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32 Unidade II Unidade II 3 PADRONIZAÇÃO DAS NORMAS DE QUALIDADE Oliveira (2012) destaca que, em uma economia cada vez mais globalizada, caracterizada pela acirrada competitividade e por um ambiente altamente turbulento, a contínua busca da eficácia fez emergir nas empresas uma maior preocupação com a qualidade dos seus produtos em relação ao mercado consumidor. Ainda de acordo com o autor, é nesse cenário que as normas ISO 9000 têm sido objeto de atenção dos gestores. Diversos países reúnem-se em blocos econômicos para somar esforços e se ajudar mutuamente, de modo que possam competir com condições melhores nos mercados mundiais. As normas da série ISO 9000 surgiram como importante instrumento de referência para nivelamento dos sistemas produtivos de países integrantes de determinado bloco e para regular o intercâmbio de mercadorias e serviços entre bloco econômico/bloco econômico, bloco econômico/país ou país/país. 3.1 Conceito de padronização e padrões nas atividades das empresas De acordo com Silva (2017), a padronização é um elemento imprescindível para a garantia dos processos e da qualidade dos produtos. Já segundo Campos (2004 apud SILVA, 2017, p. 25), “nas empresas modernas do mundo, a padronização é considerada a mais fundamental das ferramentas gerenciais. Na qualidade total a padronização é a base para a rotina (gerenciamento da rotina do trabalho diário)”. Silva (2017) coloca que, para entender a importância da padronização, devemos analisar os seguintes aspectos: Padronização para o cliente Padronização para a empresa Padronização para os processos Figura 9 Adaptada de: Silva (2017). Vejamos o que significa cada um desses itens, segundo Silva (2017): • Padronização para o cliente: consiste em produtos fabricados exatamente iguais, principalmente produtos de consumo frequente ou até mesmo peças de reposição. Temos como exemplos os diferentes tamanhos de embalagens de leite ou biscoitos, interruptores e tomadas residenciais, 33 NORMAS DA QUALIDADE pneus, botijão de gás de cozinha e uma infinidade de outros produtos. Sabemos que, aos olhos do cliente, padronização é sinônimo de qualidade. Figura 10 Disponível em: https://cutt.ly/aOZ9g3h. Acesso em: 8 fev. 2022. • Padronização para a empresa: significa utilizar sempre a mesma quantidade de insumos, o mesmo número de horas-homem e horas-máquina, a mesma quantidade de embalagens etc. O mais importante é a garantia de que o produto sofra a menor variabilidade de processo possível. Figura 11 Disponível em: https://cutt.ly/NOZ9OfR. Acesso em: 8 fev. 2022. • Padronização para o processo: significa garantir que um colaborador utilizará sempre a mesma rotina para montar/fabricar um produto. Isso reduz consideravelmente as falhas do processo, além de facilitar a rastreabilidade de algum desvio, caso ocorra. 34 Unidade II Figura 12 Disponível em: https://cutt.ly/vOZ3qX5. Acesso em: 8 fev. 2022. Assim, a padronização é uma maneira de descrever como as atividades/rotinas devem ser executadas de uma forma simples e eficaz. Um exemplo que podemos citar sobre a falta de padronização é o caso da indústria de confecção brasileira, cujos tamanhos de referência (P, M e G) sofrem uma variação enorme. Para que isso não ocorra, determinada empresa pode adotar a padronização de seus processos como forma de se tornar mais competitiva em relação à concorrência. Mas qual é a diferença entre padronização e normalização? Na verdade, padronização consiste no processo de desenvolvimento e implementação de normas técnicas. Assim, a padronização tem como objetivo definir especificações técnicas que auxiliem na maximização, compatibilidade, reprodutibilidade, segurança ou qualidade de determinado processo, produto ou serviço. A definição da normalização, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, s.d.c), consiste em: Atividade que estabelece, em relação a problemas existentes ou potenciais, prescrições destinadas à utilização comum e repetitiva com vistas à obtenção do grau ótimo de ordem em um dado contexto. Consiste, em particular, na elaboração, difusão e implementação das Normas. A normalização é, assim, o processo de formulação e aplicação de regras para a solução ou prevenção de problemas, com a cooperação de todos os interessados, e, em particular, para a promoção da economia global. No estabelecimento dessas regras recorre-se à tecnologia como o instrumento para estabelecer, de forma objetiva e neutra, as condições que possibilitem que o produto, projeto, processo, sistema, pessoa, bem ou serviço atendam às finalidades a que se destinam, sem se esquecer dos aspectos de segurança. Norma é o documento 35 NORMAS DA QUALIDADE estabelecido por consenso e aprovado por um organismo reconhecido, que fornece regras, diretrizes ou características mínimas para atividades ou para seus resultados, visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto. A norma é, por princípio, de uso voluntário, mas quase sempre é usada por representar o consenso sobre o estado da arte de determinado assunto, obtido entre especialistas das partes interessadas. Observação Padronização: técnica que busca a redução de variabilidade nos processos, descrevendo suas atividades sequencialmente para auxiliar em sua execução. Oliveira (2012) enfatiza que essas normas são acordos feitos entre duas partes (fornecedor e cliente) e possuem o papel fundamental de definir sob quais condições mínimas de gestão os produtos e serviços devem ser produzidos e comercializados, de maneira a se garantir sua padronização e, consequentemente, levar garantias de qualidade para os clientes. Já a ABNT (s.d.c) coloca que o objetivo da normalização é o estabelecimento de soluções, por consenso das partes interessadas, para assuntos que têm caráter repetitivo, tornando-se uma ferramenta poderosa na autodisciplina dos agentes ativos dos mercados ao simplificar os assuntos e evidenciar ao legislador se é necessária regulamentação específica em matérias não cobertas por normas. Qualquer norma é considerada uma referência idônea do mercado a que se destina, sendo por isso usada em processos de regulamentação, de acreditação, de certificação, de metrologia, de informação técnica e nas relações comerciais cliente-fornecedor. Lembrete ABNT é a sigla para Associação Brasileira de Normas Técnicas. 