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AS CONTRIBUIÇÕES DE MIKHAIL BAKHTIN PARA OS ESTUDOS DA LINGUAGEM Juliana Cristina Sousa da Silva RESUMO A língua é o resultado do trabalho dos falantes, onde os sujeitos se constituem à medida que interagem uns com os outros. Nesse sentido, a linguagem é muito importante para o processo formativo do ser humano e também primordial na relação professor/aluno/escola, afinal, ela sempre está em um constante processo de interação mediado pelo diálogo. A partir disso, o objetivo desta pesquisa é discutir algumas das contribuições de Mikhail Bakhtin para o estudo da linguagem a partir da explicação de seus principais conceitos e da sua importância para a educação. A metodologia do presente trabalho está baseada em uma pesquisa bibliográfica com uma abordagem qualitativa, onde, pretendeu-se buscar elementos bibliográficos que pudessem dar subsídio às reflexões teóricas. Palavras-chave: Letras; Linguagem; Círculo; Mikhail Bakhtin. 1 INTRODUÇÃO A linguagem não é apenas um sistema “orgânico”, ela também está em um constante processo de interação mediado pelo diálogo. A língua só existe em função do uso que os emissores (quem fala ou escreve) e receptores (quem lê ou escuta) fazem dela em situações (prosaicas ou formais) de comunicação. No ensino da Língua Portuguesa, a linguagem é muito importante para o processo formativo do ser humano. Na escola, as atividades linguísticas devem ser baseadas nas diversas situações nas quais o uso da linguagem se apresenta aos seus falantes, pois a língua não deve ser vista apenas como um sistema homogêneo e unitário, mas sim um sistema que abarca as transformações históricas, sociais e econômicas. O sentido das coisas é dado ao homem pela linguagem, essa abordagem remete à linguagem uma natureza social, deslocando a atenção da alfabetização puramente formal. A partir disso, o aluno passa a ser visto como sujeito de interação, onde ele possui condições de transitar por diferentes caminhos, tanto na modalidade oral como na escrita, para que assim ele possa construir o seu próprio. Portanto, a linguagem adquire uma importância primordial na relação professor/aluno/escola, afinal, a educação como prática social é uma atividade ligada às relações entre as classes e se constitui como forma concreta dessas relações. A partir disso, o objetivo desta pesquisa, portanto, é discutir algumas das contribuições de Mikhail Bakhtin para o estudo da linguagem, a partir da explicação de seus principais conceitos e da sua importância para a educação. Quanto aos procedimentos de pesquisa, considerando que a metodologia está alicerçada em pesquisa bibliográfica e terá uma abordagem qualitativa, pretende-se buscar elementos bibliográficos que possam dar subsídio às reflexões teóricas. Este trabalho está dividido em três partes: nesta primeira (introdução) consta um resumo do conteúdo que está sendo tratado e o seu objetivo; na segunda, procuramos apresentar algumas das contribuições de Bakhtin para o estudo da linguagem; enquanto que na terceira e última parte (considerações finais), procuramos postular algumas direções possíveis para a discussão do tema. 2 CONTRIBUIÇÕES DE MIKHAIL BAKHTIN PARA OS ESTUDOS DA LINGUAGEM Mikhail Bakhtin, em sua obra “Estética da criação verbal” (2006), enfatiza a questão dos dados reais da linguística, ou seja, a natureza real dos fatos. Para ele, a língua é um fato social, cuja existência se funda nas necessidades da comunicação. Bakhtin valoriza, assim, a fala, a enunciação e a sua natureza social, pois a fala está ligada diretamente às condições da comunicação, que, por sua vez, estão sempre ligadas às estruturas sociais. Segundo Bakhtin (2006, p. 6): Se a fala é o motor das transformações linguísticas, ela não concerne os indivíduos; com efeito, a palavra é a arena onde se confrontam os valores sociais contraditórios; os conflitos da língua refletem os conflitos de classe no interior mesmo do sistema: comunidade semiótica e classe social não se recobrem. A comunicação verbal, inseparável das outras formas de comunicação, implica conflitos, relações de dominação e de resistência, adaptação ou resistência à hierarquia, utilização da língua pela classe dominante para reforçar