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TÉCNICAS DE EXAME PSICOLÓGICO I Professora Paula Prata A história do surgimento dos testes A história do surgimento dos testes • A partir de agora vamos encaminhá-lo para uma breve viagem no tempo com a intenção de tornar mais evidente a história da testagem em Psicologia. Para tanto, vamos apresentar um quadro que pretende situar o surgimento dos testes. • Antes, porém, vamos falar sobre a medida em Psicologia, assunto que parece sempre muito difícil para o aluno da psicologia e a maioria dos cientistas sociais. Vamos começar pelo surgimento da Psicometria, que é uma área da Psicologia que pretende estudar o fenômeno psicológico, e seu objeto é o número. Sendo assim, nós a compreendemos como a área que estuda a medida em psicologia. Para Pasquali (2003), a Psicometria deve ser concebida como um ramo da psicologia que se caracteriza por expressar (observar) o fenômeno psicológico através do número, em vez da pura descrição verbal. A história do surgimento dos testes • As raízes da testagem estão perdidas na antiguidade. Existem repetidos relatos do sistema de exames no serviço civil utilizado no império chinês por aproximadamente dois mil anos (Bowman, 1989 in Anastasi & Urbina, 2000). • Anastasi & Urbina (2000) chamam atenção de que as limitações, assim como as vantagens, que caracterizam os testes atuais se tornam mais compreensíveis quando comparadas ao background em que eles se originaram. • Segundo Pasquali (2001), os testes, como os conhecemos hoje em dia, datam do início do século XX. Contudo, na história do desenvolvimento dos testes psicológicos, há uma série de cientistas que desempenharam um relevante papel. A história do surgimento dos testes • Para Urbina (2007), o uso mais básico de um teste é como ferramenta na tomada de decisões que envolvem pessoas. • Para ela, antes do estabelecimento de sociedades urbanas, industriais e democráticas, havia pouca necessidade de que as pessoas tomassem decisões a respeito de outras e, mesmo assim, muito antes do século XX já existiam diversos precursores do que conhecemos hoje como testagem moderna. Pasquali (2001) observa o registro de obras importantes que representama avaliação psicológica separadamente por décadas. Citaremos alguns desses autores, evidenciando sua relevância para a época. a) Década de Galton – 1880 – Inglaterra b) Década de Cattell – 1890 – EUA c) Década de Binet – 1900 – França d) Charles Spearman e o conceito de “inteligência geral e) A era dos testes de inteligência – 1910/1930 f) Década da Analise Fatorial – 1930 g) A era da sistematização – 1940/1980 h) A era da Psicometria moderna – 1980 Década de Galton 1880 – Inglaterra Década de Galton – 1880 – Inglaterra Sir Francis Galton nasceu na Inglaterra, em uma grande família de um banqueiro. Afirmam Hergenhahn e Henley (2000, p. 266) que Galton apresentava genialidade: com instrução caseira aprendeu a ler e escrever aos 2 anos e meio, e com a idade de 5 anos já conseguia ler qualquer livro em língua inglesa. No entanto, ao ser enviado para a escola, acabou por experimentar uma série de violências físicas, como ser chicoteado por motivos “pedagógicos”, sermões diversos dos professores e conflitos com os colegas de classe. Aos 16 anos, começou seus estudos de medicina, porém nunca chegou a concluir o curso. Como possuía grande fortuna, dedicou-se a estudar e trabalhar naquilo que mais lhe interessasse no momento – o que o levou a grandes explorações da África e ao reconhecimento da Royal Geographic Society em 1853. Década de Galton – 1880 – Inglaterra • Seu maior interesse versava nas medidas das coisas, o que, segundo Hergenhahn e Henley (2000), lhe rendeu uma série de estudos, alguns até engraçados, que apresentamos abaixo a título de curiosidade: • Em suas tentativas de medir e prever o tempo, inventou o mapa do tempo e foi o primeiro a utilizar termos como “frentes”, “altas”, “baixas”. • Foi o primeiro a sugerir que as impressões digitais poderiam ser utilizadas como identificação pessoal de indivíduos – procedimento mais tarde utilizado pela Scotland Yard. • Ele tentou determinar a efetividade da reza (e a considerou inefetiva). • Ele tentou determinar qual país tinha as mulheres mais bonitas. • Ele mediu o nível de tédio observado em palestras científicas. (HERGENHAHN, B. R; HENLEY, Tracy. An Introduction to the History of Psychology. 