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G RU PO SER ED U CACIO N AL gente criando o futuro TEORIA E FUNDAMENTOS DE NATAÇÃO E LUTAS TEO R IA E FU N D AM EN TO S D E N ATAÇÃO E LU TAS MARCELO GUIMARÃES SILVA MARCELO GUIMARÃES SILVA TEORIA E FUNDAMENTOS DE NATAÇÃO E LUTAS ISBN 978-65-990685-3-9 9 786599 068539 Curitiba 2022 Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas Marcelo Guimarães Silva Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. S586t Silva, Marcelo Guimarães Teoria e fundamentos de natação e lutas /Marcelo Guimarães Silva. – Curitiba: Fael, 2022 322 p. : il. ISBN 978-65-990685-3-9 1. Educação física – Estudo e ensino 2. Natação 3. Lutas (Esporte) I. Título CDD 796.07 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Valmera Fatima Simoni Ciampi Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Ser Educacional Arte-Final Hélida Garcia Fraga Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Metodologia do ensino da natação | 7 2. Princípios do treinamento aplicados à natação | 39 3. Regras competitivas da natação | 69 4. Técnicas Introdutórias ao Salvamento e ao Socorrismo Aquático | 99 5. Fundamentação, organização e estruturação relacionados às lutas | 129 6. Contextualização histórica e sócio-cultural das lutas | 153 7. Fundamentos teórico-práticos das lutas | 173 8. Tipos de Lutas | 197 9. Movimentações utilizadas nas lutas | 221 10. Preparação física aplicada às lutas | 255 Gabarito | 289 Referências | 309 Prezado(a) aluno(a), Esta obra tem como principal objetivo abordar aspectos que tangem ao ensino e à prática de duas importantes moda- lidades esportivas, que têm tido nos últimos anos um enorme crescimento em número de praticantes no mundo todo, sobre- tudo no Brasil. Dividida em dez unidades, a obra mergulha em um universo de possibilidades para a atuação do profissional de Educação Física, que muitas vezes não se sente tão preparado para atuar em ambas as áreas, de natação e/ou lutas. O fato é que, explorar conceitos, metodologias, enfim, os principais aspectos que cerceiam o ensino dessas modalidades, torna o futuro profissional de educação física mais bem pre- Carta ao Aluno – 6 – Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas parado para o mercado de trabalho, em uma base de formação sólida, e conectada ao que o mercado atual demanda. Que esta leitura seja importante para sua formação acadêmica, e que sirva como base para que sua atuação seja mais bem consolidada, conec- tada a partir de um contexto mais dinâmico. Boa Leitura. Atenciosamente, Prof. Marcelo G. Silva 1 Metodologia do ensino da natação A natação pode ser compreendida como uma prática humana que visa o deslocamento na água ao utilizar movimentos coorde- nados sem o uso de material flutuante. Embora existam muitos conceitos acerca dessa modalidade esportiva praticada no meio aquático, o mais importante é entender o processo de maneira geral que leva o ser humano a deslocar-se em água, as técnicas utilizadas para tal, bem como meios e métodos de trabalhar o aprendizado e o aperfeiçoamento dessas técnicas. O propósito deste capítulo é apresentar a técnica conside- rada a mais correta possível, que deve ser utilizada na inicia- ção dessa modalidade tanto nas fases de aprendizado, quanto nas fases de aperfeiçoamento. Dessa forma, serão analisados os diferentes aspectos e maneiras de controlar o corpo, posiciona- mentos e coordenação entre braços e pernas, saídas e viradas, isto é, elementos fundamentais para que o indivíduo consiga se deslocar no meio aquático de forma correta a partir da técnica específica de cada nado. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 8 – 1.1 Aplicação da natação e seus diversos âmbitos Antes de tratarmos da metodologia da natação, é importante entender um pouco mais acerca da modalidade em suas diferentes possibilidades de inserção. Andries Júnior e Dunder (2002) descrevem um aspecto importate a ser considerado sobre as fases que o individuo deve dominar antes de ini- ciar a aprendizagem dos nados em si, as quais se resumem em: os primeiros contatos com a água, a respiração, a flutuação, a propulsão e a entrada na água. Após essas fases é que, segundo os autores, poderão ser introduzidos os aprendizados específicos dos estilos de nados propriamente ditos. A estrutura de ensino-aprendizagem desse esporte apresentada por Burkhardt e Escobar (1985) pode ser visualizada como uma pirâmide, possibilitando entendimento das capacidades, com a necessidade de uma base forte (elementar utilitária) com envolvimento de todos os proces- sos iniciais da modalidade (movimentos básicos, adaptações, segurança, maneiras de autosalvamento e salvamento de demais), seguida para uma progressão da prática formal competitiva do esporte. Se assim for o desejo do indivíduo, ele será capaz de evoluir até o alto rendimento esportivo. Ainda de acordo com esses autores, os três níveis de ensino citados anteriormente possuem estruturas semelhantes dependentes do nível de base possuída pelo indivíduo, como aspectos de coordenação, percepção corporal, expressão corporal e progressão de complexidade em função dos objetivos solicitados pelo aluno. Nesse sentido, vemos a natação esportiva (formal ou competitiva) apoiada no ensino-aprendizagem de esquemas de movimentos de maneira padronizada (características dos quatro estilos de nados: crawl, costas, peito e golfinho), e demais técnicas comuns do esporte, como saídas e viradas para estar habilitado a participar de competições. 1.2 Meios e métodos do ensino da natação De forma global, o ensino da natação tem se caracterizado pela sis- tematização de rotinas das chamadas “sequências pedagógicas” com- postas por conteúdos pré-determinados para o aprendizado técnico dos quatro estilos da natação competitiva, conforme descrito por Fernandes e Lobo da Costa (2006). – 9 – Metodologia do ensino da natação Sendo assim, é importante observar que, dentro desse processo pedagó- gico, uma das funções do professor e/ou treinador é proporcionar ao aluno/ atleta o conhecimento e a execução de uma tarefa, ou seja, possibilitar-lhe estabelecer uma relação com o que foi ensinado, em um contexto no qual a prática pedagógica seja desenvolvida de forma consciente, planejada, estru- turada, organizada e sistematizada, visando adequar os conteúdos e seus objetivos à realidade e possibilidade do aluno/atleta e ao ambiente. Embora tenhamos diferentes métodos no processo ensino-aprendiza- gem da natação, na atualidade, ressalta-se duas correntes como as principais de acordo com Caetano e Gonzalez (2013). A primeira, tecnicista, é aquela na qual o conteúdo é fragmentado e dividido em níveis de dificuldade e, a segunda, considera o processo de adaptação e familiarização ao meio aquá- tico como parte do conteúdo na aprendizagem do nadar. Fernandes e Lobo da Costa (2006) defendem uma outra maneira de organizar os conteúdos por meio da pedagogia, compreendida como os métodos e estratégias utilizados a fim de obter uma melhor assimilação do conteúdo por parte dos alunos, dentre as quais se destacam: a global, a analítica e a moderna. É importante destacar que a pedagogia global é caracterizada pelo aprendizado através da prática, no qual o professor/treinador se torna ausente no processo de aprendizagem. Na pedagogia analítica, o professor/ treinador organiza uma sequência, introduzindo o ensino dos movimentos fora do ambiente aquático de forma isolada (parte por parte). A pedagogia moderna é uma junção das pedagogias global e analítica, organizando o conteúdo do simples para o complexo, por meio da práxis pedagógica. Outras maneiras ou métodos a serem desenvolvidos no processo ensino-aprendizagem da modalidade podem ser aplicados. De acordo com Krug e Magri (2012), temos o global, o analítico e o analítico progressivo, métodos que corroboram,em grande parte, por aqueles defendidos por outros autores, entre os quais estão Fernandes e Lobo da Costa (2006). Por outro lado, Xavier (1986) traz uma das abordagens mais utilizadas no âmbito esportivo que também é amplamante adotada no processo de ensino-aprendizagem da natação, que consiste em três correntes de ensino, a destacar: a global, a analítica e a mista. Contudo, os autores fazem diversas subdivisões da analítica. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 10 – Nesse sentido, Krug e Magri (2012), Machado (2004) e Xavier (1986) defendem que a corrente global tem como premissa, dentro do processo ensino-aprendizagem, considerar o comportamento instintivo do sujeito, em que procura a resolução dos problemas que surgem. Além disso, de forma geral, as tarefas a partir dessa concepção ocorrem sem uma frag- mentação de gestos motores, sendo executadas em sua totalidade ao con- textualiar os movimentos com o nado. Na corrente analítica, conforme mencionado por Krug e Magri (2012), Machado (2004) e Xavier (1986), há fragmentação dos movimentos do nado, posto que a ação é trabalhada em partes, e, ainda nessa corrente, os movimentos que compõem o nado podem ser trabalhados de várias formas a partir de uma visão analítica. De certa forma, pode-se trabalhar com todas as partes de forma isolada e, posteriormente, uni-las; pode-se trabalhar com duas partes e depois uni-las, ou, ainda, trabalhar com uma terceira separadamente e depois uni-la às outras duas; pode-se trabalhar determinada parte, somar uma outra, trabalhar com as duas unidas e ir adi- cionando outras partes seguindo esse mesmo processo, bem como traba- lhar com qualquer parte do nado isoladamente de modo independente das outras partes. Portanto, essa corrente corresponde a um ensino sistemati- zado de maneira que os movimentos podem ser ensinados, inclusive, fora d’água de maneira fragmentada, o que torna o nado apenas movimentos mecânicos descontextualizados e/ou isolados. Por fim, há a corrente conhecida como mista, a qual é composta pela combinação da global e da