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1- DEFINIR E CARACTERIZAR AS FASES DO LUTO Luto é o sentimento subjetivo precipitado pela morte de uma pessoa amada. O termo é usado como sinônimo de pesar, embora, no sentido estrito, pesar seja o processo pelo qual o luto é resolvido; ele é a expressão social do comportamento e de práticas pós-perda. Reações normais à perda: A primeira resposta à perda, o protesto, é seguida por um período mais longo de comportamento de busca. À medida que a esperança de restabelecer o laço de apego diminui, os comportamentos de busca dão espaço à desesperança antes que os indivíduos enlutados acabem se reorganizando em torno do reconhecimento de que a pessoa perdida não vai voltar. Duração do luto: A maioria das sociedades dita os modos e o tempo para o luto. Amplas evidências indicam que o processo de perda não se encerra em um intervalo prescrito; determinados fatores persistem indefinidamente para muitos indivíduos que, em outros aspectos, apresentam um alto nível de funcionamento. A manifestação mais prolongada de luto, sobretudo depois da perda conjugal, é a solidão. Outras manifestações comuns de luto prolongado ocorrem de modo intermitente. Dessa forma, boa parte do luto não se resolve completamente ou desaparece de forma permanente; em vez disso, ele fica circunscrito e submerso, emergindo apenas em resposta a certos ativadores. Perda complicada: A perda complicada tem uma gama confusa de termos para descrevê-la – anormal, atípica, distorcida, mórbida, traumática e não resolvida, para nomear alguns tipos. Foram identificados três padrões de síndromes de perda complicada disfuncional – crônica, hipertrófica e tardia. Essas não são categorias diagnósticas do DSM-5, mas são síndromes descritivas que, se presentes, podem ser prodrômicas de um transtorno depressivo maior. Luto crônico: O tipo mais comum de luto complicado é o crônico, com frequência acentuado por amargura e idealização da pessoa morta. É mais provável que ele ocorra quando a relação entre o enlutado e o morto foi extremamente próxima, ambivalente ou dependente, ou quando faltam apoios sociais e os amigos e parentes não estão disponíveis para compartilhar o pesar pelo período de tempo prolongado necessário para a maioria dos enlutados. Luto hipertrófico: Visto com mais frequência depois de uma morte repentina e inesperada, as reações de perda são extraordinariamente intensas no luto hipertrófico. As estratégias de enfrentamento costumeiras não são eficazes para atenuar a ansiedade, e o retraimento é frequente. Quando um membro da família está tendo uma reação de luto hipertrófico, pode ocorrer perturbação na estabilidade familiar. Com frequência esse luto tem um curso demorado, embora seja atenuado com o passar do tempo. Luto tardio: Luto ausente ou inibido quando normalmente é esperado encontrar sinais e sintomas explícitos de pesar agudo é denominado luto tardio. Esse padrão é marcado pela negação prolongada; a raiva e a culpa podem complicar seu curso. Perda traumática: refere-se ao luto que é tanto crônico quanto hipertrófico. Caracteriza-se por aflição intensa e recorrente de luto com anseio persistente, lamento, saudades e imagens intrusivas recorrentes do falecido; e uma mistura sofrida de esquiva e preocupação com lembranças da perda. ESTÁGIOS DA MORTE E DO MORRER Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra e tanatologista, organizou, de forma abrangente e útil, as reações dos indivíduos à morte iminente. Um paciente que está morrendo raramente apresenta uma série regular de respostas que possam ser identificadas com clareza; não há uma sequência estabelecida que seja aplicável a todas as pessoas. Estágio 1: Choque e negação. Quando lhes é dito que estão morrendo, as pessoas inicialmente reagem com choque. Primeiro ficam aturdidas, e depois se recusam a acreditar no diagnóstico; elas podem também negar que alguma coisa esteja errada. Alguns indivíduos nunca vão além deste estágio, e podem percorrer vários médicos até encontrar um que apoie sua posição. Estágio 2: Raiva. As pessoas ficam frustradas, irritadas e com raiva por estarem doentes. Elas comumente perguntam: “Por que eu?”. Podem ficar zangadas com Deus, com seu destino, um amigo ou um membro da família; podem até mesmo se culpar. Podem deslocar sua raiva para os membros da equipe do hospital e o médico, a quem culpam por sua doença. Os pacientes nesse estágio são difíceis de tratar. Estágio 3: Barganha. Os pacientes podem tentar negociar com médicos, amigos ou até mesmo com Deus; em troca da cura, prometem cumprir uma ou muitas promessas, como doar para a caridade e frequentar a igreja regularmente. Alguns acreditam que, se forem bons (cordatos, não questionadores, animados), o médico os fará melhorar. O tratamento desses pacientes envolve deixar claro que serão tratados da melhor maneira possível ao alcance das habilidades do médico, e que tudo o que puder ser feito será feito, independentemente de qualquer ação ou comportamento. Estágio 4: Depressão. No quarto estágio, os pacientes apresentam os sinais clássicos de depressão – retraimento, retardo psicomotor, distúrbios do sono, falta de esperança e, possivelmente, ideação suicida. A depressão pode ser uma reação aos efeitos da doença em suas vidas (p. ex., perda do emprego, dificuldades econômicas, desamparo, desesperança e isolamento dos amigos e da família) ou pode ser uma antecipação da perda da vida que acabará ocorrendo. Estágio 5: Aceitação. No estágio de aceitação, os pacientes percebem que a morte é inevitável e aceitam a universalidade da experiência. Seus sentimentos podem oscilar desde um humor neutro até eufórico. Em circunstâncias ideais, resolvem seus sentimentos sobre a inevitabilidade da morte e conseguem falar sobre o enfrentamento do desconhecido. Aqueles com fortes crenças religiosas e uma convicção sobre vida após a morte encontram conforto na máxima eclesiástica: “Não tema a morte; lembre-se daqueles que se foram antes de você e daqueles que irão depois de você”. 