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Prévia do material em texto

Lilian Pitta 
PROCESSO E PROCEDIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Lilian Pitta 
Atenção!!! 
 
✓ O presente material não esgota a totalidade do conteúdo programático, servindo apenas como 
orientação para que o estudante possa seguir um caminho especificado em seu estudo. 
 
✓ A bibliografia indicada pela Universidade e pela professora da disciplina traz de forma clara 
todos os pontos do programa, sendo necessário o seu completo estudo para realização com 
êxito das avaliações e a consequente aprovação. 
 
✓ O presente material deverá ainda ser complementado pelo estudante com: 
 
o as aulas ministradas, 
o os exemplos práticos citados em sala de aula, 
o os exercícios elaborados e corrigidos pela professora, 
o os preceitos legais correspondentes a cada assunto e 
o por todo material divulgado e/ou constante da pasta da disciplina. 
 
E lembre-se: o que definirá o seu sucesso acadêmico é o grau de comprometimento com a sua 
formação. Desta forma, seja na preparação para a atividade avaliativa, seja para concorrer a um 
concurso público ou exame da OAB, habitue-se a tirar suas dúvidas, busque realizar com excelência 
suas atividades às quais se propuser e vá além do conhecimento oferecido pelos materiais que 
tiver em mãos, aprofundando sempre mais os seus estudos em prol do seu objetivo. Afinal, seu 
conhecimento é a sua maior riqueza e isso ninguém conseguirá tirar de você. 
 
Bons estudos!!! 
 
 
 
 Lilian Pitta 
 
UNIDADE 1 – NORMAS FUNDAMENTAIS, JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA. 
 
 
CONTEÚDOS: 
1.1 - Norma jurídica processual. Fontes do direito processual: fundamentos constitucionais do 
processo. Princípios fundamentais do processo: noção de princípio. Princípios ideais informativos 
do processo. Princípios gerais do processo. A lei processual no tempo e no espaço. 
1.2 - Funções básicas do Estado. Características da jurisdição. Caracterização do ato jurisdicional. 
Elementos da jurisdição e poderes jurisdicionais. Princípios fundamentais da jurisdição. Extensão da 
jurisdição. Unidade da jurisdição. Jurisdição: classificações. Estrutura do Poder Judiciário. 
Composição. 
1.3 - Competência Civil, Penal e Trabalhista - Noções: conceito. Relações com a jurisdição. 
Delimitação espacial da jurisdição: competência internacional e interna. Distribuição interna da 
jurisdição. Cooperação Internacional. 
1.4 - Rol principiológico expresso e não expresso na Constituição e na lei ordinária 13.105 de 2015. 
Exposição das técnicas processuais na tutela dos direitos. 
 
 
NOTAS INTRODUTÓRIAS 
 
 Para Aristóteles, o homem é um animal político, que nasce com a tendência de viver em 
sociedade, e a vida em sociedade só é possível por existir um conjunto de normas gerais e positivas, 
disciplinadoras da vida social que é o Direito1. Neste diapasão, o Direito exerce uma função 
ordenadora na sociedade, coordenando os interesses dos membros da sociedade, organizando a 
cooperação entre as pessoas e compondo conflitos entre os membros da sociedade2. 
 
 O Estado, que tem como função fundamental promover a plena realização dos valores 
humanos, exerce três funções distintas, a saber: função administrativa, função legislativa e função 
jurisdicional, e é através da função jurisdicional que o Estado tem a missão de pacificação da 
sociedade, eliminando conflitos entre os membros da sociedade, e, para cumprir essa missão, utiliza 
o processo, como método de composição dos litígios, criando o Estado normas jurídicas que formam 
o direito processual. 
 
 O Direito Processual, ao longo de seu processo evolutivo, tornou-se uma ciência autônoma, 
mas que se relaciona com os demais ramos das ciências jurídicas e, considerando a clássica 
dicotomia que divide o direito em público e privado, tem-se que o Direito Processual, por envolver 
a atividade jurisdicional do Estado, é ramo do direito público, que estuda o modo como se 
desenvolve o processo jurisdicional, tendo ligação estreita com o direito constitucional e todos os 
demais campos do direito. 
 
 
1 Ubi homo ibi societas; ubi societas, ibi jus (onde há homem, há sociedade; onde há sociedade, há direito). 
2 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 
28 ed. – São Paulo: Malheiros Editores, 2012. 
 Lilian Pitta 
 Certo é, que o Direito Processual é uno, constituindo-se em um sistema de princípios e 
normas para o exercício da jurisdição, porém, quando se fala em processo, pode-se pensar em 
processos administrativos, legislativos, privados (destituição de síndico de condomínio), processo 
arbitral (Lei nº 9.307/96), entre outros, mas é o Processo Jurisdicional, que se desenvolve através 
do exercício da atividade jurisdicional do Estado, cujas regras são estabelecidas pelo Direito 
Processual. 
 
 E o Direito Processual admite divisões, que são as seguintes: (i) Direito Processual Penal, que 
tem por objeto pretensões de natureza penal, reguladas pelo direito penal; (ii) Direito Processual 
do Trabalho, que tem por objeto pretensões de natureza trabalhista, reguladas pelo direito do 
trabalho; (iii) Direito Processual Coletivo, que tem por objeto pretensões de natureza 
transindividuais, que podem até ter natureza penal, trabalhista ou cível, pois o que caracteriza o 
direito processual coletivo é o fato da pretensão ter por objeto a proteção de direitos 
transindividuais (coletivos lato sensu); e, (iv) Direito Processual Civil, que é o residual, o tudo mais, 
dedicado ao estudo do processo civil, em que se exerce a atividade jurisdicional numa causa que 
não é penal, não é trabalhista, não é coletiva e, apesar das diversas espécies que podem ser 
encontradas, há pontos que são comuns entre todos eles, como os conceitos de jurisdição, ação e 
processo3, assim como tantos outros, como citação, intimação, sentença, recurso, coisa julgada, 
motivo pelo qual existe a Teoria Geral do Processo, definida, segundo DINAMARCO (2016:16), como 
um sistema de conceitos e princípios elevados ao grau máximo de generalização útil e condensados 
indutivamente a partir do confronto de diversos ramos do direito processual. 
 
 Ainda para uma melhor compreensão da disciplina, importante estudar conceitos basilares, 
fundamentais, que são úteis para a elaboração dos demais conceitos do Direito Processual4 e que 
são os seguintes: necessidade, bem ou bem da vida, utilidade, interesse, conflito, pretensão, 
resistência e lide ou litígio. 
 
✓ Necessidade: é a relação de dependência do homem para com algum elemento; a 
combinação de um ente vivo (homem) com um ente complementar (bem) constitui uma 
necessidade; a necessidade se satisfaz com a combinação5. 
 
✓ Bem: é tudo aquilo que satisfaz uma necessidade humana; bem da vida é tudo aquilo que 
pode ser necessário, útil ou servir de aprimoramento para o homem (bem materiais ou 
imateriais = conceito amplo de bem). 
 
✓ Utilidade: aptidão de um bem para atender a uma necessidade. Os homens têm suas 
necessidades; os bens têm suas utilidades. De acordo com Alvim (2018, p. 3), “a necessidade 
e a utilidade despertam o interesse do homem pelo gozo dos bens da vida”. Todo bem tem 
sua utilidade, mas nem sempre haverá interesse no bem, pois não haverá necessidade de 
ter o bem. 
 
 
3 Trilogia estrutural do direito processual. 
4 A Propedêutica Processual é o estudo de conceitos básicos. 
5 Alvim, J. E. Carreira. Teoria geral do processo. 21. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense, 2018. 
 Lilian Pitta 
OBS.: o pão (bem) tem utilidade; a utilidade deve se aliar a uma necessidade, ou não haverá 
interesse. Assim, para quem não tem fome, o pão (bem) não despertará qualquer interesse. 
 
✓ Interesse: é o elo que une o homem ao bem; é a “posição favorável à satisfação de uma 
necessidade”. Ex. Manoel (sujeito do interesse) tem interesse em obter o bem X (bem da 
vida – objeto do interesse). Qual o problema? Os interesses são ilimitados, mas os bens são 
limitados e não podem atender a todos, logo, Joaquim podeestar querendo o mesmo bem 
X que Manoel. Daí pode surgir o conflito, ou melhor, conflito de interesses. 
 
OBS.1: interesse imediato (situação/posição que se presta diretamente à satisfação de uma 
necessidade) e interesse mediato (situação/posição que se presta indiretamente à satisfação de 
uma necessidade). 
 
Exercício de Fixação 
 
A partir de tal compreensão, verifique os exemplos abaixo e identifique se se trata de interesse 
mediato ou imediato: 
 
1 - “posição ou situação de quem possui o alimento, o qual se presta diretamente à satisfação 
da necessidade de alimentar-se” (Alvim, 2018, p. 4). 
Resposta: 
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________ 
 
2 - “posição ou situação de quem possui o dinheiro para adquirir o alimento” (Alvim, 2018, p. 4). 
Resposta: 
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________ 
 
 
OBS.2: interesse individual (situação/posição favorável à satisfação de uma necessidade em 
relação a um indivíduo) e interesse coletivo (situação/posição favorável à satisfação de uma 
necessidade em relação a vários indivíduos, considerados em conjunto). 
 
 O Código de Proteção e Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), em seu art. 81, dispõe que “a 
defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo 
individualmente, ou a título coletivo”. Já o Parágrafo único do referido artigo conceitua o que 
vem a ser interesses ou direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. 
 
