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Unidade II ANTROPOLOGIA: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS Profa. Lia Lemos IPHAN – Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: expressões, modo de fazer, criar e viver são considerados patrimônios culturais. No seu início, o IPHAN defendia a visão de elites que privilegiavam aspectos materiais e uma visão hegemônica. Para a Antropologia Social: patrimônio são heranças dos antepassados que nos ligam de modo subjetivo. Patrimônios portam mensagens, constroem a memória e a consciência e identidade de um povo. Museus: posse de uma coleção de objetos que definem a identidade de um grupo. Identidade construída e criada por agentes específicos. Arte, cultura e patrimônio Nacionalidade é uma ideia moderna, construída a partir do patrimônio e da História oficial. Autenticidade são objetos selecionados, considerados por um grupo determinado como únicos e representativos, ajudam a construir a ideia de nação e de etnia como uma unidade real e autônoma. O patrimônio nacional foi selecionado por uma elite: casa-grande, sobrados, fortes militares, igrejas católicas. Já o que consideramos patrimônio cultural deve ter uma seleção mais democrática: cultura popular, folclores, expressões étnicas, diversidade religiosa, etc. Anos 70, criação da Pró-Memória e valorização do patrimônio cultural imaterial. Patrimônio nacional e patrimônio cultural Participação de antropólogos em museus, na UNESCO e no IPHAN renova a visão de bens culturais a partir dos anos 70. Abertura para particularidades e diversidades culturais, valorização do conhecimento, arte, culturas tradicionais e populares e a criação de patrimônio cultural imaterial (PCI). UNESCO com visão protecionista. Criação de nova metodologia para inventário das manifestações culturais, antropólogo Antônio Augusto Arantes. Bens materiais são dinâmicos, não cabe o conceito de autenticidade. Antropologia e museu A modernidade e o progresso se sobressaem na memória cultural do brasileiro, se esquece do passado e das populações não urbanas. Destruição de patrimônios para construção do “progresso”, nas cidades e também no interior: cidade de São Paulo, Museu do Índio. Destruição de patrimônios de populações tradicionais para a construção de nova infraestrutura: transposição do Rio São Francisco, descoberta do Quilombo dos Palmares. Resistência de autoridades e da mídia para se abrirem para uma ideia de sociedade multiétnica e plural: reconhecimento do Terrero Casa Branca. Dificuldades encontradas Museu do Índio, voz das etnias em primeira pessoa. Terrero Casa Branca: patrimônio religioso não católico, abriu espaço para outros tombamentos de expressões afro-brasileiras. Museu Magüta, participação direta dos índios Ticuna no contexto virtual. Instrumento de mediação entre povos, troca de experiências, contato com a diversidade. Noção de patrimônio, museu e arte se atualizaram e passaram a respeitar a diversidade de modo mais democrático. Casos inovadores Das afirmativas abaixo, qual representa uma visão antropológica sobre bens culturais: a) A identidade nacional deve ser hegemônica, por isso o patrimônio nacional deve ser preservado e conservado. b) Nacionalidade e etnicidade são conceitos universais e os bens materiais reforçam suas identidades reais. c) As elites e autoridades são os grupos adequados para a construção da identidade nacional, pois possuem conhecimento para tal realização. d) Todos os povos possuem bens culturais que constroem suas identidades e devem ser respeitados. e) O progresso não pode parar por causa de tradições antigas e de povos que não existem mais. Interatividade Das afirmativas abaixo, qual representa uma visão antropológica sobre bens culturais: a) A identidade nacional deve ser hegemônica, por isso o patrimônio nacional deve ser preservado e conservado. b) Nacionalidade e etnicidade são conceitos universais e os bens materiais reforçam suas identidades reais. c) As elites e autoridades são os grupos adequados para a construção da identidade nacional, pois possuem conhecimento para tal realização. d) Todos os povos possuem bens culturais que constroem suas identidades e devem ser respeitados. e) O progresso não pode parar por causa de tradições antigas e de povos que não existem mais. Resposta Sistema de trocas das sociedades tradicionais, como a Dádiva de Mauss, se opunha ao sistema de mercadoria das sociedades capitalistas. Resistência das Ciências Sociais a estudarem o consumo se rompe no 3º milênio. Consumo hoje é visto como parte da interação social, construção da identidade, jogo de organização coletiva. Tabu ao se estudar o que não era a produção, o progresso devido à influência do marxismo sobre a luta de classes. O produto garante o lucro e a mais-valia para o