2- DIFERENCIAR LUTO FISIOLÓGICO E LUTO PATOLÓGICO, EVIDENCIANDO SUAS RELAÇÕES COM O TRANSTORNO DEPRESSIVO FISIOLÓGICO X PATOLÓGICO De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) a principal diferença entre o processo normal de luto e um processo complexo seria o tempo – cronológico mesmo, não no seu sentido figurado; quando uma pessoa apresenta sintomas persistentes de luto por um período de doze meses ou mais (ou seis meses em casos de crianças) é dito que possui um Transtorno do Luto Complexo Persistente – o Luto Patológico. Nesse estado mais complexo, o “eu” se torna incapaz de “ser” após a perda sentida – não ocorre de uma maneira transitória, como um processo a ser vivenciado. O luto é um processo emocional saudável, porém, quando prolongado, se torna mais complexo e tende a prejudicar a saúde mental do indivíduo; além disso, é um importantíssimo diagnóstico diferencial com o Transtorno Depressivo e, por isso, ganha destaque na prática clínica. Existem alguns fatores considerados alertas para o risco do luto não se desenvolver de forma favorável, como: idade e sexo da pessoa enlutada, experiência anterior de perdas, recursos psíquicos utilizados na elaboração anterior, tipo de morte e relação com a pessoa falecida, suporte social envolvido, entre outros. O Luto Complicado/ Complexo/ Patológico pode ser ainda classificado como: luto crônico – quando há um prolongamento do tempo do luto, com ansiedade e inquietude; luto adiado – quando as fases do luto não se apresentam adequadamente no tempo decorrido, o que pode levar a isolamento ou outros sintomas distorcidos; e luto inibido – quando há total ausência de sintomas do luto normal.É importante lembrar que o luto patológico não é a regra, mas sim uma complicação do processo de luto normal. LUTO E DEPRESSÃO O luto pode induzir grande sofrimento, mas não costuma provocar um episódio de transtorno depressivo maior. Quando ocorrem em conjunto, os sintomas depressivos e o prejuízo funcional tendem a ser mais graves, e o prognóstico é pior comparado com o luto que não é acompanhado de transtorno depressivo maior. A depressão relacionada ao luto tende a ocorrer em pessoas com outras vulnerabilidades a transtornos depressivos, e a recuperação pode ser facilitada pelo tratamento com antidepressivos Ao diferenciar luto de um episódio depressivo maior (EDM), é útil considerar que, no luto, o afeto predominante inclui sentimento de vazio e perda, enquanto no EDM há humor deprimido persistente e incapacidade de antecipar felicidade ou prazer. A disforia no luto pode diminuir de intensidade ao longo de dias a semanas, ocorrendo em ondas, conhecidas como “dores do luto”. Essas ondas tendem a estar associadas a pensamentos ou lembranças do falecido. A dor do luto pode vir acompanhada de emoções e humor positivos que não são característicos da infelicidade e angústia generalizadas de um EDM. O conteúdo do pensamento associado ao luto geralmente apresenta preocupação com pensamentos e lembranças do falecido, em vez das ruminações autocríticas ou pessimistas encontradas no EDM. No luto, a autoestima costuma estar preservada, ao passo que no EDM os sentimentos de desvalia e aversão a si mesmo são comuns. Se presente no luto, a ideação autodepreciativa costuma envolver a percepção de falhas em relação ao falecido (p. ex., não ter feito visitas com frequência suficiente, não dizer ao falecido o quanto o amava). Se um indivíduo enlutado pensa em morte e em morrer, tais pensamentos costumam ter o foco no falecido e possivelmente em “se unir” a ele, enquanto no EDM esses pensamentos têm o foco em acabar com a própria vida por causa dos sentimentos de desvalia, de não merecer estar vivo ou da incapacidade de enfrentar a dor da depressão. 3- ELUCIDAR A ETIOLOGIA, EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E COMPLICAÇÕES DA DEPRESSÃO Os transtornos depressivos são caracterizados por humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações cognitivas e somáticas que afetam a funcionalidade do indivíduo, eles são um grupo de doenças que se diferenciam entre si pela intensidade e duração dos sintomas. O termo depressão, de forma remota, é usado como uma nomenclatura geral para se referir a qualquer um dos transtornos depressivos existentes, como: O transtorno disruptivo da desregulação do humor, O transtorno depressivo maior, O transtorno disfórico pré-menstrual, O transtorno depressivo persistente (distimia), O transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, O transtorno depressivo devido a outra condição médica, Nessa perspectiva da depressão, dentre tais transtornos elencados pelo DSM-5, faz-se importante destacar o Transtorno Depressivo Maior e a Distimia, pelo fato de: o Transtorno Depressivo maior ser a forma de condição mais habitual e a Distimia compor o modo mais crônico da depressão. Depressão: Um