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Lilian Pitta PROCESSO E PROCEDIMENTO Lilian Pitta Atenção!!! ✓ O presente material não esgota a totalidade do conteúdo programático, servindo apenas como orientação para que o estudante possa seguir um caminho especificado em seu estudo. ✓ A bibliografia indicada pela Universidade e pela professora da disciplina traz de forma clara todos os pontos do programa, sendo necessário o seu completo estudo para realização com êxito das avaliações e a consequente aprovação. ✓ O presente material deverá ainda ser complementado pelo estudante com: o as aulas ministradas, o os exemplos práticos citados em sala de aula, o os exercícios elaborados e corrigidos pela professora, o os preceitos legais correspondentes a cada assunto e o por todo material divulgado e/ou constante da pasta da disciplina. E lembre-se: o que definirá o seu sucesso acadêmico é o grau de comprometimento com a sua formação. Desta forma, seja na preparação para a atividade avaliativa, seja para concorrer a um concurso público ou exame da OAB, habitue-se a tirar suas dúvidas, busque realizar com excelência suas atividades às quais se propuser e vá além do conhecimento oferecido pelos materiais que tiver em mãos, aprofundando sempre mais os seus estudos em prol do seu objetivo. Afinal, seu conhecimento é a sua maior riqueza e isso ninguém conseguirá tirar de você. Bons estudos!!! Lilian Pitta UNIDADE 1 – NORMAS FUNDAMENTAIS, JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA. CONTEÚDOS: 1.1 - Norma jurídica processual. Fontes do direito processual: fundamentos constitucionais do processo. Princípios fundamentais do processo: noção de princípio. Princípios ideais informativos do processo. Princípios gerais do processo. A lei processual no tempo e no espaço. 1.2 - Funções básicas do Estado. Características da jurisdição. Caracterização do ato jurisdicional. Elementos da jurisdição e poderes jurisdicionais. Princípios fundamentais da jurisdição. Extensão da jurisdição. Unidade da jurisdição. Jurisdição: classificações. Estrutura do Poder Judiciário. Composição. 1.3 - Competência Civil, Penal e Trabalhista - Noções: conceito. Relações com a jurisdição. Delimitação espacial da jurisdição: competência internacional e interna. Distribuição interna da jurisdição. Cooperação Internacional. 1.4 - Rol principiológico expresso e não expresso na Constituição e na lei ordinária 13.105 de 2015. Exposição das técnicas processuais na tutela dos direitos. NOTAS INTRODUTÓRIAS Para Aristóteles, o homem é um animal político, que nasce com a tendência de viver em sociedade, e a vida em sociedade só é possível por existir um conjunto de normas gerais e positivas, disciplinadoras da vida social que é o Direito1. Neste diapasão, o Direito exerce uma função ordenadora na sociedade, coordenando os interesses dos membros da sociedade, organizando a cooperação entre as pessoas e compondo conflitos entre os membros da sociedade2. O Estado, que tem como função fundamental promover a plena realização dos valores humanos, exerce três funções distintas, a saber: função administrativa, função legislativa e função jurisdicional, e é através da função jurisdicional que o Estado tem a missão de pacificação da sociedade, eliminando conflitos entre os membros da sociedade, e, para cumprir essa missão, utiliza o processo, como método de composição dos litígios, criando o Estado normas jurídicas que formam o direito processual. O Direito Processual, ao longo de seu processo evolutivo, tornou-se uma ciência autônoma, mas que se relaciona com os demais ramos das ciências jurídicas e, considerando a clássica dicotomia que divide o direito em público e privado, tem-se que o Direito Processual, por envolver a atividade jurisdicional do Estado, é ramo do direito público, que estuda o modo como se desenvolve o processo jurisdicional, tendo ligação estreita com o direito constitucional e todos os demais campos do direito. 1 Ubi homo ibi societas; ubi societas, ibi jus (onde há homem, há sociedade; onde há sociedade, há direito). 2 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 28 ed. – São Paulo: Malheiros Editores, 2012. Lilian Pitta Certo é, que o Direito Processual é uno, constituindo-se em um sistema de princípios e normas para o exercício da jurisdição, porém, quando se fala em processo, pode-se pensar em processos administrativos, legislativos, privados (destituição de síndico de condomínio), processo arbitral (Lei nº 9.307/96), entre outros, mas é o Processo Jurisdicional, que se desenvolve através do exercício da atividade jurisdicional do Estado, cujas regras são estabelecidas pelo Direito Processual. E o Direito Processual admite divisões, que são as seguintes: (i) Direito Processual Penal, que tem por objeto pretensões de natureza penal, reguladas pelo direito penal; (ii) Direito Processual do Trabalho, que tem por objeto pretensões de natureza trabalhista, reguladas pelo direito do trabalho; (iii) Direito Processual Coletivo, que tem por objeto pretensões de natureza transindividuais, que podem até ter natureza penal, trabalhista ou cível, pois o que caracteriza o direito processual coletivo é o fato da pretensão ter por objeto a proteção de direitos transindividuais (coletivos lato sensu); e, (iv) Direito Processual Civil, que é o residual, o tudo mais, dedicado ao estudo do processo civil, em que se exerce a atividade jurisdicional numa causa que não é penal, não é trabalhista, não é coletiva e, apesar das diversas espécies que podem ser encontradas, há pontos que são comuns entre todos eles, como os conceitos de jurisdição, ação e processo3, assim como tantos outros, como citação, intimação, sentença, recurso, coisa julgada, motivo pelo qual existe a Teoria Geral do Processo, definida, segundo DINAMARCO (2016:16), como um sistema de conceitos e princípios elevados ao grau máximo de generalização útil e condensados indutivamente a partir do confronto de diversos ramos do direito processual. Ainda para uma melhor compreensão da disciplina, importante estudar conceitos basilares, fundamentais, que são úteis para a elaboração dos demais conceitos do Direito Processual4 e que são os seguintes: necessidade, bem ou bem da vida, utilidade, interesse, conflito, pretensão, resistência e lide ou litígio. ✓ Necessidade: é a relação de dependência do homem para com algum elemento; a combinação de um ente vivo (homem) com um ente complementar (bem) constitui uma necessidade; a necessidade se satisfaz com a combinação5. ✓ Bem: é tudo aquilo que satisfaz uma necessidade humana; bem da vida é tudo aquilo que pode ser necessário, útil ou servir de aprimoramento para o homem (bem materiais ou imateriais = conceito amplo de bem). ✓ Utilidade: aptidão de um bem para atender a uma necessidade. Os homens têm suas necessidades; os bens têm suas utilidades. De acordo com Alvim (2018, p. 3), “a necessidade e a utilidade despertam o interesse do homem pelo gozo dos bens da vida”. Todo bem tem sua utilidade, mas nem sempre haverá interesse no bem, pois não haverá necessidade de ter o bem. 3 Trilogia estrutural do direito processual. 4 A Propedêutica Processual é o estudo de conceitos básicos. 5 Alvim, J. E. Carreira. Teoria geral do processo. 21. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense, 2018. Lilian Pitta OBS.: o pão (bem) tem utilidade; a utilidade deve se aliar a uma necessidade, ou não haverá interesse. Assim, para quem não tem fome, o pão (bem) não despertará qualquer interesse. ✓ Interesse: é o elo que une o homem ao bem; é a “posição favorável à satisfação de uma necessidade”. Ex. Manoel (sujeito do interesse) tem interesse em obter o bem X (bem da vida – objeto do interesse). Qual o problema? Os interesses são ilimitados, mas os bens são limitados e não podem atender a todos, logo, Joaquim podeestar querendo o mesmo bem X que Manoel. Daí pode surgir o conflito, ou melhor, conflito de interesses. OBS.1: interesse imediato (situação/posição que se presta diretamente à satisfação de uma necessidade) e interesse mediato (situação/posição que se presta indiretamente à satisfação de uma necessidade). Exercício de Fixação A partir de tal compreensão, verifique os exemplos abaixo e identifique se se trata de interesse mediato ou imediato: 1 - “posição ou situação de quem possui o alimento, o qual se presta diretamente à satisfação da necessidade de alimentar-se” (Alvim, 2018, p. 4). Resposta: _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ 2 - “posição ou situação de quem possui o dinheiro para adquirir o alimento” (Alvim, 2018, p. 4). Resposta: _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ OBS.2: interesse individual (situação/posição favorável à satisfação de uma necessidade em relação a um indivíduo) e interesse coletivo (situação/posição favorável à satisfação de uma necessidade em relação a vários indivíduos, considerados em conjunto). O Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), em seu art. 81, dispõe que “a defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo”. Já o Parágrafo único do referido artigo conceitua o que vem a ser interesses ou direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. ➢ Interesses ou direitos difusos (art. 81, parágrafo único, I): os interessados são indetermináveis e ligados entre si por circunstâncias de fato, ou seja, não decorre de circunstância jurídica, não tendo como saber quem são todos os interessados. ➢ Interesses ou direitos coletivos (stricto sensu) (art. 81, parágrafo único, II): os interessados são determinados ou determináveis enquanto