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28 Rev. Fac. Odontol. Porto Alegre, Porto Alegre, v. 49, n. 3, p. 28-35, set./dez., 2008. Revisão e discussão sobre indicadores para a previsão de demanda por cirurgiões-dentistas no Brasil A Review and discussion about the indicators for the demand forecast of the dental surgeons in Brazil Deison Alencar Lucietto1, Antenor Amâncio Filho2, Sérgio Pacheco de Oliveira3 1 Cirurgião-Dentista, Doutorando em Saúde Pública ENSP/FIOCRUZ. 2 Advogado, Doutor em Educação, Pesquisador do DAPS/ENSP/FIOCRUZ. 3 Médico, Doutor em Saúde Coletiva, Pesquisador do DAPS/ENSP/FIOCRUZ. Resumo Este artigo tem como objetivo principal discutir a neces- sidade de demanda por cirurgiões-dentistas no Brasil a partir do indicador que expressa a proporção identifi cada como adequada entre o número de profi ssionais por uma quantidade determinada de população. Deste modo, serão observados dois indicadores: o primeiro é o indicador clássico preconizado pela Organização Mun- dial de Saúde (OMS); o segundo é o proposto pelo Ministério da Saúde (MS) para a reorganização da Atenção Básica em Saúde no país, através da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Com vistas a alcançar os objetivos traçados, optou-se por utilizar a Pesquisa Bibliográfi ca e a Pesquisa Documental. Destaca-se, neste sentido, a utilização de Fontes para Estudos e Pesquisas de Recursos Hu- manos em Saúde. Os resultados apontam para, tomando-se por base o indicador da OMS, um excesso e uma má distribuição dos cirurgiões-dentistas no país. Por outro lado, ao levar em conside- ração o indicador preconizado pelo Ministério da Saúde, eviden- cia-se a necessidade de um grande número de novos postos de trabalho em saúde pública, de modo a garantir a universalidade de acesso aos serviços odontológicos. Por fi m, salienta-se que o tema precisa ser problematizado no interior da classe odontológica, pois a incoerência entre as necessidades de mercado e a oferta crescen- te de cirurgiões-dentistas pode trazer consequências indesejáveis, tanto para os profi ssionais quanto para os usuários das ações e ser- viços de saúde prestados. Palavras-chave: Odontologia, Recursos humanos, População, Sistema Único de Saúde. Abstract This article has the main goal of discussing the demand for dental surgeons in Brazil starting from the indicator that expresses the proportion between the number of professionals and a determined amount of the population identifi ed as adequate . Therefore , two indicators were observed: the fi rst is the classic indicator advocated by the World Health Organization (OMS); the second is the one proposed by the Ministry of Health (MS) for the re-organization of the Basic Health Attention in the country, through the Family Health Strategy (ESF). To achieve the proposed goals, the Bibliographical Research and the Documental Research were used. In this regard, the use of Health Human Resources Study and Research Sources is highlighted. If the supporting indicator is the OMS, the results point to an excess and a bad distribution of the dental surgeons in the country. In the other hand, if the indicator advocated by the Ministry of Health is taken into consideration, the need of a high number of new work posts in public health is evident , to assure the universality of access to dental services. Lastly, it is brought up that the theme needs to be problematized inside the dental class, because the incoherence between the market demands and the rising offer of dental surgeons might bring undesired conse- quences, for both professionals and users of the provided actions and services. Keywords: Dentistry, Human resources, Population, Public Health System. Introdução A centralidade dos recursos humanos nos processos de trabalho em saúde há muito vem sendo enfatizada no planejamento e na gestão no âmbito do sistema de saúde brasileiro. Tendo em vis- ta as particularidades em torno do cuidado e da assistência à saúde, salienta-se que são estes recursos, os profi ssionais e os trabalha- dores em saúde, que conferem diferentes características às ações e aos serviços produzidos (NARVAI, 1999). Neste sentido, há que se ter em mente que, no Brasil, o sistema de saúde está composto, grosso modo, sob a óptica do financiamento do setor, pelos subsistemas público (Sistema Único de Saúde – SUS) e pelo privado (incluindo desde a saúde suple mentar – planos de saúde, odontologia de grupo e coope- rativas – até a assistência estritamente particular). Destaca-se, ainda, que a Odontologia brasileira, como profi ssão do setor de saúde, tem acompanhado os movimentos e as transformações na estrutura e no funcionamento do sistema de saúde nas últimas décadas. Tal fato, ou seja, o de pertencer ao processo, por sua vez, também provocou (e continua acarretando) mudanças importantes na forma como a profi ssão odontológica está organizada, sendo possível, hoje, evidenciar diversos desdobra- mentos ou possíveis campos de atuação para os cirurgiões-dentistas: no SUS, na saúde suplementar e na assistência particular. Neste contexto, faz-se necessário explicitar que a formação acadêmica dos profi ssionais de Odontologia não pode fi car indi- ferente às modifi cações políticas, sociais, econômicas e culturais, em determinado tempo-espaço. Estes aspectos têm sido bastante explorados nos meios científi co e acadêmico nos últimos anos, tendo em vista as aproximações instigadas entre a formação profi ssional e a realidade do mercado de