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Urgências em Periodontia Periodontia – UFPE Larissa Albuquerque *As urgências em periodontia consistem nos processos agudos do periodonto, que são condições clínicas que se estabelecem e progridem rapidamente, envolvendo o periodontal e, as vezes, estruturas associadas, caracterizadas por dor, destruição tecidual e infecção. *Os principais processos agudos do periodonto são as doenças necrosantes, abscessos do periodonto, gengivoestomatite herpética, lesões endo-pério e lesões por agentes físicos, químicos ou térmicos. Doenças periodontais necrosantes *São doenças inflamatórias necrosantes, causadas por infecção endógena, em que alterações sistêmicas predispõem o tecido gengival à invasão de algumas bactérias da microbiota oral. *Classificação: gengivite necrosante, periodontite necrosante e estomatite necrosante. *Em países desenvolvidos, essas doenças têm prevalência em redução e é mais comum entre os 15 e 30 anos. Em países em desenvolvimento, a maior prevalência é em crianças de até 10 anos. *O fator primário da etiologia são as bactérias e também os fatores predisponentes. *São causadas por bactérias anaeróbias (espiroquetas e bacilos fusiformes) e isso é evidenciado pelas bactérias sempre estarem presentes nos tecidos afetados, pelos altos níveis de anticorpos contra as bactérias e a rápida resolução da gengivite necrosante com metronidazol. *Os fatores predisponentes são o estresse, tabagismo, deficiência nutricional, imunossupressão e outros fatores. *O diagnóstico é feito pelos sinais e sintomas da doença juntamente com a história médica. *Diagnóstico diferencial: gengivoestomatite herpética, doenças infecciosas e condições mucocutâneas e lesões gengivais traumáticas. • Gengivoestomatite herpética: vesículas puntiformes ou ulcerações, acúmulo de placa e inflamação gengival, aumento de salivação, febre e linfadenopatia. É diferenciada da gengivite necrosante por ocorrer principalmente em crianças, não havendo predileção de sítio atingido na gengiva, com vesículas que se rompem formando ulceras arredondadas e que não sangram facilmente, febre alta, dor na boca toda e tratamento de mais de 1 semana. • Doenças infecciosas: candidíase pseudomembranosa. • Lesões mucocutâneas: lesões associadas ao pênfigo e penfigoide, hiperplasia associada à leucemia. • Lesões gengivais traumáticas: trauma por escovação excessiva, queimadura por hipoclorito de sódio, queimadura por peróxido de hidrogênio. *Tratamento na fase aguda: na clínica, é feita a remoção de debris superficial com gaze embebida em peróxido de hidrogênio e, se o paciente suportar, raspagem superficial. As recomendações para casa são bochechos com clorexidina 0,12% a cada 12h por 4 a 5 dias. Em casos de doença periodontal necrosante severa ou havendo debilitação sistêmica, recomenda-se metronidazol 400mg 3 vezes ao dia por 4 a 5 dias. Em caso de dor, paracetamol 500 a 750mg de 4 em 4 horas. *Tratamento da condição residual: ocorre após a resolução da fase aguda e segue o protocolo do plano de tratamento com a terapia inicial e depois terapia básica. Gengivite necrosante *Sinais e sintomas sempre presentes: ulceras gengivais crateriformes na gengiva marginal/ interdental e inversão papilar, vermelhidão, sangramento fácil ao toque ou espontâneo, dor ou grande desconforto. *Sinais e sintomas possivelmente presentes: grandes quantidades de biofilme, pseudomembrana, eritema linear, hálito fétido, linfadenopatia, febre, aumento de salivação e gosto metálico. Periodontite necrosante *Doença periodontal necrosante em que a necrose se estende também ao periodonto de sustentação. *A sua progressão ocorre após episódios recorrentes de gengivite necrosante e gengivite necrosante com sítio com periodontite. *Sinais e sintomas: todos da gengivite necrosante juntamente com perda, desnudação óssea e as vezes sequestro e sintomatologia sistêmica mais frequente. *É menos comum que a gengivite necrosante. É mais comum em indivíduos imunossuprimidos ou mal nutridos. OBS: o comprometimento severo das doenças periodontais necrosantes pode ocorrer em pacientes adultos, em caso de HIV+/AIDS com CD4<200 e carga viral detectável ou em caso de outra condição sistêmica severa, ou em crianças com desnutrição devera, condições de vida extremas e infecções virais severas. Nesses casos, a condição clínica progride de Periodontia Larissa Albuquerque gengivite necrosante, para