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Maria Clara Cavalcante TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO – TCE Os passos iniciais são os mesmos do paciente politraumatizado (ABCDE) TRAUMATISMO CRANIANO Dentre os traumas, é a causa mais comum de morte na criança Hemorragias epidural, subdural e intracraniana parenquimatosa Contusões cerebrais focais, lesão cerebral difusa, edema axonal e lesões no cerebelo ou tronco A morte ocorre pelas lesões secundárias: • Hipovolemia, hipóxia, convulsão ou hipertermia • Hipertensão intracraniana Lesões – Cranianas: • Lesões do couro cabeludo • Fraturas • Lineares • Cominutivas • Com afundamento • Diastáticas HEMATOMA EPIDURAL OU EXTRAEPIDURAL: • Fratura da porção escamosa do osso temporal • Lesão da artéria meníngea média • Hematoma de formação rápida • Arredondados • Hérnia de uncus HEMATOMA SUBDURAL: • Convexidade cerebral • Formato de foice ou cuia • Hematoma volumoso • Ruptura das veias do seio sagital • Aceleração/desaceleração brusca • Velocidade de formação variável (horas-dias) • Hipertensão intracraniana e hérnias HEMATOMA INTRAPARENQUIMATOSO: • Contusões • Substância branca dos lobos frontais e temporais • Pequenos ou volumosos • Únicos ou múltiplos • Ruptura de vasos intracerebrais • Edema cerebral e hérnias LESÃO AXONAL DIFUSA: • Aceleração/desaceleração (inércia) – cisalhamento de estruturas (hematoma, hemorragias, concussões) • Cisalhamento das fibras mielínicas LESÃO MICROVASCULAR DIFUSA: • Principal componente do dano cerebral secundário, representado pelo edema cerebral • É a lesão mais frequente no TCE grave, com taxa de mortalidade próxima a 50% CLASSIFICAÇÃO DO TCE: • Escala de Glasgow • Anamnese (cinemática do trauma, tempo decorrido, sintomatologia, comorbidades) + EF TCE LEVE: • 80% são leves e sem repercussão clínica • Trauma isolado de crânio (não pode ter suspeita de lesão de coluna) • Sem lesão suspeita ou confirmada da coluna cervical • Para ser leve, não pode haver perda de consciência • Ocorrência testemunhada • > 2a • Glasgow de 13-15 • Ausência de sinais neurológicos focais • Fundo de olho normal • Ausência de sinais de fratura • TC não é obrigatória, apenas em determinados casos Seis “sem” do TCE leve: • 1. Sem perda de consciência? • 2. Sem convulsão? • 3. Sem amnésia? • 4. Sem letargia progressiva? • 5. Sem cefaleia? • 6. Sem vômitos? TCE MODERADO: • Glasgow 9-12 • < 2 a • Politraumatismo (pela lesão de cervical) • Trauma não testemunhado • Perda de consciência >1min • Mais de um episódio convulsivo • Suspeita de mais tratos • Doença neurológica prévia • Doença hemorrágica prévia • Exame físico anormal Maria Clara Cavalcante • Edema progressivo • Hemorragia retiniana sem mecanismos de trauma significativo – suspeitar de maus tratos • TC OBRIGATÓRIA! TCE GRAVE: • Glasgow menor ou igual a 8 ou redução de 2 ou menos pontos • Tem que intubar (pelo Glasgow) • Coma • Sinais neurológicos focais • Fraturas com afundamento • Fraturas abertas • Lesões penetrantes • HIC • Lesão facial grave • Hemorragia retiniana • Sinais de fratura de base de crânio (otorreia ou rinorreia, hemotimpano, equimose retroauricular) • TC OBRIGATÓRIA! ANAMNESE + EF: • ABCDE • Neurológico (+ detalhado) • Sinais de fratura • Otoscopia • Rinoscopia • Fundoscopia PATOGENIA/FISIOPATOLOGIA DO TCE MODERADO – GRAVE: Diferenças anatômicas ➔ Lesões primárias – delas vem as secundárias • Impacto • Mecânica irreversível • Trauma direto (hematoma, sangramento, fraturas) • Inércia ( aceleração/desaceleração) – hematoma, hemorragia, concussão, lesão axonal difusa ➔ Lesões secundárias – Eventos intracranianos • Alterações inflamatórias – desencadeada por citocinas, acúmulo de radicais livres e aminoácidos excitatórios, dano e morte cerebral • Alterações fisiopatológicas – edema cerebral, hipertensão intracraniana, isquemia e hiperemia, alterações no fluxo sanguíneo