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1 Doença� Glomerulare� Introdução: ❖ As doenças glomerulares afetam uma estrutura renal chamada de glomérulo. Este, por sua vez, faz parte de uma estrutura maior conhecida como unidade funcional do rim: o néfron. Ele é a unidade funcional renal, responsável por realizar todo o processo de filtração e formação da urina. ❖ O glomérulo é uma estrutura que está “cercada” por uma cápsula, conhecida como cápsula de Bowman. Envolta pela cápsula tem-se a arteríola aferente (fruto das arteríolas interlobulares, que são ramos das arteríolas arqueadas), a qual é responsável por levar o sangue ao glomérulo, formando dentro da cápsula o chamado “tufo glomerular” e emerge desse local como arteríola eferente. Sabe-se que esse “tufo” de capilares glomerulares possuem algumas características especiais, possuindo um endotélio fenestrado, uma membrana basal, os podócitos e entre os capilares existem algumas células que são responsáveis por sua estabilização, as chamadas células mesangiais, que formam a matriz mesangial. ❖ A doença glomerular pode ser a causa tanto da doença renal crônica (DRC) como da injúria renal aguda. A principal causa de DRC é a diabetes mellitus, seguida pela hipertensão arterial sistêmica e em terceiro lugar está a doença glomerular. Quanto à epidemiologia da Injúria Renal Aguda, têm-se que a principal causa é a necrose tubular aguda (NTA), seguida da injúria pré-renal e uma outra causa significativa é a doença glomerular. ❖ O processo inflamatório a nível de glomérulos possui algumas consequências, como: 2 ➢ obliteração de capilares (que leva a hipervolemia, hipertensão, edema e retenção de catabólitos: uremia e azotemia); ➢ ruptura dos capilares glomerulares (gerando hematúria, leucocitúria) ➢ aumento moderado da permeabilidade glomerular (o que causa proteinúria, que a depender da etiologia pode ser leve, moderada ou grave). ❖ A biópsia renal é o procedimento realizado para que haja material para o estudo anatomopatológico. Geralmente esse procedimento é feito com uma agulha, guiado por ultrassonografia e é seguido por três etapas de avaliação: a microscopia ótica, microscopia eletrônica e a imunofluorescência. Síndrome Nefrítica: ❖ Inflamação glomerular, caracterizada por perda abrupta da superfície de ultrafiltração, com diminuição da excreção de pequenos solutos, diminuição do fluxo urinário e diminuição da taxa de filtração glomerular, mecanismos que se manifestam com edema moderado e hipertensão. Além disso, a ruptura das alças glomerulares faz com que haja hematúria (presença de hemácias dismórficas ou cilindros hemáticos). Por fim, ocorre um aumento moderado na permeabilidade glomerular a macromoléculas o que gera uma proteinúria moderada. ❖ Ela é caracterizada pelo surgimento da tríade: hematúria, hipertensão e proteinúria moderada (sub-nefrótica), menos do que 3,5 g/dia.Ademais, pode ter edema moderado ❖ OBS: Algumas das causas de síndrome nefrítica cursam com consumo do sistema complemento, quais são elas? ➢ Glomerulonefrite pós-estreptocócica ➢ Glomerulonefrite membranoproliferativa ➢ Crioglobulinemia (Hepatite C) ➢ Glomerulonefrite lúpica ❖ Etiologia: ➢ Glomerulonefrite pós-infecciosa: ■ Também conhecida como glomerulonefrite difusa aguda (GNDA), provocada por cepas nefritogênicas do Streptococcus beta-hemolítico do grupo A ou surgir de forma “primária” e idiopática. A maior prevalência é entre crianças de 4 – 12 anos, cursando, geralmente, após 1– 2 semanas do surgimento de uma faringite, de 3 – 6 semanas após um processo infeccioso na pele e pode ser variável quando relacionada com outras infecções. ■ Vale lembrar que, como diagnóstico diferencial, tem-se a glomerulonefrite por IgA, que ocorre, no geral, de