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1 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 OBJETIVOS 1. Descrever a epidemiologia e os fatores de risco para o tromboembolismo pulmonar (TEP) 2. Correlacionar os sinais e sintomas do TEP com sua fisiopatologia; 3. Propor uma investigação complementar explicando as alterações esperadas na nesta doença; 4. Propor medidas preventivas e terapêuticas (medicamentosa e não medicamentosa) para o TEP. REFERÊNCIAS MARTINS, Mílton de A.; CARRILHO, Flair J.; ALVES, Venâncio Avancini F.; CASTILHO, Euclides. Clínica Médica, Volume 2: Doenças Cardiovasculares, Doenças Respiratórias, Emergências e Terapia Intensiva. Barueri, SP: Manole, 2016. VELASCO, Irineu T.; NETO, Rodrigo Antonio B.; SOUZA, Heraldo Possolo D.; et al. Medicina de emergência: abordagem prática. 16ª. ed. Santana de Parnaíba [SP]: Manole, 2022. ALBRICKER, Ana Cristina Lopes; et al. Diretriz Conjunta sobre Tromboembolismo Venoso – 2022. Arq Bras Cardiol. v.118, n.4, p. 797-857, 2022. DEFINIÇÃO O tromboembolismo pulmonar é definido pela obstrução de um ou mais ramos da circulação arterial pulmonar por um êmbolo originado (ou carreado) por meio da circulação venosa sistêmica, sobretudo dos territórios venosos da pelve e membros inferiores. EPIDEMIOLOGIA TEP é a 3° maior causa de doença cardiovascular no mundo. É mais comum em homens com mais de 70 anos de idade, em quem a incidência pode chegar a 700 casos a cada 100.000 habitantes/ano. No Brasil o DATASUS registrou 6.840 óbitos por embolia pulmonar no ano de 2018, sendo 34% deles em pacientes com 80 anos ou mais. Cerca de 1/3 de todos os casos de TEP é fatal. FATORES DE RISCO TEV prévio: fator de risco mais importante OBESIDADE: IMC > 40 confere risco de TEV em torno de 2 a 3x acima do normal, o qual se eleva desproporcionalmente quando existirem outros fatores (ex.: aumento de 24x em mulheres obesas usuárias de ACO). TRAUMA: relacionada à triade de Wirchow (estase – imobilização, lesão endotelial – pelo próprio trauma, hipercoagulabilidade – resposta inflamatória sistêmica). IMOBILIZAÇÃO E VIAGENS PROLONGADAS: pós- operatório (necessidade de ficar acamados em casa) e imobilização (ex.: talas e gessos), aumentando o risco de trombose. Há aumento do risco de TEV em viagens superiores a 8h. CÂNCER: principalmente devido à secreção de fatores pró-coagulantes pelo tumor. FATORES DE RISCO HEREDITÁRIOS Mutação do fator V de Leiden Mutação do gene de protrombina Deficiência da proteína C ou S Deficiência de antitrombina Desfibrinogemia Deficiência de Plasminogênio FATORES DE RISCO ADQUIRIDOS Uso de CVC Gestação e puerpério Tabagismo Insuficiência Cardíaca Idade > 75 anos Imobilização Trauma Obesidade Doença inflamatória intestinal Hermoglobinúria paraxística noturna Acidente Vascular Cerebral Doenças mieloproliferativas TVP prévio Malignidade Síndrome Nefrótica Infecção atual SAAF Uso de ACO ou terapia hormonal Tromboembolismo Pulmonar Problema 07 2 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 ETIOPATOGÊNIA A maioria dos êmbolos pulmonares advém da fragmentação e desprendimento de trombos venosos formados em veias profundas da pelve e membros inferiores. A formação de trombos é favorecida por condições classicamente descritas como a tríade de Virchow: estase venosa, hipercoagulabilidade e alterações vasculares. Os dois principais mecanismos de morte por TEP são a oclusão abrupta da artéria pulmonar e o efeito isquêmico no sistema de condução de His- Purkinje. A insuficiência respiratória no TEP é predominantemente decorrente de distúrbios hemodinâmicos: enquanto alguns alvéolos são pouco perfundidos devido à obstrução vascular, outras áreas do pulmão sofrem com o sobrefluxo sanguíneo. Anatomicamente, o TEP “em sela” ou “a cavaleiro” indica