transtorno depressivo maior ocorre sem uma história de um episódio maníaco, misto ou hipomaníaco. Mania: Um episódio maníaco é um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável que dura pelo menos uma semana, ou menos se o paciente tiver de ser hospitalizado. EPIDEMIOLOGIA Atingindo mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, a depressão teve um aumento de 18% entre os anos de 2005 e 2015. No ano de 2017 a depressão alcançou o marco de ser a doença que mais causa prejuízos sociais e econômicos na população ativa, superando as doenças cardiovasculares e o câncer os anos de trabalho perdido por doença. Ela está frequentemente associada a sofrimento ou incapacidade significativa que afeta as atividades sociais, acadêmicas ou profissionais, reduz o nível de funcionalidade e compromete a qualidade de vida. Constituindo-se como o transtorno de humor mais comum, o TDM tem uma prevalência em indivíduos de faixa etária entre os 18 aos 29 anos, acometendo-os três vezes mais do que pessoas com acima de 60 anos de idade. Dentre os indivíduos atingidos, há um maior alojamento desse tipo de quadro em mulheres do que em homens (com uma proporção de 2:1), tendo um predomínio de 15% em mulheres. Transtorno Depressivo Maior pode aumentar em até duas vezes a incidência de Infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e diabetes. A depressão ainda leva ao aumento da mortalidade na diabetes tipo II (2,3 vezes), insuficiência cardíaca congestiva com fração de ejeção normal (8 vezes) e em doenças coronarianas (2,6 vezes). Nos casos mais graves a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano - sendo esta a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos. O Brasil tem apresentado um aumento na incidência de casos de depressão, segundo levantamentos nacionais de saúde. De acordo com a Pesquisa Vigitel 2021, um dos mais amplos inquéritos de saúde do país, em média, 11,3% dos brasileiros relataram ter recebido um diagnóstico médico da doença. A frequência foi maior entre as mulheres (14,7%) em comparação com os homens (7,3%). ETIOLOGIA – FATORES BIOLÓGICOS Inicialmente, as bases biológicas dos transtornos depressivos são explicadas por meio da teoria monoaminérgica da depressão. Essa proposição propõe que a depressão seja consequência de uma menor disponibilidade de aminas biogênicas cerebrais, particularmente de serotonina, noradrenalina e / ou dopamina. Tal hipótese foi reforçada pelo conhecimento do mecanismo de ação dos antidepressivos, os quais promovem o aumento da disponibilidade desses neurotransmissores na fenda sináptica, seja pela inibição do processo de receptação, ou através da inibição da enzima responsável pela degradação da monoamino oxidase (MAO). Assim, além da suposição monoaminérgica de depressão e de outros desdobramentos (cascatas de sinalização intracelular, modulação da expressão dos genes, participação de fatores neurotróficos, tais como o BDNF), estão sendo atualmente argumentadas, outras teorias; entre https://www.cnnbrasil.com.br/tudo-sobre/depressao/ estas, recebe ênfase aquela que destaca a participação dos sistemas endócrino e imune. Especificamente a hipótese imunológica propõe que a elevação na produção de citocinas pró- inflamatórias resultaria nos sintomas relacionados a depressão. Nesse sentido, as citocinas pró- inflamatórias atuariam como neuromoduladores, intervindo nos aspectos neuroquímicos, neuroendócrinos e comportamentais dos transtornos depressivos. O suporte neuroendócrino estudado na depressão é o hipotálamo-hipófise-adrenais (HHA) e sua conexão com estruturas do sistema límbico, como o hipocampo. Evidências sugerem um perfil imunológico diferente de acordo com o tipo de depressão. A compreensão dos aspectos neuroimunes de depressão pode contribuir para uma melhor compreensão das bases biológicas desta desordem e, portanto, a uma nova perspectiva na busca por uma terapia mais eficaz. ETIOLOGIA – FATORES GENÉTICOS Os estudos de famílias investigam se um transtorno é familiar. Mais especificamente, a taxa de doença nos membros da família de uma pessoa com o transtorno é maior do que a da população em geral. Dados familiares indicam que, se um dos genitores tem um transtorno do humor, um dos filhos tem um risco entre 10 e 25% de também apresentá-lo. Se ambos os genitores são afetados, o risco praticamente duplica. Quanto mais membros da famíliaforem afetados, maior o risco para um filho. O risco é maior se os afetados forem parentes em primeiro grau do que mais distantes. Uma história familiar de transtorno bipolar confere um risco maior para transtornos do humor em geral e, em particular, um risco muito maior para transtorno bipolar. Essa sobreposição familiar sugere algum grau de bases genéticas comuns entre essas duas formas de transtorno do humor. A presença de doença mais grave na família também confere um risco maior. Resumidamente: Ser filho de genitor com transtorno de humor, sendo somente 1 afetado, tem a chance de 10 a 25% de apresentar esses transtornos; Se ambos os genitores são afetados, o risco duplica para a criança vir apresentar esse transtorno; Dados de gêmeos fornecem evidências convincentes de que os genes explicam apenas 50 a 70% da etiologia dos transtornos do humor. ETIOLOGIA – FATORES PSICOSSOCIAIS Uma teoria proposta para explicar é a de que o estresse que acompanha o primeiro episódio resulta em mudanças duradouras na biologia do cérebro. Essas mudanças podem