1º ed California: Wadsworth, 2000 p. 267) Década de Galton – 1880 – Inglaterra • Francis Galton tinha, também, interesse pela avaliação das aptidões e desenvolveu meio para compreendê-las a partir de medidas sensoriais. • Foi responsável pelo desenvolvimento de escalas de atitude e pelos métodos estatísticos dos dados coletados em seus estudos. • Francis Galton é apontado por autores como Bodeker (2005, p. 2) como o introdutor de uma abordagem psicométrica à criatividade e, embora seus testes não tivessem produzido resultados satisfatórios, para Pasquali (2001, pág.20) sua contribuição foi fundamental para o surgimento da teoria dos testes ou da Psicometria. Década de Cattell 1890 – EUA b) Década de Cattell – 1890 – EUA • Cattell, psicólogo americano, influenciado por Galton, desenvolveu suas medidas de diferenças individuais dando ênfase, ainda, às medidas sensoriais por considerá-las mais precisas. • Ficou famoso ao usar, em seu artigo de 1890, o termo “teste mental” (mental test) para as provas aplicadas aos alunos universitários, com a intenção de avaliar seu nível intelectual, o que fez sucesso internacional. • Percebeu que algumas medidas objetivas para avaliação das funções mais complexas não produziam resultados condizentes com o desempenho acadêmico. • Contudo, os resultados dos seus próprios testes também não foram satisfatórios, assim como os de Galton. (Pasquali 2003, p.20) Década de Binet 1900 – França c) Década de Binet – 1900 – França • Então, na França, surgiu o pedagogo e psicólogo francês Alfred Binet (1857- 1911) e com ele realmente começaram os testes de inteligência, propondo-se a medir as funções mais complexas. • Ele não pensava no determinismo biológico nem na hereditariedade. • Estava preocupado em como ajudar crianças que tinham problemas na escola e que não se desenvolviam tão bem quanto as outras, em como medir e criar instrumentos para avaliar e, assim, auxiliar para que essas crianças progredissem mais. c) Década de Binet – 1900 – França • Lembramos que os primeiros testes mentais práticos surgiram, na França, a partir da tradição humanista, cujo interesse era o bem-estar social. • Embora tenha construído testes de conteúdo mais cognitivo, para medir funções mais amplas como a memória, a atenção, a compreensão, a imaginação, iniciou-se a era dos testes de inteligência, incluindo de Q.I. c) Década de Binet – 1900 – França • O primeiro teste com validade produzido para medir inteligência foi desenvolvido por Binet (1857-1911) e pelo químico e fisiologista franco-russo Victor Henri (1872-1940) no ano 1895, conforme aponta McDonald (1999, p.20). Este teste foi melhorado em 1905 por Binet e Simon, consistindo em uma série de itens passíveis de escolha em que a porcentagem de respostas corretas tenderia a aumentar com a idade cronológica. Assim, seria possível estabelecer a “idade mental” com base nos resultados colhidos com uma série de indivíduos, constituindo, então, o início do que hoje grande parte da população conhece por Testes de QI (Testes de Quociente de Inteligência). • Binet e Simon (in Tyler,1956) criticaram os testes até então desenvolvidos, considerados demasiadamente sensoriais. Foi assim que, para compreender as causas de reprovação na escola, eles desenvolveram, em 1905, a Escala Binet- Simon (Erthal, 2003, pág.17), que, conforme apontado na introdução à parte histórica, é uma revisão do trabalho anteriormente realizado entre Binet e Henri. Charles Spearman e o conceito de “inteligênciageral” d) Charles Spearman e o conceito de “inteligência geral” • Charles Spearman (1863-1945) teve uma carreira predominantemente militar até os 34 anos, quando começou a estudar psicologia, sendo aluno de Wundt e Külpe, na Alemanha. • Segundo Hergenhahn e Henley (2000, p. 277), ao retornar à Inglaterra, Spearman entrou em contato com a obra de Galton após reproduzir seus experimentos com sucesso, o que confirmou uma premissa de Galton sobre a acuidade sensorial e a inteligência terem uma relação, e foi além. • Em 1904, publicou o seu artigo chamado “‘General Intelligence, Objectively Determined and Measured.”, o que o auxiliou a conseguir uma posição na Universidade de Londres, onde seus estudos foram a base para o que se chama de “análises fatoriais” . • Hergenhahn e Henley (2000, p. 278) explicam esta análise como capacidade de “medir tanto