analítica (XAVIER, 1986). Essa corrente tem como premissa central a de mesclar ambas, podendo trabalhar o nado completo, assim como em determinados momentos realizar sua fragmen- tação para dar ênfase a algum gesto específico. Saiba mais Machado (2004) descreve que a didática do ensino da natação requer uma sequência pedagógica. Assim, a aprendizagem pode ser subdividida em: adaptação ao meio aquático; respi- ração e flutuação; noções de deslizes; propulsão utilizando as pernas; propulsão utilizando os braços; coordenação; mergulho elementar; avaliação de habilidades. Independentemente do – 11 – Metodologia do ensino da natação método ou concepção de ensino adotada, faz-se essencial que uma sequência pedagógica seja estabelecida, pois será ela que norteará o trabalho do professor/treinador. Por fim, Caetano e Gonzalez (2013) trazem um outro método conhe- cido como ABC, sendo ele dividido em três tipos de tarefas e técnicas: 1) as fechadas (são técnicas estáveis, que não sofrem variação e representam a base do aprendizado); 2) as abertas (são técnicas que podem ser modifi- cas ou variadas); 3) as estratégias abertas (é a adaptação das técnicas em situações complexas). Vale ressaltar que, nessa concepção, o ensino da técnica só é importante quando o nadador se encontra em um estágio de especialização ou de aperfeiçoamento do estilo. Antes dessa fase, é impor- tante que o nadador experimente um leque de possibilidades de movimen- tos no intuito de aumentar as possibilidades das habilidades motoras. 1.2.1 Etapas e fases pedagógicas no ensino da natação As fases pedagógicas podem ser categorizadas em etapas de aprendi- zagem e de condicionamento físico. Em ambas etapas, segundo Machado (2004), o trabalho de aprendizagem e condicionamento físico acontecem simultaneamente. No entanto, na primeira etapa, o foco, como o próprio nome já diz, é a aprendizagem de gestos e movimentos técnicos pertinen- tes à execução dos nados, assim como na segunda, em que o foco passa a ser o desenvolvimento do condicionamento físico do sujeito. A literatura apresenta as fases pedagógicas, as quais geralmente são classificadas como: adaptação, iniciação, aprofundamento e treina- mento. Ainda de acordo com o autor, a adaptação é uma fase caracterizada por proporcionar aos alunos uma aproximação inicial ao meio aquático e é direcionada para aqueles alunos que não têm o domínio do próprio corpo nesse meio. Segundo Fernandes e Lobo da Costa (2006), essa fase deve proporcionar ao aluno a perspectiva de dominar todos os movimentos pos- síveis para que ele possa gozar de suas expectativas e objetivos pessoais. Machado (2004) menciona que, nessa fase, são trabalhados e explo- rados seis fundamentos: os primeiros contatos com a água, a respiração, a Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 12 – flutuação e a sustentação, a propulsão e o mergulho elementar. Em seguida, temos a iniciação, que, de acordo com Machado (2004), é a fase em que os alunos vivenciam o processo de aprendizagem dos quatro estilos, bem como as regras referentes a cada estilo, além dos nados, as suas saídas e viradas. Na fase de aprimoramento/aprofundamento, Machado (2004) cita que há o aprimoramento e o aperfeiçoamento dos quatro estilos de nado, assim como das técnicas de saída, viradas e do nado medley. Além disso, passa ser trabalhado o desenvolvimento do condicionamento físico. Na fase de treinamento, ainda de acordo com o autor, é onde são vivenciados os aspectos focados aos detalhes da fase anterior (aprimoramento) com o foco, sobretudo, no condicionamento físico. 1.3 Aspectos técnicos específicos dos nados: crawl, peito, costas e borboleta Nesta seção, serão apresentadas as técnicas específicas de cada um dos estilos da natação, mais especificamente, das técnicas de cada um des- tes quatro estilos: crawl, peito, costas e borboleta, analisando os movi- mentos da pernada, da braçada e da respiração, com o objetivo de elucidar a coordenação do nado completo. 1.3.1 Técnica do nado crawl Esse estilo é conhecido no mundo todo por ser de mais fácil apren- dizagem, sendo, atualmente, a modalidade de nado praticada nas provas de nado livre. A técnica do nado crawl é conhecida por ser a mais rápida de todas e Machado (2004) descreve sua análise técnica a partir dos seguintes elementos: 1) posição do corpo; 2) trabalho das pernas; 3) trabalho dos braços; 4) respiração. Nesse sentido, é importante obser- var, em primeiro lugar, a posição do corpo que deve ser rente à super- fície, de forma que ele esteja o mais paralelo possível à linha da água. Nesse contexto, a capacidade de flutuação do nadador deve ser levada em consideração, além da influência dos movimentos de seus braços e de suas pernas na manutenção da posição do corpo. Ainda de acordo com o autor, para que o nado seja, de fato, eficiente, é preciso que o corpo – 13 – Metodologia do ensino da natação realize um movimento de rotação, também chamado de rolamento, que auxilia na propulsão das pernas, na eficiência da fase submersa e no rela- xamento da fase aérea da braçada (MACHADO, 2004). Vale ressaltar a importância da rotação do tronco, a qual deverá ser realizada através do ombro, do quadril e do queixo, no momento da respi- ração lateral, com o intuito de reduzir a resistência da água com o corpo. Com a rotação do quadril e do tronco, haverá menos resistência, o indi- víduo realizará uma boa entrada de mãos na água, e estará trabalhando outros grupos musculares, tais como: os das costas, ombros e peitorais, reduzindo a resistência, ao obter uma melhor eficiência na braçada. Outro aspecto a ser destacado quanto à técnica do nado crawl é o ritmo, representado pela extensão do movimento e do relaxamento, em que a extensão do movimento dependerá da flexibilidade dos ombros, do comprimento do corpo ou da altura e do tempo da braçada. Dessa forma, aumentar a velocidade,realizando uma braçada longa, ao invés de aumentar a frequência da braçada, tornam-se as estratégias ideais. Carvalho (2008) descreve como principais características do nado crawl as seguintes: 2 posição ventral do corpo (barriga voltada para baixo); 2 movimentos alternados e coordenados das extremidades supe- riores e inferiores; 2 rosto submerso com água na altura da testa, olhando para frente e para baixo; 2 respiração lateral com rotação da cabeça, coordenada com os membros superiores para realizar a respiração; 2 um ciclo consiste numa braçada com o membro superior esquerdo e outra braçada com o membro superior direito e um número variável de pernadas. 1.3.2 Técnica do nado peito Machado (2004) descreve o nado peito como o estilo mais antigo de que se tem notícia em termos de sua utilização e de seu ensinamento. Tal nado é considerado, de acordo com o autor, o nado competitivo mais Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 14 – lento dentre todos, pois todos os seus movimentos são realizados dentro da água, não havendo fase aérea de recuperação. Atualmente, os nadadores de nado peito devem, após a saída e a cada virada, ficar submersos durante um ciclo de braços; na técnica generali- zada do nado, fazem uma braçada semicircular curta e uma pernada deno- minada chicotada, conforme mencionado por Maglischo (2010). Trata-se de um estilo de nado que requer do nadador grandes forças propulsivas em cada ciclo de braços e pernas, devido ao fato de ser o único estilo de nado em que não existe a fase área de recuperação. Além disso, Maglischo (2010) aponta, a respeito da técnica, que a evolução do nado e as mudanças de regras foram determinantes para as modificações técnicas ocorridas ao longo dos tempos nesse que é consi- derado um dos esportes mais antigos praticados pelos seres humanos, que passou a ter duas correntes de execução: o estilo plano, ou convencional, e o estilo ondulante, muito utilizados por atletas em competições. Machado (2004) destaca que, no estilo plano do nado peito, o atleta se mantém em uma posição mais horizontal, com os quadris permanecendo mais próxi- mos da superfície durante toda a execução. Já no estilo ondulante, o atleta tende a elevar o quadril no final da pernada, não se mantendo na horizontal e, portanto, provocando uma elevação maior do tronco para a respiração. Independentemente do estilo, a técnica para a evolução da velocidade do nado está na busca pela aceleração no momento da respiração, conside- rada a etapa de desaceleração do nado. Além disso, o nadador deve se concentrar em executar os movimentos de pernas e braços no tempo certo (coordenados), para um não inibir a execução do outro, ou seja, deve ser um trabalho contínuo, preciso e rítmico, no qual devem ocorrer as braça- das seguidas das pernadas, cada um dos movimentos a seu momento. De acordo com Carvalho (2008), alguns aspectos devem ser consi- derados no que tange a execução do nado peito (técnica), entre os quais estão: 1) a posição alta e natural do corpo, que, por meio de uma flutuação natural, poderá ser diferente para cada atleta. Além disso, o relaxamento muscular na execução torna-se essencial, no intuito de evitar gasto energé- tico desnecessário por meio do recrutamento de fibras musculares que não são tão recrutadas no movimento executado; 2) a busca pela redução da resistência da força de arrasto, devendo, nesse caso, o nadador, manter na – 15 – Metodologia do ensino da natação linha da superfície mãos, cabeça, quadril e calcanhares até alcançar a posi- ção inicial; 3) a importância da sincronização constante da energia, além da força e propulsão, ao ser mantida uma frequência otimizada que per- mita ainda aumentar a velocidade de execução e deslocamento na água. 1.3.3 Técnica do nado costas Esse estilo é considerado por Carvalho (2008) e Machado (2004) o único que proporciona ao aprendiz respiração constante, exigindo do aluno uma grande habilidade articular especialmente dos ombros. Para esses autores, esse deve ser o segundo estilo a