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Bacharelado em Fonoaudiologia Disciplina Estágio IV Audiologia Caso Clínico 1 Livro Docente: Dra. Aline Domingues Chaves Aita Acadêmico: Elder Fortunatti Caxias do Sul – RS 2022/02 SÍNTESE DE CASO No dia 04 de março de 2022, foi realizada uma avaliação audiológica no paciente R. R. S., 37 anos de idade, sexo masculino, residente em Caxias do sul. Na anamnese o paciente relatou perda de audição flutuante na orelha direita após se envolver em uma briga e levar golpes (socos) principalmente na região do osso temporal, caso ocorrido à aproximadamente um mês antes da avaliação audiológica. Referiu zumbido de pitch agudo no mesmo lado, vertigens associadas a sintomas neurovegetativos ao levantar-se da cama ou virar-se bruscamente. Trabalha em local ruidoso há dois anos em uma empresa metalúrgica e faz uso de protetor auricular. Nega diabetes, passado otológico, tampouco familiar com perda auditiva. Após a anamnese, foi realizada a meatoscopia, onde foi possível visualizar a membrana timpânica íntegra e não havia presença de cerúmen. Foi também realizada a audiometria tonal, onde o exame sugeriu perda auditiva neurossensorial¹ de grau leve² na orelha direita e perda auditiva neurossensorial¹ limitada às frequências de 250hz, 500hz e 6000hz na orelha esquerda. Na logoaudiometria o SRT ficou com os resultados dentro do esperado bilateralmente quando comparados às médias tritonais e no IPRF nas palavras monossílabas o paciente não apresentou dificuldades de compreensão de fala³. Masc. VA: mín: - máx: - Masc. VO: mín: 35 máx: 45 SRT: 35 (dB) LDV: - Índice de reconhecimento de fala (IPRF): 65 (dB) 92 % mono (db) % dissi Masc. logo: - Masc. VA: mín: - máx: - Masc. VO: mín: 15 máx: 45 SRT: 25 (dB) LDV: - Índice de reconhecimento de fala (IPRF): 55(dB) 100% mono (db) % dissi Masc. logo: 40 Na sequência foram realizadas as medidas de imitância acústica onde o paciente R. R. S. apresentou os seguintes resultados: curvas timpanométricas do tipo “A” bilateralmente⁴. Reflexos acústicos contralaterais presentes e ipsilaterais ausentes na orelha direita e reflexos acústicos contralaterais variáveis e ipsilaterais presentes na orelha esquerda⁵. HIPÓTESE DIAGNÓSTICA - TRAUMA DO OSSO TEMPORAL Um trauma ao sistema auditivo pode resultar de pancadas direto à cabeça ou de golpes penetrantes. As consequências de trauma direto a cabeça incluem frequentemente fraturas cranianas com e ou sem fratura do osso temporal⁵. Aproximadamente 4% dos pacientes com traumatismo craniano apresentam fratura, e 14-22% destes pacientes com fratura de osso temporal. As três causas mais frequentes são acidentes com veículos e motocicletas 45%, quedas 31%, e assaltos 11%⁶. Os sinais e sintomas do trauma acústico do osso temporal incluem: hipoacusia unilateral ou bilateral, onde o grau da perda auditiva vai ser proporcional ao tipo e grau do trauma, pode estar acompanhada de zumbido. A vertigem geralmente é um sintoma tardio, outros sintomas ainda incluem: paralisia facial, diplopia, otorréia e rinorréia⁷. O trauma do osso temporal pode ser classificado em longitudinal, transversal ou mista. As fraturas longitudinais geralmente ocorrem em traumas temporoparietais, acometendo com frequência a porção extralabiríntica, e apresentam como principais complicações a lesão ossicular e o hemotímpano. As fraturas transversais geralmente ocorrem em traumas fronto-occipitais, com acometimento translabiríntico, e como sua principal complicação destaca-se a lesão do nervo facial⁸. Enquanto nas fraturas mistas a anatomia da base do crânio diminui a chance de fraturas longitudinais ou transversais isoladas. Cerca de 10% das fraturas são mistas com a linha de fratura estendendo-se em mais de uma direção através da base do crânio⁸ ˒ ⁹. O padrão audiológico do trauma do osso temporal pode mostrar umas grandes variedades de achados. O audiograma pode mostrar uma perda condutiva, mista ou sensorioneural, depende da localização da lesão na cabeça. Em alterações condutivas, a perda é geralmente unilateral. Nas alterações sensorioneurais a perda pode ser unilaral ou bilateral. O grau de perda é caracteristicamente leve, mas pode alcançar um grau profundo em alguns indivíduos. A curva audiométrica pode ocorrer em um limite restrito de frequências ou em todas as frequências¹⁰. Pessoas que sofrem trauma do osso temporal devem ser acompanhadas mesmo que não haja uma perda auditiva identificada pela audiometria tonal. Geralmente a recuperação auditiva pelo trauma do osso temporal é favorável, havendo em 80% casos recuperação auditiva total espontânea