forma concomitante com a faringite, diferente da pós-infecciosa. ■ O diagnóstico é baseado em uma história clínica (hematúria, proteinúria moderada, oligúria, edema e hipertensão) de faringite ou piodermite com um período de incubação compatível. ■ Achados laboratoriais, como os títulos elevados de ASLO, Anti-DNAse B e Anti-hialuronidase ■ Com relação a diferenciação com a nefropatia por IgA, um achado laboratorial importante é o consumo do sistema complemento (C3 e CH50). ■ Na microscopia ótica, os achados mais comuns são: ● proliferação de células mesangiais, 3 ● obliteração dos capilares glomerulares; ● na imunofluorescência, há depósito de imunocomplexos de forma difusa; ● e na microscopia eletrônica é possível perceber a presença de imunocomplexos entre a membrana basal e os podócitos ● O tratamento é baseado em restrição hidrossalina, administração de diuréticos de alça (buscado melhorar o edema), tratamento da hipertensão com vasodilatadores, diálise nos casos dos pacientes que não respondem ao tratamento e penicilina nos casos dos pacientes com infecção estreptocócica ➢ Nefropatia por IgA ou doença de Berger ■ É a forma mais comum de glomerulonefrite, acomete mais frequentemente os homens brancos e jovens. Caracterizado por hematúria recorrente após IVAS, concomitantemente com elas ou logo após. Há depósito de IgA no mesângio, porém não há consumo do sistema complemento ■ Pode ser de causa primária e secundária: ● primária é causada por um defeito na glicosilação da IgA, de modo que essa imunoglobulina defeituosa é filtrada e depositada no mesângio ● secundária é caracterizada por sua associação com outras doenças, como a cirrose hepática, doença celíaca, HIV e outras ■ características clínicas são: hematúria macroscópica (40 – 50% dos casos), mas ela pode ser microscópica, além disso, de forma menos comum ela pode cursar com síndrome nefrótica (5 – 10% dos casos) ■ O diagnóstico é baseado na clínica de síndrome nefrítica, com a presença de IgA aumentado, o que ocorre em aproximadamente 50% dos casos. Porém, o achado principal para confirmação do diagnóstico é baseado no estudo histopatológico, após a biópsia, na qual é encontrada uma proliferação mesangial, o que já é percebido na microscopia ótica e marcado na imunofluorescência com o depósito da imunoglobulina A. 4 ➢ Glomerulopatia membranoproliferativa ■ Pode acometer qualquer idade, porém tem predomínio nos adultos e é marcada por consumir o sistema complemento. Geralmente está associada com hepatite e crioglobulinemia. Durante a microscopia ótica é percebida uma proliferação mesangial e endocapilar, além do espessamento e duplicação da membrana basal glomerular (sinal do duplo contorno). ■ O tratamento é baseado no uso de anti- hipertensivos (IECA ou BRA), além do tratamento da doença de base. ➢ Nefropatia lúpica ■ É uma manifestação do Lúpus Eritematoso Sistêmico. Além disso, vale lembrar que há um consumo de complemento bem evidente, principalmente de C3 e C4 e pode assumir a forma rapidamente progressiva. ■ A classificação da nefrite lúpica são: ● tipo I – mesangial primária ● tipo II – mesangial difusa ● tipo III – glomerulonefrite proliferativa focal ● tipo IV – glomerulonefrite proliferativa difusa ● tipo V – glomerulonefrite membranosa ● tipo VI – glomerulonefrite esclerosante ■ Vale lembrar que os tipos de pior prognóstico são os de glomerulonefrite proliferativa, tanto o tipo III quanto o tipo IV. ■ O tratamento: tratamento de indução (imunossupressão maior) e tratamento de manutenção (uma imunossupressão menor). Na indução, há pulso de corticoide mais a ciclofosfamida e na manutenção corticoide em baixa dose mais micofenolato ou hidroxicloroquina. 