alterar os estados funcionais de vários neurotransmissores e sistemas sinalizadores intraneuronais, mudanças que podem incluir mesmo a perda de neurônios e uma redução excessiva de contatos sinápticos. Como resultado, uma pessoa tem alto risco de desenvolver episódios subsequentes de um transtorno do humor, mesmo sem um estressor externo. Alguns médicos acreditam que os eventos de vida tenham um papel primário ou principal na depressão; outros sugerem que seu papel seja apenas limitado no início e no momento da depressão. Os dados mais convincentes indicam que o evento de vida associado com mais frequência ao desenvolvimento da depressão é a perda de um dos genitores antes dos 11 anos de idade. O estressor ambiental mais associado ao início de um episódio de depressão é a perda do cônjuge. Resumidamente: Acontecimentos da vida e o estresse ambiental frequentemente precedem os primeiros episódios de transtornos de humor; Pessoas com transtornos da personalidade – obsessivo-compulsiva, histriônica e borderline – podem ter um risco maior de depressão do que indivíduos com personalidade antissocial ou paranoide. FISIOPATOLOGIA Hipótese dos neuroreceptores: sugerem fortemente que a depressão poderia estar relacionada mais à uma desregulação da sensibilidade do neuroreceptor do que com deficiências do neurotransmissor. Outra ideia é a de que os neuroreceptores, por serem proteínas, têm sua quantidade aumentada ou diminuída apenas por síntese ou degradação e, ao tratar-se de um processo que consome tempo, isso poderia ser a causa da lenta ação terapêutica dos antidepressivos. Os neuroreceptores têm como missão, receber mensagens químicas específicas e traduzi-las nas correspondentes respostas nos neurônios pós- sinápticos. Cada neuroreceptor tem no mínimo dois componentes, um de reconhecimento e outro efetor (superfície externa e interna, respectivamente), e existe um conjunto mais o menos complexo de componentes intermediários em dependência do tipo de neuroreceptor. Seriam os neuroreceptores, mais que os neurotransmissores, que determinariam qual neurotransmissor atuará sobre a célula e, curiosamente, se essa ação será excitatória ou inibitória. Existem inúmeros tipos de neuroreceptores e cada um deles determina uma ação diferente no neurônio. Ainda sobre neuroreceptores e ação dos antidepressivos, tem-se suposto que os antidepressivos tricíclicos inibem imediatamente o mecanismo de recaptação de neurotransmissores pelo neurônio pré- sináptico, o que originaria um aumento da disponibilidade desses neurotransmissores (noradrenalina e serotonina) para serem captados pelos neuroreceptores pós-sinápticos. Como resposta, estes neurônios pós-sinápticos acabam por reduzir o número de seus neuroreceptores e, muito possivelmente, também a sensibilidade e atividade deles (dowm regulation). Enfim, as hipóteses da desregulação no número e na sensibilidade do neuroreceptor sugerem que, em síntese, as deficiências funcionais na neurotransmissão podem ocorrer mesmo com níveis normais de neurotransmissores. Neuroanatomia: A Tomografia Computadorizada (TC), a Ressonância Magnética (RM) e a Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) evidenciaram com estudos que as áreas cerebrais previsivelmente envolvidas na mediação de afetos foram ativadas tanto em voluntários normais como em pacientes com Depressão Maior. Essas áreas são os gânglios da base e as áreas pré- frontais, consideradas áreas para-límbicas, incluindo córtex pré-frontal inferior e medial, cíngulo e córtex temporal medial. A tomografia por emissão de fóton único (Spect) permite o estudo do fluxo sanguíneo regional cerebral através da administração de isótopos radioativos e a obtenção de cintilografias de perfusão. Usando esta técnica, a maioria dos estudos constatou uma redução global no fluxo sanguíneo cortical na depressão maior, principalmente nas regiões frontais QUADRO CLINICO A apresentação de um humor deprimido na maior parte dos dias (ou de um humor irritável nos casos de crianças e adolescentes), bem como a visualização de uma acentuada diminuição de interesse e de prazer em quase todas as atividades diárias, pode ser um indicativo de um caso de TDM. Tais sintomas podem ser observados por outras pessoas ou por intermédio de um relato subjetivo pessoal (sentir-se triste, vazio ou sem esperança). Outras mudanças pessoais cotidianas podem ser demonstradas por um indivíduo com esse transtorno, como: Uma perda ou um ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (exemplificando-se: uma alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou uma redução ou um aumento do apetite em quase todos os dias. Nas crianças, pode ser mostrado um insucesso em se obter o ganho de peso esperado; Insônia ou hipersonia na sua rotina diária; Agitação ou retardo psicomotor; Fadiga ou perda de energia; Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada, que podem ser delirantes; Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, visualizadas de forma pessoal (a partir de uma análise individual própria) ou externamente por outros sujeitos; Pensamentos recorrentes de morte (não somente com um medo de morrer), muitas vezes, com uma ideação suicida recorrente sem um plano específico ou com tentativas de suicídio arquitetadas. A sintomatologia clínica permite identificar os subtipos depressivos em melancólicos, psicóticos ou atípicos. Classifica-os, ainda, quanto a sua polaridade (unipolar ou bipolar), a