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Síndromes diarreicas - Tut 3

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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 
 
Tutorial 3 – mod XV 
Síndromes diarreicas
- Perda excessiva de H2O+eletrólitos através das fezes 
por ↑ vol e/ou ↑evacuações e/ou ↓consistência ≥3x/dia ou 
um Volume fecal de 200g/dia (10 g/kg/dia para lactantes). 
- As diarreias de origem do Intestino Delgado costumam 
cursar com desordens absortivas, grandes volumes e 
presença de restos alimentares. 
- Aquelas que comprometem o Cólon cursam com 
diarreia de menor volume, repetitivas, tenesmo (dor que 
leva a vontade de evacuar) e urgência fecal (irritação do 
reto). 
- Diarreia também podem ser classificadas conforme o 
tempo de duração: 
 Aguda < 2sem→ e caso haja sangue, muco ou 
pus nas fezes ela é considerada disenteria. 
 Persistente: > 2sem e de origem infecciosa. 
 Crônica: > 2-4 semanas, varia com a literatura. 
- O pH ácido gástrico, a flora bacteriana normal, o 
peristaltismo intestinal, as mucinas presentes na camada 
de muco que reveste a superfície luminal dos enterócitos, 
fatores antimicrobianos como lisozimas e lactoferrina e o 
sistema imune entérico compõem a barreira de defesa do 
sistema digestório potencializado em crianças que usam 
leite materno exclusivo. 
- Para que ocorra diarréia aguda infecciosa, os 
microrganismos precisam romper essa barreira e aderir à 
superfície mucosa, mecanismo este comum a todos os 
patógenos. 
- Depois da aderência à superfície celular, os 
microrganismos exercem seus fatores de virulência por 
meio da produção de enterotoxina, citotoxina e lesão da 
mucosa intestinal de intensidade variada, podendo até 
determinar em alguns casos infecção generalizada. 
- Dependendo do fator de virulência do microrganismo, 
podem ocorrer quatro mecanismos fisiopatológicos de 
diarreia aguda: mecanismo osmótico, secretor, 
inflamatório e de alteração da motilidade (+ comuns nas 
diarreias crônicas). 
- Em algumas situações, há sobreposição desses 
mecanismos, podendo a diarréia, nesses casos, 
apresentar mais de uma forma clínica. 
● Osmótica: caracterizada pela retenção de líquido dentro 
do lúmen intestinal devido presença de solutos 
osmoticamente ativos não absorvidas, que carreiam água 
para dentro da alça intestinal. 
- Essa diarreia é, na maioria das vezes, secundária a um 
processo infeccioso que lesa o enterócito. 
- Melhora com o jejum. 
- Principais exemplos: uso de laxantes, deficiência de 
lactose, má absorção de glicose-galactose. 
● Secretora: ocorre ↑ da secreção intestinal de água e 
eletrólitos, principalmente de ânions cloreto e bicarbonato. 
Isso pode ser ocasionado por toxinas bacterianas ou pela 
ação direta de patógenos, que ↑ [ ] intracelular dos 
nucleotídeos cíclicos, e tb o cálcio, provendo aumento da 
secreção ativa de água e eletrólitos pelos enterócitos. 
- Caracterizado por grande volume fecal, com sódio 
elevado. A desidratação ocorre rapidamente. 
- Exemplos: cólera, E. coli, enterotoxigênica, Shigella, 
Salmonella, Campylobacter, C. difficile. 
● Inflamatória: ocasionada por algumas bactérias- 
Shigella, Salmonela, Campylobacter- que lesionam as 
células epiteliais do intestino e impedem a absorção de 
nutrientes. 
- Pode haver em concomitância o componente secretor, 
uma vez que a mucosa invadida produz substâncias que 
estimulam a secreção de eletrólitos para o lúmen intestinal. 
- As bactérias atingem a mucosa -> submucosa, onde 
pode haver aparecimento de sangue e leucócitos nas 
fezes. 
- Exemplos: Salmonela, Shigella, Amebíase, Yersinia, 
Campylobacter. 
● ↑ da motilidade: há ↓ do tempo de trânsito intestinal, por 
aceleração da peristalse. As fezes geralmente têm 
aspecto normal. Exemplos: síndrome do intestino irritável, 
hipertireoidismo. 