seu poder etc. Para o autor, a variação faz parte da natureza da própria língua e reflete nas variações sociais, de modo que temos, por um lado, a evolução, que obedece às leis internas, e, por outro, a língua, que é regida por leis externas, de natureza social. Bakhtin coloca em evidência a inadequação de todos os procedimentos de análise linguística (fonéticos, morfológicos e sintáticos), para dar conta da enunciação completa, seja ela uma palavra, uma frase ou uma sequência de frases: A enunciação, compreendida como uma réplica do diálogo social, é a unidade de base da língua, trata-se de discurso interior (diálogo consigo mesmo) ou exterior. Ela é de natureza social, portanto, ideológica. Ela não existe fora de um contexto social, já que cada locutor tem um “horizonte social”. Há sempre um interlocutor, ao menos potencial. O locutor pensa e se exprime para um auditório social bem definido. A filosofia marxista da linguagem deve colocar como base de sua doutrina a enunciação, como realidade da língua e como estrutura sócio-ideológica (BAKHTIN, 2006, p. 8). O diálogo não significa apenas “alternância de vozes”, e sim uma incorporação destas, assim, as vozes das outras pessoas sempre estarão povoando a nossa atividade mental, pois a enunciação é de uma natureza social, afinal, não há um enunciado isolado, ele pressupõe aqueles que antecederam e todos que o sucederam. Portanto, a enunciação é “[...] o produto de interação de dois indivíduos socialmente organizados e de que a palavra é o signo ideológico por excelência” (BAKHTIN; VOLOSHINOV, 1992, p. 112). A partir das ideias de Bahktin, podemos considerar que a língua é resultado do trabalho dos falantes e que os sujeitos se constituem à medida que interagem uns com os outros, portanto, a linguística é um trabalho contínuo realizado por diferentes sujeitos. Dessa forma, a linguagem materna tem um papel fundamental na formação do sujeito e de sua consciência social. Neste sentido, essa subjetividade só será construída a partir da interação com outros sujeitos por meio da linguagem. Segundo Bakhtin e Voloshinov (1992, p. 108): [...] a língua não se transmite; ela dura e perdura sob a forma de um processo evolutivo contínuo. Os indivíduos não recebem a língua pronta para ser usada; eles penetram na corrente da comunicação verbal; ou melhor, somente quando mergulham nessa corrente é que sua consciência desperta e começa a operar. É apenas no processo de aquisição de uma língua estrangeira que a consciência já constituída – graças à língua materna – se confronta com uma língua toda pronta, que só lhe resta assimilar. Os sujeitos não “adquirem” sua língua materna; é nela e por meio dela que ocorre o primeiro despertar da consciência. O que se percebe é que a língua materna não é um mero processo de aquisição de símbolos e significados, mas o desenvolvimento da própria consciência subjetiva, formando, em grande parte, o modo como o sujeito percebe e conhece o mundo que o cerca. Portanto, a linguagem é um conjunto de contextos possíveis de uso de cada forma particular, ela é uma parte das mais diversas enunciações de sua própria prática linguística. De acordo com Bakhtin e Voloshinov (1992, p. 293): As palavras da língua não são de ninguém, mas ao mesmo tempo nós as ouvimos apenas em determinadas enunciações individuais, nós a lemos em determinadas obras individuais, e aí as palavras já não têm expressão apenas típica, porém, expressão individual externada com maior ou menor nitidez (função do gênero), determinada pelo contexto singularmente individual do enunciado. O verdadeiro objeto de estudo da Linguística seria, segundo Bakhtin, o caminho pelo qual a realidade social partilhada pelos indivíduos torna-se condição essencial para que a língua se una à fala e se torne processo de comunicação, capaz de produzir atosde fala. As mudanças que ocorrem na língua se dão em termos dos contextos que favorecem ou não o desenvolvimento, além e se encontrarem dentro de determinações culturais que consideram a linguagem como um campo de embate, no qual os saberes, as concepções e as práticas podem ser dispostos, podendo entrar em diálogo ou promover o desenvolvimento de pessoas e comunidades. Assim, o ser humano é um ser