categoria, classe ou grupo, e ligados entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base. Lilian Pitta ➢ Interesses ou direitos individuais homogêneos ((art. 81, parágrafo único, III): são individuais, mas por decorrerem de origem comum, poderão ser tutelados coletivamente. Exercício de Fixação A partir das situações hipotéticas abaixo apresentadas, identifique se se trata de interesses ou direitos difusos, coletivos, individuais homogêneos ou simplesmente individuais: 1 – Familiares das vítimas de um acidente aéreo. Resposta: _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ 2 – Pessoas expostas à propaganda enganosa e abusiva veiculada pela televisão. Resposta: _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ 3 – Pessoa sendo cobrada em duplicidade por conta que já fora paga. Resposta: _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ 4 – Aumento ilegal das prestações de um consórcio de veículo. Resposta: _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ✓ Conflito: subjetivo (conflito entre dois interesses de um mesmo homem – o conflito se resolve com o sacrifício de um deles) e intersubjetivo (conflito entre duas pessoas). OBS.: o conflito de interesses é a situação na qual duas ou mais pessoas manifestam interesse em ficar com um mesmo bem e este bem somente pode ficar com um deles, como no caso de Manoel e Joaquim. Havendo conflito de interesses, um dos interessados pode manifestar uma pretensão em face do outro. ✓ Pretensão: é a “exigência de subordinação do interesse de outrem ao interesse próprio” (Alvim, 2018, p. 6); é exigir que seu interesse sobre o bem prevaleça sobre o outro que tem interesse sobre o mesmo bem; é a exigência de submissão do interesse alheio ao próprio. OBS.1: pretensão # direito. A pretensão não se confunde com o direito, pois é ato, uma manifestação, que pode ser fundada ou infundada, ou seja, pode ser deduzida tanto por quem tem direito quanto quem não tem direito. Lilian Pitta OBS.2: manifestada a exigência de submissão, no caso, de Manoel a Joaquim, Joaquim pode responder de duas maneiras: “sim, pode ficar com o bem X” (pretensão satisfeita de Manoel, logo, Manoel fica com o bem); Joaquim diz não, pois quer o bem também, advindo a resistência, logo, no caso, Joaquim ofereceu resistência à pretensão manifestada por Manoel, a pretensão resistida, surgindo a lide ou litígio. OBS.3: subordinação a pretensão = resolução pacífica; resistência a pretensão = lide ou litígio. ✓ Resistência: “oposição a uma pretensão”. ✓ Lide: “conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida ou insatisfeita” (Alvim, 2018, p. 7). NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO Há tempos atrás, a Constituição tinha por função precípua regular a estrutura do Estado e o seu funcionamento, apenas, mas no decorrer dos tempos (pós segunda guerra mundial), passou a cumprir outro papel, qual seja, de ser o elemento central da construção do Direito, ou seja, todo direito passa a ser pensado a partir da Constituição (interpretação conforme a Constituição, força normativa da Constituição6). No Brasil, o fenômeno da constitucionalização do Direito foi tardio7, porque se desenvolveu somente a partir da edição e vida da CRFB de 1988 (país de constitucionalismo tardio), quando passou a construir a ideia de que o Direito deve ser pensado a partir da CRFB. Significa dizer que não existe processo fora da Constituição, ou seja, processo que não esteja em perfeita harmonia com a Constituição. Desta forma, tem-se como papel da Constituição estabelecer, a partir de alguns princípios, as fases fundamentais para o modo de como se deve desenvolver o processo. Assim é que, a partir de sete princípios que compõem o Modelo Constitucional do Processo, passa-se a pensar o processo a partir da Constituição. O primeiro princípio que compõe o modelo é o Princípio do Devido Processo Legal (constitucional), previsto no art. 5º, LIV da CRFB, no qual é possível observar que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Significa que uma pessoa pode vir a ser privada de seus bens jurídicos, inclusive da liberdade, mas legitimamente se isto for o resultado de um processo, do que a Constituição qualificou como devido processo. O devido processo é o processo que respeita as garantias constitucionais, é um 6 HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: S.A. Fabris, 1991. 7 Constitucionalismo tardio é o fenômeno decorrente de causas históricas, políticas e jurídicas, entre outras, da ausência de cultura constitucional nos Estados pós-modernos que são organizados formalmente por meio de uma constituição, o que conduz à ineficácia social dos textos constitucionais. Lilian Pitta processo que se desenvolve em conformidade com a Constituição. Ex. posso ser privado do imóvel que moro e ter de sair (despejo, reintegração de posse), sim, mas a privação ocorre desde que seja fruto de um processo e que se desenvolve em conformidade com a Constituição (e não com a lei). O processo que não observa o modelo constitucional não é o devido processo e por isso é incompatível com a CRFB. HC 155363 Órgão julgador: Segunda Turma Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI Julgamento: 08/05/2018 Publicação: 24/07/2020 Ementa defesa. Frustrada a possibilidade de os acusados produzirem as provas que reputam necessárias à demonstraçãode suas alegações. Infringência à matriz constitucional da plenitude de defesa (CF, art. 5º, inciso LV) e do due process of law (CF, art. 5º, inciso LIV). Decisão que, à luz do princípio do livre convencimento motivado, extrapolou os limites do razoável. Ordem concedida de ofício. 1. Habeas corpus impetrado contra decisão monocrática mediante a qual o relator do writ no Tribunal Superior Eleitoral a ele negou seguimento, invocando o verbete nº 691 deste Supremo Tribunal e apontando deficiência em sua instrução. Logo, a apreciação do tema, de forma originária, pelo STF configuraria inadmissível supressão de instância. 2. Como se não bastasse, é inadmissível o habeas corpus que se volte contra decisão monocrática não submetida ao crivo do colegiado por intermédio do agravo interno, por falta de exaurimento da instância antecedente. 3. Habeas corpus do qual não se conhece. 4. As circunstâncias expostas nos autos, todavia, encerram situação de constrangimento ilegal apta a justificar a concessão da ordem de ofício. 5. O princípio do livre convencimento motivado (CPP, art. 400, § 1º) faculta ao juiz o indeferimento das provas consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (v.g. RHC nº 126.853/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 15/9/15). 6. Não obstante, o indeferimento das testemunhas de defesa, à luz desse princípio, se afigura inadmissível em um estado democrático de direito, em que a plenitude de defesa é garantia constitucional de todos os acusados (CF, art. 5º, inciso LV). 7. A decisão em comento extrapola os limites do razoável, mormente se levado em consideração que a medida extrema foi tomada em estágio inicial do processo (defesa prévia) e que a motivação para tanto está consubstanciada tout court na impressão pessoal do magistrado de que o requerimento seria protelatório, já que as testemunhas não teriam, em tese, vinculação com os fatos criminosos imputados aos pacientes. 8. Houve evidente infringência à matriz constitucional do due process of law (CF, art. 5º, inciso LIV), visto que se frustrou a possibilidade de os acusados produzirem as provas que reputam necessárias à demonstração de suas alegações. 9. Habeas corpus concedido de ofício para assegurar Decisão A Turma, por votação unânime, não conheceu desta impetração, mas concedeu a ordem de habeas corpus de ofício para, por força da matriz constitucional do due process of law, assegurar a oitiva das testemunhas arroladas pela defesa dos pacientes, nos termos do voto do Relator. https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur428670/false https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur428670/false Lilian Pitta Falaram: pelos pacientes Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira e Rosângela Rosinha Garotinho Barros Assed Matheus de Oliveira, o Dr. Carlos Fernando dos Santos Azeredo, e, pelo Ministério Público Federal, a Dra. Cláudia Sampaio Marques. Presidência do Ministro Edson Fachin. 2ª Turma, 8.5.2018. O segundo é o Princípio da Igualdade (isonomia), que está previsto no caput do art. 5º da CRFB – “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”. Tal princípio tem papel fundamental em toda compreensão do direito e não apenas do Direito Processual. Ele, inclusive, é tratado de forma redundante pelo texto constitucional – redundância justificável diante das desigualdades visualizadas na prática. A aplicação de tal Princípio tem por objetivo impedir que a desigualdade seja responsável pelo resultado do processo. O processo não pode existir para dar razão a quem tem mais força. Se quem tem razão é parte vulnerável ela precisa ganhar, mas para que possa ganhar, precisa ter condições de enfrentar o processo e chance de ganhar. O ordenamento jurídico deve criar condições para que as pessoas em condições de vulnerabilidade vejam seus direitos realizados. Há situações em que o tratamento igual vai produzir desiquilíbrios, porque há situações de vulnerabilidade e que se receber o mesmo tratamento, não conseguirá alcançar os mesmos resultados. A lei estabelece o tratamento desigual, uma mediação do que seria necessário para suprir a desigualdade, equilibrar as forças, estabelecendo a própria lei os limites do tratamento desigual. Pode ocorrer algum caso não previsto em lei, mas o juiz poderá reequilibrar as forças no processo diante do Princípio Constitucional. ARE 648629 Órgão julgador: Tribunal Pleno Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 24/04/2013 Publicação: 08/04/2014 Ementa 98, I, DA CRFB). ART. 9º DA LEI Nº 10.259/01. AGRAVO CONHECIDO E RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO. 1. A isonomia é um elemento ínsito ao princípio constitucional do contraditório (art. 5º, LV, da CRFB), do qual se extrai a necessidade de assegurar que as partes gozem das mesmas oportunidades e faculdades processuais, atuando sempre com paridade de armas, a fim de garantir que o resultado final jurisdicional espelhe a justiça do processo em que prolatado. Doutrina (FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal constitucional. 