Krug e Magri (2012). Graças ao suporte financeiro de um milionário empresário (George M. Averoff), o qual revitalizou e construiu espaços para disputas, foi pos- sível realizar este evento, que teve o francês Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin, como seu idealizador e grande responsável por liderar o renas- cimento dos Jogos existentes na Grécia Antiga. Em relação à natação, é importante destacar que o seu reconheci- mento como prática esportiva, como vemos nos dias atuais, data daquele – 71 – Regras competitivas da natação período. Em 1896, as Olimpíadas trouxeram as provas de natação, as quais foram realizadas em mar aberto, na Baía de Zea, no Mar Mediter- râneo, com baixíssima temperatura da água (10°C) (hoje, tal temperatura não seria aceita para a realização de provas em águas abertas), por recusa de gastos para construir espaço específico para estas, no caso, as piscinas e os seus respectivos ginásios (KRUG; MAGRI, 2012). Outro aspecto importante a se destacar é que, na edição de 1896 dos Jogos Olímpicos, a natação teve somente 19 nadadores, de quatro países, em quatro provas diferentes (livre, 100, 500 e 1.200 metros), conforme destacam Krug e Magri (2012). Ainda de acordo com os autores, apesar do país-sede ter obtido um ótimo desempenho, com sete medalhas, a Hungria foi o grande sucesso daquela edição dos Jogos, com dois ouros, conquistados por Alfred Hajos. Nesse sentido, vemos que, no século XIX, o foco da natação já não era nadar para sobreviver, muito menos consistia em uma atividade em que bastava saltar na água e se locomover, do jeito que fosse. Podemos afirmar que as diferenças encontradas entre os primórdios do esporte e os tempos atuais são muito significativas, iniciando com os locais de disputa (de mar aberto para piscinas especiais, destinadas à prática do esporte). Essa modificação ocorreu nas três primeiras edições olímpi- cas e perduram até hoje. Este capítulo terá como foco a abordagem das regras oficiais da modalidade, apresentando as principais características de cada estilo de nado, no que tange à sua prática formal ou competitiva. Machado (2006) descreve que os quatro estilos foram criados em tempos e por autores diferentes. O primeiro a aparecer foi o nado peito, por meio do francês M. Thevenal, que desenvolveu os movimentos simi- lares aos executados atualmente, no ano de 1696. Em seguida, o nado costas, elaborado em 1794, pelo italiano Bernardi. A princípio, os braços giravam para trás, simultaneamente. Somente após 79 anos, o nado crawl ou estilo livre nasceu, a partir de rotações do corpo e do deslocamento dos braços. Seu autor foi o inglês John Trudgen. Mais tarde, esse estilo foi aprimorado pelo australiano Richard Cavill. Por fim, o nado borboleta surgiu por meio do nado peito. Após algumas modificações, um competi- dor húngaro foi o autor do quarto e último estilo, por volta de 1948. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 72 – Em relação às regras oficiais, estas são estabelecidaspela Federação Internacional de Natação (FINA), uma entidade reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), responsável por administrar competições internacionais nos desportos aquáticos, dos quais faz parte a natação, como o esporte mais representativo dentre todos. A natação foi fundada em 19 de julho de 1908, no Hotel de Manchester, em Londres, no final dos Jogos Olímpicos de Verão de 1908, pelas federações belga, britânica, dinamarquesa, filandesa, francesa, alemã, húngara e sueca. No Brasil, de acordo com Nolasco et al. (2005), houve a primeira ten- tativa de fundação de uma entidade que representasse esportes náuticos, em 1895, quando os clubes Botafogo, Luiz Caldas, Gragoatá, Icahary e Union de Canotiers fundaram, sem sucesso, a União de Regatas Flumi- nense. Ainda de acordo com os autores, a modalidade natação iniciou, ofi- cialmente, em 31 de julho de 1897, quando uma nova formação de clubes se organizou para formalizar sua prática no país, fundando, com sucesso, a União de Regatas Fluminense, na cidade do Rio de Janeiro. Krug e Magri (2012) mencionaram que, de acordo com registros, a primeira competição oficial do país foi a Travessia da Baía de Guana- bara, disputada em 1881, entre o comerciante brasileiro Joaquim Anto- nio Souza e o relojoeiro alemão Theodor John. O percurso estipulado foi da ponta da Armação (Niterói) até o morro da Viúva, na região de Botafogo. Os nadadores levaram em torno de 2 horas e 30 minutos para percorrer as quase seis milhas. Em 1885, foi construída, em Porto Alegre (RS), a primeira piscina brasileira, chamada de “Badeanstalt”, pela Sociedade Ginástica Deuts- cher Turnverein (Sogipa). Nolasco et al. (2005) menciona que o local era ponto de partida e de chegada das primeiras competições de natação do Rio Grande do Sul, além de ser utilizado para aulas do esporte. De acordo com os autores, para usufruir da Badeanstalt era necessário seguir regras rígidas, com subdivisões de horários, em decorrência da capacidade de nado de cada indivíduo. Krug e Magri (2012) destacam que o primeiro campeonato oficial brasileiro aconteceu em 1898, na modalidade 1.500m nado livre, com o percurso da Fortaleza Villegaignon até a Praia de Santa Luzia, no Rio de – 73 – Regras competitivas da natação Janeiro. Com o decorrer do tempo, demais competições, regras e compe- tidores engajaram-se na prática da natação, já indicando sinais de organi- zação quanto à modalidade, no que diz respeito ao seu aspecto formal ou competitivo. Assim, em 1905, iniciaram-se as competições no Rio Tietê, em comemoração ao aniversário do Clube Poliesportivo Esperia. Além disso, o Brasil participou dos Jogos Olímpicos de Antuérpia, em 1920. Naquela época, as disputas ocorriam no mar e, somente após a década de 1930, passaram a se dar em piscinas, em ambientes fechados. Nesse mesmo período, por volta de 1935, foi inserida a categoria feminina (NOLASCO et al., 2005). Destaque Atualmente, a sede da FINA fica em Lausanne, na Suíça. O presidente atual da Federação é o uruguaio Julio César Maglione. A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos foi fundada em 21 de outubro de 1977 e filiada à Federação Internacional de Natação e ao Comitê Olímpico Brasileiro. Estas seguem as regras da FINA, para as competições de nata- ção, e serão apresentadas em outras seções deste capítulo. 3.2 Regras oficiais na natação De acordo com as regras oficiais da natação, estabelecidas pela FINA (2018), as competições oficiais da modalidade têm como principal obje- tivo a realização de um percurso no menor tempo possível. Esse percurso pode ser de 50, 100, 200, 400, 800 ou de 1.500 metros. Vale destacar que as provas de nado livre e medley (04 estilos) podem ser realizadas na forma de revezamento. De forma global, as provas individuais são sepa- radas por sexo e o nadador deve nadar somente na sua raia, não sendo permitido fazer contato físico com a borda na virada e nem andar ou tomar impulso no fundo da piscina. Deve ser observada, ainda, a proibição relacionada a possíveis ati- tudes dos nadadores, como: puxar a raia, obstruir outros competidores e Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 74 – usar ou vestir qualquer objeto adicional ou maiô, que possam aumentar sua velocidade, flutuação ou resistência, conforme preconizado pela FINA (2018). Em adição, materiais, como óculos, são permitidos. Sobre o traje do nadador, cabe à FINA definir o que será ou não permitido. Para tal, consta no site oficial da entidade uma lista de marcas aprovadas para os trajes de banho aceitos em competições oficiais. Em regras a serem segui- das pelos atletas e avaliadas pela arbitragem, os trajes de banho específi- cos para competições devem seguir os parâmetros aprovados. De acordo com a FINA (2018), as dimensões de uma piscina olímpica são de 50 × 25 metros, com profundidade de 3 metros. Quando utilizada a placa eletrônica de aparelhagem automática, faz-se necessário respeitar uma tolerância máxima de 0,03 metro. As competições ou provas podem ser realizadas em locais abertos ou fechados. Quando realizadas em locais fechados, é preciso que as piscinas, com blocos de partida, tenham, obri- gatoriamente, a profundidade mínima estabelecida em 1,35 metro, em uma extensão de 1 a 6 metros da cabeceira de partida. Em todo o restante da piscina, a medida é de 1 metro. A temperatura da água deve estar entre 25 e 28°C. É importante destacar que, em algumas competições interna- cionais, utilizam-se, também, piscinas curtas, com 25 metros de largura e 25 de comprimento. Todas essas piscinas, utilizadas para competições, devem ser divididas em oito raias, mais uma livre adicional de cada lado, de 2,5 metros de largura (com uma faixa ao fundo da piscina ou material flutuante). As piscinas curtas utilizam raias de 2 metros. Saiba mais A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) completou 40 anos de fundação em 2017. É considerada a enti- dade máxima de administração da modalidade no Brasil. Foram eleitos, em 11 de dezembro de 2020, Luiz Fernando Coelho e Fernando Cordani, respectivamente presidente e vice-presi- dente da CBDA. A eleição é válida por quatro anos. Quanto à nomenclatura da CBDA, esta foi modificada em 1988 para adequação, já que a entidade tem cinco modalidades: natação, águas abertas, polo aquático, saltos ornamentais e nado artís- tico. A CBDA, atualmente, está presente em todos os 26 estados – 75 – Regras competitivas da natação brasileiros, além do Distrito Federal, como federações filiadas. Vale destacar que é de fundamental importância compreender a distinção das modalidades praticadas dentro da água, com outros materiais e equipamentos, como as modalidades olím- picas de canoagem e vela, e as modalidades praticadas dentro da água, em que o domínio do corpo no meio líquido e seus fundamentos básicos de flutuação e propulsão são as principais características. Entre eles, estão: a natação em suas diversas pro- vas de piscina, a natação em águas abertas, polo aquático, nado sincronizado, saltos ornamentais, mergulho e suas diversas ver- tentes (recreativo e profissional). De forma mais ampla, pode-se citar as técnicas japonesas de suieijutsu ou suijutsu, que, lite- ralmente, significam “habilidades aquáticas”. Em sua essência, eram treinadas habilidades de locomoção no meio líquido, vol- tadas à invasão de território e a lutas corporais dentro da água. Fonte: https://transparencia.cbda.org.br/ges- tao/sobre. Acesso em: 26 mai. 2021. De forma global, a FINA (2018) define as regras oficiais, apoiando- -se na técnica de execução correta de cada estilo de nado. A seguir, será apresentado um resumo da técnica de cada um destes estilos de nado, os quais devem ser orientados, no intuito de se manter o padrão, de acordo com aquele preconizado pelas regras oficiais da modalidade. 1. Nado crawl: também conhecido como “estilo livre”. Significa que, em uma prova assim denominada, o competidor podenadar qualquer nado, exceto nas provas de medley individual ou de revezamento medley, em que o nado livre significa qualquer nado diferente do nado costas, peito ou borboleta. É importante destacar que alguma parte do nadador tem de tocar a parede ao completar cada volta e ao final. 2. Nado costas: para a largada, os nadadores se posicionam de frente para a cabeceira de saída, com ambas as mãos apoiadas nos suportes de agarre, não sendo permitido se manter na calha ou dobrar os dedos sobre a borda dela. Ao sinal de partida, e Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 76 – quando virar, o nadador deve dar um impulso e nadar de cos- tas durante o percurso, exceto quando executar a volta. Ao final da prova, o nadador deve tocar a parede na posição de costas, na sua respectiva raia. Antes do sinal de partida, os competi- dores devem se alinhar na água, de frente para a cabeceira de saída, com ambas as mãos colocadas nos suportes de agarre. É importante observar que quando o suporte de partida para o nado costas estiver sendo usado na saída, os dedos de ambos os pés devem estar em contato com a borda ou com a placa de toque do placar eletrônico. Curvar os dedos dos pés na parte superior da placa de toque é proibido. A posição de costas pode incluir um movimento rotacional do corpo, mas não os 90°, a partir da horizontal. A posição da cabeça não é relevante. Neste sentido, é permitido, ao nadador, estar completamente submerso durante a volta e por uma distância não maior que 15 metros após a saída e cada volta. Nesse ponto, a cabeça deve ter quebrado a superfície. Quando executar a volta, tem de haver o toque na parede, com alguma parte do corpo em sua respectiva raia. Durante a volta, os ombros podem girar além da vertical para o peito; após, uma imediata contínua braçada ou uma ime- diata contínua e simultânea dupla braçada pode ser usada para iniciar a volta. O nadador tem de retornar à posição de costas após deixar a parede. 3. Nado peito: após a saída e em cada volta, é permitido que o nadador dê uma braçada completa, durante a qual poderá estar submerso. Em qualquer momento antes da primeira pernada de peito, após a saída e após cada virada, uma única pernada de borboleta é permitida, em qualquer momento. A cabeça deve romper a superfície da água antes que as mãos virem para den- tro, na parte mais larga da segunda braçada. Em cada virada e na chegada da prova, o toque deve ser feito com as duas mãos sepa- radas e, simultaneamente, acima, abaixo ou no nível da água. Em adição, a partir da primeira braçada após a saída e após cada virada, o corpo deve ser mantido sobre o peito. Não é permitido ficar na posição de costas em nenhum momento, exceto quando – 77 – Regras competitivas da natação da volta, após o toque na parede, quando é permitido girar de qualquer maneira, contanto que, quando deixar a parede, o corpo esteja na posição sobre o peito. É importante destacar que, a par- tir da saída e durante a prova, o ciclo do nado deve ser uma braçada e uma pernada, nessa ordem. Todos os movimentos dos braços devem ser simultâneos e no mesmo plano horizontal, sem movimentos alternados. Já no caso das mãos, estas devem ser lançadas juntas, para a frente, a partir do peito, abaixo ou sobre a água. Os cotovelos deverão estar abaixo da água, exceto quando da última braçada antes da volta, durante a volta e quando da última braçada antes da chegada; por fim, os pés devem estar virados para fora, durante a parte propulsiva da pernada. Não são permitidos movimentos alternados ou pernada de borboleta, exceto o que foi descrito no primeiro item. É permitido quebrar a superfície da água com os pés, exceto seguido de uma pernada de borboleta para baixo. No último ciclo do nado antes da virada e no final da prova, uma braçada não seguida de pernada é permitida. A cabeça pode submergir após a última braçada anterior ao toque, contanto que quebre a superfície da água em qualquer ponto, durante o último completo ou incompleto ciclo anterior ao toque. 4. Nado borboleta: o corpo deve ser mantido sobre o peito, a par- tir do início da primeira braçada, após a saída e em cada volta. Não é permitido ficar na posição de costas em nenhum momento, exceto quando da volta. Após o toque na parede, é permitido girar de qualquer maneira; mas, quando deixar a parede, o corpo deve estar na posição sobre o peito. Em cada virada e na chegada, o toque deve ser efetuado com ambas as mãos separadas e, simulta- neamente, acima, abaixo ou no nível da superfície da água. Após a saída e na volta, é permitido uma ou mais pernadas e uma bra- çada sob a água, que deve trazer o nadador à superfície. A partir do início da primeira braçada, após a saída e a cada volta, o corpo deve ser mantido sobre o peito. Não é permitido ficar na posição de costas em nenhum momento, exceto quando da volta. Após o toque na parede, é permitido girar de qualquer Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 78 – maneira, mas, quando deixar a parede, o corpo deve estar na posição sobre o peito. Em relação aos braços, ambos devem ser levados simultanea- mente à frente, sobre a água, e trazidos para trás, simultanea- mente, por baixo da água, durante todo o percurso. Todos os movimentos para cima e para baixo das pernas devem ser simul- tâneos. As pernas ou os pés não precisam estar no mesmo nível, mas não podem alternar um em relação ao outro. O movimento de pernada de peito não é permitido. Em cada virada e na chegada, o toque deve ser efetuado com ambas as mãos separadas e, simultaneamente, acima, abaixo ou no nível da superfície da água. Após a saída e na volta, ao nadador é permitido uma ou mais pernadas e uma braçada sob a água, que deve trazê-lo à superfície. É permitido, ao nadador, estar completamente submerso, até uma distância não maior do que 15 metros após a partida e após cada virada. Nesse ponto, a cabeça deve quebrar a superfície. O nadador tem de permanecer na superfície até a próxima volta ou final. 5. Nado medley: na prova individual, os quatros nados deverão ocorrer na seguinte ordem: borboleta, costas, peito e livre. Já nas provas de revezamento, os nadadores nadam os quatro estilos na seguinte ordem: costas, peito, borboleta e livre. Cada nado deve ser finalizado de acordo com a regra aplicada a ele. De acordo com a FINA (2018), atualmente, as competições podem ser realizadas de maneira individual ou por equipe e são subdividas em nados. As principais competições atuais de natação são disputadas em pis- cinas de 50 metros, sendo divididas em: 2 nado livre (50, 100, 200, 400, 800 e 1.500 metros); 2 nado costas (50, 100 e 200 metros, sendo os 50 metros não olímpicos); 2 nado peito (50, 100 e 200 metros, sendo os 50 metros não olímpicos); 2 nado borboleta (50, 100 e 200 metros, sendo os 50 metros não olímpicos); – 79 – Regras competitivas da natação 2 medley (quatro nados, 200 metros, 50 metros destinados para cada estilo); 2 revezamento (4 × 100 livre, 100 metros cada integrante da equipe; 4 × 200, 200 metros cada integrante; 4 × 100 medley, 100 metros cada integrante. Um nado realizado por cada nadador). É importante destacar que, juntamente aos diferentes tipos de metra- gens e de nados, as largadas de início das provas também diferem. Nas provas dos nados livre, borboleta, peito e medley, o início da prova se dá com o mergulho. Por outro lado, nas provas de costas e no revezamento medley, o início ocorre com o nadador já na água. É importante ressaltar que, após o início do nado, cada nadador tem a liberdade de se manter submerso por 15 metros, período que costuma ser destinado à realização da técnica “golfinhada”, a fim de quebrar a resistência da água, avançando mais rapidamente, conforme descreve a FINA (2018). Devido ao seu caráter de esporte formal, na natação, vemos que as competições atuais são conduzidas com muitas regras, que determinam o que pode e o que não pode ser feito em cada nado. Cabe à FINA,além de gerenciá-las, verificar se, de fato, são aplicadas regras nas competições oficiais de cada país e também em nível mundial. Lembrando que a CBDA é a organização que administra a natação no Brasil. Destaque Apesar de sua atual popularidade, a natação demorou muito para se transformar em um esporte, efetivamente, com pro- cesso de ensino, aprendizagem e competições organizadas. Felizmente, hoje se reconhece seu papel na evolução do homem e da sociedade, de forma que se tornou importante parte da história mundial. Vale destacar, neste sentido, a natação em águas abertas, moda- lidade esta que já pode ser considerada um esporte à parte, em relação à natação em piscina. Esta vem tendo um aumento no número de praticantes, seja para disputar provas de maratonas aquáticas quanto para realizar provas de aquathlon e triathlon, em que a parte aquática é considerada cada vez mais importante. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 80 – Provas de aquathlon são compostas de duas modalidades, natação e corrida. A principal diferença é que é necessário dividir o seu tempo de treinamento para dois esportes dife- rentes, o que já deixa o treino de natação menor, se comparado a um treino para provas de maratona aquática, apenas. Em adição, temos as provas de maratonas aquáticas, as quais cos- tumam ser maiores, podendo variar de 2,5 km até 10 km, sem contar as provas de ultramaratona, cujas exigências são ainda maiores, em termos de esforço. Fonte: SWIM CHANNEL – online. Quais as princi- pais diferenças no treinamento para aquathlon e águas abertas? Disponível em: https://swimchannel.net/ quais-as-principais-diferencas-no-treinamento-para- -aquathlon-e-aguas-abertas/. Acesso em: 15 jun. 2021. Quanto ao uso da tecnologia, este é um aspecto que também deve ser verificado, pois está diretamente ligado às regras da modalidade, uma vez que buscam, de certa forma, atingir o excelente rendimento esportivo. Com o acirramento da competitividade, houve uma impressionante evolu- ção da tecnologia esportiva (materiais). É importante destacar a busca por recordes e vantagens econômicas, as quais têm crescido com o passar do tempo. Assim, houve um significativo investimento, por exemplo, no traje utilizado para a prática da natação, sobretudo competitiva. De acordo com as regras do esporte, estabelecidas pela FINA, são permitidos equipamentos para o favorecimento de mobilidade no meio aquático (óculos e touca), mas alguns trajes criados foram motivos de polêmicas, sobretudo neste século, em que “supermaiôs” de tecido ultra- fino, que repeliam a água e comprimiam os músculos, foram inventados, cujo objetivo era diminuir o atrito do corpo do atleta com a água, dimi- nuindo, assim, a resistência, o que resultou em novos recordes e gerou uma certa desconfiança, colocando, muitas vezes, em dúvida o resultado obtido por estes atletas. Desta forma, em 2010, a FINA decidiu estabelecer um padrão para a fabricação (modelo) destes trajes, o que automatica- mente foi adotado pelas Confederações dos países filiados. Desde então, somente é possível utilizar trajes de material têxtil, que sigam o padrão estabelecido pela FINA. – 81 – Regras competitivas da natação 3.2.1 Organização de Competições (SW 1) A FINA estabelece as regras oficiais que, obrigatoriamente, devem ser seguidas por todos os países a ela filiados, como é o caso do Brasil, com a CBDA, entidade que se responsabiliza pelas competições oficiais nacionais. Estas regras deverão ser seguidas em suas competições, garan- tindo que a competição e/ou evento seja, de fato, reconhecido mundial- mente. A seguir serão apresentadas as principais regras oficias da modali- dade, as quais seguem os preceitos estabelecidos pela FINA (2018). De acordo com a SW 1.2, nos Jogos Olímpicos e Campeonatos Mun- diais, o Bureau da FINA nomeará o seguinte número mínimo de Oficiais, para o controle das competições: 2 Árbitro Geral (2) 2 Supervisor da Mesa de Controle (1) 2 Juízes de Nado (4) 2 Juízes de Partida (2) 2 Chefe dos Juízes de Viradas (2, 1 em cada cabeceira da piscina) 2 Juízes de Viradas (1 em cada raia, nas duas cabeceiras da piscina) 2 Anotador Chefe (1) 2 Banco de Controle (2) 2 Locutor (1) A regra SW 1.2.2 descreve que: se o equipamento automático de cronometragem não estiver disponível, deve ser substituído pelo Cronometrista Chefe, 1 Cronometrista por raia e um 1 Cronometrista adicional. Complementando, a regra SW 1.2.3 mostra que um Juiz de Chegada Chefe e Juízes de Chegada podem ser solicitados quando o equipamento automático de cronometragem e/ou cronômetros digitais por raia não forem usados. SW 1.3 – a piscina e o equipamento técnico para os Jogos Olím- picos e Campeonatos Mundiais devem ser inspecionados e apro- vados com a devida antecedência, em relação à competição, pelo Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 82 – Delegado da FINA, juntamente com um membro do Comitê Técnico de Natação. SW 1.4 – sempre que o equipamento de vídeo subaquático é utilizado pela televisão, deve ser operado por controle remoto e não deve obstruir a visão ou o curso dos nadadores. Também não deve alterar a configuração da piscina ou obstruir as marcações exigidas pela FINA. No caso da Composição de Séries Eliminatórias, Semifinais e Finais, a SW 3 indica que a distribuição das raias, em todas as provas dos Jogos Olímpicos, Campeonatos Mundiais e outras competições da FINA, serão organizadas como veremos a seguir. No caso específico das eliminatórias, a SW 3.1.1 indica que os melhores tempos obtidos pelos nadadores, dentro do período de classificação estabele- cido, devem ser indicados nas fichas de inscrição, por meio de formulários de inscrição ou on-line, conforme solicitado. Os nadadores que não entregarem os tempos deverão ser considerados os mais lentos e colocados no fim da lista, sem tempo. A raia de partida dos nadadores com o mesmo tempo ou mais de um nadador sem tempo deverá ser determinada por sorteio. Neste sentido, as raias serão atribuídas aos nadadores conforme o SW 3.1.2, em que eles serão colocados nas eliminatórias de acordo com o tempo de inscrição, do seguinte modo: SW 3.1.1.1 – se houver apenas uma série eliminatória, esta deverá ser considerada como final e nadada durante a etapa final. SW 3.1.1.2 – no caso de duas séries eliminatórias, o nadador mais rápido será colocado na segunda série, o segundo nada- dor mais rápido será colocado na primeira série, o seguinte na segunda série, o seguinte na primeira série, etc. SW 3.1.1.3 – no caso de três séries eliminatórias, exceto para as provas de 400m, 800m e 1500m, o nadador mais rápido será colocado na terceira série, o segundo mais rápido na segunda série, o terceiro mais rápido na primeira. O quarto mais rápido será colocado na terceira série, o quinto na segunda série, o sexto na primeira série, o sétimo na terceira série, etc. – 83 – Regras competitivas da natação A regra SW 3.1.1.4 menciona que, no caso de quatro ou mais elimi- natórias, exceto os 400m, 800m e 1500m, as três últimas eliminatórias da prova serão compostas conforme o disposto na SW 3.1.1.3, acima men- cionada. A série anterior às três últimas será constituída pelos nadadores mais rápidos que se seguirem; a série anterior às quatro últimas será cons- tituída pelos nadadores mais rápidos que se seguirem, etc. As raias serão atribuídas em ordem descendente aos tempos de inscrição em cada série, de acordo com a regra SW 3.1.2, abaixo mencionada. SW 3.1.1.5 – para as provas de 400m, 800m e 1500m, as últimas séries deverão ser compostas de acordo com a SW 3.1.1.2. Para a regra SW 3.1.1.6 – exceção: Quando houver duas ou mais séries eliminatórias de uma prova, haverá um mínimo de três nadadores colocados em qualquer das séries, mas subsequentes desistências poderão reduzir o número de nadadores, em qualquer eliminatória, para menos de três. Utilizando uma piscina com 10 raias, e se tempos iguais forem estabe-lecidos para o oitavo lugar nas eliminatórias dos 800m e 1500m livre, a raia 9 vai ser usada com um sorteio para a raia 8 e a raia 9. Em caso de três tem- pos iguais para o oitavo lugar, a raia 9 e a raia 0 serão usadas com um sorteio para a raia 8, raia 9 e raia 0, conforme mencionado na regra SW 3.1.1.7. A regra SW 3.1.1.8 menciona que, no caso da piscina não ter 10 raias, aplica-se a regra SW 3.2.3. Exceto nas provas de 50 metros, em piscina de 50 metros, a atribuição das raias deverá ser: raia 1 no lado direito da piscina (raia 0, quando usar piscina com 10 raias), quando se olha a piscina do lado da cabeceira de partida, colocando o nadador mais rápido, ou equipe de revezamento, na raia central, se a piscina tiver um número ímpar de raias, na raia 3 ou 4, respectivamente, em piscina com 6 ou 8 raias. Nas piscinas com 10 raias, o nadador mais rápido será colo- cado na raia 4. O nadador que tiver o tempo mais rápido será colocado à sua esquerda, alternando, em seguida, os outros para a direita e para a esquerda, de acordo com os tempos de inscrição. Nadadores com tempos idênticos serão colocados conforme sorteio das raias e segundo a norma referida anteriormente (SW 3.1.2). Para a regra SW 3.1.3, quando são disputadas provas de 50 metros, em piscina de 50 metros, as provas podem ser nadadas, segundo decisão Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 84 – do Comitê Organizador, da cabeceira de partida para a de virada ou desta para a cabeceira de partida, dependendo de fatores, como: a existência de Equipamento Automático de Cronometragem adequado, posição do Juiz de Partida, etc. O Comitê Organizador deverá avisar os nadadores da sua decisão, muito antes do início da competição. Independentemente de como a prova vai ser nadada, os nadadores deverão ser colocados nas mesmas raias em que seriam colocados se começassem e terminassem na cabeceira de partida. No caso das Semifinais e Finais, as regras são baseadas a partir da SW 3.2, conforme será mostrado a seguir: SW 3.2.1 – as semifinais serão organizadas conforme a SW 3.1.1.2. A regra SW 3.2.2 deixa claro que, em casos onde não houver neces- sidade de séries eliminatórias, as raias serão atribuídas de acordo com a SW 3.1.2. Por outro lado, quando houver séries eliminatórias e semifinais, as raias serão atribuídas segundo a SW 3.1.2, tendo em conta os tempos obtidos nessas séries eliminatórias. No caso em que nadadores da mesma série ou de séries diferentes tenham tempos iguais registrados até o 1/100 de segundo, para o oitavo/ décimo ou décimo sexto/vigésimo lugar, dependendo se estiverem sendo usadas oito ou dez raias, deve haver uma prova de desempate para deter- minar qual o nadador que avançará para a respectiva final. Esta prova de desempate deverá ser realizada após os nadadores terem terminado suas séries, em um horário acertado entre a organização da competição e as partes envolvidas. Em caso de novo empate, a prova de desempate deverá se repetir. Se necessário, haverá uma prova de desempate para determinar o 1º e o 2º reservas, se estes obtiverem tempos iguais, conforme descrito na regra SW 3.2.3. SW 3.2.4 – quando um ou mais nadadores desistem de uma semifinal, os reservas serão chamados por ordem de classifica- ção, nas eliminatórias ou semifinais. A prova ou provas deverão ser reordenadas e devem ser publicadas folhas suplementares de informação, conforme previsto na SW 3.1.2. SW 3.3 – em outras competições, o sistema de sorteio pode ser usado para designar as posições de raias. – 85 – Regras competitivas da natação A regra SW4 trata especificamente da partida ou saída na natação, e como esta ocorre, para os diferentes estilos de nado, conforme será mos- trado de forma detalhada, a seguir: SW 4.1 – a partida nas provas de nado livre, peito, borboleta e medley será efetuada por meio de salto (mergulho). Ao apito longo do Árbitro Geral, os nadadores devem subir no bloco de partida e ali permanecer. Ao comando “às suas marcas”, do Juiz de Partida, devem se colocar imediatamente na posição de partida, com pelos menos um pé na parte dianteira do bloco. A posição das mãos não é relevante. Quando todos os nadadores estiverem imóveis, o Juiz de Partida deve dar o sinal de partida. A regra SW 4.2 trata especificamente da partida para as provas de cos- tas e revezamento medley, que será efetuada dentro da água. Ao primeiro apito longo do Árbitro Geral, os nadadores deverão entrar imediatamente na água. No segundo apito longo, os nadadores deverão se colocar, sem demora indevida, na posição de partida (SW 6.1). Quando todos os nada- dores estiverem na posição de partida, o Juiz de Partida dará o comando “às suas marcas”. Quando todos os nadadores estiverem imóveis, o Juiz de Partida dará o sinal de partida. É importante destacar, ainda, que a regra SW 4.3 trata especificamente das partidas/saídas aplicadas aos Jogos Olímpicos, Campeonatos Mundiais e outras provas organizadas pela FINA, em que o comando “às suas mar- cas” terá de ser em inglês, “Take your marks”, e o sinal de partida deverá ser difundido por múltiplos alto-falantes, um para cada bloco de partida. SW 4.4 – qualquer nadador que parta antes do sinal de partida ser dado será desclassificado. Se o sinal de partida soar antes da desclassificação ser declarada, a prova continuará e o nadador ou nadadores serão desclassificados após a prova terminar. Se a des- classificação for assinalada antes do sinal de partida, o sinal não será dado. Os demais nadadores serão chamados de volta e é feita nova partida. O Árbitro Geral repete o procedimento de partida, começando com o apito longo (o segundo para a prova de costas). As regras SW 5, 6, 7, 8, 9 tratam, especificamente, dos estilos dos nados: livre, costas, peito, borboleta e medley, respectivamente. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 86 – No caso específico do nado livre, a SW 5.1 menciona que este estilo significa que, em uma prova assim denominada, o competidor pode nadar qualquer nado, exceto nas provas de medley individual ou revezamento medley. Nado livre significa qualquer nado diferente do nado de costas, peito ou borboleta. A regra SW 5.2 mostra que, para que seja considerado que o atleta de fato concluiu a prova/competição, é necessário que alguma parte dele toque a parede ao completar cada volta e no final. SW 5.3 – alguma parte do nadador tem de quebrar a superfície da água durante a prova, exceto quando é permitido ao nadador estar completamente submerso durante a volta e em uma distân- cia não maior que 15 metros, após a partida e cada volta. Nesse ponto, a cabeça deve ter quebrado a superfície da água. No caso específico da regra SW 6.3, ainda associada ao nado costas, diz que é necessário que alguma parte do nadador quebre a superfície da água durante o percurso, sendo, de fato, permitido ao nadador estar completamente submerso durante a volta e por uma distância não maior que 15 metros, após a saída e cada volta. Nesse ponto é impor- tante que a cabeça tenha “quebrado” a superfície. SW 6.4 – quando executar a volta, tem de haver o toque na parede com alguma parte do corpo na sua respectiva raia. Durante a volta, os ombros podem girar além da vertical para o peito. Após, uma imediata contínua braçada ou uma imediata contínua e simultânea dupla braçada podem ser usadas para ini- ciar a volta. O nadador tem de retornar à posição de costas, após deixar a parede. No caso da regra SW 6.5, quando do final da prova, o nadador tem de tocar a parede na posição de costas, na sua respectiva raia. A regra SW 7.5 menciona que, durante o nado peito, os pés devem estar virados para fora, na parte propulsiva da pernada. Não são permiti- dos movimentos alternados ou pernada de borboleta, exceto o que é des- crito na SW 7.1. É permitido quebrar a superfície da água com os pés, mas não seguido de uma pernada de borboleta para baixo. – 87 – Regras competitivas da natação Finalmente, as regras referentes ao nado medley,começando pela SW 9.1, que diz que, na prova de medley individual, o nadador nada os quatros estilos, na seguinte ordem: borboleta, costas, peito e livre. Cada nado deve percorrer um quarto da distância. A regra SW 9.2 menciona que, no nado livre, o nadador deve estar sobre o peito, exceto quando executar a virada. O nadador deverá retornar à posição sobre o peito antes de realizar qualquer pernada ou braçada. SW 9.3 – nas provas de revezamento medley, os nadadores nadam os quatro nados na seguinte ordem: costas, peito, borbo- leta e livre. Cada nado deve percorrer um quarto da distância. E, por fim, a regra SW 9.4 deixa claro que cada nado/estilo, com- ponente do nado medley, deve ser finalizado de acordo com a regra aplicada a ele. A regra que trata da prova, de acordo com a FINA (2018), a SW 10, apresenta em suas subseções os detalhes de como devem ser essas provas para cada estilo de nado. A regra SW 10.1 menciona que todas as provas individuais devem ser separadas por sexo. A regra SW 10.2 descreve que o competidor que estiver nadando o percurso sozinho deve nadar a distância total para se classificar. Em adição, a regra SW 10.3 menciona que o nadador deve permanecer e terminar a prova na mesma raia onde começou. Ao passo que a regra SW 10.4 afirma que, em todas as provas, o nadador deve fazer contato físico com a borda na virada. A virada deve ser feita contra a borda da piscina e não é permitido andar ou tomar impulso no fundo da piscina. SW 10.5 – o fato de o nadador ficar de pé durante a prova de nado livre, ou durante o nado livre nas provas de medley, não deve desclassificá-lo. Entretanto, ele não poderá andar, obtendo vantagem com essa atitude, considerada ilegal, de acordo com as regras oficiais estabelecidas pela FINA (2018). Na regra SW 10.6 vemos que puxar a raia é algo considerado ilegal, portanto, não é permitido. SW 10.7 – descreve que obstruir outros competidores, atraves- sando outra raia ou interferindo de qualquer outra forma, será Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 88 – motivo de desclassificação do nadador infrator. Se a falta for intencional, o árbitro deverá relatar o fato à entidade promotora e a associação do nadador infrator. No caso da regra SW 10.8, deve-se observar que a nenhum com- petidor deve ser permitido usar ou vestir qualquer objeto adicional ou maiô que possa ajudar na sua velocidade, flutuação ou resistência durante uma competição (tais como: luvas, pés de pato, fitas terapêuticas e fitas adesivas, etc.). Por outro lado, óculos podem ser usados. Nenhum tipo de adesivo no corpo é permitido, a menos que aprovado pelo Comitê de Medicina Esportiva da FINA. SW 10.9 – qualquer nadador que entre na piscina durante a rea- lização de uma prova em que não esteja inscrito, antes que todos os nadadores tenham completado sua prova, deve ser desclassi- ficado da próxima prova em que estiver inscrito. No caso específico da regra SW 10.10, é importante destacar que serão quatro nadadores em cada equipe de revezamento. Estão permiti- das equipes mistas. Estas equipes serão formadas por dois homens e duas mulheres. Os tempos parciais registrados nestas provas não poderão ser considerados como recordes e nem como tempos de inscrição. A SW 10.11 destaca que, nas provas de revezamento, a equipe de um competidor cujos pés perderem contato com o bloco de partida antes de o nadador anterior tocar na parede será desclassificada. Em adição, vale destacar que a regra SW 10.12 menciona que qual- quer equipe de revezamento deve ser desclassificada de uma prova se um membro da equipe, diferentemente do nadador designado para nadar aquela distância, entra na água enquanto a prova está sendo disputada e antes que todos os nadadores de todas as equipes tenham acabado a prova. SW 10.13 – os membros de uma equipe de revezamento e sua ordem de competir devem ser designados antes da prova. Qual- quer membro da equipe de revezamento pode competir em uma prova somente uma vez. A composição de uma equipe de reve- zamento pode ser mudada entre as séries eliminatórias e as finais de uma prova, visto que isso é feito a partir da lista dos nada- dores propriamente inscritos por um responsável nessa prova. – 89 – Regras competitivas da natação Nadar em ordem diferente da apresentada resultará em desclas- sificação. Substituições podem ser feitas somente em caso de emergência médica com atestado. A regra SW 10.14 especifica que qualquer nadador, tendo acabado sua prova ou sua distância em uma prova de revezamento, deve deixar a piscina assim que possível, sem obstruir qualquer outro competidor que não tenha ainda terminado sua prova. De outra maneira, o nadador faltoso ou sua equipe de revezamento devem ser desclassificados. SW 10.15 – se uma falta tirar a chance de sucesso de um compe- tidor, o árbitro terá o poder de permitir a ele competir na próxima série ou, se a falta ocorrer em uma prova final ou na última série eliminatória, ele pode ordenar que a prova seja nadada outra vez. Finalmente, a regra SW 10.16 mostra que nenhum artifício de controle de tempo é permitido, nem o uso de qualquer auxílio ou plano adotado para obter esse efeito. De forma geral, a regra SW 11 trata do Registro de Tempo. Suas sub- divisões mostram os procedimentos a serem adotados, em diferentes situa- ções que possam surgir durante as provas/competições. Neste caso, temos a SW 11.1, que trata do Equipamento Automático de Cronometragem, que deve ser operado sob supervisão de Juízes designados. Os tempos registrados pelo Equipamento Automático de Cronometragem serão usa- dos para determinar o vencedor, todas as classificações e o tempo obtido por cada raia. A ordem de chegada e os tempos apurados deste modo terão prioridade sobre as decisões dos Cronometristas. No caso de defeito do Equipamento Automático de Cronometragem ou se houver, claramente, uma falha do Equipamento Automático de Cronometragem ou ainda que um nadador não tenha conseguido fazer funcionar esta, os registros dos Cronometristas serão oficiais (SW 13.3). SW 11.2 – quando for utilizado Equipamento Automático de Cronometragem, os resultados serão registrados apenas até ao 1/100 de segundo. Se houver tempos iguais, todos os nadadores que tiverem registrado o mesmo tempo até 1/100 de segundo terão a mesma classificação. Os tempos expostos no placar eletrônico de resultados deverão mostrar apenas até 1/100 de segundo. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 90 – SW 11.3 – qualquer aparelho para medição do tempo, utilizado por um Juiz, será considerado como um cronômetro. Vale desta- car ainda que estes tempos manuais deverão ser tirados por três Cronometristas, nomeados ou aprovados pela Federação Nacio- nal do país onde é realizada a competição. Todos os cronôme- tros deverão ser dados como precisos pela Federação Nacional em que acontece a competição. Os tempos manuais deverão ser registrados até o 1/100 de segundo. Quando não for utilizado qualquer Equipamento Automático de Cronometragem, os tem- pos manuais serão determinados como se segue: SW 11.3.1 – se dois dos três cronômetros registrarem o mesmo tempo, diferente do terceiro, os dois tempos iguais são o tempo oficial. SW 11.3.2 – se os três tempos forem diferentes, o tempo oficial será o do cronômetro que registrar o tempo intermediário. SW 11.3.3 – quando se utilizam três cronômetros e um deles não funcionar, o tempo oficial será a média dos outros dois. SW 11.4 – no caso de um nadador ser desclassificado durante ou após uma prova, a desclassificação deverá ser registrada nos resultados oficiais, mas nenhum tempo ou classificação será registrado ou anunciado. SW 11.5 – no caso de desclassificação de uma equipe de reve- zamento, os tempos parciais até à desclassificação deverão ser registrados nos resultados oficiais. SW 11.6 – nos revezamentos, todos os tempos parciais, a cada 50 e 100 metros, deverão ser registrados para o nadador que abre o revezamento e incluídos nos resultadosoficiais. A regra SW 12 trata, em geral, dos Recordes Mundiais e, no caso da regra SW 12.1, são reconhecidos como Recordes Mundiais e Recor- des Mundiais Juniores, em piscina de 50 metros, as seguintes distâncias e nados, para ambos os sexos: 2 livre 50, 100, 200, 400, 800 e 1500 metros – 91 – Regras competitivas da natação 2 costas 50, 100 e 200 metros 2 peito 50, 100 e 200 metros 2 borboleta 50, 100 e 200 metros No caso do nado medley, 200 e 400 metros, temos os seguintes: 2 revezamento livre 4x100 e 4x200 metros 2 revezamento medley 4x100 metros 2 revezamento misto 4x100 metros livre e 4x100 metros medley SW 12.2 – são reconhecidos como Recordes Mundiais, em pis- cina de 25 metros, as seguintes distâncias e nados para ambos os sexos: 2 livre 50, 100, 200, 400, 800 e 1500 metros 2 costas 50, 100 e 200 metros 2 peito 50, 100 e 200 metros 2 borboleta 50, 100 e 200 metros 2 medley 200 e 400 metros 2 revezamento livre 4x50, 4x100 e 4x200 metros 2 revezamento medley 4x50 e 4x100 metros 2 revezamento misto 4x50 metros livre e 4x50 metros medley SW 12.3 – os grupos etários para registros de Recorde Mun- dial Júnior são os mesmos que para os Campeonatos Mundiais Juniores da FINA. SW 12.4 – membros de revezamento devem ser da mesma nacionalidade. SW 12.5 – todos os recordes devem ser obtidos em competi- ções ou prova individual contra o tempo, realizada em público e publicamente anunciada por, pelo menos, três dias de antecedên- cia da sua realização. Na hipótese de uma prova individual con- trarrelógio ser mencionada por uma Federação, como tentativa Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 92 – de recorde, durante uma competição, não será necessário o aviso com antecedência de três dias. SW 12.6 – o comprimento de cada raia da piscina deve ser veri- ficado por um inspetor ou outro oficial qualificado, nomeado ou aprovado pela Federação Nacional em que a piscina estiver situada. SW 12.7 – quando for usada uma borda móvel, a medição de cada raia deverá ser confirmada após a conclusão da sessão em que o tempo foi obtido. SW 12.8 – os Recordes Mundiais e Recordes Mundiais Junio- res só serão homologados quando os tempos forem registrados pelo Equipamento Automático de Cronometragem ou por Equi- pamento Semiautomático de Cronometragem, no caso de não funcionamento do primeiro. SW 12.9 – os Recordes Mundiais e Recordes Mundiais Junio- res só serão homologados se os nadadores estiverem usando trajes aprovados pela FINA. SW 12.10 – tempos iguais até o 1/100 de segundo serão reco- nhecidos como recordes igualados e os nadadores que obtiverem esses tempos serão chamados de co-recordistas. Apenas o tempo do vencedor de uma prova pode ser apreciado para Recorde Mundial – exceto para Recordes Mundiais Juniores. No caso de empate em uma prova, todos os nadadores empatados com tempo recorde serão declarados vencedores. SW 12.11 – os Recordes Mundiais e os Recordes Mundiais Juniores só serão homologados quando estabelecidos em pis- cina de água com menos de 3g de sal por litro de água. Nenhum recorde será reconhecido quando estabelecido em água salgada. SW 12.12 – o primeiro nadador de uma prova de revezamento, exceto nos revezamentos mistos, pode estabelecer um Recorde Mundial ou um Recorde Mundial Júnior. No caso do primeiro nadador de uma equipe de revezamento completar o seu per- curso em tempo recorde, de acordo com o previsto nesta subse- ção, seu registro não será anulado por qualquer desclassificação – 93 – Regras competitivas da natação de sua equipe, que venha a ser verificada por infrações cometi- das após a sua distância ter sido completada. SW 12.13 – um nadador, em uma prova individual, poderá esta- belecer um Recorde Mundial, ou um Recorde Mundial Júnior, em uma distância intermediária, se ele/ela, ou seu/sua treinador(a) ou representante, requerer especificamente, ao Árbitro Geral, para que a sua prova seja cronometrada especialmente ou se o tempo na distância intermediária for registrado por Equipa- mento Automático de Cronometragem aprovado. Este nadador deve terminar o percurso previsto da prova para poder requerer a homologação do recorde do percurso intermediário. SW 12.14 – pedidos de homologação de Recordes Mundiais e Recordes Mundiais Juniores devem ser feitos em impressos oficiais da FINA, pela autoridade responsável da Organização ou Comitê Técnico Organizador da Competição, e assinada por qualquer representante autorizado da Federação do país do nada- dor, uma vez verificado que todos os regulamentos foram cum- pridos, incluindo um certificado de Controle Antidoping (DC 5.3.2). A solicitação deve ser enviada ao Secretário da FINA, dentro de 14 dias após a realização da prova. SW 12.15 – a reivindicação de um Recorde Mundial, ou Recorde Mundial Júnior, deve ser provisoriamente relatada por e-mail ou fax ao Secretário Honorário da FINA, dentro de sete dias da data da prova. SW 12.16 – a Federação do país do nadador deve comunicar esta prova por carta ao Secretário Honorário da FINA, para conhe- cimento e procedimento, se necessário, para assegurar que o pedido foi devidamente enviado pela respectiva autoridade. SW 12.17 – uma vez recebido o pedido oficial, e após verifica- ção de que a informação contida no pedido, incluindo o Certi- ficado Antidoping negativo, está correto, o Secretário Honorário da FINA declarará o novo Recorde Mundial ou Recorde Mundial Júnior. Ele verificará se esta informação foi publicada e se os cer- tificados foram enviados às pessoas cujos pedidos foram aceitos. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 94 – SW 12.18 – todos os recordes feitos durante os Jogos Olímpicos, Campeonatos Mundiais, Campeonatos Mundiais Juniores de Natação e Copas do Mundo serão aprovados automaticamente. SW 12.19 – se o determinado na SW 12.14 não tiver sido respei- tado, a Federação do país do nadador pode solicitar a homologação de um Recorde Mundial ou Recorde Mundial Júnior. Após as inves- tigações devidas, o Secretário Honorário da FINA está autorizado a aceitar tal recorde, no caso do pedido ser considerado correto. SW 12.20 – se o pedido de homologação de um Recorde Mun- dial ou Recorde Mundial Júnior for aceito pela FINA, será enviado um diploma assinado pelo Presidente e pelo Secretário Honorário da FINA à Federação do país do nadador, para lhe ser entregue, em reconhecimento pelo seu feito. Um quinto diploma do Recorde Mundial ou Recorde Mundial Júnior será enviado a todas as Federações, cujas equipes de revezamentos estabeleçam um recorde mundial. Este diploma ficará de posse da Federação. SW 12.21 – periodicamente, a FINA pode adicionar novos eventos para os quais os nadadores podem estabelecer Recorde Mundial ou Recorde Mundial Júnior. Para cada caso, a FINA estabelecerá os tempos a serem superados. Se um nadador con- segue um tempo que é melhor do que o tempo alvo, deve ser considerado um Recorde Mundial ou Recorde Mundial Júnior, desde que todos os requisitos da SW 12 sejam atendidos. Quanto ao uso de Procedimento Eletrônico, a regra SW 13.1 mostra que, quando for usado Equipamento Automático de Cronometragem, em qualquer competição, a classificação e os tempos apurados por este meio, bem como as trocas nos revezamentos julgados pelo Equipamento Automá- tico de Cronometragem, terão prioridade sobre a decisão dos Cronometristas. SW 13.2 – quando o Equipamento Automático de Cronometra- gem não registrar o lugar e/ou tempo de um ou mais nadadores, em uma determinada prova, deve-se: SW 13.2.1 – registrar todos os tempos e classificação do Equipa- mento Automático de Cronometragem disponíveis. – 95 – Regras competitivas da natação SW 13.2.2 – registrar todos os tempos e classificações manuais. SW 13.2.3 – a classificação oficial será estabelecida como segue: SW 13.2.3.1 – um nadador com tempo e classificação dados pelo Equipamento Automático de Cronometragem deverá manter a sua classificação relativa, quando comparada com os outros nadadorescom tempos e classificações também obtidos pelo Equipamento Automático de Cronometragem, nessa mesma prova. A regra SW 13.2.3.2 mostra que um nadador que não tiver classifi- cação do Equipamento Automático de Cronometragem, mas o tempo por ela registrado, terá a sua classificação estabelecida, comparando o seu tempo registrado automaticamente com os tempos obtidos pelo Equipa- mento Automático de Cronometragem para os outros nadadores. SW 13.2.3.3 – um nadador que não tiver classificação, nem tempo obtido pelo Equipamento Automático de Cronometragem, terá a sua classificação estabelecida pelo tempo de “backup” ou pelos três cronômetros manuais. SW 13.3 – o tempo oficial será estabelecido como se segue: SW 13.3.1 – o tempo oficial para todos os nadadores que tive- rem um tempo do Equipamento Automático de Cronometragem será esse seu tempo oficial. SW 13.3.2 – o tempo oficial para todos os nadadores que não tiverem tempo do Equipamento Automático de Cronometragem será o tempo manual dos três cronômetros ou do Equipamento Semiautomático de Cronometragem. SW 13.4 – para estabelecer a ordem relativa de chegada, para um conjunto de eliminatórias de uma prova, proceder-se-á como se segue: SW 13.4.1 – a ordem relativa de todos os competidores será estabelecida comparando os seus tempos oficiais. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 96 – SW 13.4.2 – se um nadador tiver um tempo oficial igual ao(s) tempo(s) de um ou mais nadadores, todos os nadadores que tive- rem esse tempo ficarão empatados na classificação dessa prova. 3.3 Funções do árbitro na natação De forma global, a FINA (2018) define a equipe de arbitragem e suas atribuições, bem como a sua composição. A seguir, você verá o papel desempenhado por cada um deles e sua importância para o processo. 2 Árbitro Geral: considerado a autoridade máxima. É ele quem controla e aprova todas as atribuições e funções dos juízes e os instrui acerca de todas as características e regras especiais relacionadas às competições. Ele decide sobre todas as ques- tões relacionadas à condução do evento, prova ou competição, fazendo com que todas as regras e determinações da FINA (2018) sejam respeitadas. No início da prova, o Árbitro Geral, por meio de uma série de apitos curtos, convidará os nadadores a se prepararem para o início da prova; o apito longo, dado logo em seguida, indica aos competidores que eles devem tomar seus lugares nos blocos de partida. Quando todos estiverem preparados para a partida, o Árbitro indicará ao juiz de partida, com um braço estendido, que os nadadores estão ao seu controle. Ele permanecerá com o braço estendido até que a partida seja iniciada. 2 Supervisor da Mesa de Controle: possui a responsabilidade de verificar a operação da cronometragem automática, inclusive revisando-a pelo vídeo, os resultados do computador, a impres- são das trocas dos revezamentos e comunicar as escapadas ao Árbitro Geral. É ele quem controlará as desistências após as eliminatórias ou finais, que registrará os resultados impressos oficiais, listará todos os novos recordes estabelecidos e manterá as pontuações, quando for o caso. 2 Juízes de Nado: estes deverão se posicionar em cada lado da piscina e garantir que as regras relativas ao nado a ser executado – 97 – Regras competitivas da natação estão sendo respeitadas, observando as viradas e as chegadas, junto com os Juízes de Virada. 2 Juiz de Partida: possui total controle sobre os nadadores, a par- tir do momento em que o Árbitro Geral lhe entrega a prova. É ele quem comunica o Árbitro Geral sobre o atraso do nadador, as desobediências à ordem ou qualquer comportamento de má conduta, sendo que a decisão de desclassifiação só poderá partir do Árbitro Geral. Ao iniciar a prova, fica do lado da piscina, aproximadamente a 5 metros da borda de partida, de modo que cronometristas e nadadores possam ouvir o sinal de partida. 2 Chefe dos Juízes de Virada: é o responsável por assegurar que todos os Juízes de Virada cumpram suas funções durante a competição. 2 Juízes de Virada: devem estar posicionados, um em cada raia, em cada cabeceira da piscina, para garantir que os nadadores cumpram as regras após a saída, para cada virada e na chegada. É o responsável por dar o aviso (apito ou sinos) para o início. Ele é quem dará o aviso quando faltar duas voltas e mais cinco metros para que o nadador de sua raia termine a prova de 800 ou 1500 metros. Esse sinal deverá ser repetido após a virada até uma distância de 5 metros. 2 Banco de Controle: reunirá os nadadores antes de cada prova. É o membro da equipe de arbitragem responsável por comunicar ao Árbitro Geral qualquer violação relativa à publicidade e caso algum nadador não esteja presente no momento da chamada. 2 Anotador Chefe: é o responsável pela verificação dos resulta- dos impressos pelo computador ou dos resultados dos tempos e ordem de chegada em cada prova, recebidos pelo Árbitro Geral, certificando-se de que ele assine os resultados. Deve ainda con- trolar possíveis desistências após as eliminatórias ou finais e registrar os resultados impressos oficiais, além de listar todos os novos recordes estabelecidos. Ele mantém as pontuações, quando for o caso. 2 Chefe dos Cronometristas: é quem atribui lugares sentados a todos os cronometristas e as raias que serão de sua responsabi- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 98 – lidade. Ele deve recolher, de cada cronometrista, em cada raia, o cartão de nado com os tempos registrados e, se necessário, conferir os cronômetros deles. É ele também quem registrará ou examinará o tempo no cartão de nado de cada raia. 2 Cronometrista: deverá marcar o tempo dos nadadores na raia que lhe for atribuída. Deverá iniciar seu cronômetro ao sinal de partida e pará-lo quando o nadador de sua raia tiver completado a prova. Após a prova, deve registrar os tempos dos seus cronôme- tros no cartão de nado e entregar ao Chefe dos Cronometristas. Ainda no que tange à arbitragem, na natação, acerca do registro de tempo, é importante destacar que os tempos registrados pelo Equipamento Automático de Cronometragem serão usados para determinar o vencedor, todas as classificações e o tempo obtido por cada raia. Ressalta-se ainda que, sendo utilizado um Equipamento Automático de Cronometragem, este terá prioridade sobre a decisão do Cronometrista. Portanto, qualquer aparelho para medição do tempo, utilizado por um juiz, será considerado como cronômetro. Os resultados serão registrados apenas até o 1/100 de segundo, conforme mencionado pela FINA (2018). Atividades 1. Qual é o significado do termo FINA? Qual é a sua função e a sua relevância para natação, enquanto prática de esporte formal? 2. De acordo com a as regras oficiais estabelecidas pela FINA, como é feita a partida para as provas de nado costas e reveza- mento medley? Descreva-as. 3. Qual é a sequência da prova de medley, nas provas individuais e em revezamento? 4. Qual é a função principal do Árbitro Geral? 4 Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático Nadar é algo associado a um momento de liberdade e inde- pendência. De forma geral, esse movimento livre, na água, pro- picia diferentes formas de experimentação não só da liberdade, bem como das potencialidades, além de proporcionar ao indi- víduo que seja vivenciado suas limitações, conhecendo-se a si próprio, de uma forma diferente. No mundo moderno, temos visto um aumento expressivo de pessoas que desfrutam de alguma forma do meio líquido, seja em piscinas e/ou praias, para o banho/lazer, a natação, a prática de esportes aquáticos, ou ainda, o transporte para o ambiente de tra- balho, bem como o deslocamento entre regiões/localidades. Neste sentido, atentar-se para os aspectos que tangem os cuidados acerca do meio líquido fazem-se essenciais, tendo em vista o aumento de casos de acidentes de diferentes tipos neste meio, portanto, tornou- -se fundamental a orientação preventiva,no sentido de evitar o incidente mais grave que pode ocorrer na água, o afogamento. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 100 – Infelizmente, o afogamento é muito mais comum em nosso país do que muitos pensam. Ocorre, em sua maioria, na frente de amigos e familiares que poderiam evitar ou ajudar, mas desconhecem inteiramente como poderiam reagir. O desconhecimento ou a imprudência são, muitas vezes, as causas principais destes incidentes na água e a forma mais eficaz para evitar este tipo de acidente é compreender como pode ser feito o salvamento aquá- tico, conhecido como a técnica de salvamento, que pode ser realizada em rios, lagoas, represas, mar, enchentes, piscinas e outros mananciais de água, visando à prevenção da integridade física de pessoas que se envol- vam em ocorrências em que a água seja o agente causador de acidentes. Neste capítulo, você verá as diferentes técnicas introdutórias ao sal- vamento e ao socorrismo aquático, com o foco específico nas situações ocorridas em piscinas. Além disso, serão apresentado os principais aspec- tos associados à pedagogia do ensino de elementos fundamentais, para que situações de risco/perigo em ambientes aquáticos possam ser evita- das. Quando isso não for possível, será mostrado como o indivíduo pode encontrar soluções para que os problemas decorrentes de tais situações sejam minorizados. 4.1 Aspectos pedagógicos para o ensino da flutuação, respiração e mergulho na natação De modo geral, o processo de ensino e aprendizagem da natação deve permitir que o aluno se movimente de todas as formas possíveis dentro da água, para que conheça os próprios limites e possibilidades e, assim, sinta prazer em nadar. Ao tratarmos do salvamento e socorrismo aquático, é importante ressaltar os objetivos específicos relativos às habilidades aquáticas bási- cas, os quais devem ser trabalhados para que o aluno se sinta à vontade e seguro no meio aquático. Dentre os elementos que mercem destaque estão: a respiração, a flutuação, o controle corporal/equilíbrio, além da propulsão e do relaxamento. O fato é que ao dominar minimamente essas habilidades, conforme descreve Bôscolo et al. (2011), os nados elemen- – 101 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático tares podem ser melhor explorados e estendidos para a natação elementar utilitária, compreenida como uma progressão pedagógica estabelecidas para as práticas de salvamento aquático. Quanto à metodologia adotada no processo de ensino-aprendizagem dos elementos da natação: flutuação, respiração e mergulho na natação, Couto (1990) descreve que o ensino da natação, quando traçado com os métodos da Educação Física, pode ser dividido em: 1 – método parcial – o objetivo deste método é dividir o conteúdo em partes, fazendo com que o aluno aprenda a executar determinadas partes do ensino, como por exemplo, aprender a braçada do nado crawl de forma isolada, por meio de exercícios específicos, cujo foco será este aprendi- zado, sem intergá-la com outros elementos, entretanto, esses aprendizados acabm sendo interligadas, a fim de realizar uma determinada ação. 2 – método global – neste caso, o foco passa a ser na compreensão do ensino simplificado e geral das ações, facilitando a apreensão do con- teúdo, onde o aluno entende a braçada do nado crawl, por exemplo, asso- ciada a um outro gesto que proporcionará sua propulsão em meio líquido, como ocorre no trabalho coordenativo braços-pernas para execução do nado, além da respiração. 3 – método de ensino misto – é classificado desta forma por ser a representação de uma combinação dos métodos parcial e global, sendo que os dois métodos são implantados de forma simultânea. Neste caso, o foco passa a ser na execução do nado em si, fazendo com que o aluno com- preenda os erros e acertos de sua execução, e tome as decisões pertinentes para tal ação de correção, se necessário, onde a intervenção do professor acaba sendo um pouco menor comparado-se aos outros dois métodos. A flutuação é considerado um dos aspectos mais importantes a serem desenolvidos no ensino da natação. Trata-se de um princípio da física des- coberto Um dos aspectos mais importantes a serem por Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.), considerado um dos principais cientistas da Antiguidade Clássica. Essa descoberta ocorreu, de fato, quando ele entrou na água e percebeu que ela aumentava nas laterais da banheira, compreendeu que este aumento em profundidade se devia, sobretudo, ao volume ou massa de seu corpo, que deslocava uma certa quantidade de água. Um descoberta Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 102 – interessante foi a de que á medida que ele afundava mais na banheira, a água deslocava-se mais para cima, até que, repentinamente, ele flutuou e a água parou de se elevar, ou seja, a flutuação, tendo percebido ainda que o peso do volume da água deslocada era igual ao peso do corpo que flutuava nela (MASSAUD, 2004). Bôscolo (et al., 2011) descreve a flutuação/equilíbrio como a capa- cidade de manter o corpo de maneira parcial na superfície da água, em decúbito ventral. Trata-se, portanto, de uma habilidade essencial, primei- ramente, para que se tenha segurança de que não afundará. Em segundo lugar, para garantir a eficiência dos diferentes tipos de nado. Ainda de acordo com os autores, os homens, em geral, têm mais dificuldade em sustentar as pernas e o quadril durante o nado, se comparados às mulhe- res, porque seu ponto de flutuação no nado está localizado na região do tórax, enquanto o das mulheres está localizado no quadril. Isso interfere na manutenção do equilíbrio associado à flutuação em meio aquático. A dife- rença, neste caso, de acordo com Bôscolo (et al., 2011), deve-se à compo- sição corporal - as mulheres têm maior quantidade de gordura nos glúteos, o que favorece a flutuação. Portanto, os homens precisam compensar o déficit, fazendo um bom trabalho de pernas. De toda forma, a partir disto pode-se chegar a um conceito básico de equilíbrio, que é a igualdade entre força de flutuação e peso, dependendo, além da capacidade do indivíduo, de sua densidade corporal. Massaud (2004) descreve que a flutuação e a densidade relativa estão muito relacionadas. Vale ressaltar que o corpo, quando está total ou par- cialmente imerso em um fluido em repouso, experimenta um empuxo de baixo para cima ao volume deslocado, o que permite sua flutuação. Ainda de acordo com Massaud (2004), o empuxo é uma força que atua na direção oposta à da força da gravidade, minimizando a sua ação. É importante compreender na prática que um corpo na água em estado de equilíbrio, deve apresentar suas forças opostas alinhadas em um ponto (metacentro). Logo, caso esses centros não estejam na mesma linha ver- tical, as duas forças que atuam sobre o corpo farão com que ele gire até atingir uma posição de equilíbrio estável. É importante ainda destacar que esse “alívio de peso” do corpo, pois, sentindo-se mais leves, as pessoas se movimentam mais facilmente e sentem menos o peso nas articulações, daí – 103 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático a preferência muitas vezes pela realização de exercícios em meio líquido, como ocorre em piscinas, comparando-se aos ambientes fora d’água. Saiba mais Em relação ao Centro de Gravidade (CG), a física explica as diferenças que ocorre, em termos, entre os homens e as mulheres. Uma das principais explicações para isto está no fato que as mulheres possuem ossos menores e mais delga- dos do que os homens e tendem a apresentar os quadris mais largos, enquanto os homens possuem o tronco mais profundo e os ombros mais largos, em relação às mulheres, bem como, o fato de que as pernas e os pés dos homens serem maiores e mais pesados. Estes aspectos corroboram para que o CG dos homens seja mais ao alto em elação ao seu eixo quando compa- rado ao das mulheres, e isso influencia diretamente, de acordo com Massaud (2004), na flutuação. Em relaçãoao equilíbrio na flutuação, Massaud (2004, p. 24) define- -o como “o estado de um corpo cuja situação de repouso ou movimento permanece inalterada em relação a um sistema de eixos de referência”. De toda forma, na natação, entende-se que o corpo está em equilíbrio quando, ao flutuar em posição dorsal ou ventral, consegue se manter na posição, sem necessitar de auxílio. Massaud (2004) explica que isto ocorre porque o fato de flutuar significa a ação de manter um corpo na superfície de um fluido. Para tanto, este corpo precisa ter uma densidade igual ou superior à unidade. De acordo com Langerdorfer e Bruya (1995) e Massaud (2004), o equilíbrio está associado ao jogo de forças mecânicas (impulsão e peso), que possam afetar a estabilidade do aluno na posição vertical ou horizon- tal (ventral e dorsal) ou na alteração desta (rotações). No que tange os aspectos pedagógicos associados ao ensino da flu- tuação, Farias (1998) e Machado (2006) descrevem que é papel do pro- fessor apresentar aos seus alunos as diversas formas de flutuar na água na horizontal, na vertical e lateralmente, já que isto possibilitará uma melhor posição no meio líquido. Vale destacar ainda que, durante o ensino de Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 104 – como flutuar, o importante é mostrar aos alunos que o relaxamento no meio líquido é fator de suma importância, pois só é possível flutuar, natu- ralmente, a partir do momento em que o corpo esteja relaxado. Farias (1988) elenca alguns aspectos fundamentais para que seja tra- balhada a flutuação, no que tange às orientações do professor aos alunos, durante as aulas: primeiramente, demonstrar como deve ficar o corpo na posição horizontal, dentro da água (braços abertos, pernas levemente afas- tadas e em decúbito dorsal, isto é, de barriga para cima). O autor destaca que o relaxamento é a chave da flutuação. Portanto, caso alguns alunos não consigam flutuar, segure seus pés ou coloque flu- tuadores nas pernas; isto facilitará muito suas tarefas de ensinar a flutuar. Um aspecto importante é a execução desta atividade em uma profundi- dade inicial, na qual o aluno se sinta seguro dentro da água. Veja, a seguir, conforme descreve Farias (1988, p. 22), algumas considerações acerca das orientações e/ou exercícios que podem ser desenvolvidos, no intuito de trabalhar, de forma segura e eficaz, este aspecto (da flutuação) com os alunos: 2 Amarre uma corda de uma extremidade a outra da piscina, no nível da água. Neste sentido, oriente os alunos para que colo- quem os pés sobre a corda, tentando relaxar e flutuar de costas. O corpo permanecerá estendido; 2 Oriente a todos para que respirem o mais normalmente possível, facilitando o relaxamento; 2 Dois a dois, um segura nos pés do outro, arrastando o compa- nheiro em decúbito dorsal, pela piscina; 2 Oriente os alunos para que tentem flutuar em decúbito dorsal, sem movimento das pernas ou braços; 2 Após ter conseguido mostrar a flutuação horizontal de costas, você deve mostrar a flutuação ventral, sendo importante utilizar os mesmos exercícios para a flutuação dorsal; 2 Dentro da flutuação, você deve ensinar a flutuação vertical e flutuação lateral; – 105 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático 2 Perguntar quem consegue flutuar somente com as mãos em movimento, na posição de pé. Ainda de acordo com Farias (1988), é fundamental que o professor mostre aos alunos como deve ser a flutuação vertical aparente (a movi- mentação das pernas, alternadamente de cima para baixo e de baixo para cima, como se estivesse pedalando em uma bicicleta). Além do mais, os movimentos dos braços, em círculos horizontais, alternados ou simulta- neamente, exercem uma importância dentro do processo, também, faci- litando a posição de estabilidade do corpo, quando em flutuação. Após o trabalho de flutuação vertical e horizontal, é fundamental que o professor introduza a flutuação lateral, procurando utilizar exercícios que possibi- litem aos alunos a sensação de como devem flutuar, do lado esquerdo e direito. Outro aspecto importante a destacar é que as aulas de flutuação devem ser feitas com um trabalho de respiração frontal, possibilitando melhor relaxamento. Já a imersão é a colocação do aluno abaixo da super- fície da água, com bloqueio respiratório, conforme descreve Farias (1988). O autor enfatiza que este trabalho é essencial, pois dará ao aluno noção de flutuação, totalmente imerso no meio líquido. Para tal, é inte- ressante utilizar, como estratégia, exercícios e/ou atividades baseadas no trabalho da respiração, conforme preconiza Farias (1998, p. 22): 2 Dentro da piscina, prender o ar e tentar flutuar, colocando o corpo dentro da água; 2 Inspirar, prender o ar afundando, tentar ficar de cócoras den- tro da água; 2 Instrua os alunos para que inspirem o ar, afundem aos poucos, tentando flutuar (pergunte o que aconteceu); 2 Diga aos alunos para inspirarem, prenderem o ar, afundarem e soltarem todo o ar, permanecendo um pouco imersos (pergunte o que aconteceu). 