ser abordado no ensino da nata- ção, podendo ser realizado paralelamente ao do nado crawl ou, até mesmo, após a sua aprendizagem completa. A progressão pedagógica para o ensino desse estilo deverá ser realizada simultaneamente para que o aluno ganhe mais compreensão sobre os movimentos realizados e, para isso, ele deverá compreender que tudo faz parte de uma compreensão global. Machado (2004) destaca a importância de manter a posição do corpo na água. Nesse contexto, trata-se de uma técnica que exige uma boa fltuação em decúbito dorsal do corpo. Em relação à propulsão de perna, a pernada em relação a força propulsora dos braços, o equilíbrio e o balanço do corpo devem ser especialmente analisados. É importante destacar que, assim como no nado crawl, a importância do mecanismo de rotação do tronco, mantendo uma boa estabilidade do quadril, e sua sincronização com as pernadas tornam-se fundamentais para, além de uma execução eficaz do gesto, o ganho em velocidade e a redução do gasto energético do movimento. Um aspecto importante destacado por Machado (2004) e corroborado por Maglischo (2010) é que esse estilo, ao ser ensinado por fases, permite ao treinador uma maior possibilidade de compreensão e de percepção, oferecendo ao seu aluno uma gravura mental de si mesmo para que ele tenha como meta um conceito de estilo ideal. No que tange o aspecto técnico, Machado (2004) ressalta que é preciso que o aluno saiba que, à medida que ele cresce e se fortalece, seu estilo toma um novo rumo e, para que sempre esteja em dia com este nado, ele deverá se dirigir a suas partes específias. Cabe ressaltar que as explicações, por sua vez, devem ser feitas Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 16 – fora d’água, uma estratégia que se demonstra confortável para que o aluno possa se concentrar, conforme descreve o autor. 1.3.4 Técnica do nado borboleta O nado borboleta, também conhecido como estilo “golfinho”, é o mais recente dentre todos, sendo considerado um dos nados de mais difícil execução, pois exige o uso de muita energia e força de membros superio- res para ser realizado segundo Machado (2004). Pelo fato da recuperação da braçada ser feita de forma simultânea e aérea, exige que os nadado- res realizem uma puxada com força e potência para conseguir retirar os membros da água, logo, o dispêndio energético é bastante elevado. No nado borboleta, observa-se que são altamente desgastantes os movimentos simultâneos de pernas e braços que fazem com que o nadador deva tirar ao mesmo tempo os membros superiores da água, conduzindo-os à frente sem que toquem a superfície. Maglischo (2010) destaca que esse estilo teve origem em uma modi- ficação do nado peito. A princípio, era realizado com a pernada de peito, com o passar do tempo, após a evolução do estudo da biomecânica, foi encontrada uma maneira diferente e mais eficiente de executar o nado: com a pernada similar ao movimento de golfinhos nadando. De acordo com Machado (2004), o nado borboleta pode ser repre- sentado por meio de uma análise sequencial, a qual é realizada a partir da fragmentação do corpo do nadador em: 1) posicionamento do corpo e da cabeça; 2) propulsão dos braços; 3) respiração; 4) propulsão de pernas; 5) coordenação completa. Massaud (2004) descreve a análise dessas ações motoras relacionando-as aos movimentos dos membros inferiores e dos membros superiores com a movimentação do nado crawl. Entretanto, con- sidera-se aqui um crawl duplo, em que os membros inferiores e os mem- bros superiores atuariam conjuntamente, cada um no seu ciclo de trabalho. Destaque O treinador/professor possui papel fundamental no processo técnico do nadador, e, nesse sentido, Machado (2004) apre- senta os dez mandamentos dos treinadores de natação, a saber: – 17 – Metodologia do ensino da natação 1) seja bastante organizado; 2) seja firme, mas justo; 3) mante- nha a serenidade; 4) seja um entusiasta;5) realize apreciações sinceras; 6) não tenha atletas favoritos, trate todos da mesma maneira; 7) mantenha um interesse sincero; 8) não grite com os atletas; 9) não destrua a possibilidade de comunicação; 10) veja seus nadadores de seis maneiras: com afeição, criatividade, segurança, realização, novas experiências e amor-próprio. 1.4 Posicionamento do corpo e posicionamento de braços e pernas nos nados: crawl, peito, costas e borboleta Nesta seção, serão apresentados os aspectos gerais relacionados às técnicas específicas dos movimentos da pernada, da braçada e da respi- ração de cada estilo de nado, com o objetivo de melhorar a compreen- são acerca da coordenação do nado completo. É importante destacar que cada estilo apresenta sua técnica específica. Entretanto, alguns elementos podem ser aplicados de maneira similar como, por exemplo, a rotação de quadril e entrada/saída de braços dos nados crawl e costas, as saídas e/ ou viradas, ou, ainda, o movimento de deslizar sobre a água, presentes no nado peito e borboleta, entre outros. A técnica, de fato, é unanimemente considerada como um dos parâ- metros mais importantes. Assim, ela se apresenta como preocupação cen- tral do processo de treino dessa modalidade, pois está associada a diversos aspetos, entre os quais estão: a melhoria da performance global e a redu- ção dos riscos de lesão. 1.4.1 Posicionamento do corpo e posicionamento de braços e pernas no nado crawl De acordo com Carvalho (2008) e Machado (2004), a posição do corpo deve ser rente à superfície, de forma que esteja o mais paralelo pos- sível à linha da água, conforme mostrado na Figura 1.1. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 18 – Figura 1.1 – Posição do corpo e da cabeça no nado crawl Fonte: Massaud (2004). Nesse contexto, a capacidade de flutuação do nadador deve ser levada em consideração, além da influência dos movimentos de seus braços e de suas pernas na manutenção da posição do corpo. Para um nado eficiente, o corpo deve realizar um movimento de rotação, também chamado de rola- mento, que auxilia na propulsão das pernas, na eficiência da fase submersa e no relaxamento da fase aérea da braçada. É importante ressaltar que Machado (2004) evidencia que a análise da técnica do nado crawl pode ser realizada a partir dos seguintes elemen- tos: 1) posição do corpo; 2) trabalho das pernas; 3) trabalho dos braços; 4) respiração. Uma atenção especial deve ser direcionada ao rolamento que deve ser realizado de forma efetiva, sem gerar resistência frontal, fazendo com que a cabeça gire ao final da fase submersa da braçada, conforme descreve Mas- saud (2004). Desse modo, o ombro oposto gira, ao aumentar a amplitude da braçada e posicionando melhor a mão à frente do corpo. Os quadris reali- zam uma curta rotação, posicionando as pernas diagonalmente. É fundamen- tal que haja um alinhamento horizontal do corpo, pois, segundo Carvalho (2008), tal ação permitirá minimizar a força de arrasto hidrodinâmico a que o nadador se sujeita, assim como favorecer a produção de força propulsiva pela ação dos segmentos motores horizontalmente. No nado crawl, o corpo deve estar o mais horizontal possível, com a cabeça em posição natural no pro- longamento do tronco e com as costas completamente planas (MASSAUD, 2004). Em adição, ao realizar uma observação frontal, deve-se perceber que o nadador deverá estar com um ombro de cada vez exposto fora d’água. Faz-se necesário, ainda, observar a posição da cabeça, pois, nesse caso, influencia muito a posição do corpo, conforme Machado (2004). – 19 – Metodologia do ensino da natação O autor menciona também que, ao levantar a cabeça, ou olhar mais para a frente, a tendência é de que as pernas afundem, o que é prejudicial à exe- cução técnica correta do nado. Dessa forma, o nadador deve manter sua cabeça rente à superficie (água), em posição natural no prolongamento do tronco e com as costas completamente planas, evitando que acompanhe a rotação sobre o eixo longitudinal do bloco tronco/membros inferiores, devendo mantê-la sempre fixa, como afirma Massaud (2004). Em relação à pernada, no nado crawl, Machado (2004) menciona que deve ser realizado o movimento alternado em direção vertical e, às vezes, diagonal (dependendo do grau de rolamento do corpo), ou seja, enquanto uma perna está em propulsão, a outra estará em recuperação. Carvalho (2008) o complementa ao citar que a pernada no crawl é caracterizada por uma oscilação solta dos membros inferiores, que realizam ações curtas, alternadas e diferenciadas, iniciando um antes que o outro termine. Tais ações se dão, principalmente, no plano vertical, cuja importância se faz no equilíbrio, na propulsão e na sustentação do corpo. Carvalho (2008) menciona que a eficiência da pernada está direta- mente ligada aos seguintes fatores: a completa soltura muscular que venha auxiliar para a chicotada que caracteriza este movimento; o ritmo sem inter- ferência de desaceleração e quebra de continuidade; a posição da perna, com os pés naturalmente voltados para dentro sem movimentos forçados, visando o relaxamento muscular, para manter em atividade a zona de revo- lução da água; o movimento solto do pé na posição indicada (flexão plantar do tornozelo), com grande flxibilidade dos tornozelos, para que a movi- mentação da água no nível dos dedos dos pés seja a mais atuante possível. É importante destacar que o movimento da pernada no crawl, que se inicia na articulação coxofemoral, é divido em dois momentos, segundo Maglischo (2010): 1) descendente; 2) ascendente. Ainda de acordo com autor, o primeiro movimento ocorre quando o nadador chuta a água para baixo. Primeiramente, ocorre uma leve flexão do quadril, na sequência, uma extensão dos joelhos em que os pés estejam em flexão plantar. Essa sequ- ência coordenada de movimentos lembra o movimento de uma chicotada. O segundo movimento, responsável por retornar a perna para a posi- ção inicial, ocorre a partir da extensão do quadril com o joelho estendido. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 20 – A pernada pode ser executada de três maneiras diferentes em relação às braçadas: dois tempos, quatro tempos e seis tempos. Na natação competi- tiva, existem os casos de pernadas de oito e, até mesmo, dez tempos para desenvolver maior velocidade. Isso se refere ao número de pernadas por ciclo de braçadas. Ou seja, em uma pernada dois tempos, o nadador exe- cuta duas pernadas por ciclo de braçada. Em uma pernada quatro tempos, o nadador executa quatro pernadas por ciclo de braçadas e assim sucessi- vamente (MAGLISCHO, 2010). No caso da braçada, Carvalho (2008) descreve que pode ser dividida basicamente em duas fases: a fase aérea, também chamada de fase de recuperação, que deve ser realizada com o cotovelo fletido e com certo relaxamento muscular. Essa fase se inicia quando os braços saem da água após a finalização (fase submersa) até entrar na água novamente (1.2a). Machado (2004) descreve a importância de orientar o nadador que o coto- velo seja retirado da água antes das mãos, ao fazer com que o cotovelo seja elevado e mantido sempre mais alto do que a mão, contribuindo com o relaxamento muscular. Além disso, ao manter essa relação entre mão e cotovelo, a entrada da mão na água se torna mais angulada, “cortando” a água. A fase submersa da braçada é dividida em três etapas, conforme Machado (2004): 1) apoio; 2) puxada; 3) empurrada (Figura 1.2b). Após a fase aérea, dá-se início à fase submersa pelo apoio, fase em que a mão entra na água e alonga à frente do ombro. Nessa fase, a mão entra na água ligeiramente voltada para fora, com o dedão voltado para baixo. Após penetrar na água a uma profundidade de aproximadamente 20 centímetros, ocorre uma flexão de ombro e uma extensão de cotovelo, posicionando a palma da mão para o fundo da piscina (MACHADO, 2004; MAGLISCHO, 2010). A segunda etapa, de acordo com os autores, é a puxada, momento em que o nadador, de fato, começa a“puxar” a água para trás, ou seja, inicia a parte propulsiva da braçada. Para isso, a mão e o antebraço se movimentam para trás, com uma leve mudança de direção. Primeira- mente, para fora, afastando-se do corpo, e, depois, para dentro, apro- ximando-se da linha medial (MACHADO, 2004). Esse movimento dá início ao formato sinuoso da braçada, também conhecido como “S”, fase – 21 – Metodologia do ensino da natação que termina quando o braço se posiciona abaixo do ombro, caracteri- zando o início da empurrada. A terceira fase, portanto, caracteriza-se pela mudança de movi- mento. Ao passar pelo ombro, Carvalho (2008) indica que o nadador para de “puxar” e começa a “empurrar” a água. Nessa fase, há, assim, um aumento na velocidade da braçada e na força por parte do nadador. Ao “empurrar” a água para trás, o nadador deve realizar a extensão do cotovelo, posicionando a mão próxima à coxa. Ao finalizar a braçada, inicia-se novamente todo o ciclo. A respiração no nado crawl, de acordo com Machado (2004), pode ser realizada tanto unilateral quanto bilateralmente. Nas duas formas, o movimento é o mesmo. A diferença é que, na primeira, o nadador a exe- cuta apenas para um lado, enquanto, na segunda, o nadador respira para os dois lados. Para que se tenha um rendimento ótimo na natação, é pre- ciso que o nadador mantenha um ritmo na respiração, coordenado com os movimentos dos braços, das pernas e do corpo (LIMA, 2009). Destaca-se que a respiração lateral é realizada sempre para o mesmo lado, durante a braçada direita ou esquerda. Assim, a respiração ocorre a cada duas, quatro, seis braçadas e assim sucessivamente, conforme descreve Lima (2009). No caso da respiração bilateral, ela ocorre para os dois lados alter- nados, ou seja, uma respiração durante a braçada direita e/ou durante a braçada esquerda. Porém, o mínimo de braçadas entre as respirações são três. Assim, a respiração ocorre a cada três, cinco, sete braçadas e assim sucessivamente (LIMA, 2009). Um aspecto que deve ser considerado acerca da técnica do nado crawl é a coordenação entre a braçada e a respiração. Carvalho (2008) menciona que o momento mais importante dessa coordenação ocorre quando o membro superior entra na água e quando o outro mem- bro superior está a completar o alinhamento lateral interior, o que permite ao corpo rodar para o lado do braço que vai iniciar a ação ascendente (membro superior “recuado”). Por outro lado, o autor destaca que a extensão para frente do membro superior que entra na água permite que o corpo fique novamente alinhado enquanto a ação ascendente é realizada. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 22 – Destaque Em relação à coordenação entre braçada e respiração, destaca-se que o movimento da respiração inicia quando o nadador gira a cabeça para o lado, inspirando à medida que a cabeça sai da água e expirando à medida que a cabeça retorna à posição ini- cial. A inspiração coincide com o início da fase da empurrada do braço submerso. Enquanto o braço esquerdo estiver na fase de apoio, o direito estará finalizando a fase da empurrada. Nesse mesmo momento, ocorrerá o giro da cabeça para o lado direto. Fonte: YOUNG, M. Front crawl arm technique. In: SWIM TEACH. [S. l.], c2020a. Disponível em: https://www.swim-teach. com/front-crawl-arm-technique.html. Acesso em: 12 maio 2021. Maglischo (2010) descreve, ainda, como um dos aspectos técnicos importantes do nado crawl, os fundamentos de saídas e viradas que são realizados obrigatoriamente em eventos competitivos. Em provas de velocidade como os 50 metros livre e os 100 metros livre, realizar uma boa saída é pré-requisito para um bom desempenho. Esse autor descreve que, atualmente, existem dois tipos de saída: 1) tradicional (agarrada), que é realizada com os dois pés apoiados no bloco de par- tida, alinhados à frente, levemente separados. Os joelhos ficam leve- mente flexionados, assim como o quadril e o tronco. As mãos devem segurar a parte frontal do bloco até que o arbitro dê o sinal de partida (Figura 1.2a); 2) atletismo (com um pé atrás), que recebe esse nome porque se assemelha muito ao posicionamento dos atletas de atletismo. A grande diferença entre esse tipo e o tradicional é a posição dos pés. Na saída de atletismo, um pé fica na parte anterior do bloco e o outro fica mais atrás (Figura 1.2b). Após o sinal, o nadador deve movimentar os braços para cima e para a frente, soltando o corpo para a frente e realizando a impulsão com as pernas. O salto deve realizar uma pará- bola, para que, ao entrar em contato com a água, os pés entrem pelo mesmo lugar que as mãos entraram. – 23 – Metodologia do ensino da natação Figura 1.2 – Posições de saídas na natação dorsal largo jarrete redondo maior tríceps braquial quadríceps gastrocnêmio e sóleo paravertebral Fonte: Massaud (2004). De acordo com Massaud (2004), ao sinal de partida do árbitro, o nada- dor que estará sobre o bloco (Figura 1.2) deverá executar os seguintes passos: 2 Tracionar contra o lado inferior do bloco para fazer com que o seu corpo inicie o desequilíbrio à frente; 2 Lançar a cabeça e as mãos para cima e à frente, sob o queixo, iniciando a projeção do corpo para o voo; 2 Decolar num ângulo de 45 graus; 2 Carpar ao passar pelo ponto mais elevado do voo, momento de se encaixar a cabeça entre os braços; Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 24 – 2 Na entrada da água, procurar fazer com que todo o corpo o faça no mesmo ponto onde entraram as mãos; 2 Manter as mãos sobrepostas, com os braços estendidos pressionando as orelhas, mantendo o corpo em uma posi- ção aerodinâmica. A fase submersa da saída do nado crawl deve iniciar por meio de uma curta e rápida pernada do estilo golfiho, aumentando gradativa- mente. Além disso, deve iniciar a primeira braçada um pouco antes de o corpo atingir a superfície, de forma que isso ocorra quando o nada- dor estiver realizando a varredura para cima. O último aspecto associado à ténica do nado crawl é a virada, considerada o momento em que o nadador chega na borda da piscina e, para não perder tempo, realiza um movimento que dê continuidade ao nado, conforme descreve Maglischo (2010). Essa virada pode ser simples ou olímpica (cambalhota), como pode ser visto a seguir. Na virada simples, o nadador deve tocar a borda com uma das mãos e levar os pés para a parede ao mesmo tempo em que posiciona a outra mão para o lado oposto da parede. Quando os pés atingem a parede, o nadador afunda a cabeça, posicionando-a entre os braços, que devem estar em posição hidrodinâmica (posição de “flecha”). Em seguida, o nadador realiza a impulsão com as pernas, em que o nada- dor, durante tal deslocamento, deverá executar a pernada de golfinho com o corpo bastante alinhado, até, no máximo, 15 metros (LIMA, 2009; MAGLISCHO, 2010). A virada olímpica é considerada mais complexa que a sim- ples por envolver um giro. Nesse caso, ao se aproximar da parede, o nadador não precisa tocá-la com mão, mas sua cabeça deve ficar a uma distância de, aproximadamente, 30 centímetros da borda. Nessa posição, o nadador deve agrupar o corpo, realizando uma camba- lhota em que leva os pés à parede. Ao tocar os pés na parede, o nadador posiciona o corpo em posição hidrodinâmica, com a cabeça entre os braços, e impulsiona a parede com as pernas (LIMA, 2009; MAGLISCHO, 2010). – 25 – Metodologia do ensino da natação 1.4.2 Posicionamento do corpo e posicionamento braços e pernas no nado peito Maglischo (2010) afirma que, atualmente, os nadadores de nado peito devem, após a saída e a cada virada, ficar submersos durante um ciclo de braços. Na técnica generalizada do nado, fazem uma braçada semicircular curta e uma pernada denominada chicotada. O nado peito é considerado o nado competitivo mais lento, devido ao fato de que é o único que não conta com a fase área de recuperação, mas que acarreta aos nadadores grandes forças propulsivas em cada ciclo de braços e pernas.Com relação à pernada, o nado peito requer uma ação das pernas no estilo de chicotadas estreitas. Essa forma de execução, em chicotadas, assemelha-se a uma hélice: os pés palmateiam para fora, para baixo e para dentro, bem como para trás. Massaud (2004) aponta que as plantas dos pés são as principais superfícies propulsivas, com deslocamento da água para trás como fólios, não como remos, como pode ser observado. Maglischo (2010) divide a pernada em quatro fases, como se pode observar na figura a seguir: 1) recuperação; 2) varredura para fora; 3) var- redura para dentro; 4) sustentação e deslizamento. Figura 1.3 – Fases da pernada do nado peito 1-2 Recuperação 2-3 Varredura para fora 3 Agarre 3-4 Varredura para dentro 4-5 Levantamento e deslize Fonte: Adaptada de Maglischo (2010). Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 26 – Referente às fases da pernada, temos a fase de varredura para fora, em que os pés são flexionados e girados para fora na articulação do torno- zelo, e as plantas, voltadas para fora e para trás, executarão um movimento circular com pressão simultânea no sentido lateral para fora e para baixo. Quanto menos para trás se deslocarem os pés, melhor será a eficácia da sustentação (MAGLISCHO, 2010; MASSAUD, 2004). Já na fase de var- redura para dentro, após o agarre (fase final da varredura para fora), os autores destacam que, no meio da trajetória de extensão dos joelhos), as pernas se movimentam para dentro, para baixo e para trás. As plantas dos pés devem estar voltadas para baixo e para dentro, até completarem a fase e terminarem somente para dentro. Durante essa fase, a velocidade e a pressão realizadas pelos pés devem aumentar continuamente com o pico ocorrendo antes de os pés reduzirem a pressão contra a água para iniciar a sustentação. A fase de sustentação e deslizamento é a continuação do movimento circular da varredura para dentro. De acordo com Massaud (2004), trata-se de um movimento feito para liberar a pressão contra a água para baixo e para dentro um pouco antes da união dos pés, que se projetam em direção à superfície para finalizar a propulsão da pernada e iniciar a sustentação. As pernas, então, subirão até se alinharem ao corpo, em uma posição imediatamente abaixo da superfície, iniciando a fase de deslizamento das pernas. E, finalmente, há a fase de recuperação, a qual consiste em uma flexão do joelho, realizando um movimento descontraído com pequeno gasto energético e, em seguida, uma extensão com o apoio necessário ao deslocamento com vigor e potência. Dessa forma, os pés devem se movimentar para a frente, simultaneamente, em flexão plantar, com os dedos apontando para trás, sendo importante, ainda, que os pés e as pernas se desloquem à frente dentro da linha do quadril, de modo que as pernas estejam na direção das coxas (MAGLISCHO, 2010). De acordo com Massaud (2004), a braçada do nado peito caracte- riza-se por possuir ênfase na lateralidade dos movimentos. Isso porque, partindo com os braços estendidos à frente da cabeça e mãos juntas, o início da braçada é realizado com pressão para os lados e ligeiramente para o fundo – o que se denomina “fase de apoio da braçada ou varredura para fora”. Além disso, ainda a respeito da técnica da braçada nesse estilo de nado, Machado (2004) explica que, durante essa abertura dos braços, – 27 – Metodologia do ensino da natação as mãos, inicialmente voltadas para baixo, vão girando lentamente para fora até ultrapassarem as linhas dos ombros, ponto em que elas, além da pressão lateral, exercerão um movimento para baixo, alcançando o agarre. Durante essa fase, o nadador não deve permitir que haja grande afasta- mento dos braços, para que, no momento de tração (movimento de aproxi- mação dos braços ao corpo), as mãos não ultrapassem a linha dos ombros e/ou do rosto. Massaud (2004) explica também que as mãos se deslocarão inclina- das, tendo como bordo de ataque o dedo mínimo e o de fuga, o polegar. No entanto, alguns nadadores, no início dessa fase, realizam uma ligeira flxão do punho, o que é aceitável, mas, ao alcançarem o agarre, suas mãos e seus antebraços deverão estar alinhados. As divisões da braçada do nado peito, de acordo com esse autor, podem ser feitas em três importantes fases e vistas diferentes: 1) varredura para fora; 2) varredura para dentro; 3) recuperação. Na fase de varredura para fora, ou apoio da braçada, Machado (2004) descreve que há uma ênfase na lateralidade dos movimentos. Ao partir com os braços estendidos à frente da cabeça, com as mãos unidas, o início da fase de apoio é realizado com uma pressão para os lados e, ligeiramente, para o fundo. Na abertura dos braços, as mãos, voltadas para baixo, vão girando lentamente para fora até ultrapassarem a linha dos ombros, ponto onde exercerão um movimento para baixo, o agarre. Deve-se evitar grande afastamento dos braços e, na tração, as mãos não devem ultrapassar a linha do ombro e do rosto, mas devem se deslocar inclinadas, tendo, como bordo de ataque, o dedo mínimo e, como de fuga, o polegar (MAGLISCHO, 2010; MASSAUD, 2004). A fase seguinte é caracterizada como a de varredura para dentro, ou tração, que consiste, de acordo com Maglischo (2010), em um movi- mento de pressão do antebraço, no início para dentro e para baixo, depois para dentro e para cima, tendo a flexão do antebraço sobre o braço com a adução do braço junto ao corpo, unindo as mãos. Os cotovelos se mantêm elevados, e as mãos e os antebraços giram para baixo e para dentro em torno deles. É importante destacar que o movimento da braçada com as mãos unidas à frente da linha do ombro deve atingir um ângulo de 80 graus Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 28 – nos cotovelos. Agora, o bordo de ataque passa a ser o polegar e o de fuga, o dedo mínimo, atingindo as mãos a velocidade mais alta (máxima). Por fim, há a recuperação, que se inicia após a finalização da fase de tração, sendo a última fase do ciclo da braçada. As mãos são projetadas à frente, próximas ou sobre a superfície, e, ao final, ocorrerá ou não o deslize, para logo iniciar um novo ciclo de braçada, com a preparação para a varredura para fora (MASAUD, 2004). A respiração, por sua vez, deve ocorrer durante a pressão inicial da braçada, ou seja, é durante o apoio que o nadador deve realizar a expiração. Ao realizar a tração, levará o tronco e retirará o rosto da água, momento em que realiza a inspiração. No lançamento dos braços à frente (recupe- ração), o rosto retornará à água (MASAUD, 2004). Ainda de acordo com o autor, os nadadores podem realizar uma respiração para cada ciclo de braçada, porém, em provas mais curtas, para ganhar velocidade e gerar menos resistência, os nadadores podem manter a cabeça na superfície, sem levantá-la para respirar. A coordenação dos movimentos de pernada e braçada com a respi- ração no nado peito são essenciais para a execução eficaz da técnica do nado. Sendo assim, Machado (2004) ressalta essa sicnronização apoiada pelos seguintes movimentos alternados: as pernas se mantêm estendidas > apoio da braçada; as pernas se mantêm estendidas > tração da braçada; início da recuperação da braçada > início da recuperação das pernas (fase lenta); segunda metade da recuperação da braçada > fase rápida da recu- peração das pernas; final da recuperação da braçada > ação com extensão das pernas (pressão). No que tange as saídas no nado peito, Massaud (2004) enfatiza que o principal objetivo desse fundamento técnico é fazer com que o nadador vá o mais longe possível, com a velocidade mais alta, evitando perda de tempo. Isso não é diferente no nado peito, a não ser na fase aquática, no processo de movimento submerso chamado de “filipina”. Desse modo, a saída do bloco de saída no nado peito é idêntica à dos nados crawl e borbo- leta, sendo caracterizados como nados em posição ventral. O nadador se posiciona sobre o bloco de saída (plataforma) e, ao sinal de partida, reage, lançando-se na água.A concentração no momento de saída é um diferen- cial para o sucesso no tempo de reação ao estímulo. São dois os tipos de – 29 – Metodologia do ensino da natação saída: de agarre e de atletismo, ou track (MAGLISCHO, 2010; MAS- SAUD, 2004). Ambas são efetivas e se diferenciam apenas pela posição dos pés no bloco de partida, em que o atleta/nadador deve ter a possibili- dade de experimentar as duas opções e escolher, com o conselho de seu treinador, a que mais favorece sua performance. Maglischo (2010) descreve que, após a entrada na água, o nada- dor deverá permanecer com o corpo totalmente estendido, com braços estendidos à frente e mãos sobrepostas e juntas. Ao sentir a diminuição da velocidade de deslocamento, deve realizar a primeira braçada (idên- tica à braçada aquática do nado borboleta), empurrando a água para trás (assemelha-se a uma fechadura), finalizando o movimento com os bra- ços colados na lateral do corpo, até o momento em que sua velocidade de deslocamento submerso seja signifiativa. De acordo com Massaud (2004), ainda submerso, o nadador deve fazer a recuperação dos braços sob o corpo, mantendo mãos, antebraços, braços e cotovelos o mais pró- ximo possível do corpo, buscando diminuir a resistência frontal do des- locamento. A partir da passagem das mãos sob o rosto, as pernas iniciam a preparação para a ação (recuperação). Ao fializar a extensão dos braços à frente do corpo, o nadador realiza a pernada, deslizando em direção à superfície, e inicia o nado peito. Finalmente, a respeito das viradas no nado peito, Maglischo (2010) aponta que são semelhantes às do nado borboleta, que podem ser descritas em três fases distintas. Ao se aproximar da borda da piscina, o nadador deve ajustar sua braçada e a velocidade para tocar a borda com as duas mãos, simultaneamente, com os braços estendidos. Após o toque, deve, imediatamente, retirar um dos braços, por dentro da água e junto ao corpo, direcionando-o em direção à borda oposta à da virada. Junto a esse movi- mento, paralelamente, as pernas se flexionarão em direção à borda junto com o quadril. Deve-se apoiar os pés na parede de forma firme para apro- veitar a impulsão do corpo, buscando aplicar força para recuperar a velo- cidade do nado. O braço que se manteve na borda a pressiona, para auxílio da recuperação, flexionando-se sobre a cabeça do nadador um pouco antes do braço passar sobre a cabeça. Nesse momento, será realizada a respira- ção, para, em seguida, o nadador, em decúbito lateral, submerso, unir as mãos e realizar o impulso da borda. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 30 – Saiba mais O nado peito possui três estilos de sincronização, a saber: 1. Contínuo: o praticante não fará a parada de braços à frente, realizando o deslize. Ao finalizar a recuperação da braçada, sempre dará início a um novo ciclo, ou seja, assim que as per- nas estiverem se unindo, os braços se abrirão. 2. Deslizante: indicada para nadadores iniciantes no estilo peito devido à faci- lidade de coordenação e execução. A cada ciclo de braçada e pernada, antes de iniciar um novo, o nadador realiza um des- lize, mantendo o corpo estendido. 3. Superposição: o ciclo de braço começa antes que se tenha terminado a pernada, ou seja, quando as pernas se unem, os braços estão no final da varredura para fora, no agarre. Fonte: Maglischo (2010). 1.4.3 Posicionamento do corpo e posicionamento de braços e pernas no nado costas No nado costas, o corpo deverá permanecer na horizontal em decú- bito dorsal, realizando movimentos de rolamento laterais, em seu eixo longitudinal (MASSAUD, 2004). Conforme o autor, alguns nadadores possuem difiuldades para manter um bom alinhamento lateral devido à forma de execução dos movimentos de braços alternados, geralmente os direcionando demasiadamente para os lados, não apenas na recuperação, mas, também, na fase inicial da parte aquática da braçada. O alinhamento horizontal é algo que merece destaque, pois alguns nadadores mantêm a cabeça um tanto elevada, acarretando o abaixamento do quadril, aumen- tando, assim, a força de arrasto. Ainda segundo Massaud (2004), a cabeça deve permanecer apoiada na água, passando junto à parte posterior ou mediana das orelhas. Já a pernada, de acordo com Maglischo (2010), é subdividida em duas etapas: 1) ascendente (mais forte); 2) descendente (mais fraca). – 31 – Metodologia do ensino da natação Nesse caso, os membros inferiores realizam movimentos de forma alter- nada: para cima (fase propulsiva) e para baixo (fase não propulsiva). Esses movimentos iniciam no quadril, com batimentos de pernas para cima ini- ciando na rotação da coxa. Em relação aos pés, devem permanecer em inversão e flexão plantar. Massaud (2004) complementa ao citar que as pernadas consistem em movimentos na direção geral (seguindo a rotação do corpo), facilitando o rolamento que o corpo necessita fazer para a pro- pulsão e para o alinhamento do corpo (Figura 1.4). Figura 1.4 – Posição do corpo no nado costas (pernada) reto abdominal jarrete glúteo maior dorsal largo tríceps braquial Fonte: Massaud (2004). A braçada do nado costas, segundo Machado (2008) e Massaud (2004), pode ser dividida em seis etapas: 1) Primeira varredura para baixo: o nadador estará com o braço completamente estendido (inclusive mão e dedos unidos). O braço deve entrar na água de maneira alinhada entre a cabeça e a articulação do ombro (ângulo próximo a 10 graus), com a palma da mão voltada para fora, com o dedo mínimo sendo o primeiro ponto a entrar em contato com a água; 2) Primeira varredura para cima: Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 32 – nesse momento do nado, o tronco iniciará o rolamento lateral, para que seja possível, com o braço estendido, fazer um movimento para baixo. O punho deverá estar ligeiramente flexionado (em direção ao dedo mínimo), com a mão movimentando para longe da linha do ombro; 3) Segunda varredura para baixo: nesse ponto, a mão deve se movimentar para baixo, em dire- ção aos pés, e o cotovelo deve fletir e se direcionar para baixo, passando o nível da mão. Dessa maneira, o punho vai flexionar, voltando-se aos pés. Assim, o tronco segue em rolamento, auxiliando a propulsão da mão que está submersa e mantendo a referência do braço que está em recuperação; 4) Segunda varredura para cima: nesse momento, o braço deve se movimen- tar para baixo e, simultaneamente, para trás (até que esteja completamente estendido e posicionado abaixo da linha da coxa). Dessa forma, haverá uma aproximação do braço ao tronco e posterior extensão do antebraço (projeção da mão ao fundo da piscina), possibilitando o rolamento do corpo para o lado oposto do braço e a saída do ombro desse mesmo lado; 5) Liberação/saída: ao finalizar o estágio propulsivo, a mão deve se movimentar para cima, trás e dentro, em direção à superfície da água. Assim, o braço assumirá uma posi- ção estendida, de maneira vertical, para cima; 6) Recuperação: ao finalizar o ciclo do braço, de maneira estendida, com o polegar saindo da água e a palma da mão voltada para a perna, acontecerá um movimento semicircular do braço fora d’água, com rotação do braço para que, ao finalizar a fase de recuperação, a mão esteja novamente voltada para fora. Massaud (2004) destaca que a técnica de respiração para o nado cos- tas consiste na inspiração feita, prioritariamente, pela boca, quando um dos braços estiver em apoio e o outro estiver iniciando a fase de recupe- ração, e na expiração pelo nariz. Porém, ressalta-se que esse ritmo e essa sequência não são obrigatórios, visto que o rosto está fora d’água, por- tanto, cada indivíduo pode adaptar a respiração da melhor maneira para o ótimo desempenho de seu nado. Em relação à coordenação, é fundamental, de acordo com Massaud (2004), que tal aspecto seja fortemente trabalhado, visto que, enquanto um braço está em movimento de varredura, o outro está em recuperação. Assim, a coordenação é imprescindível para que possaser realizado o ciclo de braçada junto com as pernadas. Normalmente, é identificado, em cada ciclo de braçadas, um total de seis pernadas. – 33 – Metodologia do ensino da natação A saída do nado costas não recebe a mesma importância que é dada aos demais estilos de nado (MACHADO, 2004). O autor destaca como motivo o fato de que esta poição de saída pode ser considerada cômoda, ao possuir como principal preocupação o impulso para trás. Porém, à medida que o nadador avança, podem ser encontradas falhas decorrentes de uma saída mal executada. Nas competições, as saídas do nado costas devem ser realizadas do bloco de partida, onde o nadador se posiciona, conforme os comandos do árbitro de partida. Massaud (2004) descreve as fases da saída do nado costas: 1) posicionar-se de pé atrás do bloco de partida da raia em que for nadar; 2) ao sinal do primeiro apito longo, o nadador estará autorizado a entrar na piscina; 3) com os nadadores dentro da água, o árbitro dará um novo apito, e os nadadores deverão tomar posição no bloco de partida, mantendo seus pés abaixo do nível da água; 4) ao comando do árbitro de “às suas marcas”, todos os nadadores deverão se posicionar, flexionando os braços e pescoço. A cabeça ficará encaixada entre os braços e o quadril próximo aos pés. No momento da saída, o nadador tentará colocar o seu corpo mais alto em relação à superfície, ou seja, mais próximo ao bloco, para a realização do voo da partida ao comando do árbitro (Figura 1.5). Figura 1.5 – Saída do nado costas (Fase III) jarrete redondo maior dorsal largo trapézio IV bíceps braquial deltoide posteiror Fonte: Massaud (2004). 5) assim que todos os nadadores estiverem posicionados, imóveis, o árbitro dará o comando de partida; 6) ao sinal de partida, o nadador Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 34 – deverá iniciar a extensão do pescoço (como se tentasse olhar para a borda oposta à da saída) e elevação do quadril para, logo em seguida, soltar suas mãos do bloco, lançando seus braços em direção à cabeça e aproximando as mãos para a entrada da água; 7) a posição ideal de entrada do corpo na água é de forma que, por onde entrarem as mãos, deverá entrar, pro- gressivamente, o resto do corpo; 8) no deslocamento submerso, o corpo deverá atingir uma profundidade em torno de 50 a 60 centímetros abaixo da superfície. Durante esse deslocamento, o nadador deverá executar a pernada de golfiho, com o corpo bem alinhado, até o máximo 15 metros. E, finalmente, há a virada do nado costas, em que os nadadores se orientam pelas bandeirinhas demarcatórias que ficam a cinco metros das duas cabeceiras, sobre a mesma posição onde as balizas mudam de cor, para a mesma referência em outros estilos de nado (MACHADO, 2004). De acordo com o autor, quando o nadador passar pela demarcação, sentindo-se próximo da parede, executará uma revolução no corpo. Ao ficar de bruços, em posição de nado crawl, fará a aproximação e realizará a virada como se fosse de nado livre, reto sobre o eixo do corpo, e realizará a virada com um forte impulso na parede com ambas as mãos para trás e unidas. Executará as “golfinhadas” e iniciará o nado, conforme realizado no momento da saída. O nadador não pode esquecer que os braços ficam unidos, comprimindo a cabeça, com as mãos se sobrepondo até o início do nado (MACHADO, 2004). Massaud (2004) destaca, ainda, que, ao reali- zar a propulsão, há um pequeno deslize, as pernas iniciam o movimento de golfinho, a expiração é efetuada sob a água, um dos braços realiza uma poderosa braçada que leva o corpo para a superfície e, iniciando nado completo, evitando respirar até que o equilíbrio tenha sido dominado na segunda ou terceira braçada. Ainda de acordo com Massaud (2004), para realizar a virada do nado costas, ao se aproximarem da borda, os nadadores, com o objetivo de virar e retornar, deverão girar o corpo, passando da posição dorsal para a ven- tral, realizando um único movimento de