um indivíduo ou um grupo de indivíduos de formas variadas. Após, todas as medidas são intercorrelacionadas para determinar quais delas variam de modo sistemático”. d) Charles Spearman e o conceito de “inteligência geral • Spearman descobriu, então, que a inteligência poderia ser explicada por dois fatores: • A) fatores específicos (matemática, línguas, música), que ganhou a letra S como identificador; • B) fator geral (G), que teria uma ligação determinante com as questões hereditárias. • Sua concepção de inteligência é que predominou nos Estados Unidos da América, ao contrário das teorias de Binet. • Por conseguinte, podemos afirmar que os testes de QI são medidas conforme identificadas pelo fator G de Spearman, daí a sua importância na próxima era a ser estudada. A era dos testes de inteligência – 1910/1930 e) A era dos testes de inteligência – 1910/1930 • Com a Primeira Guerra Mundial (1916), surgiu a necessidade de realização de testes para convocação para o Exército americano. Foram criadas centenas de testes. • O objetivo era medir a inteligência como um todo, mas a maioria dos testes criados media apenas algum aspecto da inteligência. O artigo de Spearman sobre o Fator G (1904) e a revisão do teste de Binet (1916) junto ao impacto da guerra com a imposição de um processo de seleção rápida, universal e eficaz culminaram para o desenvolvimento dessa era dos testes de inteligência. • Depois surgiram os testes de aptidão e de personalidade. Hoje, são diversos os testes que buscam a mensuração dos aspectos do comportamento humano (Pasquali, 2001). Década da Analise Fatorial – 1930 f) Década da Analise Fatorial – 1930 • Década marcada pelo declínio dos testes de inteligência e a desilusão com a ideia de um fator geral universal (fator G de Spearman) capaz de avaliar um elemento básico geral, que seria universal, independentemente da cultura e do local onde os sujeitos teriam sido criados. • Psicólogos estatísticos começaram a repensar as ideias de Spearman e surgiu, assim, a Análise Fatorial, trazendo reconhecido avanço para a Psicometria. • Obs.: Análise fatorial é uma análise multivariada que se aplica à busca de fatores num conjunto de medidas realizadas (Pereira, 2004). A era da sistematização – 1940/1980 g) A era da sistematização – 1940/1980 • Para Pasquali (2001, p.24), este foi um período marcado por duas tendências opostas. Ambas tinham a intenção de resgatar a confiabilidade dos testes psicológicos. • Nas obras de síntese, havia o interesse em sistematizar os avanços da Psicometria através dos estudos de Gulliksen (1950), Torgerson (1958), Thurstone (1947), Harman (1967), Cattell (1965) e Guilford (1967). Na mesma época, a American Psychological Association – APA – introduziu as normas de elaboração e uso dos testes. g) A era da sistematização – 1940/1980 • Nas obras consideradas de crítica, foram levantados os problemas da teoria clássica, como aqueles referentes às escalas de medida. Com a obra de Lord e Novick (1968) tivemos o ponto de partida para a teoria moderna da psicometria, conhecida como Teoria de Resposta ao Item, sistematizada pelo próprio Lord (1980). • Outra tendência crítica que surgiu na tentativa de superar as dificuldades da psicometria clássica foi a partir de Sternberg (1977, 1982, 1985), através da psicologia cognitiva e de seus estudos na área da inteligência. (Pasquali, 2001). A era da Psicometria moderna – 1980 h) A era da Psicometria moderna – 1980 • Esta era culmina com o surgimento da TRI – Teoria de Resposta ao Item –, que foi sistematizada a partir da obra de Lord e Novick (1968). Embora esta teoria seja considerada um modelo do primeiro mundo, ainda não conseguiu resolver todos os problemas da Psicometria, mas substitui parte do modelo clássico e é baseada no modelo do traço latente (Pasquali, 2001). • Na Teoria Clássica dos Testes (TCT), o foco do interesse está no escore de um teste, que representa um conjunto de comportamentos. Na TRI (Teoria de Resposta ao Item), o foco está no traço latente. • O impacto da TRI para a Psicometria é devido à sua capacidade em superar limitações consideradas graves da Psicometria clássica, tais como os parâmetros dos itens, seu grau de dificuldade e poder de discriminação, com relação ao conceito de fidedignidade ou precisão, além de outros (Pasquali, 2003).
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