4 NORMALIZAÇÃO COMO DIFERENCIAL COMPETITIVO 4.1 Objetivos da normalização Segundo Oliveira (2014, p. 94 apud SILVA, 2017), a normalização “é a atividade que estabelece, em relação a situações existentes ou potenciais, recomendações destinadas à atualização comum e repetitiva com objetivo de obtenção do grau ótimo em um dado contexto”. Silva (2017) nos diz que a normalização faz parte das atividades diárias empresariais ou pessoais. As normas asseguram as características desejáveis de produtos e serviços, como qualidade, segurança, confiabilidade, eficiência, intercambialidade, bem como respeito ambiental – e tudo isso a um custo econômico. 36 Unidade II Os objetivos da normalização podem ser vistos na figura a seguir: Objetivos da normalização Intercambialidade Segurança Eliminação de barreiras técnicas e comerciais Comunicação Compatibilidade Proteção do meio ambiente Proteção do produto Controle da variedade Figura 13 Disponível em: https://bit.ly/3vSrX3e. Acesso em: 8 fev. 2022. Segundo Oliveira (2012), os objetivos têm como finalidade: • Economia: proporcionar a redução da crescente variedade de produtos e procedimentos. • Comunicação: proporcionar meios mais eficientes na troca de informação entre o fabricante e o cliente, melhorando a confiabilidade das relações comerciais e de serviços. • Segurança: proteger a vida humana e a saúde. • Proteção ao consumidor: prover a sociedade de meios eficazes para aferir qualidade aos produtos. • Eliminação de barreiras técnicas e comerciais: evitar a existência de regulamentos conflitantes sobreprodutos e serviços em diferentes países, facilitando, assim, o intercâmbio comercial. Em relação às barreiras técnicas, vale destacar que são barreiras comerciais derivadas da utilização de normas ou regulamentos técnicos não transparentes ou não embasados em normas internacionalmente aceitas ou, ainda, decorrentes da adoção de procedimentos de avaliação da conformidade não transparentes e/ou demasiadamente dispendiosos, bem como de inspeções excessivamente rigorosas. 37 NORMAS DA QUALIDADE Observação De acordo com o Dicionário Informal, intercambialidade é a característica de montagem, encaixe ou substituição entre dois ou mais componentes interligados ou que interajam e que não dependam de ajustes na eventual substituição de um ou mais destes para que a função do substituído ou dos substituídos seja plena (INTERCAMBIALIDADE, 2022). Assim, conforme Silva (2017), cabe a cada empresa avaliar se esses objetivos realmente são diferenciais para seu negócio e, com base nisso, desenvolver alternativas para alcançar o maior número deles. No quadro a seguir, Marshall Junior (2012) também destaca esses objetivos da normalização, segundo a ABNT. Quadro 3 – Objetivos da normalização Objetivo Significado Economia Proporcionar a redução da crescente variedade de produtos e procedimentos Comunicação Proporcionar meios mais eficientes de troca de informações entre o fabricante e o cliente, melhorando a confiabilidade das relações comerciais Segurança Proteger a vida e a saúde Proteção ao consumidor Prover a sociedade de meios eficazes para aferir a qualidade dos bens e serviços Eliminação de barreiras técnicas e comerciais Evitar a existência de regulamentos conflitantes sobre bens e serviços em diferentes países, facilitando, assim, o intercâmbio comercial Adaptado de: Marshall Junior (2012, p. 103). Como enfatiza Marshall Junior (2012), na prática, a normalização está presente na elaboração dos produtos (bens ou serviços), na transferência de tecnologia e na melhoria da qualidade de vida por meio de normas relativas à saúde, à segurança e à preservação do meio ambiente, entre muitas outras. Saiba mais Pesquise sobre o Comitê de Coordenação sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (GATT), que foi criado pela Resolução Conmetro n. 3, de 14 de abril de 1983, com a missão de coordenar as ações do Governo e do setor privado relacionadas com a participação do Brasil no Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio da Organização Mundial do Comércio (OMC) em: INMETRO. Acordo sobre barreiras técnicas ao comércio. Rio de Janeiro, [s.d.]b. Disponível em: https://cutt.ly/UOCP9sj. Acesso em: 8 fev. 2022. 38 Unidade II Colaborando com a definição do termo, Paladini e Carvalho (2012) colocam que norma é um documento estabelecido por consenso e aprovado por um organismo reconhecido, que fornece, para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características, para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto, conforme define o Guia ISO/IEC 2 da ABNT e do Sebrae de 2012. Ainda de acordo com Paladini e Carvalho (2012), as normas podem ser internacionais (normas ISO), regionais (por exemplo, Mercosul), nacionais (por exemplo, ABNT) etc. Entendemos por nível de normalização, segundo a ABNT (s.d.c), o alcance geográfico, político ou econômico de envolvimento na normalização, que pode ser realizado no âmbito de: • um país específico – denominada normalização nacional; • uma única região geográfica, econômica ou política do mundo – denominada normalização regional; • vários países do mundo – denominada normalização internacional. De forma sistematizada, a normalização é executada por organismos que contam com a participação das partes interessadas no assunto objeto da normalização e que têm como principal função a elaboração, aprovação e divulgação de normas. Os níveis da normalização costumam ser representados por uma pirâmide, conforme a figura a seguir, que tem em