braço, semelhante à braçada de crawl, com a cambalhota, assim que atingir a coxa. O autor explica que tais movimentos deverão ser realizados de forma contínua e o nadador deverá estar na posição dorsal antes que os pés deixem a parede da pis- cina, evitando, assim, uma possível desclassifiação. – 35 – Metodologia do ensino da natação 1.4.4 Posicionamento do corpo e posicionamento de braços e pernas no nado borboleta Machado (2004) define a análise dos movimentos do nado borboleta como realizada a partir da fragmentação do corpo do nadador em: 1) posi- cionamento do corpo e da cabeça; 2) propulsão dos braços; 3) respiração; 4) propulsão de pernas; 5) coordenação completa. De fato, para realizá-lo, o nadador deve se posicionar de decúbito ventral, o mais horizontal possível, rente à superfície. Devido ao movi- mento realizado pelo quadril e pelas pernas e da fase aérea da braçada, os ombros constantemente saem da água, caracterizando o movimento ondulatório (Figura 1.6). Figura 1.6 – Posição do corpo no nado borboleta Fonte: Massaud (2004). É importante destacar que a cabeça tem uma importante função nesse nado. De acordo com Massaud (2004), quando a braçada estiver na fase submersa, a cabeça fica em posição neutra, com o olhar do nadador vol- tado ao fundo da piscina. Nas braçadas em que são realizadas a respira- ção, à medida que o braço finaliza a fase submersa e inicia a fase área, a cabeça se projeta para a frente, mantendo posicionado o rosto (olhos, boca e nariz) para fora d’água. Nesse momento, o queixo fica próximo à super- fície. Nas braçadas em que o nadador não respira, a linha da superfície da água deve estar tocando a testa. Machado (2004) aponta que o movimento da braçada desse nado pode ser dividido em duas fases: aérea e submersa. A fase submersa é dividida em quatro etapas: entrada, extensão, tração e empurrada. A entrada ocorre quando os braços retornam da fase aérea. Os cotovelos se mantêm mais altos do que a mão, determinando o posicionamento das pal- mas das mãos voltados para trás. Por conseguinte, a primeira parte a entrar na água são os dedos polegares. A distância entre os braços é de, aproxi- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 36 – madamente, 50 centímetros ou rente aos ombros. O cotovelo fica leve- mente flexionado à frente da cabeça. Ao entrar na água, a braçada inicia a etapa de extensão. Assim, os cotovelos são estendidos à frente, buscando o alongamento máximo do movimento dos braços. De acordo com Machado (2004), esse é o momento em que o nadador se prepara para a fase propul- siva da braçada, mantendo as mãos a, aproximadamente, 15 centímetros abaixo da superfície. Em seguida, temos a etapa da tração, em que os punhos se flexionam levemente, apontando as pontas dos dedos para o fundo da piscina enquanto o nadador empurra a água para trás. Assim, as mãos, que estavam posicionadas à frente, se direcionam até a linha do ombro. A última etapa da fase submersa é a empurrada, e, segundo o autor, é definida quando os cotovelos se estendem novamente, “jogando” a água para trás, e as mãos passam pelas coxas. Trata-se, portanto, de uma etapa a ser realizada com velocidade, pois ela é responsável pela produção da força que faz a cabeça e os ombros do nadador saírem da água. De acordo com Machado (2004), o movimento das pernas é simultâneo e tem uma ação vertical (Figura 1.7), ou seja, de cima para baixo. Embora seja descrito como pernada, esse movimento se inicia na cervical. Portanto, o nadador deve realizar de forma sequencial e coordenada a flexão do pes- coço, do tronco e do quadril, e a extensão dos joelhos. Especificamente, os membros inferiores realizam dois movimentos: descendente e ascendente. Figura 1.7 – Pernada no nado borboleta Fonte: Massaud (2004). – 37 – Metodologia do ensino da natação No nado borboleta, a respiração é realizada na posição frontal e, geralmente, é executada a cada duas braçadas. No momento em que a cabeça está submersa, o nadador deve expirar o ar pelonariz. Ao posicionar a cabeça para fora d’água, com o queixo próximo à super- fície, o nadador realiza a inspiração pela boca (MACHADO, 2004; MASSAUD, 2004). Em relação à saída do nado borboleta, Maglischo (2010) destaca que é idêntica à do nado livre. Ainda de acordo com o autor, em geral, a maioria dos atletas, após entrar na água, realiza o movimento da pernada de golfinho até, no máximo, 15 metros. Em cima do bloco, os nadadores podem se posicionar com os dois pés paralelos ou um na frente e outro atrás (similar à saída de atletismo). Ao sinal de partida, os braços se direcionam à frente simultaneamente com a impulsão dos membros inferiores no bloco. O voo tem o formato de uma parábola, fazendo o nadador tocar a água primeiro com as mãos, enquanto o resto do corpo entra no mesmo ponto que as mãos. Em relação à virada, Maglischo (2010) explica que deve ser executada da seguinte maneira: as mãos tocam simultaneamente na parede e, de imediato, uma delas perde o contato com a parede e se direciona para baixo, ao mesmo tempo em que os pés se direcionam à parede. Durante esse movimento, a mão que estava em contato com a parede faz um movimento de semicírculo acima da cabeça até entrar na água. As duas mãos se encontram embaixo da água ao mesmo tempo em que os pés pressionam a parede. Após impulsionar a borda, o nadador mantém a posição hidrodinâmica e inicia o movi- mento da pernada de golfinho. Atividades 1. No processo de ensino-aprendizagem da natação, temos três correntes de ensino – global, analítica e mista – ampla- mente utilizadas pelos treinadores na atualidade. Nesse sentido, descreva algumas das principais caracterísiticas de cada uma delas. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 38 – 2. Quais elementos devem ser considerados na análise técnica do nado crawl? Explique-os. 3. No nado peito, a pernada pode ser dividida em quatro fases. Quais fases são essas? Descreva-as. 4. Descreva, de forma breve, as quatro etapas da fase submersa da braçada do nado borboleta. 2 Princípios do treinamento aplicados à natação Os princípios da prescrição de um programa de exercício físico na natação são de extrema importância para a organiza- ção do treinamento e para atingir resultados eficazes. De fato, a compreensão dos princípios cientificos do treinamento da nata- ção permite melhor compreender a relação entre as variáveis de controle intervenientes do treinamento em seus diferentes modelos de periodização e em suas respectivas fases e etapas ao longo de todo o processo. Especificamente na natação, é sempre preciso selecionar um método de treinamento para trabalhar com o desenvolvimento do condicionamento e das capacidades físicas. Tal treinamento deve abranger do aprendizado até o nível competitivo, além disso, ele- mentos específicos da preparação física referentes a cada estilo de nado devem ser evidenciados juntamente com os principais métodos utilizados na periodização deste treinamento. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 40 – Nesse sentido, o propósito deste capítulo é, além de descrever a periodização do treinamento na natação a partir das variáveis intervenien- tes no treinamento do condicionamento físico específico da modalidade, apresentar os métodos mais adequados para trabalhar as capacidades físi- cas em diferentes fases. 2.1 Princípios científicos da preparação na natação O treinamento desportivo de sucesso deve ser alicercado por um pro- grama de treinamento cujos princípios estejam, de fato, alinhados aos obje- tivos daquela modalidade, respeitando as características de cada fase, do atleta, isto é, um conjunto de variáveis que devem ser monitoradas. Assim, visa-se atingir o melhor desempenho desse atleta ao longo de uma tempo- rada, por exemplo. Obviamente, isso não seria diferente para a natação. Em relação à alta performance na natação, o conhecimento científico representado pelos princípios do treinamento fisico, além dos métodos e modelos de treinamentos atrelados à periodização/estruturação de treina- mento, tornam-se ferramentas imprescindíveis e obrigatórias para que o treinador tenha as condições necessárias para desenvolver o máximo da performance do atleta. É evidente que muitas outras variáveis estão envol- vidas nesse processo, sendo que, muitas, são relativamente complexas de serem controladas. Por outro lado, o foco desta seção está no treinamento em si, que é considerado uma das variáveis que podem ser controladas, porém, ainda dependente de fatores que a cercam. Há a necessidade de reduzir ao máximo a probabilidade de tomada de decisão equivocada por parte da comissão técnica (treinador), sendo crucial que o planejamento de treinamento seja desenvolvido o mais especificamente possível para cada atleta, de acordo com o tipo de prova, os objetivos, as competições, entre outros elementos pertinentes. Atualmente, temos um conjunto de variáveis conhecidas como prin- cípios do treinamento físico. Tais princípios são determinantes para as res- postas agudas e crônicas frente ao treinamento físico, isto é, determinam os resultados esperados da elaboração de um treinamento, sejam eles liga- dos à saúde ou à performance. – 41 – Princípios do treinamento aplicados à natação Nesse sentido, esta seção trará um panorama geral sobre os princípios gerais do treinamento esportivo, incluindo a natação, em que esses princí- pios sejam evidenciados, ao mostrar a importância de cada um deles e cor- roborar com o que apresentou Maglischo (2010). De acordo com o autor, não existe um método que, aplicado isoladamente, vá treinar melhor cada um dos vários sistemas de energia do corpo humano, considerando que um programa de treinamento, para que seja bem-sucedido, deve atentar-se aos seguintes princípios segundo Bompa (2012) e Maglischo (2010): 2 adaptação – o termo adaptação refere-se a mudanças que ocorrem em resposta ao treinamento. O processo adaptativo ocorre quando