● ↓ da motilidade: há defeito na unidade neuromuscular, 
com estase e supercrescimento bacteriano. As principais 
causas são: pseudo-obstrução intestinal e Síndrome de 
alça cega. 
● ↓superfície: há ↓ da capacidade intestinal de absorção 
de água, eletrólitos e nutrientes de forma geral. O aspecto 
das fezes é aquoso. Exemplo: Síndrome do Intestino curto, 
Doença celíaca, enterite por rotavírus. 
- Os agentes infecciosos e os erros alimentares são as 
principais causas de diarréia na infância. 
Diarreia aguda 
- Uma das principais causas de mortalidade e morbidade 
nos países subdesenvolvidos, principalmente em crianças 
> 6 meses e que não estão em aleitamento materno. A 
diarreia mata por desidratação e causa morbidade por 
desnutrição. 
- Mundialmente, a diarreia é a segunda causa mais 
prevalente de morte entre crianças abaixo de 5 anos, 
sendo que 1 em 5 morte de crianças é devido a diarreia, 
ou seja, 1,5 milhão de mortes por anos. 
- A diarreia aguda na infância é um dos principais agravos 
à nutrição, sendo que contribuem para isso: ↓ ingestão 
calórica, má absorção de nutrientes, e ↑ da necessidade 
energética durante processo infeccioso. 
- Doença autolimitada¸ e de tratamento relativamente 
simples, sendo que o aporte hídrico necessário e a 
manutenção da dieta são medidas que evitam a morte e a 
desnutrição. A medida de SRO ↓ significativamente o perfil 
da morbimortalidade nos últimos anos. 
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ETIOLOGIA 
- Causas infecciosas: o termo gastroenterite aguda denota 
sempre uma causa infecciosa para diarreia, que pode ser 
causada por vírus, bactérias ou protozoários. 
- A gastroenterite é transmitida via fecal-oral, através da 
ingestão de água ou alimentos contaminados. 
- Em países desenvolvidos, os principais agentes 
causadores de diarreia aguda são os vírus; em países em 
desenvolvimento os rotavírus e as bactérias constituem os 
dois agentes mais importantes. 
VÍRUS 
● Rotavírus 
- Causa mais comum de diarreia em menores de 2 anos, 
tanto em países subdesenvolvidos quanto em 
desenvolvimento. 
- Há 7 grupos- do A ao G- sendo que os que mais causam 
a doença no homem são do grupo A, B e C, principalmente 
o A. O grupo A, possui 2 sorotipos: P e G. Há imunidade 
cruzada entre os sorotipos, sendo o primeiro episódio da 
doença o mais grave. 
- A infecção é mais comum nos meses de invernos nas 
regiões de clima temperado. Surtos são comuns em 
creches e hospitais infantis. 
- Propaga-se eficientemente via fecal-oral. É excretado 
nas fezes antes e após a doença clínica. 
- Manifesta-se após um período de incubação >48h, com 
febre, vômitos, evacuações com fezes aquosas, que 
podem persistir por 5-7 dias. A desidratação se instala 
rapidamente. A recuperação ocorre com tratamento 
reidratante adequado. 
- Acredita-se que a diarreia seja provocada pela destruição 
das células epiteliais das vilosidades intestinais do 
delgado, sendo que estas possuem função digestiva e 
absorvida, havendo ↓ capacidade de digerir açúcar, 
atraindo por osmose líquida para o intestino. Havendo tb 
uma perda significativa de eletrólitos e água  diarreia 
seguida de desidratação. 
- As enterites virais aumentam a permeabilidade intestinal 
para macromoléculas no interior do lúmen do intestino, 
predispondo ao desenvolvimento de alergias alimentares. 
- Dx: confirmado pelo ELISA de amostras fecais. 
- Tratamento: prevenção e tratamento da desidratação e 
manutenção do estado nutricional  reidratação VO e 
início da alimentação. 
BACTÉRIAS 
- A patogenia das infecções bacterianas depende do tipo 
de bactéria. Elas podem se aderir a células epiteliais; fazer 
ruptura da borda em escova dos enterócitos, produzir 
citotoxicidade e invasão de mucosas: 
● E. Coli 
- Bactérias Gram -, componentes da flora endógena do 
intestino humano. Possui várias cepas, e cada uma delas 
possui um mecanismo básico de interação com a mucosa 
intestinal: E. coli enteropatogênica (se adere ao epitélio 
de forma localizada); E. coli enteroaderente difusa, E. 
coli enteroagregrativa; E. coli enteroemorrágica, E. coli 
enterotoxigênica, E. coli enteroinvasiva. 