sua intensidade (distimia), o seu curso (breve, recorrente ou persistente), os seus fatores desencadeantes (sazonal ou puerperal) e a sua gravidade (leve, moderada ou grave). SUBTIPOS Distimia: Ele é caracterizado por sintomas depressivos mais leves do que os da depressão maior, que persistem por pelo menos dois anos, com um período livre de sintomatologia de apenas dois meses em cada ano. Um episódio depressivo maior pode ocorrer após o início da distimia (a chamada depressão dupla) Transtorno Afetivo Sazonal: Ele é classificado como um especificador de transtorno do humor – com padrão sazonal. No transtorno depressivo maior, o padrão sazonal pode ocorrer em até um terço dos casos Transtorno Depressivo Breve Recorrente e Transtorno Depressivo Menor: Tal condição segue um curso diferente do da depressão maior e, portanto, pode muito bem representar um subtipo único deste transtorno. Episódio Único e Depressão Maior Recorrente: A recorrência apenas acompanha um episódio anteriormente suspenso e não deve ser diagnosticada na presença de sintomas residuais de um episódio tratadode forma inadequada. O DSM-IV-TR permite a adição de especificadores interepisódicos: com ou sem recuperação total entre os episódios. A distinção geralmente depende do grau de remissão do sintoma avaliado pelo médico. O uso de instrumentos de avaliação como a Escala de Avaliação para Depressão de Hamilton são de grande valia (Hamilton, 1960). Escores de sintoma abaixo de 75% do limiar de base, por exemplo, são considerados remissão RISCO DE SUICÍDIO A possibilidade de comportamento suicida existe permanentemente durante os episódios depressivos maiores. O fator de risco descrito com mais consistência é História prévia de tentativas ou ameaças de suicídio Ser solteiro ou viver sozinho Ter sentimentos proeminentes de desesperança Transtornos do humor são os mais associados a suicídio. O risco em vida de morte por suicídio entre indivíduos com transtorno bipolar é de aproximadamente 15 a 20%, sendo que suicídio é mais provável durante estados deprimidos do que em estados maníacos. Pacientes com transtornos depressivos cometem mais suicídio no início da doença do que mais tarde; a chance de que uma pessoa deprimida se mate aumenta se ela for solteira, separada, divorciada, viúva ou tenha sofrido luto recente. Com relação ao tratamento ambulatorial, os pacientes suicidas mais deprimidos tiveram história de terapia; contudo, menos da metade estava sob tratamento psiquiátrico no momento do ato. Entre aqueles sob tratamento, estudos mostraram que este era insatisfatório. DIAGNÓSTICO O diagnóstico para Transtorno Depressivo Maior, de acordo com o Compêndio de psiquiatria (2017), leva em conta os critérios A-E: A. A presença de cinco (ou mais) dos sintomas abordados acima durante um período de duas semanas, com uma mudança em relação ao funcionamento anterior; sendo, pelo menos, um dos sintomas o humor deprimido ou a perda de interesse ou de prazer; B. A constatação de que os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou um prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo; C. Que o episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica; D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado; E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco (a não ser os que foram induzidos por substância ou são atribuíveis aos efeitos psicológicos de outra condição médica). Deve-salientar que a constatação dos critérios de A-C em um indivíduo já representa um episódio depressivo maior, mas para que ocorra o diagnóstico de TDM se deve ter a verificação de todos os critérios citados. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Episódios maníacos com humor irritável ou episódios mistos: Episódios depressivos maiores com humor irritável proeminente podem ser difíceis de distinguir de episódios maníacos com humor irritável ou de episódios mistos. Essa distinção requer uma criteriosa avaliação clínica da presença de sintomas maníacos. Transtorno do humor devido a outra condição médica Transtorno depressivo ou bipolar induzido por substância/medicamento: uma substância (p. ex., uma droga de abuso, um medicamento, uma toxina) parece estar etiologicamente relacionada à perturbação do humor. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: A distratibilidade e a baixa tolerância à frustração podem ocorrer tanto em um transtorno de déficit de atenção/hiperatividade quanto em um episódio depressivo maior Transtorno de adaptação com humor deprimido: é diferenciado do transtorno de adaptação com humor deprimido pelo fato de que no transtorno de adaptação não são satisfeitos todos os critérios para um episódio depressivo maior. Tristeza: O diagnóstico de outro transtorno depressivo especificado pode aplicar-se a apresentações de humor deprimido com prejuízo clinicamente significativo que não satisfazem os critérios de duração ou gravidade. 