sua base a normalização empresarial, seguida da nacional e da regional, ficando no topo a normalização internacional: Internacional ISO/IEC/ITU Regional/sub-regional COPANT/AMN/CEN Nacional ABNT/AFNOR/AENOR Associação ASTM/API Empresarial Figura 14 – Níveis de normalização Adaptada de: https://bit.ly/3sVY6VL. Acesso em: 8 fev. 2022. Conforme destaca Silva (2017), podemos observar que as normas mais abrangentes estão na base da pirâmide, porque dependem de as empresas se adequarem aos poucos, o que inclui políticas e diretrizes 39 NORMAS DA QUALIDADE que regem uma organização, visando atender aos clientes, aos requisitos legais e ao bem-estar de seus funcionários. Geralmente essas normas são internas e não se estendem às partes interessadas da empresa, exceto em casos de normas empresariais para compras de insumos ou contratação de serviços. Segundo Silva (2017), passada essa etapa, uma empresa pode avançar e seguir as regras das associações do segmento de seu produto. Essas normas farão com que a uniformização da produção de certos itens seja mais intensa, trazendo benefícios a todos, mas ainda de certa forma regionalizada ou restrita a determinado segmento. Na próxima etapa, a organização pode buscar conhecer as normas nacionais, nas quais o escopo é mais restrito e envolve grupo de empresas, governos, associações de classe e instituições de ensino técnico e científico. De acordo com o site da ABNT (s.d.c), essa pirâmide poderia conter outros níveis de normalização situados entre o empresarial e o nacional, que seriam: a) O das Normas Setoriais ou de Associações, compostas por entidades de classe, representativas de setores produtivos, que são válidas para o conjunto de empresas a elas associadas. As normas do American Petroleum Institute (API) são um exemplo clássico. b) O dos grupos de empresas que formam consórcios que elaboram normas para determinados empreendimentos. Nível internacional: normas técnicas de abrangência mundial, estabelecidas por uma Organização Internacional de Normalização. São aceitas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) como a base para o comércio internacional. Nível regional: normas técnicas estabelecidas por uma Organização Regional ou Sub-regional de Normalização, para aplicação em um conjunto de países de uma região, como a Europa ou o Mercosul. São denominadas Normas Regionais e aplicáveis ao conjunto de países representados na Organização Regional. Exemplo: Normas da Associação Mercosul de Normalização (AMN)ou Comitê Europeu de Normalização (CEN). Embora assim considerada, a Associação Mercosul de Normalização (AMN) não é uma organização regional de normalização, pois o seu âmbito é o de um bloco econômico. Ela é uma associação civil reconhecida como foro responsável pela gestão da normalização voluntária do Mercosul, sendo composta atualmente pelos organismos nacionais de normalização dos quatro países membros, que são IRAM (Argentina), ABNT (Brasil), 40 Unidade II INTN (Paraguai) e UNIT (Uruguai). As normas elaboradas nesse âmbito são identificadas com a sigla NM. Nível nacional: normas elaboradas pelas partes interessadas (governo, indústrias, consumidores e comunidade científica de um país) e emitidas por um Organismo Nacional de Normalização, reconhecido como autoridade para torná-las públicas. Aplicam-se ao mercado de um país e, frequentemente, são reconhecidas pelo seu ordenamento jurídico como a referência para as transações comerciais. Normalmente são voluntárias, isto é, cabe aos agentes econômicos decidirem se as usam ou não como referência técnica para uma transação. Exemplo: Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) ou Associação Alemã de Normas Técnicas (DIN). Nível empresarial: normas elaboradas por uma empresa ou grupo de empresas com a finalidade de orientar as compras, a fabricação, as vendas e outras operações. Exemplo: Normas Petrobras ou procedimentos de gestão da qualidade. Nível de associação:normas desenvolvidas no âmbito de entidades associativas e técnicas para o uso de seus associados. Mas, também, chegam a ser utilizadas de forma mais ampla, podendo se tornar referências importantes no comércio em geral. Exemplo: American Society for Testing and Materials (ASTM). Considerando que as normas nacionais refletem o consenso em um determinado país e são baseadas na experiência acumulada por aquela sociedade, nem sempre o que é ótimo para uma nação é adequado a outra. Nesse sentido, Paladini e Carvalho (2012) destacam que, em 1947, foi estabelecido o Fórum Internacional de Normalização. Lá, os organismos de normalização dos países interessados na normalização internacional estabelecem normas de comum acordo para facilitar o diálogo entre os povos, o comércio internacional e o avanço da ciência e tecnologia. Os autores enfatizam que esse organismo internacional de normalização, com sede em Genebra, Suíça, constituído por 162 países (em 31 de dezembro de 2009), é uma organização não governamental denominada International Organization for Standardization (ISO). No quadro a seguir, podemos observar os princípios da normalização internacional: 41 NORMAS DA QUALIDADE Quadro 4 – Princípios da normalização Princípios Significado Igualdade de direitos dos membros Qualquer membro da ISO tem direito a participar de quaisquer comitês técnicos que desenvolvam normas que julgar de interesse para seu país. Cada país tem direito a um voto independentemente do tamanho e riqueza de sua economia Normas voluntárias, todas as normas Todas as normas desenvolvidas pela ISO são de caráter voluntário e adotadas pelas empresas e nações apenas se desejarem Direcionamento ao mercado A ISO só desenvolve normas quando há interesse do mercado. São reunidos especialistas e representantes de agências governamentais e da academia, dos consumidores e de laboratórios para a elaboração das normas Adaptado de: Paladini e Carvalho (2012, p. 159). As normas ISO são desenvolvidas