periodontite necrosante, atingindo a estomatite necrosante. Abscessos do periodonto *É uma infecção purulenta circunscrita, no interior da parede gengival do sulco (sem doença periodontal prévia), bolsa periodontal ou opérculo, que pode progredir para a destruição dos tecidos do periodonto de sustentação. *O abscesso é formado devido a uma agressão aos tecidos gengivais que atrai células inflamatórias para o local. Os neutrófilos da primeira linha de defesa liberam enzimas que digerem células e outros componentes teciduais, formando pus. Ao mesmo tempo que o pus é formado, o infiltrado encapsula a região afetada para tentar impedir a disseminação da infecção. *São divididos em abscessos do periodonto gengival, periodontal e pericoronário. *Têm prevalência de 5 a 15% nas urgências e são as 2ª e 3ª urgências odontológicas mais prevalentes. Abscesso gengival *A causa mais frequente é a impacção de corpos estranhos no tecido gengival e a característica mais marcante é a tumefação gengival. Pode ocorrer sangramento ou supuração à sondagem e não há perda de inserção. *O tratamento consiste na remoção do corpo estranho do tecido, drenagem via sulco gengival de preferência, bochecho com soro aquecido 5 vezes nas primeiras 24h. Após as 24h, realizar o debridamento local e realizar bochecho com clorexidina 0,12% por 1 semana devido a dificuldade de higienização após o tratamento. Abscessos periodontais *São causados pela invasão de bactérias ao tecido gengival, impacção de corpos estranhos, forças oclusais excessivas, antibióticos de largo espectro sem o desbridamento mecânico, alterações anatômicas ou patológicas da superfície radicular. *Em pacientes com periodontite pré-existente, o abscesso pode ocorrer por exacerbação aguda (quando a periodontite não foi tratada, não responsiva ao tratamento ou durante a terapia periodontal de suporte) ou após o tratamento (após a raspagem, cirurgia ou medicação com antimicrobianos sistêmicos ou outras drogas, como a nifedipina). *Em pacientes sem periodontite pré-existente, o abscesso periodontal pode surgir por impacção (fio dental, elástico ortodôntico, palito, lençol de borracha, casca de pipoca), hábitos danosos (roer unha ou fio e apertamento), fatores ortodônticos (forças ortodônticas inadequadas ou mordida cruzada), crescimento gengival. *As manifestações clínicas são tumefação interdental, profundidade de sondagem aumentada, sangramento ou supuração à sondagem e dor irradiada moderada. Também pode ocorrer dente “crescido” e sensível à percussão, mobilidade dentária, febre e/ou linfoadenopatia e evidência radiográfica de perda óssea. *O diagnóstico diferencial pode ser feito com cones de guta percha para descobrir a origem do abscesso. *Tratamento da fase aguda: tem início com a avaliação do prognóstico do dente, seguido pela drenagem e debridamento da bolsa. Pode ser necessário realizar o ajuste oclusal e se tiver manifestações sistêmicas, fazer prescrição de amoxicilina 500mg de 8 em 8 horas por 4 a 5 dias. Em casa, o paciente deve fazer bochecho com clorexidina 0,12% por uma semana. *Tratamento da fase residual: segue o plano de tratamento. Abscesso pericoronário *É um abscesso ou inflamação no capuz pericoronário de um dente parcialmente erupcionado. *Os sinais e sintomas locais são tumefação,dor intensa ao toque, exudato purulento ou sanguinolento e o sítio mais frequente é o terceiro molar inferior. Também pode apresentar trismo, manifestações sistêmicas (febre, linfadenopatia e astenia) e tem grande potencial de disseminação. *O fator primário etiológico é o acúmulo de restos alimentares e de bactérias sob o opérculo (capuz pericoronário). Os fatores secundários são a erupção dentária parcial, higiene oral deficiente, trauma por antagonistas e infecções respiratórias. *Tratamento de fase aguda: é feita a drenagem por irrigação e debridamento leve. Em seguida é feita a prescrição de AINEs para controle de dor. Em caso de manifestação sistêmica, deve-se prescrever amoxicilina e metronidazol. Em caso de trismo, prescreve-se relaxante muscular. O paciente deve fazer bochecho com clorexidina 0,12% por uma semana. *Tratamento da condição residual: é feita a avaliação da viabilidade de erupção e o tipo de tecido na distal (queratinizado ou não). Em seguida, é feita a terapia não cirúrgica para diminuir a inflamação para possibilitar a extração dentária ou remoção do capuz.
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