nas primeiras três semanas e, no restante, geralmente permanece uma perda de 5-10 dB. Em perdas superiores a 50dB, raramente ocorre retorno à normalidade, devendo suspeitar-se de disjunção de cadeia ossicular ou fratura de ossículos. O mesmo se aplica para perdas maiores do que 30 dB que se mantenham após seis semanas de trauma¹¹. Apenas 8% das fraturas longitudinais apresentam perda auditiva do tipo neurossensorial. Na vigência de fístula perilinfática, a perda neurossensorial é progressiva e/ou flutuante, com sintomas vestibulares associados. Desarticulação aguda da cadeia pode causar contusão labiríntica e lesão no órgão de Corti, com perda neurossensorial nas altas frequências¹¹. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando que antes de ocorrer a briga em que o paciente levou golpes na região do osso temporal, ele relatou que não havia nenhuma queixa auditiva. E após o ocorrido, percebeu a diminuição da audição, bem como zumbido e vertigem. Com base em todas as informações obtidas na anamnese e nos achados audiológicos, sugere-se hipoteticamente uma perda auditiva na orelha direita por trauma do osso temporal. É importante ressaltar que para ter um diagnóstico preciso de fratura do osso temporal, é necessário realizar exames de como a tomografia computadorizada de alta resolução de ossos temporais que permitem a avaliação da fratura e de suas extensões, assim como o envolvimento de estruturas importantes como cadeia ossicular, cóclea, vestíbulo, canais semicirculares e nervo facial⁶. Após avaliação audiológica o paciente foi liberado com orientação de realizar uma tomografia de crânio e agendar nova consulta com o médico otorrinolaringologista para mostrar o resultado e foi encaminhado para o exame da vectonistagmografia devido à queixa de vertigem. REFERÊNCIAS 1. Silman, S.; Silverman, C. A. Basic audiologic testing. In SILMAN, S.; SILVERMAN, C. A. Auditory diagnosis: principles and applications. San Diego: Singular Publishing Group. p. 44-52, 1997. 2. Organização Mundial de Saúde (OMS). Prevention of blindness and deafness. 2020. Disponível em: http://www.who.int/publications-detail/basic- -ear-and-hearing-care- resource. Acesso em 28/05/2020. 3. Jerger, J; Speacks, C.; Trammell, J. A new approach to speech audiometry. J Speech Hear Disord, v. 33, p. 318, 1968. 4. Jerger, J.; Jerger, S.; Mauldin, L. Studies in impedance audiometry. Normal and sensorineural ears. Arch. Otolaringol., v. 96, p. 513-23, 1972. 5. Jerger, S.; Jerger, J. Alterações auditivas: um manual para avaliação clínica. São Paulo: Atheneu. 1989. 6. Moraes J, de Castro F, Secchi M. Fracture of the temporal bone in patients with traumatic brain injury. Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia [Internet]. 12 fev 2014;16(01):062-6. Disponível em: https://doi.org/10.7162/s1809-48722012000100009 7. Most SP. Manuais MSD edição para profissionais[Internet]. Fraturas do osso temporal - Lesões; intoxicação - Manuais MSD edição para profissionais; 9 jan 2022. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/lesões-intoxicação/trauma- facial/fraturas-do-osso-temporal 8. Costa AM, Gaiotti JO, Couto CL, Diniz RL, Motta EG, Gomes ND. Trauma dos ossos temporais e suas complicações: aspectos na tomografia computadorizada. Radiologia Brasileira [Internet]. Abr 2013;46(2):101-5. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0100-39842013000200014 9. Almeida N. FORL - Fundação Otorrinolaringologia. Trauma do Osso Temporal; 2005 Disponível em: https://forl.org.br/Content/pdf/seminarios/seminario_41.pdf 10. Bogar P, Schuster S, Helena Chagas Ramos A, Elizabete pedalini M, Bento R. Achados audiológicos e radiológicos em pacientes com otorragia após trauma crânio-encefálico. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. 1992;58(2):120-3. 11. 8. P C Marques M. Trauma do Osso Temporal. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. 1999;65(6):519-26. http://www.who.int/publications-detail/basic-%20-ear-and-hearing-care-resource.%20Acesso%20em%2028/05/2020 http://www.who.int/publications-detail/basic-%20-ear-and-hearing-care-resource.%20Acesso%20em%2028/05/2020 https://doi.org/10.7162/s1809-48722012000100009 https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/les%C3%B5es-intoxica%C3%A7%C3%A3o/trauma-facial/fraturas-do-osso-temporal https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/les%C3%B5es-intoxica%C3%A7%C3%A3o/trauma-facial/fraturas-do-osso-temporal https://doi.org/10.1590/s0100-39842013000200014 https://forl.org.br/Content/pdf/seminarios/seminario_41.pdf
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