➢ Interesses ou direitos difusos (art. 81, parágrafo único, I): os interessados são 
indetermináveis e ligados entre si por circunstâncias de fato, ou seja, não decorre de 
circunstância jurídica, não tendo como saber quem são todos os interessados. 
➢ Interesses ou direitos coletivos (stricto sensu) (art. 81, parágrafo único, II): os 
interessados são determinados ou determináveis enquanto categoria, classe ou grupo, 
e ligados entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base. 
 Lilian Pitta 
➢ Interesses ou direitos individuais homogêneos ((art. 81, parágrafo único, III): são 
individuais, mas por decorrerem de origem comum, poderão ser tutelados 
coletivamente. 
 
Exercício de Fixação 
 
A partir das situações hipotéticas abaixo apresentadas, identifique se se trata de interesses ou 
direitos difusos, coletivos, individuais homogêneos ou simplesmente individuais: 
 
1 – Familiares das vítimas de um acidente aéreo. 
Resposta: 
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________ 
 
2 – Pessoas expostas à propaganda enganosa e abusiva veiculada pela televisão. 
Resposta: 
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________ 
 
3 – Pessoa sendo cobrada em duplicidade por conta que já fora paga. 
Resposta: 
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________ 
 
4 – Aumento ilegal das prestações de um consórcio de veículo. 
Resposta: 
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________ 
 
✓ Conflito: subjetivo (conflito entre dois interesses de um mesmo homem – o conflito se 
resolve com o sacrifício de um deles) e intersubjetivo (conflito entre duas pessoas). 
 
OBS.: o conflito de interesses é a situação na qual duas ou mais pessoas manifestam interesse em 
ficar com um mesmo bem e este bem somente pode ficar com um deles, como no caso de Manoel 
e Joaquim. Havendo conflito de interesses, um dos interessados pode manifestar uma pretensão 
em face do outro. 
 
✓ Pretensão: é a “exigência de subordinação do interesse de outrem ao interesse próprio” 
(Alvim, 2018, p. 6); é exigir que seu interesse sobre o bem prevaleça sobre o outro que tem 
interesse sobre o mesmo bem; é a exigência de submissão do interesse alheio ao próprio. 
 
OBS.1: pretensão # direito. A pretensão não se confunde com o direito, pois é ato, uma 
manifestação, que pode ser fundada ou infundada, ou seja, pode ser deduzida tanto por quem tem 
direito quanto quem não tem direito. 
 
 Lilian Pitta 
OBS.2: manifestada a exigência de submissão, no caso, de Manoel a Joaquim, Joaquim pode 
responder de duas maneiras: “sim, pode ficar com o bem X” (pretensão satisfeita de Manoel, logo, 
Manoel fica com o bem); Joaquim diz não, pois quer o bem também, advindo a resistência, logo, no 
caso, Joaquim ofereceu resistência à pretensão manifestada por Manoel, a pretensão resistida, 
surgindo a lide ou litígio. 
 
OBS.3: subordinação a pretensão = resolução pacífica; resistência a pretensão = lide ou litígio. 
 
✓ Resistência: “oposição a uma pretensão”. 
 
✓ Lide: “conflito de interesses, qualificado por uma pretensão resistida ou insatisfeita” (Alvim, 
2018, p. 7). 
 
NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO 
 
 Há tempos atrás, a Constituição tinha por função precípua regular a estrutura do Estado e o 
seu funcionamento, apenas, mas no decorrer dos tempos (pós segunda guerra mundial), passou a 
cumprir outro papel, qual seja, de ser o elemento central da construção do Direito, ou seja, todo 
direito passa a ser pensado a partir da Constituição (interpretação conforme a Constituição, força 
normativa da Constituição6). 
 
 No Brasil, o fenômeno da constitucionalização do Direito foi tardio7, porque se desenvolveu 
somente a partir da edição e vida da CRFB de 1988 (país de constitucionalismo tardio), quando 
passou a construir a ideia de que o Direito deve ser pensado a partir da CRFB. Significa dizer que 
não existe processo fora da Constituição, ou seja, processo que não esteja em perfeita harmonia 
com a Constituição. 
 
 Desta forma, tem-se como papel da Constituição estabelecer, a partir de alguns princípios, 
as fases fundamentais para o modo de como se deve desenvolver o processo. 
 
 Assim é que, a partir de sete princípios que compõem o Modelo Constitucional do Processo, 
passa-se a pensar o processo a partir da Constituição. 
 
 O primeiro princípio que compõe o modelo é o Princípio do Devido Processo Legal 
(constitucional), previsto no art. 5º, LIV da CRFB, no qual é possível observar que “ninguém será 
privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. 
 
 Significa que uma pessoa pode vir a ser privada de seus bens jurídicos, inclusive da liberdade, 
mas legitimamente se isto for o resultado de um processo, do que a Constituição qualificou como 
devido processo. O devido processo é o processo que respeita as garantias constitucionais, é um 
 
6 HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: S.A. Fabris, 
1991. 
7 Constitucionalismo tardio é o fenômeno decorrente de causas históricas, políticas e jurídicas, entre outras, da ausência 
de cultura constitucional nos Estados pós-modernos que são organizados formalmente por meio de uma constituição, 
o que conduz à ineficácia social dos textos constitucionais. 
 Lilian Pitta 
processo que se desenvolve em conformidade com a Constituição. Ex. posso ser privado do imóvel 
que moro e ter de sair (despejo, reintegração de posse), sim, mas a privação ocorre desde que seja 
fruto de um processo e que se desenvolve em conformidade com a Constituição (e não com a lei). 
O processo que não observa o modelo constitucional não é o devido processo e por isso é 
incompatível com a CRFB. 
 
 
HC 155363 
 
Órgão julgador: Segunda Turma 
Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI 
Julgamento: 08/05/2018 
Publicação: 24/07/2020 
 
Ementa 
defesa. Frustrada a possibilidade de os acusados produzirem as provas que reputam necessárias 
à demonstraçãode suas alegações. Infringência à matriz constitucional da plenitude de defesa 
(CF, art. 5º, inciso LV) e do due process of law (CF, art. 5º, inciso LIV). Decisão que, à luz do 
princípio do livre convencimento motivado, extrapolou os limites do razoável. Ordem concedida 
de ofício. 1. Habeas corpus impetrado contra decisão monocrática mediante a qual o relator do 
writ no Tribunal Superior Eleitoral a ele negou seguimento, invocando o verbete nº 691 deste 
Supremo Tribunal e apontando deficiência em sua instrução. Logo, a apreciação do tema, de 
forma originária, pelo STF configuraria inadmissível supressão de instância. 2. Como se não 
bastasse, é inadmissível o habeas corpus que se volte contra decisão monocrática não submetida 
ao crivo do colegiado por intermédio do agravo interno, por falta de exaurimento da instância 
antecedente. 3. Habeas corpus do qual não se conhece. 4. As circunstâncias expostas nos autos, 
todavia, encerram situação de constrangimento ilegal apta a justificar a concessão da ordem de 
ofício. 5. O princípio do livre convencimento motivado (CPP, art. 400, § 1º) faculta ao juiz o 
indeferimento das provas consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (v.g. RHC nº 
126.853/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 15/9/15). 6. Não obstante, 
o indeferimento das testemunhas de defesa, à luz desse princípio, se afigura inadmissível em um 
estado democrático de direito, em que a plenitude de defesa é garantia constitucional de todos 
os acusados (CF, art. 5º, inciso LV). 7. A decisão em comento extrapola os limites do razoável, 
mormente se levado em consideração que a medida extrema foi tomada em estágio inicial do 
processo (defesa prévia) e que a motivação para tanto está consubstanciada tout court na 
impressão pessoal do magistrado de que o requerimento seria protelatório, já que as 
testemunhas não teriam, em tese, vinculação com os fatos criminosos imputados aos pacientes. 
8. Houve evidente infringência à matriz constitucional do due process of law (CF, art. 5º, inciso 
LIV), visto que se frustrou a possibilidade de os acusados produzirem as provas que reputam 
necessárias à demonstração de suas alegações. 9. Habeas corpus concedido de ofício para 
assegurar 
Decisão 
A Turma, por votação unânime, não conheceu desta impetração, mas concedeu a ordem de 
habeas corpus de ofício para, por força da matriz constitucional do due process of law, assegurar 
a oitiva das testemunhas arroladas pela defesa dos pacientes, nos termos do voto do Relator. 
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur428670/false
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur428670/false
 Lilian Pitta 
Falaram: pelos pacientes Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira e Rosângela Rosinha 
Garotinho Barros Assed Matheus de Oliveira, o Dr. Carlos Fernando dos Santos Azeredo, e, pelo 
Ministério Público Federal, a Dra. Cláudia Sampaio Marques. Presidência do Ministro Edson 
Fachin. 2ª Turma, 8.5.2018. 
 
 O segundo é o Princípio da Igualdade (isonomia), que está previsto no caput do art. 5º da 
CRFB – “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”. Tal princípio tem papel 
fundamental em toda compreensão do direito e não apenas do Direito Processual. Ele, inclusive, é 
tratado de forma redundante pelo texto constitucional – redundância justificável diante das 
desigualdades visualizadas na prática. A aplicação de tal Princípio tem por objetivo impedir que a 
desigualdade seja responsável pelo resultado do processo. O processo não pode existir para dar 
razão a quem tem mais força. Se quem tem razão é parte vulnerável ela precisa ganhar, mas para 
que possa ganhar, precisa ter condições de enfrentar o processo e chance de ganhar. O 
ordenamento jurídico deve criar condições para que as pessoas em condições de vulnerabilidade 
vejam seus direitos realizados. Há situações em que o tratamento igual vai produzir desiquilíbrios, 
porque há situações de vulnerabilidade e que se receber o mesmo tratamento, não conseguirá 
alcançar os mesmos resultados. A lei estabelece o tratamento desigual, uma mediação do que seria 
necessário para suprir a desigualdade, equilibrar as forças, estabelecendo a própria lei os limites do 
tratamento desigual. Pode ocorrer algum caso não previsto em lei, mas o juiz poderá reequilibrar 
as forças no processo diante do Princípio Constitucional. 
 
