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Mayra Alencar Resumo: Cartilha - Suicídio, informando para prevenir Quais emoções o atendimento ao paciente com ideação suicida evoca nos profissionais de saúde? Definições: Suicídio: Suicídio pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção é a morte, de forma consciênte e intencional, o qual utiliza-se de meios em que o indivíduo acredita ser letal. - Comportamento de determinantes multifatoriais - O risco de suicídio corresponde a uma urgência médica Obs.: Automutilação é diferente de tentativa de suicíduo. - Automutilação e a busca de alívio de dores emocionais por meio do estímulo a dores físicas, geralmente cometidas pela própria pessoa. Comportamentos suicidas: Pensamentos, planos e a tentativa de suicídio. É importante salientar que uma pequena porção do comportamento suicídio é de conhecimento da atenção em saúde. Normalmente, o primeiro contato com a ajuda profissional é realizado com profissionais de pronto- atendimento ou da atenção básica. Objetivos da cartilha: A prevenção do suicídio é possível desde que esteja presenta a capacitação do profisionais de todas as áreas da saúde, o que saliente a importância da cartilha. - A avaliação sistemática do risco de suicídio deve fazer parte da prática clínica rotineira de qualquer médico. Quais as barreiras à detecção e à prevenção do suicídio ? ➔ O estigma e o tabu relacionados ao assunto, relacionados a aspectos: - Religiosos; - Morais; - Culturais. ➔ A ideia de que o comportamento suicida não é um evento frequente condiciona uma barreira para a prevenção; 2 Mitos sobre o comportamento suicida: Erros e preconceitos→ Formação de um estigma→ Processo de isolamento, exclusão e discriminação. O conhecimento quanto a esses mitos pode levar a uma desconstrução de tais estigmas. ➔ Visto que a maioria dos comportamentos suicidas são consequências de condições de saúde mental comprometidas, a prevenção do suicídio torna-se um direito do indívio e dever do estado, a fim de garantir autonomia e percepção realista sobre suas condições. ➔ Tentativas de suicídios anteriores só oferecem maior risco de suicidalidade quando há pensamentos suicidas presentes. Logo, nesse contexto, se ausência de pensamentos ou sintomas depressivos, por exemplo, o paciente não se encontra mais em situação de risco. ➔ Se a tentativa de suicídio tiver sido realizada recentemente, o paciente encontra-se mais fragilizado e susceptivel na primeira semana. ➔ Por se tratar de uma ideia obsessiva, o indivíduo terá maior tendência em verbalizar. ➔ O alívio após episódios de depressão e comportamentos suicidas pode significar o fim da ambivalência, que normalmente resulta em concretização do desejo de morte e início do planejamento. ➔ Após uma tentativa de suicídio recente, o paciente tende, além dos pensamentos de morte, apresentar o comportamento de culpa. ● Normalmente, o paciente afirma que o ato não se repetirá, porém, na verdade, os pensamentos suicídios estão ainda mais intensos. 3 ➔ A abordagem do assunto não necessita ser iniciada pelo próprio paciente. ➔ Efeito Werther (O sofrimento do jovem Werther - Nietzsche): Aumento do índice de suicídios cometidos da mesma maneira que o personagem do livro. ➔ Não é proibido falar sobre suicídio, mas é contraindicado falar sobre os mecanismos de more - efeito de cópia-. ➔ Além disso, também não é indicado a divulgação de cartas de suicídio, assim como sobre a rotina do suicida. Fatores de riscos: É possível prevenir o suicídio, desde que os profissionais de saúde, de todos os níveis de atenção, estejam aptos a reconhecer os seus fatores de risco. Os dois principais fatores de risco são: ➔ Tentativa prévia de suicídio: - Principal ➔ Doenças mentais: - A maior parte dos suicidas apresentam doença mental não diagnosticada ou tratada de forma inadequada, sendo os mais comuns: ● Depressão, transtorno bipolar, alcoolismo, abuso/dependência de outras drogas, transtorno de personalidade e esquizofrenia. - Se comorbidades psiquiátricas múltiplas → maior