trabalho. Também não é recente a ideia de que o ensino odontológico vem assumindo um caráter eminentemente mercantilista. Tal afi rma- tiva está pautada na concepção da educação odontológica como um negócio. Assim sendo, nos últimos anos, tem vez uma indiscriminada abertura de cursos e faculdades de Odontologia privadas no país. Este aspecto precisa ser analisado criteriosamente , pois interfere na profi ssão, no qual diz respeito a suas relações com o mercado de trabalho e, até mesmo, mais especifi camente, no modo como são produzidas as ações de saúde no âmbito odontológico, na dimensão ética e interpessoal. Uma vez estabelecida simplória contextualização, lança-se a seguinte questão: o Brasil precisa formar mais cirurgiões-dentistas? Desnecessário argumentar que uma resposta adequada a tal questão é tarefa nada fácil, pois o questionamento acima se desdobra em outros: como é possível aferir a necessidade de um número futuro exato de profi ssionais? Como apreender quantos cirurgiões-dentistas serão necessários no país nos próximos 5, 15, 20 ou 50 anos? Em quais conceitos ou relações podem ser baseados os argumentos para tentar responder às questões? De tudo, fi ca uma certeza: embora existam inúmeras difi culdades operacionais, tal questão precisa ser problematizada , de modo que o iminente colapso entre o sistema de ensino odontológico e o mercado de trabalho, com suas consequências indesejáveis para a classe profi ssional e para a população em geral, possa ser evitado. 29 Rev. Fac. Odontol. Porto Alegre, Porto Alegre, v. 49, n. 3, p. 28-35, set./dez., 2008. Objetivos Buscar-se-á, no texto que se segue, tecer considerações sobre a necessidade de demanda por cirurgiões-dentistas no Brasil a partir do indicador que expressa a proporção identifi cada como adequada entre o número de profi ssionais por uma quantidade determinada de população. Deste modo, serão observados dois indicadores: o primeiro é o indicador clássico preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS); o segundo é o proposto pelo Ministério da Saúde (MS) para a reorganização da Atenção Básica à Saúde no país, através da Estratégia de Saúde da Família (ESF). Basean do-se nas proporções recomendadas por essas entidades, preten de-se discutir a realidade vivenciada pela sociedade brasileira no que diz respeito ao número de profi ssionais por população de um modo geral e, especifi camente, com relação ao número de profi ssionais que são responsáveis por uma determinadaquantidade de população no âmbito da Estratégia de Saúde da Família. Método e Materiais Com vistas a alcançar os objetivos traçados, optou-se por utilizar a Pesquisa Bibliográfi ca e a Pesquisa Documental. Este tipo de procedimento tem a fi nalidade principal de colocar frente a frente os objetivos do pesquisador e os autores envolvidos em seu horizonte , num esforço de discussão de ideias e de pressupostos (CRUZ NETO, 1997). A análise bibliográfi ca foi realizada principalmente em livros e artigos científi cos que tratam dos temas da Atenção Básica em Saúde, da profi ssão odontológica e da inserção da Odontologia na Estratégia de Saúde da Família. Assim sendo, foram feitos levan- tamentos nos principais livros brasileiros que tratam do assunto na atualidade, incluindo Odontologia Social, Promoção de Saúde Bucal, Saúde Bucal Coletiva e Odontologia em Saúde Coletiva. A análise documental foi conduzida através de consultas na legislação específi ca de saúde e em torno da Atenção Básica em Saúde, incluindo a Estratégia de Saúde da Família. Os subsídios para fundamentar tal proposta de discussão também são oriundos de Fontes para Estudos e Pesquisas de Recursos Humanos em Saúde (OLIVEIRA; GARCIA, 2006), tais como dados disponibilizados pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP-MEC), pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), pelo DATASUS (Departamento de Informática do SUS), pelo Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e pelo Ministério da Saúde (MS). A Odontologia como profi ssão As profi ssões são criadas nas sociedades a partir de determinadas necessidades (IYDA, 1998; NARVAI, 1999; BOTAZZO, 2000; CARVALHO, 2003) que, uma vez estabelecidas, impulsio- nam o surgimento de serviços com algum grau de efi ciência e de regularidade de oferta. Com a Odontologia, a “profi ssionalização da atividade só se efetivou a partir da necessidade dos próprios homens negarem uma realidade agressiva e adversa” (IYDA, 1998, p. 132). Assim sendo, a mudança no comportamento da doença cárie dentária, de afecção indolor para violenta e muito dolorosa, principalmente a partir do advento do consumo do açúcar, do sé- culo XVI em diante, foi uma das principais responsáveis para a organi- zação de um corpo de práticas e de conhecimentos que originariam posteriormente a profi ssão de cirurgião-dentista (FREITAS, 2001). A disseminação da doença cárie dental na população e as consequentes necessidades por tratamentos passaram a demandar respostas em termos de serviços odontológicos, requerendo profi s- sionais que pudessem resolver os problemas dos dentes e da boca. Deste modo, a Odontologia ganhou maior importância, no Ocidente, a partir de acontecimentos da metade do século XIX. Hoje, no Brasil, as bases legais da profi ssão estão represen- tadas na Lei 4.324, de 14 de abril de 1964, que instituiu os Conselhos Federal e Regionais de Odontologia, e na Lei 5.081, de 24 de agosto de 1966, que regulamenta o exercício da profi ssão no país. A Lei 4.324/64 foi