a partir do consenso das partes envolvidas, o que resulta, apesar do caráter voluntário, em uma enorme penetração no mercado mundial. Por último, Paladini e Carvalho (2012) apontam que as normas ISO se constituem como um acordo técnico que dá a base para uma tecnologia compatível internacionalmente. Diante do exposto, podemos observar a importância da padronização das normas da qualidade e sua relevância para as organizações quando da sua utilização. Conforme destaca Oliveira (2012), geralmente, quando os produtos e serviços atendem às nossas expectativas, tendemos a tomar isso certo e a não ter consciência do papel das normas. No entanto, quando os produtos são de má qualidade, nos damos conta da importância delas. Por outro lado, Lobo e Silva (2015) destacam que a padronização busca criar padrões e modelos bem definidos para diminuir as variações dos processos produtivos, ou seja, padronizar é elaborar documentos descrevendo a forma que uma atividade, processo, tarefa ou função precisa ser executada e implantada na empresa. Segundo os autores, com a padronização, conseguimos produzir um produto, da mesma forma, em uma fábrica no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Também garantimos que, ao produzir 10 mil unidades, por exemplo, todas serão feitas da mesma maneira. Um bom exemplo são as montadoras de veículos, que produzem milhares de unidades de um mesmo modelo, sempre da mesma forma e todos iguais. A padronização traz vários benefícios, entre eles: • produção uniforme; • redução do consumo de materiais e insumos; • melhoria da qualidade; 42 Unidade II • aumento da produtividade; • redução dos desperdícios; • controle de processos. Você sabe como se dá o processo de elaboração de normas? Imagino que não, portanto, vamos conhecer esse processo. Segundo a ABNT (s.d.a.), a elaboração de um Documento Técnico ABNT é iniciada a partir de uma demanda, que pode ser apresentada por qualquer pessoa, empresa, entidade ou organismo regulamentador que esteja envolvida com o assunto a ser normalizado. A demanda é analisada pela ABNT e, sendo viável, o assunto é levado ao Comitê Técnico correspondente para inserção em seu Programa de Normalização Setorial (PNS). Caso não exista Comitê Técnico relacionado ao assunto, a ABNT propõe a criação de um novo Comitê Técnico, que pode ser um Comitê Brasileiro (ABNT/CB), um Organismo de Normalização Setorial (ABNT/ONS) ou uma Comissão de Estudo Especial (ABNT/CEE). Nesse momento, o assunto é discutido amplamente pelas Comissões de Estudo, com a participação aberta a qualquer interessado, independentemente de ser ou não associado à ABNT, até atingir consenso, gerando então um Projeto de Norma. O Projeto de Norma passa por uma editoração antes de ser submetido à Consulta Nacional pela ABNT e recebe a sigla ABNT NBR e seu respectivo número. O passo seguinte é submeter o Projeto de Norma à Consulta Nacional, a qual ocorrer com ampla divulgação, dando assim oportunidade a todas as partes interessadas para examiná-lo e emitir suas considerações. Conforme consta na página da ABNT, a Consulta Nacional é realizada pela internet, podendo ser acessada no link http://www.abnt.org.br/consultanacional. Outro ponto importante a ser destacado consiste na publicação, no Diário Oficial da União (DOU), da relação dos Projetos de Normas em Consulta Nacional. Durante a Consulta Nacional, qualquer pessoa ou entidade pode enviar comentários e sugestões. Todos os comentários são analisados e respondidos pela Comissão de Estudo responsável, que realiza reunião para análise das considerações recebidas. Todos os interessados que se manifestaram durante o processo de Consulta Nacional são convidados a participar desta reunião, a fim de deliberarem, por consenso, se este Projeto de Norma deve ser aprovado como Documento Técnico ABNT. Por fim, as sugestões aceitas são consolidadas no Projeto de Norma, que é homologado e publicado pela ABNT como Documento Técnico ABNT. A relação das Normas Brasileiras em vigor está disponível para consulta no ABNT Catálogo (http://www.abntcatalogo.com.br/). Para um melhor entendimento, observe o fluxo descrito anteriormente, destacado na figura a seguir: 43 NORMAS DA QUALIDADE OK? NORMA Demanda Programa de Normalização Setorial (PNS) Elaboração do projeto de norma Consulta Nacional Análise do resultado da Consulta Nacional Sim N ão Figura 15 Disponível em: https://cutt.ly/AOCMxyh. Acesso em: 8 fev. 2022. Saiba mais Acesse o site da ABNT para ficar por dentro dos níveis de normalização e saber mais sobre como elaborar normas: www.abnt.org.br 4.2 Benefícios da padronização Oliveira (2012) destaca que quando produtos, sistemas, máquinas e dispositivos trabalham bem e com segurança, quase sempre é porque eles atendem às normas. Segundo a ABNT (s.d.c), as normas têm uma contribuição enorme e positiva para a maioria dos aspectos de nossas vidas, trazendo vários benefícios quando são utilizadas de acordo com as regras previstas pelos órgãos que as regulam. Vamos destacar os benefícios da normalização, que podem ser: Qualitativos Quantitativos Figura 16 44 Unidade II Os benefícios qualitativos são aqueles que permitem utilizar adequadamente os recursos, como equipamentos, materiais e mão de obra; uniformizar a produção; facilitar o treinamento da mão de obra, melhorando seu nível técnico; registrar o conhecimento tecnológico e facilitar a contratação ou venda de tecnologia. Por outro lado, os benefícios quantitativos permitem reduzir o consumo de materiais e o desperdício, padronizar componentes e equipamentos, reduzir a variedade de produtos, fornecer procedimentos para cálculos e projetos, aumentar a produtividade, melhorar a qualidade e controlar processos. Vejamos alguns exemplos de benefícios. A padronização das roscas de parafusos, por exemplo, ajuda a fixar cadeiras, bicicletas para crianças e aeronaves, bem como resolve os problemas, para os fabricantes e usuáriosde produtos de reparo e manutenção, causados pela falta de padronização. Figura 17 Disponível em: https://cutt.ly/4OC0XM2. Acesso em: 8 fev. 2022. Agora, imagine, quantos problemas e desperdícios são evitados com a padronização desses produtos, que são produzidos em larga escala. As normas que estabelecem um consenso internacional em terminologia tornam a transferência de tecnologia mais fácil e segura. Elas são uma etapa importante no avanço de novas tecnologias e na difusão da inovação. O uso da terminologia adequada facilita o acesso a produtos e serviços de forma mais fácil; o entendimento será o mesmo em qualquer lugar. 