4. ed. – São Paulo: RT, 2005. p. 66; DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do Processo Civil Moderno. São Paulo: RT, 1986. p. 92; CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. O princípio da igualdade processual. Revista da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo, São Paulo, v. 19; MOREIRA, José Carlos Barbosa. A garantia do contraditório na atividade de instrução. RePro 35/231). 2. As exceções ao princípio da paridade de armas apenas têm lugar quando houver fundamento razoável baseado na necessidade de remediar um desequilíbrio entre as partes, e devem ser interpretadas de modo restritivo, conforme a parêmia exceptiones sunt strictissimae interpretationis. 3. O rito dos https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur260332/false https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur260332/false Lilian Pitta Juizados Especiais é talhado para ampliar o acesso à justiça (art. 5º, XXXV, da CRFB) mediante redução das formalidades e aceleração da marcha processual, não sendo outra a exegese do art. 98, I, da Carta Magna, que determina sejam adotados nos aludidos Juizados “os procedimentos oral e sumariíssimo”, devendo, portanto, ser apreciadas cum grano salis as interpretações que pugnem pela aplicação “subsidiária” de normas alheias ao microssistema dos Juizados Especiais que importem delongas ou incremento de solenidades. 4. O espírito da Lei nº 10.259/01, que rege o procedimento dos Juizados Especiais Federais, é inequivocamente o de afastar a incidência de normas que alberguem prerrogativas processuais para a Fazenda Pública, máxime em razão do que dispõe o seu art. 9º, verbis: “Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos”. 5. Não se aplica aos Juizados Especiais Federais a prerrogativa de intimação pessoal dos ocupantes de cargo de Procurador Federal, prevista no art. 17 da Lei n.º 10.910/2004, na medida em que neste rito especial, ante a simplicidade. Tese A prerrogativa processual da Fazenda Pública Federal de receber intimações pessoais, nos termos do art. 17 da Lei 10.910/2004, não tem aplicação no âmbito do procedimento dos Juizados Especiais Federais. Obs: Redação da tese aprovada nos termos do item 2 da Ata da 12ª Sessão Administrativa do STF, realizada em 09/12/2015. Doutrina CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. O princípio da igualdade processual. Revista da Procuradoria- Geral do Estado de São Paulo. São Paulo. v. 19. DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do Processo Civil Moderno. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986. p. 92. FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal. O terceiro é o Princípio do Juiz Natural (ou Juízo Constitucional) e que não está diretamente ligado apessoa do Juiz, mas ao órgão jurisdicional. É uma garantia que advém da Constituição e que está expressamente prevista na CRFB em dois dispositivos que, conjugados, vão compor a base normativa do “Juiz Natural”. O primeiro dispositivo é o inc. XXXVII do art. 5º, que diz que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”; o segundo dispositivo é o inciso LIII, que dispõe que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”. Os dois dispositivos juntos compõem a base normativa do Princípio do Juiz Natural. Para melhor compreensão, propõe-se inverter a ordem dos incisos, iniciando pelo inciso LIII, o qual significa a garantia de que o processo precisa se instaurar perante órgão jurisdicional dotado de competência8. Essa competência está estabelecida na própria Constituição (competência constitucional). A CRFB quando estrutura o Poder Judiciário a partir do art. 92, não se limita a prever sua existência, estabelecendo entre as diversas estruturas judiciais uma divisão de trabalho entre as justiças. O “Juiz Natural” é juízo cuja competência constitucional tenha sido observada. Esse juízo constitucionalmente competente não pode ser juízo ou tribunal de exceção9. Quer dizer que modificações de competência infraconstitucional que ocorrerem depois do fato, não viola o princípio, pois a ideia fundamental é de que se o fato ocorreu hoje, vai verificar 8 A competência é uma norma de legitimação, de habilitação, existe para permitir que um órgão atue. 9 A competência constitucional foi estabelecida depois do fato que foi apreciado, sendo, portanto, estabelecida depois do fato. Lilian Pitta na CRFB qual será a Justiça competente para processar e julgar. Uma Emenda Constitucional que altere competências constitucionais é possível, mas somente poderá alterar a competência constitucional de fatos ocorridos depois dela; para os anteriores valerá a regra do momento que aconteceu10. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. JULGAMENTO MONOCRÁTICO DO RELATOR. OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E DA COLEGIALIDADE NÃO CONFIGURADO. MAJORANTE PREVISTA NO ART. 12, I, DA LEI 8.137/90. GRAVE DANO À COLETIVIDADE. POSSIBILIDADE. RÉU SE DEFENDE DOS FATOS E NÃO DA CAPITULAÇÃO JURÍDICA. RECURSO IMPROVIDO. 1. A jurisprudência consolidada desta Corte estabeleceu-se no sentido de que não viola o princípio do juiz natural ou da colegialidade a decisão monocrática do relator calcada em jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, tendo em vista a possibilidade de submissão do julgado ao exame do órgão colegiado, mediante a interposição de agravo regimental. Precedentes. 2. Não pode ser conhecida a pretensão ventilada no apelo nobre referente à redução da pena- base ao mínimo legal por não ter sido a matéria, que foi decidida por maioria na Turma local, objeto de embargos infringentes. 3. Para a incidência do art. 12, inciso I, da Lei n. 8.137/90 em tributos federais, já solidificou esta Corte interpretação de que é aplicável o parâmetro de um milhão de reais, referente ao tratamento fiscal a créditos prioritários. 4. Considerando o valor sonegado referente aos tributos de IRPJ em R$ 1.881.170,81 e de CSLL em R$180.594,82, que somados à época da lavratura dos mencionados autos implicaram no montante de R$2.061.765,63, há fundamentação idônea no estabelecimento da causa de aumento do grave dano à coletividade, de modo que a reversão das premissas fáticas do julgado demandaria o revolvimento do conjunto fático-probatório, inadmissível a teor da Súmula 7/STJ. 5. O acusado se defende dos fatos narrados na denúncia e não da capitulação legal nela contida, sendo, dessa forma, prescindível a menção expressa da causa de aumento de pena do art. 12, I, da Lei n. 8.137/90 na exordial acusatória. 6. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1856288/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 15/09/2020, DJe 23/09/2020) O quarto é o Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, que está previsto no inciso XXXV do art. 5º da CRFB – “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Tal Princípio significa uma garantia de acesso amplo e universal ao judiciário/à jurisdição; qualquer demanda veiculando qualquer pretensão pode ser levada ao Judiciário; ao direito de obter resposta à sua pretensão (favorável ou não). Mas há limites para tal incidência: limites espaciais (limites internacionais ao exercício da jurisdição brasileira (arts. 21 a 23 do CPC); limite no que diz respeito ao controle de atos de outros poderes (ato político do executivo; ato do legislativo) – separação harmônica dos poderes da república (art. 2º, CRFB), mas são limites constitucionalmente legítimos. A garantia não impede a utilização de outros métodos de resolução de conflitos, pois “o Estado pode 10 O STF não pensa assim = restringe a garantia do juiz natural. Causa tratamento desigual para pessoas que estão em situações jurídicas idênticas – ex. EC 45/2004 que alterou a competência da Justiça do Trabalho. Lilian Pitta ter o monopólio da Jurisdição, mas não da Justiça”11. A garantia da inafastabilidade perpassa não só pela entrada do judiciário, mas também pela obtenção de resultados adequados e efetivos. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO AO TRÂNSITO SEGURO. ARTS. 1°, 99 E 231, V, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO - CTB (LEI 9. 503/1997). TRÁFEGO DE VEÍCULOS DE CARGA COM EXCESSO DE PESO. PROTEÇÃO DA SAÚDE E SEGURANÇA DAS PESSOAS E CONSUMIDORES, ASSIM COMO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E PRIVADO. OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - ODS. PEDIDO DE PROVIDÊNCIA JUDICIAL PREVENTIVA. INDEPENDÊNCIA ENTRE INSTÂNCIAS ADMINISTRATIVA E JUDICIAL. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. ASTREINTE. DANOS MATERIAIS E MORAIS COLETIVOS. OCORRÊNCIA. ARTS. 1°, IV, E 3° DA LEI 7.347/85. RESPONSABILIDADE CIVIL. FATOS NOTÓRIOS. ART. 374, I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. VALOR DA INDENIZAÇÃO A SER FIXADO PELA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal objetivando: a) impedir (obrigação de não fazer), sob pena de multa civil (= astreinte), que veículos da transportadora recorrida, em total rebeldia contra o Código de Trânsito Brasileiro, trafeguem com excesso de peso nas rodovias, e b) condenar a empresa ao pagamento de dano material e moral coletivo, nos termos da Lei 7.347/1985. 2. Segundo os autos, a Polícia Rodoviária Federal registrou 85 (oitenta e cinco) infrações de trânsito por excesso de peso cometidas por veículos da empresa entre os anos de 2003 e 2013, ou seja, praticamente uma autuação a cada dois meses. O MPF notificou a ré visando celebrar Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), proposta por ela recusada sob a alegação de que, caso transportasse volume menor de carga, ficaria em desvantagem econômica perante seus concorrentes. Daí ser possível concluir que a lucratividade com o peso excessivo compensa e supera eventual pagamento de multa administrativa, o que só comprova a absoluta incapacidade da sanção para reprimir e desencorajar a conduta legalmente vedada. 3. Insurge-se o MPF contra sentença e acórdão que, primeiro, negaram condenar a empresa a não trafegar com excesso de peso pelas estradas, fazendo-o sob o argumento de que já existe, no Código Brasileiro de Trânsito, penalidade administrativa para tal conduta, e, segundo, afastaram a responsabilidade civil por danos materiais e morais coletivos. DIREITO AO TRÂNSITO SEGURO E POSIÇÃO DO BRASIL COMO UM DOS RECORDISTAS DE ACIDENTES 4. Nos termos da legislação federal, "o trânsito, em condições seguras, é um direito de todos" e "somente poderá transitar pelas vias terrestres o veículo cujo peso e dimensões atenderem aos limites estabelecidos pelo CONTRAN" (respectivamente arts. 1°, § 2°, e 99 do Código de Trânsito Brasileiro, grifo acrescentado). Além disso, o mesmo CTB dispõe ser infração administrativa "transitar com o veículo comexcesso de peso", prevendo, como penalidade, aplicação de multa e, como medida administrativa, "retenção do veículo e transbordo da carga excedente" (art. 231, V). 5. Não obstante a literal prescrição normativa - fruto da ação do legislador e não de invencionice judicial fora de propósito - de um "direito de todos" (art. 1°, § 2°) e de um "dever de todos" (art. 99), o Brasil continua a apresentar altíssimo índice de mortes nas rodovias. Dados da Organização Mundial de Saúde colocam-nos como quarto País, nas Américas, em que mais se mata em 11 Alexandre Freitas Câmara – Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Lilian Pitta acidentes de trânsito; e como campeão de mortes, em proporção ao número de habitantes, na América do Sul. Em 2015, foram registrados 37.306 óbitos e 204 mil feridos, consoante estatísticas do Ministério da Saúde. Estima-se que aproximadamente 43% dos acidentes nas estradas federais terminem com mortos ou feridos, totalizando um óbito para cada dez quilômetros de rodovia, e 234 para cada milhão de habitantes. 6. Ao lado das implicações patrimoniais stricto sensu (danosidade a bens públicos e privados), o direito ao trânsito seguro manifesta primordial e urgente questão de vida, saúde e bem-estar coletivos, três dos pilares estruturais do Direito Brasileiro. Donde ser inadmissível ao Poder Judiciário, defrontado com infrações cotidianas, repetitivas e por vezes confessadas de direito de todos, permanecer indiferente ou se omitir quando provocado a agir. Sobre o tema específico dos autos, legislação adequada temos de sobra, sem falar de políticas governamentais e princípios jurídicos apoiados na razão, na experiência e em expectativas comuns dos povos, formulados com amparo em consenso universal científico, ético e político, mormente por instituições internacionais permanentes, ao ponto de a Assembleia Geral das Nações Unidas haver consolidado a segurança no trânsito como um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS ("até 2020, reduzir pela metade as mortes e os ferimentos globais por acidentes em estradas", Objetivo 3.6). REMÉDIOS JURÍDICOS PREVENTIVOS, REPARATÓRIOS E SANCIONATÓRIOS: CLARA DISTINÇÃO ENTRE ESFERAS ADMINISTRATIVA E JUDICIAL 7. A existência de penalidade ou outra medida administrativa in abstracto (para o futuro) ou in concreto (já infligida), como resposta a determinada conduta ilegal, não exclui a possibilidade e a necessidade de providência judicial, nela contida a de índole cautelar ou inibitória, com o intuito de proteger os mesmos direitos e deveres garantidos, em tese, pelo poder de polícia da Administração, seja com cumprimento forçado de obrigação de fazer ou de não fazer, seja com determinação de restaurar e indenizar eventuais danos materiais e morais causados ao indivíduo, à coletividade, às gerações futuras e a bens estatais. No Brasil, a regra geral é que o comportamento anterior - real ou hipotético - do administrador não condiciona, nem escraviza, o desempenho da jurisdição. Isso porque a intervenção do juiz legitima-se tanto para impugnar, censurar e invalidar decisão administrativa proferida, como para impor ex novo aquela que deveria ter ocorrido, no caso de omissão, e, noutra perspectiva, para substituir a incompleta ou a deficiente, de maneira a inteirá-la ou aperfeiçoá-la. 8. Independentes entre si, multa civil (= astreinte), frequentemente utilizada como reforço de autoridade da e na prestação jurisdicional, não se confunde com multa administrativa. Tampouco caracteriza sanção judicial "adicional" ou "sobreposta" à aplicável pelo Estado-Administrador com base no seu poder de polícia. Além disso, a multa administrativa, como pena, destina-se a castigar fatos ilícitos pretéritos, enquanto a multa civil imposta pelo magistrado projeta-se, em um de seus matizes, para o futuro, de modo a assegurar a coercitividade e o cumprimento de obrigações de fazer e de não fazer (mas também de dar), legal ou judicialmente estabelecidas. 9. A sanção administrativa não esgota, nem poderia esgotar, o rol de respostas persuasivas, dissuasórias e punitivas do ordenamento no seu esforço - típico desafio de sobrevivência - de prevenir, reparar e reprimir infrações. Assim, a admissibilidade de cumulação de multa administrativa e de multa civil integra o próprio tecido jurídico do Estado Social de Direito brasileiro, inseparável de um dos seus atributos básicos, o imperativo categórico e absoluto de eficácia de direitos e deveres. Lilian Pitta 10. Como explicitado pelos eminentes integrantes da Segunda Turma do STJ, por ocasião dos debates orais em sessão, a presente demanda cuida de problema "paradigmático", diante "da desproporcionalidade entre a sanção imposta e o benefício usufruído", pois "a empresa tolera a multa" administrativa, na medida em que "a infração vale a pena", estado de coisa que desrespeita o princípio que veda a "proteção deficiente", também no âmbito da "consequência do dano moral" (Ministro Og Fernandes). Observa-se nessa espécie de comportamento "à margem do CTB", e reiterado, "um investimento empresarial na antijuridicidade do ato, que, nesse caso, só pode ser reprimido por ação civil pública" (Ministro Mauro Campbell). A matéria posta perante o STJ, portanto, é da maior "importância" (Ministra Assusete Magalhães), tanto mais quando o quadro fático passa a nefasta ideia de que "compensa descumprir a lei e pagar um pouquinho mais", percepção a ser rejeitada "para que se saiba que o Brasil está mudando, inclusive nessa área" (Ministro Francisco Falcão). 11. Embora não seja esse o ponto central do presente litígio, nem ao leigo passará despercebido que se esvai de qualquer sentido ou valor prático, mas também moral, jurídico e político, a pena incapaz de desestimular a infração e dela retirar toda a possibilidade de lucratividade ou benefício. De igual jeito ocorre com a sanção que, de tão irrisória, passa a fazer parte do custo normal do negócio, transformando a ilegalidade em prática rotineira e hábito empresarial em vez de desvio extravagante a disparar opróbio individual e reprovação social. Nessa linha de raciocínio, o nanismo e a leniência da pena, incluindo-se a judicial, que inviabilizem ou dilapidem a sua natureza e ratio de garantia da ordem jurídica, debocham do Estado de Direito, pervertem e desacreditam seu alicerce central, o festejado império da lei. A ganância das transportadoras, in casu, espelha e semeia uma cultura de licenciosidade infracional, dela se alimentando em círculo vicioso, algo que, por certo, precisa ensejar imediata e robusta repulsa judicial. 12. Mas, aqui, repita-se, a questão trazida no recurso é de ordem diversa: a quem devem recorrer os prejudicados e seus representantes, titulares do direito ao trânsito seguro? Encontrarão por acaso as portas do Judiciário fechadas sob o argumento de que existe para tais violações a correspondente sanção administrativa ou penal? A resposta correta, ao contrário, por mais consentânea com a ordem jurídica e a jurisprudência do STJ, só pode ser a de propiciar ao cidadão amplo acesso à justiça, em especial quando pleiteia "novos direitos" da classe em discussão, ainda pouco conhecidos e valorizados, lamentavelmente incompreendidos, como o direito ao trânsito seguro. 