● Shigella sp 
- Bactériagram -, com capacidade invasora e de produção 
de citotoxinas (Shiga-like) e neurotoxinas. 
- Responsável pela disenteria  presença de evacuações 
em pequenos volumes, ↑ frequência, início aquoso e 
posteriormente contendo sangue, muco e pus. Associado 
a tenesmo e cólica abdominal. Pode haver alterações 
neurológicas devido produção de neurotoxinas. 
- Geralmente autolimitadas, com resolução entre 5-7 dias. 
Mais frequentes em crianças com idade entre 1-4 anos. 
Altamente. 
- Transmissão: pessoa -> pessoa, e menos 
frequentemente contagiosa por meio de alimentos e água 
contaminados, o que justifica a maior prevalência em 
ambientes com práticas de higiene menos observadas e 
em creches e abrigos. 
- Pode se manifestar por via hematogênica e provocar 
septicemia. 
- A toxina Shiga-like pode causar SHU e púrpura 
trombocitopênica. 
- Os sintomas são sistêmicos: febre, cefaleia, mal-estar, 
anorexia. 
● Salmonella sp 
- Bacilos gram -, móveis e aeróbios. 
- Agente de causa frequente em surtos de diarreia 
associados à intoxicação alimentar, e possuem grande 
diversidade de manifestações clínicas. 
- Acometem frequentemente crianças menores de 5 anos, 
que apresentam episódio diarreico típico de enterocolite 
após período de incubação de 6h a 10 dias, sem 
disseminação sistêmica. 
- A enterocolite resulta na invasão de bactérias nas células 
epiteliais do intestino, com posterior migração para a 
lâmina própria. 
- Podem invadir além da mucosa e provocar quadros 
graves como septicemia e infecções metastáticas 
(meningite). 
- O pcte pode continuar excretando bactérias nas fezes 
cerca de 5 semanas após o término do episódio diarreico. 
● Yersinia sp 
- Bacilos gram -, aeróbios, que provocam gastroenterite 
tanto em adultos como em crianças. Encontrados em 
animais domésticos, na água, no leite e em carnes 
contaminadas. 
- Atua com os mecanismos toxigênicos e/ou invasores. A 
enterotoxina é do tipo ST e causa intoxicação alimentar. 
- Possui capacidade invasora, principalmente nas células 
da placa de peyer, provocando sintomas como cólica, 
vômitos, febre e diarreia com rajas de sangue. 
- Pode ocorrer reação dos linfonodos mesentéricos, 
simulando apendicite. 
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● Campylobacter sp 
- Bactérias gram -. A infecção ocorre via alimentos 
contaminados, como carnes (aves), leites não 
pasteurizados e água. 
- Transmissão: animal -> pessoa. Sendo a transmissão 
pessoa -> pessoa, rara. 
- O mecanismo de virulência é por invasão e por produção 
de endotoxina citolítica. 
- Sintomas iniciais: mialgia, febre, cefaleia e 
posteriormente dor abdominal, diarreia de início abrupto, 
com muco e sangue nas fezes. Pode evoluir com 
septicemia, SHU e megacólon tóxico. 
● Vibrio Cholerae 
- Associação com grandes epidemias de diarreia, 
constituindo uma importante causa de morte em todas as 
idades em países subdesenvolvidos. Incidência ↑ em 
casos de modificações súbitas de saneamento ambiental- 
guerras e catástrofes da natureza. 
- Bacilos gram -. 
- Transmissão: água e alimentos contaminados, 
principalmente peixes e outros frutos do mar ingeridos crus 
ou mal cozidos. 
- Caracteriza-se por gastroenterite de intensidade 
leve/moderada a grave, com vômitos associados e perda 
significativa de grandes quantidades de água e eletrólitos, 
que podem evoluir para choque hipovolêmico e óbito. 
- As fezes, devido a ↑ quantidade de água e muco, são 
descritas como “água de arroz”. 
● Clostridium difficile 
- Gram +, anaeróbios obrigatórios, de transmissão direta 
pessoa -> pessoa. Causam importante infecção 
nosocomial, já que podem permanecer viáveis em objetos 
por períodos prolongados. 
