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Definição Sepse é uma síndrome clínica caracterizada por alterações biológicas, fisiológicas e bioquímicas no hospedeiro, culminando em disfunção no funcionamento de órgãos e sistemas, secundária à resposta inflamatória desregulada Diferencia a sepse da infecção não complicada que não leva a disfunção orgânica, evolução ruim ou morte. Choque séptico é definido como um subgrupo de casos de casos de sepse em que as anormalidades circulatórias e celulares/metabólicas subjacentes sejam suficientemente profundas para aumentar substancialmente o risco de mortalidade. SEPSE Alice Iris MED TXV Hipotensão, taquicardia, diminuição do tempo de enchimento capilar, livedo ou cianose podem indicar choque. Sinais adicionais incluem estado mental alterado (rebaixamento ou agitação), oligúria e íleo. Esses achados podem ser modificados por doenças ou medicamentos preexistentes; por exemplo, pacientes idosos e usuários de betabloqueadores podem não exibir taquicardia. Por outro lado, pacientes mais jovens frequentemente desenvolvem taquicardia grave e prolongada e não se tornam hipotensos até que ocorra descompensação grave, muitas vezes repentina. Pacientes com hipertensão crônica podem desenvolver hipoperfusão crítica com uma pressão arterial mais elevada do que pacientes previamente saudáveis Etiologia A sepse pode surgir a partir de infecções adquiridas na comunidade ou no hospital. Entre essas infecções, a pneumonia é a fonte mais comum, sendo responsável por cerca da metade dos casos; as próximas infecções mais comuns são as intra-abdominais e as urogenitais. Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae são os Gram-positivos isolados mais comuns, enquanto Escherichia coli, espécies de Klebsiella e Pseudomonas aeruginosa são os Gram-negativos isolados mais comuns. A causa mais comum de sepse é pneumonia. Estima-se que até 48% dos pacientes internados com diagnóstico de pneumonia evoluem com sepse. Além do pulmão (que representa 64% dos casos de sepse), outros focos são abdome (20%), corrente sanguínea (15%) e trato geniturinário (14%) A sepse ocorre quando a liberação de mediadores pró-inflamatórios em resposta a uma infecção excede os limites do ambiente local, levando a uma resposta generalizada. A causa da generalização é provavelmente multifatorial, envolve o agente infeccioso e o hospedeiro, e pode incluir: O efeito direto dos microrganismos invasores ou de seus produtos tóxicos, por exemplo, componentes da parede celular bacteriana (endotoxina, peptidoglicano e ácido lipoteicoico), toxinas bacterianas (enterotoxina estafilocócica B, exotoxina A de Pseudomonas e proteína M de estreptococos hemolíticos do grupo A). ✓ A liberação de grande quantidade de mediadores pró-inflamatórios, que incluem o fator de necrose tumoral alfa (TNF alfa) e interleucina-1 (IL-1). ✓ A ativação do sistema complemento. ✓ Suscetibilidade genética individual ao desenvolvimento de sepse. Fatores de Risco Os fatores de risco comuns para um risco aumentado de infecção incluem doenças crônicas e imunossupressão. Os fatores de risco para a progressão de infecção para a progressão de infecção para disfunção orgânica são menos compreendidos, mas podem User Destacar Alice Iris MED TXV incluir o estado de saúde subjacente, a função orgânica preexistente e o momento de início do tratamento. Idade, sexo e raça/etnia influenciam a incidência de sepse, que é maior nos extremos de idade, maior em homens do que em mulheres e maior em negros do que em brancos. As diferenças no risco de sepse por raça não são completamente explicadas por fatores socioeconômicos ou acesso aos cuidados, aumentando a possibilidade de que outros fatores, como diferenças genéticas na suscetibilidade à infecção ou na expressão de proteínas fundamentais para a resposta do hospedeiro, possam ser importantes. Os muitos fatores de risco para a sepse estão relacionados com a predisposição para o desenvolvimento de infecção e, após o desenvolvimento da infecção, com a probabilidade de desenvolver disfunção orgânica aguda. A incidência de sepse está aumentando no mundo. As possíveis razões para esse aumento provavelmente incluem: ✓ Maior número de pacientes convivendo com imunossupressão (pacientes transplantados, em programas de quimioterapia, ou convivendo com o HIV/AIDS). ✓ Desenvolvimento de microrganismos multirresistentes. ✓ Aumento da expectativa de vida da população (pacientes com mais de 65 anos representam 60 a 85% dos casos). Patogênese A resposta específica de cada paciente depende do patógeno (carga e virulência) e do hospedeiro (composição genética e comorbidade), com respostas diferentes em nível local e sistêmico. A capacidade