4- DESCREVER O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DEPRESSÃO, EVIDENCIANDO MECANISMO DE AÇÃO, INDICAÇÕES E EFEITOS ADVERSOS DOS FÁRMACOS UTILIZADOS Todos os antidepressivos atualmente disponíveis aumentam a neurotransmissão monoaminica por meio de um de vários mecanismos. O mecanismo mais comum consiste na inibição da atividade do SERT, do NET ou de ambos os transportadores de monoaminas. Os antidepressivos que inibem o SERT, o NET ou ambos incluem os ISRSs e os IRSNs (por definicao), bem como os ADTs. Outro mecanismo que aumenta a disponibilidade de monoaminas e a inibição de sua degradação enzimática (pelos IMAOs). Outras estratégias para aumentar o tônus monomaníaco incluem a ligação a autorreceptores pré-sinápticos (mirtazapina) ou a receptores pós-sinápticos específicos (antagonistas dos receptores 5-HT2 e mirtazapina). Por fim, a disponibilidade aumentada de monoaminas para ligação na fenda sináptica resulta em uma cascata de eventos que aumentam a transcrição de algumas proteínas e a inibição de outras. INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA Os ISRSs inibem a recaptação de serotonina. São efetivos para depressão e muitos outros transtornos psiquiátricos, incluindo muitos dos principais transtornos de ansiedade. Os ISRSs inibem alostericamente o transportador por meio da ligação do receptor do SERT em um sitio diferente do sitio de ligação da serotonina. Inibem seletivamente a recaptação de serotonina (e não da dopamina), aumentando a concentração de serotonina na fenda sináptica. Ao fazerem essa inibição seletiva, esses fármacos não têm efeito anti-alfa-1, anti-histamínico, anticolinérgico, ou toxicidade cardiovascular como os tricíclicos. Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina, Fluvoxamina, Paroxetina, Sertralina Efeitos adversos Os efeitos normalmente são dose-dependentes e podem ser minimizados com dosagem inicial baixa e ajuste gradual da dose Náusea Mobilidade intestinal exacerbada Ansiedade Cefaleia Insônia Sudorese Esses eventos adversos iniciais quase sempre diminuem nas primeiras semanas de tratamento. Disfunção sexual é um efeito colateral de longo prazo comum Sedação Podem piorar a enxaqueca no início Também podem ocorrer tremores e acatisia, os quais podem ser controlados com a redução da dose ou o emprego de um -bloqueador, como o propranolol. INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA- NOREPINEFRINA Venlafaxina, Desvenlafaxina, Duloxetina, Milnaciprana. Os IRSN ligam-se aos transportadores de serotonina e de norepinefrina. O NET e muito semelhante estruturalmente ao transportador de 5-HT. A venlafaxina é um potente inibidor da recaptação de serotonina e noradrenalina e um fraco inibidor da recaptação de dopamina (dessa, somente quando usada acima de 150 mg/dia). Não tem afinidade in vitro por receptores muscarínicos, histaminérgicos, alfa-1-adrenérgicos e dopaminérgicos. Promove dessensibilização significativa dos receptores beta-adrenérgicos (down-regulation). Efeitos adversos Os efeitos adversos desses fármacos – principalmente devido ao aumento da ativação de receptores adrenérgicos – incluem cefaleia, insônia, disfunção sexual, boca seca, tontura, sudorese e perda de apetite. O efeito adverso mais comum observado com a venlafaxina é a náusea, que ocorre em cerca de 25%. Em doses mais elevadas, pode promover hipertensão arterial. ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS Os ADTs inibem a recaptação de noradrenalina, serotonina e (em menor grau) dopamina.Além disso, exercem efeito inibitório nos receptores H1, muscarínicos e 1-adrenérgicos. Amitriptilina, Clomipramina, Desipramina, Doxepina, Imipramina, Nortriptilina, Protriptilina, Maleato de trimipramina. Efeitos adversos Anti-colinérgicos: o Olhos: geram midríase, uma vez que há inibição do sistema nervoso autônomo parassimpático e consequente estímulo simpático, com dificuldade de acomodação visual; o Gastrointestinais: redução dos movimentos peristálticos, causando obstipação, sendo um ponto de atenção principalmente para idosos; o Urinário: contração do esfíncter vesical, com retenção urinária, vale ser um ponto de atenção para HPB e idosos. Anti-alfa-1-adrenérgico: o Hipotensão postural (risco maior de quedas em idosos); o Redução da libido. Anti-histamínico: o Sonolência; o Aumento do apetite; o Ganho de peso. Cardiovascular: o Doses baixas: efeito antiarrítmico; o Doses elevadas: efeito arritmogênico; o Bloqueios Atrioventriculares: manifestados no ECG pelo aumento do intervalo PR. Não devem ser administrados juntos com ISRS, fenotiazina e alguns antiarrítmicos INIBIDORES DA MONOAMINOXIDASE (IMAO) Inibidores da monoaminoxidase do neurônio pré- sinaptico inibem a enzima que degrada a noradrenalina, serotonina e dopamina, aumentando então a disponibilidade destas. Isocarboxazida, Fenelzina, Selegilina, Tranilpromina. Efeitos colaterais Anti-alfa-1-adrenérgico: Hipotensão ortostática (atentar para idosos); Insônia; Disfunção sexual. Esses são os 3 efeitos colaterais mais comuns. Efeito noradrenérgico secundário a consumo de alimentos ricos em tiramina (queijos envelhecidos, vinho tinto, carne defumada, chocolate, café, abacate, uva- passa). Gera uma hipertensão de difícil controle; Não seletivos: (bloqueiam MAO-A e MAO-B) fenelzina Seletivo de MAO-A: meclobemida Efeito queijo: interação alimentar com a tiramina causando hipotensão grave BUPROPIONA As ações da bupropiona ainda estão pouco elucidadas. A bupropiona e seu principal metabolito, a hidroxibupropiona, são inibidores modestos a moderados da recaptacao de norepinefrina e de dopamina. Todavia, esses efeitos parecem menores do que aqueles associados ao benefício antidepressivo. Um efeito mais significativo da bupropiona consiste na liberação pré-sináptica das catecolaminas. A bupropiona praticamente não tem nenhum efeito direto sobre o sistema serotoninergico. Além disso, secundariamente, a bupropiona atua no córtex frontal, aumentando a concentração de DA. Isso