regulamentada, posteriormente, através do Decreto 68.704/71. De acordo com a Lei 5.081/66, “o exercício da Odontologia no território nacional só é permitido ao cirurgião-dentista habilitado por escola ou faculdade ofi cial ou reconhecida”, ou, para os profi ssionais “habilitados por escolas estrangeiras, após a revalidação do diploma”. Em conformidade com o Artigo 6 desta lei, o campo de atua ção legal do profi ssional cirurgião-dentista, está evidenciado pelo exercício das seguintes competências: I - praticar todos os atos pertinentes à Odontologia, decorrentes de conhecimentos adquiridos em curso regular ou em cursos de pós-graduação; II - prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso interno e externo, indicadas em Odontologia; III - atestar, no setor de sua atividade profi ssional, estados mórbidos e outros, inclusive, para justifi cação de faltas ao emprego; IV - proceder à perícia odontolegal em foro civi l, criminal, trabalhista e em sede administrativa; V - aplicar anestesia local e troncular; VI - empregar a analgesia e hipnose, desde que comprovadamente habilitado, quando constituírem meios efi cazes para o tratamento; VII - manter, anexo ao consultório, laboratório de prótese, aparelhagem e instalação adequadas para pesquisas e análises clínicas, relacionadas com os casos específi cos de sua especialidade, bem como aparelhos de Raios X, para diagnóstico, e aparelhagem de fi sioterapia; VIII - prescrever e aplicar medicação de urgência, no caso de acidentes graves que comprometam a vida e a saúde do paciente; e IX - utilizar, no exercício da função de perito-odontólogo, em casos de necropsia, as vias de acesso do pescoço e da cabeça (BRASIL, 1966). De acordo com a Classifi cação Brasileira de Ocupações (CBO-2002), são atividades dos cirurgiões-dentistas: atender e orien- tar pacientes e executar tratamento odontológico; realizar radiogra- fi as e ajuste oclusal; aplicação de anestesia; extração de dentes; tra- tamento de doenças gengivais e canais; cirurgias bucoma xilofaciais; implantes; tratamentos estéticos e de reabilitação oral; confecção de prótese oral e extraoral; diagnosticar e avaliar pacientes e planejar tratamento; realizar auditorias e perícias odontológicas; administrar condições de trabalho; e adotar medidas de biossegurança. Além disso, desenvolver pesquisas na prática odontológica e integrar comissões de normatização do exercício da profi ssão (CBO, 2002). Embora o profi ssional da Odontologia por vezes receba denominações distintas, como dentista, odontólogo e odontologista , o título fornecido ao aluno concluinte de curso, faculdade ofi cial ou reconhecida de Odontologia no Brasil é o de cirurgião-dentista. O diploma do egresso deve ser registrado junto ao Ministério da Educação (MEC) e, depois, o profi ssional deve se inscrever no Conselho Regional de Odontologia de seu Estado (CRO), a fi m de que possa exercer, dentro dos princípios regulamentares e éticos, a profi ssão de cirurgião-dentista. A descrição desta ocupação profi s- sional está presente na Classifi cação Brasileira de Ocupações (CBO- 2002), na família geral Cirurgiões-Dentistas, sob o código 2232. As relações profi ssionais do cirurgião-dentista com os outros trabalhadores de saúde A atuação profi ssional do cirurgião-dentista pode ser ana- lisada, a partir das características principais de seus processos de trabalho, de duas maneiras básicas distintas: (1) aquela que se dá nos limites do consultório odontológico, remetendo a uma prática es- sencialmente clínica, e mais condizente com a atividade liberal (de 30 Rev. Fac. Odontol. Porto Alegre, Porto Alegre, v. 49, n. 3, p. 28-35, set./dez., 2008. consultório próprio ou compartido, em odontologia de grupo, em planos de saúde ou como empregado em clínicas odonto lógicas); e (2) aquela que se dá no campo da Saúde Pública/Coletiva, quando, além das atividades clínicas, o profi ssional executa as chamadas “ações coletivas de saúdei”, incluindo as de promoção de saúde, prevenção de agravos e doenças e de educação em saúde. Além do Cirurgião-Dentista (CD), outros profi ssionais, igualmente inscritos nos Conselhos Regionais de Odontologia (CROs), de nível técnico e auxiliar, complementam a força de tra- balho em Odontologia: o Técnico em Higiene Dental (THD), o Téc- nico em Prótese Dentária (TPD), o Auxiliar de Consultório Dentá- rio (ACD) e o Auxiliar de Prótese Dentária (APD) (QUELUZ, 2003; MS, 2004; CONSELHO, 2008a ou b). Tais profi ssionais são englo- bados, na Classifi cação Brasileira de Ocupações (CBO-2002), no título geral “Técnicos em Odontologia” sob o código 3224.ii Assim sendo, diferentes profi ssionais podem ser aloca- dos para compor equipes e atuar no atendimento individual aos pacientes tanto em consultório particular quanto em SaúdePúbli- ca/Coletiva. Vale destacar que os processos de trabalho em consul- tório têm uma abordagem fundamentalmente individual e seguem uma sequência comum de etapas em torno da clínica odontológi- ca. Alguns profi ssionais executam, além disso, ações de preven- ção e de educação em saúde [bucal], mas essas são bem mais pontuais. A atuação do cirurgião-dentista em âmbito coletivo se dá basicamente através de sua inserção profi ssional no Sistema Único de Saúde (SUS). Assim sendo, percebem-se modifi cações substanciais com relação aos seus processos de trabalho nesta esfera. De acordo com Zanetti (2001), nos serviços públicos, os processos de trabalho são mais “complexos” quando compa- rados àqueles do consultório