13. Em situações de ilegalidade, saber se compete ao Judiciário - na posição peculiar de árbitro par excellence e instância final da ordem jurídica - implementar direitos e obrigações solene e inequivocamente proclamados pelo legislador não haverá de incitar nenhuma surpresa ou hesitação, pouco importando o caráter implacável ou brando, ou mesmo a inexistência, de sanção administrativa ou penal. Por acaso caberia ao juiz missão de estatura superior à de, quando provocado, realizar direitos e obrigações legalmente previstos? Em verdade, o ápice do esplendor da potestade judicante irrompe no exercício do ofício intransferível e irrenunciável de, na jurisdição cível, (re)afirmar direitose obrigações estatuídos pelo legislador - por óbvio, sem preterir os abonados criminal e administrativamente -, de modo a coibir, sem deixar frestas, infrações e reparar prejuízos no confronto diário das relações em sociedade. RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS PATRIMONIAIS E MORAIS COLETIVOS 14. É fato notório (art. 374, I, do CPC) que o tráfego de veículos com excesso de peso provoca sérios danos materiais às vias públicas, ocasionando definhamento da durabilidade e da vida útil da camada que reveste e dá estrutura ao pavimento e ao acostamento, o que resulta em buracos, Lilian Pitta fissuras, lombadas e depressões, imperfeições no escoamento da água, tudo a ampliar custos de manutenção e de recuperação, consumindo preciosos e escassos recursos públicos. Ademais, acelera a depreciação dos veículos que utilizam a malha viária, impactando, em particular, nas condições e desempenho do sistema de frenagem da frota do embarcador/expedidor. Mais inquietante, afeta as condições gerais de segurança das vias e estradas, o que aumenta o número de acidentes, inclusive fatais. Em consequência, provoca dano moral coletivo consistente no agravamento dos riscos à saúde e à segurança de todos, prejuízo esse atrelado igualmente à redução dos níveis de fluidez do tráfego e de conforto dos usuários. Assim, reconhecidos os danos materiais e morais coletivos (an debeatur), verifica-se a imprescindibilidade de devolução do feito ao juízo de origem para mensuração do quantum debeatur. 15. Recurso Especial provido, para deferir o pleito de tutela inibitória (infrações futuras), conforme os termos e patamares requeridos pelo Ministério Público Federal na petição inicial, devolvendo-se o feito ao juízo a quo a fim de que proceda à fixação dos valores dos danos materiais e morais coletivos e difusos. (REsp 1574350/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/10/2017, DJe 06/03/2019) O Princípio do Contraditório é o quinto princípio que compõe o modelo constitucional do Processo e o único que se integra ao conceito de processo (processo é procedimento que se desenvolve em contraditório), sendo a característica mais essencial do processo. O art. 5º, LV, dispõe que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. A ideia de contraditório foi construída ao longo do tempo (desde o século XIX - Alemanha). Originariamente era visto como garantia formal a partir de dois elementos – direito a informação + direito de manifestação/reação e em não sendo observado, não havia o pleno contraditório. No Brasil chega no século XX com a mesma ideia, qual seja, informação + manifestação. Entretanto, no final do século XX passa a mudar a compreensão sobre o binômio (informação + manifestação), pois falta algum elemento. Passa-se a compreender, assim, que além dos dois elementos (informação + manifestação), teria um terceiro, que seria o direito a consideração dos argumentos. Hoje o Princípio do Contraditório é visualizado através de três elementos: direito à informação + direito de manifestação + direito a consideração dos argumentos. O processo tem que se desenvolver de modo que todos devem ter plena informação de tudo o que acontece e, uma vez informados, os sujeitos devem ter a possibilidade de manifestação; por fim, os sujeitos devem ter o direito de ter os argumentos levados em conta, direito de ter seus argumentos considerados (diferença entre falar e ser ouvido). Isso faz com que a construção do resultado do processo não seja do juiz solitariamente, deve examinar os argumentos das partes, se manifestar e valorar todos os argumentos. O resultado é construído pelo juiz e pelas partes ao longo do processo. Garante as partes o direito de participar, exercendo influência no resultado do processo. O contraditório permite e garante essa participação ao longo do processo com influência no resultado (art. 369, CPC). Importante mencionar, que a decisão surpresa viola o Princípio do Contraditório (art. 9º e art. 10 do CPC). É preciso dar às partes oportunidade de se manifestarem sobre as matérias, ainda que cognoscíveis de ofício. Uma decisão proferida com base em fundamento que não tenha sido garantido às partes a oportunidade de manifestação, é uma decisão surpresa, que o juiz terá construído sozinho, de forma solitária e por isso será nula por violação ao Princípio do Contraditório. Lilian Pitta Resulta que o Direito ao Contraditório não é só o direito de participação com influência e de não surpresa, mas também o direito de não ser surpreendido pelo resultado do processo. PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. JULGAMENTO SECUNDUM EVENTUM PROBATIONIS. APLICAÇÃO DO ART. 10 DO CPC/2015. PROIBIÇÃO DE DECISÃO SURPRESA. VIOLAÇÃO. NULIDADE. 1. Acórdão do TRF da 4ª Região extinguiu o processo sem julgamento do mérito por insuficiência de provas sem que o fundamento adotado tenha sido previamente debatido pelas partes ou objeto de contraditório preventivo. 2. O art. 10 do CPC/2015 estabelece que o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. 3. Trata-se de proibição da chamada decisão surpresa, também conhecida como decisão de terceira via, contra julgado que rompe com o modelo de processo cooperativo instituído pelo Código de 2015 para trazer questão aventada pelo juízo e não ventilada nem pelo autor nem pelo réu. 4. A partir do CPC/2015 mostra-se vedada decisão que inova o litígio e adota fundamento de fato ou de direito sem anterior oportunização de contraditório prévio, mesmo nas matérias de ordem pública que dispensam provocação das partes. Somente argumentos e fundamentos submetidos à manifestação precedente das partes podem ser aplicados pelo julgador, devendo este intimar os interessados para que se pronunciem previamente sobre questão não debatida que pode eventualmente ser objeto de deliberação judicial. 5. O novo sistema processual impôs aos julgadores e partes um procedimento permanentemente interacional, dialético e dialógico, em que a colaboração dos sujeitos processuais na formação da decisão jurisdicional é a pedra de toque do novo CPC. 6. A proibição de decisão surpresa, com obediência ao princípio do contraditório, assegura às partes o direito de serem ouvidas de maneira antecipada sobre todas as questões relevantes do processo, ainda que passíveis de conhecimento de ofício pelo magistrado. O contraditório se manifesta pela bilateralidade do binômio ciência/influência. Um sem o outro esvazia o princípio. A inovação do art. 10 do CPC/2015 está em tornar objetivamente obrigatória a intimação das partes para que se manifestem previamente à decisão judicial. E a consequência da inobservância do dispositivo é a nulidade da decisão surpresa, ou decisão de terceira via, na medida em que fere a característica fundamental do novo modelo de processualística pautado na colaboração entre as partes e no diálogo com o julgador. 7. O processo judicial contemporâneo não se faz com protagonismos e protagonistas, mas com equilíbrio na atuação das partes e do juiz de forma a que o feito seja conduzido cooperativamente pelos sujeitos processuais principais. A cooperação processual, cujo dever de consulta é uma das suas manifestações, é traço característico do CPC/2015. Encontra- se refletida no art. 10, bem como em diversos outros dispositivos espraiados pelo Código. 8. Em atenção à moderna concepção de cooperação processual, as partes têm o direito à legítima confiança de que o resultado do processo será alcançado mediante fundamento previamente conhecido e debatido por elas. Haverá afronta à colaboração e ao necessário diálogo no processo, com violação ao dever judicial de consulta e contraditório, se omitida às partes a possibilidade dese pronunciarem anteriormente "sobre tudo que pode servir de ponto de apoio para a decisão da causa, inclusive quanto àquelas questões que o juiz pode apreciar de ofício" (MARIONI, Luiz Guilherme; Lilian Pitta ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de processo civil comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 209). 9. Não se ignora que a aplicação desse novo paradigma decisório enfrenta resistências e causa desconforto nos operadores acostumados à sistemática anterior. Nenhuma dúvida, todavia, quanto à responsabilidade dos tribunais em assegurar-lhe efetividade não só como mecanismo de aperfeiçoamento da jurisdição, como de democratização do processo e de legitimação decisória. 10. Cabe ao magistrado ser sensível às circunstâncias do caso concreto e, prevendo a possibilidade de utilização de fundamento não debatido, permitir a manifestação das partes antes da decisão judicial, sob pena de violação ao art. 10 do CPC/2015 e a todo o plexo estruturante do sistema processual cooperativo. Tal necessidade de abrir oitiva das partes previamente à prolação da decisão judicial, mesmo quando passível de atuação de ofício, não é nova no direito processual brasileiro. Colhem-se exemplos no art. 40, §4º, da LEF, e nos Embargos de Declaração com efeitos infringentes. 