do hospedeiro de resistir e tolerar a lesão direta e imunopatológica determina se uma infecção não complicada irá se tornar uma sepse. Alice Iris MED TXV Além da ativação de citocinas pró-inflamatórias, as respostas inflamatórias implicadas na patogênese da sepse também ativam o sistema do complemento, o fator de ativação plaquetária, os metabólitos do ácido araquidônico e o óxido nítrico. ➢ Anormalidades da coagulação: acredita-se que as anormalidades da coagulação isolem os microrganismos invasores ou impeçam a disseminação da infecção e da inflamação para outros tecidos e órgãos; há uma deposição excessiva de fibrina devido ao comprometimento de mecanismos anticoagulantes, ao comprometimento da remoção de fibrina por depressão do sistema fibrinolítico e pela coagulação via fator tecidual. ➢ Disfunção orgânica: Vários fatores contribuem para o transporte reduzido de oxigênio na sepse e no choque séptico, incluindo hipotensão, redução da deformabilidade das hemácias e trombose microvascular. Uma liberação excessiva e não controlada de óxido nítrico provoca colapso vasomotor, abertura de shunts arteriovenosos e desvio patológico do sangue oxigenado para longe de tecidos suscetíveis. Estresse oxidativo e a outros mecanismos prejudica a utilização celular de oxigênio. Com a agressão intensa e continuada, os níveis de ATP caem abaixo de um limiar crítico, surge a falência bioenergética, há liberação de espécies reativas tóxicas do oxigênio, e a apoptose leva a morte celular irreversível e falência orgânica. ➢ Mecanismos anti-inflamatórios: podem exacerbar os potenciais efeitos prejudiciais da resposta pró-inflamatória. ➢ Supressão imune: Os pacientes que sobrevivem à sepse inicial, mas permanecem dependentes de terapia intensiva, ocasionalmente demonstram evidências de um sistema imune suprimido. Esses pacientes podem ter focos de infecção persistente apesar da terapia antimicrobiana ou experimentar a reativação de vírus latentes. Da mesma forma, não se sabe se o sistema imune disfuncional está levando a disfunção orgânica e infecções secundárias ou se o próprio sistema imune é apenas mais um órgão disfuncional. Manifestações fisiológicas primárias de disfunção orgânica podem ser avaliadas rapidamente à beira do leito com um modelo de seis órgãos, gerando o escore SOFA. Deve-se prestar atenção especificamente à presença ou ausência de choque, que constitui uma emergência médica. As manifestações gerais do choque incluem hipotensão arterial com evidências de hipoperfusão tecidual (p. ex., oligúria, alteração do estado mental, má perfusão periférica ou hiperlactemia). Manifestações Clínicas da Sepse O paciente séptico pode se apresentar no departamento de emergência (DE) com sinais e sintomas relacionados à infecção, à resposta inflamatória sistêmica ou à disfunção ou falência orgânica. Assim, pacientes com quadro de sepse geralmente apresentam-se com queixas infecciosas, como tosse produtiva, dor abdominal ou disúria. Ao exame físico, pode-se encontrar febre, taquicardia e taquipneia. É importante ressaltar que a apresentação inicial da sepse é inespecífica, de modo que muitasoutras condições, como pancreatite, podem se apresentar de maneira semelhante. User Imagem Posicionada User Destacar User Destacar User Destacar Alice Iris MED TXV Com a evolução do processo, sinais de disfunção orgânica, como insuficiência respiratória, insuficiência renal, insuficiência hepática e choque podem se desenvolver As manifestações clínicas específicas da sepse são muito variáveis, dependendo do sítio inicial da infecção, do patógeno causador, do padrão de disfunção orgânica aguda, da saúde subjacente do paciente e do atraso até o início do tratamento. Os sinais de infecção e disfunção orgânica podem ser sutis. Após o estabelecimento da sepse e a infecção causadora ser considerada controlada, a temperatura e a contagem de leucócitos costumam retornar ao normal. Porém, a disfunção orgânica geralmente persiste. ➢ Frequência cardiorrespiratória: Dois dos sistemas orgânicos mais comumente afetados na sepse são os sistemas respiratório e cardiovascular. O comprometimento respiratório classicamente se manifesta com síndrome da angústia respiratória aguda (SARA), definida como hipoxemia e infiltrados bilaterais de origem não cardíaca que surgem dentro de 7 dias da suspeita da infecção. A SARA pode ser classificada pelos critérios de Berlim como leve (PaO2/FIO2, 201 a 300 mmHg), moderada (101 a 200 mmHg) ou grave (≤ 100 mmHg). O comprometimento cardiovascular geralmente se apresenta como hipotensão. A causa pode ser hipovolemia franca; má distribuição do fluxo sanguíneo e do volume intravascular devido a vazamento capilar difuso; redução da resistência