- Podem causar infecção assintomática e diarreia 
leve/grave. 
- Pode gerar a Colite pseudomembranosa (CPM), que é 
caracterizada pela presença de fezes disentéricas, com 
sangue e muco, dor abdominal intensa, febre, 
desidratação. Isso ocorre, pela produção de enterotoxinas 
que esses bacilos produzem. 
● Aeromonas sp, Plesiomonas sp, Edwardsiella sp 
- Bacilos gram -, que tem em comum o habitat aquático. 
Encontrados em peixes e moluscos. 
PROTOZOÁRIOS 
● Giardia Duodenalis ou lamblia ou intestinalis 
- Habita, preferencialmente, as porções altas do intestino 
delgado, e se apresenta na forma de trofozoítos e cistos, 
sendo os cistos os responsáveis por disseminação da 
doença. 
- Possui resistência à cloração habitual das águas. 
- Transmissão: fecal-oral (água), pessoa -> pessoa. 
Incidência entre 1-5 anos. 
- Manifestações: diarreia aguda e autolimitada até 
diarreia crônica, acompanhada ou não de má-absorção. 
- Em geral, as fezes contêm muco, mas raramente sangue, 
pus ou gordura. 
● Entamoeba histolytica 
- Causa de doença endêmica. Sua transmissão é pela 
ingestão de água ou alimentos contaminados pelas formas 
císticas e tb por via direta. 
- Afeta, principalmente, escolares e adolescentes. 
- Clinicamente, 90% dos infectados são assintomáticos. 
Quando invadem a mucosa causam os sintomas como: 
diarreia persistente, disenteria fulminante, abscesso 
hepático, colite com febre, dor abdominal, calafrios, 
tenesmo, diarreia intensa e desidratação. 
- Pode gerar a colite amebiana disentérica: início 
insidioso, caracterizado por evacuações com muco, 
sangue, cólicas abdominais e tenesmo. 
- Ou a colite amebiana não disentérica: caracterizada 
por surtos de diarreia alternados, com normalização do 
hábito intestinal. 
- A colite fulminante e perfuração intestinal são 
complicações descritas. 
DIAGNÓSTICO 
- Na maioria dos casos de diarreia aguda não há 
necessidade de exames complementares, sendo os dados 
apresentados na anamnese os elementos mais 
importantes na orientação diagnóstica. 
- Porém, em alguns casos - evolução grave, 
comprometimento do estado geral da criança, crianças 
imunossuprimidas, surtos em creches e berçários- os 
exames podem ser indicados: 
 Hemograma 
 Bioquímica: dosagem de eletrólitos, creatinina, 
ureia, glicose. 
 Gasometria arterial: suspeita clínica de acidose 
metabólica. 
 EPF 
 Pesquisa de rotavírus nas fezes - Elisa. 
 Coprocultura. 
 pH das fezes: valores inferiores a 5,6 indicam 
participação de componente osmótico. 
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TRATAMENTO 
▪ Classificação da Desidratação 
- Independente do agente etiológico, a conduta sempre 
será a mesma, já que se trata de uma doença autolimitada. 
- O manejo visa evitar a desidratação e a desnutrição, 
sendo assim, imediatamente deve-se reconhecer a 
gravidade da desidratação para eleger o plano terapêutico 
mais adequado. Para isso, usa-se a classificação do grau 
de desidratação seguido o CDC, tb usado pelo Ministério 
da Saúde e a OMS: 
PLANO A  CRIANÇA SEM DESIDRATAÇÃO 
- Maioria das crianças, não necessitando de esquema 
terapêutico rígido. Bastando orientar os familiares sobre a 
evolução natural da doença, o risco de complicações e a 
conduta a ser usada em domicílio: 
- Recomendar ↑ na ingestão de líquidos: soro caseiro, chá, 
cozimentos de cereais, sopas e sucos. 
- O soro caseiro permite manter uma criança com diarreia 
aguda hidratada, porém não é capaz de reidratar uma 
criança desidratada. 
- Mãe deve oferecer depois de cada evacuação: em 
crianças de até 1 ano (1/4 copo), acima de 1 ano (1/2 a 1 
copo), adolescentes (quantidade a desejar). 
- Manter alimentação habitual: em especial o leite 
materno, ↑ a frequência de mamadas. Não modificar o tipo 
e quantidade dos alimentos, corrigindo-se apenas erros 
dietéticos e ↑ a frequência que são oferecidos. 