11. Nada há de heterodoxo ou atípico no contraditório dinâmico e preventivo exigido pelo CPC/2015. Na eventual hipótese de adoção de fundamento ignorado e imprevisível, a decisão judicial não pode se dar com preterição da ciência prévia das partes. A negativa de efetividade ao art. 10 c/c art. 933 do CPC/2015 implica error in procedendo e nulidade do julgado, devendo a intimação antecedente ser procedida na instância de origem para permitir a participação dos titulares do direito discutido em juízo na formação do convencimento do julgador e, principalmente, assegurar a necessária correlação ou congruência entre o âmbito do diálogo desenvolvido pelos sujeitos processuais e o conteúdo da decisão prolatada. 12. In casu, o Acórdão recorrido decidiu o recurso de apelação da autora mediante fundamento original não cogitado, explícita ou implicitamente, pelas partes. Resolveu o Tribunal de origem contrariar a sentença monocrática e julgar extinto o processo sem resolução de mérito por insuficiência de prova, sem que as partes tenham tido a oportunidade de exercitar sua influência na formação da convicção do julgador. Por tratar-se de resultado que não está previsto objetivamente no ordenamento jurídico nacional, e refoge ao desdobramento natural da controvérsia, considera-se insuscetível de pronunciamento com desatenção à regra da proibição da decisão surpresa, posto não terem as partes obrigação de prevê-lo ou advinha-lo. Deve o julgado ser anulado, com retorno dos autos à instância anterior para intimação das partes a se manifestarem sobre a possibilidade aventada pelo juízo no prazo de 5 (cinco) dias. 13. Corrobora a pertinência da solução ora dada ao caso o fato de a resistência de mérito posta no Recurso Especial ser relevante e guardar potencial capacidade de alterar o julgamento prolatado. A despeito da analogia realizada no julgado recorrido com precedente da Corte Especial do STJ proferido sob o rito de recurso representativo de controvérsia (REsp 1.352.721/SP, Corte Especial, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJ de 28/4/2016), a extensão e o alcance da decisão utilizada como paradigma para além das circunstâncias ali analisadas e para "todas as hipóteses em que se rejeita a pretensão a benefício previdenciário em decorrência de ausência ou insuficiência de lastro probatório" recomenda cautela. A identidade e aplicabilidade automática do referido julgado a situações outras que não aquelas diretamente enfrentadas no caso apreciado, como ocorre com a controvérsia em liça, merece debate oportuno e circunstanciado como exigência da cooperação processual e da confiança legítima em um julgamento sem surpresas. 14. A ampliação demasiada das hipóteses de retirada da autoridade da coisa julgada fora dos casos expressamente previstos pelo legislador pode acarretar insegurança jurídica e risco de decisões contraditórias. O sistema processual pátrio prevê a chamada coisa julgada secundum eventum probationis apenas para situações bastante específicas e em processos de natureza Lilian Pitta coletiva. Cuida-se de técnica adotada com parcimônia pelo legislador nos casos de ação popular (art. 18 da Lei 4.717/1965) e de Ação Civil Pública (art. 16 da Lei 7.347/1985 e art. 103, I, CDC). Mesmo nesses casos com expressa previsão normativa, não se está a tratar de extinção do processo sem julgamento do mérito, mas de pedido julgado "improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova" (art. 16, ACP). 15. A diferença é significativa, pois, no caso de a ação coletiva ter sido julgada improcedente por deficiência de prova, a própria lei que relativiza a eficácia da coisa julgada torna imutável e indiscutível a sentença no limite das provas produzidas nos autos. Não impede que outros legitimados intentem nova ação com idêntico fundamento, mas exige prova nova para admissibilidade initio litis da demanda coletiva. 16. Não é o que se passa nas demandas individuais decidas sem resolução da lide e, por isso, não acobertadas pela eficácia imutável da autoridade da coisa julgada material em nenhuma extensão. A extinção do processo sem julgamento do mérito opera coisa julgada meramente formal e torna inalterável o decisum sob a ótica estritamente endoprocessual. Não obsta que o autor intente nova ação com as mesmas partes, o mesmo pedido e a mesma causa de pedir, inclusive com o mesmo conjunto probatório, e ainda assim receba decisão díspar da prolatada no processo anterior. A jurisdição passa a ser loteria em favor de uma das partes em detrimento da outra, sem mecanismos legais de controle eficiente. Por isso, a solução objeto do julgamento proferido pela Corte Especial do STJ no REsp 1.352.721/SP recomenda interpretação comedida, de forma a não ampliar em demasia as causas sujeitas à instabilidade extraprocessual da preclusão máxima. 17. Por derradeiro, o retorno dos autos à origem para adequação do procedimento à legislação federal tida por violada, sem ingresso no mérito por esta Corte com supressão ou sobreposição de instância, é medida que se impõe não apenas por tecnicismo procedimental, mas também pelo efeito pedagógico da observância fiel do devido processo legal, de modo a conformar o direito do recorrente e o dever do julgador às novas e boas práticas estabelecidas no Digesto Processual de 2015. 18. Recurso Especial provido. (REsp 1676027/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/09/2017, REPDJe 19/12/2017, DJe 11/10/2017) O sexto Princípio é o da fundamentação das decisões judiciais, que tem previsão no inciso IX do art. 93 da CRFB (“todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”. Por tal princípio cria-se uma exigência constitucional de fundamentação de todas as decisões judiciais. A ausência acarreta a nulidade da decisão judicial. Fundamentação é discurso de justificação da decisão; é apresentar razões que justificam a decisão; destinado a convencer os outros que aquela era a decisão correta a ser tomada. O motivo distingue-se de fundamento. Para Lênio Streck a diferença está em que no motivo o decisor usa para se autoconvencer (interno) e fundamento é o que ele usa para convencer o outro (externo). A fundamentação deve ser construída com base no discurso do juiz ou tribunal que vaijustificar e, portanto, mostrar para os outros de que aquela era a melhor decisão a ser tomada, essencial para o sistema que acolhe o devido processo = melhor decisão possível = pela fundamentação = justificação jurídica da decisão. Lilian Pitta Há necessidade de que seja uma fundamentação analítica da decisão judicial, sem a qual a decisão será considerada nula. O art. 489, § 1º do CPC aplica-se a todas as decisões. Na fundamentação, o julgador irá dizer a que conclusões chegou e como as alcançou com relação a cada um dos argumentos que as partes tenham deduzido a seu favor e que fossem em tese capazes de levar a um resultado favorável. É pela fundamentação que se controla a atividade do juiz e se respeita realmente o contraditório. O Princípio da Duração Razoável do Processo é o sétimo princípio a compor o modelo constitucional do processo e está previsto no art. 5º, LXXVIII (“a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”). Demonstra a necessidade de que a duração do processo seja razoável, o que não quer dizer que tenha direito a um processo rápido ou instantâneo, mas sim o direito a um processo sem as dilações indevidas. Certo é, que existem fenômenos que provocam algum tipo de demora, mas cujas dilações são devidas, necessários, para que haja o pleno respeito as demais garantias que compõem o modelo constitucional de processo. A duração razoável do processo traduz a ideia de que não se deve demorar mais do que o necessário para a produção de resultados constitucionalmente legítimos, justos, assim como não pode demorar menos que o necessário. Processo com demoras patológicas, desrespeita o modelo constitucional de processo. Deve ter tempo adequado ao processo, vai depender da complexidade do caso. Deve-se lutar contra as etapas mortas do processo (são períodos em que nada acontece entre um ato e outro como, por exemplo, o tempo de demora de juntada de uma petição). HC 165438 AgR Órgão julgador: Segunda Turma Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI Julgamento: 22/02/2019 Publicação: 28/02/2019 Ementa Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. AUSÊNCIA DE FLAGRANTE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. EXCESSO DE PRAZO. NÃO CARACTERIZAÇÃO. COMPLEXIDADE DA AÇÃO PENAL. INEXISTÊNCIA DE INÉRCIA OU DESÍDIA DO PODER JUDICIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – A jurisprudência dessa Suprema Corte é firme no sentido de que a demora na conclusão da instrução criminal, como circunstância apta a ensejar constrangimento ilegal, somente se dá em hipóteses excepcionais, nas quais a mora seja decorrência de (i) evidente desídia do órgão judicial; (ii) exclusiva atuação da parte acusadora; ou (iii) outra situação incompatível com o princípio da razoável duração do processo, previsto no art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal. Precedentes. II – No caso sob exame, os autos marcham de maneira regular, com destaque para as peculiaridades evidenciadas nos autos, tais como o número de réus e a complexidade da persecução penal. Além disso, o juízo processante tem tomado todas as medidas necessárias para o correto processamento da ação penal, sem perder de vista a celeridade que se é possível dar a processos com réus presos. III – A prisão cautelar deu-se em procedimento criminal destinado a https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur399034/false https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur399034/false Lilian Pitta investigar inúmeros fatos ocorridos desde 3/3/2014, que noticiam a promoção, constituição e integração de organização criminosa, com