o risco; Outros fatores de risco: ➔ Desesperança, desespero, desamparo e impulsividade; - A desesperança pode persistir mesmo após a remissão de outros sintomas depressivos; ➔ Idade - Juventude (depressão, problemas de sociabilidade. uso de álcool e demais substância, abusos sexuais e etc) - Idoso (isolamento) ➔ Gênero 4 - Os óbitos por suicídio são maiores entre os homens, porém, as tentativas de suicídio são maios frequentes entre as mulheres. - Os óbitos por suicídio são menores entre as mulheres visto o maior contato a redes de apoio - Há evidências de que conflitos acerca da identidade sexual causem maior risco de comportamento suicida. ➔ Doenças clínicas não psiquiátricas - Câncer, HIV, esclerose múltipla, doença de Parkinson e etc - Os sintomas não responsivos ao tratamento e o início do diagnóstico configuram-se como fatores de risco - Condições crônicas (necessidade de rastrear sintomas depressivos e comportamentos suicidas) - Quadros de dores crônicas ➔ Eventos adversos na infância e na adolescência - Maus tratos, abusos físicos, abusos sexuais, divórcios dos pais, transtornos psiquiátricos familiares e etc - Adolescente: Abuso ou uso de substâncias associadas à depressão, baixo desempenho escolar, conflitos familiares, incerteza quanto à orientação sexual e etc. - Fator de risco adicional na adolescência: Suicídio de pessoas famosas ou conhecidas. Além disso, há o fenômeno dos suicídios em grupo ou comunidades. ➔ História familiar e genética ➔ Fatores sociais: - “Quanto maior os laços sociais em uma determinada comunidade, menores as taxas de mortalidade por suicídio” → “Quanto menos laços sociais, maiores os índices de suicídio.” ● Maior susceptibilidade de suicídio entre emigrantes e indivíduos que moram sozinhos (maiores taxas em divorciados e em indivíduos que nunca se casaram) ● Alta taxa de suicídio em moradores de rua (isolamento) - Em períodos de recessão econômica → As taxas de suicídios são maiores, principalmente nos primeiros 3 meses da mudança ● Desemprego ● Problemas financeiros ● Trabalhadores não qualificados - Perdas recentes (luto, perda de emprego, perda da sensação de segurança e etc) ➔ Personalidade impulsiva, agressiva ou de humor instável: - Esses indivíduos apresentam as características mas não se enquadram nos critérios/ traços de transtornos mentais, além de possuírem um bom nível de funcionalidade preservado. 5 Obs.: A soma de condições aumentam os riscos (exemplo: alcoolismo + transtorno bipolar → risco maior) Fatores de proteção: ➔ Autoestima elevada; suporte familiar; laços sociais bem estabelecidos; religiosidade; ausência de transtornos mentais; possuir emprego; ter crianças em casa; senso de responsabilidade com a família; gravidez desejada e/ou planejada; capacidade de resolução de problemas; relação terapêutica positiva; acesso a serviços de cuidado à saúde mental. Obs.: Os fatores de proteção não podem ser usados como fatores “compensatórios” aos fatores de risco durante avaliação. Critérios de Suicidalidade: ➔ Ter histórico de tentativa de suicídio ➔ Ter parentes que tentaram ou se suicidaram ➔ Ter ideias ou planejamentos suicidas Nesse contexto, para considerar o paciente em situação de risco, é preciso estar presente algum dos critérios de suicidalidade, sendo que: - Se ausência de planos/ ideias → Não apresente risco de suicidalidade, visto que este apresenta um critério obrigatório (demais critérios só se somam se presente ideias/planos suicidas) Avaliação e manejo do paciente Identificação dos indivíduos de risco por meio da avaliação clínica periódica, por meio de: - Entrevista clínica - Coleta de dados junto a terceiros Características psicopatológicas comuns no estado mental dos suicidas: (decorar) Ambivalência: Conflito angustiante existente no indivíduo entre a questão de vida/morte. - Normalmente, o fim da ambivalência acarreta o início do planejamento e concretização do desejo de morte, o que pode ser manifestadoclinicamente como: alívio - O trabalho do médico é aumentar a ambivalência, com o uso, por