capitalista. Criou-se um preconceito antimaterial Antropologia e consumo 1. hedonista: sistema publicitário – consumir é ser feliz; o consumidor é passivo, legitima os mapas sociais e as distinções; 2. moralista: consumo é negativo, o sujeito é consumista; consumo se opõe ao trabalho, é alienante e estimula o pecado da luxúria; 3. naturalista ou determinista: outros usos para consumo – consumo de água, energia, oxigênio como parte da natureza, diferente de consumir algo desejável como churrasco, celular, etc.; existe a necessidade e o desejo de consumir; 4. utilitária: estudos de marketing para vender mais e aumentar a rentabilidade e o lucro. Estudos e visões fora das Ciências Sociais (Rocha, 2005) Consumo é um fenômeno-chave para compreender a sociedade contemporânea. Existe um sistema de significação e necessidade simbólica. É um código que transmite mensagens e é também um construtor de identidades. Faz parte da cultura de massa que é, atualmente, uma instância importante na sociedade, uma forma de se relacionar, de se integrar. Consumo como uma forma de distinção social se opondo ao naturalismo e utilitarismo (Sahlins, Douglas e Isherwoods). Práticas de consumo e manifestação de gosto criam e mantêm relações de dominação, reforça divisão de classes e do habitus adquirido (Bourdieu). Visão antropológica Sem oposição às dádivas e sem a visão marxista, moralista ou utilitarista começam a surgir diversas leituras. Explicar e compreender a prática do consumo como um processo dinâmico de reapropriação da cultura material (Miller). Cultura de massa cria novos mitos, regras e identidades para os jogadores, e novos espaços para os rituais. Estudar as motivações para buscar determinados produtos, lojas e marcas e como elas criam um sistema simbólico, identidade e estilo de vida (Rocha). Objeto de consumo tem serventia vendida pela mídia e tem também a utilização particular explorada pelo consumidor, conferindo uma objetificação do objeto (McCracken). Novas fase da Antropologia do Consumo – anos 90 buscar a relação entre consumo e a construção de subjetividades; reconhecer os modelos mais locais e particulares do uso das mercadorias; demonstrar as diversas possibilidades de consumo; compreender o ritual de trocas de presentes e sua personificação, o ritual de posse e de ressignificação, o ato de “ir às compras”, a diversidade das compras na construção da identidade de gênero, sexualidade, etc; desvendar a interferência dos relacionamentos afetivos. Objetivo dos estudos A compreensão da visão moralista sobre consumo é fundamental para o crescimento da Antropologia do Consumo, qual das alternativas abaixo expressa a visão moralista: a) Consumir faz o sujeito feliz como revela a música “o que faz você feliz” de uma rede de supermercados. b) Consumir é uma necessidade natural do capitalismo, por isso, o consumidor compra determinados produtos e marcas. c) Slogans como “Leve mais e pague menos”, “vende mais porque é fresquinho”.d) O habitus de consumir está introjetado no inconsciente, fazendo o consumidor ser um sujeito passivo. e) Consumir é um ato alienante, fútil, e de pouco valor, além de aumentar a violência urbana e conflito entre as classes. Interatividade A compreensão da visão moralista sobre consumo é fundamental para o crescimento da Antropologia do Consumo, qual das alternativas abaixo expressa a visão moralista: a) Consumir faz o sujeito feliz como revela a música “o que faz você feliz” de uma rede de supermercados. b) Consumir é uma necessidade natural do capitalismo, por isso, o consumidor compra determinados produtos e marcas. c) Slogans como “Leve mais e pague menos”, “vende mais porque é fresquinho”. d) O habitus de consumir está introjetado no inconsciente, fazendo o consumidor ser um sujeito passivo. e) Consumir é um ato alienante, fútil, e de pouco valor, além de aumentar a violência urbana e conflito entre as classes. Resposta Estuda o papel dos agentes sociais, as relações de poder, os sistemas políticos. Novos rumos no período pós-guerra com a existência dos sistemas capitalista, socialista e comunista, além da existência do colonialismo, movimentos sociais feministas e anticolonialistas. Nos anos 90, o foco estava nos agentes sociais da sociedade civil, lutando por seus direitos vinculados à noção de cidadania, cidadão e Estado. Conceito de cidadania é histórico e moderno e pretendia uma sociedade integrada na noção de Estado-nação. Antropologia Política Variações do conceito de cidadania e as diversas interpretações por parte de quem as vive. Ser cidadão exige a noção de indivíduo e a relação com o Estado nacional e a presença de documentos autênticos, como carteira profissional ou título de eleitor. A experimentação política também é vivenciada de formas variadas: ser político, fazer política e fazer