5 ➢ Vasculites ■ Existem 03 tipos de vasculites relacionadas com o anticorpo ANCA, que podem cursar com síndrome nefrítica. São elas: ● a Poliangeíte granulomatosa (Wegener) – caracterizada por: sinusopatia, escarros hemoptoicos, infiltrados ou nódulos pulmonares e nefrite ● Poliangeíte eosinofílica (Churg- Strauss) – caracterizada por: asma de difícil controle, eosinofilia, eosinófilos em parede de vasos, mono/polineuropatia e nefrite ● Poliangeíte microscópica – caracterizada por: hemorragia alveolar, mono/polineuropatia e nefrite. ■ O tratamento é baseado em pulsos de corticoide mais ciclofosfamidaou pulso de corticoide mais rituximab, com a manutenção com azatioprina. ➢ Glomerulonefrite rapidamente progressiva ■ É uma nefrite caracterizada com um rápido declínio da função renal, em dias ou semanas.O paciente chega com hipertensão, proteinúria e hematúria, com escórias nitrogenadas aumentadas ■ No diagnóstico histológico, um marco é a presença de crescentes (proliferação do epitélio parietal da cápsula de Bowman, que se assemelha a lua crescente), caracterizada por duas ou mais camadas de células da cápsula de Bowman. ■ OBS: Qual o processo fisiopatológico por trás da “crescente”? A ruptura dos vasos capilares gera um extravasamento para o espaço da Bowman, onde haverá acúmulo de monócitos, mediadores inflamatórios e proteínas. Essa situação faz com que haja um estímulo das células parietais, levando a um aumento da proliferação dessas células. ■ Algumas doenças podem cursar com glomerulonefrite rapidamente progressiva, são elas: ● glomerulonefrite associada a infecções, ● doença antimembrana basal (Goodpasture); ● paucimunes (Wegener; Churg-Strauss); ● nefrite lúpica; ● nefropatia por IgA; HIV e HBV ● glomerulonefrite por crioglobulinemia (infecção por HCV). 6 ■ Após o diagnóstico clínico mais a confirmação histopatológica, realiza-se a classificação feita através da imunofluorescência (IF). Dessa forma, existem 03 tipos: ● tipo I – é a forma linear, caracterizada por depósito na membrana basal glomerular ● tipo II – caracterizada por aspecto na IF de depósito granular ● tipo III – não há depósito de imunocomplexos ■ Associação entre as classes e as possíveis etiologias: ● Tipo I – Goodpasture ● Tipo II – LES, GNPE, endocardite, HIV, HBV e outras; ● Tipo III – Poliangeíte microscópica, Wegener e Churg-Strauss. ■ O tratamento é dividido em: indução, manutenção e em algumas ocasiões, como na Goodpasture, plasmaférese. ● Na indução, o paciente receberá pulsos de corticoide em 3 dias, associado a ivermectina para evitar infecção por estrongiloidíse, em seguida, após a pulsoterapia, faz-se corticoide (1mg/kg), associado com ciclofosfamida ou rituximab. ● Na manutenção, o tratamento é com corticoide + imunossupressor (azatioprina). Síndrome Nefrótica: ❖ É uma síndrome que tem como origem do quadro uma lesão na barreira de filtração glomerular (podócitos, membrana basal glomerular e endotélio fenestrado). Diante disso, devido a perda da seletividade da filtração glomerular, mais substâncias são eliminadas pela urina do que deveriam. ❖ Caracterizada por uma tríade: proteinúria maciça (> 3,5g/dia), hipoalbuminemia (< 3,0g/dia) e edema generalizado (anasarca). Além disso, pode haver hipercolesterolemia e uma inflamação glomerular ❖ OBS: Glomerulopatia Membranoproliferativa(GNMP) pode se manifestar tanto com a síndrome nefrítica quanto com a síndrome nefrótica. ❖ Etiologia: ➢ Doença por lesões mínimas ■ Essa patologia acomete principalmente as crianças do sexo masculino (1 – 8 anos), que cursam com proteinúria maciça seletiva, o paciente acaba perdendo muita albumina, níveis normais de complemento e edema importante. Nota-se que as recidivas são bastante frequentes. ■ É uma patologia que na maioria das vezes é idiopática, porém algumas situações podem