45 NORMAS DA QUALIDADE Figura 18 Disponível em: https://cutt.ly/NOC2u6y. Acesso em: 8 fev. 2022. Com a advento da globalização, a padronização da terminologia é fundamental para que os gestores corporativos possam tomar a decisão adequada quando do investimento em novas tecnologias e soluções inovadoras para o seu negócio. Sem as dimensões padronizadas de contêineres de carga, por exemplo, o comércio internacional seria mais lento e mais caro. As dimensões padronizadas facilitam a cotação de preços nos procedimentos para utilização dos diferentes modais de transporte utilizados no mercado internacional, como navios, aeronaves, caminhões etc. Dessa forma, é de extrema importância que os gestores que atuam na área de comércio exterior e logística tenham conhecimento das normas que regulam tais procedimentos. Figura 19 Disponível em: https://cutt.ly/BOC2BG3. Acesso em: 8 fev. 2022. 46 Unidade II Sem a normalização de telefones e de cartões bancários, a vida seria mais complicada. Observe que a padronização desses serviços segue uma mesma dinâmica pelas empresas ofertantes. Podemos verificar no caso dos cartões bancários, de crédito, débito etc. que as características do produto seguem uma mesma normalização, o que diferencia é a bandeira da empresa. Figura 20 Disponível em: https://cutt.ly/uOC3sis. Acesso em: 8 fev. 2022. Nesse sentido, a falta de normalização pode até afetar a própria qualidade de vida de pessoas com deficiência, por exemplo, quando são barradas no acesso a produtos de consumo, transportes e edifícios públicos se as dimensões das cadeiras de rodas e as entradas não forem padronizadas. Figura 21 Disponível em: https://cutt.ly/WOC3068. Acesso em: 8 fev. 2022. 47 NORMAS DA QUALIDADE Essa é uma preocupação nas construções públicas e privadas, que devem observar as normas de acessibilidade nos projetos arquitetônicos. A questão da acessibilidade é muito importante na elaboração de projetos para a execução de obras e serviços de engenharia. É regida por norma específica, que deve ser observada por empresas privadas e públicas na contratação e elaboração dos projetos básicos e executivo, do memorial descrito e de outros documentos relativos à contratação. Vejamos outros exemplos. Símbolos normalizados fornecem avisos de perigo e informações através das fronteiras linguísticas. Você pode observar a aplicação dessa normalização nos locais em que frequenta, como empresas, repartições públicas, escolas, clubes, transporte etc. Figura 22 Disponível em: https://cutt.ly/wOC7myU. Acesso em: 8 fev. 2022. O consenso sobre os graus de diferentes materiais permite uma referência comum para fornecedores e clientes nos negócios. Nesse aspecto fica mais fácil a elaboração de projetos, cotações de preços para aquisição de materiais e contratação de serviços. Um acordo sobre um número suficiente de variações de um produto para atender às aplicações mais atuais permite economias de escala com benefícios no custo para produtores e consumidores. Um exemplo é a padronização dos tamanhos de papel. Observação Economia de escala é aquela em que o processo produtivo é organizado de maneira que se alcance a máxima utilização dos fatores produtivos envolvidos no processo, procurando como resultado os baixos custos de produção e o incremento de bens e serviços. 48 Unidade II A normalização dos requisitos de desempenho ou de segurança de equipamentos garante que as necessidades dos usuários serão atendidas, ao mesmo tempo em que permite que fabricantes, individualmente, tenham a liberdade de projetar suas próprias soluções sobre como atender a essas necessidades. Podemos citar como exemplo os requisitos de desempenho de um celular: independentemente de marca, modelo etc., o produto deve atender aos requisitos dos clientes. Figura 23 Disponível em: https://cutt.ly/POVRKaO. Acesso em: 8 fev. 2022. Dessa forma, os fabricantes deverão observar as normas sobre o assunto, evitando, assim, a não conformidade dos seus produtos. Outro item importante trata dos protocolos de computador normalizados, que permitem que os produtos de diferentes fornecedores “conversem” entre si. Figura 24 Disponível em: https://cutt.ly/UOVTu4V. Acesso em: 8 fev. 2022. 49 NORMAS DA QUALIDADE Essa é uma variável importante na decisão de compra pelo consumidor, seja individual ou corporativo. Documentos normalizados aceleram o trânsito de mercadorias ou identificam as cargas sensíveis ou perigosas que podem ser manuseadas por pessoas que falam línguas diferentes. Podemos citar como exemplo os documentos apresentados nas importações e exportações, cujas informações devem ser claras e objetivas e são conhecidas pelas pessoas que atuam na área de comércio internacional, em qualquer país. A padronização de conexões e interfaces de todos os tipos assegura a compatibilidade dos equipamentos de origens diversas e a interoperabilidade de diferentes tecnologias. Observação Interoperabilidade é a capacidade de um sistema (informatizado ou não) de se comunicar de forma transparente (ou o mais próximo disso) com outro sistema (semelhante ou não). Um acordo sobre métodos de ensaio permite comparações significativas de produtos ou desempenha um papel importante no controle da poluição por ruído, vibração ou emissões de poluentes. Figura 25 Disponível em: https://cutt.ly/zOVTQVx. Acesso em: 8 fev. 2022. As normas de segurança para máquinas protegem as pessoas no trabalho, no lazer, no mar e até mesmo no dentista. 