4.1.1 Respiração Catteau e Garoff (1990) mencionam que a respiração em meio líquido possui características diferentes da respiração na terra. Lembrando que Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 106 – três constantes diferenciam o meio aquático do meio terrestre: equilíbrio, respiração e propulsão. Por isso, em meio aquático, surge a necessidade de transformação desta respiração, da passagem de uma forma para outra. Esta deve ser bastante treinada, já que é elemento fundamental em qual- quer etapa do aprendizado e desenvolvimento, sobretudo da natação. De acordo com Machado (2006), na iniciação da aprendizagem da natação, a respiração é o ponto crucial da aprendizagem, pois sua correta execução possibilitará um avanço mais rápido em termos da aprendizagem do nadar. Em condições habituais, a respiração em meio líquido é tal, que na água, a expiração se torna ativa e a inspiração se torna reflexa. Isto signi- fica a capacidade de criar-se um automatismo respiratório, fundamental- mente oposto ao automatismo inato (CATTEAU; GAROFF, 1990). De certa forma, este novo automatismo se aprende progressivamente, ao fim de períodos durante os quais as trocas respiratórias dependerão de um comando voluntário, que pode ser treinado por meio de exercícios especí- ficos, conforme destaca Machado (2006). Ainda relacionado à respiração, Catteau; Garoff (1990) destacam que, em meio líquido, a inspiração só é possível no momento da emer- são das vias respiratórias, sendo que esta é tanto mais breve quanto mais elevada acaba sendo a cadência dos movimentos dos braços. Em geral, é importante atentar-se ao fato de que apenas a abertura da boca pode per- mitir que muitos litros de ar possam ser absorvidos em algumas frações de segundo, desde que seja feito um trabalho coordenado. A expiração não traz problemas, pois ela se ajusta à imersão dos orifícios respiratórios, porém, o débito respiratório tem limites. Na prática, quanto mais rapida- mente o indivíduo nada, maior é a sua necessidade de oxigênio, tendo, contudo, cada vez menos possibilidades de absorvê-lo, uma vez que a duração de emergência das vias respiratórias varia em sentido contrário ao da frequência de rotação dos braços (MASSAUD, 2004). Em termos fisiológicos, Catteau e Garoff (1990) e Machado (2006) destacam que a respiração mais adequada é a chamada diafragmática, na qual a inspiração será feita durante o tempo em que os braços tenham um mínimo de apoio sobre a caixa torácica. Com efeito, os músculos motores dos braços são peritorácicos. Para conseguir um máximo de potência, a – 107 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático caixa torácica deve fornecer um ponto de apoio sólido a eles, condição efetuada em bloqueio inspiratório. Os seres humanos por possuírem a capacidade de interromper momen- taneamente as trocas respiratórias, seja durante a inspiração ou durante a expiração, graças a umduplo comando, automático e voluntário, podem controlar essas trocas respiratórias, processo fisiológico conhecido como apneia. Conforme descreve Farias (1988), a apneia serve como um meio de defesa ou de transição. É uma preliminar, que deve ser explorada e ultrapas- sada. O desenvolvimento desejável das possibilidades de apneia deve alterar não apenas o obstáculo da representação errônea, mas, também, o obstáculo afetivo, o da emoção suscitada por toda situação nova, que desencadeia uma atitude de expectativa quanto à relação (MASSAUD, 2004). Farias (1988) destaca que, no processo de ensino da respiração em meio líquido, a maior preocupação deve ser no ato de inspirar, pois a expiração é mais fácil de ser aprendida. Durante o ensino da respiração aquática, o autor destaca que os alunos devem ser orientados para que inspirem pela boca, em forma de “O”, e expirem pelo nariz ou pela boca, sendo a maneira mais fácil de fazê-lo, soltando o ar pelo nariz. Um aspecto que deve ser considerado, nesse processo de ensino-aprendizagem, é que o aluno é quem deve achar a sua melhor maneira de respirar no meio líquido, ou seja, usar a maneira mais confortável. Neste caso, não está sendo abordada a natação competitiva, pois a situação seria invertida, haja vista que a respiração adquire um aspecto bem diferente da elementar/ utilitária, por exemplo. Cabe ao professor orientar sempre os seus alunos, apresentando-lhes exercícios específicos, que estimulem essa condição em meio líquido, uma condição a que muitos não estão adaptados. Farias (1988) dá algu- mas sugestões ao professor, para o ensino da respiração em uma piscina rasa ou funda: Em piscina rasa, cabe ao professor: 2 mostrar, fora da água, o mecanismo da respiração (inspirar pela boca em forma de «O» e expirar pelo nariz); 2 verificar se todos estão realizando; corrija os possíveis erros; Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 108 – 2 e ainda, se possível, trazer uma bacia para a aula. Enchendo-a de água, e em seguida, colocando-a em cima de um banco ou cadeira e faça com que todos executem a respiração aquática várias vezes. Com água até os ombros, puxar o ar pela boca e soltar pelo nariz lentamente, com o rosto fora da água; 2 um outro exercício proposto, a ser executado dentro da água, com o tronco flexionado à frente, inspirar o ar pela boca e soltar pelo nariz, com o rosto dentro da água, conforme mostrado na Figura 4.1; Figura 4.1 – Exemplo de atividade para o ensino da respiração aquática, em piscina rasa Fonte: Atlan Coelho. 2 dentro da água, de pé, puxar o ar pela boca, flexionar as pernas afundando e soltar o ar, prendendo no final da expiração; 2 dentro da água, executar a gangorra; 2 individualmente, inspirar, prender o ar, sentar no fundo da pis- cina, colocando a cabeça dentro da água e soltar o ar lentamente; 2 segurar na borda da piscina, inspirar, prender o ar, afundar, soltar o ar depois de breve bloqueio (Figura 4.2); – 109 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático Figura 4.2 – Exemplo de atividade para o ensino da respiração aquática Fonte: Atlan Coelho. 2 realizar respiração lateral (lado esquerdo e direito); 2 mãos nos joelhos, com o tronco flexionado, realizando respira- ção bilateral. Farias (1988) aponta que é muito importante, ao ensinar a respiração bilateral na natação, enfatizar aos iniciantes a necessidade de um maior direcionamento de cuidado à noção da cadência/frequência respiratória e, ainda, uma melhor comodidade na respiração. Cabe ao professor, portanto, estar sempre vigilante e corrigir os possíveis erros, pois a respiração má executada é um obstáculo nas fases de aprendizagem de qualquer estilo de nado na natação ou ainda nos processos de socorro e salvamento aquático. Essa má execução pode comprometer todo o processo, dificultando um possível salvamento, por exemplo, uma vez que a respiração, quando não bem executada, demanda um elevado dispêndio energético, promovendo o cansaço e a fadiga mais rapidamente. A seguir, você verá as recomendações para trabalhar a respiração em piscinas fundas, de acordo com Farias (1988): Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 110 – Em piscina funda, cabe ao professor propor alguns deste exercícios: 2 em primeiro lugar, a realização de atividades de respirar, segu- rando na borda; 2 exercícios que podem ser feitos com o auxílio da borda (segu- rando-a): (a) inspirar pela boca e soltar o ar pelo nariz, próximo da água; (b) com as duas mãos, braços estendidos, realizar res- piração lateral; (c) inspirar, prender o ar, colocar o rosto na água e expirar lentamente pelo nariz; (d) inspirar pela boca, afundar o máximo e soltar o ar pelo nariz; 2 após estender uma corda sobre a piscina, oriente os alunos para que a segurem, inspirem, prendam o ar, afundem e soltem o ar após ter tocado o pé no fundo. Ainda de acordo com Farias (1988), tratando-se de uma piscina em que os alunos não possam ficar de pé, cabe ao professor ter a atenção redo- brada ao propor as atividades, para que não tenham experiências negati- vas, que prejudiquem a aprendizagem. Dependendo da idade dos alunos, pedir para que conservem um pouco de ar para soltar durante a subida. No que tange às adaptações que podem ser feitas, o professor pode utilizar a execução das atividades em piscinas rasas para as de maior pro- fundidade, mas sempre com muito cuidado. O tempo dedicado em cada atividade ou fase deve ser proporcional ao rendimento dos alunos. Neste caso, Farias (1988) ressalta que é interessante buscar incrementar novas atividades sempre, pois são estas que possibilitarão uma melhor adaptação à respiração aquática. Ao passar para a fase seguinte, é fundamental veri- ficar a condição da maioria dos alunos, se estão ou não conseguindo rea- lizar a respiração aquática. Caso alguns ainda não estejam conseguindo, o professor deve repetir algumas das atividades da respiração nas fases seguintes, com o intuito de fixar, melhorar e ensinar novamente. 4.1.2 Mergulho Como parte do ensino da natação, deve-se inserir atividades que pos- sam fazer com que os alunos mergulhem da borda da piscina, de uma forma simples. Isto se chama “mergulhos elementares”, conforme des- – 111 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático creve Farias (1988). De acordo com Langendorfer e Bruya (1995), é importante ressaltar que existem diversos aspectos relacionados à segu- rança dos alunos, os quais o professor deve considerar. Palmer (1990) destaca que os alunos devem ser orientados no sen- tido de atentarem à segurança antes, durante e após o mergulho. Segundo o autor, uma das questões mais importantes se refere à profundidade da piscina, pois o aluno, entrando na água sem nenhuma resistência e quase que verticalmente a uma velocidade, aproximada, de 15 km/h, fará uma trajetória descendente muito veloz, em direção ao fundo da piscina de dois metros de profundidade, por exemplo. Em adição, Palmer (1990) enfatiza que, em casos de a direção do deslizamento submerso se manter inalterada, o nadador baterá no fundo da piscina. Isto não é comum, mas o professor deve se certificar de que o aluno estará na posição correta para o mergulho, ou seja, com braços estendidos acima da cabeça, firmando-se entre eles, a fim de protegê- -la. Deve, ainda, ter atenção quanto à posição de saída, se está adequada, garantindo o equilíbrio e a segurança do indivíduo. De forma global, Farias (1988) descreve que, na realização de ativi- dades para o ensino dos mergulhos, o primordial é mostrar aos alunos os vários tipos de mergulhos que possam ser feitos de uma borda para a água. A seguir, será apresentada uma sequência de atividades/exercícios, que podem ser realizados no intuito de desenvolver as técnicas de mergulhos, baseados na proposta apresentada por Farias (1988, p. 26). 2 Inicialmente, coloque os alunos sentados na borda da piscina. Ins- trua-os a colocar os braços estendidos acima da cabeça,mãos uni- das e a irem caindo para frente, lentamente (repetir várias vezes); 2 Orientar os alunos para que fiquem com as pernas levemente afastadas (largura dos ombros), tronco flexionado, braços acima da cabeça, mãos unidas, flexionar as pernas e cair lentamente na água, tentando cair, primeiramente, com as mãos sobre a água (a cabeça permanece entre os braços); 2 Tendo como base a posição anterior, tentar mergulhar com as pernas mais estendidas, procurando entrar primeiramente com as mãos na água; Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 112 – 2 De pé na borda da piscina, pés naturalmente afastados, braços ao lado do corpo, tentar mergulhar desequilibrando-se e, antes de tirar os pés da borda, colocar os braços acima da cabeça, mãos unidas, furando a água, conforme mostra a Figura 4.3. Figura 4.3 – Exemplo de mergulho, partindo da borda da piscina, da posição em pé Fonte: Atlan Coelho. Para refletir... Um aspecto fundamental a ser colocado em prática por qual- quer indivíiduo ao deparar-se com o meio líquido são os risco de acidentes que podem ocorrer, ao mergulhar em piscinas, rios ou cachoeiras, influenciado em sua grande maioria das vezes pela forma com que as pessoas entram na água. Dados estatísicos mostram que nove em cada dez pessoas que sofre- ram acidente por mergulho ficaram tetraplégicas, sendo que a maioria é do sexo masculino. Um aspecto básico a considerar é a profundidade suficiente d’água para tal ação, caso contrário o risco de acidente grave/fatal torna-se elevado. Na prevenção de acidentes ao mergulhar, deve-se atentar para os mergulhos de “ponta”, em que a pessoa afunda muito rapidamente e, mesmo que esteja de braços abertos, não garante que não vá bater – 113 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático a cabeça. Os saltos de pontes, árvores, barrancos ou pedras aumentam o risco de acidentes: quanto maior a altura do local de onde a pessoa saltar, maior será a força do choque contra algum obstáculo embaixo da água. Por fim, deve-se verificar sempre a profundidade do local do mergulho: nunca confie no local em que vai mergulhar, mesmo que já o tenha frequentado muitas vezes. Vale ressaltar que o nível da água e o fundo do local mudam sempre. Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde – Ministério da Saúde. Acidentes por mergulho. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/dicas-em- -saude/2186-acidentes-por-mergulho. Acesso em: 08 jun. 2021. 4.2 Técnicas de salvamento em piscinas Antes de apresentarmos, de fato, as técnicas de salvamento em meio aquático, no caso específico, em piscinas, é necessário contextualizar a natação em seus diferentes níveis, conforme descreve Fernandes e Da Costa (2006). Neste sentido, temos, de acordo com os autores, a natação subdividida em três níveis diferentes: 1) a natação elementar utilitária; 2) a natação esportiva formal; 3) a natação esportiva competitiva. A nata- ção elementar utilitária envolve todos os processos iniciais da modalidade (movimentos básicos, adaptações, segurança, formas de autossalvamento e de salvamento de demais, etc.), seguida pela progressão para a prática formal competitiva do esporte e, se for o desejo do indivíduo, pela evolu- ção à prática competitiva. O foco das técnicas apresentadas será centrado na natação elementar utilitária, a qual está intimamente ligada aos socorros e salvamentos em meio aquático. De acordo com Guaiano (2004), a natação elementar utilitária é defi- nida como a utilização de estilos alternativos da natação para a autosso- brevivência e o autossalvamento, bem como para o salvamento de demais indivíduos, de afogamentos. Os estilos de nados elementares utilitários mais conhecidos são os seguintes; Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 114 – 2 costas elementar – é um estilo de nado relaxante, que consiste na realização de movimentos leves, tanto para membros superio- res quanto inferiores e não requer muitas técnicas específicas para realizar os movimentos ou respirar. Para a respiração, a cabeça fica livre, sem imersão na água. É utilizado para salvamentos ou, sim- plesmente, para relaxar e descontrair. Ainda, é uma ótima opção para quem está iniciando no esporte. Para a realização do nado costas elementar, o indivíduo deve boiar de costas e impulsionar os braços para trás, sustentando a parte inferior do corpo com a pernada invertida do nado de peito e, assim, criar propulsão. 2 nado lateral – nesse nado, os movimentos são realizados de maneira mais frequente, então ele demanda mais esforço mus- cular. Começa com a flutuação de lado, seguida por posicio- nar o braço (que está na situação inferior) para dentro da água, enquanto o outro braço (em situação superior) impulsiona o corpo para frente. As pernas realizam batidas em tesoura. Além de servir para recreação, é utilizado em situações de salvamento e resgate aquático. 2 peito submerso – esse nado se assemelha ao nado de peito, mas sem a realização da respiração a cada braçada (regra do nado peito), podendo ser executado abaixo do nível da água. É muito utilizado em águas agitadas, mas é importante salientar que necessita do domínio do controle da respiração. 2 cachorrinho – estilo de nado fácil, muito utilizado na infância e por indivíduos que não dominam o ato de nadar. Para realizá-lo, é necessário manter a cabeça para fora da água e as mãos à frente do corpo, em formato de concha, para buscar impulsão na água. Membros inferiores, então, devem bater rapidamente, de forma sincronizada e alternada. 2 parafuso – esse nado demanda maior esforço corporal e algum conhecimento dos nados tradicionais, pois consiste em nadar girando, alternando uma braçada de crawl com uma braçada de costas. É executado em pequenas distâncias, girando para lados alternados, a fim de evitar tonturas. – 115 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático 2 polo – consiste em deslocar-se para frente, batendo membros inferiores e superiores de maneira descoordenada, suspendendo a cabeça para fora da água. Para isso, deve-se manter a cabeça parada e olhar sempre para frente. Não se deve rotacionar o pes- coço para respirar. A pernada deve ser constante e forte para evi- tar que o corpo afunde. Os nados de sobrevivência são a base da aprendizagem da natação, uma vez que contemplam a adaptação do aluno em meio aquático, necessária antes de trabalhar nados com enfoque em desempenho e competições. Antes de usufruir do meio aquático, é necessário, como vimos ao longo do capítulo, adquirir e desenvolver algumas habilidades básicas, que capacitem o indivíduo a permanecer e a se locomover dentro da água. Se todos aqueles que se aventuram no meio recebessem treinamento ade- quado, certamente, o número de afogamentos seria muito menor. Assim, saber nadar é a maior medida de prevenção de acidentes em meio aquá- tico: “Nadar é muito mais que um esporte: significa ter maiores opções de lazer, condições de se defender em meio aquático e auxiliar na preserva- ção da vida de outras pessoas” (SANTANA et al., 2003, p. 17). De acordo com Guaiano (2004), em casos de emergência, técnicas de salvamento aquático/natação elementar podem ser aplicadas, no intuito de salvar de afogamentos que ocorrem em lagoas, mares, enchentes, piscinas e demais pontos aquáticos. No processo de ensino e aprendizagem da natação elementar utilitária, é interessante realizar algumas ações voltadas para os movimentos que devem ser executados para um salvamento em segurança (SANTANA, et al., 2003). 1. Aproximação: ato de nadar com a cabeça para fora da água, sem- pre mantendo a vítima no campo visual (caso ela afunde, para saber o local onde estava). A aproximação deve ser realizada pelas costas para que, devido ao seu desespero, a vítima não agarre o socorrista. 2. Desvencilhamento: se agarrado, o socorrista precisará libertar-se da vítima para socorrê-la. Existem diferentes técnicas para realizar o des- vencilhamento e a aplicaçãode uma ou de outra depende do contexto da emergência. Seja como for, deve-se sempre evitar que a vítima agarre o Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 116 – socorrista, pois isso dificulta ou até mesmo impossibilita o salvamento, muitas vezes, colocando ambas as vidas em perigo. 3. Transporte: trata-se do deslocamento seguro da vítima até a mar- gem, com nado, como o reboque (nado lateral), com ou sem instrumentos de socorro (cesto, prancha, etc.). 4. Primeiros socorros: consiste na retirada da vítima do meio aquá- tico e em seu atendimento emergencial até a chegada de serviço médico. No resgate profissional, o fornecimento de oxigênio às vítimas de afoga- mento, sobretudo nos primeiros momentos do socorro, garante maiores chances de sobrevida, visto que, nas circunstâncias de afogamento, são desencadeados quadros de hipóxia/anóxia, que se agravam conforme os graus de afogamento. Em relação às diretrizes da AHA – American Heart Association – (2010) para RCP – Ressuscitação Cardiopulmonar – e ACE – Atendimento Cardiovascular de Emergência –, vale ressaltar a importância da RCP em casos de afogamento, por exemplo, bem como estar atento às recomenda- ções das diretrizes mais importantes ou controversas, ou que resultem em mudanças na prática ou no treinamento da ressuscitação, dada a necessi- dade de uma RCP de alta qualidade. De acordo com as diretrizes estabelecidas pela AHA (2010, docu- mento online), uma RCP de alta qualidade inclui: 2 Frequência de compressão mínima de 100/minuto (ao invés de, “aproximadamente”, 100/minuto, como era antes). 2 Profundidade de compressão mínima de 2 polegadas (5 cm), em adultos, e de, no mínimo, um terço do diâmetro anteroposterior do tórax, em bebês e crianças (aproximadamente, 1,5 polegada [4 cm] em bebês e 2 polegadas [5 cm] em crianças). Observe que a faixa de 1½ a 2 polegadas não é mais usada para adultos e a profundidade absoluta especificada para crianças e bebês é maior do que nas versões anteriores das Diretrizes da AHA, para RCP e ACE. 2 Retorno total do tórax após cada compressão. 2 Minimização das interrupções nas compressões torácicas. – 117 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático 2 Evitar excesso de ventilação. Destaca-se, ainda, a alteração de A-B-C para C-A-B, de acordo com as Diretrizes da AHA (2010) para RCP e ACE, as quais recomendam uma alteração na sequência de procedimentos de SBV de A-B-C (via aérea, respiração, compressões torácicas) para C-A-B (compressões torácicas, via aérea, respiração) em adultos, crianças e bebês (excluindo-se recém- -nascidos). Essa alteração fundamental na sequência de RCP exigirá novo treinamento de todos os já treinados em RCP, mas o consenso entre os autores das Diretrizes de 2010 da AHA e os especialistas é de que o bene- fício valerá o esforço. Saiba mais Um dos equipamentos mais utilizados para a RCP é o Desfi- brilador Externo Automático (DEA). Trata-se de um equipa- mento eletrônico, portátil, que identifica precisamente se existe uma parada cardíaca ou fibrilação ventricular. Por meio de um choque controlado, tenta reverter o quadro de parada cardíaca ou fibrilação ventricular (FV). Para cada minuto que o socorro demora, a chance de reversão da parada cardiorrespiratória reduz em 10%. Após 5 minutos de ausência de oxigenação, já existem prováveis danos significativos do cérebro; portanto, após 10 minutos, as chances para reversão são próximas de zero. Acesse o link a seguir e veja, de forma prática, os procedimentos operacionais do DEA. https://www.youtube.com/watch?v=8uWFu-4bZP8. Em adição, o Manual de Salvamento Aquático (MSAq – PMESP/ CCB, 2006) destaca que as técnicas de salvamento abrangem todas as medidas necessárias para se prover a segurança de banhistas, de modo a se evitar afogamentos, sendo que este manual é destinado a situações de riscos, em diferentes ambientes aquáticos, como: mares, rios, lagos, cachoeiras, além, é claro, das piscinas. Primeiramente, é necessário observar a prevenção dos afogamentos, a qual abrange todas as medidas necessárias para se prover a segurança de Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 118 – banhistas, de modo a se evitar afogamentos. De acordo com o MSAq (2006), uma adequada prevenção de afogamentos se faz por meio de sinalização e orientação, treinamento, observação dos banhistas, emprego de equipamen- tos adequados, advertências e campanhas educativas e de esclarecimento. Rodrigues (2012) menciona a introdução de uma bateria de exer- cícios relacionados com as “técnicas introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático” nos programas de natação, desde as primeiras fases da aprendizagem, sendo que estes exercícios deverão ser introduzidos e controlados pelo professor/treinador, ao longo do processo de ensino- -aprendizagem, em progressão de dificuldade e complexidade crescentes, nos vários níveis de formação do nadador, desde a iniciação à competição ou na natação de manutenção, para todas as faixas etárias. De forma global, Rodrigues (2012) defende que o objetivo da nata- ção utilitária integrada nos programas do ensino da natação apresenta uma vasta e importante aceitação por parte de muitas instituições e autores conceituados na área da natação, em nível internacional, nomeadamente na França, Suíça, Canada, Bélgica, Austrália e EUA. Por outro lado, nos países da América do Sul, em particular no Brasil, ainda há uma carên- cia deste aprendizado nas escolas especializadas, cujo foco, muitas vezes, acaba sendo direcionado à natação como formação/competição. É importante ressaltar que os elementos/habilidades desenvolvidos por meio da natação utilitária são integrados nos programas de natação desde as primeiras fases de aprendizagem, de forma progressiva e adap- tada ao longo do processo de ensino-aprendizagem, durante as várias eta- pas da formação do nadador. 2 Desta forma, Rodrigues (2012) cita que, nestes programas de natação, alguns elementos específicos da natação de salvamento e socorrismo aquático devem se fazer presentes algumas técni- cas e habilidades necessárias para o salvamento, dentre as quais destacam-se as seguintes: técnicas utilitárias de nado: “costas elementar”; “side stroke”; “lifesaving stroke”; saltar de pé para a água, de 2 a mais metros de altura; algumas técnicas e habili- dades específicas, treinadas com o intuito de promover a auto- confiança e a autossegurança em meio líquido; as técnicas de – 119 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático socorrismo para os não nadadores; além do desenvolvimento do que chama o autor de, “natação endurance”, onde se utiliza não somente as técnicas desportivas convencionais, mas tam- bém as técnicas propulsivas utilitárias; técnicas de reboque são bem-vindas; bem como ações que envolvam o deslocamento em água, nadando vestido, tendo que despir-se dentro de água; um outro elemento a considerar é a natação subaquática – ir buscar um objeto/manequim a dois ou mais metros de profundidade; e por fim, o autor ressalta a importância de desenvovler-se as noções teóricas e práticas de primeiros socorros, nomeadamente a observação e instalação da vítima, posição de segurança, res- suscitação cardiorrespiratória. Destaque Os links de vídeos disponibilizados aqui permitirão que você compreenda, de forma mais clara, como proceder em situações de recuperação de afogados. Há, ainda, a demonstração de algu- mas técnicas que podem ser utilizadas em salvamento aquático. Links ilustrativos: https://www.youtube.com/watch?v=n2APtX_RFj8 https://www.youtube.com/watch?v=LmyeXhh8kJU 4.2.1 Operações em Salvamento Aquático De acordo com o MSAq (2006), mesmo com a prevenção adequada, as pessoas, por negligência, imprudência, imperícia ou por más condições físicas e mal súbito podem sofrer paradas cardíacas e respiratórias, des- maios e cãibras ou, ainda, em razão de acidentes com barcos, podem se encontrar em situações de perigo, detal maneira que, se não forem pron- tamente socorridas, poderão se afogar. O fato é que, quando menos se espera, a vítima entra em pânico, debatendo-se na superfície, de forma quase incontrolável e, por causa do Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 120 – instinto de conservação, segura-se com todas as suas forças em qualquer pessoa ou objeto que apareça ao seu alcance. É importante compreender que, em determinadas situações, quem não estiver treinado para esse tipo de salvamento, ao se aproximar da vítima em desespero, será agarrado por ela e, provavelmente, morrerá. Nesses casos, antes de entrar na água, o socorrista deve diligenciar para que outras pessoas possam auxiliá-lo. De forma global, é fundamental que o socorrista observe a vítima. Caso esta esteja em desespero, debatendo-se na superfície, o socorrista dificilmente poderá acalmá-la de imediato. Sendo assim, há necessi- dade do emprego de técnicas especiais para o salvamento, como as que serão detalhadas a seguir, retiradas do Manual de Salvamento Aquá- tico, elaborado pelo Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em 2006. Basicamente, o socorrista procurará sempre se aproximar da vítima e agarrá-la pelas costas. Há, porém, situações imprevistas, em que, a des- peito do socorrista haver mergulhado com o objetivo de emergir, girando a vítima para apanhá-la de costas, esta poderá virar-se e agarrá-lo de diver- sas formas, conforme descrito no MSAq (2006). Independente do caso, é fundamental que o socorrista conheça as téc- nicas de desvencilhamento na água, para dominar a vítima, isto é, saiba como funciona o judô aquático. Nos casos em que a vítima se encontra em desespero e já prestes a se afogar, quando, provavelmente, já aspi- rou muita água, a aplicação dos primeiros socorros é a providência mais urgente, podendo o socorrista iniciá-la já no transporte para a margem ou, nos casos de afogamento em piscinas, para fora da água. Dependendo do caso, deve ser feita a retirada da água engolida, aplicando-se a reanimação cardiorrespiratória, com o encaminhamento da vítima até o hospital, para exames posteriores. 4.2.2 Procedimentos com vítimas em afogamento Em relação aos procedimentos a serem adotados em casos de afoga- mento, vale ressaltar a importância da ação do socorrista, figura central – 121 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático deste processo, já que o socorro imediato será conduzido por ele. Portanto, algumas medidas básicas iniciais devem ser tomadas, nestes casos. Em afogamentos, o mais comum é a função respiratória ficar prejudi- cada, devido à entrada de água pelo nariz e boca. Portanto, caso não haja o socorro/resgate imediato, pode ocorrer a obstrução das vias respiratórias e, consequentemente, um acúmulo de água nos pulmões, colocando a vida desta vítima em risco. Em relação à manobra de aproximação à vítima, que ainda está na vertical e se debatendo na superfície, faz-se necessário, de acordo com o MASq (2006), que o socorrista/bombeiro nade até a vítima com a cabeça para fora da água, mantendo-a no campo de sua visão. Ao chegar perto, deve mergulhar, a fim de evitar que a vítima venha agarrá-lo. Após o mer- gulho, o socorrista/bombeiro deve colocar as mãos por cima dos joelhos da vítima, uma pela frente e outra por trás das coxas, virá-la, deixando-a de costas para si e, assim, rebocá-la. A Figura 4.4 mostra os procedimentos a serem tomados em casos de realização da manobra de aproximação. Figura 4.4 – Manobra de aproximação Fonte: Atlan Coelho. Feita a aproximação, o próximo passo se concentra na técnica ade- quada, aplicada pelo socorrista, não só para a retirada da vítima da água, como também para o seu correto e efetivo transporte até um local seguro, em que esta vítima de afogamento receberá os atendimentos especializados, feitos pela equipe médica ou de urgência, como pode ser visto na Figura 4.5 (a, b). Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 122 – Figura 4.5 – Manobra de retirada de vítima em piscinas (a); Transporte de vítima (b) (a) (b) Fonte: Atlan Coelho. De toda forma, algumas medidas podem ser feitas para salvar uma pessoa que esteja se afogando, sendo que é necessário, primeiramente, garantir a própria segurança e verificar se o local não oferece riscos ao socorrista. Caso alguma pessoa esteja se afogando, o MSAq (2006) reco- menda a importância de verificar-se alguns aspectos em geral, a saber: 1 – Observar se a pessoa em afogamento está com os braços estendi- dos, lutando para não ficar debaixo da água, pois, esta ação pode muitas vezes, por causa do desespero, impedir a pessoa de conseguir gritar ou chamar por ajuda; 2 – Sempre que possível, solicitar auxilio de uma outra pessoa que esteja próxima ao local, para que ambas possam seguir com o socorro; 3 – Faz-se necessário, ligar imediatamente para a ambulância dos bom- beiros, no 193; bem como informar, sempre que possível o SAMU, no 192; 4 – Fornecer algum material flutuante para a pessoa que esteja se afogando, podendo ser improvisado, como por exemplo, com auxílio de garrafas de plástico, pranchas de surf e materiais de isopor ou de espumas; 5 – Tentar realizar o socorro sem entrar na água. Caso a pessoa se encon- tre a menos de 4 metros de distância, é possível estender um galho ou cabo de vassoura. Entretanto, se a vítima estiver entre 4 e 10 metros de distância, pode-se jogar uma boia com uma corda, segurando na extremidade oposta; – 123 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático 6 – É imprescindível, que além do conhecimento básico de noções de primeiros socorros, os salvamentos em meio líquido possuem uma carac- terística própria, e o salvamento deve ser executado somente por pessoas que saibam nadar; 7 – Caso a pessoa seja retirada da água, deve-se verificar em primeiro lugar sua respiração, observando os movimentos do tórax, ouvindo o som do ar saindo pelo nariz e sentindo o ar que sai pelo nariz. Saiba mais Caso a pessoa não esteja respirando, é um mau sinal. Significa que ficou muito tempo submersa e que pode apresentar hipo- xemia, quando a pele fica arroxeada, havendo perda de consci- ência, levando a uma parada cardiorrespiratória. Nestes casos, antes da equipe de socorro especializada chegar no local, é pre- ciso iniciar a massagem cardíaca, para manter o sangue circu- lando no corpo e aumentar as chances de sobrevivência. Fonte: MSAq (2006). 4.3 Exercícios básicos de natação, salvamento e socorrismo aquático em piscinas Rodrigues (2012) descreve que as situações de aprendizagem devem ter uma lógica, indo ao encontro dos comportamentos procura- dos – devem ser adaptadas às competências que se pretendem desen- volver, enquadrando-se no tema da aula: explicitando os objetivos, a sua organização, os conselhos ou instruções a dar aos alunos (sejam de ordem didática/técnica ou referentes à segurança), os critérios de êxito, as “remediações” previstas em função dos comportamentos e das difi- culdades dos alunos em geral. Neste sentido, o autor sugere alguns exemplos de exercícios bási- cos de natação de salvamento e socorrismo aquático, a partir dos 5 anos de idade, em que se deve observar os seguintes aspectos: 1) a utilização Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 124 – de material auxiliar de salvamento mais comum – toalhas, varas, pran- chas, “macarrões”, bolas, garrafas de plástico com rolha, etc.; 2) elaborar estratégias de autocontrole em situações de perigo, tanto pessoal como de outras pessoas; 3) ter noção do espaço subaquático, agindo com os olhos abertos e sem óculos de natação, controlando a apneia e realizando a “Manobra de Valsalva”, aplicada ao mergulho, sempre que possível; 4) experimentar situações diversas de salvamento em grupo, como por exem- plo: “correntes humanas”, com e sem material de salvamento; 5) E por fim, aprender técnicas específicas da natação de salvamento: mergulho à pato, natação subaquática, flutuação dorsal,flutuação vertical, flutuação em posição fetal, pernas de bruços em equilíbrio dorsal, salto de pé sem submergir a cabeça, técnica de costas com braços simultâneos, torna-se essencial para o processo (RODRIGUES, 2012). Ainda de acordo com Rodrigues (2012), dos 5 aos 13-14 anos, os alunos ainda não estão preparados para salvar, individualmente, pessoas sem material de salvamento auxiliar, devendo aprender a evitar, a todo o custo, o contato pessoal com a “vítima”. É importante destacar ainda que alguns destes exercícios e técnicas mais avançadas poderão ser utilizados por adultos, também. Neste sentido, os exercícios que serão apresentados a seguir foram retirados de Rodrigues (2012). Entretanto, o professor/treinadores têm total liberdade para modificá-los, incrementando-os, desde que seja pertinente à proposta em geral, à faixa etária, às condições do ambiente e do socor- rista. Deve-se levar em consideração o tipo de material(ais) de suporte que o socorrista terá ao seu alcance, no momento deste salvamento. Rodrigues (2012) destaca que todos os exercícios apresentados a seguir devem ser realizados em piscinas de “grande profundidade” – igual ou superior a 2 metros – e sem os óculos de natação (salvo no caso em que o nadador evidencie problemas fisiológicos, derivados do contato direto dos olhos com a água da piscina). De acordo com o autor, sempre que possível, estes exercícios devem ser também experienciados em “piscinas de ar livre” (de água fria e grande profundidade). A seguir, uma sequência de exercícios que podem ser realizados a partir da proposta levantada pelo estudo de Rodrigues (2012), cujo obje- – 125 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático tivo é apresentar, de forma prática, diferentes exercícios básicos de nata- ção, salvamento e socorrismo aquático em piscinas, os quais podem ser executados por diversas faixas etárias. (A) (B) (C) (D) (E) (F) (G) (H) (I) (J) (K) (L) Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 126 – A seguir você verá a descrição dos exercícios apresentados: Exercício 1 (A) – saltar para água vestido e retirar a camisa, man- tendo-se com o treja de banho, e nadar por 25 metros. Exercício 2 (B) – idem ao exercício 1, porém retirando desta vez a calça, permanecendo com o traje de banho (baixo) e nadar por mais 25 metros. Exercício 3 (C) – ainda com a camisa, retirá-la e colocá-la, todo o processo sendo feito dentro d’água, e após nadar 25 metros. Exerccício 4 (D) – manter-se à superfície d’água, flutuando (vertical) durante 1 minuto ou mais, com a movimentação de mãos/pés. Exercício 5 (E) – idem ao exercício 4, porém intensificando a movi- mentação das mãos/pés. Exercício 6 (F) – manter-se à superfície d’água em flutuação dorsal por 1 minuto ou mais, com pequenos movimentos de braços e pernas. Exercício 7 (G) – estender uma toalha, vara, corda, prancha, ou qual- quer outro objeto (macarrão, por exemplo) à “vítima” que denro d’água tentará alcançá-la. Importante manter-se firme fora d’água para daro suporte necessário à vítima que está dentro d’água. Exercício 8 (H) – lançar um objeto (ex: uma bola) para que a vítima, dentro d’água possa localizá-la, pegá-la e com isso facilitar a sua localização. Exercício 9 (I) – idem ao exercício anterior (8) mas neste caso, con- forme mostra a figura, o objeto é um “macarrão” que será dado um nó, facilitando o processo de um possível resgate da vítima. Exercício 10 (J) – lançar uma “boia” para a água, saltar de pé evi- tando submergir a cabeça para não perder a “vítima” de vista, deslocar- -se até a “zona de segurança”, estender-lhe a boia e rebocá-la para terra. A boia ficará sempre entre o socorrista e a vitima, para evitar ser alcançado por ela. Exercício 11 (K) – aprender a salvar-se de maneira mais segura pos- sível. A corrente humana, em que os socorristas dão as mãos, visando alcançar a vítima. Este exercício pode ser feito com os “macarrões” simulando os socorristas, dependendo da distância entre socorrista e – 127 – Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático vítima, é uma estratégia interessante a ser adotada como procedimento de salvamento aquático. Exercício 12 (L) – nadar 6 metros debaixo d’água (submerso), mantendo-se aproximadamente 2 metros de profundidade, controlando a apneia, com os olhos abertos e realizando ainda, a “manobra de Valsalva” aplicada ao mergulho, e muito útil nos procedeimentos de salvamento aquático, em geral. Enfim, a introdução do aprendizado do salvamento e socorrismo em meio aquático deveria ser melhor enfatizada nas aulas de natação, haja vista sua enorme importância. Também se vê a relevância de se inserir técnicas básicas, relacionadas às “técnicas introdutórias ao salvamento e ao socorrismo aquático”. Estas são as maneiras mais eficazes de se redu- zir, drasticamente, o quantitativo tão elevado de casos de afogamento e de acidentes, em grande parte fatais. Atividades 1. O que é o Desfibrilador Externo Automático (DEA)? 2. Como deve ser o procedimento de aproximação à vítima, em casos de afogamento? 3. Que tipos de ações devem ser observadas para que o salvamento de uma vítima em meio aquático seja executado em segurança? 4. Quais medidas devem ser adotadas quando uma pessoa está se afogando? 5 Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas Trabalhar a ideia de cultura corporal como objeto das aulas de Educação Física e o conteúdo lutas como uma das suas dimen- sões amplia o campo de compreensão acerca do movimento e suas possibilidades. Nesse sentido, é notório que as atividades de planejamento e avaliação, no âmbito das práticas pedagógicas em Educação Física, nessa direção devem contemplar uma con- cepção de educação e ensino comprometidos com a emancipação humana e como fundamento a leitura crítica da realidade. As lutas são manifestações humanas, e, por isso, se subme- tem à forma como a sociedade se desenvolve e, desde a antigui- dade, se faz presente, representada através da utilização do corpo para conseguir sua sobrevivência, ou para conseguir seu alimento através da caça e colhendo vegetais ou travando combates com outros seres humanos ou animais em defesa de seu território, ou mesmo, se defendendo de moléstias. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 130 – Nesse sentido, repensar a construção da competência profissional é algo que deve ser revisto, sobretudo quando aliada ao compromisso social dos estudantes, que devem ser vistos como intelectuais críticos e como agentes de transformação, por meio das práticas corporais, as mais diversas possíveis, tendo no conteúdo lutas uma excelente oportu- nidade para essa manifestação social, que vai além dos muros escolares, levando significado real de sua aplicabilidade na sociedade em que o sujeito está de fato inserido. Nessa direção, cabe ao professor de Educação Física estar atento ao desenvolvimento de certas atitudes, a saber: a necessidade de reconhecer seus próprios limites e superá-los com equilíbrio, a capacidade de saber se colocar na situação do outro, especialmente daqueles que não possuem aquelas “devidas” competências ou habilidades para a modalidade em questão, saber questionar o verdadeiro sentido das lutas e, por intermédio dessa visão crítica, poder avaliá-la. 5.1 Conceito, classificação e características gerais das lutas De fato, percebe-se que as lutas, artes marciais e as modalidades esportivas de combate representam um universo amplo de manifestações antropológicas de natureza multidimensional e complexa. Essas modalida- des esportivas podem ser consideradas um conjunto de práticas sociocul- turais provenientes de um espectro diversificado de demandas históricas específicas, onde é possível identificar uma pluralidade marcante nas suas diferentes configurações sociais, formas de expressão, repertório técnico, linguagens, organização e institucionalização (CORREIA; FRANCHINI, 2010). Desde o início dos tempos, vemos as lutascomo elemento funda- mental da cultura corporal do ser humano, em que suas representações são carregadas de um valor histórico-social considerável, que acompanham os seres humanos ao longo de sua vida e também ao longo de décadas/ milênios (RUFINO; DARIDO, 2015). As lutas e as artes marciais apresentam, em suas origens, caracte- rísticas atribuídas à sobrevivência, ao exercício físico, ao treinamento – 131 – Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas militar, à defesa e ao ataque pessoal, além das implicações das tradições culturais, religiosas e filosóficas. Com o surgimento de outras necessida- des e o desenvolvimento de novas técnicas, o ser humano atribuiu outro significado às lutas, e hoje assistimos a um processo de esportivização das mesmas (FERREIRA, 2006). Conceitualmente é importante diferenciar luta e artes marciais, tendo em vista que alguns aspectos podem ser utilizados para diferenciá-las. As artes marciais são práticas corporais de ataque e defesa, podendo ser tam- bém caracterizadas como lutas, conforme descreve Ferreira (2006). Nesse sentido, a principal diferença entre as duas, ainda de acordo com o autor, é que os praticantes de artes marciais, principalmente as de origem oriental, consideram que os conteúdos são originários da cultura e orientação filo- sófica que determinaria a sua diferença entre as lutas, porém, no campo da aplicabilidade prática, essas diferenças são percebidas somente por espe- cialistas na área de lutas. Duarte (2004), elenca de forma clara alguns conceitos acerca desses termos, a saber: 1. a terminologia “artes marciais” estava associada às lutas de origem militar, em que se entendia como era entendida como um tipo de sistema de combate somado ao conjunto de regras, regulamentos e preceitos filosóficos; 2. jogo de oposição, entre duas ou mais pessoas, em situações de ata- que e defesa, em que o objetivo era derrotar o oponente; 3. o termo lucta (em latim), significa “combate, com ou sem armas, entre pessoas ou grupos; disputa”, sendo que a expressão martiale refere- -se à guerra; ao bélico. Gomes (2008) conceitua a luta da seguinte maneira: Prática corporal imprevisível, caracterizada por determinado estado de contato, que possibilita a duas ou mais pessoas se enfren- tarem numa constante troca de ações ofensivas e/ou defensivas, regida por regras, com o objetivo mútuo sobre o alvo móvel perso- nificado no oponente (p. 49). Assim como outros tipos de atividades, como danças, atividades rít- micas, esportes, jogos, brincadeiras, atividades de circo, entre outras, as Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 132 – lutas também são manifestações inseridas pela população em uma esfera cultural. Rufino (2017) destaca que o implementar das lutas na sociedade altera a maneira como os cidadãos interagem entre si, mudando o jeito com que pensamos e agimos. Saiba mais Em relação às origens, as lutas e as artes marciais apresentam uma ampla diversidade, passando do local, período ou mesmo objetivo de sua criação. Os grandes mestres (como são denomi- nados os treinadores nas artes marciais do oriente) ressaltam que a luta é muito mais que uma simples repetição de gestos físicos, é o total controle mental, ressaltando a importância do conjunto “corpo-mente”. Fonte: GOMES, M. S. P. Procedimentos pedagógicos para o ensino das lutas: contextos e possibilidades. Mestrado em Edu- cação Física. Faculdade de Educação Física Universidade Esta- dual de Campinas, 2008. De forma global, entender a origem da luta é algo mais amplo do que parece, sendo difícil afirmar quando e onde começou, por haver vários tipos diferentes difundidos ao redor do mundo. De fato, há um fator depen- dente para cada luta, sendo preciso investigar o quanto o fator proteção ou ataque foi determinante para cada luta. Mazzoni e Oliveira Júnior (2011) dividem as lutas em duas vertentes, que estão associadas às suas origens e contextualizações: as lutas e artes marciais nascidas no Oriente e as forjadas no Ocidente, todas com múlti- plas influências e momentos históricos marcantes. E de acordo com Paiva (2015), registros de lutas e artes marciais são divididos de acordo com a localização geográfica, representações do mundo ocidental (Europa, África e América) e oriental (Ásia e Oriente Médio). Esses atos de defesa ou ataque que geram combate humano têm vários momentos e lugares épicos, como destaca, por exemplo, Duarte (2004), que afirma que nas Américas povos como os incas, os maias e os – 133 – Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas astecas realizavam danças para as divindades, bem como lutas que deve- riam terminar na morte de um sacrificado e ofertado aos deuses. Por outro lado, os chineses, em grandes parques que simulam áreas de treinamento atuais, realizavam exercícios de corpo livre, evoluções de ordem unida com coreografias de danças militares. As evoluções de ordem unida, executadas como se devessem enfrentar um inimigo, foram primor- diais para a notável superioridade do povo chinês sobre os demais, a qual se manteve por séculos (DUARTE, 2004; FERREIRA, 2006). Destaca-se também que no Oriente Médio, existia uma clara relação entre a eficiência física e o rito religioso, em que em ocasiões das mais importantes festas religiosas, executavam-se diversas demonstrações, dentre elas a antiquíssima luta com bastões, conforme descreve Cramer e Campos (2007), e ainda, segundo esses mesmos autores, os indianos utilizavam muito as demonstrações de esgrima com sabre e até mesmo o pugilato, como formas de manifestações das lutas no período. Outro período marcante na história das lutas ocorreu na Grécia Antiga, onde a luta era considerada não somente uma das disciplinas gímnicas mais apaixonantes, mas também um exercício indispensável para a formação/reforço do físico e do caráter dos jovens, conforme des- taca Duarte (2004). As formas de luta que se praticavam na Grécia eram, substancialmente, quatro, e todas razoavelmente distantes, esteja bem claro, da luta que hoje, diríamos arbitrariamente, chamamos “greco- -romana”, segundo o autor. Rufino e Darido (2015) descreve que, por muito tempo, acreditou- -se – de maneira um pouco superficial – que o termo “greco-romana” indicasse naturalmente um tipo de combate de origem grega, oportuna- mente modificado pelos romanos. E baseando-se no fato de que a posi- ção do lutador com as palmas das mãos e os joelhos pousados sobre a terra e o corpo levantado, como para caminhar com quatro pés, é até hoje denominada como de origem grega. Considerou-se que a luta grega fosse aquela da posição deitada e que a romana fosse aquela em pé (perpendi- cularmente). Assim teria surgido o termo “greco-romana” para designar a nossa luta, que se desenvolve tanto em pé quanto deitada (DUARTE, 2004). Cabe ressaltar que, nesse período, uma luta era muito praticada, Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 134 – denominada Pancrácio, que divergia do próprio e verdadeiro pugilato pela ausência de “luvas”, porque os lutadores combatiam com o punho nu e era muito mais perigoso que o pugilato, já que os competidores podiam bater no adversário mesmo quando ele estava caído em terra, sem limitações de socos. Era de fato consentindo dar cabeçadas, morder e até mesmo atacar com os dedos os olhos do rival. Destaca-se nesse período, Milon de Cro- tona (510 a.C.), homem de força sobre-humana. Conseguiu seis vitórias consecutivas na modalidade de luta em Olímpia (Figura 5.1). Figura 5.1 – Milon de Crotona Fonte: Shutterstock.com/ZyankarloPinto Pinto et al. (2009) descreve que a instituição de combates físicos entre seres humanos (exaustivos e muitas vezes até a morte) foi, ao longo da história, assumindo significados distintos, que variaram de cultura para cultura, povo para povo e período a período. E nesse sentido, destaca-se que a evolução das sociedades foi um dos fatores considerados determi- nantes para o processo, pois foramsurgindo formas sistematizadas e dife- renciadas de combates corporais, a ponto dessas formas assumirem caráter – 135 – Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas de estilos baseados em filosofias que agregavam valores e atrelavam um número significativo de pessoas a fim de organizar grupos militares para proteção das nações. Destaque Com o avanço da indústria bélica, novas formas de combate foram criadas e as armas de fogo tomaram o lugar do combate corpo a corpo. Todos os acontecimentos históricos projetaram uma troca no entendimento do combate corporal, resumindo-se assim o objetivo e a eficácia da habilidade física organizada em modalidade de luta apenas a prática esportiva ou de simples lazer (CRAMER; CAMPOS, 2007). Correia e Franchini (2010) indicam a possibilidade de nomear as artes marciais de três maneiras diferentes — artes marciais, luta e modalidades esportivas de combate — e que, de fato, não há consenso entre os pesquisa- dores sobre qual é a terminologia mais adequada. De acordo com os autores, essas atividades são tão dinâmicas e múltiplas que defini-las poderia limitar seu entendimento. No entanto, para facilitação didática e pedagógica, Paiva (2015) sugere dividi-las formalmente, a partir das definições mais utilizadas em pesquisas, conforme você pode verificar a seguir: 2 lutas – jogos regidos pela lógica da oposição entre duas ou mais pessoas. Embora o objetivo seja variável, tem como características específicas o ataque a qualquer momento, ata- que e defesa de alvo/oponente (fusão, ataque/defesa) e a possi- bilidade de ataque simultâneo ou mútuo. Exemplos: Capoeira, Luta Senegalesa e a Huka-Huka. 2 artes marciais – atividades de combate fortemente relacionadas ao regionalismo. O objetivo de defesa de uma comunidade pode estar implícito ou explícito. São influenciadas por aspectos cul- turais/éticos e são práticas que podem atuar nas esferas: física, espiritual e social. Exemplos: Kung Fu, Karatê e Muay Thai. Pode ser formada por quatro blocos físicos: a técnica; a aplica- ção com um oponente desta técnica, a combinação em diversas Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 136 – direções e sentidos das técnicas diferentes, com um sentido rea- lista com ou sem companheiro; um sentido de auto-expressão corporal formativo e prático, assim como estético. 2 modalidades esportivas de combate – são formas “esportiviza- das” das lutas e artes marciais e seu objetivo principal é simular em parte os combates corpo a corpo “verdadeiros” (originais/ não esportivizados). Obrigatoriamente devem ser regidas por entidades ou instituições reguladoras (federações, confedera- ções, comissões atléticas etc). São constituídas por campeona- tos/eventos com regras, classificações e pódios. Exemplos: Jiu- -Jitsu Brasileiro, Luta Livre Esportiva, Sambo, Judô e Esgrima. Saiba mais Em relação à modalidade olímpica Luta Livre (Free Style Wres- tling), é importante destacar a diferença para a modalidade Greco-Romana. Apesar dos objetivos serem os mesmos, encos- tar as costas (região das escapulas simultaneamente) do adver- sário no chão, na Luta Livre (Free Style Wrestling) é permitido atacar com as pernas e atacar as pernas do oponente, tanto na fase de luta em pé quanto no chão. Já no estilo greco-romano, não é permitido utilizar as pernas para projetar o adversário bem como atacar as pernas do adversário. Fonte: Adaptado de http://www.espn.com.br/noticia/217596_entenda-a-grande-dife- renca-entre-o-estilo-livre-e-a-luta-greco-romana#:~:text=A%20diferen%C3%A7a%20 entre%20as%20duas,o%20uso%20dos%20membros%20inferiores.&text=O%20 golpe%20%C3%A9%20caracterizado%20quando,ombros%20do%20 advers%C3%A1rio%20no%20ch%C3%A3o. Acesso em: 30 jun. 2021. Acerca das terminologias encontradas, Gonçalves e Da Silva (2013) descrevem por meio de estudo – pesquisa de revisão – as terminologias adotadas, aplicação e contextualização. Enquanto alguns autores as assu- mem como artes marciais, outros as tratam como lutas, sem mencionar outras formas esporádicas de classificá-las como modalidades esportivas de combate ou, até mesmo, jogos de lutas. Em relação às diferenças, os autores destacam que do ponto de vista acadêmico parece que a utilização – 137 – Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas de diferentes termos para falar de atividades tão parecidas está associada à ênfase que se deseja dar à perspectiva pela qual elas são discutidas. Assim, analisá-las por um viés pedagógico, por exemplo, implicaria classificá-las e nomeá-las diferentemente de quando são abordadas em uma perspectiva esportiva de alto-rendimento. 5.1.1 Classificação e ação das lutas Embora as lutas sejam bastante distintas, uma vez que são oriundas de regiões e culturas diferentes. Mesmo com suas regras e formas de dis- puta peculiares, Rufino (2017) aponta que essas práticas corporais apre- sentam características gerais, conhecidas como aspectos universais, que são descritos a seguir. 2 Enfrentamento físico: de forma global, toda luta exige certo nível de enfrentamento e contato entre as pessoas, que varia con- forme a modalidade. Nesse caso, o enfrentamento pode ser direto, quando se utiliza o corpo, como no Jiu-Jitsu, ou indireto, quando se utilizam implementos – como espadas, no caso da esgrima. 2 Regras: item fundamental que caracteriza sua legitimidade, as lutas possuem regras bem organizadas, que buscam manter a segurança e o nível de disputa. As regras são o que diferenciam a luta de uma briga, por exemplo. Por meio delas, sabe-se o que é proibido e o que é permitido. 2 Oposição: as lutas ocorrem em caráter de oposição, com obje- tivos variáveis, conforme a modalidade. Os objetivos podem ser atingir determinada parte do corpo para pontuar, como, por exemplo, no Taekwondo, ou ainda, o ato de segurar a pessoa para retirá-la de um determinado espaço, como no caso do Sumô. 2 Objetivo centrado no corpo de outra pessoa: considerada uma de suas maiores características, diferenciando-a das demais prá- ticas corporais. Na luta, o alvo das ações é a outra pessoa, que, diferentemente das demais modalidades, é um alvo móvel. 2 Ações de caráter simultâneo: nas lutas, realizam-se ações tanto de defesa quanto de ataque de forma simultânea — não há dife- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 138 – renciação no espaço e no tempo dessas ações. Ataque e defesa ocorrem a todo instante e podem surgir tanto de uma pessoa quanto da outra, sendo necessário sempre manter a atenção. 2 Imprevisibilidade: a simultaneidade descrita acima traz a carac- terística da imprevisibilidade, sendo umas lutas mais imprevisí- veis do que outras. Para Rufino (2017), as lutas podem ser classificadas por diversos padrões e características, por exemplo, a distância mantida na luta entre os combatentes ou praticantes. A distância é um dos fatores centrais para as lutas, no qual os próprios aspectos universais, já estudados neste caderno de estudos, estão altamente relacionados. Nesse caso, em distâncias maio- res, permitindo uma maior previsibilidade pelo praticante, bem como a maior definição de ataque e defesa; e ainda buscar permitir a maior mobi- lidade do alvo; e por fim, em distâncias maiores, percebe-se um nível de contato reduzido (RUFINO, 2017). Ainda de acordo com Rufino (2017), pode-se dividir as ações em previsíveis e imprevisíveis. Nas ações previsíveis, temos movimentos coreografados e repetitivos, utilizados em casos de demonstração. Não há a oposição de forma direta. É o caso de mostras de armas do Kung Fu ou modalidades como o Kata. Por outro lado, as ações imprevisíveis são baseadas na oposição direta, em que há o alvo móvel e ações moto- ras, como agarre e toque, com ou sem implementos. Esses enfrentamentos físicos diretos podem ser divididos conforme a distância, pois é ela que vai ser diferencial para as possíveis ações. Rufino (2017) apresenta quatro níveis possíveis de distância. 2 Distânciacurta: quando há maior proximidade entre os envol- vidos, com os movimentos de agarre se tornando mais evidentes. Essas lutas exigem proximidade, para que seja possível realizar diferentes golpes, técnicas, táticas, chaves, entre outras possibi- lidades. São exemplos de lutas de curta distância o Judô, o Jiu- -Jitsu, o Sumô e a Luta Greco-Romana. 2 Distância média: essas modalidades exigem maior distância entre os indivíduos em comparação às lutas de curta distância. As ações desenvolvidas nessa modalidade são mais propensas – 139 – Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas ao toque, como socos e chutes. Alguns exemplos de modalida- des são o Karatê, o Kung Fu e o Boxe. 2 Distância longa: como o nome sugere, essas modalidades apre- sentam uma distância maior entre os envolvidos. Para isso, é necessário algum implemento no desenvolvimento das ações, como uma espada. Algumas modalidades que podem ser classi- ficadas como longas são a Esgrima e o Kendo. 2 Distâncias mistas: as lutas mistas são aquelas caracterizadas pela mistura de duas ou mais distâncias, como exemplo, temo o MMA, que agrega ações de várias distâncias, como agarres e finalizações (características de ações curtas) e socos, chutes e joelhadas (ações de média distância). Oliveira Junior et al. (2019) descreve uma forma de classificação das lutas com uma concepção lógica e estruturada em consonância com os pressupostos epistemológicos atuais dessa área de estudo. A partir desse referencial teórico apresentado pelos autores é pos- sível compreender melhor a lógica interna e a classificação das lutas de acordo com três categorias: de agarre, como o Judô, o Jiu-Jitsu e o Sumô; baseadas em golpes, como o Karatê, o Taekwondo e o Boxe; e aquelas, baseadas também em golpes, mas com a utilização de imple- mentos, como é o caso da Esgrima e do Kendo. Veja a seguir um deta- lhamento destas categorias. 5.1.1.1 Lutas de agarre De acordo com Rufino e Darido (2015), os esportes de luta com agarre são representados por aqueles que abarcam ações básicas, como o ato de derrubar, projetar e controlar no solo, e seu objetivo está em agarrar, segurar e aproximar-se do oponente visando enfrentá-lo. Ainda de acordo com esses autores, o agarramento da outra pessoa está relacionado às ações de curta distância, uma vez que não é possível realizar essas ações com uma distância maior entre os envolvidos. Enfim, essas práticas de curta distância podem ser denominadas também práticas corpo a corpo, em que não se tem a possibilidade de realizar outras ações, como o toque, por exemplo (Figura 5.2). Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 140 – Figura 5.2 – Jiu-Jitsu Fonte: Shutterstock.com/Miljan Zivkovic Vale destacar ainda que nesse tipo de modalidade, pode haver a necessidade de contato inicial entre os oponentes desde o início (como a formação de pegadas ou kumi-kata no judô paralímpico) ou a ausência da imposição inicial de agarre (como no judô olímpico tradicional e no jiu-jítsu, por exemplo). Rufino e Darido (2015) descrevem que existem ainda, diferenças de objetivos, já que algumas práticas focam a projeção, ao passo que outras mantêm a continuação das ações no solo. Nas práticas de curta distância, tem-se como ação básica o ato de agarrar, segurar e aproximar-se do oponente visando o enfrentamento. 5.1.1.2 Lutas com golpes/impactos As lutas envolvendo golpes podem ser divididas entre aquelas que utilizam apenas os punhos, como o Boxe, por exemplo, os que utilizam apenas as pernas, como o Boxe Francês, e as que misturam a utilização dos membros inferiores e superiores, como o Muay Thai, o Karatê etc, conforme descreve Rufino e Darido (2015). Utilizando-se ações de gol- pear e impactar o oponente (estão inclusas nessa categoria outras artes, como o Kung Fu, o Taekwondo etc.). Essas práticas geralmente envol- vem média distância e, nesse contexto, as ações de toque estão presentes. Assim, enfatiza-se o toque entre os envolvidos, isto é, a forma de encostar, – 141 – Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas de tocar ou de percutir o corpo da outra pessoa por diferentes meios ou modo (RUFINO e DARIDO, 2015) (Figura 5.3). Figura 5.3 – Boxe Fonte: Shutterstock.com/ivan_kislitsin Ainda de acordo com os autores, essas ações ligadas ao toque podem se constituir de duas formas: toque realizado diretamente na outra pessoa ou toque intermediado por algum implemento. De toda maneira, as artes marciais com golpes/impacto são ações motrizes que envolvem o toque realizado diretamente no outro e práticas cuja espacia- lidade é de média distância. Por isso, há a intenção de encostar, tocar na outra pessoa, de forma direta, sem nenhum objeto que faça essa ligação entre os praticantes. 5.1.1.3 Lutas com golpes e implementos De acordo com Rufino e Darido (2015) as lutas com golpes e imple- mentos, como o próprio nome admite, são aquelas nas quais há a utili- zação de algum tipo de objeto que intermedeia as ações oponentes para tocar o adversário, como é o caso da esgrima, por exemplo. De fato, é possível verificar que nas práticas de longa distância, que há um contato intermediário por implementos, independentemente de quais sejam esses objetos, o que também diferencia as formas de realização desse contato e, consequentemente, as ações motoras proporcionadas por essas práticas, conforme pode ser visto na Figura 5.4. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 142 – Figura 5.4 – Esgrima Fonte: Shutterstock.com/Fotokostic 5.2 Características culturais das práticas de luta De acordo com Pereira (2018), ao contrário do que sugere o senso comum, a arte marcial não se restringe apenas às práticas originadas no extremo oriente, pois existem artes marciais criadas no ocidente que foram lentamente convertidas em jogos, que, em alguns casos, posteriormente, foram convertidos em esportes, como é o caso do Boxe e da Esgrima, lutas que atualmente estão muito mais relacionadas à prática esportiva. Nesse sentido, para nós, brasileiros, destaca-se a Capoeira, devido sobretudo as suas diversas interpretações (folclore, jogo, dança), sendo a sua mais expres- siva representação associada à luta (PEREIRA, 2018). Enfim, como sugere o autor, pode-se partir do princípio de que arte marcial é uma luta, mas nem toda luta é arte marcial. Segundo Pereira (2018), o desenvolvimento das armas de guerra foi acompanhado de uma consequente diminuição dos combates físicos, de modo que as artes marciais foram migrando para o esporte e, até mesmo, perderam muitas de suas características. De forma global, acredita-se que os primeiros registros das artes mar- ciais datam por volta de 5.000 anos a. C., a partir de uma arte marcial de origem indiana, praticada por Buda, chamada Vajaramushti (que, em sâns- – 143 – Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas crito, significa “punho real ou punho direto”) (BREDA et al., 2010). Os autores citam ainda que essa arte marcial fazia parte da educação militar da realeza e envolvia técnicas de combate, meditação e estudos variados. Segundo Rufino e Darido (2015), a luta sempre esteve culturalmente presente na história. Pinto et al. (2009) afirmam que, no período primitivo, as lutas humanas se davam pela sobrevivência, para garantir alimento, travando-se combates com outros seres humanos ou animais. Nos povos antigos orientais, a luta também fazia parte da sociedade como treina- mento militar ou como defesa pessoal. Dessas civilizações vão surgir inú- meras lutas que conhecemos até hoje, como o Jiu-Jitsu, o Karatê, o Kung Fu, o Sumô, o Boxe e, mais recentemente, o Judô. Duarte (2004) descreve que no ocidente, as lutas também eram des- taque, principalmente nas civilizações gregas e romanas. Nas primeiras edições dos jogos olímpicos, já havia três tipos de lutas: 2 palé (o objetivo dessa luta era levar o adversário ao chão, tocando os ombros para derrotá-lo); 2 pugilato (semelhante ao boxeatual, com o atleta tendo que envolver seu dedo em uma tira de couro, e a luta somente aca- bava quando alguém desistia ou ficava inconsciente); 2 pancrácio (uma luta livre em que se usava bastante violência, na qual os únicos golpes que não eram permitidos era enfiar os dedos nos olhos, atacar a região genital, arranhar ou morder). Duarte (2004) destaca ainda que em Roma, as ações de luta eram mais espetacularizadas, como a disputa entre os gladiadores, que levavam grandes públicos aos circos romanos. A importância das civilizações gregas e romanas para a luta é tal que ainda hoje existe uma luta trazendo seus nomes: a luta greco-romana. Essa luta possui esse nome por ser disputada tanto na posição em pé (como era em Roma) quanto deitada (como ocorria na Grécia). Em adição, as lutas entendidas como esportes de combate, começaram a vigorar a partir do período moderno, quando passaram a ser organizadas competições. O ressurgimento dos jogos olímpicos em 1896 trouxe algumas modalidades de luta para as competições, dando boa evidência a esses esportes. Mazzoni e Oliveira Júnior (2011) e Paiva (2015) descrevem que os registros de lutas e artes marciais são divididos de acordo com a localização Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 144 – geográfica, representações do mundo ocidental (Europa, África e Amé- rica) e oriental (Ásia e Oriente Médio). Os autores destacam que todas elas apresentam múltiplas influências e momentos históricos marcantes ao longo dos tempos, tendo sido parte integrante fundamental da constituição das sociedades em geral. De acordo com esses autores, as lutas orientais são as seguintes: na Índia, Kalaripayit; na China, Wushu (Kung Fu ou Boxe Chinês), Jeet Kune do, Tai chi chuan, Pa Kua, Hsing-I; no Japão, Karatê, Judô, Jiu- -Jitsu, Ninjitsu, Kendo, Aikido, Sumô; na Coreia, o Taekwondo, Tang Soo Do; na Tailândia, Muay Thai; em Israel, o Krav Magá. E as lutas ocidentais, apresentam-se da seguinte maneira: nos Estados Unidos e na Inglaterra, Wrestling, Fullcontact, Kickboxing, Boxe; no Brasil, Capo- eira, Luta Marajoara e muitas outras modalidades produzidas e signifi- cadas em todo o mundo. No caso específico do Brasil, temos a capoeira como uma luta que carrega elementos importantes da formação sócio-cultural do país, e con- tribui para a nossa formação. Trata-se de uma modalidade provavelmente nativa dos quilombos brasileiros, utilizada como meio de defesa dos escra- vos, conforme descreve Vidor e Reis (2013). A Capoeira é compreendida como dança ou luta, e em sua origem no Brasil isso ficou bem evidente, pois era utilizada visando disfarçar a luta em forma de dança, para se defender das agressões sofridas. Silva (2007) destaca, todavia, que antes de virar uma expressão cultural, a Capoeira foi duramente perseguida pela polícia. No século XIX, no período impe- rial (1808–1889), a capoeira era presença frequente nas páginas policiais dos jornais da Corte. Silva (2007, p. 51) refere que, durante longo tempo, a capoeira foi “[…] estigmatizada, estereotipada, marginalizada, crimi- nalizada e objeto de controle social, pelo Estado brasileiro, escravista e racista”. No Brasil, a afirmação da capoeira de fato, ocorreu na Bahia, como um “jeito negro” de praticá-la por meio de duas escolas: a Capoeira Regional, de mestre Bimba, e a capoeira Angola, de mestre Pastinha. Rufino e Darido (2015) destacam que algumas lutas se tornaram populares e tiveram desenvolvimento no país, como é o caso do Jiu-Jitsu. Isso ocorreu principalmente devido à família Gracie, que transformou essa – 145 – Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas luta em uma filosofia de vida, tornando-a mais letal e competitiva, a partir do fortalecimento de técnicas como as alavancas e as imobilizações, além de permitir que um lutador mais fraco vença a luta pelo domínio da técnica. É importante resslatar ainda que, devido a grande imigração japonesa ao Brasil, que trouxe sua mão de obra, mas também sua cultura, e com isso, a difusão do Judô, Karatê e Kendo, na época, com seus colonos. Com o passar dos anos, a prática do Judô se difundiu para fora das colônias, permitindo que existissem adaptações regionais e locais, criando-se uma prática de luta, originária do Judô trazido pelos imigrantes, denominado Jiu Jitsu Brasileiro. Saiba mais Os questionamentos em relação às diferenças terminológicas e estruturais do Jiu Jitsu e Jiu Jitsu Brasileiro são muitos, e Bor- ges (2011) buscou desmistificar conceitos popularizados e de senso comum que dizem respeito à(s) modalidade(s), por meio de investigação histórica cronológica sobre suas raízes orientais e ocidentais. De forma global, percebe-se que apesar das dife- renças concernentes à pronúncia dos ideogramas, as palavras Ju Jutsu, Ju Jitsu e Jiu Jitsu possuem o mesmo significado, de acordo com o autor. Todavia, no que se refere ao Jiu Jitsu Brasi- leiro, o desenvolvimento aprofundado da luta de solo conferiu características peculiares a esta modalidade, que possui diferen- tes federações e diversas competições mundiais, o que demons- tra sua falta de padronização e remota possibilidade de integrar os Jogos Olímpicos, por sua vez. Fonte: BORGES, O. A. Ju Jutsu, Ju Jitsu ou Jiu Jitsu? Origens e evolução. EFDe- portes. Revista Digital. Buenos Aires. n. 156, 2011. Disponível em: <https://www. efdeportes.com/efd156/ju-jutsu-ju-jitsu-ou-jiu-jitsu.htm>. Acesso em: 30 jun. 2021. Silva Neto (2013) descrevem as lutas, artes marciais e modalidades esportivas de combate, as quais representam as formas de expressão de povos e sua cultura é expressa a partir dos rótulos ou nomes que cer- tas habilidades possuem. Elas são provenientes de seus países de origem Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 146 – e representadas por posturas e movimentos cheios de simbolismo, que reproduzem atos e rituais do cotidiano. O autor ainda enfatiza que o nome que cada luta, arte ou modalidade apresenta carrega seu simbolismo e a cultura do país: o Judô é japonês, assim como o Karatê; a Capoeira é bra- sileira; o Boxe é inglês; o Taekwondo é coreano e a Esgrima é francesa. Nesse sentido, Silva Neto (2013) descrevem as lutas surgindo na cul- tura corporal de movimento desde os primeiros registros pré-históricos, sendo, nesse caso, utilizadas como ferramenta de sobrevivência e, poste- riormente, aplicadas a diversos contextos, regras e diferentes sentidos, o que fez com que florescessem praticamente em todas as partes do mundo. Breda et al. (2010) e Chemello e Bonone (2014) destacam que os diversos estilos de lutas foram passando por modificações ao longo do tempo na China e, no final do século XIX, no Japão, abriram-se as portas comerciais para os paíes ocidentais. De modo geral, as lutas orientais são, ao mesmo tempo, as mais antigas e as mais conhecidas na atualidade, tanto no Brasil quanto no mundo. Como exemplo, temos o Jiu-Jitsu, o Judô, o Taekwondo, o Kung Fu e o Karatê, como pode ser visto a seguir. 2 Jiu-Jitsu: é considerado um conjunto de técnicas de combate corporal de ataque e defesa, de origem Japonesa, com suas pri- meiras citações como “Ju Jutsu” no ano de 1700., porém existem menções de outros nomes predecessores, como “Yawara”, onde é uma forma de pronuncia do ideograma “JU” (BORGES, 2011) 2 Judô: considerada uma arte marcial praticada como esporte. Criada por Jigoro Kano em 1882, o Judô é uma adaptação do Jiu-Jitsu, que tem por objetivo desenvolver técnicas de defesa pessoal, fortalecer o corpo, o físico e a mente de forma inte- grada. Possui grande aceitação em todo o mundo, um dos espor- tes mais praticados, e uma das únicas artes marciais disputadas nas Olimpíadas. 2 Taekwondo: de origem coreana, trata-se de técnica de combate desarmado para defesa pessoal que envolve a aplicação hábil de movimentos que incluem socos, perfuraçõs, saltos, chutes e defesas desenvolvidas em ação com pés e mãos. O Taekwondo, – 147 – Fundamentação, organizaçãoe estruturação relacionados às lutas mais que uma luta corporal, representa um estilo de pensamento e um padrão de vida que requer disciplina e queda ênfase ao desenvolvimento do caráter moral do aprendiz. 2 Kung Fu: o termo tem origem chinesa e significa “tempo de habilidade”. No entanto, no mundo ocidental, essa luta passou a ser chamada de arte marcial chinesa. O Kung Fu é um sis- tema integrado, composto por métodos físicos de combate, de meditação e de práticas de cura e até mesmo filosofias, éticas e morais. Sua história é repleta de lendas que são transmitidas oralmente, de pai para filho, o que torna muito difícil a compro- vação dos fatos, visto que existem poucas documentaçõs escri- tas, e essas certamente são muito mais recentes do que a época de origem dessa arte marcial. 2 Karatê: em japonês, significa “mãos vazias”, de modo que os praticantes utilizam como armas os braços, as mãos, as pernas, os pés ou qualquer outra parte do corpo. Segundo as lendas histó- ricas, o Karatê surgiu da mistura do Boxe Chinês com um estilo de luta de Okinawa, no Japão. No Karatê, existe o kumite, que seria a luta propriamente dita, em que os karatecas devem focali- zar fortemente os golpes, mas, antes do contato, é necessário um controle preciso; e o kata, que são exercicios predeterminados que devem ser executados com muita concentração e harmonia, em uma espécie de apresentação com um adversário imaginário. Do oriente para o mundo, no século XIX, as lutas foram agregando novos valores e modos de comportamento condizentes com a inserção dos costumes ocidentais, afastando-se das origens guerreiras e técnicas fatais e ligando-as a técnicas de defesa pessoal ao lazer, ao exercício físico, con- forme descreve Breda et al. (2010). Oliveira et al. (2009) descrevem que atualmente, as artes marciais orientais ainda continuam sendo muito populares no Ocidente, e uma das causas dessa popularidade são, em princípio, a perda quase total das artes marciais ocidentais, que vemos reduzidas a esportes de combate, onde o regulamento costuma ser restrito e sempre em sentido unidirecional. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 148 – 5.3 Aspectos sócio-culturais/filosóficos das lutas Toda luta tem sua tradição e filosofia dentro de seu aprendizado, sendo de grande importância uma reflexão sobre esse aspecto, conforme descreve Fernandes (2013). Nesse sentido, as lutas são compostas de ati- tudes de respeito, até dentro de um combate onde os lutadores se cumpri- mentam ao terminarem. Atitudes como essas e outras como de não bater em um adversário que está caindo no boxe, de não dar golpes abaixo da cintura, são filosofias exploradas nas regras de tal modalidade, portanto, ao pensar nas regras e técnicas passadas por alguém mais graduado, a figura do “líder” é conhecida/chamado de mestre, professor, sensei, torna- -se fundamental para o processo. Dentro de todo esse aprendizado passado por eles, como fosse de pai para filho, de professor para aluno e de mestre para aprendiz, de forma simplória ou de forma intencional, é passado uma filosofia, um respeito a regras, ao professor, ao adversário e ao compa- nheiro de equipe (FERNANDES, 2013). Analisando todo um contexto de lutas, temos frases e campanhas com o slogan “Quem luta, não Briga”, conforme destaca Fernandes (2013), res- saltando que dentro dessa frase há uma grandeza filosófica e educacional que rege uma regra e comportamento de lutadores e praticantes de artes marciais a não brigarem, e utilizarem as lutas apenas dentro do âmbito das artes marciais com o seu devido respeito. Nesse sentido, as lutas têm um cunho filosófico dentro de seu aprendizado que sempre deve ser explora- dos por professores, mestres, senseis e outros que estão de algumas atrela- dos as lutas e artes marciais. Entretanto, as lutas orientais, principalmente as japoneses, continuam com uma forte tendência de atrelar a educação moral e ética, através dos valores do Budo, adaptados a contexto atual. Num contexto histórico e social, as lutas surgem na cultura corporal de movimento desde os primeiros registros pré-históricos, sendo, nesse caso, utilizadas como ferramenta de sobrevivência e, posteriormente, apli- cadas a diversos contextos, regras e diferentes sentidos, o que fez com que florescessem praticamente em todas as partes do mundo. Breda et al. (2010) descreve que cada luta tem sua essência e aprendi- zado, e isso é demonstrado através do golpe, algumas lutas são compostas de quedas, projeções, desequilíbrio, outras de defesas, outras de ataques, – 149 – Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas ou de socos, chutes, outras utilizam equipamentos, espadas, bastões etc. Assim se faz toda a característica de uma modalidade em questão e isso ajuda a distinguir e trazer a essência de cada luta, explorando em cada uma delas diferentes técnicas e aprendizado, e a filosofia no contexto histórico- -social envolvidas. As lutas estão incluídas na cultura corporal do movimento, de modo que necessitam estar debruçadas em perspectivas pedagógicas renovadoras. E de acordo com Rufino e Darido (2015) isso se torna ainda mais importante quando se observa o caráter de tradição comumente relacionado às lutas e as perspectivas pedagógicas cristalizadas ao longo dos anos. Os termos artes marciais e lutas fazem parte da cultura do movimento humano. Podemos reconhecê-los tanto nas culturas milenares quanto nos movimentos de proteção e defesa encontrados desde a pré-história, con- forme mencionado no texto. Nascidas em tempos de guerra, as artes mar- ciais trabalham a mentalidade do aluno para o combate, mas, acima de tudo, valorizam a preparação absoluta do praticante: o físico, o espiritual, o psi- cológico, o técnico e o estratégico. Nesse sentido, vale destacar a possibili- dade de classificar as práticas corporais nascidas a partir do século XIX de “artes marciais orientais modernas e inventadas”, conforme descreve Marta (2009), sendo possível identificar-se cinco elementos determinantes para tal: a) A influência do pensamento ocidental moderno, com as práticas passando a objetivar a saúde moral e física dos seus praticantes e, posteriormente, a adoção do ideal esportivo de vitória; b) A ação de sujeitos que atestam para si a função de fundadores/ idealizadores das diferentes práticas; c) A preocupação gradual com a sistematização racional e escrita das práticas, que lentamente vai rompendo com a tradição oral que até então marcava, de forma exclusiva, a dinâmica de transmissão dos movimentos das artes marciais orientais; d) O processo de internacionalização e o envio de mestres a dife- rentes partes do mundo para difundir as práticas e também a formação de federações de âmbito internacional; e) A adequação da prática às necessidades impostas pelo momento histórico, tema que perpassa todos os itens anteriores. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 150 – No Brasil, o que se observa atualmente é que as lutas e/ou artes marciais passaram por um processo de massificação, e, dentre os fatores influenciadores desse processo, esta a chegada dos imigrantes de origem oriental, a influência dos meios de comunicação de massa, sobretudo a televisão, e o processo de esportivização vivenciado, não apenas pelas artes marciais, mas também por outras práticas corporais (MARTA, 2009). Ainda sobre a esportivização das artes marciais, Campos (2004) descreve que uma prática corporal quando passa pelo processo de esportivização, normalmente ela passa a existir em duas formas: a sua forma original, não esportiva (mantendo seus valores originais), e em sua forma esportivi- zada (regras criadas para um campeonato). E complementa citando que a esportivização das artes marciais nem sempre é aceita pelos alunos e mes- tres conservadores, já que muito de seu contexto e apelo vem justamente do foco tradicional em que são embasadas. De acordo com Gonçalves e Da Silva (2013), atualmente, podemos considerar aslutas e artes marciais como atividades de lazer e exercício que visam aumento da aptidão física, defesa pessoal e prática esportiva. Além disso, são constantemente associadas a um estilo de vida e orienta- das por determinados valores culturais. Para refletir... O termo adversário refere-se à relação que há com o outro. Com o adversário não existe uma relação de ódio e agressão, mas de intera- ção. Durante o combate, cria-se uma espécie de diálogo corporal, em que ambos os participantes atacam e se defendem. No entanto, quando o combate termina, ambos voltam a ser colegas, sem que nenhum dos dois tenha se sentido agredido ou desrespeitado. Já o termo inimigo refere-se a uma relação de desrespeito com o outro, quando o combate é utilizado como maneira de agredir e desrespeitar o outro. Fonte: SOUSA, A. J. D. V. As lutas como proposta pedagógica na educação física escolar. Trabalho de conclusão de curso (especialização em educação física escolar). Centro de Ciências Biológicas da Saúde. Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2012. – 151 – Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas Atividades 1. Que diferenças podem ser identificadas entre lutas e artes marciais? 2. Cite e descreva de forma breve os aspectos universais referentes às lutas. 3. Explique e exemplifique as classificações de lutas por intenção da ação. 4. Como se baseiam os princípios filosóficos da prática das lutas? 6 Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas Considerada uma importante manifestação cultural humana, a luta sempre esteve presente na vida do ser humano, nas ações de defesa contra uma fera ou um inimigo, por exem- plo, bem como nas de ataque, como a caça ou o combate na guerra, usando o corpo ou armas, sendo ainda aplicada de forma organizada como as modalidades conhecidas, ou ins- tintiva, emanada da necessidade do ser humano em proteger o seu próprio corpo (CORREIA; FRANCHINI, 2010). É importante destacar que com o tempo as lutas foram apa- recendo em diversas manifestações sociais, como é o caso dos rituais indígenas, ou ainda na preparação de exércitos para guer- ras no oriente e Grécia Antiga, bem como no jogo e um exercício físico na Europa e como defesa-dissimulação, a capoeira, no Bra- sil. O homem se tornou racional ele busca formas de defesa e de ataque mais eficientes, criando assim ao longo dos tempos várias técnicas de lutas, armas, e técnicas de utilização das mesmas. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 154 – De fato, as lutas fazem parte da cultura corporal do movimento humano, e servem como importante instrumento de formação do cida- dão cuja função está intrinsecamente atrelada aos mecanismos de ação que contemplem o desenvolvimento físico, psíquico e social, da inicia- ção ao alto rendimento. 6.1 Lutas enquanto prática da cultura corporal do movimento De forma global, entender como o ser humano se expressa nada mais é que o reflexo da cultura em que cada um está inserido. A relação entre corpo e sociedade envolve a cultura corporal do movimento, que ao longo da vida e da história se configura como um conhecimento que é construído e reconstruído. No amplo campo da cultura é que está inserida a cultura corporal do movimento, componente da cultura humana, condicionada histórica e socialmente. Darido e Rangel (2014) descrevem a Cultura Corporal do Movi- mento como a junção dos conhecimentos e representações, transformadas ao longo do tempo, as quais são representadas pelas práticas corporais que adotam um caráter tanto utilitário, se relacionando diretamente à rea- lidade objetiva com suas exigências de sobrevivência, adaptação ao meio, produção de bens, resolução de problemas, sendo conceitualmente mais próximas ao trabalho; quanto lúdico, realizadas com fim em si mesmas, por prazer e divertimento, e de certo modo diferenciada do trabalho. O fato é que podemos encontrar a partir de um contexto da cultura corporal do movimento, diferentes manifestações corporais, em que os esportes, jogos, danças, ginasticas, brincadeiras, lutas e rodas ganham um papel significativo e transformador. Ao estar ligado ao mundo em que vive, o corpo humano cria movimentos e ao mover se cria sentidos, dese- quilibra, inverte. Bento (2004) descreve que no universo da cultura se configuram construções de sentidos humanos da vida, com modificações da sua forma de expressão em concordância com o contexto histórico- -social e na dependência da força criativa de pessoas e grupos. E ainda de acordo com o autor, é importante se trabalhar de forma efetiva o desenvol- – 155 – Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas vimento como individual e único de ser humano para ser humano, mesmo que esteja englobado dentre uma classe ou grupo, em um mesmo cenário ou enredo, seja em escolas, academias, clubes, ou no cotidiano. As lutas podem ser entendidas como disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na com- binação de ações de ataque e defesa (BENTO, 2004). De forma geral, as lutas apresentarem características próprias, como uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade, portanto, eis uma importante diferença entre lutas e brigas, que muitas pessoas ainda não conseguem distinguir. Exemplos de lutas temos muitas, sendo que até mesmo em brincadeiras, como é o caso do cabo-de-guerra e do braço-de- -ferro encontramos esse elemento sendo desenvolvido, assim como em prá- ticas mais complexas, como é o caso da Capoeira, do Judô e do Karatê. Darido e Rangel (2014) descrevem que as lutas podem ser trabalhadas como uma importante ferramenta para o desenvolvimento dessa cultura corporal do movimento. Nas escolas, através das aulas de Educação Física, onde as práticas corporais precisam ser ressignificadas, buscando uma conexão do que é desenvolvido durante as aulas e o que o aluno precisa, de fato, apren- der para que possa aplicar em sua vida em sociedade. E ainda, vale destacar a importância de trabalhar-se as lutas em ambientes como: escolinhas ou clubes esportivos da modalidade, onde a cultura corporal do movimento também pode ser desenvolvida de forma plena. De certa forma, é evidente que a Educação Física, enquanto área de conhecimentos multidisciplinar, envolve conhecimentos relevantes de inúmeras áreas acadêmicas; e fica claro que ao estudarmos seus elementos podemos lançar mão de inúmeros campos do conhecimento, utilizando ferramentas diferentes para entender o mundo. Um mesmo objeto ou fenô- meno pode ser estudado pela Educação Física e ser “visto” de maneira muito diferente dependendo do “olhar” empregado. Portanto, o ensino das lutas possui uma relação intrínseca com a corporeidade, a qual é eviden- ciada na ação do aluno/praticante na sua formação enquanto cidadão, uma vez que os aspectos cognitivos, corporais e afetivos estão ligados em todas as situações. A Figura 6.1 evidencia um exemplo da prática das lutas como um importante mecanismo de expressão corporal. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 156 – Figura 6.1 – A expressão corporal representada por meio da prática das lutas Fonte: Stock.adobe.com/andreyfire Para refletir... Compreendendo as lutas como mecanismo de desenvolvi- mento da cultura corporal, pode-se entendê-la por exemplo, aplicada no campo da saúde, em que é possível relacionar as lutas não apenas com os ganhos que essa prática corporal pode proporcionar, mas também com os cuidados que são necessários, alertando para a diferença entre prática recreativa e treinamento de alto rendimento. Fonte: GONZÁLES, F. J.; DARIDO, S. C.; OLIVEIRA, A. A. B. (Org.). Lutas, capoeira e práticas corporais de aventura. 2. ed. Maringá: EDUEN, 2017. (Práticas Corporais e Organização do Conhecimento, v. 4). Bracht (2005) e Darido e Rangel (2014) destacam um aspecto fun- damentalacerca da cultura corporal do movimento, em que evidenciam a necessidade de buscar um trabalho pautado pelo desenvolvimento de diferentes e variadas expressões da cultura corporal do movimento, as quais devem ser entendidas como transformadoras na vida dos alunos, e a elas deve-se promover estratégias a fim de otimizar a prática, por meio de – 157 – Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas uma metodologia melhor apresentada, adaptado às condições espaciais e materiais concretas de cada comunidade, e ainda avaliando se os conheci- mentos referentes aos temas abordados. A partir de uma perspectiva que contempla uma pedagogia crítica, criativa e emancipatória, a qual aponte os problemas, e coletivamente encontre soluções, construindo, assim, a possibilidade de um conhecimento contextualizado e transformador, podemos entender o real papel desse conteúdo inserido no ambiente de formação da criança/adolescente. Na escola, por exemplo, Tenroller e Merino (2006) descrevem a Edu- cação Física como uma disciplina que permite que se vivenciem diferen- tes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais e se enxergue como essa variada combinação de influências está presente na vida cotidiana. As danças, esportes, lutas, jogos e ginásticas compõem um vasto patrimônio cultural que deve ser valorizado, conhecido e desfrutado. E ainda as escolinhas esportivas buscam, assim como as escolas regulares, apresentar projetos esportivos desenvolvidos em seu contra-turno, inúme- ras possibilidades para desenvolvimento da modalidade “Lutas”, e desta maneira, contribuir para a adoção de uma postura não preconceituosa e discriminatória diante das manifestações e expressões dos diferentes gru- pos étnicos e sociais e às pessoas que dele fazem parte. Diante desse cenário, trabalhar o tema “Lutas” em suas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais permite compreender o processo todo, buscando encontrar maneiras para que o aluno/participante possa compreender como essas dimensões podem contribuir para seu aprendi- zado, bem como estão interligadas a sua formação. A respeito dessa clas- sificação, Coll et al. (2000) explica que ela corresponde às seguintes ques- tões: “o que se deve saber?” (dimensão conceitual), “o que se sabe fazer?” (dimensão procedimental), “e o que se deve ser?” (dimensão atitudinal). Para Darido e Rangel (2005), historicamente, a Educação Física priorizou os conhecimentos da dimensão procedimental, o saber fazer corporal vin- culado comumente às aulas desse componente curricular, e não o saber sobre a cultura corporal ou como se relacionar nas manifestações dessa cultura ou, ainda, os valores e as atitudes relacionados a ela. É importante destacar que o ensino das lutas deve contemplar, além das dimensões apresentadas por Coll et al. (2000), aspectos intrínsecos Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 158 – à prática, com destaque para: as estratégias ou habilidades para resolver problemas, a tomada de decisão rápida, concentração, o saber trabalhar em equipe, mostrar-se solidário com os colegas, respeitar e valorizar o trabalho dos outros ou não discriminar as pessoas por motivos de gênero, idade ou características individuais. É importante dentro desse contexto destacar que no Brasil o reco- nhecimento das artes marciais como parte integrante do currículo da Educação Física foi associado ao conceito de cultura corporal, explí- cito nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), onde a concepção de lutas é utilizada de forma abrangente. “Podem ser citados como exemplo de lutas desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de- -ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê” (BRASIL, 1998) e sendo aperfeiçoado pela Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017) que institui as Lutas como conte- údo em uma Unidade Temática denominada Esportes. Destaque No caso específico do conteúdo Lutas para o ensino funda- mental, a BNCC (2018) prevê que ele deve focar nas disputas corporais, com emprego de técnicas e estratégias específicas para imobilizar, atingir ou excluir o oponente de um espaço específico, por meio de ações de ataque e defesa. E dentre as práticas que podem ser tematizadas, cabe ao professor elabo- rar estratégias que trabalhem de forma plena e significativa os elementos característicos dessas lutas. Neste sentido, além das lutas presentes no contexto comunitário e regional, é interes- sante que todos tenham contato com lutas brasileiras, como Capoeira, Huka-Huka, Luta Marajoara; e com lutas de diversos países do mundo, como Judô, Aikido, Jiu-Jitsu e Muay Thai. É esperado que o aluno experimente algumas lutas e seja capaz de identificar suas características, conteúdo curricular desenvol- vido sobretudo do 3º ao 9º ano do ensino fundametal. Ele deve, ainda, diferenciar lutas e brigas, refletir sobre o respeito aos – 159 – Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas colegas nas práticas de contato e sobre a importância de seguir as normas de segurança, para garantir o próprio bem-estar. Fonte: TREVISAN, R. Saiba o que mudou no ensino da Educação Física. Disponível em: <https://novaescola.org.br/bncc/conteudo/110/saiba- o-que-mudou-no-ensino-de-educacao-fisica>. Acesso em: 26 jul. 2021. Ferreira (2006) destaca que o Brasil é repleto de culturas e diferentes formas de expressões corporais, entretanto nas escolas os professores de Educação Física deveriam valorizar mais essas culturas, como, por exem- plo, trabalhar os conteúdos relacionados à Capoeira, uma luta criada por negros trazidos da África, considerada genuinamente brasileira. Ainda de acordo com o autor, infelizmente, muitos alunos ainda não sabem o signi- ficado ou a história dessa luta, cabendo então, à Educação Física resgatá-la como parte da manifestação da cultura dos negros no período escravo- crata, tendo em vista que trata-se de uma modalidade de luta que envolve a dança, a música e um gestual carregado de historicidade, portanto, repre- sentante da cultura corporal do movimento. Cabe ao professor, ao abordar as lutas, estar atento às características, dentre as quais: o envolvimento das lutas com a Educação Física, além do respeito pelo adversário, ao incentivar os alunos a tomarem posturas de confraternização e respeito às diferenças/diversidades. Darido e Rangel (2015) destacam que é necessário junto ao aprendizado da modalidade, fazê-lo a partir do desenvolvimento de diferentes aspectos, tais como: o desenvolvimento de habilidades motoras e capacidades físicas, agilidade, flexibilidade e força, atingindo também outras possibilidades de trabalho corporal como a respiração e concentração, a percepção e a utilização mais detalhada da audição e tato, e o trabalho postural. E complemen- tando, Darido e Rangel (2005; 2014) definem que os conteúdos das Lutas, assim como todos os outros conteúdos da Educação Física Escolar, depen- dem não só de como são tratados pelo professor, mas também de como estão estabelecidos no Projeto Político-Pedagógico de cada escola, no planejamento docente, na organização dos conteúdos, na cultura escolar, entre outras questões que devem ser consideradas para avaliar se há uma ampliação de significados sobre essa temática ou não. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 160 – Saiba mais Dentro do universo das lutas, existe uma grande diversidade, pois cada modalidade apresenta origem, objetivos e formas completamente distintas, embora também fundamentos e prin- cípios em comum. Nesse contexto, estão as artes marciais, que, independentemente da terminologia adotada, representam um universo amplo de manifestações antropológicas de natureza multidimensional e complexa, uma vez que tais práticas são his- toricamente importantes e têm acompanhado os seres humanos ao longo do tempo. Fonte: OLIVEIRA JUNIOR, et al. Metodologia das lutas. Porto Alegre: SAGAH, 2019. 