 
ARE 648629 
 
Órgão julgador: Tribunal Pleno 
Relator(a): Min. LUIZ FUX 
Julgamento: 24/04/2013 
Publicação: 08/04/2014 
 
Ementa 
98, I, DA CRFB). ART. 9º DA LEI Nº 10.259/01. AGRAVO CONHECIDO E RECURSO EXTRAORDINÁRIO 
DESPROVIDO. 1. A isonomia é um elemento ínsito ao princípio constitucional do contraditório 
(art. 5º, LV, da CRFB), do qual se extrai a necessidade de assegurar que as partes gozem das 
mesmas oportunidades e faculdades processuais, atuando sempre com paridade de armas, a fim 
de garantir que o resultado final jurisdicional espelhe a justiça do processo em que prolatado. 
Doutrina (FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal constitucional. 4. ed. – São Paulo: RT, 
2005. p. 66; DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do Processo Civil Moderno. São Paulo: 
RT, 1986. p. 92; CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. O princípio da igualdade processual. Revista 
da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo, São Paulo, v. 19; MOREIRA, José Carlos Barbosa. 
A garantia do contraditório na atividade de instrução. RePro 35/231). 2. As exceções ao princípio 
da paridade de armas apenas têm lugar quando houver fundamento razoável baseado na 
necessidade de remediar um desequilíbrio entre as partes, e devem ser interpretadas de modo 
restritivo, conforme a parêmia exceptiones sunt strictissimae interpretationis. 3. O rito dos 
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur260332/false
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur260332/false
 Lilian Pitta 
Juizados Especiais é talhado para ampliar o acesso à justiça (art. 5º, XXXV, da CRFB) mediante 
redução das formalidades e aceleração da marcha processual, não sendo outra a exegese do art. 
98, I, da Carta Magna, que determina sejam adotados nos aludidos Juizados “os procedimentos 
oral e sumariíssimo”, devendo, portanto, ser apreciadas cum grano salis as interpretações que 
pugnem pela aplicação “subsidiária” de normas alheias ao microssistema dos Juizados Especiais 
que importem delongas ou incremento de solenidades. 4. O espírito da Lei nº 10.259/01, que rege 
o procedimento dos Juizados Especiais Federais, é inequivocamente o de afastar a incidência de 
normas que alberguem prerrogativas processuais para a Fazenda Pública, máxime em razão do 
que dispõe o seu art. 9º, verbis: “Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer 
ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos”. 5. 
Não se aplica aos Juizados Especiais Federais a prerrogativa de intimação pessoal dos ocupantes 
de cargo de Procurador Federal, prevista no art. 17 da Lei n.º 10.910/2004, na medida em que 
neste rito especial, ante a simplicidade. 
Tese 
A prerrogativa processual da Fazenda Pública Federal de receber intimações pessoais, nos termos 
do art. 17 da Lei 10.910/2004, não tem aplicação no âmbito do procedimento dos Juizados 
Especiais Federais. Obs: Redação da tese aprovada nos termos do item 2 da Ata da 12ª Sessão 
Administrativa do STF, realizada em 09/12/2015. 
 
Doutrina 
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. O princípio da igualdade processual. Revista da Procuradoria-
Geral do Estado de São Paulo. São Paulo. v. 19. DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos do 
Processo Civil Moderno. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986. p. 92. FERNANDES, Antônio 
Scarance. Processo penal. 
 
 O terceiro é o Princípio do Juiz Natural (ou Juízo Constitucional) e que não está diretamente 
ligado apessoa do Juiz, mas ao órgão jurisdicional. É uma garantia que advém da Constituição e que 
está expressamente prevista na CRFB em dois dispositivos que, conjugados, vão compor a base 
normativa do “Juiz Natural”. 
 
 O primeiro dispositivo é o inc. XXXVII do art. 5º, que diz que “não haverá juízo ou tribunal de 
exceção”; o segundo dispositivo é o inciso LIII, que dispõe que “ninguém será processado nem 
sentenciado senão pela autoridade competente”. Os dois dispositivos juntos compõem a base 
normativa do Princípio do Juiz Natural. Para melhor compreensão, propõe-se inverter a ordem dos 
incisos, iniciando pelo inciso LIII, o qual significa a garantia de que o processo precisa se instaurar 
perante órgão jurisdicional dotado de competência8. Essa competência está estabelecida na própria 
Constituição (competência constitucional). A CRFB quando estrutura o Poder Judiciário a partir do 
art. 92, não se limita a prever sua existência, estabelecendo entre as diversas estruturas judiciais 
uma divisão de trabalho entre as justiças. O “Juiz Natural” é juízo cuja competência constitucional 
tenha sido observada. Esse juízo constitucionalmente competente não pode ser juízo ou tribunal 
de exceção9. Quer dizer que modificações de competência infraconstitucional que ocorrerem depois 
do fato, não viola o princípio, pois a ideia fundamental é de que se o fato ocorreu hoje, vai verificar 
 
8 A competência é uma norma de legitimação, de habilitação, existe para permitir que um órgão atue. 
9 A competência constitucional foi estabelecida depois do fato que foi apreciado, sendo, portanto, estabelecida depois 
do fato. 
 Lilian Pitta 
na CRFB qual será a Justiça competente para processar e julgar. Uma Emenda Constitucional que 
altere competências constitucionais é possível, mas somente poderá alterar a competência 
constitucional de fatos ocorridos depois dela; para os anteriores valerá a regra do momento que 
aconteceu10. 
 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. JULGAMENTO MONOCRÁTICO DO RELATOR. 
OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E DA COLEGIALIDADE NÃO CONFIGURADO. MAJORANTE 
PREVISTA NO ART. 12, I, DA LEI 8.137/90. GRAVE DANO À COLETIVIDADE. POSSIBILIDADE. RÉU SE 
DEFENDE DOS FATOS E NÃO DA CAPITULAÇÃO JURÍDICA. RECURSO IMPROVIDO. 
1. A jurisprudência consolidada desta Corte estabeleceu-se no sentido de que não viola o princípio 
do juiz natural ou da colegialidade a decisão monocrática do relator calcada em jurisprudência 
dominante do Superior Tribunal de Justiça, tendo em vista a possibilidade de submissão do 
julgado ao exame do órgão colegiado, mediante a interposição de agravo regimental. 
Precedentes. 
2. Não pode ser conhecida a pretensão ventilada no apelo nobre referente à redução da pena-
base ao mínimo legal por não ter sido a matéria, que foi decidida por maioria na Turma local, 
objeto de embargos infringentes. 
3. Para a incidência do art. 12, inciso I, da Lei n. 8.137/90 em tributos federais, já solidificou esta 
Corte interpretação de que é aplicável o parâmetro de um milhão de reais, referente ao 
tratamento fiscal a créditos prioritários. 
4. Considerando o valor sonegado referente aos tributos de IRPJ em R$ 1.881.170,81 e de CSLL 
em R$180.594,82, que somados à época da lavratura dos mencionados autos implicaram no 
montante de R$2.061.765,63, há fundamentação idônea no estabelecimento da causa de 
aumento do grave dano à coletividade, de modo que a reversão das premissas fáticas do julgado 
demandaria o revolvimento do conjunto fático-probatório, inadmissível a teor da Súmula 7/STJ. 
5. O acusado se defende dos fatos narrados na denúncia e não da capitulação legal nela contida, 
sendo, dessa forma, prescindível a menção expressa da causa de aumento de pena do art. 12, I, 
da Lei n. 
8.137/90 na exordial acusatória. 
6. Agravo regimental improvido. 
(AgRg no REsp 1856288/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 15/09/2020, 
DJe 23/09/2020) 
 
 O quarto é o Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição, que está previsto no inciso XXXV 
do art. 5º da CRFB – “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. 
Tal Princípio significa uma garantia de acesso amplo e universal ao judiciário/à jurisdição; qualquer 
demanda veiculando qualquer pretensão pode ser levada ao Judiciário; ao direito de obter resposta 
à sua pretensão (favorável ou não). Mas há limites para tal incidência: limites espaciais (limites 
internacionais ao exercício da jurisdição brasileira (arts. 21 a 23 do CPC); limite no que diz respeito 
ao controle de atos de outros poderes (ato político do executivo; ato do legislativo) – separação 
harmônica dos poderes da república (art. 2º, CRFB), mas são limites constitucionalmente legítimos. 
A garantia não impede a utilização de outros métodos de resolução de conflitos, pois “o Estado pode 
 
10 O STF não pensa assim = restringe a garantia do juiz natural. Causa tratamento desigual para pessoas que estão em 
situações jurídicas idênticas – ex. EC 45/2004 que alterou a competência da Justiça do Trabalho. 
 
 Lilian Pitta 
ter o monopólio da Jurisdição, mas não da Justiça”11. A garantia da inafastabilidade perpassa não só 
pela entrada do judiciário, mas também pela obtenção de resultados adequados e efetivos. 
 