politicagem. Estudar o clientelismo é compreendê-lo como uma expressão de valores culturais entre pessoas motivadas por outras subjetividades, diferentemente de julgá-lo como corrupção atrasado ou antidemocrático. Resultados de estudos da Antropologia Política Compreender os ritos, rituais, agentes sociais e visões que os nativos têm da relação entre indivíduo e política, conceito de cidadania, papel do Estado e dos políticos. Revelar a pluralidade da sociedade nas formas de fazer política por meio de identidades e movimentos sociais. Estudar sobre os tempos da política, eleições e a relação candidato-eleitor. Revelar ideais diversos de democracia. Estudar os movimentos sociais em busca de direitos de cidadania. Objetivos da Antropologia da Política Movimento dos Sem Terra – MST: Luta por reforma agrária, direito ao emprego, combate à violência contra trabalhadores rurais na disputa de terras, direito à terra. Identidade dos “sem terra” na busca por ideais políticos democráticos. Formador de opiniões com diferentes atores sociais. Mobiliza uma grande massa e possui capital simbólico de suas lutas e conquistas na reivindicação de direitos coletivos. Movimentos sociais políticos A defesa de Direitos Humanos é um valor ocidental moderno que se busca universalizar, principalmente após a Declaração Universal de Direitos Humanos, 1948, pela ONU. As minorias podem buscar a defesa do direito à diversidade e da democracia. A modernidade cria, na noção de indivíduo dotado de direitos no âmbito político, a necessidade de um Estado-nação para garantir tais direitos. Igualdade é um princípio de justiça da sociedade moderna e deve ser vista como igualdade de direitos e de acesso a direitos, por isso o direito à diferença é parte da justiça social. Preservar as diversas identidades dos povos é garantir a igualdade de direitos culturais de autodeterminação. Ideias ocidentais modernas Quebra da noção de universalidade dos direitos para a defesa dos direitos da diversidade. Movimentos sociais feministas e multiculturais trouxeram a visão antropológica da reivindicação de direitos por parte das minorias. As minorias não possuíam a mesma cidadania dos demais sujeitos historicamente dominantes. Necessidade de uma política com visão plural de alteridade e de autonomia dos povos e de autodeterminação. Luta por direitos coletivos e não mais de grupos ou classes. Luta por identidade positiva com critérios valorativos próprios. Contribuições da Antropologia Esses novos movimentos sociais vão se diferenciar em movimentos culturais, na busca por direitos coletivos. Necessidade de um grupo ter direitos específicos. Os movimentos ampliam a noção e a prática da democracia e de cidadania. Os movimentos são também formas de sociabilidade e meio de mobilização de participantes na defesa de políticas de identidade. Uma política que vai além dos Estados, junto com ONGs e movimentos culturais diversos. Novos usos para o conceito de “cultura”, “identidade” e “política” entre os nativos ativistas e militantes. Movimentos culturais “A política cultural representa um importante meio encontrado pelas minorias socioculturais para ressignificar o que é cidadania e democracia. Da interpretação conflitante destes conceitos depende o reconhecimento da legitimidade de suas reivindicações.” (SOUZA, 2001) Dessa citação, conclui-se que: a) Cidadania e democracia são conceitos conflitantes. b) Cidadania e democracia legitimam as reivindicações dos movimentos das minorias. c) As minorias, nas suas reivindicações, conseguiram ressignificar e legitimar os conceitos de cidadania e democracia. d) As minorias socioculturais entram em conflito com os conceitos de cidadania e democracia. e) As minorias criaram os conceitos de cidadania e democracia. Interatividade “A política cultural representa um importante meio encontrado pelas minorias socioculturais para ressignificar o que é cidadania e democracia. Da interpretação conflitante destes conceitos depende o reconhecimento da legitimidade de suas reivindicações.” (SOUZA, 2001) Dessa citação, conclui-se que: a) Cidadania e democracia são conceitos conflitantes. b) Cidadania e democracia legitimam as reivindicações dos movimentos das minorias. c) As minorias, nas suas reivindicações, conseguiram ressignificar e legitimar os conceitos de cidadania e democracia. d) As minorias socioculturais entram em conflito com os conceitos de cidadania e democracia. e) As minorias criaram os conceitos de cidadania e democracia. Resposta Até os anos 70, movimentos culturais feministas e raciais lutavam pelos mesmos direitos à diferença em paralelo. Existe uma relação de poder de gênero e de raças e a conjunção das desigualdades e falta de direitos recai, principalmente, sobre mulheres negras e de classe baixa. Essa intersecção entre gênero, raça e