privado. No âmbito do SUS, além das ações clínicas, existem as ações extraclínicas, que exigem do cirurgião-dentista habilidades para lidar com as escolhas e com as ações em âmbito coletivo. Estas ações, por sua vez, são mediadas por processos governamentais de tomada de decisão e de realização. Estes processos, então, apresentam grande nível de incerteza, envolvem disputas políticas, variedade de opções nas tomadas de decisões, conflitos e valores individuais, dentre outros (ZANETTI, 2001). Isto, por si só, coloca o cirur- gião-dentista de Saúde Pública frente a uma gama de outros atores sociais, como coordenadores de unidades de saúde, ges- tores municipais, membros da comunidade e dos Conselhos de Saúde etc. Em complementaridade, a inserção de Equipes de Saúde Bucal (ESB) na Estratégia de Saúde da Família (ESF), a partir de 2001, tem provocado inovações nos processos de tra- balho do cirurgião-dentista que atua no SUS. Assim, a possibili- dade de realizar a prática odontológica para além dos limites do consultório implica mudanças no sujeito do trabalho odontoló- gico, quando a ação isolada do cirurgião-dentista vem cedendo lugar à da equipe de saúde bucal (NARVAI, 1999). As Equipes de Saúde Bucal (ESB) da ESF devem ser compostas minimamente por CD e ACD, podendo ou não incor- porar o THD (BRASIL, 2000). No entanto, além destas equipes, as concepções em torno da Estratégia de Saúde da Família têm instigado a realização de práticas de saúde multiprofissionais e interdisciplinares, o que tem causado, por sua vez, uma proximi- dade de relações, profissionais e pessoais, do cirurgião-dentista com outros trabalhadores de saúde, como é o caso dos médicos, dos enfermeiros, dos auxiliares de enfermagem e dos próprios agentes comunitários de saúde. Indicadores passíveis de serem utilizados para predizer a demanda de cirurgiões-dentistas O indicador clássico da Organização Mundial de Saúde (OMS) O indicador clássico utilizado pela Odontologia brasileira para aferir a demanda ou a necessidade de cirurgiões-dentistas está baseado na relação proporcional profi ssional por população. A concentração de cirurgiões-dentistas por quantidade de população preconizada pela Organização Mundial de Saú- de (OMS) é de 1 (um) cirurgião-dentista (CD) para cada 1.500 (mil e quinhentos) habitantes. Segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO), a proporção de 1 (um) cirurgião-dentista para cada 2.000 (dois mil) habitantesiii parece ser adequada para os países de modo geral (JEUNON; SANTIAGO, 1999, p. 81-82). Esta relação (1CD:1.500hab.) tem sido amplamente divulgada no meio odontológico, servindo de base para as análises sobre o mercado de trabalho em artigos científi cos, dissertações e teses e, até mesmo, em apresentações e palestras realizadas pelos CROs e pelo CFO. Este indicador pode ser utilizado para problematizar relações com o contingente de profi ssionais em determinado es- paço geográfi co e com a distribuição dos cirurgiões-dentistas pelo território nacional. Ou seja, tomando tal proporção (1CD:1.500hab) como eixo de análise, é possível identifi car onde (cidades, esta- dos, regiões) há excesso ou escassez de profi ssionais, tomando o cuidado de emitir juízos sempre relativos a tal proporção. Um olhar mais criterioso sobre esta proposição, no entan to , permite evidenciar algumas pendências importantes: a partir de que conceitos ou pressupostos foi determinada que a proporção de 1CD:1.500hab está adequada para as nações de um modo geral? Tendo em vista as grandes disparidades entre as nações, esta proporção deve ser usada indiscriminadamente por países ricos e pobres? Este indicador foi construído com o intuito de reservar mercado ou para favorecer o acesso a serviços odonto- lógicos de qualidade para a população? Em decorrência desses questionamentos, subli nham - se algumas limitações para o uso acrítico de tal indicador: (1) ele não leva em consideração outros elementos passíveis de serem utilizados para o planejamento da demanda ou da necessidade de profi ssionais em um determinado tempo-espaço, como, as condições de saúde bucal, as condições sociais (como nível de educação) , as condições econômicas (trabalho, renda, acesso a produtos de higiene dental etc.), as condições ambientais (água de abastecimento fl uoretada) e os aspectos culturais de uma determinada população (como hábitos alimentares e de higiene); (2) ele não possibilita identifi car a distri buição dos profi ssionais entre a esfera pública e a esfera privada; (3) ele não expressa o acesso da população aos serviços odontológicos; e (4) também não permite aferir a qualidade dos serviços recebidos pela parce- la da população que teve acesso à Odontologia. Mas, mesmo diante de tais limitações, este indicador tem sido o eixo norteador amplamente utilizado pelas entidades de classe e pelos estudos em torno do mercado de trabalho para averiguar o comportamento da profi ssão odontológica no país, uma vez que não existem proposições alternativas disponíveis em torno da temática de modelos de previsão para a demanda de cirurgiões-dentistas. 