a finalidade de subtração de fios de cobre provenientes de cabos telefônicos, não havendo, por outro lado, nos autos, notícia de que instrução criminal tenha ficado paralisada por inércia do Poder Judiciário a configurar negativa de prestação jurisdicional e, por consequência, excesso de prazo injustificável. IV – Agravo regimental a que se nega provimento. Observação - Acórdão(s) citado(s): (PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO) HC 117746 (1ªT), HC 137449 (2ªT). Número de páginas: 17. Análise: 24/04/2019, KBP. Por fim, vale destacar que há normas fundamentais que não estão expressamente previstas na Constituição, que não derivam diretamente do texto constitucional, mas foram construídas a partir da ideia do devido processo, como o princípio da primazia da resolução do mérito. Ainda sobre princípios, eles são a essência, a razão, os valores que inspiram o ordenamento jurídico; orientam e auxiliam o Poder Público na elaboração legislativa do direito processual. Os princípios influem tanto na formação do Direito, quanto na sua aplicação. Ao se ferir uma norma, estar-se-á ferindo um princípio, que na sua essência estava embutido. E, por serem preceitos fundamentais, alguns dos princípios básicos são comuns a todos os sistemas processuais, outros são visualizados apenas em determinados sistemas processuais. A doutrina divide os princípios processuais em princípios informativos e gerais. Os princípios processuais informativos são regras de cunho geral e abstrato; inspiram o Direito Processual e devem ser utilizados para sua interpretação. Os princípios processuais gerais informam um ou outro sistema processual, a depender da orientação do legislador. São princípios processuais informativos: ✓ Lógico: legislador deve usar formas processuais que proporcionem uma melhor apuração da verdade, selecionando os meios mais eficazes e rápidos de procurar e descobrir a verdade e de evitar o erro. ✓ Jurídico: igualdade no processo e justiça na decisão. ✓ Político: máximo de garantia social, com o mínimo de sacrifício individual da liberdade. ✓ Econômico: processo acessível a todos, com vista ao seu custo e à sua duração. São princípios processuais gerais12: ➢ Princípio da Imparcialidade do juiz: a imparcialidade do magistrado é pressuposto de validade da relação processual. A CRFB estabelece garantias aos magistrados (art. 95), assim como prescreve-lhes vedações (parágrafo único do art. 95), sendo proibida a instituição dos 12 Alguns princípios gerais têm aplicação diversa no campo do processo civil e do processo penal, como por exemplo quanto ao princípio da indisponibilidade, que no processo penal é regra, enquanto no processo civil é exceção (princípio da disponibilidade é a regra); assim como alguns princípios têm aplicação idêntica em ambos os ramos do direito processual, como o princípio da imparcialidade do juiz. Lilian Pitta juízos ou tribunais de exceção (art. 5o., XXXVII). A aplicação correta do princípio depende de três requisitos: (i) o julgamento deve ser proferido por alguém constitucionalmente investido de jurisdição; (ii) o órgão julgador deve ser preexistente; e, (iii) a causa deve ser submetida a julgamento perante juízo competente. O Código de Processo Civil prevê as hipóteses de impedimento (art. 144) e suspeição (art. 145), que geram a perda da imparcialidade. ➢ Princípio da ação (ou demanda): é da parte a iniciativa de provocar o exercício da função jurisdicional (arts. 2º, 128 e 262 do CPC e arts. 24, 28 e 30 do CPP). Significa dizer que a movimentação inicial da jurisdição fica condicionada à provocação do interessado, não podendo o juiz iniciar um processo de ofício, mas existem exceções. Corolário do Princípio da Demanda é o Princípio do impulso oficial, o qual significa que uma vez provocada a jurisdição com a propositura da demanda, passará a caminhar independentemente de provocação (art. 2º, última parte, do CPC). ➢ Princípios da disponibilidade e da indisponibilidade: chama-se de poder dispositivo a liberdade que as pessoas têm de exercer ou seus direitos. Tal poder, para o direito processual civil, é quase absoluto, sofrendo limitações somente quando a natureza do direito material for indisponível, por prevalecer o interesse público sobreo privado. Assim, visualizado tal poder no direito processual civil, é a possibilidade que a pessoa tem de provocar ou não a função jurisdicional – princípio da disponibilidade processual. Já no processo penal, prevalece o inverso, ou seja, o princípio da indisponibilidade, em virtude do caráter público das normas penais materiais e a necessidade de assegurar a convivência pacífica dos indivíduos na sociedade, onde o Estado não tem apenas o direito, mas sobretudo o dever de punir. ➢ Princípio dispositivo e princípio da livre investigação das provas – verdade formal e verdade real: no direito processual civil o magistrado fica limitado as alegações das partes, ou seja, julga de acordo com o alegado. Entretanto, numa visão moderna, ainda assim o juiz pode determinar produção de prova de ofício, a fim de esclarecer sobre fatos que ainda não tenha se convencido (art. 370, CPC). Satisfaz-se com a verdade formal. No direito processual penal sempre prevaleceu o sistema da livre investigação das provas, pois o magistrado satisfaz-se apenas com a verdade real. ➢ Princípio da Publicidade: está previsto art. 5º, LX c/ art. 93, IX da Constituição da República e funciona como mecanismo de controle das decisões judiciais; a sociedade tem o direito de conhecer as decisões que são proferidas pelos órgãos, para poder fiscalizar os magistrados e tribunais. Exceção: parágrafo único do art. 11 c/c art. 189 do Código de Processo Civil. ➢ Princípio do duplo grau de jurisdição: Traduz a possibilidade que a parte inconformada tem de submeter a outro órgão do Poder Judiciário a revisão da solução da sua demanda. Lilian Pitta NORMAS JURÍDICAS PROCESSUAIS A doutrina moderna, considerando a autonomia do direito processual, classifica as normas processuais em dois grandes grupos: (i) normas materiais ou substanciais e (ii) normas processuais ou instrumentais. Aponta ALVIM (2018:249), que “as normas materiais ou substanciais são aquelas que disciplinam diretamente as relações de vida, procurando compor conflitos de interesses entre os membros da comunidade social, bem como regular e organizar funções socialmente úteis, ao mesmo tempo em que asseguram o seu cumprimento através de sanções, às vezes específicas, e, outras vezes, imanentes à ordem jurídica no seu conjunto”. Por exemplo, o Código Civil regula a obrigação de indenizar – art. 927, CC. Art. 927 do Código Civil - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Quanto as normas processuais ou instrumentais, ALVIM (2018:250) leciona que “são aquelas que disciplinam a aplicação das normas substanciais, seja regulando a competência para fazê-las atuar, seja regulando os meios de torná-las efetivas e ainda as vias adequadas para provocar o seu cumprimento e efetivação”. Por exemplo, o Código de Processo Civil disciplina a ação indenizatória – art. 292, V, CPC (valor da causa da ação indenizatória). Art. 292 do Código de Processo Civil – O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido. Certo é, que a garantia da satisfação da primeira é uma decorrência da segunda, entretanto, não há hierarquia entre as normas materiais e processuais, pois ambas têm sua relevância. Importante ressaltar, que a identificação de uma norma, se material ou processual, não deve ser realizada tendo-se em conta apenas a localização da norma, pois no Código Civil e no Código Penal é possível observar normas de natureza processual, assim como a recíproca é verdadeira, ou seja, é possível observar no Código de Processo Civil e no Código de Processo Penal, normas que tenham natureza material. Logo, é através da análise da natureza jurídica da norma que poderá classificar em norma material ou processual. Importante mencionar, que existem as normas heterotópicas, que são as normas materiais ou processuais inseridas em lei de natureza diversa, como por exemplo o Art. 274 do Código Civil (“O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles), assim como existem as normas mistas (ou híbridas), que são normas que, ao mesmo tempo, têm natureza processual e material, como por exemplo o Art. 366 do Código de Processo Penal (“Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a Lilian Pitta produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312). De forma genérica, as normas processuais são todas aquelas que disciplinam a atividade do Estado-juiz e das partes litigantes, bem assim o modo como essa atividade se desenvolve no processo. Didaticamente, a doutrina divide as normas processuais em três grupos, a saber: (a) normas processuais em sentido estrito (regulam o processo e são de competência privativa da União - art. 22, I, CRFB); (b) normas de organização judiciária (regulam a criação e estrutura dos órgãos judiciários e seus auxiliares, sendo de competência da União, se for da justiça federal, ou dos Estados, se for da justiça estadual); e, (c) normas estritamente procedimentais (regulam o procedimento e são da competência concorrente da União e dos Estados - art. 24, XI, CRFB). As normas processuais, por serem de direito público, em princípio são cogentes, ou seja, obrigatórias para todos os sujeitos processuais (todas as normas do Código Penal são cogentes), não podendo ser afastadas por vontade das partes, pois dizem respeito ao interesse público, contudo, em certas circunstâncias, a sua incidência dependerá da