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1 Gabi Vieira 02/2022 MEDFip Gbi Sistemas orgânicos integrados OBJETIVOS: 1. Compreender a fisiopatologia das hepatites virais Hepatites virais Infecção aguda causada por vírus hepatotrópicos no fígado; causando uma inflamação e necrose hepática Causas multifatoriais; inflamação do parênquima hepático, caracterizada por infiltrado inflamatório local, que provoca lesão tecidual, com necrose hepatocelular. Doença aguda e crônica (cirrose) Todas as hepatites virais (agudas e crônicas) são doenças de NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA no Brasil, devendo a notificação ser feita em até sete dias. Quadro clínico geral: Fase prodrômica Síndrome gripal leve (resfriado, coriza, tosse, febre mais leve...) Fase ictérica: Icterícia + colúria + acolia fecal (nem sempre está presente na fase aguda) Fase de convalescença: Melhora clínica progressivamente Laboratório gral: Síndrome hepatocelular Lesão aguda no parênquima hepático, ↑ ALT e AST, muitas vezes > 10 x LSN Pode haver ↑ na bilirrubina direta Outras alterações: ↑ fosfatase alcalina e GGT – principal: Hepatite A Linfopenia Diagnostico geral: Sorologias especificas para cada Tipos A, B, C, D, e E. Hepatite A é uma doença benigna e autolimitada, com um período de incubação de 3 a 6 semanas (15- 50 dias). Raramente causa hepatite fulminante, com taxa de fatalidade 0,1%. Cronifica? não Ocorre no mundo todo e é endêmico em países onde a higiene e o saneamento estão abaixo dos padrões, nos quais as populações podem apresentar anticorpos detectáveis contra o HAV aos 10 anos de idade. Leve ou assintomática e é rara após a infância O vírus da hepatite A (HAV) é um picornavírus, cujo material genético é constituído por uma molécula de RNA de fita simples. É desprovido de envelope, estrutura que habitualmente se relaciona com a variabilidade genética e antigênica do vírus. Dessa forma, há apenas um sorotipo, o que permite que a primoinfecção (imunização natural) e a vacinação (imunização artificial) confiram imunidade protetora permanente diante de novas exposições. O HAV é disseminado pela ingestão de água e alimentos contaminados (fecal-oral) e é eliminado nas fezes em 2 a 3 semanas antes e 1 semana após o aparecimento da icterícia. Portanto, o contato pessoal próximo com um indivíduo afetado ou a contaminação fecal-oral durante esse período é responsável pela maioria dos casos e explica os surtos em ambientes institucionais, como escolas e creches, e as epidemias transmitidas pela água em locais onde as pessoas vivem em condições de aglomeração, sem saneamento. Detectado também no soro e na saliva Transmissão pelo sangue é raro. A imunidade celular, particularmente as células T CD8+, tem um papel central na lesão hepatocelular durante a infecção por HAV. Anticorpos IgM específicos contra o HAV aparecem no sangue no início dos sintomas, formando um marcador de infecção aguda. A eliminação fecal do vírus termina quando o título de IgM aumenta. A resposta de IgM geralmente começa a decair em alguns meses e é seguida pelo Problema 8 S4P2 2 Gabi Vieira 02/2022 MEDFip Gbi aparecimento de IgG anti-HAV. Esta última persiste por anos, talvez conferindo imunidade vitalícia contra a reinfecção por todas as cepas de HAV. A vacina contra HAV, disponível desde 1992, é eficaz para prevenir a infecção. O vírus da hepatite A tem a capacidade de resistir ao pH ácido do estômago, por isso ele consegue chegar ao trato digestivo. O HAV atravessa o epitélio intestinal, chega às veias mesentéricas e alcançam o fígado pelo sistema porta. O vírus se replica no hepatócito e é excretado pelos canais biliares, atingindo o intestino por meio da bile, onde, finalmente, é eliminado nas fezes. Por mais que o vírus consiga atingir outras partes do corpo, sua patogênese é praticamente exclusiva de fígado. A infecção pelo HAV pode ser dividida em duas fases: 1. Fase não citopática: A replicação ocorre exclusivamente no citoplasma do hepatócito, mas há pouca ou nenhuma lesão ao fígado. 