expressivo, falante, inacabado e dialógico. Bakhtin é autor de diversas obras sobre questões teóricas gerais, além disso, ele foi o líder intelectual de estudos científicos e filosóficos desenvolvidos por um grupo de estudiosos russos, que ficou conhecido como o "Círculo de Bakhtin". O Círculo de Bakhtin foi um grupo formado pelo pensador russo em conjunto com diversos intelectuais da época de 1920. Este grupo foi responsável por formulações e estudos que resultaram em diversas obras sobre linguagem, linguística, filosofia e outras áreas do conhecimento. Boa parte da produção do Círculo se realizou nas décadas de 1920 e 1930, sendo que esse conjunto de obras continha alguns pilares sobre os quais toda a concepção de linguagem se ergueu, são eles: a interação verbal, o enunciado concreto, o signo ideológico e o dialogismo. O primeiro pilar, a interação verbal, constituiu, para o Círculo de Bakhtin, a “realidade fundamental da língua” (BAKHTIN; VOLOCHÍNOV, 1992, p.127), ou seja, a comunicação é tomada como a materialização, a realização concreta da interação verbal/discursiva Ela é a realidade fundamental da língua, porque toda palavra procede de alguém e se dirige para alguém. O segundo pilar, o enunciado concreto, se referia à linguagem como expressão de um em relação ao outro num determinado momento, marcando a temporalidade como um evento único e singular. A realidade fundamental é a interação verbal, que só pode existir em relação ao outro, ou seja, objetiva-se na realidade concreta compartilhada entre o eu e o outro, ela nasce, vive e morre no processo de interação social entre os participantes da enunciação O terceiro pilar, o signo ideológico, reflete a realidade por meio da sua propriedade de referenciar-se, de adquirir sentido que ultrapasse suas próprias particularidades. Ele se torna a arena onde se desenvolve a luta de classes, é o modo de transpor a realidade objetiva conveniente à consciência humana. Nesse sentido, a noção de signo ideológico demonstra a tese do Círculo de Bakhtin sobre o caráter essencialmente material de todo acontecimento dessa ordem. Por último, temos o dialogismo, que é uma qualidade ontológica do enunciado concreto, sendo que a compreensão de que qualquer enunciado é intrinsecamente uma resposta a enunciados anteriores e, uma vez concretizado, abre-se à resposta de enunciados futuros, ou seja, toda a linguagem, em qualquer campo, está impregnada por relações dialógicas. Para Bakhtin e para o Círculo, todo processo de criação estética, ética ou cognitiva se dá através de uma relação entre os dois elementos principais: o eu e o outro. Esses elementos estão sempre em um processo de interconstituição, já que a consciência subjetiva, ao se constituir, constitui também o outro, já que o eu diferencia-se do que ele não é. 3 CONSIDERÇÕES FINAIS Podemos notar que o sujeito, mesmo no dia-a-dia, assume diversos lugares enunciativos, com isso, ele acaba entrando em contato com várias línguas, sistemas enunciativos e gêneros diferentes. Bakhtin destaca a importância da interação verbal no ato educativo com “o outro”, que acaba gerando a nossa fala, além disso, ele considera que a aprendizagem da linguagem já é um ato de reflexão sobre a própria linguagem. Bakhtin reafirma a intersubjetividade presente nas situações em que os sujeitos interagem por meio dos seus enunciados concretos e vivos. Devemos compreender a linguagem como expressão do pensamento, além disso, os estudos gramaticais devem contemplar a relação entre a língua e o pensamento, com ênfase em todos os registros linguísticos e formas de realizações nas quais a língua é utilizada. Podemos concluir que as contribuições e reflexões de Bakhtin são de suma importância para a compreensão da linguagem como forma de concepção da subjetividade, na medida em que é através dela que o indivíduo concebe a si e ao outro. Para ele, a linguagem não pode ser vista apenas como um sistema, mas também deve ser compreendida como um fenômeno social, histórico e ideológico, no qual a palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. Afinal, a verdadeira essência da linguagem é a interação verbal, realizada pela enunciação. REFERÊNCIAS BAKHTIN, M.; VOLOSHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lauch e Yara Frateschi Vieira. 