vascular sistêmica; ou depressão da função miocárdica. Após a expansão adequada de volume, a hipotensão frequentemente persiste, necessitando do uso de vasopressores ➢ Lesão Renal: A lesão renal aguda (LRA) é documentada em > 50% dos pacientes sépticos, aumentando o risco de morte hospitalar em 6 a 8 vezes. A LRA se manifesta como oligúria, azotemia e níveis crescentes de creatinina sérica, frequentemente havendo necessidade de diálise. A abordagem mecanista atual sugere que uma combinação de inflamação, anormalidades difusas no fluxo sanguíneo da microcirculação e respostas bioenergéticas celulares à lesão contribuem para a LRA induzida por sepse além de apenas a isquemia orgânica. - Azotemia se refere ao aumento das concentrações séricas de ureia, creatinina e outros compostos nitrogenados não-proteicos no sangue, no plasma ou no soro. ➢ Complicações neurológicas: a disfunção típica do sistema nervoso central se apresenta como coma ou delirium. O delirium associado à sepse é considerado uma disfunção cerebral difusa causada pela resposta inflamatória à infecção sem evidências de uma infecção primária do SNC. As diretrizes de consenso recomendam o rastreamento do delirium com ferramentas válidas e confiáveis, como o Confusion Assessment Method for the Intensive Care Unit (CAM-ICU) e a Intensive Care Delirium Screening Checklist (ICDSC). Para os sobreviventes da sepse, as complicações neurológicas podem ser graves. ➢ Muitas outras anormalidades ocorrem na sepse, incluindo íleo, elevação dos níveis de aminotransferases, alteração do controle glicêmico, trombocitopenia e User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar User Destacar Alice Iris MED TXV coagulação intravascular disseminada, disfunção suprarrenal e síndrome do eutireóideo doente. A disfunção suprarrenal na sepse é amplamente estudada e acredita-se que esteja relacionada mais com a disfunção reversível do eixo hipotálamo-hipófise ou com a resistência tecidual aos glicocorticoides do que com o dano direto às glândulas suprarrenais. Diagnóstico A solicitação de exames deve ser realizada de maneira racional e orientada pela suspeição clínica. Dois pares de hemoculturas (meios de cultura para anaeróbio e aeróbio) devem ser solicitados para todos os pacientes com suspeita de sepse, preferencialmente antes da administração de antibióticos (desde que não haja atraso nessa administração). A ultrassonografia point-of-care (USPOC) tem ganhado importância na sepse, pois pode indicar o diagnóstico etiológico (pneumonia, pielonefrite, apendicite etc.), presença de complicações (disfunção miocárdica) e orientar o tratamento (reposição volêmica). Alice Iris MED TXV O diagnóstico de sepse é feito quando há aumento de 2 ou mais pontos no escore SOFA, Sequential Sepsis-related Organ Failure Assessment (Tabela 7). Critérios diagnósticos de sepse para populações específicas estão sendo propostos, como o Sepse Escore em Obstetrícia ≥ 6 (Tabela 8) ou o Chronic Liver Failure (CLIF) Consortium Organ Failure Score ≥ 2 para pacientes cirróticos (Tabela 9). Validação adicional desses escores é necessária antes que possam ser utilizados rotineiramente. SIRS ≥ 2 pontos: apresenta alta sensibilidade, mas baixa especificidade para o diagnóstico de sepse no DE. qSOFA ≥ 2: apresenta baixa sensibilidade, mas alta especificidade para o diagnóstico de sepse. Pela baixa sensibilidade, esse critério não é recomendado para a triagem de sepse no DE. NEWS ≥ 4: apresenta melhor acurácia para sepse no DE (AUC 0,91) com sensibilidade comparável à do SIRS e especificidade comparável à do qSOFA. O escore NEWS é utilizado atualmente no pronto-socorro do HC-FMUSP para a triagem de pacientes com suspeita de sepse User Imagem Posicionada User Imagem Posicionada User Seta User Máquina de escrever SOFA S- sangue; SN (glasgow) O - oxigênio F - fígago (bilirrubina) A - arterial; anúria Alice Iris MED TXV Tratamento Recomendamos que a antibioticoterapia seja iniciada precocemente no paciente com sepse, preferencialmente em até 1 h da apresentação do paciente no DE. No entanto, o benefício da administração precoce de antibióticos em pacientes com sepse é controverso e tem sido alvo de estudo nos últimos anos. Pacientes com choque séptico ou em insuficiência respiratória com necessidade de vasopressores ou de ventilação mecânica necessitam de internação em UTI. Já pacientes sem choque e que respondem rapidamente à antibioticoterapia podem ser transferidos com segurança para leito de internação. Pacientes limítrofes devem ter avaliação cuidadosa e o limiar para escolha de UTI deve ser baixo User Imagem Posicionada User Imagem Posicionada User Imagem Posicionada
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