6.2 Surgimento das manifestaçõesde luta De modo geral, o conhecimento histórico sobre um conteúdo sempre se mostra relevante e, de maneira específica, no estudo das lutas, é essencial, uma vez que somente ao se conhecer a origem e o percurso delas podemos compreender de forma ampla sua inserção atual nas diferentes culturas. Vale destacar que as lutas, as artes marciais e as modalidades espor- tivas de combate representam um universo amplo de manifestações antro- pológicas de natureza multidimensional e complexa. Como um conjunto de práticas socioculturais provenientes de um espectro diversificado de demandas históricas específicas, é possível identificar uma pluralidade marcante nas suas diferentes configurações sociais, formas de expressão, repertório técnico, linguagens, organização e institucionalização (COR- REIA; FRANCHINI, 2010). É difícil afirmar com precisão a data de surgimento das lutas, em suas diferentes manifestações, mas o fato é que, conforme descreve Paiva (2015, p. 19), “[...] nossos ancestrais eram obrigados a lutar contra a hosti- lidade advinda do meio ambiente, depois para caçar e conquistar mulheres (acasalamento), seguido por razões de disputas políticas e territoriais”. – 161 – Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas Lacrose e Nunes (2015) acreditam que as primeiras formas de lutas surgiram com a necessidade de defesa pessoal ou de territórios e, com o tempo, foram aparecendo em outras manifestações sociais, como, por exemplo, as lutas em rituais (especialmente nos povos indígenas), na preparação de exércitos para guerras (no oriente e na Grécia Antiga), como um jogo, como um exercício físico (na Europa) e para defesa- dissimulação (como a Capoeira, no Brasil). Em relação à Capoeira, vale destacar que os escravos existentes no Brasil, além de terem desenvolvido essa luta, utilizavam-na na para a sua própria defesa e incorporavam nela seus elementos culturais, conforme ainda descrevem os autores. Registros também podem ser vistos em sítios arqueológicos com pinturas rupestres ou em representações verificadas em tumbas e templos no Antigo Egito e nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, sendo um forte indício do surgimento das lutas quanto ao seu período. De fato, Lacrose e Nunes (2015) destacam que existem diferentes influências advindas da filosofia e de religiões como budismo, taoismo, xintoísmo e confucio- nismo, as quais estão intimamente enraizadas na cultura e igualmente ligadas às origens das artes marciais no Oriente. Os autores complementam, citando haver também diversos registros na literatura relacionados à origem da expressão “arte marcial” sendo que a palavra “marcial” se refere ao deus romano Marte (deus da guerra), acei- tando-se, então, a tradução literal de “arte marcial” como “arte da guerra”. No Oriente, há outros termos convencionados para a definição dessa arte: Wushu, na China, e Bujutsu, no Japão, que têm o mesmo significado: arte da guerra. Paiva (2015) complementa descrevendo que embora a palavra ‘marcial’ esteja associada à guerra, sua estrutura foi modificada de forma acentuada, sobretudo a partir do final do século XIX. Mazzoni e Oliveira Junior (2011) e Oliveira Junior et al. (2019) men- cionam que as artes marciais podem ser compreendidas como um sistema de diversas lutas que, geralmente, não têm o uso de arma de fogo ou do gênero. Paiva (2015) descreve que registros de lutas e artes marciais são divididos de acordo com a localização geográfica, representações do mundo ocidental (Europa, África e América) e oriental (Ásia e Oriente Médio). Cada vez mais, as lutas e artes marciais têm sido usadas para treina- mentos policiais, defesa pessoal e também praticadas como esporte. Cor- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 162 – reia e Franchini (2010) apresentam uma sugestão para a divisão das lutas a partir de suas origens e contextualizações, conforme segue: as lutas orientais: na Índia, Kalaripayit; na China, Wushu (Kung Fu ou Boxe Chi- nês), Jeet Kune Do, Tai chi chuan, Pa Kua, Hsing-I; no Japão, Karatê, Judô Jujutsu, Ninjitsu, Kendo, Aikido, Sumô; na Coreia, o Taekwondo, Tang Soo Do; na Tailândia, Muay Thai; em Israel, o Krav Magá. E as lutas ocidentais: nos Estados Unidos e na Inglaterra, Wrestling, Fullcontact, Kickboxing, Boxe; no Brasil, capoeira, Huka-Huka e muitas outras moda- lidades produzidas e significadas em todo o mundo. Esses mesmos autores indicam a possibilidade de nomear as artes marciais de três maneiras diferentes – artes marciais, luta e modalidades esportivas de combate – e que não há consenso entre os pesquisadores sobre qual é a terminologia mais adequada. Essas atividades são tão dinâ- micas e múltiplas que defini-las poderia limitar seu entendimento. Silva Neto (2013) menciona que, de maneira geral, as lutas, artes marciais e modalidades esportivas de combate representam as formas de expressão de povos e sua cultura é expressa a partir dos rótulos ou nomes que certas habilidades possuem. De fato, elas são provenientes de seus países de origem e representadas por posturas e movimentos cheios de simbolismo, que reproduzem atos e rituais do cotidiano. Isso se observa, principalmente, pelo nome que cada luta, arte ou modalidade apresenta: o Judô é japonês, assim como o Karatê; a Capoeira é brasileira; o Boxe é inglês; o Taekwondo é coreano e a Esgrima é francesa, conforme descreve o autor. Saiba mais O Judô foi a primeira arte marcial oriental a expressar um sen- tido pedagógico que, ao mesmo tempo que buscava a difusão e a manutenção de valores morais tradicionais japoneses, bus- cava, também, fundir esses valores com aspectos pedagógicos ocidentais. Trilhando o mesmo caminho aberto pelo judô, no Japão, encontramos outra arte marcial japonesa: o Karatê, que, tal como no caso do Judô (uma adaptação moderna do jujutsu), tem seu desenvolvimento atrelado às antigas artes marciais pra- ticadas na ilha de Okinawa. – 163 – Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas Fonte: FERREIRA FILHO, R. A.; MACCARIELLO, C. A preparação psicológica no esporte de alto nível. Sua importância no desempenho competitivo de lutadores de Mixed Marcial Arts (MMA). EFDeportes.com Revista Digital, Buenos Aires, a. 13, n. 129, fev. 2009. Do oriente para o mundo, no século XIX, as lutas foram agregando novos valores e modos de comportamento condizentes com a inserção dos costumes ocidentais, afastando-se das origens guerreiras e técnicas fatais e ligando-as a técnicas de defesa pessoal ao lazer, ao exercício físico (BREDA et al., 2010). De acordo com Marta (2009), existem algumas possibilidades de classi- ficar as práticas corporais nascidas a partir do século XIX de “artes marciais orientais modernas e inventadas”, uma vez que, a partir desse momento, foi possível identificar o acréscimo de cinco elementos determinantes: a) a influência do pensamento ocidental moderno, com as práticas passando a objetivar a saúde moral e física dos seus praticantes e, pos- teriormente, a adoção do ideal esportivo de vitória; b) a ação de sujeitos que atestam para si a função de fundadores/idealizadores das diferentes práticas; c) a preocupação gradual com a sistematização racional e escrita das práticas, que lentamente vai rompendo com a tradição oral que até então marcava, de forma exclusiva, a dinâmica de transmissão dos movi- mentos das artes marciais orientais; d) o processo de internacionalização e o envio de mestres a diferentes partes do mundo para difundir as práticas e também a formação de federações de âmbito internacional; e) a adequação da prática às necessidades impostas pelo momento histórico, tema que perpassa todos os itens anteriores. Quanto ao Brasil, Marta (2009) menciona que, Japão, China e Coreia do Sul trouxeram para o país suas lutas mais populares, possibilitando a experimentação de outra forma de cultura corporal, em um momento histórico em que essa cultura estava impregnada pelo modelo esportivo inglês e em que os métodos ginásticos(em especial o francês) faziam-se presentes – especificamente, também, em meados das décadas de 1930 e 1940, quando assistíamos à consolidação da Educação Física como disci- plina obrigatória nos currículos escolares (BREDA et al., 2010). Foi nesse Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 164 – universo que as lutas e artes marciais procuraram conquistar o seu espaço. Os mestres imigrantes fizeram com que, aos poucos, a existência de uma cultura completamente distinta daquelas trazidas pelos imigrantes euro- peus pudesse ser notadas em muitas cidades brasileiras onde colônias des- ses países se desenvolveram. Aos poucos, os mestres de lutas como Judô, Karatê, Aikido, Sumô Kendo, Kung Fu, Taekwondo e Hapkido foram difundindo seus ensinamentos no Brasil. Destaque O que se observa atualmente no Brasil é que as lutas e artes mar- ciais passaram por um processo de massificação, e, dentre os fatores influenciadores desse processo, esta a chegada dos imi- grantes de origem oriental, a influência dos meios de comunica- ção de massa, sobretudo a televisão, e o processo de esportivi- zaçao vivenciado, não apenas pelas artes marciais, mas também por outras práticas corporais (MARTA, 2009). 6.3 Processo de institucionalização, esportivização e expansão das lutas Quanto ao processo de institucionalização e esportivização dos espor- tes, no caso específico, das lutas, Brohm (1982) apud Oliveira (2018) descreve que o esporte espetáculo pode ser compreendido como a mer- cantilização do movimento humano através de uma ótica marxista, pos- sibilitando o entendimento do “casamento” perfeito entre esporte e mídia na sociedade do capital. Nesse sentido, podemos entender o esporte como uma verdadeira “máquina de dinheiros” que movimenta grande parte da economia mundial, desde os megaeventos, conforme vemos, as Olimpía- das, Copa do Mundo de Futebol, a NBA, entre outros, os quais envolvem diferentes setores, públicos, atletas de diferentes países em torno de um único propósito – o esporte. Pensar o esporte (lutas) com um caráter direcionado ao esporte, con- siderada a esportivização, mostra um nível de evolução que outrora não – 165 – Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas poderia ser imaginado pelos criadores dessas modalidades – artes mar- ciais. Destaca-se dentro desse processo de institucionalização do esporte, as práticas que vão se organizando em estruturas definidas, conhecidas como “hierarquias” que dá à modalidade esse reconhecimento, e autono- mia para o seu desenvolvimento em um país. Nesse caso, dividem-se em: confederações, ligas, clubes e associações etc. Por outro lado, devemos considerar o que menciona Brohm (2004) apud Oliveira (2018), que faz críticas ao funcionamento político, o que de acordo com o autor, caracteriza essa esportivização como a “lei da selva”, particular- mente se referindo ao esporte espetáculo, que segundo o autor se tornou um dos vetores da globalização disfarçando seu caráter político através de sua ideologia. Através dessa relação entre esporte e mídia, houve mudança em ambas as partes, a mídia teve que evoluir em termos tecnológicos. E no caso das lutas, por envolver movimentos rápidos e os pontos a serem con- tabilizados, foi necessário investir em câmeras e outros aparelhos a fim de conseguir mostrar ao espectador o momento exato do toque, seja ele no próprio corpo ou no solo (OLIVEIRA, 2018). Em uma sociedade de consumo, vinculada aos meios de comunicação o esporte atual atende às necessidades da mídia. O resultado é algo fantástico, fascinante aos olhos, o esporte espetáculo atrai aos mais diversos públicos, o espetáculo produ- zido agrada em escala global. Destaca-se que as lutas e as artes marciais vêm sofrendo há algum tempo, o processo de esportivização e após isso vão se espetacularizando, de maneira que tenha como produto os encantamentos dos olhos de seus espectadores (OLIVEIRA, 2018). Podemos constatar os pontos positivos e negativos dessa vertente, a qual tende a crescer em nossa sociedade. Atualmente existem canais de TV especializados somente nas lutas e artes marciais, além de sites específicos, revistas, desenhos, enfim, o Universo das mídias é repleto de sons e imagens que remetem a esse fenômeno. De fato, a influência da mídia é notória, e pode ser considerada cada vez mais o componente disseminador das lutas, e alcançando um público cada vez maior devido a essa exposição, não seria diferente pensar que a mesma não atingiria de forma plena as aulas de Educação Física, ou seja, o ambiente escolar (RIOS, 2005). Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 166 – As lutas, em suas mais diversas manifestações ou estilos, estão pre- sentes desde os primórdios da humanidade. Usadas como formas de ata- que e defesa ou como disputas e jogos, foram ganhando novos elementos, perdendo outros, evoluindo conforme a cultura em que estavam inseri- das. A luta é tão antiga quanto a existência do homem no mundo (RIOS, 2005). E complementa, mencionando que o homem primitivo lutou pelo alimento, pelo espaço, pelo que se apropriou materialmente e pela com- panheira. Isso sem falar na luta contra animais. De início, não possuíam armas, usavam apenas sua própria força. De maneira geral, é importante distinguir o termo lutas e artes mar- ciais, embora muitas vezes sejam tratados como sinônimos, o conceito de lutas parte de uma visão mais geral, onde qualquer situação que haja combate pode ser classificada como “Luta”, já as “Artes Marciais” pode ser classificada como um conjunto de técnicas que podem ser utilizadas em situações que exija o uso de ataque e defesa, tendo em sua maioria uma base filosófica, uma ligação de espiritualidade e religiosidade. As artes marciais não compreendem somente um apanhado de técnicas, mas tam- bém um conjunto de filosofias e tradições de combate, conforme descreve (GOMES et al., 2010; LANÇANOVA, 2006). Parizzoto et al. (2017) trata da definição do termo artes marciais o qual é responsável por abranger uma série de manifestações, com distintos contextos, sob a mesma definição, entendendo que a polissemia do termo é um dos fatores que podem dificultar sua apropriação e definição precisa, o que leva muitos autores a interpretá-la de forma diferente. Os autores descrevem que a própria grafia do termo empresta os termos romanos rela- tivos ao deus Marte para a definição de algo marcial e o conceito de téc- nica relativo a palavra ars em latim. O conceito oriental, por sua vez, traz definições literais pouco significativas para outros contextos culturais, sua compreensão dos estilos é bastante literal e simbólica, as diversas práticas marciais foram abarcadas por uma definição exterior ao contexto em que foram criadas e miscigenadas a diferentes conceitos e estilos, bem como modificadas conforme o contexto em que foram praticadas ao longo de sua história. O caminho: das mãos vazias (Karate-do); suave (Judô); da espada (Iai-do); do arco (Kyudo), são exemplos dessa compreensão literal sobre o significado de cada estilo. Considerando essa dificuldade e tam- – 167 – Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas bém que a maior parte das artes marciais conhecidas e praticadas no Brasil tiveram origem nas práticas marciais japonesas, iremos abordar o conceito para definir artes marciais orientais, mas iremos abordar, principalmente, a influência da escola japonesa neste contexto. A luta apareceu paralelamente à criação das primeiras sociedades, e, conforme descreve Rios (2005), sua evolução é multifacetada e acon- teceu em diferentes épocas, de acordo com as condições de vida. O autor ainda menciona que é como se em certos lugares do nosso planeta o tempo tivesse parado para permitir a conservação das formas arcaicas da luta. Nesse sentido, é evidente que as lutas estão intimamente atreladas a um contexto onde conflitos de diferentes ordens ainda existam, o que interfere no processo organizacional das sociedades, em geral. Parizzotoet al. (2017) e Rios (2005) descrevem que as lutas corporais podem ser divididas em duas vertentes, de um lado aquelas nascidas no oriente e do outro, as do ocidente. De forma geral, os autores descrevem que as lutas orientais são as que mantêm um caráter de tradição, pelo fato de que historicamente os orientais conservavam bastante suas tradições, não só das lutas corporais; já as lutas ocidentais surgiram, além da pratica esportivizada, com intuito de autodefesa. De maneira global, Parizzoto et al. (2017) descrevem que o pro- cesso de esportivização das lutas ocorre quando há influências políti- cas, midiáticas, pedagógicas ou militares que alteram a prática corporal existente nos diferentes tipos de arte marcial. Por meio de um processo civilizador, as lutas passaram a ser menos “violentas”, tendo um contato corpo a corpo reduzido e diversas alterações nos movimentos e posicio- namentos corporais. Essa modificação leva muitas vezes à descaracteri- zação, pois cada elemento corporal específico presente nas lutas remete diretamente à cultura do seu país de origem. A disseminação de muitas lutas milenares como o Taekwondo, o Hapkido e o Kung Fu pelo oci- dente provocou uma mudança do caráter filosófico para o competitivo. Práticas que deveriam ser ao mesmo tempo físicas e espirituais passaram a seguir como base o alto rendimento e a espetacularização. Há algumas mudanças que se evidenciam no cotidiano dos atletas como a não utili- zação de equipamentos de proteção, nos combates de hoje é obrigatória a presença de: protetor bucal, colete, caneleira, luvas e capacete. Isto se Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 168 – evidencia em campeonatos de Taekwondo, Karatê, Hapkido e outras lutas milenares cujo sentido tem sido alterado. Atualmente, mesmo não sendo utilizadas para fins bélicos, as artes marciais são praticadas por um número muito grande de pessoas por todo o mundo. Muitos desses combates são extremamente explorados pela mídia em diversos lugares, como, por exemplo, o MMA (Mixed Martial Arts), um combate em ascensão e vendendo muito na mídia e rendendo milhões, para quem está envolvido diretamente com essas lutas (Figura 6.2). Figura 6.2 – MMA (Mixed Martial Arts) Fonte: Shutterstock.com/Andrey Burmakin É preciso entender que a modernidade trouxe consigo um caráter desportivo para as lutas, como vemos as praticadas sobretudo no oci- dente. De fato, o próprio processo evolutivo natural do homem levou a tolerância, e marcada por uma redução dos níveis de violência irra- cional, surgindo a relação: quanto mais civilizado menor a tolerância à violência, fazendo com que as lutas fossem se adaptando, ou seja, per- dendo algumas características de sua gênese a fim de que se tornassem práticas aceitas. Nesse sentido, é durante a Revolução Industrial que no ocidente se desencadeia a “febre” da produção, o rendimento, a eficiên- cia, parâmetros que passam a ser assimilados por quase todo o mundo e dão sustentação ao surgimento do “esporte-elite-espetáculo-consumo”. – 169 – Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas E nesse viés, encontramos as artes de combate/luta, as quais foram aos poucos absorvendo ou sendo absorvidas por esse modelo e se expandindo pelo mundo, conforme descreve Rios (2005). A partir de então, ocorre uma maior popularização e organização das artes de combate/luta no mundo. Muitas artes de combate/luta que neces- sitavam de tempo e dedicação para serem aprendidas (caráter filosófico/ cultural) foram aos poucos destituídas, não por total, desses valores. Oliveira (2018) apresenta a definição de esportivização como o pro- cesso de transformação de certas práticas corporais em esporte institucio- nalizado. Hoje em dia, conforme menciona o autor, esse processo amplia o número de modalidades esportivas em todo o mundo. Um exemplo disso é a Capoeira, patrimônio cultural brasileiro, com o qual nos deparamos nas ruas e comunidades de inúmeras cidades brasileiras, tradicionalmente considerado um jogo com elementos de dança e de artes marciais, mas que já tem, em alguns lugares, tomado também a conotação de esporte de competição (tendo inclusive torneios oficiais, organizados por federações de capoeira) (RIOS, 2005). Correia e Franchini (2010) mencinam que esse processo de esporti- vização atinge práticas corporais como artes marciais (quase todas elas, como o Judô e o Karatê, por exemplo, têm uma federação internacional e são parte do programa olímpico). De fato, quando uma prática corporal sofre o processo de esporti- vização, basicamente ela passa a existir em duas formas: a sua forma original, não esportiva (por exemplo, a ideia das lutas como defesa pessoal ou manutenção da saúde), e em sua forma esportivizada (os campeonatos) (SILVEIRA, 2005). Oliveira (2018) traz um exemplo interessante desse processo de esportivização e expansão das lutas, no caso do desenvolvimento do boxe, em que as formas mais antigas de pugilato, uma maneira popular de resolver conflitos entre os homens, não eram inteiramente desprovidos de regras. Porém, o uso dos punhos desprotegidos era acompanhado, fre- quentemente, pela utilização das pernas como uma arma. E complementa citando que o padrão popular de luta desarmada envolvendo os punhos, ainda que não estivesse totalmente desprovido de regras, era bastante fle- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 170 – xível. Na Inglaterra, houve uma considerável mudança, sobretudo, asso- ciada às regras, incluindo um rigoroso conjunto de regras que, entre outras coisas, eliminava por completo o uso das pernas como armas. De acordo com Gomes et al. (2010) existe, na atualidade, uma diversi- dade de artes marcias, algumas com objetivos mais novos, como o da vitória no esporte, objetivos esses onde foi necessária uma mudança epistemológica em algumas modalidades, passando da luta marcial para a luta esportivizada. É importante destacar também o ponto de vista trazido por Gomes et al. (2010) em que as lutas tendem a assumir características mais despor- tivas, já que as regras surgem no processo de esportivização, assim fica difícil entender a luta no seu campo epistemológico, por pressões compe- titivas e consumistas as lutas podem chegar a perder a sua originalidade. Oliveira (2018) afirma que o modelo esportivo conhecido atualmente se constituiu por volta da metade do século XVIII até o século XIX, na Inglaterra, onde ficou em evidência no cenário mundial. Muitas das moda- lidades esportivas desenvolvidas atualmente, são originados dessa época, onde os trabalhadores utilizavam dos seus tempos livre para essa prática. De acordo com Parizzoto et al. (2017), as lutas inicialmente eram consi- deradas como recreação, entretanto com o desenvolvimento de senso de justiça foram estabelecidas regras mais rígidas. As lutas para chegar ao padrão que conhecemos hoje, do esporte em si, demandou inúmeras modificações em sua estrutura, das quais destaca-se: a manutenção do confronto, as disputas, sem deixar de ser algo civilizado, visto que, como já falado, quanto mais civilizado menor a tolerância à violência, a fim de trazer a emoção para quem prática e para quem assiste, dentre outros, conforme destaca Oliveira (2018). Portanto, no processo de esportivização das lutas, houve a necessidade de adaptação às regras, para que não houvesse empate, presumindo pelo fato de que a luta em outrora foram uma extrema representação dessa fuga de tensões causadas pela vida em sociedade, pelo autocontrole de suas emoções e instintos, uma das representações históricas são as bata- lhas nos coliseus e pancrácios. De fato, as práticas sociais ligadas a esse fenômeno tomam um cará- ter eminentemente “com” e não “contra” um adversário. Pensar em uma – 171 – Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas aula de lutas e artes marciais, através do paradigma da oposição pode ser um engano. Existe um patrimônio cultural ligado a essas práticas, embora a luta (combate) sejao principal símbolo social ligado ao fenômeno, ele não é o único e não deve limitar ou ser atributo definidor das práticas, conforme descreve Parizotto et al. (2017). O sentido da luta enquanto uma prática institucionalizada, regrada, internacionalizada e moldada, ou seja, dentro do contexto esportivo, tem seus princípios ligadas ao olimpismo e recebe especial destaque em nossa sociedade (OLIVEIRA, 2018). Para muitos, pensar em lutas e artes mar- ciais significa pensar em campeonatos de Judô, Taekwondo, Jiu-Jitsu, Boxe etc. Automaticamente pensa-se em competição, em pontos, em vitó- rias, derrotas, medalhas e pódios, o que não é errado, mas o mais impor- tante é que essa esportivização não interrompa todo o processo construído ao longo da história, e o papel das lutas enquanto filosofia de prática e construção do indivíduo, preparando-o para ir além do competir por algo. Por outro lado, é importante entender que as artes marcias foram cria- das para defesa de sua nação, portanto, não tinham como filosofia o esporte de combate, porém outros esportes, qu motivaram o público através de torneios e competições, por pressões comerciais e midiáticas, responsá- veis por impulsionar a criação de campeonatos e competições das moda- lidades de combate ao redor do mundo (RIOS, 2005). Faz-se importante compreender, portanto, a contextualização da arte marcial como forma de transformar o corpo para guerra deixa de existir; e talvez pela necessidade da busca pela paz, ou talvez pela simples existência de armas bélicas, mas como foi dito, a prática ainda se mantém presente. Atividades 1. Por que é importante entendermos as lutas como parte funda- mental da cultura corporal do movimento? 2. Qual a importância de se trabalhar o conteúdo de lutas nas aulas de Educação Física Escolar? 3. Como surgiram as primeiras manifestações das lutas? 4. Em relação à esportivização das lutas, como ocorreu esse processo? 7 Fundamentos teórico-práticos das lutas Compreender as lutas como parte essencial da cultura humana e da sociedade leva-nos a refletir sobre as inúmeras possibilidades que oferecem no intuito de promover a cons- trução do cidadão, preparando-o para uma atuação crítica- -reflexiva na sociedade. Independentemente da modalidade de luta, os princípios básicos são pautados por elementos comuns a todas, dentre os quais, destacam-se: o respeito às regras, a hierarquia e a disciplina, valorizando a preservação da saúde física e mental de seus praticantes. O contexto histórico das lutas não é de fácil explicação e continua sendo uma grande questão onde, exatamente, origi- naram-se as lutas e as artes marciais, devido a sua diversidade de manifestações espalhadas ao redor do mundo. Tais lutas e artes marciais, muitas vezes, carecem de documentos compro- batórios da sua origem. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 174 – Em relação à fundamentação teórico-prática das lutas, é importante entender que esse processo está fortemente atrelado ao surgimento dessas lutas, a constar desde os primórdios, quando eram utilizadas como forma de sobrevivência, até aos tempos atuais, em que foram esportivizadas em sua grande maioria, dividindo-se em artes marciais e esportes de combate. Nesse sentido, vemos as lutas como integrante dos Jogos Olímpicos, por exemplo, o que gera enorme retorno, atraindo muitos praticantes e telespectadores. Por toda sua base e contexto histórico-social em que está inserida, pode-se considerar as lutas como modalidades ou conteúdos, quando apli- cadas em ambiente escolar, direcionados não apenas para o desenvolvi- mento dos aspectos físicos e/ou motores, bem como do cognitivo e social, permitindo aos seus praticantes desenvolverem-se de forma integral. 7.1 Métodos, técnicas de ensino e aprendizagem das lutas Acerca dos métodos e técnicas de ensino e aprendizagem das lutas, é importante compreender o contexto global em que estão inseridas. No âmbito escolar, temos a proposta apresentada por Coll et al. (2000) como ponto de partida para a tomada de decisões relacionadas aos métodos e técnicas mais assertivas de acordo com o desenvolvimento, objetivos e finalidades do indivíduo. Os autores descrevem três dimensões dos con- teúdos, as quais devem ser enfatizadas em qualquer plano elaborado, a destacar: a dimensão conceitual (o que o aluno deve saber?); a dimensão procedimental (o que o aluno deve fazer?); e a dimensão atitudinal (o que o aluno deve ser?). Para Zabala (1998) e Darido e Rangel (2014), não basta somente buscar respostas a respeito do que ensinar, mas entender os conteúdos que devem ser colocados em prática, facilitando todo o processo de ensino-aprendizagem intrinsecamente relacionado aos métodos e técnicas que o professor poderá adotar para que esse caminho seja potencializado em prol do desenvolvimento integral do aluno (aspectos cognitivo-motor-afetivo/social). No ambiente escolar, o conteúdo “lutas” pode se transformar em uma excelente ferramenta pedagógica quando bem desenvolvido pelo professor, – 175 – Fundamentos teórico-práticos das lutas conforme orienta a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2018), cuja recomendação está direcionada ao desenvolvimento de seu tra- balho a partir do 3º ano do ensino fundamental. Por outro lado, Monteiro (2014) deixa claro que, devido aos aspectos que circundam o ensino das lutas, deveria perfeitamente ser trabalhado a partir da ludicidade, trazendo esse conteúdo em forma de brincadeiras que simulem a ação de ataque e defesa, como ocorre, por exemplo, no cabo-de-guerra ou, ainda, no braço de ferro, estimulando atividades que trabalhem elementos que tratam dos princípios das lutas, entre os quais estão: o contato e o desequilíbrio. Entender esse conteúdo como componente da cultura do movimento humano torna-se essencial, uma vez que suas atividades configuram cons- truções de sentidos humanos da vida, com modificações da sua forma de expressão em concordância com o contexto histórico-social e na dependên- cia da força criativa de pessoas e grupos, conforme destaca Bento (2004). Nesse sentido, entende-se que o principio básico das lutas está dire- cionado ao fato de subjugar o(s) oponente(s), utilizando, para tal, técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa, e esses princípos, quando ensinados, devem promover no aluno a capacidade de auto-reflexão, análise crítica e posicionamento diante um problema que possa surgir. Além disso, outro aspecto muito importante a entender é que, por possuírem uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade, fazem com que o preconceito outrora falsa- mente percebido pela sociedade podem ser transformados de forma posi- tiva na vida de todos os envolvidos. A BNCC (BRASIL, 2018) descreve que os conteúdos previstos para a educação básica devem ser desenvolvidos exclusivamente pela disciplina educação física e que, do 3º ao 5º ano, os objetos de conhecimento devem estar centrados nas lutas do contexto regional e comunitário, além das lutas de matrizes indígena e africana. Além disso, os alunos devem experimentar, fruir e recriar essas lutas respeitando o colega como oponente, as normas de segurança, além de saber diferenciar lutas de brigas e lutas das demais práti- cas corporais. Nessa fase do desenvolvimento, Monteiro (2014) destaca que a ludicidade deve ser explorada, sendo as brincadeiras elementos essenciais para que as aulas se tornem dinâmicas e estimulem a participação de todos. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 176 – Ainda de acordo com o autor, essa fase é aquela em que se deve enfatizar mais ainda os aspectos ligados aos jogos de luta, ou seja, pequenas adapta- ções aos esportes de combate com mudanças nas regras. Ainda a respeito dos conteúdos a serem desenvolvidos, a BNCC (BRA- SIL, 2018) esclarece que, no período do 6º e do 7º ano, deve-se priorizar aslutas do Brasil, como capoeira, huka-huka, luta marajoara etc. Monteiro (2014) enfatiza os aspectos associados à capoeira, uma luta que motiva os alunos pelas suas características, isto é, pelo fato de possuir música e dança em um só momento. Além do aspecto associado ao ensino da luta em si, tratar a capoeira como conteúdo é essencial para resgatar aspectos históricos e sociais do país, incluindo seus aspectos fundamentais como: as vertentes, os instrumentos, os elementos e a roda. Ainda nesse período escolar, Mon- teiro (2014) descreve ser importante ensinar as lutas, respeitando o nível de complexidade que apresentam, ao partir do ensino de jogos mais simples para jogos mais complexos, ou seja, das lutas adaptadas até práticas mais próximas à realidade, o que é entendido como interessante dentro do pro- cesso pedagógico de progressão sequencial (Figura 7.1). Figura 7.1 – Conteúdo “lutas” na educação básica Fonte: Stock.adobe.com /JackF No 8º e no 9º ano do ensino fundamental, a BNCC (BRASIL, 2018) sugere que se trabalhem as lutas pelo mundo, diferentemente da etapa – 177 – Fundamentos teórico-práticos das lutas anterior, em que o foco estava direcionado somente às lutas do Brasil. Rufino (2017) apresenta como propósito a inclusão de atividades durante as aulas de educação física que estejam mais próximas das possibilidades de experimentação por parte dos alunos, ou seja, lutas que são desenvolvi- das em outros países, mas que possuem uma abrangência prática reconhe- cida no Brasil. Desse modo, o autor sugere que o professor aborde jogos mais complexos, que podem ser enfatizados desde o princípio, uma vez que os jogos simples teoricamente foram tratado na etapa anterior (6º e 7º anos do ensino fundamental). Finalmente, no ensino médio, o documento norteador oficial da edu- cação básica brasileira (BNCC) não deixa claro o que pode ser trabalhado, cabendo ao professor introduzir ou não elementos associados às lutas em suas aulas. Nesse caso, assim como defendido por Rufino (2017), seria interessante que o professor buscasse ampliar o repertório de movimentos e suas combinações, por meio do ensino da lógica das diferentes modali- dades e a aprendizagem de lutas com a característica de distância mista, como as práticas de MMA – Mixed Martial Arts, tão divulgadas pela mídia e muito difunidas no país. Para refletir... O ensino das lutas deve sempre buscar a inclusão no caso de haver pes- soas com deficiência, garantindo-lhes o direito de praticar inúmeras atividades/lutas desde que sejam devidamente adaptadas para cada situação específica dessa limitação. Cabe ao professor, mesmo diante de inúmeros desafios, garantir a todos os participantes o ambiente ade- quado para a prática, o respeito às regras, aos companheiros e aos pro- fessores, bem como o cuidado com os materiais e a disciplina envolvida no processo (RUFINO, 2017). A respeito do procedimento a ser adotado pelo professor, Weisz (2002) esclarece ser importante a busca constante pela qualificação, ofere- cendo aos alunos as aulas mais adequadas possíveis, além de desenvolver uma postura investigativa, na qual a formação do cidadão, nesse caso, dos Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 178 – alunos, esteja atrelada ao contexto em que estão inseridos. Para o autor, cabe à sociedade decidir o que as crianças e os jovens devem aprender, indo na contramão das orientações estabelecidas pela BNCC. Se, por um lado, é o que cada um já possui de conhecimento que explica as diferentes formas e tempos de aprendizagem de determi- nados conteúdos que estão sendo trabalhados, por outro sabemos que a intervenção do professor é determinante nesse processo. Seja nas propostas de atividade, seja na forma como encoraja cada um de seus alunos e se lançar na ousadia de aprender, o professor atua o tempo inteiro. (Weisz, 2002, p. 61) Zabala (1998) revela, ainda, que é frequente encontrar argumentos dos professores sobre a impossibilidade de realizar mudanças em algu- mas metodologias, seja na distribuição do tempo, nos agrupamentos, ou na avaliação. Apesar das contribuições das modalidades de lutas aos seus praticantes, os professores que trabalham no ambiente escolar, principal- mente com aulas de educação física, apresentam dificuldades em trabalhar os conteúdos das lutas nas suas aulas. Acerca dos conteúdos das lutas em contextos não formais como aca- demias e clubes, Rufino (2017) descreve que podem ser desenvolvidos conteúdos que privilegiem as práticas pedagógicas conhecidas como tra- dicionais, cuja ênfase é dada aos aspectos técnicos, sendo o professor o centro numa relação verticalizada entre professor e aluno, descontextua- lizada da realidade. De acordo com Darido e Rangel (2014) e Rufino (2017), contextos não formais poderiam ser aplicados pelos professores no ensino das lutas, em que as diferentes práticas pedagógicas e as experiências e vivências culturais dos alunos são colocadas em evidência, e os aspectos históricos, fiosóficos e corporais das lutas são discutidos sob um olhar crítico e refle- xivo a respeito da sua importância social. As metodologias e as estratégias pedagógicas voltadas para o ensino das lutas devem possibilitar que os alunos explorem diferentes contextos, garantido o ecletismo e o desenvolvimento multilateral, ao visar a formação, a ampliação e o enriquecimento cultural, conforme descrevem Moura et al. (2019). – 179 – Fundamentos teórico-práticos das lutas Um estudo realizado por Terluk e Rocha (2021) teve como objetivo investigar a literatura acerca das estratégias de ensino das lutas e dos espor- tes de combate. Foi realizada uma pesquisa em diferentes bases de dados, no período de 2010 a 2020, em diferentes contextos, como academias, clubes e escolas. De forma global, os resultados encontrados neste estudo mostraram que 89% dos estudos apontam para estratégias de ensino cen- tradas no aluno, levando em conta os interesses e a contextualização das práticas, de forma lúdica e livre para criar novos movimentos, embora existam diferentes metodologias e estratégias pedagógicas de ensino utili- zadas pelos professores. Na prática, as metodologias e técnicas asssociadas com a ludicidade possuem um componente interessante e aplicado por muitos professores no processo ensino-aprendizagem. Cabe ressaltar, ainda, que a exploração de novos gestos e movimentos e a liberdade de expressão têm sido outra metodologia de ensino utilizada nas aulas de lutas, conforme descrevem Terluk e Rocha (2021). De fato, o professor, ao elaborar e introduzir em suas aulas novos gestos e movimentos, proporciona aos alunos uma exce- lente oportunidade de desenvolver novos conhecimentos e experiências, estimulando a aprendizagem, a criatividade e a criação de sentidos e sig- nificados das lutas no seu cotidiano. Fabiani et al. (2016) evidenciam a contextualização do conteúdo de acordo com a realidade dos alunos como uma das estratégias a serem adotadas e, em torno disso, tornar o processo de ensino-aprendizagem dos diferentes aspectos das lutas mais dinâmico e motivador para esses alunos em geral. Vale destacar também o papel dos jogos de oposição, que podem ser utilizados como estratégias para o ensino e aprendizagem das lutas (SAN- TOS e NUNES, 2020). Nesse sentido, tem-se o foco sobre os jogos de oposição, que se referem às atividades de oposição corporal individual ou coletiva, em que a prioridade é a própria ação de oposição, sem enfa- tizar a perda ou o ganho no jogo. Nesse caso, cabe, ainda, desenvolver as atividades sob aspectos que as ligam ao lúdico, ao prazer, à brincadeira, conforme mostrado anteriormente no texto. Ademais, outro aspecto que deve ser considerado ao tratar-se de métodos e técnicas de ensino são as dimensões de conteúdo (TERLUK; Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 180 – ROCHA, 2021). Acerca dos modelos de ensino, o modelo tradicional permanece muito praticado no Brasil, corroborando com os achados de Rufino(2017), ao destacar que muitos ainda acreditam que esse é um modelo que privilegia os valores adquiridos e a tradição nos treinamentos, que têm a supremacia para a orientação/condução da prática pedagógica, além de beneficiar seus praticantes por meio desse tipo de proposta. Um dos pontos considerados como negativo desse modelo de ensino é a exces- siva repetição isolada de movimentos específicos e técnicas, um dos prin- cipais mecanismos que podem tornar a aula monótona e desinteressante para o aluno (DARIDO; RANGEL, 2014). Saiba mais O ensino das lutas deve estar atrelado a inúmeros aspectos a serem desenvolvidos durante as aulas. Sendo assim, destaca-se a importância de conhecer outros aspectos, entre os quais estão: os cerimoniais, as vestimentas, a disciplina e a hierarquia, que regem as diferentes lutas. Portanto, cabe aos professores dire- cionarem sua abordagem rumo a uma contextualização mais ampla de saberes que não somente o da prática da modalidade em si (RUFINO; DARIDO, 2015a). 7.2 Processos pedagógicos aplicados aos diferentes tipos de lutas As lutas carrregam consigo um grande cabedal de cultura de dife- rentes civilizações ao longo dos tempos, passando de geração em geração conhecimentos que, outrora “fechados”, tendem, com a globalização, a tornarem-se cada vez mais acessíveis ao público em geral. Tendo sido reconhecida como rito, prática religiosa, preparação para a guerra, jogo, exercício físico, entre outros diversos significados, as lutas possuem um papel de destaque no desenvolvimento da humanidade e de suas respecti- vas sociedades ocidentais ou orientais, uma vez que são formas reconhe- cidamente comprovadas de manifestação cultural de um povo. – 181 – Fundamentos teórico-práticos das lutas De forma geral, as lutas são conhecidas pelos nomes das modalida- des específicas, em que termos como judô, karatê, kung fu, esgrima são amplamente difundidos pela mídia, como se um movimento pertencesse exclusivamente a uma modalidade e só pudesse ser ensinado no contexto dessas especificidades, o que parece um tanto quanto contraditório, pois todas são pertencentes às lutas. No entanto, vale ressaltar que cada luta se refere a conteúdos variados e diferenciados. Em relação à pedagogia do esporte, é importante entender que se trata de uma das pluralidades do fenômeno esporte, sendo que pode estar presente em cenários que tangem as diferentes manifestações sociais do esporte, ou seja, da iniciação ao alto rendimento. Desse modo, as lutas interagem em diferentes dimensões atreladas a um conhecimento mais amplo, que, na iniciação, não enfatizam suas fragmentações figuradas nas especificidades das modalidades, não havendo, dessa forma, dissociação entre essas dimensões (PAES, 2002). Outro aspecto a ser considerado sobre o esporte e seu aspecto peda- gógico é o fato de ser reconhecido como um fenômeno polissêmico e poli- mórfico, que permite compreender a proporção dos sentidos e das formas de expressão inerentes a ele, independentemente do âmbito de aplicação ou análise (BENTO, 2004). Referente ao ensino das lutas, entende-se esse conteúdo como esporte, de fato, em que suas manifestações se relacionam com filosofia, tradições, exercício físico, lazer, alto rendimento, contextos nos quais se inserem os diferentes personagens que buscam, por alguma razão, a sua prática. No que tange a iniciação às lutas, muitos a associam ao contexto esco- lar. Desse modo, vários autores relacionam seu ensino com conteúdos que abordem conceitos básicos por meio de jogos e brincadeiras (lúdico), e o ensino das “lutas de agarre” acaba tornando-se interessante, pois traz inú- meras possibilidades de desenvolvimento de um trabalho mais generalizado voltado para a formação básica do aluno. Nessa fase, ele está em pleno desenvolvimento de suas capacidades, incluindo as habilidades específicas no esporte, como é o caso das lutas que tenham esse princípio, que estão pautadas pelo uso de uma certa distância de enfrentamento (quase nula), o que diminui o grau de violência de possíveis impactos durante os combates. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 182 – Gomes (2008) propõe um método de trabalhar de forma global o con- teúdo de lutas. Dessa forma, a autora traz uma organização do conheci- mento sobre lutas, que privilegia os conceitos associados aos princípios condicionais, grupos de aproximação e formas, conforme você pode veri- ficar na Figura 7.2. Figura 7.2 – O ensino das lutas Técnica Tática Média distância Longa distância Curta distância Princípios Condicionais Modalidades Formas Fonte: adaptada de Gomes (2008, p. 67). O que se vê no ensino das lutas, geralmente, é uma ênfase nas moda- lidades específicas, restringindo o universo de possibilidades das lutas, e, ainda, desconsiderando um ensino direcionado à complexidade/diver- sidade e à legitimidade dos conteúdos que podem ser desenvolvidos por meio da educação física (GOMES, 2008). Nesse sentido, esse modelo apresentado pela autora mostra-nos a importância de enfatizarmos uma metodologia de ensino cujas estratégias pedagógicas estejam atreladas ao método que parta do global para o específico, em que os os princípios condicionais (contato proposital, fusão ataque/defesa, imprevisibilidade, oponente(s)/alvo(s), regras) seriam o alicerce pelo qual se inicia o ensino. – 183 – Fundamentos teórico-práticos das lutas Vale destacar que é na base, ou seja, nos ensinamentos considera- dos globais, que o aluno iniciante irá absorver e incorporar a dinâmica da modalidade por meio da prática de atividades que envolvam a resolução de problemas a partir desses princípios, estimulando diferentes áreas de domínio importantes para a sua formação integral. Gomes (2008) destaca um aspecto importante a ser considerado no ensino das lutas na fase de iniciação, em que o contato proposital, dependendo da modalidade ou etapa do ensino-aprendizagem, torna-se um princípio que pode gerar certo desconforto nos alunos, sobretudo aos que não estejam habi- tuados com a luta. Para tal, a autora sugere uma introdução gradativa das ati- vidades num contexto que, aos poucos, consiga “quebrar” certos paradigmas. todos os tipos de contato (direto, indireto, contínuo, intermi- tente, através de implementos) devem ser vivenciados em todas as posições possíveis (em pé, quatro apoios, deitado etc.). Alguns materiais facilitam e exigem o contato entre os alunos, que podem desenvolvê-lo em duplas, trios ou grupos (GOMES, 2008, p. 67). Saiba mais Uma metodologia apresentada por Dopico, Iglesias e San Eme- terio (2001), citados por Gomes (2008), mostra que a metodolo- gia de ensino das lutas pode ser desenvolvida em função dos objetivos da luta, conforme listado abaixo: • Em função da participação corporal, em que podem ser utilizados diferentes grupos musculares; • Em função do grau de controle do sujeito sobre a habi- lidade ou da influência do ambiente sobre aquele que aprende, conhecido como habilidades abertas ou fechadas, que é visto na pedagogia do esporte; • Em função do caráter do combate, que pode ser classifi- cado como: contínuo ou descontínuo; • Em função da disponibilidade de retroalimentação e par- ticipação cognitiva, associado à habilidade do “pensar enquanto executa uma ação”, muito associado, ainda, à tomada de decisão rápida; Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 184 – • Em função do tipo de movimento esportivo, analisando sua origem e classificação, a qual é definida em: movimen- tos estereotipados cíclicos e acíclicos. Rufino e Darido (2012) destacam que a maior diferenciação entre as lutas e outras práticas corporais é o fato do objetivo principal ser o enfrentamento físico direto com um adversário ou oponente, seja ele real, isto é, personificado no outro, seja ela imaginário, isto é, adversário virtual. Portanto, ao longo das ações técnicas e táticas, há possibilidades que vão sendo criadas devido a esse fator de imprevisibilidade,já que o adversário nunca ficará inerte e responderá às reações de forma inespe- rada, imprevisível. De forma geral, as lutas possuem uma importância considerável na formação do indivíduo, e devem sempre ser consideradas como conte- údo do currículo escolar. No entanto, faltam ainda algumas proposições e indicações de possibilidades de abordar essas manifestações, sobretudo em ambiente escolar, pois não há uma normativa tão bem definida sobre quando ensiná-las, como ensiná-las e, o mais importante, o que ensinar das lutas ao longo processo de escolarização. Embora o documento da BNCC (BRASIL, 2018) estabeleça critérios e parâmetros importantes para o ensino das lutas, algumas importantes informações ainda não são contempladas, assim como o porquê da ausência desse conteúdo no ensino médio. Tais situações merecem uma revisão. Parte-se da premissa de que as lutas, devido as suas características próprias, podem ser implementadas em qualquer segmento da educação básica, visto que constituem o tipo de modalidade que permite a partici- pação de todos, independentemente da força ou resistência, da altura e/ou peso corporal, ou, ainda, sexo e gênero. Todos esses elementos não podem ser considerados impeditivos para esse ensino nas escolas, e sobretudo para a participação de todos. Rufino e Darido (2015a) destacam que um dos grandes problemas para a falta de aprofundamento desse conteúdo nas escolas está atrelado à ausência de um sequenciamento pedagógico claro, que deixa, muitas vezes, de contemplar aspectos importantes associados aos esninos de dife- – 185 – Fundamentos teórico-práticos das lutas rentes tipos de lutas, mostrando-os, geralmente, de forma superficial, sem explorar, de fato, toda a riqueza que vai muito mais além da simples prá- tica corporal. Um trecho desses autores traz, de forma simplificada, uma análise acerca do tema: [...] quais as principais diferenças entre ensinar as lutas no 1º ano do Ensino Fundamental e na última série do Ensino Médio? Per- guntas como esta requerem ainda ampla análise da área da Edu- cação Física, e a clareza nesse processo de sistematização poderá auxiliar a prática pedagógica a partir de saltos qualitativos ainda necessários (RUFINO; DARIDO, p. 24, 2015a). No que tange o processo pedagógico, é fundamental que o profisio- nal de educação física, no ensino do conteúdo de lutas, valorize, a todo momento, o conhecimento cultural, a bagagem cultural que os alunos trazem de suas vidas extraescolares. Além disso, cabe a este profissonal orientar todo esse processo a fim de trazer, para seus alunos, reflexões importantes sobretudo como a prática das lutas, em geral, pode interferir positivamente na saúde, ao garantir um arcabouço rico de possibilidades de práticas corporais que trabalham diferentes capacidades físicas. Darido e Souza (2007) trazem algumas propostas interessantes para trabalhar o conteúdo de lutas nas escolas, que vão além dos jogos e brinca- deiras, dentre as quais, destacam-se: a conceituação de algumas modalida- des de lutas; a história de determinadas lutas e artes marciais; as diferenças entre lutas e briga; as regras gerais de lutas que serão praticadas; a curiosi- dade sobre as lutas; e, ainda, as leituras e discussões acerca do tema. Enfim, há inúmeras possibilidades de desenvolver o conteúdo ao longo das etapas da educação básica. Acerca da dimensões do conteúdo, é importante destacar a proposta apresentada por Darido e Rangel (2014), em que deve ser feita uma abor- dagem que garanta o ensino de qualidade, diversificando os conteúdos na escola, onde o conhecimento é verdadeiramente aprofundado, e o ensino orientado a partir do conceito dimensional torna-se um excelente meca- nismo dentro desse processo. Na dimensão conceitual, Breda et al. (2010) destacam a grande importância do aprendizado histórico para o ensino das lutas, sendo esse conteúdo considerado essencial, pois permite conhecer a origem e a evo- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 186 – lução cultural das lutas inseridas em um contexto próprio que, por vezes, se funde em torno de um só propósito. Rufino e Darido (2015a) trazem alguns exemplos interessantes que podem ser trabalhados por meio da dimensão conceitual, a destacar os seguintes: os diversos tipos de modalidades; as diferentes formas de clas- sificação das modalidades (lutas); diferentes origens históricas e suas res- pectivas práticas; as regras das lutas e as suas particularidades; a aná- lise das modalidades consideradas olímpicas; as pesquisas sobre as lutas menos conhecidas e/ou praticadas tanto no ocidente quanto no oriente; alguns conceitos biomecânicos e fisiológicos associados às lutas; as melhores formas de aplicação de determinados golpes e as maneiras de aprendê-los; e as curiosidades acerca das lutas. A dimensão procedimental, conforme apresentado na seção 7.1, é entendida como o conjunto de ações ordenadas destinadas à conse- cução de um fim, estado configurado por ações, que pode ser conside- rado dinâmico em relação ao caráter estático dos conteúdos conceituais (RUFINO; DARIDO, 2015a). Por tratar de ações de cunho prático, é uma dimensão do conteúdo que tende a ser mais motivante ao aluno. Portanto, cabe ao professor dar uma atenção especial a essa parte do conteúdo. Como proposta de ele- mentos a serem desenvolvidos nessa dimensão do conteúdo, os autores destacam os seguintes: as vivências relativas à questão de oposição; ati- vidades que estimulem o ganho ou a perda de espaço; as quedas com ou sem oponente; as atividades individuais e/ou em equipes; a simulação de técnicas de chutes e/ou socos; as atividades coletivas (como o caso do cabo de guerra); além dos jogos e brincadeiras. Finalmente, temos a dimensão atitudinal, responsável por fazer ligação com os elementos de valor, normas e atitudes subjacentes à prá- tica educativa, conforme destaca Zabala (1998). Ainda de acordo com o autor, as etapas do ensino e da aprendizagem nessa dimensão do conteúdo devem abranger, ao mesmo tempo, os campos cognoscitivos, afetivos e comportamentais, em que o componente de cunho afetivo adquire uma importância fundamental, uma vez que aquilo que as pessoas pensam, sentem e como se comportam não depende apenas do que está socialmente – 187 – Fundamentos teórico-práticos das lutas estabelecido, mas, sobretudo, de suas relações interpessoais, estabelecidas por cada indivíduo com o objeto da atitude e do seu valor. A seguir, cita-se alguns conteúdos que podem ser desenvolvidos por meio da dimensão atitudinal: o respeito ao companheiro e ao adver- sário; a diferenciação entre uma luta e uma briga; a discussão de termos pejorativos; a hierarquia; o respeito ao limite de seu próprio corpo; a compreensão do ganhar e do perder na luta; o entendimento de que os conhecimentos de golpes devem ficar no ambiente de luta e não fora dele; e, ainda, a relação entre gêneros e sexos. Quanto à avaliação escolar em relação ao estudo de lutas, existem diferentes maneiras de fazê-lo. Cabe, portanto, ao professor definir a par- tir de critérios estabelecidos quais caminhos pode seguir nesse processo. Alguns merecem destaque, conforme apresentado a seguir: 2 a construção de questionários e sua aplicação, sendo importante que privilegiem, de alguma forma, as três dimensões do conteúdo. 2 avaliação individual através de um checklist de observação, em que é possível analisar a técnica do gesto, aspectos táticos das lutas, conhecimento básico das regras, entre outros. 2 a construção de diários de aula com o registro do que aconteceu durante a prática pedagógica. 2 além disso, há a aplicação de provas, trabalhos e apresentação de pesquisas que podem ser realizadas. Rufino e Darido (2015a) destacam que o ensino das lutas na escola deve ser feito sem especificar algum tipo/modalidade, trazendo para a realidade dos alunos a maior variedade possível de possibilidades de práticas, expressões e manifestações corporais. Nesse sentido,os auto- res descrevem que é ideal, nesse tipo de trabalho, evitar nomear golpes ou técnicas, uma vez que, com o estudo de todas as lutas, torna-se com- plicado abordá-las de modo único e detalhado. Enfim, a proposta do ensino da lutas, em meio escolar, deve ser focado em trabalhar as particularidades de cada aluno, preparando-o na sua formação como cidadão crítico, reflexivo e autônomo, sem se preocu- par, a priori, com a formação do atleta, por exemplo. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 188 – Importante Cabe aos professores o discernimento acerca da importância da inclusão do tema “lutas” como aspecto relevante a ser inserido no conteúdo curricular. Destaca-se que, caso sintam a neces- sidade e tenham conhecimentos suficientes em uma ou mais modalidades, devem buscar aprofundar-se, sendo essencial que trabalhem, ao menos, aspectos básicos inerentes aos diferentes tipos de lutas, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico e motivante aos alunos. Dessa forma, evita-se estaganar o ensino das lutas em apenas uma ou outra modali- dade (RUFINO; DARIDO, 2015a). 7.3 Aplicação dos métodos de treinamento e preparação de equipes As lutas são bastante distintas, uma vez que são oriundas de regiões e culturas diferentes. Rufino (2017) aponta algumas características gerais, conhecidas como aspectos universais, que devem ser consideradas, con- forme destacado a seguir: 2 enfrentamento físico – toda luta exige certo nível de enfrenta- mento e contato entre as pessoas, que varia conforme a moda- lidade. O enfrentamento pode ser direto, quando se utiliza o corpo, como no jiu-jitsu, ou indireto, quando se utilizam imple- mentos — como espadas, no caso da esgrima. 2 regras – as lutas vão possuir regras bastante organizadas, que buscam manter a segurança e o nível de disputa. As regras são o que diferenciam a luta de uma briga, por exemplo. Por meio delas, sabe-se o que é proibido e o que é permitido. 2 oposição – as lutas ocorrem em caráter de oposição, com obje- tivos variáveis conforme a modalidade. Os objetivos podem ser atingir determinada parte do corpo para pontuar, como no caso – 189 – Fundamentos teórico-práticos das lutas do taekwondo, ou segurar a pessoa para retirá-la de um determi- nado espaço, como no caso do sumô. 2 objetivo centrado no corpo de outra pessoa – refere-se ao objetivo da luta, que está centralizado no corpo da outra pessoa. Essa talvez seja uma de suas maiores características, diferen- ciando-a das demais práticas corporais. Na luta, o alvo das ações é a outra pessoa, que, diferentemente das demais modalidades, é um alvo móvel. 2 ações de caráter simultâneo – nas lutas, realizam-se ações tanto de defesa quanto de ataque de forma simultânea — não há diferenciação no espaço e no tempo dessas ações. Ataque e defesa ocorrem a todo instante e podem surgir tanto de uma pes- soa quanto da outra, sendo necessário sempre manter a atenção. 2 imprevisibilidade – a simultaneidade descrita acima traz a carac- terística da imprevisibilidade, sendo umas lutas mais imprevisí- veis do que outras. Uma prova disso é que algumas lutas podem encerrar antes do tempo máximo permitido, como no caso do judô, quando ocorre um ippon, ou no boxe e no MMA, quando ocorre um nocaute. Em relação aos tipos de treinamentos e seus respectivos métodos, devemos destacar os tipos de treinamentos que podem ser desenvolvidos: o físico; o técnico; e o tático, os quais estão intrinsecamente ligados ao planejamento do treino e seus respectivos métodos adotados. São consi- derados, portanto, elementos-chave a serem desenvolvidos não somente na formação do atleta, bem como ao longo de sua carreira, por exemplo. Acerca desses elementos, é importante destacar que dependerão dos obje- tivos, finalidades e planejamento estabelecidos pelo professor/treinador, não havendo uma “regra fechada” sobre como trabalhá-los, pois vários outros fatores específicos estão envolvidos no processo. A preparação física visa o desenvolvimento das capacidades moto- ras principais: força, velocidade, resistência aeróbia, resistência anaeró- bia, flexibilidade, habilidade, etc. É dividida em dois aspectos: 1) prepara- ção física geral e 2) preparação física especial, conforme descreve Cunha (2014). Vale destacar que, na preparação geral, o objetivo é desenvolver o Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 190 – potencial do indivíduo no conjunto das qualidades físicas de base (traba- lho generalizado), independentemente da modalidade/luta escolhida, em que as valências físicas devem ser consideradas a priori. Na preparação física especial, o objetivo é desenvolver as qualidades físicas particulares ao esporte ou disciplina praticada, sendo que, na prática, essa parte é cha- mada de condicionamento físico, de acordo com Barbanti (1979). No caso específico da preparação física, é fundamental que sejam tomadas precauções para que não sobrecarregue o praticante, otimizando, dessa maneira, seu condicionamento físico geral e específico, além de buscar meios para, gradativamente, elevar sua capacidade física, contro- lando os mecanismos variáveis agudos e crônicos que podem interferir no processo (volume, intensidade, repetições, intervalos, etc). Antes de apresentar as valências físicas, é importante considerar o treinamento da preparação física, baseado nos princípios do treinamento desportivo, conforme orienta Barbanti (1979), a destacar: 2 Princípio da individualidade biológica – cada ser humano possui características próprias físicas e psicológicas. Nesse caso, cabe aos treinadores utilizar testes específicos para verificar o potencial de cada indivíduo, seus pontos fortes e fracos e pro- por um treinamento de acordo com suas necessidades, visando a melhora de suas qualidades físicas. 2 Princípio da adaptação – é compreendido como a assimilação do organismo ao treinamento, em que, para cada ação externa, há uma reação do organismo. É dividida em três fases, conforme des- creve o autor: de alarde, caracterizada pelo desconforto, devido à aplicação de sobrecargas; da resistência, caracterizada pela dor, em que o organismo se adapta à carga imposta, sendo a fase que interessa ao treinamento; da exaustão, que é o excesso de treina- mento, em que o estímulo extrapola a capacidade de recuperação, tem como característica o colapso e pode levar à morte. 2 Princípio da sobrecarga – também chamado de princípio da progressão gradual, é fundamental para a evolução desportiva. O organismo, após uma sessão de exercícios, restitui as energias perdidas e prepara-se para uma carga de trabalho maior, em que – 191 – Fundamentos teórico-práticos das lutas são criadas maiores reservas de energia, dotando o organismo de uma maior fonte de energia para os novos estímulos. 2 Princípio da continuidade – é a sistematização do trabalho sem a quebra da continuidade. O processo de treinamento deve ser contínuo, sem paralisações, o treinamento deve ser executado com uma frequência para que as modificações fisiológicas e a performance adquirida se estabilize e seja otimizada. 2 Princípio da interdependência volume – intensidade – de modo geral, os melhores resultados no treinamento físico podem ser obtidos através de maiores quantidades de trabalho com o aumento da intensidade, sempre adequando as fases do treina- mento. No entanto, a combinação de quantidade e intensidade deve aumentar uma e diminuir a outra ou vice-versa de acordo com o tipo e a fase do treinamento adotado. 2 Princípio do heterocronismo – proposto por Hernandes Jr. (2000), o treinador, após aplicar uma carga de trabalho ao atleta, deve respeitar o tempo de descanso adequado para a recuperação do organismo antes de realizar uma nova sessão. Se for aplicado cedo demais, o organismo do atleta entrará em um ciclo de desgaste das reservas energéticas, se o tempo para uma nova seção for muito longo, acontecerá uma perda dos benefícios da super compensação. Enfim,conforme mostrado, as valências físicas são elementos essen- ciais para a prática de qualquer modalidade esportiva. Algumas são mais relevantes que outras, ao depender das características da modalidade esportiva em questão (CUNHA, 2014). Você verá, a seguir, as principais valências e sua importância para o treinamento das modalidaes/lutas: 1) Resistência – qualidade considerada peça-chave para conquistar um desenvolvimento adequado da condição física-saúde no adulto. De fato, uma melhora da resistência supõe um melhor funcionamento cardiovascular e respiratório e, ao mesmo tempo, maior resistência à fadiga, tanto em esforços prolongados como curtos e intensos. 2) Velocidade – destaca-se a velocidade de movimento como uma importante habilidade motora, que dependente do deter- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 192 – minismo genético, conforme destaca Dantas (2014). Ainda de acordo com o autor, pode-se considerar a velocidade a partir de três fatores: a amplitude do movimento; a força do grupo muscu- lar empregado; e a eficiência do sistema neuromotor. 3) Força – é considerada elemento indispensável para a luta, entendida, nesse caso, como esporte de competição, em que as forças máxima e explosiva são consideradas fundamentais para o desenvolvimento do praticante/atleta. No caso específico da força máxima, Delgado (2002), citado por Cunha (2014), mos- tra que é obtida a partir de um baixo número de repetições, que levam ao esgotamento máximo do praticante. Desse modo, tra- balhos que privilegiem intensidades máximas ou quase máximas devem ser considerados, assim como a conjugação do trabalho concêntrico e excêntrico, além da utilização continua de carga externa. Cunha (2014) destaca que esse tipo de força pode ser trabalhado de forma eficaz com uma frequência semanal mínima de duas a três sessões, variando quando o objetivo for somente a manutenção, em que uma sessão pode ser o suficiente. A respeito da força explosiva, o autor destaca que os exercícios devem ser realizados a partir de um baixo número de repetições estabele- cido, geralmente condicionado por um tempo máximo de reali- zação de seis segundos, sendo que cada gesto isolado deve ser realizado com a máxima intensidade, ainda que a resistência ao movimento deva ser baixa (em torno de 30% do máximo). Há, nesse tipo de treinamento de força, uma predominância de tra- balho concêntrico, embora possa ser utilizado também o plio- métrico (ciclo flexiona-estende) com uma frequência semanal indicada entre duas a três sessões. 4) Flexibilidade – de acordo com Dantas (2014), essa qualidade física é a responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações, dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesão. Devido a sua importância, sobretudo na prática das lutas, deve ser incluida nos programas de treinamento das modalidades. Essa valência influencia diretamente não somente – 193 – Fundamentos teórico-práticos das lutas na qualidade dos golpes, como também na prevenção de lesões causadas pela má execução do gesto técnico, por exemplo. A preparação técnica é definida como a maneira pela qual uma habilidade é desempenhada. Técnica, na verdade, é o componente que claramente diferencia um atleta do outro, pois engloba todas as estrutu- ras e os elementos técnicos em um movimento preciso e eficaz, por meio do qual um atleta realiza uma tarefa atlética. No caso das lutas, faz-se necessário entender suas origens e contexto, coforme destaca Mazzoni e Oliveira Júnior (2011). 