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO AO TRÂNSITO SEGURO. ARTS. 
1°, 99 E 231, V, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO - CTB (LEI 9. 
503/1997). TRÁFEGO DE VEÍCULOS DE CARGA COM EXCESSO DE PESO. 
PROTEÇÃO DA SAÚDE E SEGURANÇA DAS PESSOAS E CONSUMIDORES, ASSIM COMO DO 
PATRIMÔNIO PÚBLICO E PRIVADO. OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - ODS. 
PEDIDO DE PROVIDÊNCIA JUDICIAL PREVENTIVA. 
INDEPENDÊNCIA ENTRE INSTÂNCIAS ADMINISTRATIVA E JUDICIAL. PRINCÍPIO DA 
INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. ASTREINTE. DANOS MATERIAIS E MORAIS COLETIVOS. 
OCORRÊNCIA. ARTS. 1°, IV, E 3° DA LEI 7.347/85. 
RESPONSABILIDADE CIVIL. FATOS NOTÓRIOS. ART. 374, I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. VALOR 
DA INDENIZAÇÃO A SER FIXADO PELA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. 
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Cuida-se, na origem, de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério 
Público Federal objetivando: a) impedir (obrigação de não fazer), sob pena de multa civil (= 
astreinte), que veículos da transportadora recorrida, em total rebeldia contra o Código de 
Trânsito Brasileiro, trafeguem com excesso de peso nas rodovias, e b) condenar a empresa ao 
pagamento de dano material e moral coletivo, nos termos da Lei 7.347/1985. 
2. Segundo os autos, a Polícia Rodoviária Federal registrou 85 (oitenta e cinco) infrações de 
trânsito por excesso de peso cometidas por veículos da empresa entre os anos de 2003 e 2013, 
ou seja, praticamente uma autuação a cada dois meses. O MPF notificou a ré visando celebrar 
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), proposta por ela recusada sob a alegação de que, caso 
transportasse volume menor de carga, ficaria em desvantagem econômica perante seus 
concorrentes. Daí ser possível concluir que a lucratividade com o peso excessivo compensa e 
supera eventual pagamento de multa administrativa, o que só comprova a absoluta incapacidade 
da sanção para reprimir e desencorajar a conduta legalmente vedada. 
3. Insurge-se o MPF contra sentença e acórdão que, primeiro, negaram condenar a empresa a 
não trafegar com excesso de peso pelas estradas, fazendo-o sob o argumento de que já existe, no 
Código Brasileiro de Trânsito, penalidade administrativa para tal conduta, e, segundo, afastaram 
a responsabilidade civil por danos materiais e morais coletivos. 
DIREITO AO TRÂNSITO SEGURO E POSIÇÃO DO BRASIL COMO UM DOS RECORDISTAS DE 
ACIDENTES 4. Nos termos da legislação federal, "o trânsito, em condições seguras, é um direito 
de todos" e "somente poderá transitar pelas vias terrestres o veículo cujo peso e dimensões 
atenderem aos limites estabelecidos pelo CONTRAN" (respectivamente arts. 1°, § 2°, e 99 do 
Código de Trânsito Brasileiro, grifo acrescentado). Além disso, o mesmo CTB dispõe ser infração 
administrativa "transitar com o veículo comexcesso de peso", prevendo, como penalidade, 
aplicação de multa e, como medida administrativa, "retenção do veículo e transbordo da carga 
excedente" (art. 231, V). 
5. Não obstante a literal prescrição normativa - fruto da ação do legislador e não de invencionice 
judicial fora de propósito - de um "direito de todos" (art. 1°, § 2°) e de um "dever de todos" (art. 
99), o Brasil continua a apresentar altíssimo índice de mortes nas rodovias. Dados da Organização 
Mundial de Saúde colocam-nos como quarto País, nas Américas, em que mais se mata em 
 
11 Alexandre Freitas Câmara – Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. 
 Lilian Pitta 
acidentes de trânsito; e como campeão de mortes, em proporção ao número de habitantes, na 
América do Sul. Em 2015, foram registrados 37.306 óbitos e 204 mil feridos, consoante 
estatísticas do Ministério da Saúde. Estima-se que aproximadamente 43% dos acidentes nas 
estradas federais terminem com mortos ou feridos, totalizando um óbito para cada dez 
quilômetros de rodovia, e 234 para cada milhão de habitantes. 
6. Ao lado das implicações patrimoniais stricto sensu (danosidade a bens públicos e privados), o 
direito ao trânsito seguro manifesta primordial e urgente questão de vida, saúde e bem-estar 
coletivos, três dos pilares estruturais do Direito Brasileiro. Donde ser inadmissível ao Poder 
Judiciário, defrontado com infrações cotidianas, repetitivas e por vezes confessadas de direito de 
todos, permanecer indiferente ou se omitir quando provocado a agir. Sobre o tema específico dos 
autos, legislação adequada temos de sobra, sem falar de políticas governamentais e princípios 
jurídicos apoiados na razão, na experiência e em expectativas comuns dos povos, formulados com 
amparo em consenso universal científico, ético e político, mormente por instituições 
internacionais permanentes, ao ponto de a Assembleia Geral das Nações Unidas haver 
consolidado a segurança no trânsito como um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - 
ODS ("até 2020, reduzir pela metade as mortes e os ferimentos globais por acidentes em 
estradas", Objetivo 3.6). 
REMÉDIOS JURÍDICOS PREVENTIVOS, REPARATÓRIOS E SANCIONATÓRIOS: CLARA DISTINÇÃO 
ENTRE ESFERAS ADMINISTRATIVA E JUDICIAL 7. A existência de penalidade ou outra medida 
administrativa in abstracto (para o futuro) ou in concreto (já infligida), como resposta a 
determinada conduta ilegal, não exclui a possibilidade e a necessidade de providência judicial, 
nela contida a de índole cautelar ou inibitória, com o intuito de proteger os mesmos direitos e 
deveres garantidos, em tese, pelo poder de polícia da Administração, seja com cumprimento 
forçado de obrigação de fazer ou de não fazer, seja com determinação de restaurar e indenizar 
eventuais danos materiais e morais causados ao indivíduo, à coletividade, às gerações futuras e a 
bens estatais. No Brasil, a regra geral é que o comportamento anterior - real ou hipotético - do 
administrador não condiciona, nem escraviza, o desempenho da jurisdição. Isso porque a 
intervenção do juiz legitima-se tanto para impugnar, censurar e invalidar decisão administrativa 
proferida, como para impor ex novo aquela que deveria ter ocorrido, no caso de omissão, e, 
noutra perspectiva, para substituir a incompleta ou a deficiente, de maneira a inteirá-la ou 
aperfeiçoá-la. 
8. Independentes entre si, multa civil (= astreinte), frequentemente utilizada como reforço de 
autoridade da e na prestação jurisdicional, não se confunde com multa administrativa. Tampouco 
caracteriza sanção judicial "adicional" ou "sobreposta" à aplicável pelo Estado-Administrador com 
base no seu poder de polícia. Além disso, a multa administrativa, como pena, destina-se a castigar 
fatos ilícitos pretéritos, enquanto a multa civil imposta pelo magistrado projeta-se, em um de seus 
matizes, para o futuro, de modo a assegurar a coercitividade e o cumprimento de obrigações de 
fazer e de não fazer (mas também de dar), legal ou judicialmente estabelecidas. 
9. A sanção administrativa não esgota, nem poderia esgotar, o rol de respostas persuasivas, 
dissuasórias e punitivas do ordenamento no seu esforço - típico desafio de sobrevivência - de 
prevenir, reparar e reprimir infrações. Assim, a admissibilidade de cumulação de multa 
administrativa e de multa civil integra o próprio tecido jurídico do Estado Social de Direito 
brasileiro, inseparável de um dos seus atributos básicos, o imperativo categórico e absoluto de 
eficácia de direitos e deveres. 
 Lilian Pitta 
10. Como explicitado pelos eminentes integrantes da Segunda Turma do STJ, por ocasião dos 
debates orais em sessão, a presente demanda cuida de problema "paradigmático", diante "da 
desproporcionalidade entre a sanção imposta e o benefício usufruído", pois "a empresa tolera a 
multa" administrativa, na medida em que "a infração vale a pena", estado de coisa que 
desrespeita o princípio que veda a "proteção deficiente", também no âmbito da "consequência 
do dano moral" (Ministro Og Fernandes). Observa-se nessa espécie de comportamento "à 
margem do CTB", e reiterado, "um investimento empresarial na antijuridicidade do ato, que, 
nesse caso, só pode ser reprimido por ação civil pública" (Ministro Mauro Campbell). A matéria 
posta perante o STJ, portanto, é da maior "importância" (Ministra Assusete Magalhães), tanto 
mais quando o quadro fático passa a nefasta ideia de que "compensa descumprir a lei e pagar um 
pouquinho mais", percepção a ser rejeitada "para que se saiba que o Brasil está mudando, 
inclusive nessa área" (Ministro Francisco Falcão). 
11. Embora não seja esse o ponto central do presente litígio, nem ao leigo passará despercebido 
que se esvai de qualquer sentido ou valor prático, mas também moral, jurídico e político, a pena 
incapaz de desestimular a infração e dela retirar toda a possibilidade de lucratividade ou 
benefício. De igual jeito ocorre com a sanção que, de tão irrisória, passa a fazer parte do custo 
normal do negócio, transformando a ilegalidade em prática rotineira e hábito empresarial em vez 
de desvio extravagante a disparar opróbio individual e reprovação social. Nessa linha de 
raciocínio, o nanismo e a leniência da pena, incluindo-se a judicial, que inviabilizem ou dilapidem 
a sua natureza e ratio de garantia da ordem jurídica, debocham do Estado de Direito, pervertem 
e desacreditam seu alicerce central, o festejado império da lei. A ganância das transportadoras, 
in casu, espelha e semeia uma cultura de licenciosidade infracional, dela se alimentando em 
círculo vicioso, algo que, por certo, precisa ensejar imediata e robusta repulsa judicial. 
12. Mas, aqui, repita-se, a questão trazida no recurso é de ordem diversa: a quem devem recorrer 
os prejudicados e seus representantes, titulares do direito ao trânsito seguro? Encontrarão por 
acaso as portas do Judiciário fechadas sob o argumento de que existe para tais violações a 
correspondente sanção administrativa ou penal? A resposta correta, ao contrário, por mais 
consentânea com a ordem jurídica e a jurisprudência do STJ, só pode ser a de propiciar ao cidadão 
amplo acesso à justiça, em especial quando pleiteia "novos direitos" da classe em discussão, ainda 
pouco conhecidos e valorizados, lamentavelmente incompreendidos, como o direito ao trânsito 
seguro. 
13. Em situações de ilegalidade, saber se compete ao Judiciário - na posição peculiar de árbitro 
par excellence e instância final da ordem jurídica - implementar direitos e obrigações solene e 
inequivocamente proclamados pelo legislador não haverá de incitar nenhuma surpresa ou 
hesitação, pouco importando o caráter implacável ou brando, ou mesmo a inexistência, de sanção 
administrativa ou penal. Por acaso caberia ao juiz missão de estatura superior à de, quando 
provocado, realizar direitos e obrigações legalmente previstos? Em verdade, o ápice do esplendor 
da potestade judicante irrompe no exercício do ofício intransferível e irrenunciável de, na 
jurisdição cível, (re)afirmar direitose obrigações estatuídos pelo legislador - por óbvio, sem 
preterir os abonados criminal e administrativamente -, de modo a coibir, sem deixar frestas, 
infrações e reparar prejuízos no confronto diário das relações em sociedade. 
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS PATRIMONIAIS E MORAIS COLETIVOS 14. 
É fato notório (art. 374, I, do CPC) que o tráfego de veículos com excesso de peso provoca sérios 
danos materiais às vias públicas, ocasionando definhamento da durabilidade e da vida útil da 
camada que reveste e dá estrutura ao pavimento e ao acostamento, o que resulta em buracos, 
 Lilian Pitta 
fissuras, lombadas e depressões, imperfeições no escoamento da água, tudo a ampliar custos de 
manutenção e de recuperação, consumindo preciosos e escassos recursos públicos. 
Ademais, acelera a depreciação dos veículos que utilizam a malha viária, impactando, em 
particular, nas condições e desempenho do sistema de frenagem da frota do 
embarcador/expedidor. Mais inquietante, afeta as condições gerais de segurança das vias e 
estradas, o que aumenta o número de acidentes, inclusive fatais. Em consequência, provoca dano 
moral coletivo consistente no agravamento dos riscos à saúde e à segurança de todos, prejuízo 
esse atrelado igualmente à redução dos níveis de fluidez do tráfego e de conforto dos usuários. 
Assim, reconhecidos os danos materiais e morais coletivos (an debeatur), verifica-se a 
imprescindibilidade de devolução do feito ao juízo de origem para mensuração do quantum 
debeatur. 
15. Recurso Especial provido, para deferir o pleito de tutela inibitória (infrações futuras), 
conforme os termos e patamares requeridos pelo Ministério Público Federal na petição inicial, 
devolvendo-se o feito ao juízo a quo a fim de que proceda à fixação dos valores dos danos 
materiais e morais coletivos e difusos. 
(REsp 1574350/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/10/2017, 
DJe 06/03/2019) 
 