6. ed. São Paulo: Editora Huritec, 1992. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. AS CONTRIBUIÇÕES DE MIKHAIL BAKHTIN PARA OS ESTUDOS DA LINGUAGEM Juliana Cristina Sousa da Silva RESUMO A língua é o resultado do trabalho dos falantes , onde os sujeitos se constituem à medida que interagem uns com os outros. Nesse sentido, a linguagem é muito importante para o processo formativo do ser humano e também primordial na relaç ão professor/aluno/escola, afinal, ela sempre está em um constante processo de interação mediado pelo diálogo. A partir disso, o objetivo desta pesq uisa é dis cutir algumas das contribuições de Mikhail Bakhtin para o estudo da linguagem a partir da explicação de seus principais conceitos e da sua importância para a educação. A metodologia do presente trabalho está baseada em uma pesquisa bibliográfica com uma ab ordagem qualitativa, onde, pretendeu - se buscar elementos bibliográficos que p udessem dar subsídio às reflexões teóricas. Palavras - chave : Letras; Linguagem; Círculo; Mikhail Bakhtin. 1 INTRODUÇÃO A linguagem não é apenas um sistema “orgânico” , ela também está em um constante processo de interação mediado pelo diálogo. A língua só existe em função do uso que os emissores (quem fala ou escreve) e recep tores (quem lê ou escuta) fazem dela em situações (prosaicas ou formais) de comunicação. No ensino da Língua Portuguesa , a linguagem é muito importante para o processo formativo do ser humano . N a escola, as atividades linguísticas devem ser baseadas nas diversas situações nas quais o uso da linguagem se apresenta aos seus falantes, pois a língua não deve ser vista apenas como um sistema homogêneo e unitário, mas sim um sistema que abarca as transformações históricas, sociais e econômicas. O sentido das coisas é dado ao ho mem pela linguagem, essa abordagem remete à linguagem uma naturez a social, deslocando a atenção d a alfabetização puramente formal. A partir disso, o aluno passa a ser visto como sujeito de interação, onde ele possui condições de transitar por diferentes caminhos, tanto na modalidade oral como na escrita, para que assim ele possa construir o seu próprio. AS CONTRIBUIÇÕES DE MIKHAIL BAKHTIN PARA OS ESTUDOS DA LINGUAGEM Juliana Cristina Sousa da Silva RESUMO A língua é o resultado do trabalho dos falantes, onde os sujeitos se constituem à medida que interagem uns com os outros. Nesse sentido, a linguagem é muito importante para o processo formativo do ser humano e também primordial na relação professor/aluno/escola, afinal, ela sempre está em um constante processo de interação mediado pelo diálogo. A partir disso, o objetivo desta pesquisa é discutir algumas das contribuições de Mikhail Bakhtin para o estudo da linguagem a partir da explicação de seus principais conceitos e da sua importância para a educação. A metodologia do presente trabalho está baseada em uma pesquisa bibliográfica com uma abordagem qualitativa, onde, pretendeu-sebuscar elementos bibliográficos que pudessem dar subsídio às reflexões teóricas. Palavras-chave: Letras; Linguagem; Círculo; Mikhail Bakhtin. 1 INTRODUÇÃO A linguagem não é apenas um sistema “orgânico”, ela também está em um constante processo de interação mediado pelo diálogo. A língua só existe em função do uso que os emissores (quem fala ou escreve) e receptores (quem lê ou escuta) fazem dela em situações (prosaicas ou formais) de comunicação. No ensino da Língua Portuguesa, a linguagem é muito importante para o processo formativo do ser humano. Na escola, as atividades linguísticas devem ser baseadas nas diversas situações nas quais o uso da linguagem se apresenta aos seus falantes, pois a língua não deve ser vista apenas como um sistema homogêneo e unitário, mas sim um sistema que abarca as transformações históricas, sociais e econômicas. O sentido das coisas é dado ao homem pela linguagem, essa abordagem remete à linguagem uma natureza social, deslocando a atenção da alfabetização puramente formal. A partir disso, o aluno passa a ser visto como sujeito de interação, onde ele possui condições de transitar por diferentes caminhos, tanto na modalidade oral como na escrita, para que assim ele possa construir o seu próprio.