um trombo alojado na bifurcação da artéria pulmonar, implicando maior incidência de instabilidade hemodinâmica e mortalidade. Se o trombo se alojar em ramos cada vez mais distantes da artéria pulmonar, o TEP será classificado como lobar, segmentar ou subsegmentar, de acordo com a localização anatômica. A principal complicação é o aumento da resistência vascular do pulmão, devido a obstrução mecânica associado ao vasoespasmo secundário à liberação de mediadores inflamatórios, manifestando-se com quadro de hipertensão pulmonar aguda. O VD se dilata perante aumentos em sua pós- carga, na tentativa de manter seu débito (mecanismo de Frank-Starling). Porém, se o aumento na pós-carga for muito intenso, o débito do VD diminui devido a incapacidade de ejetar o sangue contra uma resistência pulmonar elevada e pela disfunção isquêmica do VD, provocada pela dilatação extrema com aumento da tensão em sua parede, dificultando o fluxo de sangue pela circulação coronariana QUADRO CLÍNICO ANAMNESE Em alguns casos, pode ser assintomática e descoberta incidentalmente Os sinais clínicos de TEP são inespecíficos, como dispneia, dor torácica, hemoptise, síncope ou pré- síncope. DISPNEIA: é o sintoma mais frequente (80% dos casos), mas com dispneia em repouso ocorrendo em apenas 50% dos pacientes. DOR TORÁCICA: cerca de 50% dos pacientes apresentam essa queixa, que usualmente tem caráter pleurítico (trombo é periférico, próximo a 3 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 pleura, por inflamação dessa região) ou subesternal, simulando uma síndrome coronariana aguda (por sobrecarga aguda e/ou isquemia do ventrículo direito). O infarto pulmonar nos segmentos basais do pulmão pode se manifestar como dor referida no ombro ou dor que pode ser similar a cólica ureteral. SÍNCOPE: presente em cerca de 17% dos casos e está associada a alta prevalência de instabilidade hemodinâmica e falência do ventrículo direito. SINTOMAS NEUROLÓGICOS: presente em cerca de 1 a 2% dos pacientes, manifestando-se como convulsão ou confusão mental. EXAME FÍSICO SINAIS DE HIPERTENSÃO PULMONAR: B2 hiperfonética e sopro em foco tricúspide podem estar presentes. ▪ Taquicardia ▪ Taquipneia ▪ Pulso fino ▪ Baixa saturação de oxigênio ▪ Febre baixa AUSCUTA PULMONAR: a maioria dos pacientes têm pulmões limpos na ausculta, mas pode haver estertores sobre o segmento pulmonar afetado. CLASSIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA Habitualmente, utilizam-se os escores de risco clínico de Wells ou de Genebra para classificar a probabilidade pré-teste. Tais escores, quando combinados com a dosagem do D-dímero, apresentam implicação importante na condução diagnóstica e na indicação de testes de imagem. MODELO DE WELLS DE PREDIÇÃO CLÍNICA DE TROMBEMBOLISMO PULMONAR VARIÁVEIS PONTUAÇÃO SIMPLIFICADA Sinais clínicos de TVP 3 Frequência cardíaca > 100 bpm 1,5 Imobilização ou cirurgia recente 1,5 TEP ou TVP prévias 1,5 Hemoptise 1 Câncer 1 Diagnóstico alternativo menos provável que TEP 3 TEP provável > 4 TEP improvável ≤ 4 MODELO DE GENEBRA REVISADO PARA PREDIÇÃO CLÍNICA DE TROMBEMBOLISMO PULMONAR (TEP). VARIÁVEIS PONTOS CLÍNICOS AVALIADOS ORIGINAL SIMPLIFICADO TEP ou TVP prévia 3 1 FC 75 – 94 bpm 3 1 FC ≥ 95 bpm 5 2 Cirurgia ou fratura ≤ 1 mês 2 1 Hemoptise 2 1 Câncer ativo 2 1 Dor unilateral membro inferior 3 1 Dor a palpação no trajeto venoso profundo do membro e edema unilateral 4 1 Idade maior 65 anos 1 1 PROBABILIDADE CLÍNICA Escore de 3 níveis Baixo 0-3 0-1 Intermediário 4-10 2-4 Alto ≥ 11 ≥ 5 Escore de 2 níveis Improvável 0 - 5 0-2 Provável ≥ 6 ≥ 3 DIAGNÓSTICO Além do Quadro clínico e do D-dímero, as técnicas complementares recomendadas para diagnóstico de TEP são: 4 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA-6° PERÍODO 2022/2 