 O Princípio do Contraditório é o quinto princípio que compõe o modelo constitucional do 
Processo e o único que se integra ao conceito de processo (processo é procedimento que se 
desenvolve em contraditório), sendo a característica mais essencial do processo. O art. 5º, LV, 
dispõe que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são 
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. A ideia de 
contraditório foi construída ao longo do tempo (desde o século XIX - Alemanha). Originariamente 
era visto como garantia formal a partir de dois elementos – direito a informação + direito de 
manifestação/reação e em não sendo observado, não havia o pleno contraditório. No Brasil chega 
no século XX com a mesma ideia, qual seja, informação + manifestação. Entretanto, no final do 
século XX passa a mudar a compreensão sobre o binômio (informação + manifestação), pois falta 
algum elemento. Passa-se a compreender, assim, que além dos dois elementos (informação + 
manifestação), teria um terceiro, que seria o direito a consideração dos argumentos. Hoje o 
Princípio do Contraditório é visualizado através de três elementos: direito à informação + direito 
de manifestação + direito a consideração dos argumentos. O processo tem que se desenvolver de 
modo que todos devem ter plena informação de tudo o que acontece e, uma vez informados, os 
sujeitos devem ter a possibilidade de manifestação; por fim, os sujeitos devem ter o direito de ter 
os argumentos levados em conta, direito de ter seus argumentos considerados (diferença entre falar 
e ser ouvido). Isso faz com que a construção do resultado do processo não seja do juiz 
solitariamente, deve examinar os argumentos das partes, se manifestar e valorar todos os 
argumentos. O resultado é construído pelo juiz e pelas partes ao longo do processo. Garante as 
partes o direito de participar, exercendo influência no resultado do processo. O contraditório 
permite e garante essa participação ao longo do processo com influência no resultado (art. 369, 
CPC). Importante mencionar, que a decisão surpresa viola o Princípio do Contraditório (art. 9º e art. 
10 do CPC). É preciso dar às partes oportunidade de se manifestarem sobre as matérias, ainda que 
cognoscíveis de ofício. Uma decisão proferida com base em fundamento que não tenha sido 
garantido às partes a oportunidade de manifestação, é uma decisão surpresa, que o juiz terá 
construído sozinho, de forma solitária e por isso será nula por violação ao Princípio do Contraditório. 
 Lilian Pitta 
Resulta que o Direito ao Contraditório não é só o direito de participação com influência e de não 
surpresa, mas também o direito de não ser surpreendido pelo resultado do processo. 
 
PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. JULGAMENTO SECUNDUM EVENTUM PROBATIONIS. 
APLICAÇÃO DO ART. 10 DO CPC/2015. PROIBIÇÃO DE DECISÃO SURPRESA. VIOLAÇÃO. NULIDADE. 
1. Acórdão do TRF da 4ª Região extinguiu o processo sem julgamento do mérito por insuficiência 
de provas sem que o fundamento adotado tenha sido previamente debatido pelas partes ou 
objeto de contraditório preventivo. 2. O art. 10 do CPC/2015 estabelece que o juiz não pode 
decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha 
dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva 
decidir de ofício. 
3. Trata-se de proibição da chamada decisão surpresa, também conhecida como decisão de 
terceira via, contra julgado que rompe com o modelo de processo cooperativo instituído pelo 
Código de 2015 para trazer questão aventada pelo juízo e não ventilada nem pelo autor nem pelo 
réu. 
4. A partir do CPC/2015 mostra-se vedada decisão que inova o litígio e adota fundamento de fato 
ou de direito sem anterior oportunização de contraditório prévio, mesmo nas matérias de ordem 
pública que dispensam provocação das partes. Somente argumentos e fundamentos submetidos 
à manifestação precedente das partes podem ser aplicados pelo julgador, devendo este intimar 
os interessados para que se pronunciem previamente sobre questão não debatida que pode 
eventualmente ser objeto de deliberação judicial. 
5. O novo sistema processual impôs aos julgadores e partes um procedimento permanentemente 
interacional, dialético e dialógico, em que a colaboração dos sujeitos processuais na formação da 
decisão jurisdicional é a pedra de toque do novo CPC. 6. A proibição de decisão surpresa, com 
obediência ao princípio do contraditório, assegura às partes o direito de serem ouvidas de 
maneira antecipada sobre todas as questões relevantes do processo, ainda que passíveis de 
conhecimento de ofício pelo magistrado. O contraditório se manifesta pela bilateralidade do 
binômio ciência/influência. Um sem o outro esvazia o princípio. A inovação do art. 10 do 
CPC/2015 está em tornar objetivamente obrigatória a intimação das partes para que se 
manifestem previamente à decisão judicial. E a consequência da inobservância do dispositivo é a 
nulidade da decisão surpresa, ou decisão de terceira via, na medida em que fere a característica 
fundamental do novo modelo de processualística pautado na colaboração entre as partes e no 
diálogo com o julgador. 7. O processo judicial contemporâneo não se faz com protagonismos e 
protagonistas, mas com equilíbrio na atuação das partes e do juiz de forma a que o feito seja 
conduzido cooperativamente pelos sujeitos processuais principais. A cooperação processual, cujo 
dever de consulta é uma das suas manifestações, é traço característico do CPC/2015. Encontra-
se refletida no art. 10, bem como em diversos outros dispositivos espraiados pelo Código. 8. Em 
atenção à moderna concepção de cooperação processual, as partes têm o direito à legítima 
confiança de que o resultado do processo será alcançado mediante fundamento previamente 
conhecido e debatido por elas. 
Haverá afronta à colaboração e ao necessário diálogo no processo, com violação ao dever judicial 
de consulta e contraditório, se omitida às partes a possibilidade dese pronunciarem 
anteriormente "sobre tudo que pode servir de ponto de apoio para a decisão da causa, inclusive 
quanto àquelas questões que o juiz pode apreciar de ofício" (MARIONI, Luiz Guilherme; 
 Lilian Pitta 
ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de processo civil comentado. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 209). 
9. Não se ignora que a aplicação desse novo paradigma decisório enfrenta resistências e causa 
desconforto nos operadores acostumados à sistemática anterior. Nenhuma dúvida, todavia, 
quanto à responsabilidade dos tribunais em assegurar-lhe efetividade não só como mecanismo 
de aperfeiçoamento da jurisdição, como de democratização do processo e de legitimação 
decisória. 10. Cabe ao magistrado ser sensível às circunstâncias do caso concreto e, prevendo a 
possibilidade de utilização de fundamento não debatido, permitir a manifestação das partes antes 
da decisão judicial, sob pena de violação ao art. 10 do CPC/2015 e a todo o plexo estruturante do 
sistema processual cooperativo. Tal necessidade de abrir oitiva das partes previamente à prolação 
da decisão judicial, mesmo quando passível de atuação de ofício, não é nova no direito processual 
brasileiro. Colhem-se exemplos no art. 40, §4º, da LEF, e nos Embargos de Declaração com efeitos 
infringentes. 11. Nada há de heterodoxo ou atípico no contraditório dinâmico e preventivo 
exigido pelo CPC/2015. Na eventual hipótese de adoção de fundamento ignorado e imprevisível, 
a decisão judicial não pode se dar com preterição da ciência prévia das partes. A negativa de 
efetividade ao art. 10 c/c art. 933 do CPC/2015 implica error in procedendo e nulidade do julgado, 
devendo a intimação antecedente ser procedida na instância de origem para permitir a 
participação dos titulares do direito discutido em juízo na formação do convencimento do 
julgador e, principalmente, assegurar a necessária correlação ou congruência entre o âmbito do 
diálogo desenvolvido pelos sujeitos processuais e o conteúdo da decisão prolatada. 
12. In casu, o Acórdão recorrido decidiu o recurso de apelação da autora mediante fundamento 
original não cogitado, explícita ou implicitamente, pelas partes. Resolveu o Tribunal de origem 
contrariar a sentença monocrática e julgar extinto o processo sem resolução de mérito por 
insuficiência de prova, sem que as partes tenham tido a oportunidade de exercitar sua influência 
na formação da convicção do julgador. Por tratar-se de resultado que não está previsto 
objetivamente no ordenamento jurídico nacional, e refoge ao desdobramento natural da 
controvérsia, considera-se insuscetível de pronunciamento com desatenção à regra da proibição 
da decisão surpresa, posto não terem as partes obrigação de prevê-lo ou advinha-lo. Deve o 
julgado ser anulado, com retorno dos autos à instância anterior para intimação das partes a se 
manifestarem sobre a possibilidade aventada pelo juízo no prazo de 5 (cinco) dias. 13. 
Corrobora a pertinência da solução ora dada ao caso o fato de a resistência de mérito posta no 
Recurso Especial ser relevante e guardar potencial capacidade de alterar o julgamento prolatado. 
A despeito da analogia realizada no julgado recorrido com precedente da Corte Especial do STJ 
proferido sob o rito de recurso representativo de controvérsia (REsp 1.352.721/SP, Corte Especial, 
Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJ de 28/4/2016), a extensão e o alcance da decisão 
utilizada como paradigma para além das circunstâncias ali analisadas e para "todas as hipóteses 
em que se rejeita a pretensão a benefício previdenciário em decorrência de ausência ou 
insuficiência de lastro probatório" recomenda cautela. A identidade e aplicabilidade automática 
do referido julgado a situações outras que não aquelas diretamente enfrentadas no caso 
apreciado, como ocorre com a controvérsia em liça, merece debate oportuno e circunstanciado 
como exigência da cooperação processual e da confiança legítima em um julgamento sem 
surpresas. 14. A ampliação demasiada das hipóteses de retirada da autoridade da coisa julgada 
fora dos casos expressamente previstos pelo legislador pode acarretar insegurança jurídica e risco 
de decisões contraditórias. O sistema processual pátrio prevê a chamada coisa julgada secundum 
eventum probationis apenas para situações bastante específicas e em processos de natureza 
 Lilian Pitta 
coletiva. Cuida-se de técnica adotada com parcimônia pelo legislador nos casos de ação popular 
(art. 18 da Lei 4.717/1965) e de Ação Civil Pública (art. 16 da Lei 7.347/1985 e art. 103, I, CDC). 
Mesmo nesses casos com expressa previsão normativa, não se está a tratar de extinção do 
processo sem julgamento do mérito, mas de pedido julgado "improcedente por insuficiência de 
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico 
fundamento, valendo-se de nova prova" (art. 16, ACP). 
15. A diferença é significativa, pois, no caso de a ação coletiva ter sido julgada improcedente por 
deficiência de prova, a própria lei que relativiza a eficácia da coisa julgada torna imutável e 
indiscutível a sentença no limite das provas produzidas nos autos. 
Não impede que outros legitimados intentem nova ação com idêntico fundamento, mas exige 
prova nova para admissibilidade initio litis da demanda coletiva. 
16. Não é o que se passa nas demandas individuais decidas sem resolução da lide e, por isso, não 
acobertadas pela eficácia imutável da autoridade da coisa julgada material em nenhuma 
extensão. A extinção do processo sem julgamento do mérito opera coisa julgada meramente 
formal e torna inalterável o decisum sob a ótica estritamente endoprocessual. Não obsta que o 
autor intente nova ação com as mesmas partes, o mesmo pedido e a mesma causa de pedir, 
inclusive com o mesmo conjunto probatório, e ainda assim receba decisão díspar da prolatada no 
processo anterior. A jurisdição passa a ser loteria em favor de uma das partes em detrimento da 
outra, sem mecanismos legais de controle eficiente. 
Por isso, a solução objeto do julgamento proferido pela Corte Especial do STJ no REsp 
1.352.721/SP recomenda interpretação comedida, de forma a não ampliar em demasia as causas 
sujeitas à instabilidade extraprocessual da preclusão máxima. 17. Por derradeiro, o retorno dos 
autos à origem para adequação do procedimento à legislação federal tida por violada, sem 
ingresso no mérito por esta Corte com supressão ou sobreposição de instância, é medida que se 
impõe não apenas por tecnicismo procedimental, mas também pelo efeito pedagógico da 
observância fiel do devido processo legal, de modo a conformar o direito do recorrente e o dever 
do julgador às novas e boas práticas estabelecidas no Digesto Processual de 2015. 18. Recurso 
Especial provido. 
(REsp 1676027/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 
26/09/2017, REPDJe 19/12/2017, DJe 11/10/2017) 
 
 O sexto Princípio é o da fundamentação das decisões judiciais, que tem previsão no inciso 
IX do art. 93 da CRFB (“todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e 
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em 
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais 
a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à 
informação”. Por tal princípio cria-se uma exigência constitucional de fundamentação de todas as 
decisões judiciais. A ausência acarreta a nulidade da decisão judicial. Fundamentação é discurso de 
justificação da decisão; é apresentar razões que justificam a decisão; destinado a convencer os 
outros que aquela era a decisão correta a ser tomada. O motivo distingue-se de fundamento. Para 
Lênio Streck a diferença está em que no motivo o decisor usa para se autoconvencer (interno) e 
fundamento é o que ele usa para convencer o outro (externo). A fundamentação deve ser 
construída com base no discurso do juiz ou tribunal que vaijustificar e, portanto, mostrar para os 
outros de que aquela era a melhor decisão a ser tomada, essencial para o sistema que acolhe o 
devido processo = melhor decisão possível = pela fundamentação = justificação jurídica da decisão. 
 Lilian Pitta 
Há necessidade de que seja uma fundamentação analítica da decisão judicial, sem a qual a decisão 
será considerada nula. O art. 489, § 1º do CPC aplica-se a todas as decisões. Na fundamentação, o 
julgador irá dizer a que conclusões chegou e como as alcançou com relação a cada um dos 
argumentos que as partes tenham deduzido a seu favor e que fossem em tese capazes de levar a 
um resultado favorável. É pela fundamentação que se controla a atividade do juiz e se respeita 
realmente o contraditório. 
 
 O Princípio da Duração Razoável do Processo é o sétimo princípio a compor o modelo 
constitucional do processo e está previsto no art. 5º, LXXVIII (“a todos, no âmbito judicial e 
administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a 
celeridade de sua tramitação”). Demonstra a necessidade de que a duração do processo seja 
razoável, o que não quer dizer que tenha direito a um processo rápido ou instantâneo, mas sim o 
direito a um processo sem as dilações indevidas. Certo é, que existem fenômenos que provocam 
algum tipo de demora, mas cujas dilações são devidas, necessários, para que haja o pleno respeito 
as demais garantias que compõem o modelo constitucional de processo. A duração razoável do 
processo traduz a ideia de que não se deve demorar mais do que o necessário para a produção de 
resultados constitucionalmente legítimos, justos, assim como não pode demorar menos que o 
necessário. Processo com demoras patológicas, desrespeita o modelo constitucional de processo. 
Deve ter tempo adequado ao processo, vai depender da complexidade do caso. Deve-se lutar contra 
as etapas mortas do processo (são períodos em que nada acontece entre um ato e outro como, por 
exemplo, o tempo de demora de juntada de uma petição). 
 