31 Rev. Fac. Odontol. Porto Alegre, Porto Alegre, v. 49, n. 3, p. 28-35, set./dez., 2008. O indicador preconizado pelo Ministério da Saúde para a reorganização da Atenção Básica no Brasil através da Estratégia de Saúde da Família A rede de Atenção Básica à Saúde do SUS está organizada por dois modelos assistenciais distintos: aquele dito tradicional, estruturado através das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e aquele dito Saúde da Família, com uma concepção substitutiva em relação ao modelo tradicional, através das Unidades de Saúde da Família (USF). Desde 2001 as ações de saúde bucal foram incluídas na Estratégia de Saúde da Família (ESF), o que tem possibilitado a abertura de um novo mercado para os profi ssionais da Odontologia. Partindo desse pressuposto, buscar-se-á refl etir acerca da demanda por cirurgiões-dentistas no SUS, no escopo da ESF, a partir das proporções preconizadas por Portarias e Normas emitidas pelo Ministério da Saúde, no que diz respeito à relação entre o núme ro de profi ssionais e uma determinada quantidade de população .iv Assim sendo, a Portaria nº 648/2006v determinou os seguintes critérios necessários para a implantação das Equipes de Saúde da Família: existência de equipe multiprofi ssional responsável por, no máximo, 4.000 habitantes, sendo a média recomendada de 3.000 habitantes; jornada de trabalho de 40 horas semanais para todos os seus integrantes; e composição mínima de médico, enfer- meiro, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde (BRASIL, 2006). Para a incorporação das Equipes de Saúde Bucal, fi caram explicitados os seguintes elementos necessários: existên- cia de equipe multiprofi ssional, com composição básica de cirur- gião-dentista e auxiliar de consultório dentário (podendo ou não ter técnico em higiene dental); trabalho integrado a uma ou duas Equipes de Saúde da Família; e responsabilidade sanitária pela mesma população e território das Equipes de Saúde da Família às quais estão vinculadas (BRASIL, 2006). Vale ressaltar que, se uma mesma ESB estiver vinculada a duas Equipesde Saúde da Família, sua responsabilidade passa a ser o dobro da população. Tendo em vista a crescente expansão da Estratégia de Saúde da Família, que não foram explicitados, na Portaria 648/2006, parâmetros de número de profi ssionais por população no modelo de atenção básica tradicional, optou-se por fundamentar a discussão em torno da determinação da demanda por cirurgiões-dentistas no SUS, de modo geral, pela ideia de que cada Equipe de Saúde Bucal seja responsável por 3.000 habitantes.vi Ou seja, isto quer dizer que, no âmbito da ESF, cada cirurgião-dentista deveria ser responsável por 3.000 habitantes, o que resulta na relação 1CD:3.000hab. Atualmente (março de 2008) existem 27.886 Equipes de Saúde da Família implantadas no país, presentes em 5.141 muni- cípios e cobrindo 47,5% da população brasileira, o que corresponde a cerca de 89,3 milhões de pessoas. Para este mesmo período, existem 16,3 mil Equipes de Saúde Bucal implantadas, distribuídas em 4,4 mil municípios e com uma cobertura populacional de 42,5% da popu- lação, o que corresponde a cerca de 79,9 milhões de pessoas.vii Discussão sobre a necessidade de demanda de cirurgiões-dentistas no Brasil a partir do indicador clássico da OMS Tem sido relatado que a quantidade de cirurgiões-den- tistas vem aumentando de maneira acelerada no Brasil a partir da metade da década de 1960 e início dos anos 1970, quando come- çaram a proliferar faculdades particulares de Odontologia no país. De acordo com Pinto (1993), este fato não pode ser constatado para os tradicionais e grandes centros formadores de recursos humanos nesta área, quando os Estados Unidos e os países europeus vêm adotando uma política de restrição de novas vagas e até mesmo do número de cirurgiões-dentistas (PINTO, 1993, p. 38). Desta forma, já no ano de 1980, o Brasil contava com 61.628 cirurgiões-dentistas inscritos nos Conselhos Regionais de Odontologia. Em 1989 este número subiu para 101.880 profi ssio- nais. Ou seja, num período de dez anos (1980-1989) “o estoque de profi ssionais cresceu extraordinariamente na ordem de 65,3% ao passo que a população brasileira aumentava em 20%” (PINTO, 1993, p. 37-38). Em 1992, cerca de 11% dos dentistas de todo o mundo estavam no Brasil (PINTO, 1993; NARVAI, 2002). Freitas (2001) cita que, neste mesmo ano de 1992, existiam cerca de 123 mil cirur- giões-dentistas e 84 Cursos de Odontologia, “o maior número de cursos existentes em qualquer país” (FREITAS, 2001, p.41). De acordo a Tabela 1,viii no ano de 2008, existem mais de 219 mil cirurgiões-dentistas inscritos no Conselho Federal de Odon- tologia. Para este mesmo ano, a população estimada é de aproxi- madamente 190 milhões de pessoas. A relação cirurgião-dentista: habitantes para o Brasil fi ca em torno de 1CD:863 habitantes, isto é, bem abaixo daquela preconizada pela OMS, o que, a grosso modo, pode ser evidenciado como excesso de profi ssionais no país. No entanto, há que se observar que existem diferenças signifi cativas nestas proporções nas diferentes regiões do país. Assim, para as Regiões Norte e Nordeste, esta relação parece adequada, tendo em vista os resultados de 1CD:1.890hab e 1CD:1.761hab, respectivamente. Os resultados encontrados para as demais regiões, diferentemente, apontam para um excesso de profi ssionais, quando se encontra a seguinte relação: Sudeste : 1CD:623hab, Sul: 1CD:801hab e Centro-Oeste: 1CD:762hab. Observa-se, portanto, que a Região Sudeste apresenta o maior número de cirurgiões-dentistas por habitantes do país. A necessidade de abertura de novos cursos de Odonto- logia no Brasil tem sido alvo de grandes discussões, parecendo exis- tir consenso de que deveria haver um maior controle neste sentido, o que pode ser observado nas recomendações das Conferências Nacionais de Saúde Bucal (1986; 1993) e da Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO). Botazzo (2000) destaca que a expansão desordenada dos cursos pode colocar em risco a credibilidade e a dignidade dos profi s sionais, concomitantemente ao rebaixamento da qualidade dos cursos de graduação. Há uma preocupação explícita, também, com a questão ética que deveria regular a profi ssão, a qual pode estar sendo colocada em xeque dada a natureza empresarial que o ensino vem assumindo (BOTAZZO, 2000). Além disso, desta ca-se que a proporção crescente de egressos das faculdades tende a provocar queda no prestígio, na remuneração e do mérito atribuído ao diploma (JEUNON; SANTIAGO, 1999). No ano de 1990, existiam 84 cursos de Odontologia no país (PINTO, 1993, p. 38). Em 2003, esta soma chegou a 161, ou seja, foi praticamente dobrado o número de escolas odontológicas em menos de quinze anos. De acordo com a Tabela 2, em 2007 este número pas- sou para 188 faculdades, sendo 27 federais, 19 estaduais, 8 municipais e 134 particulares. Os maiores números de facul dades estão nos Es- tados de São Paulo (com 50), Minas Gerais (com 22) e Rio de Janeiro (com 20). O menor número de faculdades, por sua vez, está nos Es- tados do Acre, Amapá e Roraima, quando cada um possui apenas 1 faculdade de Odontologia (CONSELHO, 2008a ou b). Desta forma, depreende-se que, tomando por base o valor do indicador clássico da OMS (1CD:1.500hab), o Brasil não deman- daria de um maior número de cirurgiões-dentistas. Isto sugere que a formação em Odontologia deva ser reduzida, de modo que sirva apenas para a reposição da força de trabalho que se altera com o tempo (aposentadorias, abandono da profi ssão, mortes) e para o processo de educação continuada dos cirurgiões-dentistas que atuam tanto no âmbito privado quanto no público. 32 Rev. Fac. Odontol. Porto Alegre, Porto Alegre, v. 49, n. 3, p. 28-35, set./dez., 2008. Evidentemente que tal proposição teria sentido na medida em que houvesse um mecanismo, tanto governamental quanto da classe odontológica, de redistribuição dos profi ssionais pelo país, com atrativos para a migração dos cirurgiões-dentistas para as re- giões Norte e Nordeste e com propostas que facilitassem o acesso da população aos serviços odontológicos (incentivos para compra de equipamentos e materiais, incentivos fi scais para a abertura de consultórios e a diminuição dos impostos cobrados sobre materiais e serviços, por exemplo). Embora esta seja uma visão um tanto quanto utópica, a realidade mostra suas facetas quando a relação entre a oferta de cirurgiões-dentistas e a ocupação efetiva desses trabalhadores ca- minha a largos passos para um colapso total no país. Defende-se, assim, que o acesso aos serviços de Odonto logia deva ser considerado como fundamental no processo de averiguação de demanda por mais profi ssionais, uma vez que, embora existam cirurgiões-dentistas “sobrando”, a população con- tinua sofrendo das mazelas das doenças bucais (CONFERÊNCIA, 1986; CONFERÊNCIA, 1993; PINTO, 1999; RONCALLI, 1999; WEYNE, 1999; BARROS; BERTOLDI, 2002; CONFERÊNCIA, 2004). Há um grande paradoxo neste sentido: temos profi ssionais de sobra, mas a população que mais necessita de cuidados odonto lógicos não está chegando ao encontro de tais profi ssionais (BARROS; BERTOLDI, 2002). Tabela 1. Número de Cirurgiões-Dentistas (CD), População e Relação CD/habitantes por Região Brasil 2007/2008* UF/Região CD População Relação CD:hab. Acre 368 703.447 1:1.911 Amapá 329 636.652 1:1.935 Amazonas 1.890 3.389.081 1:1.793 Pará 3.011 7.249.184 1:2.407 Rondônia 1.041 1.590.027 1:1.527 Roraima 265 415.281 1:1.567 Tocantins 1.210 1.358.889 1:1.123 Região Norte 8.114 15.342.561 1:1.890 Alagoas 1.929 3.085.053 1:1.599 Bahia 7.402 14.083.771 1:1.902 Ceará 4.401 8.335.849 1:1.894 Maranhão 2.031 6.265.102 1:3.084 Paraíba 2.853 3.650.180 1:1.279 Pernambuco 5.620 8.590.868 1:1.528 Piauí 1.703 3.065.488 1:1.800 Rio Grande do Norte 2.395 3.084.106 1:1.287 Sergipe 1.297 2.033.430 1:1.567 Região Nordeste 29.631 52.193.847 1:1.761 Espírito Santo 4.042 3.519.712 1:870 Minas Gerais 26.758 19.719.285 1:736 Riode Janeiro 25.860 15.738.536 1:608 São Paulo 72.727 41.663.568 1:572 Região Sudeste 129.387 80.641.101 1:623 Paraná 13.728 10.511.933 1:765 Rio Grande do Sul 12.995 11.080.317 1:852 Santa Catarina 7.775 6.049.251 1:778 Região Sul 34.498 27.641.501 1:801 Distrito Federal 5.284 2.434.033 1:460 Goiás 6.730 5.840.650 1:867 Mato Grosso 2.870 2.910.255 1:1.014 Mato Grosso do Sul 2.831 2.331.243 1:823 Região Centro-Oeste 17.715 13.516.181 1:762 Total 219.345 189.335.191 1:863 Tabela 2. Número de Faculdades de Odontologia Existentes no Brasil (CFO, 2007) UF/Região Número de Faculdades Dependência Administrativa F E M Acre 1 - - - Amapá 1 - - - Amazonas 7 1 1 - Pará 3 1 - - Rondônia 3 - - - Roraima 1 - - - Tocantins 3 - - 1 Região Norte 19 2 1 1 Alagoas 2 1 - - Bahia 6 1 2 - Ceará 3 1 - - Maranhão 3 1 - - Paraíba 3 1 1 - Pernambuco 4 1 1 - Piauí 4 1 1 - Rio Grande do Norte 2 1 - - Sergipe 3 1 - - Região Nordeste 30 9 5 - Espírito Santo 3 1 - - Minas Gerais 22 5 1 - Rio de Janeiro 20 2 1 - São Paulo 50 - 7 5 Região Sudeste 95 8 9 5 Paraná 14 1 4 - Rio Grande do Sul 10 3 - - Santa Catarina 7 1 - 2 Região Sul 31 5 4 2 Distrito Federal 4 1 - - Goiás 4 1 - - Mato Grosso 3 - - - Mato Grosso do Sul 3 1 - - Região Centro-Oeste 14 3 - - Total 188 27 19 8 F: Federal E: Estadual M: Municipal P:Particular 33 Rev. Fac. Odontol. Porto Alegre, Porto Alegre, v. 49, n. 3, p. 28-35, set./dez., 2008. Discussão sobre a necessidade de demanda de cirurgiões-dentistas no Brasil a partir do indicador preconizado na reorganização da Atenção Básica através da Estratégia de Saúde da Família Sabe-se que o sistema de saúde brasileiro representa um mix público-privado, quando as ações de saúde são realiza- das por variadas instituições, modalidades de prestadores, de ges- tão e de fi nanciamento. Desta forma, muitos brasileiros dependem exclusivamente das ações odontológicas ofertadas pelo SUS, outros possuem planos de saúde e ainda outros buscam assistência em consultórios e clínicas particulares. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amos- tragem de Domicílios (PNAD/98), é possível afi rmar que, de uma po- pulação residente de aproximadamente 160 milhões de brasi leiros para o ano de 1998, mais de 29 milhões deles nunca tinham consul- tado um cirurgião-dentista (IBGE, 2000). Assim sendo, uma análise conduzida por Barros e Bertoldi (2002) sobre os microdados da PNAD/98, evidenciou, em relação ao modo de fi nanciamento dos atendimentos odonto- lógicos, que 24,2% deles foram realizados pelo Sistema Único de Saúde. Depreende-se, assim, que “do ponto de vista do acesso aos serviços odontológicos, o SUS é um agente de grande importância, porém ainda com um papel proporcionalmente pequeno” (BARROS; BERTOLDI, 2002, p. 710). Levando em consideração o exposto até o momento e a importância da consolidação do SUS, buscar-se-á determinar quantos cirurgiões-dentistas seriam necessários para atuar na atenção básica em saúde pública tendo em vista dois pressupostos básicos: (1) o Sistema Único de Saúde (SUS) pretende, ao menos conceitualmente, ser um sistema de saúde com acesso universal à população; e (2) a Estratégia de Saúde da Família se conforma num mecanismo importante de substituição do modelo tradicional de assistência à saúde no escopo da Atenção Básica. Desta forma, serão tecidas relações a partir da construção hipotética de que 100% da população deveria ser coberta pelo SUS e de que a Atenção Básica estaria pautada pelos parâmetros preconizados pelo Ministério da Saúde para a Estratégia de Saúde da Família. Assim sendo, de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo MS para a consolidação da Atenção Básica, cada Equipe de Saúde Bucal (ESB) deve ser responsável por uma média 3.000 habitantes (isto é, 1CD:3.000hab). Levando em consideração que o país possui uma popu- lação estimada em aproximadamente 190 milhões de habitantes (IBGE, 2007), seriam necessários em torno de 63 mil cirurgiões- dentistas atuando na Estratégia de Saúde da Família, de modo que houvesse uma cobertura total da população por tal estratégia. Dados recentes da Estratégia de Saúde da Família (março de 2008) apontam para a existência de 16,3 mil Equipes de Saúde Bucal. Portanto, para que as ações de saúde bucal fossem esten didas à população em geral, seria demandada a inserção de aproxima- damente mais 46,7 mil novos cirurgiões-dentistas nesta estratégia.ix De acordo com dados do Cadastro Nacional de Estabe- lecimentos de Saúde (CNES, 2008), existem quase 30 mil cirur- giões-dentistas – Clínicos Gerais, de Saúde da Família e de Saúde Coletiva – em atividade nos Centros de Saúde/Unidades Básicas de Saúde, Postos de Saúde e Unidades de Saúde da Família no país (CNES, 2008 – Tabela 3). Caso fosse considerado esse contingente de profi ssionais que já atua na Atenção Básica (seja ela Saúde da Família ou modelo tradicional), seria demandada a inserção de aproximadamente mais 33 mil novos cirurgiões-dentistas, de modo que as ações básicas de saúde bucal, dentro da concepção desenhada para o Saúde da Família, fos- sem estendidas aos quase 190 milhões de brasileiros, através do SUS.x Em acréscimo, considerando o pressuposto de que a Atenção Básica em Saúde pode apresentar uma resolutividade de 70 a 80% sobre os problemas de saúde da população, pode-se pensar que, no caso das ações e dos serviços odontológicos, faz-se necessário complementar o escopo da assistência para a Atenção Especializada. Levando em conta este aspecto, seria necessário um acréscimo de, pelo menos, mais 20% do número de cirurgiões-dentistas demandados pela Atenção Básica. Assim, seriam demandados mais 16 mil profi ssionais para assegurar a continuidade da assistência na atenção especializada no SUS. Tabela 3. CNES – Recursos Humanos – Profi ssionais – Indivíduos – Segundo CBO 2002 – Brasil Quantidade por Região/UF Esfera Administrativa: Federal, Estadual, Municipal Natureza: Administração Direta da Saúde (MS, SES, e SMS) Tipo de Estabelecimento: Centro de Saúde/Unidade Básica de Saúde, Posto de Saúde, e Unidade de Saúde da Família Ocupações em geral: 223208 – Cirurgião-Dentista Clínico Geral, 223272 – Cirurgião-Dentista de Saúde Coletiva e 2232B1 – Cirurgião-Dentista de Saúde da Família Período: Fevereiro 2008 Região/UF Quantidade Região Norte 1.723 Rondônia 108 Acre 107 Amazonas 397 Roraima 60 Pará 594 Amapá 104 Tocantins 353 Região Nordeste 8.238 Maranhão 932 Piauí 615 Ceará 1.288 Rio Grande do Norte 775 Paraíba 952 Pernambuco 1.147 Alagoas 569 Sergipe 339 Bahia 1.621 Região Sudeste 11.698 Minas Gerais 3.287 Espírito Santo 671 Rio de Janeiro 1.599 São Paulo 6.141 Região Sul 5.232 Paraná 1.997 Santa Catarina 1.322 Rio Grande do Sul 1.913 Região Centro-Oeste 2.230 Mato Grosso do Sul 585 Mato Grosso 404 Goiás 1.114 Distrito Federal 127 Total 29.121 34 Rev. Fac. Odontol. Porto Alegre, Porto Alegre, v. 49, n. 3, p. 28-35, set./dez., 2008. Conclusão Através do exposto, procurou-se ilustrar um