D-DÍMERO: produto da degradação da fibrina presente no coágulo de sangue. é o principal exame para excluir TEV, pois apresentam alta sensibilidade e baixa especificidade para o diagnóstico ANGIOTOMOGRAFIA PULMONAR (ANGIO-TC): é o exame de escolha para avaliação de pacientes com suspeita de TEP após estratificação de risco clínico. Um exame de angio-TC positivo para TEP em paciente com alta probabilidade clínica confirma o diagnóstico. CINTILOGRAFIA COM V/Q SPECT: escolha preferencial em casos de gravidez, além de necessidade de uso em algumas situações de limitação do uso de contraste pela angio-TC. ECOCARDIOGRAMA: investigação de sobrecarga pressórica de ventrículo direito (decorrente de aumento da resistência vascular pulmonar, com consequente elevação da pós carga de VD) e na avaliação funcional dessa cavidade. Ecocardiograma em TEP de Baixo Risco: não é um exame obrigatório na rotina diagnóstica em pacientes com suspeita de TEP com estabilidade hemodinâmica, mas representa importante ferramenta para discriminação prognóstica e diagnóstico diferencial. Ecocardiograma em TEP de Alto Risco: é obrigatório em todos os pacientes com suspeita clínica de TEP e instabilidade hemodinâmica. Nesses pacientes, o registro de um exame normal elimina em definitivo a hipótese de embolia pulmonar maciça. ACHADOS ECOCARDIOGRÁFICOS Patognomônico de TEP: presença de trombos móveis em cavidades direitas, tronco e/ ou ramos de artéria pulmonar. Alterações fundamentais relativas ao tromboembolismo agudo: b) Dilatação de VD; c) Disfunção de VD; RADIOGRAFIA DE TÓRAX: os achados geralmente são inespecíficos, incluindo cardiomegalia, atelectasia basal e infiltrado ou derrame pleural. Entretanto, existem duas situações onde o raio X reforça a hipótese de TEP: (1) paciente com fatores de risco e início súbito de dispneia, cujo exame é normal (2) presença de sinais clássicos de TEP. 5 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 ELETROCARDIOGRAMA: os achados mais comuns do ECG são taquicardia e inversão de onda T em V1 (presente em 38% dos casos) e alterações de segmento ST em V1 a V4. Podem ainda estar presentes bloqueio incompleto do ramo direito e o achado clássico, mas incomum, de S1-Q3-T3 (10 a 15% dos pacientes). COM INSTABILIDADE HEMODINÂMICA SEM INSTABILIDADE HEMODINÂMICA ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO O TEP é classificado em três categorias com base na gravidade: TEP maciço, TEP submaciço e TEP de menor gravidade: TEP MACIÇO: choque obstrutivo, definido como pressão arterial sistólica (PAS) menor do que 90 mmHg ou necessidade de inotrópicos para manter PAS acima de 90 mmHg e sinais de hipoperfusão; hipotensão persistente, PAS menor do que 90 mmHg ou queda da PAS em mais de 40 mmHg do basal, por um tempo maior do que 15 minutos não explicada por outro motivo, como sepse ou desidratação. TEP SUBMACIÇO: pressão arterial normal, mas com outras evidências de estresse cardiopulmonar. TEP DE MENOR GRAVIDADE: Todos os outros casos. TRATAMENTO SUPORTE HEMODINÂMICO: reposição volêmica (cristaloide) + drogas vasoativas SUPORTE RESPIRATÓRIO: SaO2 < 90% 6 MODULO II: DISPNÉIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS ANA LUIZA ALVES PAIVA -6° PERÍODO 2022/2 ANTICOAGULAÇÃO PARENTERAL: evitar a formação de novos coágulos e evita o crescimento do trombo. ▪ Heparina de baixo peso molecular ▪ Heparina não fracionada ANTICOAGULAÇÃO ORAL VARFARINA: única disponível pelo SUS e deve ser iniciada concomitantemente à anticoagulação parenteral, exceto nos casos de alto risco de sangramento. Inicia-se com 5 mg por dia com ajustes conforme INR. O alvo é um INR entre 2,0 e 3,0. TROMBÓLISE Indicada em pacientes com TEP maciço ou hipotensão (PAS < 90 mmHg)
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