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Do Crime de Peculato Peculato apropriação (art. 312, caput, 1ª parte) Peculato desvio (art. 312, caput, 2ª parte) Peculato furto (art. 312, § 1º) Peculato culposo (art. 312, § 2º) Peculato mediante erro de outrem – peculato estelionato (art. 313) Peculato eletrônico (arts. 313-A - Inserção de dados falsos em sistema de informações e 313-B - Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações). Os peculatos apropriação e desvio são chamados de peculato próprio. O peculato furto é chamado de peculato impróprio. Tanto o peculato próprio quanto o impróprio são hipóteses de crimes funcionais impróprios, pois ambos admitem a subsunção a outro tipo penal caso se retire a qualidade de funcionário público. Caso fossem praticados por uma pessoa que não é funcionário público, estas condutas iriam se incidir em outro tipo penal: o peculato próprio recairia na conduta da apropriação indébita (art.168 do CC) e o peculato passaria a ser crime de furto (art.155 CC). Peculato Próprio É dividido em peculato apropriação e peculato desvio, como os próprios verbos utilizados no texto da lei traduzem: Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena – reclusão, de dois a doze anos, e multa. Apropriar-se é se apoderar de algo que a pessoa já tem a posse. O desvio é quando uma coisa que deveria ser utilizada para finalidade X é desviada para a finalidade Y. A apropriação e desvio se dão em relação a um bem patrimonial (público ou particular). Entretanto, o proveito que o agente deseja obter não deve ser necessariamente patrimonial. A doutrina entende que esse proveito que advém do crime do peculato pode ser um proveito de outras ordens, como moral, sexual, prestigio... Esse é um crime de elevado potencial ofensivo, dada a sua pena. Por ser um crime funcional, á um crime próprio (não pode ser praticado por particular, a menos que esteja agindo em concurso de pessoa e conheça a condição de funcionário público do agente). Trata-se de um crime material, visto que se consuma quando o sujeito ativo se comporta como proprietário da coisa e obtém seu domínio. É um crime de ação penal pública incondicionada. Admite-se a tentativa. É um crime funcional impróprio. Peculato Impróprio Também chamado de peculato furto, a diferença para o peculato próprio é o agente não ter a posse do bem. Nesse caso, ele terá que subtraí-lo, mesmo verbo utilizado no crime de furto. § 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Para tal crime, é obrigatório que o agente venha a se valer de alguma facilidade que seu cargo lhe proporciona. As características desse crime são: é um crime funcional impróprio. É de ação penal pública incondicionada. Admite a tentativa. É um crime material, que se consuma com a efetiva subtração da coisa. Peculato de Uso A apropriação requerer um dolo de assenhoramento definitivo. Aqui, a pessoa teve a intenção de se apropriar da coisa temporariamente. Já tinha a posse, decidiu usá-lo e restituí-lo depois. Tem-se, assim, uma situação de peculato de uso, em que a pessoa se apropriou temporariamente de um bem público em proveito próprio. Funcionário público que utiliza bem que tem a posse em razão do cargo, para satisfazer, interesse pessoal e por tempo determinado, pratica o crime de peculato? Depende: Bem infungível (e não consumível): não haverá crime de peculato, mas consiste em ato de improbidade administrativa (art.9°, IV, lei 8429/92). Bem fungível (e consumível): configura peculato. Ex.: Um escrivão de polícia ou um técnico judiciário recebe uma fiança judicial de 2 mil, o mesmo valor que ele precisa para pagar uma conta pessoal. Ele decide usar esse dinheiro e, no dia seguinte, como irá receber seu salário, ele irá depositar o valor referente à fiança. Nessa situação, por se tratar de bem fungível e consumível, ainda que seja peculato de uso, se configura crime de peculato. (STF. HC 108433 AgR, julgado em 25/06/2013). Obs: em qualquer hipótese, o peculato de uso é crime se praticado por prefeito, pois há previsão legal especifica no art.1°, II, Dec. Lei n.201/67. Não configura crime de peculato Servidor público que recebe seus vencimentos sem prestar os devidos serviços não comete o crime de peculato. A conduta é atípica, uma vez que não há apropriação, desvio ou subtração. Fica sujeito, porém, a sanções por improbidade administrativa (STJ, RHC 60.601/SP, Dje 19/08/2016). Não configura crime de peculato servidor público que utiliza do trabalho (serviços) de outro servidor público em proveito próprio (STF. Inq 3776, julgado em 07/10/2014). Todavia, se o servidor público que se utilizou da mão de obra for Prefeito, cometerá o delito do art. 1º, II, do DL 201/67. Não pratica peculato o depositário judicial que vende os bens em seu poder, uma vez que não é funcionário público para fins penais. Ao depositário judicial é atribuído um munus, pelo juízo, em razão de bens que, litigiosos, ficam sob sua guarda e zelo. (STJ, HC 402949/SP, Dje 26/03/2018) Peculato Culposo § 2º Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano. Esse é um crime de menor potencial ofensivo e admite todas as medidas despenalizadoras da lei n.9.099/95. Nesse crime, o funcionário contribui, por meio de negligência, imprudência ou imperícia, para o crime de outrem, respondendo por peculato culposo. O crime pode ser qualquer um, não precisa ser outro peculato culposo. E “outrem” pode ser outro funcionário público ou um particular. Ex.: Um policial estaciona uma viatura com as portas abertas e a chave na ignição e sai para tomar um café, duvidando que alguém tivesse coragem de mexer em um carro da polícia. Porém um particular vê a cena e decide subtrair a viatura, indo embora com ela. Tem-se a prática de um crime de furto por parte do particular e de peculato culposo por parte do policial, pois devido a sua negligência a viatura foi subtraída. Reparação do dano no peculato culposo § 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Reparação do dano no peculato doloso Não se aplica os benefícios do 3°, mas traz outros: Se antes do recebimento da denúncia, será aplicada diminuição da pena de um a dois terços em razão do arrependimento posterior (art.16), desde que presente os requisitos. Se após o recebimento da denúncia, mas antes do julgamento, poderá ser aplicada ao réu a atenuante genérica prevista no art.65, III, b do CP. Se ocorrer após a sentença, mas antes do trânsito em julgado, poderá ser aplicada a atenuante genérica inominada do art.66 do CP. Se ocorrer após o trânsito em julgado será condicionante para progressão do regime (art.33, 4° do CP). Outras Observações Analogamente ao furto de uso, o peculato de uso também não configura ilícito penal, tão-somente administrativo." (HC 94.168, rel. Min. JANE SILVA (Des. Conv. do TJ-MG). O STF considerou atípica a conduta de “peculato de uso” de um veículo para a realização de deslocamentos por interesse particular (Info 712)
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