classe social passa a ser foco de novos movimentos como o feminismo negro. Até os anos 80, se entendia que as distinções entre gênero e sexo eram universais e se considerava apenas a opressão dos homens sobre as mulheres. Mulheres negras não encontravam apoio nem no movimento feminista, nem nos movimentos negros. Interseccionalidades Estudos vão revelar diversas subcategorias: gênero, raça, classe social, sexualidade, religião, nacionalidade, etnicidade, idade, deficiências, etc. O termo cresce nos anos 2000, principalmente com estudos que revelaram que a mulher negra sofre mais com a violência e com a construção de uma identidade negativa (Crenshaw). Refere-se a uma dupla, tripla ou múltipla discriminação, sendo dois ou mais eixos que se entrecruzam nas relações sociais, gerando preconceito, discriminação e racismo. Busca-se os sistemas de opressões e de desempoderamento existentes na sociedade. Não há uma hierarquia das subcategorias. Subcategorias da interseccionalidade Historicamente, a mulher negra é quem mais sofre com violência,salários inferiores, informalidade no mercado de trabalho, falta de direitos e instabilidade no emprego. No Brasil, a noção de mucamas, mulata, mãe preta e doméstica revelam a interseccionalidade entre gênero e sexo. A voz da negra e do negro pouco aparece nos estudos sobre o racismo até o terceiro milênio, isso os deixou historicamente como membros infantilizados e dominados. O discurso dominante tenta apagar a memória e a história dos negros. O destaque à mulher negra se dá apenas no carnaval e acaba na quarta-feira de cinzas. A mulher negra É importante mostrar que as relações são dinâmicas e estão dentro de um contexto histórico, não há categorias fixas. Estudar a “diferença que faz diferença”, nem sempre religião ou classe social estão no jogo social. Busca-se os grupos vulneráveis à discriminação e à negação de acesso aos direitos humanos. Os problemas sociais afetam desproporcionalmente os subgrupos: jovens negros são maioria entre vítimas de violência policial, imigrantes latino-americanos e africanos são maioria entre trabalhadores em situação análoga à escravidão, etc. Saber quais as subcategorias existentes é fundamental para as medidas de reparação terem eficácia. Estudos sobre interseccionalidade Os estudos iniciais percebiam as intersecções como um sistema de repressão e os sujeitos eram passivos. Estudos recentes trazem os marcadores sociais da diferença como uma forma dos sujeitos construírem suas identidades de modo positivo e ativo – abordagem construcionista. Diferença e desigualdade são conceitos distintos e nem sempre a diferença leva à desigualdade no contexto histórico, cultural e social. A diferença pode remeter a igualitarismo, diversidade e democracia, gerando oportunidades. “Raça” remete à diferença, “racismo” à desigualdade. Pertencer à raça negra pode ser uma oportunidade de construção de identidade, depende da experiência vivida. Marcadores sociais da diferença Exemplos: brasileiras migrantes na Europa; homossexualidade e transgêneros (corporalidade); ascensão social; oportunidade de estudos. Os sujeitos discriminados percebem a diferença de formas variadas e existe um jogo de negação, negociação, desejo, oportunidade. A diferença é um instrumento de atuação na construção da identidade e na luta pela cidadania. Empoderamento da identidade do sujeito, luta contra a heteronormatividade. Marcadores sociais da diferença são dinâmicos e mutáveis no processo constante de construção da identidade. Abordagem construcionista I. Interseccionalidade revela o encontro de duas ou mais categorias de discriminação recaindo sobre um subgrupo social, mostra uma estrutura social repressiva. II. Marcadores sociais da diferença mostram que as diferenças sociais são oportunidade dos agentes de construírem uma identidade dentro de uma estrutura historicamente repressiva. Avalie as assertivas acima: a) Ambas são verdadeiras. b) Ambas são falsas. c) A primeira é verdadeira e a segunda é falsa. d) A primeira é falsa e a segunda é verdadeira. e) O conteúdo é verdadeiro, mas os conceitos estão invertidos. Interatividade I. Interseccionalidade revela o encontro de duas ou mais categorias de discriminação recaindo sobre um subgrupo social, mostra uma estrutura social repressiva. II. Marcadores sociais da diferença mostram que as diferenças sociais são oportunidade dos agentes de construírem uma identidade dentro de uma estrutura historicamente repressiva. Avalie as assertivas acima: a) Ambas são verdadeiras. b) Ambas são falsas. c) A primeira é verdadeira e a segunda é falsa. d) A primeira é falsa e a segunda é verdadeira. e) O conteúdo é verdadeiro, mas os conceitos estão invertidos. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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