 
HC 165438 AgR 
 
Órgão julgador: Segunda Turma 
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI 
Julgamento: 22/02/2019 
Publicação: 28/02/2019 
 
Ementa 
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. 
AUSÊNCIA DE FLAGRANTE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. EXCESSO DE PRAZO. NÃO 
CARACTERIZAÇÃO. COMPLEXIDADE DA AÇÃO PENAL. INEXISTÊNCIA DE INÉRCIA OU DESÍDIA DO 
PODER JUDICIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – A jurisprudência 
dessa Suprema Corte é firme no sentido de que a demora na conclusão da instrução criminal, 
como circunstância apta a ensejar constrangimento ilegal, somente se dá em hipóteses 
excepcionais, nas quais a mora seja decorrência de (i) evidente desídia do órgão judicial; (ii) 
exclusiva atuação da parte acusadora; ou (iii) outra situação incompatível com o princípio da 
razoável duração do processo, previsto no art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal. Precedentes. 
II – No caso sob exame, os autos marcham de maneira regular, com destaque para as 
peculiaridades evidenciadas nos autos, tais como o número de réus e a complexidade da 
persecução penal. Além disso, o juízo processante tem tomado todas as medidas necessárias para 
o correto processamento da ação penal, sem perder de vista a celeridade que se é possível dar a 
processos com réus presos. III – A prisão cautelar deu-se em procedimento criminal destinado a 
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 Lilian Pitta 
investigar inúmeros fatos ocorridos desde 3/3/2014, que noticiam a promoção, constituição e 
integração de organização criminosa, com a finalidade de subtração de fios de cobre provenientes 
de cabos telefônicos, não havendo, por outro lado, nos autos, notícia de que instrução criminal 
tenha ficado paralisada por inércia do Poder Judiciário a configurar negativa de prestação 
jurisdicional e, por consequência, excesso de prazo injustificável. IV – Agravo regimental a que se 
nega provimento. 
Observação 
- Acórdão(s) citado(s): (PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO) HC 117746 (1ªT), HC 
137449 (2ªT). Número de páginas: 17. Análise: 24/04/2019, KBP. 
 
 Por fim, vale destacar que há normas fundamentais que não estão expressamente previstas 
na Constituição, que não derivam diretamente do texto constitucional, mas foram construídas a 
partir da ideia do devido processo, como o princípio da primazia da resolução do mérito. 
 
 Ainda sobre princípios, eles são a essência, a razão, os valores que inspiram o ordenamento 
jurídico; orientam e auxiliam o Poder Público na elaboração legislativa do direito processual. Os 
princípios influem tanto na formação do Direito, quanto na sua aplicação. Ao se ferir uma norma, 
estar-se-á ferindo um princípio, que na sua essência estava embutido. 
 
 E, por serem preceitos fundamentais, alguns dos princípios básicos são comuns a todos os 
sistemas processuais, outros são visualizados apenas em determinados sistemas processuais. 
 
 A doutrina divide os princípios processuais em princípios informativos e gerais. Os princípios 
processuais informativos são regras de cunho geral e abstrato; inspiram o Direito Processual e 
devem ser utilizados para sua interpretação. Os princípios processuais gerais informam um ou outro 
sistema processual, a depender da orientação do legislador. 
 
 São princípios processuais informativos: 
 
✓ Lógico: legislador deve usar formas processuais que proporcionem uma melhor apuração da 
verdade, selecionando os meios mais eficazes e rápidos de procurar e descobrir a verdade e 
de evitar o erro. 
✓ Jurídico: igualdade no processo e justiça na decisão. 
✓ Político: máximo de garantia social, com o mínimo de sacrifício individual da liberdade. 
✓ Econômico: processo acessível a todos, com vista ao seu custo e à sua duração. 
 
 São princípios processuais gerais12: 
 
➢ Princípio da Imparcialidade do juiz: a imparcialidade do magistrado é pressuposto de 
validade da relação processual. A CRFB estabelece garantias aos magistrados (art. 95), assim 
como prescreve-lhes vedações (parágrafo único do art. 95), sendo proibida a instituição dos 
 
12 Alguns princípios gerais têm aplicação diversa no campo do processo civil e do processo penal, como por exemplo 
quanto ao princípio da indisponibilidade, que no processo penal é regra, enquanto no processo civil é exceção (princípio 
da disponibilidade é a regra); assim como alguns princípios têm aplicação idêntica em ambos os ramos do direito 
processual, como o princípio da imparcialidade do juiz. 
 Lilian Pitta 
juízos ou tribunais de exceção (art. 5o., XXXVII). A aplicação correta do princípio depende de 
três requisitos: (i) o julgamento deve ser proferido por alguém constitucionalmente 
investido de jurisdição; (ii) o órgão julgador deve ser preexistente; e, (iii) a causa deve ser 
submetida a julgamento perante juízo competente. O Código de Processo Civil prevê as 
hipóteses de impedimento (art. 144) e suspeição (art. 145), que geram a perda da 
imparcialidade. 
 
➢ Princípio da ação (ou demanda): é da parte a iniciativa de provocar o exercício da função 
jurisdicional (arts. 2º, 128 e 262 do CPC e arts. 24, 28 e 30 do CPP). Significa dizer que a 
movimentação inicial da jurisdição fica condicionada à provocação do interessado, não 
podendo o juiz iniciar um processo de ofício, mas existem exceções. Corolário do Princípio 
da Demanda é o Princípio do impulso oficial, o qual significa que uma vez provocada a 
jurisdição com a propositura da demanda, passará a caminhar independentemente de 
provocação (art. 2º, última parte, do CPC). 
 
➢ Princípios da disponibilidade e da indisponibilidade: chama-se de poder dispositivo a 
liberdade que as pessoas têm de exercer ou seus direitos. Tal poder, para o direito 
processual civil, é quase absoluto, sofrendo limitações somente quando a natureza do 
direito material for indisponível, por prevalecer o interesse público sobreo privado. Assim, 
visualizado tal poder no direito processual civil, é a possibilidade que a pessoa tem de 
provocar ou não a função jurisdicional – princípio da disponibilidade processual. Já no 
processo penal, prevalece o inverso, ou seja, o princípio da indisponibilidade, em virtude do 
caráter público das normas penais materiais e a necessidade de assegurar a convivência 
pacífica dos indivíduos na sociedade, onde o Estado não tem apenas o direito, mas 
sobretudo o dever de punir. 
 
➢ Princípio dispositivo e princípio da livre investigação das provas – verdade formal e verdade 
real: no direito processual civil o magistrado fica limitado as alegações das partes, ou seja, 
julga de acordo com o alegado. Entretanto, numa visão moderna, ainda assim o juiz pode 
determinar produção de prova de ofício, a fim de esclarecer sobre fatos que ainda não tenha 
se convencido (art. 370, CPC). Satisfaz-se com a verdade formal. No direito processual penal 
sempre prevaleceu o sistema da livre investigação das provas, pois o magistrado satisfaz-se 
apenas com a verdade real. 
 
➢ Princípio da Publicidade: está previsto art. 5º, LX c/ art. 93, IX da Constituição da República 
e funciona como mecanismo de controle das decisões judiciais; a sociedade tem o direito de 
conhecer as decisões que são proferidas pelos órgãos, para poder fiscalizar os magistrados 
e tribunais. Exceção: parágrafo único do art. 11 c/c art. 189 do Código de Processo Civil. 
 
➢ Princípio do duplo grau de jurisdição: Traduz a possibilidade que a parte inconformada tem 
de submeter a outro órgão do Poder Judiciário a revisão da solução da sua demanda. 
 
 
 
 
 Lilian Pitta 
NORMAS JURÍDICAS PROCESSUAIS 
 
 A doutrina moderna, considerando a autonomia do direito processual, classifica as normas 
processuais em dois grandes grupos: (i) normas materiais ou substanciais e (ii) normas processuais 
ou instrumentais. 
 
 Aponta ALVIM (2018:249), que “as normas materiais ou substanciais são aquelas que 
disciplinam diretamente as relações de vida, procurando compor conflitos de interesses entre os 
membros da comunidade social, bem como regular e organizar funções socialmente úteis, ao 
mesmo tempo em que asseguram o seu cumprimento através de sanções, às vezes específicas, e, 
outras vezes, imanentes à ordem jurídica no seu conjunto”. 
 
Por exemplo, o Código Civil regula a obrigação de indenizar – art. 927, CC. 
Art. 927 do Código Civil - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica 
obrigado a repará-lo. 
 
 Quanto as normas processuais ou instrumentais, ALVIM (2018:250) leciona que “são aquelas 
que disciplinam a aplicação das normas substanciais, seja regulando a competência para fazê-las 
atuar, seja regulando os meios de torná-las efetivas e ainda as vias adequadas para provocar o seu 
cumprimento e efetivação”. 
 
Por exemplo, o Código de Processo Civil disciplina a ação indenizatória – art. 292, V, CPC 
(valor da causa da ação indenizatória). 
Art. 292 do Código de Processo Civil – 
O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: 
V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido. 
 
 Certo é, que a garantia da satisfação da primeira é uma decorrência da segunda, entretanto, 
não há hierarquia entre as normas materiais e processuais, pois ambas têm sua relevância. 
 
 Importante ressaltar, que a identificação de uma norma, se material ou processual, não deve 
ser realizada tendo-se em conta apenas a localização da norma, pois no Código Civil e no Código 
Penal é possível observar normas de natureza processual, assim como a recíproca é verdadeira, ou 
seja, é possível observar no Código de Processo Civil e no Código de Processo Penal, normas que 
tenham natureza material. Logo, é através da análise da natureza jurídica da norma que poderá 
classificar em norma material ou processual. 
 