50 Unidade II Figura 26 Disponível em: https://cutt.ly/nOVTFl8. Acesso em: 8 fev. 2022. Sem o acordo internacional contido nas normas técnicas sobre grandezas e unidades métricas, as compras e o comércio seriam puro acaso, a ciência não seria científica e o desenvolvimento tecnológico seria deficiente. Figura 27 Disponível em: https://cutt.ly/tOVT6E1. Acesso em: 8 fev. 2022. Vamos falar um pouco mais sobre a importância da metrologia no processo de normalização mais à frente. Vimos, até o momento, a importância da padronização das normas da qualidade e os benefícios oriundos da sua utilização. Verificaremos a seguir quem são os beneficiários nesse processo. 51 NORMAS DA QUALIDADE 4.3 Beneficiários da padronização São vários os beneficiários da normalização, pois, ao adquirir um produto ou serviço, o consumidor deseja que os requisitos do produto sejam atendidos de acordo com a sua expectativa. Segundo a ABNT (s.d.b), para as empresas, a adoção de normas significa que os fornecedores podem desenvolver e oferecer produtos e serviços que atendam às especificações que tenham ampla aceitação em seus setores. Empresas que utilizam normas internacionais podem competir em muito mais mercados ao redor do mundo. Da mesma forma, para os inovadores de novas tecnologias, as normas sobre aspectos como terminologia, compatibilidade e segurança aceleram a disseminação das inovações e seu desenvolvimento em produtos possíveis de serem fabricados e negociados. Para os clientes, a compatibilidade da tecnologia em todo o mundo, que é atingida quando produtos e serviços são baseados em normas, fornece aos clientes uma gama de ofertas. Eles também se beneficiam dos efeitos da concorrência entre fornecedores. Outro segmento importante é o governo. Nesse caso, as normas proporcionam as basestecnológicas e científicas que sustentam a saúde, a segurança e a legislação ambiental. Para o comércio internacional, as normas internacionais criam uma “igualdade” para todos os concorrentes nesses mercados. A existência de normas nacionais ou regionais divergentes pode criar barreiras técnicas ao comércio. As normas internacionais são os recursos técnicos pelos quais a política de acordos comerciais pode ser colocada em prática. Para um melhor entendimento, podemos considerar o comércio internacional a relação comercial do Brasil com o resto do mundo, a qual engloba as exportações e as importações. Figura 28 Disponível em: https://cutt.ly/MOVUxwm. Acesso em: 8 fev. 2022. Para os países em desenvolvimento, as normas internacionais que representam um consenso internacional sobre o estado da arte são uma fonte importante de know-how tecnológico. Ao definir as 52 Unidade II características dos produtos e serviços esperados para atender aos mercados de exportação, as normas internacionais fornecem aos países em desenvolvimento uma base para tomar as decisões certas ao investir seus escassos recursos e, assim, evitar desperdícios. Para os consumidores, a conformidade dos produtos e serviços de acordo com as normas oferece garantias sobre sua qualidade, segurança e confiabilidade. Atualmente, os consumidores estão cientes dos seus direitos em relação ao cumprimento das especificações dos produtos e serviços adquiridos, sendo necessário que as empresas sigam as normas de forma a não perder mercado. Para qualquer pessoa, as normas contribuem para a qualidade de vida, em geral, assegurando que o transporte, máquinas e ferramentas utilizados sejam seguros. Figura 29 Disponível em: https://cutt.ly/EOVPj0u. Acesso em: 8 fev. 2022. Para o planeta em que habitamos, as normas sobre a qualidade do ar, da água e dos solos, sobre as emissões de gases e de radiação e sobre os aspectos ambientais de produtos, podem contribuir para os esforços em preservar o meio ambiente. A não observância das normas pertinentes às questões ambientais pode ocasionar grandes danos à população, bem como prejuízos à empresa com os custos da não qualidade. Figura 30 Disponível em: https://cutt.ly/COVPEX0. Acesso em: 8 fev. 2022. 53 NORMAS DA QUALIDADE Como vimos, a normalização está presente na fabricação dos produtos, transferência de tecnologia e melhoria da qualidade de vida por intermédio de normas relativas à saúde, à segurança e à preservação do meio ambiente. No entanto, é importante salientar que a normalização possui relação direta com o grau de desenvolvimento da qualidade em determinado segmento produtivo, ou seja: quanto mais abrangente, estruturado e eficaz for o sistema de normalização, mais ele pode apoiar o desenvolvimento da qualidade em determinado setor, pela exigência de padrões mínimos de projeto, execução e avaliação durante o desenvolvimento e uso de produtos e serviços, deixando para empresas e profissionais capacitados as decisões que estariam acima do padrão mínimo de qualidade estabelecido por normas. Nesse sentido, a importância do conhecimento na aplicação das normas requer das empresas investimentos em profissionais especializados. Exemplo de aplicação Faça uma pesquisa na internet e verifique quais os países ou blocos econômicos que exigem a padronização dos produtos brasileiros. Como comentamos antes, vamos falar sobre a contribuição da metrologia para a normalização. 