2 Orientais: na Índia, kalaripayit; na China, wushu (kung fu ou boxe chinês), jeet kune do, Tai chi chuan, pa kua, hsing-i; no Japão, caratê, judô, jiu-jitsu, ninjitsu, kendo, aikido, sumô; na Coreia, o taekwondo, tang soo do; na Tailândia, muay thai; em Israel, o krav maga. 2 Ocidentais: nos Estados Unidos e na Inglaterra, wrestling, full- contact, kickboxing, boxe; no Brasil, capoeira, luta livre e muitas outras modalidades produzidas e significadas em todo o mundo. Compreender esses tipos/modalidades diferentes das lutas é funda- mental, pois cada uma traz consigo um conjunto de elementos próprios dos aspectos sobretudo técnicos e táticos. Barbanti (1979) define prepara- ção técnica do atleta como o conjunto de ensinamentos que lhe são minis- trados acerca do movimento e da ação que constituem o meio adequado à prossecução da competição desportiva ou à execução dos treinos. De forma global, a técnica está asociada a um processo de movi- mentos, atitudes e posições gerais do indivíduo, que se realizam com uma utilidade determinada. É uma sequência de movimentos baseados na física e na biomecânica, conforme descreve Cunha (2014). Na preparação téc- nica, deve-se ter em mente que o objetivo é aprender a técnica esportiva de forma racional, utilizando, para tal, diferentes meios e métodos estabe- lecidos pelo professor. Portanto, é considerada um processo que deve ser desenvovido a longo prazo e de forma sequencial, em que o aprendizado se dê em um ambiente real, ou o mais próximo disso. A execução técnica deve ser sempre aperfeiçoada, e a maneira de fazer isso se dá por meio dos treinamentos e aperfeiçoamento constante, sendo que a execução e o Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 194 – aprimoramento técnico devem levar em conta a condição física adquirida pelo praticante/atleta (BARBANTI, 1979). Na prática, a técnica do boxe pode ser definida como os golpes utili- zados. Nesse caso, os socos: direto (golpe frontal), jab (golpe normalmente preparatório, mas que pode se tornar perigoso), cruzado (o alvo é a lateral da cabeça do adversário), upper ou gancho (desferido de baixo para cima no queixo do oponente) e o hook, um golpe desferido na linha da cintura do oponente. O jiu-jitsu envolve técnicas de estrangulamentos e chaves de arti- culações com o intuito de imobilizar o agressor, sendo aplicadas por meio de uma luta de curta distância. As técnicas são utlizadas a partir do princípio da “alavanca” onde os golpes não necessitam de força, já que utilizavam a força do adversário contra ele. Portanto, trata-se de dois exemplos de lutas diferentes cujas técnicas são diferentes e, quando executadas de forma efi- ciente, têm o poder de superar o adversário (Figura 7.3). Figura 7.3 – Técnica do boxe Fonte: Stock.adobe.com/master1305 A preparação tática consiste em achar o melhor meio para um indi- víduo vencer uma competição ou atingir o melhor resultado (BARBANTI, 1979), sendo altamente dependente da condição física e técnica. É por meio do treinamento tático que os atletas absorvem os métodos e possíveis formas de preparar e organizar as ações de ataque e de defesa para alcan- – 195 – Fundamentos teórico-práticos das lutas çar um objetivo (por exemplo: marcar pontos, atingir uma determinada performance ou obter a vitória). Esse treinamento pode seguir teorias geralmente aceitas, porém, é específico para cada modalidade. Algu- mas priorizam mais os aspectos ofensivos, enquanto outras os defensivos/ contratacanso, sempre que possível, de acordo com planos táticos pré- -estabelecidos. Barbanti (1979) defende que a base para um plano tático de sucesso, em qualquer esporte, está associada a um elevado nível de técnica aperfeiçoada. Vale ressaltar que esse não pode ser considerado um processo “fechado”, uma vez que a tática pode ser alterada no decorrer do com- bate, bem como nos intervalos da luta ou até mesmo durante a luta. A tática visa prever situações de defesa como de ataque tanto do adversário como do próprio atleta em busca de uma melhor eficiência no combate objetivando a vitória. Destaca-se que toda a preparação apresentada depende muito de como será elaborado e implementado o programa de treinamento. O pla- nejamento é a chave para o sucesso de qualquer modalidade e deve ser feito a partir de premissas fundamentais para sua consolidação com ante- cedência, estabelecendo previamentea forma de aplicação da preparação física, as técnicas utilizadas, a preparação tática de acordo com as datas pré-estabelecidas das lutas. Em relação aos métodos de treinamento, Barbanti (1979) e Dantas (2014) destacam alguns importantes a serem considerados no treina- mento desportivo, sendo válido também para as lutas em geral, a con- siderar os métodos: contínuo, no qual há aplicação de carga contínua; intervalado, que compreende cargas intervaladas; fracionado, no qual as cargas são divididas em módulos; circuito, que surtem efeito pela aplicação de cargas; e o adaptativo, que ocorre quando se utiliza outro fator estressante além do exercício. Nas lutas, deve-se destacar ainda os treinamentos aeróbio e anae- róbio, sendo ambos exigidos independentemente da modalidade definida e atrelados sobretudo ao condicionamento físico do praticante/atleta. O método aeróbio é entendido como um trabalho muscular com quanti- dade de oxigênio suficiente, em que, após alguns minutos de carga, faz Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 196 – com que o organismo estabeleça um equilíbrio entre o consumo e o gasto de energia, o chamado “steady state”. Esse tipo de treinamento, aeróbio ou de resistência cardiorrespiratória, é responsável também pela produção do aumento do fluxo sanguíneo central e periférico, bem como uma maior capacidade das fibras musculares de gerar maiores quantidades de ATP – Adenosina Trifosfato, conhecida fonte energética do músculo-esquelético, associada ao processo de contração muscular durante os esforços. Em adição, o treinamento anaeróbio é o responsável pelo trabalho muscular que se realiza com quantidade de oxigênio insuficiente, isto é, com liberação de energia anaeróbica. Todo início de trabalho mus- cular é anaeróbico, por isso, o organismo entra no chamado débito de oxigênio (BARBANTI, 1979). Atividades 1. Como pode ser organizado o conteúdo de lutas na educação básica, mais especificamente, para os 6º e 7º anos? 2. Cite e descreva, de forma breve, as dimensões do conteúdo que envolvem o ensino das lutas dentro do contexto escolar. 3. Quais são os elementos de caráter universal das lutas que devem ser considerados em um programa de treinamento? Cite-os e descreva-os. 4. Em relação à preparação física, quais são as valências e/ou com- ponentes que devem ser considerados na elaboração de um pro- grama de treinamento específico para lutas? Descreva-os. 8 Tipos de Lutas As lutas abrangem uma gama enorme de atividades nos seus vários sentidos e, para conceituá-las, é preciso conside- rar diferentes aspectos estruturais, como suas classificações/ tipos. De fato, as diferentes manisfestações das lutas podem ser entendidas a partir de pontos de vista diferentes, a destacar: o esportivo ou, ainda, o marcial, guardando cada um desses suas características e objetivos próprios, que carregam consigo ao longo dos tempos, tendo passado por inúmeras transformações até o que vemos atualmente. Nesse sentido, percebemos que, tanto as lutas quanto as artes marciais, ambas consideradas práticas corporais, sofreram um processo de ressignificação, afetadas pelos diversos contex- tos socioculturais. É importante entender que, apesar de existi- rem diferentes tipos de lutas ou artes marciais, uma das principais formas de diferenciá-las é por meio de suas classificações. Inde- pendentemente do tipo e, mesmo tendo a classificação definida de forma similar, as lutas guardam, em si mesmas, suas próprias características, objetivos e finalidades que as distinguem. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 198 – Portanto, conhecer as lutas em sua amplitude torna-se um fator essen- cial, sobretudo ao perceber que existem diferentes maneiras de interpretá- -las, contextualizando-as em um universo muito mais amplo que não se restringe somente à prática corporal e seus aspectos gerais. 8.1 Classificação das lutas As lutas, assim como as artes marciais e as modalidades esportivas de combate, representam, em geral, um universo amplo de manifestações antropológicas de natureza multidimensional e complexa. Conforme des- crevem Correia e Franchini (2010), as lutas são consideradas um conjunto de práticas socioculturais provenientes de um espectro diversificado de demandas históricas específicas, em que é possível identificar, de forma marcante, uma pluralidade de diferentes configurações sócio-culturais, de formas de expressão, de repertório técnico, de linguagens, de organização e, ainda, de institucionalização. Ao complementá-las, Paiva (2015) tam- bém descreve as lutas como jogos regidos pela lógica da oposição entre duas ou mais pessoas, com objetivo variável, e características específicas e marcantes, em que o ataque se dá a qualquer momento, utilizando téc- nicas específicas de ataque e defesa de alvo/oponente e a possibilidade de ataque simultâneo ou mútuo. O fato é que as primeiras formas de lutas surgiram a partir da necessi- dade de defesa ou ataque do homem, dependendo da situação, bem como da necessidade de explorar e conquistar territórios, sendo que essas manifesta- ções sociais foram sendo transformadas ao longo dos tempos, de acordo com as necessidades que surgiam em cada um dos períodos da humanidade. No entanto, as lutas sempre marcaram seu território, ao serem muito importantes para a construção das sociedades. Dentre as manifestações sociais das lutas que merecem destaque, temos: as lutas em rituais (especialmente nos povos indíge- nas), na preparação de exércitos para guerras (no Oriente e na Grécia Antiga), como um jogo, como um exercício físico (na Europa) e como forma de defesa e dissimulação (como a capoeira, no Brasil) (LACROSE; NUNES, 2015). Gomes et al. (2010) e Mazzoni e Oliveira Júnior (2011) descrevem as lutas a partir de duas vertentes que podem ser consideradas uma maneira de classificação quanto ao surgimento histórico e sua localização geográfica, em – 199 – Tipos de Lutas que temos as lutas de origem oriental e as de origem ocidental. Embora, na atualidade, encontremos algumas fusões em estilos, tornando, de certa forma, difícil compreender a origem de fato. A seguir, você poderá ver alguns dos principais exemplos de lutas e seus respectivos locais de origem: 2 orientais – surgem na Índia. Passam a desenvolver técnicas de respiração e combate. Suas lutas tinham formas bem organiza- das. Como exemplo de lutas, temos: na Índia, kalaripayit; na China, wushu (kung fu ou boxe chinês), jeet kune do, tai chi chuan, pa kua, hsing-i; no Japão, karatê, judô, jiu-jitsu, ninjitsu, kendo, aikido, sumô; na Coreia, o taekwondo, tang soo do; na Tailândia, muay thai; em Israel, o krav maga. 2 ocidentais – provém do pancrácio e do pugilato. Têm seu berço na Grécia e em Roma. Como exemplos de lutas, temos: nos Estados Unidos e na Inglaterra, wrestling, fullcontact, kickbo- xing, boxe; no Brasil, capoeira, luta livre e muitas outras moda- lidades produzidas e significadas em todo o mundo. De forma global, segundo Duarte (2004) e Rufino (2015), os aspec- tos universais, também conhecidos como características fundamentais das lutas, representam o ponto de partida para a classificação dos diferentes tipos de lutas, conforme mostra a Figura 8.1. Figura 8.1 – Aspectos Universais das Lutas Oposição Imprevisibilidade En fre nta me nto fís ico Ní ve l d e c on tat o Regras Oponente móvel Jogos de Luta Ataque e Defesa Simultâneos Fonte: adaptada de Rufino (2015). Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 200 – Portanto, é importante entender que, independentemente do critério adotado para classificar a luta, esses elementos devem ser considerados como peças-chave para fazê-lo da forma mais assertiva possível, tanto na fase de iniciação quanto no desenvolvimento ou aperfeiçoamento, bem como levando em consideração os aspectos característicos indivi- duais de cada tipo de luta. Nesse sentido, você verá, a seguir, uma breve descrição acerca de cada um desses elementos associados aosaspectos universais das lutas. O enfrentamento físico está associado ao nível de exigência neces- sário para o enfrentamento e o contato entre os oponentes que podem variar de acordo com a modalidade. O oponente móvel é compreendido como o ato das pessoas se enfrentarem em caráter de oposição uma à outra por meio de objetivos que variam de acordo com a modalidade, estraté- gias definidas, em que a mobilidade é o fator-chave para a execução efi- caz dos ataques, defesas e contra-ataques, quando necessário. O ataque e defesa simultâneos são entendidos aqui como ações executadas nas lutas, em que ambos os indivíduos que se enfrentam realizam ações tanto de defesa quanto de ataque de forma simultânea, não havendo diferenciação no espaço e no tempo dessas ações. O nível de contato é caracterizado pelas diferentes maneiras de tocar o oponente, sua fluidez, força, preci- são e habilidades colocadas em prática na execução de um movimento tanto para ataque quanto para defesa. As regras são apresentadas de forma muito bem organizadas para cada modalidade para que as diferentes práti- cas de luta possam ocorrer, mantendo, sobretudo a integridade/segurança de todos. A oposição é considerada uma das características mais marcan- tes do processo, pois se diferencia das demais práticas corporais, uma vez que tem como objetivo/foco a outra pessoa como alvo a ser atingido. A imprevisbilidade é o entendimento de que nas lutas não é possível esta- belecer, com precisão, como podem ocorrer todas as ações, uma vez que, a qualquer momento do combate, é possível ser surpreendido com alguma ação como um chute, um soco, ou uma queda, por exemplo. Para refletir... Existe uma grande quantidade de estilos de lutas no mundo, o que torna muito difícil o processo de ensino e estudo de todas. Vale ressaltar que as – 201 – Tipos de Lutas classifciações são uma maneira de auxiliar o estudo e o conhecimento de uma determinada luta e, dentre as diferentes possibilidades encontradas para fazê-la, entende-se a classificação através da realização das ações: curta, média, longa e mista, como uma das formas mais simples para uma compreensão adequada da luta em si. Portanto, um dos aspectos que garante às lutas o caráter de organi- zação e formalidade enquanto prática corporal é a sua classificação, que deve seguir critérios para tal definição, e que variam de acordo com a perspectiva ou foco, conforme será apresentado na seção a seguir. 8.2 Critérios de classificação das lutas Quanto aos critérios de classificação das lutas, serão apresentados a seguir alguns daqueles mais utilizados, dependendo do foco que se dá a esse respeito. Breda et al. (2010) e Duarte (2004) destacam a classificação das lutas a partir da distância, elemento intrinsecamente associado aos aspectos universais, conforme apresentados na seção anterior. Vale destacar também que essa classificação pode ser aplicada aos diferentes níveis técnicos – da iniciação ao alto rendimento, de acordo com o apresentado a seguir: 2 elementos de curta distância – caracterizados pela ação de “agarrar” o adversário (Figura 8.2). Figura 8.2 – Lutas como judô e jiu-jítsu brasileiro mesclam elementos técnicos de curta e média distância. A curta distância é demonstrada na técnica de luta no solo do denominado jiu-jítsu brasileiro, onde o praticante de branco aplica uma técnica (sankaku) no oponente de preto Fonte: Stock.adobe.com/Miljan Živković Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 202 – 2 elementos de média distância – são aqueles cujas característi- cas principais estão direcionadas ao toque em direção ao adver- sário sem o uso de implementos (Figura 8.3). Figura 8.3 – De média distância (judô). O-soto-gari é um dos golpes básicos e mais eficientes do judô, em que o judoca segura a gola e a manga e avança o pé do lado em que está segurando a manga. Com esse mesmo pé, é feito um gancho por trás da perna do adversário Fonte: Stock.adobe.com/Africa Studio/Dusan Kostic 2 elementos de longa distância – são definidos como aqueles que apresentam o manuseio e o domínio de implementos para sua execução (Figura 8.4). Figura 8.4 – De longa distância (boxe). O cruzado é similar ao direto, mas desferido em um ângulo ligeiramente diferente para atingir a lateral da cabeça ou do torso do adversário Fonte: Stock.adobe.com/Sergey Nivens – 203 – Tipos de Lutas Em geral, as lutas podem ser consideradas características de distân- cia mista, visto que essas diferentes distâncias acabam, por vezes, sendo utilizadas em diferentes momentos ao longo da luta, como ocorre, por exemplo, no boxe, em que a curta, média e longa distância se alternam. Saiba mais Na classificação “categoria longa distância”, Figueiredo (1998) aponta algumas diferenças que devem ser consideradas, uma vez que utilizam implementos para sua execução/prática (por exemplo: kendo ou esgrima). Tal condição muda sensivel- mente as suas características no que diz respeito à distância entre os oponentes. Além disso, é importante deixar claro que Breda et al. (2010) apresentam uma outra proposta relacionada à classificação das lutas, na verdade, uma readquação à sua proposta original, em que propõem a união das lutas corporais de curta e média distância em uma única categoria. Ainda a respeito das classificação das lutas, Figueiredo (1998) traz uma outra proposta, embora apoiada na distância, como apresentado por Breda et al. (2010) e Gomes et al. (2010), na qual o autor compara essa classificação com a figura de um triângulo, em que cada vértice é consi- derado uma dimensão das lutas corporais, que têm relação direta com os outros pontos. Nesse sentido, as estruturas que o formam são distância, ritmo e percepção (CARNEIRO et al., 2015). Ainda de acordo com os autores, no vértice que diz repeito à distância, ele entende que está ligado ao fato de se aproximar ou afastar do outro, de modo que, em determina- dos momentos, é melhor atacar de perto e, em outros, mais afastado, exis- tindo uma distância adequada para cada ação. O vértice do ritmo refere-se à cadência e como fazer para torná-la diferente. Por fim, há o vértice da percepção que está relacionado com a capacidade de identificar as situa- ções, seja do ritmo, seja da distância. Uma outra classificação interessante das lutas é sugerida por Car- neiro et al. (2015), que se apoiam na organização administrativa para tal. Desse modo, tornam evidente que as lutas, também chamadas por eles de “lutas corporais”, podem ser classificadas em: olímpicas e não olímpi- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 204 – cas. Quanto às modalidades de lutas corporais olímpicas, os autores des- tacam as seguintes: judô, taekwondo, boxe amador, luta olímpica, karatê e esgrima, sendo aquelas que compõem o quadro de modalidades olímpi- cas em 2020. Nas não olímpicas, os autores destacam que há um grande número, entre as quais estão: aikido, jiu-jítsu, kung fu e capoeira. Como fato a destacar para que uma luta seja considerada olimpica ou não, alguns aspectos devem ser observados, tais como: o esporte deve estar regula- mentado por uma associação internacional; o número mínimo de países e continentes em que não deve ser praticado profissionalmente, tanto por homens quanto por mulheres; e a sua relevância em geral. Importante Ao tratarmos de modalidades olímpicas, uma em particu- lar merece destaque, o boxe, modalidade presente no rol dos esportes mais antigos do mundo. De fato, os primeiros registros de sua prática datam do Período Pré-Histórico, cujos registros, de formas rudimentares, de lutas com as mãos, evidenciam sua prática naquela época. Considerada uma modalidade carregada de simbolismo, expressão e, de fato, praticada em diversas cul- turas, as lutas eram realizadas para a diversão e a autodefesa, sempre de forma espontânea e instintiva. A respeito do boxe em sua prática formalizada, relatos históricos indicam que a modalidade teria surgido cerca de4 mil ou 3 mil anos antes da Era Cristã, primeiramente no Egito e, depois, na Grécia, onde era conhecido inicialmente como pugilato, e teve sua inclusão pela primeira vez nos Jogos Olímpicos da Antiguidade na 23° edição da competição, no ano de 668 a.C. Vale destacar que as regras eram diferentes do que temos atualmente. Era permitido que os competidores lutassem com um protetor de tela metá- lica em cada mão – o cestus. Entretanto, o boxe passou por um momento de “ostracismo” e seu desaparecimento momentâneo ocorreu antes mesmo do fim dos Jogos, em 394 d.C, quando foi proibida toda e qualquer prática associada ao boxe, sendo que, nos Jogos Olímpicos Saint Louis 1904, já na Era Moderna, voltou a integrar o quadro de modalidades olímpicas. Já com o nome – 205 – Tipos de Lutas de boxe, passou a ter sete categorias de peso. Em 1908, na edição seguinte dos Jogos, a luta ganhou o status de esporte olímpico (COB, 2020). Fonte: Comitê Olimpico Brasileiro - COB. A história do Boxe. 2020. Disponível em: https://www.cob.org.br/pt/ cob/time-brasil/esportes/boxe/. Acesso em: 22 jul. 2021. Em adição, Carneiro et al. (2015) apresentam um interessante qua- dro no qual são apresentados alguns exemplos acerca da classificação das lutas corporais quanto à organização administrativa e à distância, con- forme mostra o quadro a seguir. Quadro 8.1 – Classificação das lutas corporais quanto à organização administrativa e à distância Distância Olímpicas Não Olímpicas (exemplos) Curta Judô (luta olímpica) Jiu-jítsu Média Judô (luta olímpica) Aikido / Hapkido Longa Boxe / Taekwondo Karatê / Kung fu / Capoeira Alongada (*) Esgrima Kenjutsu / Haidong gumdo (*) conforme sugerida por Breda et al. (2010) uma variação da luta de longa distância. Fonte: adaptado de Carneiro et al. (2015, p. 733). Ainda de acordo com os autores, essas classificações das lutas corpo- rais em relação às suas resepctivas distâncias evidenciam que as lutas de curta distância ocorrem geralmente no solo; nas lutas corporais de média distância, há uma predominância de aproximação/pegada ao oponente ou, ainda, agarre, utilizado com técnica específica para tal; já as lutas corpo- rais de longa distância apresentam necessidade de toques no adversário; e, por último, destacam as lutas corporais que utilizam implemento em uma nova categoria que denominam como alongada, o que é nada mais que uma adaptação da luta de longa distância, incluindo o implemento. Figueiredo (1998) traz, ainda, uma outra proposta para a classificação das lutas baseado nos eixos ou nos aspectos táticos, e que Gomes et al. (2010) descreve como um tipo de classificação a partir da ação motora. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 206 – De forma global, essa classificação é entendida como a capacidade do sujeito de coordenar de maneira integrada diferentes aspectos constituin- tes da luta (espaço-tempo-oponente), buscando, nesse sentido, estratégias para romper o equilíbrio entre o ritmo, a distância e a percepção do outro e, assim, atingir os objetivos específicos de cada modalidade de luta, seja ela no campo esportivo ou marcial. Dessa forma, o autor evidencia que sua proposta surge a partir da noção de distância, estruturando, então, três categorias táticas de luta fundamentadas nos modos operacionais de com- bate de cada modalidade, conforme será apresentado a seguir. Ainda de acordo com o autor, os eixos táticos podem ser representa- dos pela luta de agarre, lutas de impacto/toque e lutas mistas. Nesse caso, as lutas corporais de curta e média distância estão associadas às lutas de agarre, categoria em que o desenvolvimento de pegadas corporais, seja no solo, seja em pé, é essencial para a realização do combate. Por exem- plo: judô, jiu-jítsu brasileiro, wrestling e hapkido. Temos também as lutas de distâncias longa e alongada, que compõem o bloco tático das lutas de impacto/toque, que é uma categoria em que a realização de toques intermitentes no corpo do outro é essencial para a reali- zação do combate. Vale ressaltar que essas lutas de impacto ou toque podem usar o corpo ou implementos para gerar o contato no adversário. No caso das lutas com implementos, eles aparecem como um prolongamento do corpo, ampliando o alcance dos golpes. São exemplos de lutas de longa dis- tância: boxe, taekwondo, capoeira; e de lutas alongadas: kenjutsu, esgrima. Por fim, há as lutas mistas, que têm o objetivo de trabalhar, de forma conjunta, as diferentes categorias de distância e de tomadas de decisão. Por exemplo: MMA e jiu-jítsu brasileiro. Rufino (2015) ainda menciona um tipo de classificação cujo crité- rio definido se dá a partir das ações realizadas durante o combate, sendo classificadas em: esperadas (previsíveis) e inesperadas (imprevisí- veis). Ainda de acordo com o autor, esse tipo de classificação é apli- cado em âmbito escolar, sendo que o processo ensino-aprendizagem, por meio desse tipo de ação, deve acontecer com cuidado, uma vez que as variáveis a serem controladas, sobretudo em ações inesperadas, acabam sendo mais difíceis. – 207 – Tipos de Lutas Como ações inesperadas/imprevisíveis, o autor destaca alguns elementos: 2 enfrentamento direto entre combatentes; 2 alvo móvel; 2 ações motoras: agarre, toque e agarre + toque; 2 com ou sem imediação de implementos. E, nas ações esperadas/previsíveis, os seguintes elementos devem ser considerados: 2 elementos coreografados e repetitivos; 2 caráter de demonstração; 2 elementos e técnicas arranjados em sequência preestabelecida; 2 ausência de oposição direta (por exemplo: katas do karatê e/ou judô); 2 mais presentes em treinamentos de refinamento técnico/do estilo. Saiba mais Vale destacar que as atividades de demonstração e de ações esperadas, segundo Rufino (2015), podem ser divididas em individuais e coletivas. As atividades individuais são as mos- tras de lutas individuais. Por exemplo: mostra de uma arma no kung fu – lança ou qiang, que também é conhecida como “rei das armas”. Por outro lado, uma ação esperada coletiva, como o próprio nome diz, trata-se de uma mostra coreográfica de dois combatentes, ou seja, uma oposição controlada e treinada, sendo ainda possível essa prática voltada para grupos maiores, como ocorre no karatê em grupo, em que os participantes realizam juntos todos os tipos de golpes planejados ao mesmo tempo. Embora existam diferentes critérios e maneiras de classificar as lutas, o importante é selecionar aquela que melhor se enquadre na pro- posta lançada pelo professor, conhecido, no meio das lutas e artes mar- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 208 – ciais, como “mestre”, no seu processo ensino-aprendizagem, visando oferecer aos praticantes/alunos o melhor conhecimento possível acerca da modalidade praticada. 8.3 Diferentes modalidades e conteúdos das lutas De fato, são inúmeras as modalidades de lutas existentes, podendo ser divididas em: lutas, artes marciais e modalidades esportivas de com- bate. É importante ressaltar que apresentam diferenças marcantes entre si. No caso das lutas e das modalidades esportivas de combate, são definidas como aquelas que não possuem um objetivo ou filosofia, geralmente aque- las que foram criadas mais recentemente. Por outro lado, as artes marciais têm um objetivo e uma filosofia em que buscam formar um homem e uma sociedade melhor. De forma global, independentemente disso, todas elas visam a formação integral do homem por meio de principios éticos e morais fundamentais para essa prática, compreendendo o oponente/adver- sário como importante para o processo e que a violência não deve ser o objetivo das práticas corporais de luta. Ferreira (2006) descreve a importância da inserção das lutas no desen- volvimento motor e, ainda, na formação integral do cidadão. De forma geral, as lutas são capazes de desenvolver no indivíduo não somente o aspecto motor, que é, sem dúvidas, privilegiado, mas também psicomo- tores, taiscomo: a lateralidade, a coordenação global, a noção espaço- -temporal, e a noção/domínio corporal. Vale destacar que outras capaci- dades físicas podem ser contempladas, dentre as quais se destacam: força, agilidade e resistência. Uma das possibilidades que fundamentam esse desenvolvimento, ainda de acordo com o autor, deve-se ao fato das lutas trabalharem, de forma geral, todos os movimentos motores fundamentais do indivíduo (correr, saltar, andar, lançar, etc.). Em relação à formação do cidadão, segundo Ferreira (2006), destacam-se os aspectos afetivo e social observados em alguns aspectos importantes da prática das lutas, como a reação a determinadas atitudes, a postura social, a socialização, a perseverança, o respeito e a determinação. Além disso, vale lembrar que as lutas desenvolvem, de maneira significativa, a parte cognitiva do indi- víduo, uma vez que a necessidade de implementação de estratégias torna- – 209 – Tipos de Lutas -se um dos fatores que contribuem para tal aspecto, pois a própria dinâ- mica da execução dos gestos e movimentos das lutas leva seus praticantes a desenvolverem, de forma efetiva, a memória, a concentração, além da tomada de decisão. Tais estratégias são importantes sobretudo em esportes individuais, como é o caso das lutas. Ainda em relação à classificação das lutas, um dos objetivos ao classi- ficar as lutas e as artes marciais é compreender, detalhadamente, seus aspec- tos comuns e diferenças. Conforme visto na seção anterior, existem muitas maneiras de fazê-lo: a partir da ação motora envolvida, da distância entre os oponentes ou do seu surgimento histórico. A pluralidade e as manifestações corporais envolvidas nas lutas são inúmeras e fechar-se em uma única forma de classificá-las seria algo restrito frente a essas possibilidades. Entretanto, para apresentar as diferentes modalidades e seus respecti- vos conteúdos, selecionamos a classificação a partir da concepção ou ação motora, descrita por Figueiredo (1998) e Gomes et al. (2010) como uma interessante maneira de contextualizar a luta a partir de elementos que estão presentes na prática da modalidade. Desse modo, apresentaremos as três categorias presentes nas lutas: ações de agarre, como o judô, o jiu- -jítsu brasileiro e o sumô; as ações baseadas em golpes, como o karatê, o taekwondo e o boxe; e as ações baseadas em golpes (com a utilização de implementos), como é o caso da esgrima e do kendo. Saiba mais A prática das lutas deve considerar também a intenção como um importante elemento que, de acordo com Rufino e Darido (2015), tem como objetivo atingir uma determinada meta que se busca ao atingir o alvo, ou seja, a intenção ao fazê-lo, que pode ser: direta ou indireta. Na intenção direta, a finalidade da luta pode ser, por exemplo, segurar ou tocar o “alvo” para marcar ponto ou terminar o combate, ou seja, quando o oponente é o final da intenção. Na intensão indireta, as ações de tocar e segu- rar são um meio para finalizar o combate, sendo o oponente considerado o meio para uma outra finalidade, podendo ser executada por meio de uma projeção, de uma exclusão ou de um nocaute (quando o adversário é golpeado até cair no chão). Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 210 – Você verá, a seguir, algumas das principais lutas e seus conteúdos em cada uma das classificações anteriormente apresentadas (de agarre, base- ada em golpes sem e com a utilização de implementos). a) Lutas com ações de agarre: as ações de agarre são relacionadas às práticas de curta distância e envolvem o ato de agarrar o opo- nente tanto defensivamente como ofensivamente. É importante deixar claro que as regras de ação de agarre mudam de acordo com o estilo da luta, podendo ser permitida tal ação ou não, dependendo exclusivamente das regras. Normalmente, são prá- ticas cuja ação permite a utilização de um agarre na própria ves- timenta, conhecido como kimono ou judogi, no judô, e podem ainda serem utilizadas como “arma” ou “escudo” durante a luta (FIGUEIREDO, 1998). A seguir, são apresentados alguns exem- plos de lutas cuja ação básica envolve o ato de agarrar, segurar e aproximar-se do oponente visando o enfrentamento. Jiu-jítsu A prática considerada oriental surgiu no Japão quando os monges budistas criaram técnicas de defesa pessoal pelo fato de que, em função da religião, não era permitido utilizar armas para se defender dos roubos e agressões. Pouillart (1999) descreve que o significado das duas palavras é o mesmo, bem como o ideograma usado em japonês para escrevê-las (“ju” signifia “suave” e “jítsu”, “arte” ou “técnica”). Essas técnicas envolviam estrangulamentos e chaves de articulações com o intuito de imobilizar o agressor, sendo aplicadas por meio de uma luta de curta distância. As vantagens dessas técnicas eram que os gol- pes não exigiam força, já que utilizavam a força do adversário contra ele mesmo, o que consiste no “princípio da alavanca”. Além disso, não eram utilizados socos ou chutes, não indo contra a religião dos monges que, portanto, podiam se defender. Diversas lutas e artes marciais surgiram a partir do jiu-jítsu, com técnicas basilares parecidas em alguns aspectos, dentre as quais se destacam: o judô, o sumô, o karatê, o kempo, e o aikido. Quanto à indumentária utilizada no jiu-jítsu, é composta por jujutsugi e faixa, e as lutas são divididas em categorias de peso, faixa e idade. As lutas são realizadas em tatame e têm seu início em pé. Os atletas usufruem de – 211 – Tipos de Lutas técnicas de arremesso e projeção a fim de deslocar o centro de gravidade do oponente, causando um desequilíbrio e, consequentemente, a queda do oponente (uke) ou a projeção. O vencedor da luta será aquele que finalizar o oponente por submissão ou alcançar o maior somatório de pontos (CBJJ, 2019 apud. OLIVEIRA JUNIOR, 2019). Em relação aos princípios ope- racionais, o jiu-jítsu é considerado de intenção direta, pois o objetivo final da ação é atingir o adversário de diferentes formas, com destaque para téc- nicas como chaves em algumas articulações, bem como golpes de estran- gulamento no pescoço, visando a desistência ou a submissão do oponente. Correa et al. (2010) descrevem que, diferentemente do que ocorre com o judô, o jiu-jítsu não é considerado uma modalidade olímpica. O jiu- -jítsu envolve o método Menkyo, responsável pela classificação de atletas, que é adotado pelos estilos mais tradicionais do ensino do jiu-jítsu. Esse é considerado um método que realiza a divisão dos praticantes aprendizes levando em consideração seu desempenho com determinada sequência de cores. O sistema de graduação por faixas no jiu-jítsu foi criado com a proposta inicial de uniformizar e facilitar o ensino e a prática do jiu-jítsu brasileiro para todas as idades e gêneros, como você pode observar na figura a seguir, separando tipos de classificação diferentes para diferentes faixas etárias. O sistema de graduação também é muito útil nas competi- ções (CORREA et al., 2010). No jiu-jítsu, temos as movimentações específicas, a considerar: a queda ou projeção; a passagem de guarda; o joelho na barriga; a montada; a pegada pelas costas; e a raspagem (IBJJF, 2014). Judô Idealizada pelo mestre Jigoro Kano, a luta surgiu no Japão, em 1882. É considerada uma arte milenar trazida ao Brasil por Conde Koma, cujo nome seria Mitsuyo Maeda. De acordo com Janicot e Pou- illart (1999), apesar de ter aparecido anos após a entrada dos primeiros imigrantes japoneses, o Conde Koma, primeiramente, foi aos Estados Unidos como enviado especial da Kodocan para divulgar o judô, jun- tamente de quatro lutadores importantes: Tomita, Sakate, Ono e Ito. Percorreram desde os Estados Unidos, América Central até a América do Sul e, por fim, chegaram ao Brasil. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 212 – A modalidade tem como base os valores éticos e humanitários pro- fundos, tendo como objetivo o equilíbrio entre o corpo e a mente a partir de disciplina e