- Ensinar a família a reconhecer sinais de desidratação. 
- Administrar Zn 1x/dia durante 10-14 dias. 
 
 
PLANO B  CRIANÇA COM DESIDRATAÇÃO 
- Consiste de reidratação VO na UBS, com SRO. 
- Como orientação inicial, a criança deve receber de 50-
100 mL/kg de SRO, no período de 4-6horas. A solução 
deve ser oferecida em pequenas quantidades, várias 
vezes, usando o copo, colher ou conforme os hábitos da 
criança. 
- A quantidade de SRO a ser oferecida nas próximas 4 
horas é calculada multiplicando-se o peso da criança por 
75. 
- Lactentes devem continuar recebendo o leite materno 
junto com SRO. Os pctes com outro tipo de alimentação 
devem receber somente a solução reidratante, não sendo 
permitida a ingestão de qualquer outro alimento. 
- Se pcte vomitar: volume administrado deve ser ↓ e a 
frequência ↑. 
- Sinais clínicos de desidratação desaparecem 
paulatinamente durante a reidratação. Pctes devem ser 
avaliados com frequência, anotando peso e diurese. 
- A febre causada pela desidratação geralmente cede à 
medida que a criança se reidrata. Evitar antitérmicos. 
- Crianças com desidratação devem permanecer na UBS 
até a reidratação completa. 
- A fase de reidratação termina quando desaparecem os 
sinais de desidratação. Se isso acontecer, antes da 
ingestão de todo volume inicial prescrito, deve-se 
interromper esta fase, alimentar a criança e liberá-la para 
casa com a orientação de administrar a SRO após cada 
evacuação. 
- Manutenção do estado de hidratação: terminada a 
reidratação, a criança deverá receber alta. Os familiares 
devem ser informados de que a diarreia pode durar mais 
alguns dias; fornecer 2 envelopes de SRO e orientar que 
após cada evacuação líquida, deve-se oferecer o SRO e 
não o soro caseiro nas próximas 48h. 
- Manter aleitamento materno. Em crianças com outros 
tipos de alimentação, orientar a mãe para manter 
alimentação habitual, sendo que a criança deve comer 
quanto e quando quiser. 
- Retornar ao serviço de saúde para reavaliação após 24-
48h e orientar sobre sinais de piora. 
- OBS: Gastróclise  maneira de dar SRO de modo 
gradual e contínuo, sendo pela administração através de 
sonda nasogástrica. Há indicações específicas para seu 
uso: perda de peso após as primeiras 2h de tratamento 
com SRO, vômitos persistentes, distensão abdominal 
acentuada c/ rha + que não desaparecem mesmo após um 
intervalo maior entre as tomadas e dificuldade de ingestão 
de SRO. 
PLANO C  DESIDRATAÇÃO GRAVE 
- Feita em pctes com desidratação grave com ou sem 
choque  hidratação venosa. 
- Indicações para plano C: desidratação grave; quando a 
criança não ganha ou perde peso após as primeiras 2h de 
hidratação por sonda nasogástrica; pcte com alteração do 
estado de consciência; quando após o uso de sonda 
nasogástrica a criança tem vômitos persistentes; íleo 
paralítico (distensão abdominal e ausência de ruídos 
hidroaéreos). 
- Fundamental: enquanto se aguarda a instalação da 
hidratação venosa, seja administrada SRO através de 
sonda nasogástrica, conta-gotas ou seringas. 
- A reidratação venosa deve ser feita de maneira rápida e 
eficaz, com volume hídrico generoso. 
- A hidratação é composta de 2 fases: 
● Fase de expansão (rápida): 
- Em < 5 anos: SF 0,9% EV rápido. 
- Em > 5 anos: SF 0,9% + ringer lactato ou solução 
polieletrolítica 
● Fase de manutenção e reposição 
- MANUTENÇÃO: Para todas as faixas etárias: SG 5% + 
SF 0,9% na proporção de 4:1 + Volume 
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- REPOSIÇÃO: SG 5% + SF0,9% na proporção 1:1 + 
Volume 50 ml/kg/dia + KCl. 
 
- Quando o pcte conseguir ingerir líquidos, geralmente 2-3 
horas após o início da reidratação venosa, iniciar a 
reidratação VO com SRO, mantendo a reidratação 
endovenosa. 