ocorre porque a DA é inativada quando a NA é recaptada na fenda e uma vez esse processo sendo bloqueado, aumenta-se a neurotransmissão de DA nessa região cerebral (rica em receptores dopaminérgicos). Efeitos colaterais Insônia, cefaleia, sensação de boca seca (xerostomia), náuseas, vômitos, constipação, dor abdominal, anorexia, reações de hipersensibilidade, como urticária, rash cutâneo, prurido 5- EXPLICAR O TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO DA DEPRESSÃO Psicoterapia: contribui para beneficiar a saúde mental, ajudando as pessoas a se sentirem bem e a pensar de forma mais clara. Dessa maneira, o objetivo da terapia comportamental é a promoção da saúde comportamental, mas isto será obtido ao se fazer as pessoas se comportarem melhor, ou seja, fazendo-as ter comportamentos mais eficientes. Para um melhor tratamento da depressão, é muito importante a obtenção de um trabalho conjunto entre médico psiquiatra e psicólogo. O trabalho de interação destes profissionais deve ocorrer de forma a promover uma parceria que discuta tanto as melhoras como os efeitos colaterais do paciente. Eletroconvulsoterapia: A ECT é a primeira técnica dessa nova família terapêutica e envolve a indução de uma crise convulsiva tônico-clônica generalizada por meios elétricos. Vários quadros psiquiátricos e neurológicos apresentam resposta favorável à ECT, especialmente se forem graves ou acompanhados por sintomas psicóticos, apesar de a maioria dos pacientes tratados com essa abordagem apresentar transtornos do humor, como depressão unipolar ou bipolar. Outros quadros, como mania, transtorno esquizoafetivo, catatonia, síndrome neuroléptica maligna, doença de Parkinson e crises intratáveis, também podem responder à ECT. Estimulação do nervo vago: é, de certa forma, invasiva e exige a implantação cirúrgica de um equipamento na parede do tórax e um fio no pescoço. A região cerebral estimulada sempre segue a mesma rota inicial – o nervo vago no pescoço. O equipamento é permanente, não podendo ser retirado sem cirurgia. Aprovada pelo FDA para uso crônico em pacientes com depressão resistente a tratamento. 6- IDENTIFICAR OS SINAIS, MECANISMOS DE PREVENÇÃO E O TRATAMENTO DO PACIENTE COM IDEAÇÃO SUICIDA O suicídio é um ato intencional de um indivíduo em colocar término à vida e constitui um grave problema de saúde pública a nível mundial. Pode ser perspectivada hierarquicamente segundo o grau de gravidade, desde pensamentos relacionados com a morte e inutilidade da vida – ideação passiva – até uma ideação ativa que se refere à persistência de ideias sobre morte, existindo um intenso desejo de morrer e autodestruição. Dessa forma, com o intuito de desenvolver ações que promovam a prevenção do suicídio, a Portaria nº 1. 876, de 14 de agosto de 2006 instituiu diretrizes nacionais para a prevenção do suicídio em todas as unidades federadas. O Enfermeiro da UBS aprende que existem inúmeras maneiras de prestar um cuidado de forma adequada às questões relacionadas ao suicídio. Entre elas o olhar preventivo, que tem como objetivo impedir que situações de risco resultem em danos à integridade do indivíduo. Diante disso, esse profissional que atua no âmbito da Atenção Básica, por meio do trabalho na Estratégia Saúde da Família (ESF), tem dentre suas atribuições a prevenção de doenças e agravos que colocam a saúde e o bem-estar da comunidade assistida em risco. Isto posto, atua como protagonista no levantamento, investigação e controle de casos orientado segundo a lógica do cuidado integral, baseado nos princípios do Sistema Único de Saúde que visam a um atendimento humanitário e universal. Com o intuito de amenizar os choques no ambiente familiar, faz-se necessário desenvolver estratégias que alcancem pais e filhos com o intuito de levá-los à reflexão sobre os valores transmitidos no momento da educação, considerando que, em decorrência da necessidade de obter bens materiais, ficaram em segundo plano, valores que auxiliam no enfrentamento de situações conflitantes; a ausência física faz com que boa parte dos pais preencha a presença física com bens materiais, desenvolvendo pessoas vazias e sem capacidade de administrar emoções, propensas a uma saúde mental abalada. Diante desta perspectiva, é imperativo que os Enfermeiros da Atenção Básica atuem com ações educativas de forma abrangente na família, de modo a alertar, conduzir e fomentar a importância do estreitamento de vínculos afetivos, mostrando o valor que cada um exerce dentro do seio familiar. TRATAMENTO Intervenção em crise: A intervenção em crise permite a utilização de diversas técnicas, geralmente mais diretivas. Tem o objetivo de proteger a vida, diminuir riscos e sequelas e fazer a pessoa retomar o equilíbrio para permitir a conquista de outros objetivos terapêuticos. A abordagem multidisciplinar deve ser preferencialmente adotada, trazendo benefícios para a conduta terapêutica, por meio do compartilhamento de saberes e responsabilidades. Dependendo do risco, a conduta pode variar desde a necessidade de acionamento de serviços de urgência e emergência, quebra de sigilo, envolvimento da família, internação domiciliaretc., até o acompanhamento ambulatorial com o número de sessões usuais. Avaliação de risco: Avaliar o risco de suicídio por meio de perguntas diretas pode gerar receio e constrangimento, mas quando essa abordagem é cuidadosa, sincera e respeitosa, fortalece o vínculo e abre espaço para a fala. A avaliação