4.4 Contribuição da metrologia para a normalização Você sabe o que é metrologia? Muito bem, vamos falar sobre esse assunto e a contribuição da metrologia para a normalização. O objetivo da metrologia é prover confiabilidade, credibilidade, universalidade e qualidade às medições, o que é fundamental em processos industriais. Medições confiáveis dependem de um sistema de metrologia nacional organizado, para que possa prover os meios para a transferência de seus valores para instrumentos de medição usados tanto na indústria como no comércio e na área de pesquisa, de acordo com procedimentos aceitos internacionalmente. Silva (2017) coloca que, nas empresas, a metrologia é entendida como a ciência que auxilia uma organização na manutenção de produtos dentro de padrões estabelecidos previamente, o que, para o mercado, significa confiabilidade. Nesse sentido, as empresas podem colocar no mercado produtos que obedecem a padrões que podem ser mensurados e rastreados. Observação Você já reparou que quando adquire um produto – uma geladeira, por exemplo – há uma etiqueta com as informações de eficiência energética do produto, e o consumidor, ao adquirir o produto, poderá escolher aquele que está certificado pelo Inmetro? 54 Unidade II Para ampliar um pouco mais a sua visão sobre o que é metrologia, vamos observar o que diz o Inmetro, conforme destacado por Silva (2017, p. 157): A metrologia é a ciência que abrange todos os aspectos teóricos e práticos relativos às medidas, qualquer que seja a incerteza em qualquer campo da ciência ou tecnologia. Nesse sentido a metrologia científica e industrial é uma ferramenta fundamental no crescimento e inovação tecnológica, provendo a competitividade e criando um ambiente favorável ao desenvolvimento científico, industrial em todo e qualquer país. De acordo com Silva (2017), a metrologia está dividida em três grandes áreas, sendo: Metrologia científica Metrologia legal Metrologia industrial Figura 31 A seguir, temos a definição de cada uma delas, conforme Silva (2017, p. 157). A metrologia científica atua no desenvolvimento e na validação de novas unidades e nos respectivos instrumentos de medição, necessários à aplicação de novas tecnologias, tais como nanotecnologia, biotecnologia e química fina. Figura 32 Disponível em: https://cutt.ly/XOVXKBO. Acesso em: 8 fev. 2022. 55 NORMAS DA QUALIDADE Vejamos o que diz o Inmetro (2020a) a respeito da metrologia científica: A metrologia científica é fundamental na garantia da confiabilidade dos resultados de medições, por meio do estabelecimento da cadeia de rastreabilidade, no crescimento industrial e na inovação tecnológica, que devem ser construídos sobre uma base de medição confiável para promover a competitividade e criar um ambiente favorável ao desenvolvimento e soberania nacional. Quanto à metrologia legal, ela atua no controle e na fiscalização dos instrumentos e procedimentos de medição utilizados em estabelecimentos que atendem ao consumidor final. Por exemplo: controle de balanças e medidores de comprimento utilizados em estabelecimentos comerciais, taxímetros, medidores de volume em bombas de gasolina entre outros. Figura 33 Disponível em: https://cutt.ly/ROVCnmr. Acesso em: 8 fev. 2022. Em relação à metrologia legal, no Brasil, é atribuição legal do Inmetro regulamentar, controlar e supervisionar a produção, comercialização e uso de instrumentos de medição e produtos pré-embalados. O Inmetro (2020b), através de suas ações em metrologia legal, criou um ambiente de estímulo à competitividade industrial e amplo exercício dos direitos de cidadania da seguinte forma: – Ao aprovar o modelo dos instrumentos de medição em uso no País, verificar e fiscalizar seu desempenho, o Inmetro proporciona a justa medição que a sociedade necessita. – Supervisionando a quantidade nos produtos pré-embalados, o Inmetro provê segurança a cidadãos e empresas em relações de consumo. – Ao regulamentar as unidades de medida em vigor no País, o Inmetro provê a cadeia de rastreabilidade para produtos, serviços e instrumentos de medição. 56 Unidade II Lembrete Inmetro é a sigla para Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Esse órgão é uma autarquia federal, vinculada à Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, do Ministério da Economia. Por sua vez, a metrologia industrial foca no controle e na avaliação dos sistemas de medição, os quais são utilizados para controlar processos produtivos industriaise avaliar a qualidade de insumos, produtos em processo e produtos acabados. Por exemplo: a calibração de instrumentos de medição, medição e inspeções de produto acabado, controle de instrumentos de laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, entre outros. Figura 34 Disponível em: https://cutt.ly/sOVVLJ6. Acesso em: 8 fev. 2022. Lu (2020), por sua vez, coloca que as características metrológicas são as propriedades que influenciam no processo de medição. A NBR 9000:2015 define características metrológicas como a propriedade distinta que pode influenciar nos resultados de medição. Os equipamentos de medição normalmente apresentam várias características metrológicas, e estas podem estar sujeitas a aferição (LU, 2020, p. 46). Segundo Lu (2020), são características metrológicas: 57 NORMAS DA QUALIDADE Exatidão Resolução Fidelidade Repetitividade Rapidez de resposta Neutralidade Característica que o instrumento de medição apresenta para indicar o valor de grandeza medido Característica que define o grau de precisão do instrumento de medição Característica que indica a condição de medir isenta de erros Característica que indica a possibilidade de o instrumento de medição repetir as medições Característica do instrumento de medição em indicar o valor medido em relação ao tempo Característica do instrumento de medição para não alterar o valor da grandeza de medir Figura 35 Adaptada de: Lu (2020, p. 46). Segundo Lu (2020), consideram-se equipamentos de medição os instrumentos, equipamentos de ensaio, programas computacionais específicos (software) e dispositivos auxiliares necessários para a realização do processo de medição. Como exemplo, temos o equipamento de medição de pressão arterial, utilizado na área médica. Figura 36 Disponível em: https://cutt.ly/COVBmdQ. Acesso em: 8 fev. 2022. Saiba mais Conheça os produtos, cartilhas e demais informações disponibilizadas no site do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro): Disponível em: https://www.gov.br/inmetro/pt-br. Acesso em: 16 jun. 2021. 