- Deve-se interromper a reidratação EV somente quando o 
pcte puder ingerir SRO em quantidade suficiente para se 
manter hidratado. 
- O pcte deve ser observado por, no mínimo, 6h. 
ALIMENTAÇÃO NA DIARREIA 
- Manter aleitamento materno, mesmo durante a 
reidratação. 
- Importância de ↑ de uma ou mais refeições ao dia, para 
compensar as perdas causadas pela diarreia e evitar 
comprometimento do estado nutricional. Isso deve ser 
mantido até a recuperação do estado de nutrição das 
crianças. 
- Não há qualquer restrição alimentar à gordura, não 
devendo ser retirada da dieta, devido ao seu alto teor 
calórico e pq não piora a evolução da diarreia. 
Polivitaminas e Sais Minerais 
- Diarreia aguda  suplementação de Zn por 10-14 dia 
após o episódio. 
- Diarreia persistente  ácido fólico, vit. A, Zn, Cobre e 
Mg. 
Probióticos 
- Resistência à colonização por microorganismos 
patogênicos por competição por nutrientes; 
- Imunomodulação: capacidade de modular ou inibir a 
produção de toxinas e dano celular; 
- Contribuição nutricional: melhora da digestão da lactose 
em humanos. 
Medicamentos 
- Os medicamentos comumentes utilizados na diarreia 
aguda, além de desnecessários são contraindicados. 
- Portanto, não se usa: antieméticos, antiespasmódicos e 
adstringente, antipiréticos. 
Antibióticos 
- Utilizados com os seguintes objetivos: obter melhora dos 
sintomas, ↓ do tempo de doença e prevenir complicações 
e eliminar a excreção fecal dos agentes. 
- A utilização de atb fica reservado para casos em que há 
disenteria e com comprometimento do estado geral. 
- Ciprofloxacina OU Ceftriaxona 
- Em casos de cólera grave: Eritromicina OU Azitromicina 
OU Ciprofloxacina OU Doxiciclina. 
 
MEDIDAS PREVENTIVAS 
- Aleitamento materno: ↓ o número de infecções e ↓ a 
contaminação decorrente do uso de mamadeiras e 
alimentos contaminados; 
- Práticas adequadas de desmame: após o 6 mês 
- Imunização: rotavírus 
- Saneamento básico 
- Lavagem de mãos 
- Educação em saúde 
- Controle de epidemias 
Diarreia crônica 
- Não é autolimitada, e requer intervenção terapêutica 
específica para seu controle. Em sua fase inicial, pode 
tornar-se de difícil identificação, por ainda não haver 
tempo de evolução suficiente da doença, e podendo ser 
confundida com quadros agudos. 
- Importante diferenciar, pois as diarreias agudas e 
persistentes limitam-se a quadros infecciosos e à 
consequente ocorrência de intolerâncias e alergias 
alimentares secundárias, enquanto a diarreia crônica tem 
etiologia abrangente, incluindo causas intestinais e extra-
intestinais. 
- Definição: diarreia que se estende por um período 
superior a 30 dias, ou pela frequência de 3 ou mais 
episódios de curta duração em um intervalo de tempo 
inferior a 2 meses, que é caracterizada pela diminuição de 
consistência das fezes, maior conteúdo de água fecal, 
associada ou não à síndrome de má-absorção. 
- A base fisiopatológica da doença, também irá ocorrer por 
mecanismos: osmóticos, secretores (mediadores 
inflamatórios, toxinas, hormônios intestinais ou 
catecolaminas, inflamatórios (mediadores inflamatórios), 
motor (inervação ou musculatura do tubo digestório ou 
alterações intraluminais ou hormonais). 
ETIOLOGIA E APRESENTAÇÃO CLÍNICA 
- Compreende desde doenças congênitas, desordens 
disabsortivas, processos inflamatórios, tumores intestinais 
e afecções benignas (ex: Síndrome do cólon irritável). 
- Geralmente acompanhada de sinais e sintomas tanto de 
origem intestinais- anorexia, vômitos, perda de peso, dor, 
distensão abdominal- como extraintestinais- febre, 
artralgia, rash cutâneo, vasculite. 
- A incidência de cada uma das etiologias muda de acordo 
com a faixa de idade e características epidemiológicas. 