exemplo, de Contrato de não Suicídico 6 (ferramenta de vinculação para intervalo de início para aparecimento dos efeitos farmacológicos. Impulsividade: Quanto maior a impulsividade maior a quantidade de tentativas, porém, menor é a letalidade, visto o menor planejamento. - Comum entre jovens e adolescentes Rigidez de pensamento: Restrição dos pensamentos e sentimentos, em que o indivíduo pensa constantemente sobre o suicídio, sendo incapaz de percever outras maneiras ou de sair do problema → resultado da distorção que o sofrimento emocional impõe. O funcionamento mental gira em torno de 3 sentimentos: ➔ INTOLERÁVEL (não suportar) ➔ INESCAPÁVEL (sem saída) ➔ INTERMINÁVEL (sem fim) Quanto mais intenso for a rigidez de pensamento, maior é a ideia de suicídio. Diante disso, toda avaliação mental deve incluir: a) DOENÇA MENTAL: Avaliar presença de doença mental; b) HISTÓRIA PESSOAL E FAMILIAR DE COMPORTAMENTO SUICIDA: c) SUICIDABILIDADE: Pensamentos atuais de morte/ suicídio; Presença de planos/ ou meios para se matar; Avaliar se há desespero, desesperança e desamparo. d) CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE: Resiliência; respostas anteriores a situações estressantes; tolerância a dor psíquica; julgamento adequado ou não da realidade; presença de impulsividade e/ou agressividade. e) FATORES ESTRESSORES CRÔNICOS RECENTES: Migração; separação conjugal; luto; prisão; falência; traição conjugal; perda de emprego e etc f) FATORES PSICOSSOCIAIS E DEMOGRÁFICOS: Situação laboral; estado marital (viúvos, separados ou solteiros); histórico de abuso; sexo masculino; adolescência; idoso e etc g) PRESENÇA DE OUTRAS DOENÇAS: Como abordar o paciente ? ➔ Geralmente, os pacientes chegam aos profissionais da atenção primária (não psiquiatras) com as queixas somáticas do quadro, logo, cabe a esses profissionais reconhecer os indícios de comportamento suicida. ➔ Todo paciente que fala sobre suicídio enquadra-se em situação de risco e merece investigação especial. ➔ A abordagem verbal pode ser tão ou mais importante que o tratamento farmacológico, logo, a capacitação dos profissionais é essencial. ➔ O tema deve ser abordado com cautela e de forma gradual, a partir de questionamentos: As perguntas dividem-se em dois blocos, em que o primeiro é feito para todos os pacientes e o segundo apenas se respostas afirmativas para um dos questionamentos do primeiro bloco, o que sugere risco de suicídio. 1º bloco (Decorar) 7 2º Bloco: (Decorar) Além disso, para o raciocínio clínico, ainda é importante esclarecer questões adicionais, como: (Decorar) Avaliando a doença mental: ➔ Depressão: - A depressão é a doença mental mais associada ao suicídio; ➔ Transtorno bipolar: - Riscos aumentados nas fases depressivas ou nos episódios mistos; - Carbonato de Lítio → Único medicamento capaz de diminuir a ideação suicida e a mortalidade por suicidio. ● Não é necessário encontrar-se em doses séricas mínimas para ter efetividade, diferentemente do tratamento do transtorno afetivo bipolar - 0,6 a 1,2; (decorar) 8 ➔ Transtorno relacionado ao uso de álcool e outras substâncias: - Boa parte dos suicídios de tentativas foram precedidas pela ingestão de álcool e/ou uso de outras drogas; ➔ Esquizofrenia: - Tentativas de suicídio na esquizofrenia, geralmente, são desencadeados pelos sintomas negativos: depessão e sintomas psicossociais; - Mais comum nos anos iniciais da doença; ➔ Transtorno de personalidade: - Fatores desencadeantes de suicídio em indivíduos com TP são estressores psicossociais, como problemas no trabalho, discórdia familiar ou dificuldades financeiras; Avaliação do risco: RISCO BAIXO: (decorar) ➔ Características: Indivíduo teve pensamentos suicidas, mas não há nenhum plano. ➔ Manejo: - Escuta acolhedora; - Facilitar vínculo do indivíduo a rede de suporte (social e institucional); - Tratamento de possíveis transtornos psiquiátricos; ➔ Encaminhar: - Se não melhora, encaminhamento para profissional especializado, esclarecendo os motivos para encaminhamento - responsabilização; - Certifica-se