os diversos órgãos e tecidos do corpo ope- ram em um nível mais elevado do que o habitual. A princí- pio, ocorre alguma insuficiência funcional, porque os órgãos e tecidos devem proporcionar mais força, mais energia, mais agentes químicos, etc. do que o habitual. Essa adaptação nada mais é do que uma transformação morfofuncional do músculo, conforme descreve Fleck e Kraemer (2017). Ainda de acordo com esses autores, a adaptação ocorre da seguinte maneira: mediante esforço físico, ocorre uma redução imediata das respostas funcionais orgânicas, nesse caso, asso- ciada principalmente às respostas fisiológicas do sistema imuno- lógico. Em seguida, no período de repouso, o organismo retorna à sua homeostase, ocorrendo, então, uma supercompensação (a recuperação supera o estado inicial, ao colocar o organismo em um novo estado inicial). Sendo assim, a adaptação tem rela- ção direta, mas não exclusiva, com o tempo de repouso. Essas mudanças representam a quebra da homeostase e repercutem diretamente nas respostas fisiológicas ao exercício. Portanto, a adaptação do organismo ocorre predominantemente na fase de recuperação, tornando essa variável tão importante quanto o estímulo. Mcardle, Katch, F. e Katch V. (2016) destacam, do ponto de vista energético, a existência de duas fontes principais de estímulos e, consequentemente, adaptações diferentes. Essas fontes são diretamente ligadas à contração muscular durante a realização do movimento e conduzidas basicamente por duas Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 42 – vias: aeróbica (produção de energia com o uso do oxigênio - via da fosforilação oxidativa) e anaeróbica (produção de energia sem a necessidade imediata do oxigênio - sistema fosfocreatina e a glicólise anaeróbica), ambas muito presentes na natação. Dependendo do tipo da prova nadada, por exemplo, 50m ou 100m, exigem das vias anaeróbias, enquanto provas de resistên- cia, por exemplo, 1500m, exigem das vias aeróbias. Portanto, as características de uma prova devem sempre ser levadas em consideraçãono que tange o principio da adaptação. 2 sobrecarga – a sobrecarga pode ser definida como o estresse ou a carga de trabalho imposta sobre o corpo visando uma resposta ou adaptação. Essa sobrecarga deve ser elevada gradualmente e sob acompanhamento das respostas orgânicas ocasionadas pelo aumento da referida carga/estresse, ou seja, à medida que as capacidades de força, potência e/ou resistência melhoram em decorrência do treinamento (BOMPA, 2012; FLECK; KRAE- MER, 2017; MAGLISCHO, 2010). A base para o princípio da sobrecarga, conforme mencionado por Maglischo (2010), é o fato de que não ocorrerá adaptações, a menos que as demandas do treinamento sejam maiores do que as demandas habituais incidentes em determinado mecanismo fisiológico. Portanto, na prática, quando uma pessoa aumenta as demandas habituais incidentes em determinado sistema, pode-se dizer que esse sistema está sobrecarregado. O intervalo de recuperação, de acordo com Gobbi, Villar e Zago (2005), também tem relação direta com a sobrecarga. Trata-se de uma variável importante a ser considerada, pois acaba influenciando a intensidade e a densidade do treina- mento, refletindo na adaptação ao treinamento. Dessa forma, quanto mais tempo entre as séries de exercício, por exemplo, maior será a recuperação das reservas energéticas imediatas para a execução da próxima série. Assim, conforme destacado pelos autores, é possível entender que sobrecarga e adaptação “andam juntas” dentro de um treinamento físico, de acordo com o que é apresentado na Figura 2.1, que evidencia a super- – 43 – Princípios do treinamento aplicados à natação compensação da capacidade funcional. Para que essa capaci- dade funcional seja aumentada, há necessidade de que as vari- áveis sobrecarga e adaptação se relacionem positivamente com estímulo e repouso, caso contrário, poderá ocorrer um destrei- namento ou regressão da capacidade funcional. Figura 2.1 – Ilustração do princípio da sobrecarga e adaptação 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 SEMANAS SOBRECARGA SOBRECARGA SOBRECARGA CAPACIDADE FUNCIONAL CA RG A DE TR AB AL HO Fonte: adaptada de Gobbi, Villar e Zago (2005). 2 continuidade – esse princípio se manifesta quando há uma rela- ção positiva entre sobrecarga e adaptação. Assim, a continuidade preconiza que a sobrecarga de treinamento seja suficiente para causar adaptações e/ou que não exista interrupção prolongada do processo de treinamento ou adaptação, conforme descrevem Fleck e Kraemer (2017), Gobbi, Villar e Zago (2005). As adap- tações crônicas e mais duradouras são obtidas mediante a conti- nuidade do treinamento. Esses autores destacam a importância de estabelecer um planejamento complexo e sistematizado para melhorar ou manter a performance motora, principalmente no que diz respeito a atletas. Na prática, o nadador não conseguirá cumprir um volume de nado se não progredir paulatinamente em suas capacidades. Portanto, a continuidade é considerada um processo lento, que envolve questões como motivação, disciplina e foco para que as mudanças crônicas apareçam. Dentre os aspectos fisiológicos que permeiam a continuidade, Fleck e Kraemer (2017) desta- Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 44 – cam o endócrino, uma vez que uma maior produção hormonal influencia no estímulo ao crescimento de fibras musculares, na conversão de tipos de fibras musculares e na plasticidade e qua- lidade dessas fibras. Gobbi, Villar e Zago (2005) salientam que é pela continuidade do treinamento que a supercompensação ocor- rerá, e, mediante o processo sequencial de estímulos, o corpo deverá se adaptar ultrapassando o limiar da capacidade funcio- nal inicial destacado nas fases de adaptação e sobrecarga. 2 especificidade – de acordo com Bompa (2012), Fleck e Kraemer (2017), Gobbi, Villar e Zago (2005), o princípio da especifici- dade está diretamente relacionado com o objetivo a ser atingido dentro do treinamento. Esse princípio se baseia nos processos de sobrecarga e adaptação sofridos pelo organismo em decorrência da prática do treinamento. Uma característica importante desse princípio é que os gestos motores de um treinamento devem ser o mais próximos daqueles exigidos durante a respectiva performance. No caso específico da natação, por ser desenvolvida em ambiente aquático, torna-se muito mais eficaz para a performance treinar seus fundamentos, de fato, nadando, e não se exercitando fora d’água, como mui- tos treinadores pensavam num passado não muito remoto. Tal prática, inclusive, acaba se tornando prejudicial para a evolu- ção do atleta. De fato, pode acontecer que um atleta de natação consiga obter bons ganhos treinando musculação para fortale- cer seus músculos. Entretanto, esse não deve ser seu principal método de treinamento, tendo em vista que sua performance almejada se dá dentro d’água, como afirma Maglischo (2010). O autor complementa mencionando que o treinamento também pode ser específico para o tipo de nado utilizado pelos atletas em competição, e que, embora os estilos de nados recrutem fibras musculares mais específicas, variando de um estilo para outro, a transferência no uso muscular talvez seja considerável de um tipo de nado para outro; algumas fibras não são submetidas ao mesmo esforço de um determinado tipo de nado para outro, e isso deve ser levado em consideração. É importante conside- – 45 – Princípios do treinamento aplicados à natação rar também o percentual da quilometragem de treinamento em seu(s) tipo(s) de nado principal(is), pois esse é o único modo pelo qual os atletas podem ter certeza de que estão treinando as fibras musculares que serão utilizadas nas provas. Finalmente, um aspecto importante a se destacar está relacionado às várias fases do sistema metabólico, já que o treinamento de resistên- cia e o treinamento de velocidade enfatizam aspectos diferen- tes desses sistemas, e devem ser considerados na estruturação do programa de treinamento na natação. Bompa (2012) descreve como um aspecto importante relacio- nado à especificidade o fato de que, para aplicar tal princípio, não necessariamente é preciso haver uma imitação perfeita do gestual utilizado em performance, mas sempre o entendimento de como esse gestual pode ser explorado em diferentes aborda- gens. Maglischo (2010) descreve a importância de serem leva- dos em consideração pelo menos quatro aspectos da especifici- dade durante o planejamento de um programa de treinamento para nadadores, entre os quais estão: 1) a atividade para a qual o nadador está treinando; 2) o tipo de nado que o atleta utilizará na competição; 3) o tipo de prova; 4) as partes do sistema metabó- lico que devem ser submetidas ao esforço. 2 individualidade biológica – esse princípio refere-se às caracte- rísticas peculiares de cada indivíduo que interferem no programa de treinamento a ser elaborado. Maglischo (2010) destaca em seu texto que a maior parte das pesquisas indicam dois fatores como sendo importantes nesse processo: 1) o estado de condi- cionamento do atleta, ao ter início o treinamento; e 2) seu patri- mônio genético. Nesse sentido, Bompa (2012), Gobbi, Villar e Zago (2005), Fleck e Kraemer (2017) descrevem que indivíduos com a mesma idade cronológica, por exemplo, podem apresen- tar maturação biológica diferente. Portanto, essa individuali- dade ainda pode incluir fatores genéticos, tipo de composição de fibras musculares, gênero, envelhecimento e, até mesmo, o ambiente em que o indivíduo está inserido. Teoria e Fundamentos de Natação e Lutas – 46 – Com relação ao nível de condicionamento, Maglischo (2010) destaca, baseado na maior parte das pesquisas, que o período de descanso torna-se fundamental e esses atletas evoluirão drastica- mente durante as primeiras 6 a 12 semanas. Além disso, todos os aspectos do desempenho, potência,
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