- No Brasil, as causas mais prevalentes: 
enteroparasitoses, desnutrição proteico-energética 
primária, alergia à proteína do leite de vaca, doença 
celíaca e síndrome do intestino irritável. 
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- Atualmente tb foram descritas diversas doenças de 
origem genética, que podem cursar com diarreia crônica. 
Elas se manifestam, em geral, nos primeiros dias ou 
meses de vida e apresentam gravidade moderada ou 
intensa. 
- Principais etiologias: 
● Anormalidades congênitas 
- Deficiência congênita de dissacaridases: alactasia 
congênita, deficiência de sacarase-isomaltase 
- Intolerânciacongênita aos monossacarídeos: Má 
absorção congênita de glicose-galactose, Intolerância 
hereditária à frutose. 
- Defeitos congênitos no transporte intestinal de minerais 
- Deficiências congênitas do transporte de gordura 
- Má absorção primária de ácidos biliares 
- Deficiência de enteroquinase 
- Epiteliopatias 
● Doenças Imunológicas 
- Agamaglobulinemia 
- Deficiência de IgA secretória; 
- Imunidade celular alterada 
- Imunodeficiência combinada 
- Síndrome de Imunodeficiência adquirida 
- Enteropatia auto-imune 
● Doenças pancreáticas 
- Fibrose cística 
- Pancreatite crônica 
- Deficiência congênita de tripsinogênio e lipase 
- Doença de Shwachman 
● Doença do intestino delgado 
- Doença Celíaca 
- Alergia à proteína heteróloga 
- Alergia alimentar múltipla 
- Desnutrição proteico energética 
- Acrodermatite enteropática 
● Doenças Inflamatórias 
- Doença de Crohn 
- Retocolite ulcerativa 
- Ileomesenterites e colites específicas 
● Lesões Anatômicas 
- Má rotação intestinal; 
- Obstrução parcial do intestino. 
- Síndrome do intestino curto; 
- Pseudo-Obstrução intestinal 
- Polipose intestinal 
- Ressecções ileais. 
● Enteroparasitoses 
- Giardia lamblia 
- Entamoeba histolytica 
- Schistosoma mansoni 
- Cryptosporidium 
- Isospora belli 
● Síndrome do Intestino Irritável 
● Enterocolite pseudomembranosa (C. difficile) 
● Doenças Hepáticas 
- Hepatites crônicas 
- Atresia biliar 
- Icterícia obstrutiva 
- Doença de Wolman 
● Tóxicas 
- Quimioterapia 
- Enterite por radiação 
- Drogas 
● Lesões Vasculares 
- Enterocolite necrosante 
- Isquemia Intestinal 
- Púrpura de Henoch- Schonlein 
● Endocrinopatias 
- Hipertireodismo 
- Insuficiência suprarrenal 
- Hipoparatireoidismo 
- DM 
● Tumores secretores de hormônios 
- VIPomas 
- Tumores carcinoides 
- Gastrinoma 
DIAGNÓSTICO 
1. Anamnese e Exame físico 
- Anamnese tem grande valor nessa doença: 
- Idade e início da diarreia; 
- Caráter da diarreia (contínua ou intermitente). A 
descontinuidade ocorre com mais frequência nas diarreias 
de origem parasitária e alimentar; 
- Características das fezes: consistência, volume, cor, 
frequência, presença de muco, pus, sangue e restos 
alimentares. 
- Diarreia do intestino delgado: frequência pequena, fezes 
claras e volumosas. 
- Diarreia de cólon: pouco volume e frequência ↑ de 
evacuações, além de geralmente apresentar muco. Odor 
caracteristicamente ácido com fezes líquidas, explosivas e 
espumantes. 
EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 
 
- O odor é fétido quando há má absorção, principalmente 
de gorduras, dando o aspecto oleoso e pálido às fezes 
(Fibrose cística e na doença celíaca). 
- A presença de restos alimentares NÃO tem valor quando 
se trata de alimentos que contenham celulose. Mas sim, 
quando contêm hidratos de carbono, gorduras ou 
proteínas, pois sugerem má-absorção. 
- Sinais e sintomas associados: perda de peso, 
desaceleração do crescimento, distensão abdominal, 
vômitos, tenesmo, assadura perianal. 
- Vômitos são mais comuns nas intolerâncias alimentares. 
- A perda de peso não ocorre em diarreias funcionais, 
como na síndrome do intestino irritável. 