do risco de suicídio é a ação que define o norte da conduta clínica de cada caso Notificação compulsória de violência autoprovocada: De acordo com a Lei nº 13.819/2019, os casos suspeitos ou confirmados de violência autoprovocada são de notificação compulsória pelos estabelecimentos de saúde públicos e privados às autoridades sanitárias e pelos estabelecimentos de ensino públicos e privados ao Conselho Tutelar. Casos de tentativa de suicídio deverão ser notificados, obrigatoriamente, em até 24 horas do conhecimento do evento pela profissional, tendo em vista a necessidade de intervenções emergenciais e maior efetividade da intervenção em crise em curto período, como articulação e encaminhamento para rede psicossocial Projeto terapêutico singular o projeto terapêutico singular (PTS): é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas para um indivíduo, uma família ou um grupo que resulta da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar com apoio matricial, se esse for necessário. O PTS pode ser uma ferramenta interessante para o cuidado do sujeito com comportamentos suicidas por articular diferentes equipes e serviços. Acolhimento, vínculo e corresponsabilização: Salienta-se a necessidade de construção de espaços de escuta e acolhimento, necessários para quem esteja se sentindo como um peso para o mundo ou que não se sinta pertencente a nenhum grupo ou família. Continuidade do cuidado: O cuidado com a pessoa que tentou suicídio, bem como com sobreviventes, precisa ser contínuo. Isso se deve à tendência de que uma pessoa que tentou suicídio tente novamente de forma mais letal e ao impacto de um suicídio nas pessoas próximas. Isso por meio de uma linha de cuidado integral, que contemple ações de vigilância, monitorando-se em especial as pessoas mais vulneráveis a esse agravo. Grupos de apoio: Os grupos são ferramentas de produção de socialização e vinculo. Núcleos ampliados de saúde da família (NASF): tem papel fundamental como articulador no território junto a ESF, mas também como matriciador da demanda de suicídio e automutilação para a ESF Centro de atenção psicossocial (CAPS): Os centros de atenção psicossocial são serviços especializados de saúde mental para atendimento de casos graves e persistentes, disponíveis à população, sem necessidade de agendamento prévio. Os CAPS são organizados em modalidades conforme faixa etária e demandas de atendimento, e para transtornos mentais. Todos os serviços têm como critério de inclusão para atendimento o risco de suicídio ou tentativa de suicídio recentes. Antidepressivos: risco de suicídio pode ser aumentado pelo uso de antidepressivos na fase inicial do tratamento. Nos dias iniciais do tratamento, este risco é maior, tornando-o pequeno e passível de ser minimizado com medidas educativas, de supervisão e psicoterapêuticas. Várias classes dos antidepressivos são indicadas, mas sempre com o fator de supervisão do paciente, no minimo por 30 dias, por familiar ou responsável. 7- ELUCIDAR A IMPORTÂNCIA DO SUPORTE SOCIAL E FAMILIAR E O PAPEL DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DE SAÚDE NO CUIDADO COM OS PACIENTES PORTADORES DE DEPRESSÃO E PACIENTES COM IDEAÇÃO SUICIDA A Atenção Em Saúde Mental organizada na perspectiva do cuidado no território vem sendo amplamente difundida a partir da Lei 10.216 da Reforma Psiquiátrica Brasileira, em 2001, e reforçada pelas leis subsequentes que a regulamentaram, como a Lei 3.099 de 2011 que institui a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), incorporando recursos da atenção básica para o cuidado em saúde mental, como a ESF no território. Nesse sentido, temos na ESF uma estrutura que pode oportunizar um cuidado compartilhado, e cuidar dessa forma possibilita integralidade na atenção à saúde. A mesma está organizada a partir de equipes que devem nortear seu processo de trabalho de acordo com as necessidades de saúde de sua população. O cuidado no território possibilita elos e relações entre a equipe, usuários e famílias. Em função dessa forma abrangente que estrutura o trabalho, e devido à sua relevância epidemiológica, o comportamento suicida tem exigido atendimento na ESF. O comportamento suicida inclui pensamentos, tentativas e os atos consumados, como, por exemplo, ele pode ser a ideação suicida (pensar em morrer), a tentativa de suicídio (ato de autoagressão cuja intenção é a morte, que acaba não ocorrendo) e o suicídio consumado (ato intencional de autoagressão que resulta em morte). Todos os membros da equipe multidisciplinar podem identificar e conduzir casos de ideação e/ou tentativa de suicídio, isso depende do preparo e conhecimento sobre o tema, bem como a possibilidade de diálogo e comunicação entre os profissionais. É possível que a proximidade dos ACS com o usuário possa facilitar seu reconhecimento e o planejamento de ações que sejam pensadas com a equipe, minimizando o risco de perda de vidas e sofrimento, pois se trata de um agravo que atinge não só o indivíduo que quer se matar, mas também seus familiares, amigos e equipe de atendimento. A partir da identificação desses casos, a equipe precisa organizar seu trabalho para acolher os indivíduos com comportamento suicida, refletindo e instituindo ações de cuidado necessárias para a preservação da vida - assegura o encaminhamento, caso ocorra necessidade de referenciamento do indivíduo ao nível especializado.
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