do atendimento e agilizar ao máximo; - Tentar obter a contrarreferência - coordenação do cuidado; RISCO MÉDIO: (decorar) ➔ Características: Apresenta pensamentos e planos, mas não pretende cometer suicídio imediatamente; ➔ Manejo: - Cuidado total com possíveis meios de cometer suicídio que possam estar no próprio espaço de atendimento; ● Deve-se SEMPRE esconder medicações - Realização de contrato terapêutico de não suicídio; - Investimento nos fatores protetores; - Tornas familiares e amigos parceiros no tratamento; ➔ Encaminhar: - Encaminhar para serviço de psiquiatria o mais breve possível, esclarecendo clareamento os motivos do encaminhamento - responsabilização; Obs.: Embora o paciente seja encaminhado, ele ainda deve ser atendido pela atenção primária → coordenação do cuidado. - Pedir autorização para contatar familiares e/ou amigos, para informar o necessário e manter o sigilo das demais informações; 9 - Orientar sobre medidas de prevenção, esconder armas, facas, cordas e etc. RISCO ALTO: (decorar) ➔ Características: - Presença de plano definido, meios e planeja fazê-lo prontamente; - Tentativa de suicídio recente com rigidez em relação a uma nova tentativa; - Tentativas frequentes em curto espaço de tempo; ➔ Manejo: - Nunca deixar a pessoa sozinha; - Total cuidado com possíveis meios de cometer suicídio que possam estar no próprio espaço de atendimento; - Realização de contrato de “não suicídio”; - Informar a família das formas de suicídio já sugeridas pelo paciente. ➔ Encaminhar: - Serviço de psiquiatria e, se necessário, internação. - Contatar serviços de emergência mais próximos; - Providenciar ambulâncias e encaminhar a pessoa ao pronto- socorro psiquiátrico de preferência; Urgência/ Emergência: Objetivos do manejo nas unidades de urgência/emergência: 1) Reduzir o risco imediato; 2) Manejo dos fatores predisponentes; 3) Acompanhamento; Posvenção do suicídio O luto do suicídio descreve o período de ajustamento à uma morte por suicídio que é experimentado por membros da família, amigos e outros contatos do falecido que são afetados pela perda - “Sobreviventes de suicídio” ou “Sobreviventes de perda por suicidio”; A posvenção inclui as habilidades e estratégias para cuidar de si mesmo ou ajudar outra pessoa a se curar após a experiência de pensamentos suicidas, tentativas ou morte. Deste modo, o próprio paciente e a família devem ser acompanhados para evitar novas tentativas, bem como ajudar no processo do luto em caso de suicídio ocorrido. O suicídio e as redes de saúde ➔ Metade dos que morrem por suicídio foram a uma consulta médica em algum momento do período de seis meses que antecederam a morte; ➔ Metade dos que morrem por suicídio foram a uma consulta médica em algum momento do período de seis meses que antecederam a morte; A prevenção e tratamento do comportamento suicida deve estar presente em todos os âmbitos do sistema de saúde. - Importância da capacitação de todos os profissionais O que compete à equipe de saúde como um todo: ➔ Considerar qualquer tentativa ou intenção; ➔ Identificação e avaliação do risco suicida; 10 O que compete à atenção primária: ➔ O estigma do suicídio é um dos maiores problemas quando o assunto é prevenção; ➔ A atenção primária, por ter um maior canal de proximidade e territorialidade com o paciente e com a comunidade, pode ser útil em combater tal estigma, por meio de programas educativos para formação dos profissionais. Obs.: Após o encaminhamento, também compete a atenção primária continuar o acompanhamento. O que compete à atenção secundária e terciária: ➔ CAPS e Hospitais de Urgência e Emergência e Serviços Especializados são de fundamental importância para situações de crise; Prevenção do suicídio além do sistema de saúde: ➔ Grupos de autoajuda nas escolas, igrejas, ONGs e etc; ➔ Controle/regulação do acessoà métodos mais utilizados para suicídio, como: carbamato (chumbinho), pesticidas, armas de fogo e etc. ➔ Campanhas nas escolas; ➔ Uso estratégico das mídias;
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