- Dor abdominal está associada a doenças inflamatórias, 
parasitoses e intolerância à lactose em crianças maiores. 
- Assaduras perianais sugerem má absorção de 
carboidratos. 
- Tenesmo evacuatório pode estar presente nas diarreias 
do cólon. 
- Manifestações de outros órgãos extradigestivos: 
artralgia, febre, eczema, rash cutâneo, infecções de 
repetição, amenorreia secundária, anemia, retardo puberal 
e hepatoesplenomegalia. 
- História alimentar: possível relação entre diarreia e 
introdução de determinado alimento. 
- História familiar 
- Dados epidemiológicos: avaliar condições de moradia, 
saneamento, presença de animal doméstico, banhos de 
rio ou lagoas, transfusões sanguíneas e situações de 
promiscuidade dos pais. 
- O exame físico deve ser completo, com medidas 
acuradas de peso e estatura. 
2. Exames 
- Depende dos dados colhidos na anamnese e no exame 
físico, sendo os exames mais complementares: avaliação 
laboratorial, métodos de imagem, endoscopia digestiva 
alta, colonoscopia e biópsia intestinal. 
- Laboratorial 
1. Para avaliar a perda proteica pelo intestino: 
- Determinação da alfa-1-antitripsina nas fezes 
- Dosagem de quimiotripsia fecal: enzima proteolítica cujos 
níveis nas fezes refletem a atividade do pâncreas exócrino. 
- Balanço nitrogenado 
2. Para avaliar má-absorção de hidratos de carbono: 
- pH das fezes: resultados ↓ aos normais são indicativos 
de má absorção dos hidratos de carbono. 
- Pesquisa de substâncias redutoras nas fezes 
- Teste de sobrecarga de hidrato de carbono 
- Teste de hidrogênio no ar expirado: baseia-se no fato de 
que a flora colônica, por meio da fermentação de açucares, 
produz hidrogênio. Parte desse hidrogênio é reabsorvida 
pelo intestino e parte é eliminada pela respiração. 
- Dosagem de dissacaridases na mucosa intestinal: 
padrão ouro no dx da deficiência de lactase, maltase e 
sacarase. 
3. Para avaliar perda de gordura nas fezes (esteatorreia): 
- Dosagem de gordura total em 72h, pelo método de Van 
de Kamer. Valores fecais superiores a 3g de gordura por 
24h caracterizam esteatorréia. 
4. Para avaliar integridade da mucosa intestinal: 
- Prova de D-xilosemia 
5. Outros exames: 
- Hemograma completo com VSH, proteína C reativa e 
eletroforese de proteínas 
- Eletrólitos no suor 
- Na suspeita de Fibrose Cística. Considera-se dx 
quando as [ ] de cloro forem superiores a 60 
mEq/L. 
- Colonoscopia e biópsia 
- Essenciais no dx diferencial dos sangramentos 
digestivos baixos, das colite e suspeita de doença 
inflamatória intestinal. 
- Pesquisa de agentes infecciosos 
- Exame parasitológico e bacteriológico de fezes 
em amostras seriadas no sangue. 
- Marcadores fecais de atividade inflamatória intestinal 
- Pesquisa de leucócitos nas fezes 
- Dosagem fecal de alfa-1-antitripsina 
- Dx de síndrome do intestino irritável 
- Detecções de alterações nas conexões nervosas 
entre SNC e intestino, por meio de neuroimagem 
e da farmacologia da serotonina. Na prática 
clínica, porém, sugere-se o dx com exclusão de 
alterações anatômicas, absortivas, inflamatórias e 
infecciosas, além de história clínica e exame físico 
compatíveis. 
- Métodos de Imagem 
- Usados na investigação de doenças 
inflamatórias, divertículos, anormalidades 
anatômicas, tuberculose ou tumores que 
acompanham diarreia. 
TRATAMENTO 
- Tratar a causa base  enquanto se espera o dx 
definitivo, o aconselhável é tentar controlar a diarreia para 
↓ espoliação nutricional e perdas fecais. Faz-se: dieta com 
↓ efeito estimulante motor. 
 
 
 
LITERATURA UTILIZADA 
- Tratado de Pediatria da SBP 4ª Ed. – 2017 
- MEDCURSO 2019 PEDI – Vol. 6 distúrbios 
gastrointestinais na infância

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