mecanismo de previsão de demanda por cirurgiões-dentistas no Brasil, tendo como eixo norteador o uso de indicadores de número de profi ssionais por quantidade de população, tanto em termos gerais quanto no âmbito da Atenção Básica em Saúde no SUS. Tomando-se o indicador clássico preconizado pela OMS e amplamente utilizado pelas entidades de classe na Odontologia para aferir a situação do mercado de trabalho, fi cou evidente que o Brasil possui um contingente gigantesco de cirurgiões-dentistas atrelado a um grande número de faculdades. Sob esse ponto de vista , não seriam necessários mais cirurgiões-dentistas, mas, sim, deveria ocorrer uma melhor distribuição dos profi ssionais pelo território nacional, haja vista a concentração desigual destes nos diferentes Estados e Regiões do país. Além disso, salienta-se que a maior oferta de cirurgiões- dentistas no mercado não signifi ca nem acesso aos serviçosodonto- lógicos nem qualidade da assistência prestada. Talvez seja este aspecto que precise ser encarado com seriedade, imparcialidade e postura pró-ativa por parte das entidades de classe odontológi- cas (e dos próprios profi ssionais), bem como pelos condutores das políticas educacionais no país, os quais parecem estar ludibriados com falsa sensação de que a abertura de mais escolas de Odonto- logia, por si só, possa trazer impactos na educação, na saúde e na qualidade de vida da população. Por outro lado, tomando o indicador preconizado pelo Ministério da Saúde para as Equipes de Saúde Bucal na Estratégia de Saúde da Família, no escopo da Atenção Básica, fi cou saliente a necessidade de incorporação de um número razoavelmente grande de mais cirurgiões-dentistas, de modo que as ações básicas de saúde bucal sejam estendidas à totalidade da população brasileira. Neste sentido, existe uma demanda real por maior número de profi s- sionais da Odontologia. Embora o exercício de refl etir sobre a demanda por cirur- giões-dentistas no atual contexto brasileiro esteja envolto de limita- ções intrínsecas, haja vista a inexistência de literatura específi ca e até mesmo das difi culdades em trabalhar com bases de dados com concepções e estruturas distintas, muitas vezes com divergências até mesmo dos dados disponibilizados (OLIVEIRA; GARCIA, 2006), salienta-se que o tema precisa ser problematizado no interior da classe odontológica, pois a incoerência entre as necessidades de mercado e a oferta crescente de cirurgiões-dentistas pode trazer consequências indesejáveis, tanto para os profi ssionais quanto para os usuários das ações e serviços de saúde. Por fi m, reitera-se que a Odontologia continua não chegan do a muita gente, gente essa que, em grande parte, necessita de cuidados em saúde bucal. Uma possível saída para tal realidade pode estar na ampliação, por parte de iniciativas governamentais, do acesso da população às ações e aos serviços odontológicos básicos, a exemplo da expansão das Equipes de Saúde Bucal, o que, por sua vez, demanda a inserção de um grande número de cirurgiões-dentistas no SUS. Notas i Na mesma acepção defendida por Botazzo (1992) apud Narvai (2002). ii Para maiores informações consultar QUELUZ, D. P. Recursos humanos na área de Odontologia. In: Odontologia em Saúde Coletiva planejando ações e promovendo saúde. Porto Alegre: ArtMed, 2003.; Perfi l de compe- tências profi ssionais do técnico em higiene dental e do auxiliar de consultório dentá- rio. Brasília: Ministério da Saúde, 2004, Classifi cação Brasileira de Ocupações 2002 (disponível em http://www.mtecbo.gov.br) e Conselho Federal de Odontologia (dis- ponível em http://www.cfo.org.br/index.htm). iii Embora exista este registro na literatura, não há consenso a respeito desta rela- ção de 1CD:2000 habitantes. iv Na mesma concepção do indicador preconizado pela OMS, mas utilizando dife- rentes relações proporcionais. v Aprovou a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de dire- trizes e normas para a organização da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). vi O Ministério da Saúde utiliza a estimativa populacional de 3.450 hab. por Equipe de Saúde da Família para calcular a cobertura desta Estratégia no país, mesmo que este número seja diferente daquele proposto na Portaria 648/2006 (que é de 3.000 hab.). vii Este cálculo leva em consideração a estimativa de 1ESB para cada 6.900 habi- tantes. viii O número de cirurgiões-dentistas refere-se aos profi ssionais registrados no CFO em abril de 2008. Os dados relativos à popu- lação, no entanto, dizem respeito ao ano de 2007. Sabe-se das limitações de utilizar dados de períodos distintos, mas estes foram utilizados em função de limitações operacionais das próprias bases de dados. ix Deve fi car claro, entretanto, que este número diz respeito a uma construção hi- potética, não levando em consideração os profi ssionais que estão inseridos atual- mente na Atenção Básica no modelo tradicional de assistência. x Considerando que pudesse existir uma “conversão” dos Cirurgiões-Dentistas Clí- nicos Gerais e de Saúde Coletiva para Cirurgiões-Dentistas de Saúde da Família. Referências ABENO. Subsídios para o Projeto Pedagógico do Curso de Odonto- logia. Disponível em http://www.abeno.org.br. Acesso em nov. 2003. BARROS, A. J. D.; BERTOLDI, A. D. Desigualdades na Utilização e no Acesso a Serviços Odontológicos: uma Avaliação em Nível Nacional. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, p. 709-717, 2002. BOTAZZO, C. 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