2. Fase citopática: Nessa fase ocorre necrose tecidual e infiltração portal. O dano hepatocelular não é causado diretamente pelo vírus, mas sim por uma resposta imunológica do indivíduo. Quando essa resposta for excessiva, pode gerar hepatite fulminante. Tratamento: Não há tratamento antiviral específico para hepatite A. Suporte clínico e medicações sintomáticas, principalmente hidratação oral e antieméticos. A dieta deve ser leve e com baixo teor lipídico, e o paciente deve ser orientado a não ingerir bebida alcoólica em nenhuma quantidade, a fim de evitar um novo fator de lesão hepática Prevenção: A hepatite A é uma doença imunoprevenível. O Ministério da Saúde atualmente recomenda apenas uma dose de vacina de hepatite A, a partir dos 15 meses. A vacina é indicada, ainda, para adultos em situação de risco, como profissionais de saúde, profissionais que lidam com lixo e água contaminados e viajantes a áreas endêmicas. Quadro clínico: Assintomático (crianças) Sintomático (adultos) Fulminantes (0,35%) Diagnostico: Anticorpo anti-HAV IgM (+): 4-6 meses Anticorpo anti-HAV IgG (+): imunidade pela doença ou vacinal É dado pela elevação de transaminases, que estão maiores do que 3 vezes o limite superior da normalidade, pode atingir até 5.000 U/L. Apesar de a sua alteração estar diretamente relacionada com a lesão hepatocelular, o nível de elevação não é fator prognóstico nem faz parte dos critérios de definição de hepatite fulminante ou de indicação de transplante hepático. Hepatite B O vírus da hepatite B (HBV) pode produzir: 1) hepatite aguda com recuperação e eliminação do vírus; 2) hepatite crônica não progressiva; 3) doença crônica progressiva terminando em cirrose; 4) hepatite fulminante com necrose hepática maciça; 3 Gabi Vieira 02/2022 MEDFip Gbi 5) um estado de portador assintomático. Um terço da população mundial (2 bilhões de pessoas) está infectada pelo HBV, e 400 milhões de pessoas apresentam infecção crônica. Transmissão: Sexual (principal), perinatal / vertical, percutânea, hemotransfusão / transplante O HBV tem um período de incubação prolongado (4 a 26 semanas). Ao contrário do HAV, o HBV permanece no sangue até e durante episódios ativos de hepatite aguda e crônica. Aproximadamente 70% apresentam sintomas leves ou até mesmo nenhum e não desenvolvem icterícia. Os demais 30% apresentam sintomas constitucionais inespecíficos, como anorexia, febre, icterícia e dor no quadrante superior direito. Em quase todos os casos, a infecção é autolimitada e cede sem tratamento. hepatite fulminante também é rara, ocorrendo em aproximadamente 0,1 a 0,5% dos casos. O vírus da hepatite B (HBV) pertence à família hepadnavírus (DNA) e possui morfologia esférica, envolta por um envelope lipoproteico, que, por sua vez, envolve um nucleocapsídeo icosaédrico. O HBV é o único vírus DNA entre as hepatites. Os demais (hepatite A, C, D, E) são RNA. Uma vez na corrente sanguínea, as partículas infectantes ganham os hepatócitos, onde integram seu DNA ao genoma celular, e iniciam sua replicação intracelular, que libera novas partículas infectantes no microambiente hepático e na corrente sanguínea, além de partículas não infectantes antigênicas, de papel crucial no desenvolvimento da resposta imune do hospedeiro. No fígado infectado, o antígeno do capsídeo viral (core) – HBcAg – está presente nos hepatócitos e pode, inclusive, ser visualizado por técnicas de imuno- histoquímica. Esse antígeno não é liberado na corrente sanguínea, no entanto, estimula a produção de anticorpos específicos – anti-HBc IgM e IgG – que podem ser detectados no soro do indivíduo. O antígeno detectável em sangue periférico, que reflete a presença doHBV, é o antígeno de superfície presente no envelope – HBsAg. Sua detecção indica presença do vírus. Está sempre presente na fase aguda e permanece positivo nos indivíduos que não debelam a infecção e se tornam crônicos. Há um segundo antígeno que pode estar presente no sangue periférico: o HBe Ag, uma proteína não estrutural que reflete replicação viral. Está presente na fase aguda até o encerramento da replicação e, na fase crônica, quando há infecção ativa replicante. As imunoglobulinas de classe IgM direcionadas contra antígenos do core viral (anti-HBc IgM) são as de produção mais precoce, portanto são marcadores de infecção aguda, podendo eventualmente surgir em reagudizações durante a fase crônica. A seguir, inicia- se a produção de anti-HBc IgG, que permanece positivo durante toda a vida do indivíduo, como um marcador de contato pregresso com o vírus. A interrupção da replicação viral ao final da fase aguda ou durante a fase crônica é marcada pela produção do anticorpo anti-HBe. Com o encerramento da replicação, caso o indivíduo consiga obter uma resposta imune eficaz contra o HBV, ocorre o clareamento viral, com o desaparecimento do antígeno de superfície HBsAg e surgimento de anticorpos anti-HBs, considerados, em última análise, marcadores de cura da infecção. Sua persistência confere imunidade protetora