cerebral TRATAMENTO: TCE LEVE: Observação clínica e cuidados Sem necessidade de outros exames Risco de lesão intracraniana é baixa Sem relatos que atraso na conduta neurocirúrgica influencie na morbidade e mortalidade TC ou RM anormais nesse grupo – sem alterações no desfecho dos que tiveram apenas exame físico e observação clínica Observação de 24h (ideal 24-72h) Pode ser realizado em casa a depender da situação Geralmente não pede RX de crânio (valor limitado, baixa especificidade, baixa sensibilidade – pode ter uma lesão encefálica e o RX normal, baixo valor preditivo negativo – RX não afasta lesão encefálica, baixo valor preditivo positivo – RX com trauma não significa lesão encefálica) Orientações por escrito (comportamento estranho, desorientação, incapacidade de acordar, sonolência incomum, vômitos, convulsões) TCE MODERADO – GRAVE: Abordagem inicial é ABCDE Iniciar atendimento nos primeiros 5-10 min Qualidade de atendimento previne as lesões secundárias e altera prognóstico 5% morrem no local do acidente (poucas) –maioria morre por hipóxia, hipovolemia (lesões secundárias) SEMPRE buscar prevenir lesões secundárias Correção de condições que ameaçam a vida Reavaliação contínua Evitar manobras que aumentam a pressão intracraniana Exames laboratoriais: hemograma, TAP, TTPA, tipagem sanguínea, gasometria, bioquímica Exames de imagem: TC de crânio e coluna cervical Avaliar abrangência das lesões Avaliar necessidade de cirurgia imediata e UTI TRATAMENTO CLÍNICO TCE MODERADO – GRAVE: IOT + VM Sedação e analgesia Alvo - euvolemia (bolus com SF 0,9%) Drogas vasopressoras para manter PA Maria Clara Cavalcante Evitar sobrecarga hídrica Evitar hipertermia Manter PIC <20mmHg Manter PPC (pressão de perfusão cerebral – é a diferença entre a arterial e a pressão intracraniana) de acordo com a idade: • 50mmHg – 2-6 anos • 55mmHg – 7-10 anos • 65mmHg – 11-16 anos Elevação da cabeceira Manitol em resposta aos picos de HIC (hipertensão intracraniana) Solução salina hipertônica (para melhorar o edema cerebral) Nutrição precoce Evitar hiperventilação Evitar hipoglicemia Hipotermia moderada Controle das convulsões ATB – Casos de fratura COMPLICAÇÕES: Hipertensão intracraniana Herniação cerebral – ocorre quando o volume da calota craniana é tão grande que o conteúdo que não está mais cabendo no espaço delimitado, escapa pelo forame magno, e ao escapar pelo forame ele não consegue mais retornar (irreversível), causando óbito • Sinais de que isso está acontecendo - dilatação de pupilar, HAS, bradicardia, postura extensora • O que faz para evitar? Hiperventilação, tiopental/manitol (para diminuir a PIC) , solução salina hipertônica (para diminuir o edema intracerebral) • Manter PIC <20mmHg) PRINCIPAIS SEQUELAS: • Déficit motor (espasticidade, ataxia, incoordenação) • Sensitivo (linguagem) • Cognitivo • Alterações comportamentais (2-10% tem convulsões) PROGNÓSTICO: É melhor na criança que no adulto Mortalidade maior quanto menor Glasgow Mortalidade 6-35% - Glasgow 3-5 50-60% - Glasgow 3 Glasgow 6-8 – 1/3 desenvolve déficits neurológicos focais e dificuldade de aprendizado TRAUMATISMO DE COLUNA CERVICAL Ocorre em <3 das crianças em contusões Maior risco em crianças com Glasgow < ou = 8 < 8 anos: pensa-se em lesão de C1-C4 Mortalidade mais alta em lesões da coluna superior 30% com traumas tem déficits neurológicos permanentes Mecanismo de lesão RX e TC Lesão de medula sem apresentação radiográfica: • Sintomas neurológicos permanentes • RX e TC normais • Anormalidades medulares – evidentes na RM • Tratamento – metilprednisolona dentro de 8h da lesão – melhorou o resultadomotor em 1 ano Quanto antes descobrir as lesões de medula, melhor o prognóstico REFERÊNCIAS: Tratado de pediatria / organização Sociedade Brasileira de Pediatria. - 5. ed. - Barueri [SP] : Manole, 2022. v2 931-939.
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