dar origem a ela, como o Linfoma de Hodgkin e a utilização de AINEs. ■ No diagnóstico, percebe- se que é marcado pelas características clínicas, ou seja, tríade clínica sem outros comemorativos, não sendo necessária a realização de biópsia em todos os pacientes No entanto, em especial, naqueles pacientes com um quadro clínico mais “florido”, é importante lançar mão da biópsia, na qual será encontrado os seguintes achados: ● na microscopia ótica: não alterações ● na eletrônica – fusão dos prolongamentos podocitários 7 ■ O tratamento é baseado na corticoterapia, 1mg/kg, de 8 – 12 semanas. Os pacientes recidivantes, algumas opções são: ciclosporina e drogas citostáticas. ■ ➢ Glomeruloesclerose segmentar focal (GESF): ■ É a principal causa de síndrome nefrótica em adultos, em especial entre os 25-35 anos, mas pode acometer pacientes de qualquer idade. Os mecanismos fisiopatológicas mais conhecidos são: ● sequela de lesão glomerular ● sobrecarga renal e lesão devido ao hiperfluxo de filtração glomerular ■ Ou seja, são situações onde há possibilidade de gerar esclerose glomerular, sendo que as causas do surgimento desses mecanismos são: ● hipertensão arterial ● anemia falciforme ● drogas (como a heroína) ● HIV ● obesidade e nefropatia por refluxo. ■ Vale lembrar que o paciente com GESF pode desenvolver hipertensão, ou seja, se tornam hipertensos após um quadro de síndrome nefrótica. Ademais, não há consome do complemento, porém assim como a doença por lesões mínimas ela é recidivante ■ Na biópsia, na microscopia ótica já é possível perceber alguns pontos de esclerose (lesões focais), na microscopia eletrônica percebe-se a fusão dos podócitos semelhante a DLM e na imunofluorescência pode se apresentar sem alterações ou com presença de depósitos de IgG e C3 nas áreas de fibrose. ■ O tratamento, é com corticoterapia, cerca de 12 – 16 semanas e nos pacientes corticodependentes ou resistente, as opções são os inibidores da calcineurina (tracolimos ou ciclosporina). 8 ➢ Glomerulopatia membranosa: ■ É uma doença que acomete mais comumente os homens brancos entre 30 – 50 anos de idade. Caracterizada por uma proteinúria maciça, com níveis normais do complemento e possui uma remissão espontânea, cerca de 40% dos casos. Além disso, está associada com fenômenos tromboembólicos, merecendo destaque a trombose de veia renal. ■ As causas podem ser primárias ou secundárias: ● As causas primárias estão associadas com componentes autoimune, como o anticorpo antireceptor solúvel de fosfolipase A2 ● As causas secundárias estão associadas com neoplasias sólidas, medicações (captopril) e infecções (hepatite B, esquistossomose, sífilis, hanseníase e malária). ■ No histopatológico, é possível perceber, através da microscopia eletrônica, o depósito subepitelial de imunocomplexos (ou seja, entre a membrana basal e os podócitos) e na microscopia ótica, com a coloração por prata, é possível encontrar espessamento difuso da membrana basal e espículas. ■ O tratamento é com base em drogas anti-proteinúrica (IECA/BRA) e nos pacientes sintomáticos: ciclosporina ou corticoide + ciclofosfamida oral. Por fim, vale lembrar que os pacientes com a forma primária se beneficiam com o uso de rituximab (anti-CD20). ■ 9 ➢ Amiloidose ■ Possui duas apresentações com síndrome nefrótica: ● Tipo AL – associado com paraproteinemias, como o mieloma múltiplo ● Tipo AA – associado com doenças inflamatórias crônicas, como artrite reumatóide, espondiloartropatias e osteomielite. ■ Ambos os tipos cursam com deposição da proteína amiloide a nível renal, que são percebidos na biópsia, com o teste vermelho do Congo, depósitos de fibrilas. ■ O tratamento é baseado no tratamento da doença de base.
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