58 Unidade II Resumo Nesta unidade, vimos a importância da padronização das normas de qualidade. Destacamos o conceito de padronização e normalização, os objetivos, os benefícios e os beneficiários da padronização. Importante destacar que a normalização permitiu a redução de desperdícios, contribuindo de forma positiva para o aumento da competitividade das empresas no cenário nacional e internacional. Destacamos, ainda, o cenário internacional, cujas normas devem ser observadas pelas empresas que atuam nesse segmento, pois diversos países não aceitam produtos ou serviços que estejam fora dos padrões estabelecidos pelas normas vigentes. Assim, a adequada observação da normalização contribui para a formulação de estratégias adequadas para as empresas, independentemente do segmento de atuação. Vimos, também, a contribuição da metrologia para a normalização, com destaque para os três tipos de metrologia: a científica, a legal e a industrial, bem como as principais características metrológicas que influenciam no processo de medição. 59 NORMAS DA QUALIDADE Exercícios Questão 1. (Enade 2018, adaptada) Para verificar a qualidade dos componentes e dos materiais recebidos de fornecedores, bem como dos produtos intermediários e finais, são necessárias medições e verificações com base em padrões previamente definidos. Considerando o exposto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I – As organizações utilizam a metrologia, por meio do processo de medição direta ou indireta por comparação, para controlar a qualidade das peças produzidas. porque II – Ao se utilizar a metrologia, busca-se diminuir a quantidade de itens reprovados, o que melhora a produtividade e a eficiência do processo. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não é uma justificativa correta da I. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. Resposta correta: alternativa A. Análise da questão A primeira asserção é verdadeira, pois a metrologia trata da medida estabelecida para produtos que devem se enquadrar segundo padrões estabelecidos previamente. A segunda asserção é verdadeira e justifica a primeira, pois o emprego da metrologia permite que a qualidade dos componentes seja efetivamente medida; logo, somente aqueles que apresentarem os padrões esperados é que serão, de fato, utilizados no processo produtivo. Vale destacar que a palavra metrologia, originária dos termos gregos metron e logos, significa, literalmente, “estudo da medida”. 60 Unidade II Questão 2. Leia o texto a seguir: Como demandar a elaboração de normas É muito comum a ABNT ser questionada sobre o motivo de não existir determinada norma. Isso ocorre porque muitas pessoas não conhecem o processo de elaboração de Normas Brasileiras. A voluntariedade é um dos princípios básicos da normalização. Portanto, para que uma norma brasileira seja elaborada, é fundamental que haja vontade das partes interessadas no assunto objeto do documento a ser criado, tanto para demandar quanto para participar do seu processo de criação. Só assim poderemos ter a norma de que se necessita. Costumamos dizer que cabe à sociedade (em particular, aos setores organizados) dizer o que e quando normalizar, para que a ABNT possa dar início ao processo. Por isso, o acervo da ABNT, com cerca de 8.000 normas, não tem tudo o que se procura, mas está alinhado com as necessidades apontadas pelos diversos setores, em determinado momento. Qualquer interessado pode apresentar à ABNT sua demanda, por meio do Formulário de Demanda, disponibilizado no site da ABNT, para preenchimento online. Para acessá-lo, basta clicar na aba “Normalização” e, em seguida, na opção “Elaboração e Participação“ e depois em “Como Participar”, como demonstrado a seguir. Figura 37 Adaptado de: https://cutt.ly/5OVMxcI. Acesso em: 1º jun. 2021. Com base no exposto e nos seus conhecimentos sobre processo de elaboração de normas, avalie as afirmativas a seguir. I – Um projeto de norma, ao passar pela Consulta Nacional, pode receber comentários e sugestões que serão analisados pela Comissão de Estudo responsável. II – Após a demanda ser analisada pela ABNT, o tema é aprovado pelo Comitê Técnico correspondente, e a norma é aprovada e publicada. 61 NORMAS DA QUALIDADE III – Para que um projeto de norma possa ser submetido à Consulta Nacional, ele necessita ser editorado e numerado de acordo com os preceitos da ABNT. IV – A demanda de uma norma deve ser apresentada pelos setores organizados da sociedade para que seja aprovada pelo Comitê Técnico. É correto apenas o que se afirma em: A) I e II. B) I e III. C) II e IV. D) I, III e IV. E) II, III e IV. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: um projeto de norma, no processo de trâmite pela Consulta Nacional, após sua publicação no Diário Oficial da União (DOU), pode receber comentários e sugestões de qualquer pessoa ou de qualquer entidade. Todos os comentários enviados pelos interessados são analisados e respondidos pela Comissão de Estudo responsável. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: existe um trâmite padrão para a aprovação e a publicação de uma nova norma, sendo que o roteiro se inicia a partir de uma demanda, que é encaminhada para o Programa de Normalização Setorial (PNS), passa pelos Comitês Técnicos e pela editoração e, em seguida, é submetida à Consulta Nacional, para exame e considerações. Após a Consulta Nacional e em caso de consenso, o projeto de norma é aprovado como Documento Técnico ABNT. III – Afirmativa correta. Justificativa:um projeto de norma é editorado e recebe a sigla ABNT NBR e seu respectivo número antes de sua submissão à Consulta Nacional. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: a demanda de uma norma requer a apresentação por qualquer pessoa, empresa ou qualquer entidade, não havendo a necessidade de ser apresentada unicamente por setores organizados da sociedade.
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