vontade das partes, quando, então, serão classificadas como dispositivas, pois poderão ser afastadas por vontade das partes, já que dizem respeito ao interesse privado (ex. art. 63 do Código de Processo Civil). A LEI PROCESSUAL NO TEMPO E NO ESPAÇO Toda norma jurídica sofre limitações no tempo e no espaço. No caso das normas processuais a eficácia espacial é regulada pelo Princípio da territorialidade (lei do foro) – art. 13 do CPC e art. 1º do CPP. A lei processual tem por objeto disciplinar a atividade jurisdicional, logo, considerando que trata-se de manifestação do poder soberano do Estado, não poderia ser regulado por leis estrangeiras, ressalvando o disposto no art. 13, parte final do CPC, que prevê a possibilidade de ser aplicada norma prevista em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil faça parte. Quanto a regulação da lei processual no tempo, as de natureza civil, a eficácia está prevista na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, e quanto as leis penais, na Lei de Introdução ao Código de Processo Penal, tendo como regra a irretroatividade, devendo ser aplicada de imediato (art. 1.046 do CPC e art. 2º do CPP), não ficando afastada a ultratividade das leis processuais (a norma processual revogada continua produzindo eficácia, por expressa previsão legal – ex. art. 1.046, parágrafo 1º do CPC). Pode ocorrer, diante de uma norma processual nova, um conflito temporal de leis processuais, todavia, não haverá conflito se os processos já tiverem terminado (findos), pois nesse caso não se faz necessária aplicação da lei processual nova; em processos a iniciar, aplicar-se-á a lei nova, já que a regra é a aplicação imediata. Contudo, em processos em curso, a doutrina menciona três sistemas, a saber: Lilian Pitta (i) Sistema da unidade processual (o processo é uma unidade jurídica, que só pode ser regulado por uma lei – a antiga ou a nova, de modo que a antiga teria de se impor, para não ocorrer a retroação da nova, com prejuízo dos atos já praticados até a suaentrada em vigor); (ii) Sistema das fases processuais (distingue as fases processuais autônomas [postulatória, saneamento, instrutória e decisória], cada uma suscetível de ser disciplinada por uma lei diferente); e, (iii) Sistema de isolamento dos atos processuais (afasta a aplicação da lei nova em relação aos atos já encerrados, aplicando-se apenas aos atos processuais a serem ainda praticados; assegura que a norma processual não tenha efeito retroativo, prevendo apenas para o futuro, sem afastar a ultratividade das leis processuais, no qual a norma revogada continua produzindo sua eficácia até que se conclua o ato por ela regulado). ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO Os órgãos que compõem a Estrutura do Poder Judiciário Brasileiro estão previstos no art. 92, CRFB. Além da estrutura, é possível verificar na Constituição a composição dos órgãos, assim como a competência originária e recursal de cada um deles, salvo da Justiça Estadual, cuja estrutura está prevista na Constituição de cada Estado. São órgãos do Poder Judiciário Brasileiro: STF, Conselho Nacional de Justiça, STJ, Tribunais Regionais Federais e juízes federais, Tribunais e juízes do Trabalho, Tribunais e juízes Eleitorais, Tribunais e juízes Militares, Tribunais e juízes dos Estados membros da Federação e do Distrito Federal e dos Territórios. ▪ STF (www.stf.gov.br) ✓ Função principal: manter a integridade da ordem constitucional. ✓ Composição – art. 101: onze ministros, que são nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovação do Senado. ✓ Competência – art. 102: originária (inc. I – processar e julgar) e recursal (inc. II e III - julgar). ▪ Conselho Nacional de Justiça (www.cnj.jus.br) ✓ Composição – art. 103-B: quinze membros. ✓ Competência – art. 103-B, § 4º: controlar a atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Criado pela Emenda Constitucional nº 45/2004 (Reforma do Judiciário)13, o Conselho Nacional de Justiça é órgão que compõe a estrutura do Poder Judiciário Brasileiro, com atuação em todo o território nacional, com sede em Brasília e composto por 15 (quinze) membros, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução (art. 103-B e §2º da CRFB). 13 Ver ADI nº 3367/DF http://www.stf.gov.br/ http://www.cnj.jus.br/ Lilian Pitta O CNJ será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal (art. 103-B, § 1º, CRFB), tendo por competência o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, além de outras atribuições previstas no § 4º do art. 103-B da CRFB (rol exemplificativo). Afirma-se, portanto, que o CNJ é órgão interno do Poder Judiciário de controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura, mas que não exerce função jurisdicional. Ressalta-se, que todas as decisões do CNJ sobre o controle da atuação administrativa e financeira dos tribunais e sobre a atuação funcional dos magistrados serão passíveis de controle jurisdicional pelo STF, que fixará o último posicionamento (art. 102, I, r da CRFB). ▪ STJ (www.stj.gov.br) ✓ Função principal: manter a integridade da lei federal. ✓ Composição – art. 104: trinta e três Ministros, que são nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovação do Senado. ✓ Competência – art. 105: originária (inc. I – processar e julgar) e recursal (inc. II e III – julgar). ▪ Justiça Federal (www.jfrj.gov.br; www.cjf.gov.br) ✓ Órgãos: art. 106 o Tribunais Regionais Federais (www.trf2.gov.br) - divididos por regiões, funcionam como órgão de 2º grau da Justiça Comum Federal. Composição – art. 107 e competência – art. 108 (originária – inc. I e recursal – inc. II). o Juízes Federais (Varas) – cada Estado corresponde a uma Seção Judiciária e são órgãos judiciários de 1º grau. Competência – art. 109. o JEFs Cíveis e Criminais – Competência - art. 3º da Lei nº 10.259/01 ▪ Justiça do Trabalho ✓ Órgãos: art. 111 o TST (www.tst.gov.br). Composição: vinte e sete Ministros, que são nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovação do Senado. o Tribunais Regionais do Trabalho (www.trtrio.gov.br) - divididos por regiões, como órgão de 2º grau. Composição – art. 115. o Juízes do Trabalho (Varas) - órgãos judiciários de 1º grau. ✓ Competência: art. 114 ▪ Justiça Eleitoral ✓ Órgãos: art. 118 o TSE (www.tse.gov.br). Composição: no mínimo, sete Ministros, mediante eleição e nomeação do Presidente da República - art. 119. o Tribunais Regionais Eleitorais. Divididos por regiões, como órgão de 2º grau. Composição – art. 120. o Juízes Eleitorais o Juntas Eleitorais http://www.stj.gov.br/ http://www.cjf.gov.br/ http://www.tst.gov.br/ http://www.tse.gov.br/ Lilian Pitta ✓ Competência: art. 121 e Lei nº 4.737/65 • Justiça Militar ✓ Órgãos: art. 122 da CRFB/88 e Lei nº 8.457/92 o STM (www.stm.gov.br). Composição: quinze Ministros que são nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovação do Senado. o Tribunais e juízes militares o Auditoria de Correição o Conselhos de Justiça o Juízes auditores ✓ Competência: art. 124 e Lei nº 8.457/92 • Tribunais e Juízes dos Estados (www.tj.rj.gov.br) ✓ Órgãos e competência: art. 125 da CRFB c/c Constituição do Estado e leis de organização judiciária. IMPORTANTE!!!! Alguns órgãos ostentam o nome de “tribunal” sem, entretanto, exercerem função jurisdicional, que tem como uma de suas características a definitividade (faz coisa julgada material), nem, tampouco, fazem parte da estrutura do Poder Judiciário Brasileiro. Para tanto, necessário compreender que Jurisdição é uma atividade estatal, de resolução de casos concretos, dando-se a esses casos uma solução juridicamente correta. A função jurisdicional é o encargo atribuído pela Constituição da República ao Poder Judiciário (função típica) e se concretiza através do processo. Dito isto, são Tribunais que não exercem função jurisdicional: - Tribunais de Contas (TCU, TCE e TCM) – são órgãos técnicos e independentes que auxiliam o Poder Legislativo, cuja especialidade é fiscalizar, sob o aspecto técnico, as contas públicas. Os Tribunais fiscalizam os gastos dos Poderes Executivos, dos entes federativos (União, Estados e Municípios) e da administração pública direta e indireta. Os Tribunais de Contas têm capacidade de julgar e punir os autores das irregularidades que forem verificadas, entretanto, as punições são administrativas, ou seja, não exercem função jurisdicional, apenas administrativa, pois suas decisões estão sujeitas a correção pelo Poder Judiciário. - Tribunal Marítimo – O Tribunal Marítimo, conforme preceitua o artigo 1°, da Lei nº 2.180, de 5 de fevereiro de 1954, é um Órgão Autônomo, com jurisdição em todo o território nacional, auxiliar do Poder Judiciário, vinculado ao Comando da Marinha, tem como atribuições as previstas no artigo 13 desta mesma Lei. Não exerce função jurisdicional, pois suas decisões poderão ser revistas pelo Poder Judiciário. - Tribunais de Justiça Desportiva – os tribunais de Justiça Desportiva são órgãos administrativos que analisam recursos relativos a decisões das comissões disciplinadoras, assim como julgam http://www.stm.gov.br/ http://www.tj.rj.gov.br/ Lilian Pitta originariamente causas de competições municipais, regionais ou estaduais; tem por função disciplinar as questões relativas à prática formal do desporto no país (art. 217 da CRFB); o Superior Tribunal de Justiça Desportiva é o ente máximo da justiça desportiva brasileira. JURISDIÇÃO O poder do Estado é UNO em sua essência, mas fracionado no seu exercício. Nos termos do art. 2º da Constituição da República, são poderes
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