a novas infecções por HBV. É, também, o anticorpo produzido mediante a vacinação anti-HBV e, portanto, responsável pela imunização ativa artificial do indivíduo. Quadro clínico: Hepatite aguda benigna: assintomática / anictérica / ictérica / recorrente / colestática 1% fuminante Extra-hepático 4 Gabi Vieira 02/2022 MEDFip Gbi Tratamento Tratamento de suporte; Casos graves, 1%, (hepatite fulminante; coagulopatia; icterícia > 14d) – tenofovir ou entecavir (antiviral) Vacina: Esquema de 3 doses em adultos (0, 1 e 6 meses) Hepatite C: Tipo de vírus: RNA Cronifica? É a que mais cronifica- até 80% dos casos Período de incubação: 15 – 150 dias Transmissão Parenteral (drogas / transfusão), sexual (risco mínimo) e vertical Manifestações clínicas Hepatite aguda: 20%; maioria assintomática Hepatite fulminante: raríssima ou inexistente Extra hepáticas: glomerulonefrite membranoproliferativa, criaglobulinemia mista... Hepatite crônica: 80% dos pacientes; cirrose hepática – maior risco em alcoolistas ou HIV; hepatocarcinoma – risco anual de 1-5%. Diagnostico Pode ser acidental, com exames de rotina. Aguda: viragem sorológica comprovada do anti-HCV (em até 90 dias) e/ ou positivação recente do HCV- RNA Como a maioria dos infectados não desenvolve sintomas de hepatite aguda, o diagnóstico não costuma ser feito nesta fase. Naqueles que apresentam sintomas, o diagnóstico pode ser suspeitado, em 80% dos casos, pela presença de anticorpos anti-HCV no soro. Nos 20% restantes somente a pesquisa do HCV-RNA será positiva (nestes, os sintomas precederam a soro conversão). Como o anti-HCV aparece 30 a 60 dias após a exposição ao vírus, em situações de forte suspeita de transmissão mais precoce do HCV num indivíduo assintomático (ex.: transmissão vertical ou após acidente ocupacional), recomenda-se a dosagem direta do HCV-RNA para a pesquisa diagnóstica. O anti-HCV pode ser pesquisado pelo método ELISA (sorologia convencional) ou pelo Teste Rápido (TR). As situações preferenciais para o emprego do TR já foram estudadas na. Se positivo, o anti-HCV não diferencia entre infecção atual ou contato prévio "curado". Logo, o HCV-RNA deve sempre ser utilizado para confirmar que o anti-HCV positivo significa infecção ativa pelo vírus C! Dos métodos que pesquisam o RNA viral ("métodos de amplificação molecular"), o mais empregado na prática é a PCR (reação em cadeia da polimerase). Estes testes são chamados genericamente de HCV- RNA. O tipo de PCR recomendado para diagnóstico pelo Ministério da Saúde é a PCR quantitativa (que já fornece a carga viral). 5 Gabi Vieira 02/2022 MEDFip Gbi A genotipagem do HCV sempre deve ser feita após confirmação do diagnóstico (anti-HCV e HCV-RNA positivos), uma vez que tal informação é indispensável para definir a melhor estratégia terapêutica. A genotipagem é feita por métodos moleculares especiais, diferentes do HCV-RNA, já que este último não diferencia os genótipos do vírus C. Tratamento Indicação: todos Drogas de escolha: antivirais de ação direta (DAA) ≥18 anos, virgem de tratamento DAA e ClCr ≥ 30 ml/min Hepatite D Tipo de vírus: RNA Transmissão: parenteral Cronifica? Sim Período de incubação: igual a hepatite B Quadro clínico e diagnostico Coinfecção Infecção aguda HBV + HDV Diagnostico: HBs Ag (+), anti-HBc IgM (+) Anti-HDV (+) HDV- RNA Quadro clínico: Hepatite autolimitada, não aumenta o risco de cronificação Superinfecção Infecção por HDV na hepatite B crônica Diagnostico: HBs Ag (+), anti-HBc IgG (+) Anti-HDV (+) HDV- RNA Quadro clínico: maior risco de cirrose (70% em 2 anos) e hepatite fulminante (até 20%) Tratamento: antiviral: alfapeginterferona + tenofovir ou entecavir – 48 a 96 semanas Hepatite E Tipo de vírus: RNA- raro no Brasil Transmissão: fecal – oral (semelhante ao vírus A) ingestão de carne suína Cronifica? Sim Período de incubação: 15-60 dias Quando suspeitar: descarta os outros tipos; viagem pu procedência para região endêmica (China, África ou Ásia); Perigo em gestantes: 20% de hepatite fulminante Diagnostico: IgM e IgG, anti HEV, HEV-RNA Prevenção: vacina (raro no Brasil, mais ofertada na China) 6 Gabi Vieira 02/2022 MEDFip Gbi 7 Gabi Vieira 02/2022 MEDFip Gbi 8 Gabi Vieira 02/2022 MEDFip Gbi A B C D E Agente HAV HBV HCV HDV HEV Dimensões 27-32 42 55-65 36 27-34 Envelope Não Sim Sim do HBV Não Genoma RNA DNA RNA RNA RNA Transmissão Fecal/oral Sim Não Não Não Sim Parenteral Não Sim Sim Sim Não Sexual Não Sim pouc.freq ... Não F. crônica Não (5-7%) (>80%) Sim Não
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