 Importante mencionar, que existem as normas heterotópicas, que são as normas materiais 
ou processuais inseridas em lei de natureza diversa, como por exemplo o Art. 274 do Código Civil 
(“O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento 
favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar 
em relação a qualquer deles), assim como existem as normas mistas (ou híbridas), que são normas 
que, ao mesmo tempo, têm natureza processual e material, como por exemplo o Art. 366 do Código 
de Processo Penal (“Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, 
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a 
 Lilian Pitta 
produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, 
nos termos do disposto no art. 312). 
 
 De forma genérica, as normas processuais são todas aquelas que disciplinam a atividade do 
Estado-juiz e das partes litigantes, bem assim o modo como essa atividade se desenvolve no 
processo. 
 
 Didaticamente, a doutrina divide as normas processuais em três grupos, a saber: (a) normas 
processuais em sentido estrito (regulam o processo e são de competência privativa da União - art. 
22, I, CRFB); (b) normas de organização judiciária (regulam a criação e estrutura dos órgãos 
judiciários e seus auxiliares, sendo de competência da União, se for da justiça federal, ou dos 
Estados, se for da justiça estadual); e, (c) normas estritamente procedimentais (regulam o 
procedimento e são da competência concorrente da União e dos Estados - art. 24, XI, CRFB). 
 
 As normas processuais, por serem de direito público, em princípio são cogentes, ou seja, 
obrigatórias para todos os sujeitos processuais (todas as normas do Código Penal são cogentes), não 
podendo ser afastadas por vontade das partes, pois dizem respeito ao interesse público, contudo, 
em certas circunstâncias, a sua incidência dependerá da vontade das partes, quando, então, serão 
classificadas como dispositivas, pois poderão ser afastadas por vontade das partes, já que dizem 
respeito ao interesse privado (ex. art. 63 do Código de Processo Civil). 
 
A LEI PROCESSUAL NO TEMPO E NO ESPAÇO 
 
 Toda norma jurídica sofre limitações no tempo e no espaço. No caso das normas processuais 
a eficácia espacial é regulada pelo Princípio da territorialidade (lei do foro) – art. 13 do CPC e art. 
1º do CPP. A lei processual tem por objeto disciplinar a atividade jurisdicional, logo, considerando 
que trata-se de manifestação do poder soberano do Estado, não poderia ser regulado por leis 
estrangeiras, ressalvando o disposto no art. 13, parte final do CPC, que prevê a possibilidade de ser 
aplicada norma prevista em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil faça 
parte. 
 
 Quanto a regulação da lei processual no tempo, as de natureza civil, a eficácia está prevista 
na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, e quanto as leis penais, na Lei de Introdução 
ao Código de Processo Penal, tendo como regra a irretroatividade, devendo ser aplicada de imediato 
(art. 1.046 do CPC e art. 2º do CPP), não ficando afastada a ultratividade das leis processuais (a 
norma processual revogada continua produzindo eficácia, por expressa previsão legal – ex. art. 
1.046, parágrafo 1º do CPC). 
 
Pode ocorrer, diante de uma norma processual nova, um conflito temporal de leis 
processuais, todavia, não haverá conflito se os processos já tiverem terminado (findos), pois nesse 
caso não se faz necessária aplicação da lei processual nova; em processos a iniciar, aplicar-se-á a lei 
nova, já que a regra é a aplicação imediata. Contudo, em processos em curso, a doutrina menciona 
três sistemas, a saber: 
 
 Lilian Pitta 
(i) Sistema da unidade processual (o processo é uma unidade jurídica, que só pode ser 
regulado por uma lei – a antiga ou a nova, de modo que a antiga teria de se impor, 
para não ocorrer a retroação da nova, com prejuízo dos atos já praticados até a suaentrada em vigor); 
(ii) Sistema das fases processuais (distingue as fases processuais autônomas 
[postulatória, saneamento, instrutória e decisória], cada uma suscetível de ser 
disciplinada por uma lei diferente); e, 
(iii) Sistema de isolamento dos atos processuais (afasta a aplicação da lei nova em 
relação aos atos já encerrados, aplicando-se apenas aos atos processuais a serem 
ainda praticados; assegura que a norma processual não tenha efeito retroativo, 
prevendo apenas para o futuro, sem afastar a ultratividade das leis processuais, no 
qual a norma revogada continua produzindo sua eficácia até que se conclua o ato por 
ela regulado). 
 
ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO 
 
 Os órgãos que compõem a Estrutura do Poder Judiciário Brasileiro estão previstos no art. 92, 
CRFB. Além da estrutura, é possível verificar na Constituição a composição dos órgãos, assim como 
a competência originária e recursal de cada um deles, salvo da Justiça Estadual, cuja estrutura está 
prevista na Constituição de cada Estado. 
 
 São órgãos do Poder Judiciário Brasileiro: STF, Conselho Nacional de Justiça, STJ, Tribunais 
Regionais Federais e juízes federais, Tribunais e juízes do Trabalho, Tribunais e juízes Eleitorais, 
Tribunais e juízes Militares, Tribunais e juízes dos Estados membros da Federação e do Distrito 
Federal e dos Territórios. 
 
▪ STF (www.stf.gov.br) 
✓ Função principal: manter a integridade da ordem constitucional. 
✓ Composição – art. 101: onze ministros, que são nomeados pelo Presidente da República, 
depois de aprovação do Senado. 
✓ Competência – art. 102: originária (inc. I – processar e julgar) e recursal (inc. II e III - julgar). 
 
▪ Conselho Nacional de Justiça (www.cnj.jus.br) 
✓ Composição – art. 103-B: quinze membros. 
✓ Competência – art. 103-B, § 4º: controlar a atuação administrativa e financeira do Poder 
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. 
 
Criado pela Emenda Constitucional nº 45/2004 (Reforma do Judiciário)13, o Conselho Nacional de 
Justiça é órgão que compõe a estrutura do Poder Judiciário Brasileiro, com atuação em todo o 
território nacional, com sede em Brasília e composto por 15 (quinze) membros, nomeados pelo 
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, 
para um mandato de dois anos, admitida uma recondução (art. 103-B e §2º da CRFB). 
 
13 Ver ADI nº 3367/DF 
http://www.stf.gov.br/
http://www.cnj.jus.br/
 Lilian Pitta 
 O CNJ será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e 
impedimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal (art. 103-B, § 1º, CRFB), tendo 
por competência o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do 
cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, além de outras atribuições previstas no § 4º do art. 
103-B da CRFB (rol exemplificativo). 
 Afirma-se, portanto, que o CNJ é órgão interno do Poder Judiciário de controle 
administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura, mas que não exerce função jurisdicional. 
Ressalta-se, que todas as decisões do CNJ sobre o controle da atuação administrativa e financeira 
dos tribunais e sobre a atuação funcional dos magistrados serão passíveis de controle jurisdicional 
pelo STF, que fixará o último posicionamento (art. 102, I, r da CRFB). 
 
▪ STJ (www.stj.gov.br) 
✓ Função principal: manter a integridade da lei federal. 
✓ Composição – art. 104: trinta e três Ministros, que são nomeados pelo Presidente da 
República, depois de aprovação do Senado. 
✓ Competência – art. 105: originária (inc. I – processar e julgar) e recursal (inc. II e III – julgar). 
 
▪ Justiça Federal (www.jfrj.gov.br; www.cjf.gov.br) 
✓ Órgãos: art. 106 
o Tribunais Regionais Federais (www.trf2.gov.br) - divididos por regiões, funcionam 
como órgão de 2º grau da Justiça Comum Federal. Composição – art. 107 e 
competência – art. 108 (originária – inc. I e recursal – inc. II). 
o Juízes Federais (Varas) – cada Estado corresponde a uma Seção Judiciária e são 
órgãos judiciários de 1º grau. Competência – art. 109. 
o JEFs Cíveis e Criminais – Competência - art. 3º da Lei nº 10.259/01 
 
▪ Justiça do Trabalho 
✓ Órgãos: art. 111 
o TST (www.tst.gov.br). Composição: vinte e sete Ministros, que são nomeados pelo 
Presidente da República, depois de aprovação do Senado. 
o Tribunais Regionais do Trabalho (www.trtrio.gov.br) - divididos por regiões, como 
órgão de 2º grau. Composição – art. 115. 
o Juízes do Trabalho (Varas) - órgãos judiciários de 1º grau. 
✓ Competência: art. 114 
 
▪ Justiça Eleitoral 
✓ Órgãos: art. 118 
o TSE (www.tse.gov.br). Composição: no mínimo, sete Ministros, mediante eleição e 
nomeação do Presidente da República - art. 119. 
o Tribunais Regionais Eleitorais. Divididos por regiões, como órgão de 2º grau. 
Composição – art. 120. 
o Juízes Eleitorais 
o Juntas Eleitorais 
http://www.stj.gov.br/
http://www.cjf.gov.br/
http://www.tst.gov.br/
http://www.tse.gov.br/
 Lilian Pitta 
✓ Competência: art. 121 e Lei nº 4.737/65 
 
• Justiça Militar 
✓ Órgãos: art. 122 da CRFB/88 e Lei nº 8.457/92 
o STM (www.stm.gov.br). Composição: quinze Ministros que são nomeados pelo 
Presidente da República, depois de aprovação do Senado. 
o Tribunais e juízes militares 
o Auditoria de Correição 
o Conselhos de Justiça 
o Juízes auditores 
✓ Competência: art. 124 e Lei nº 8.457/92 
 
• Tribunais e Juízes dos Estados (www.tj.rj.gov.br) 
✓ Órgãos e competência: art. 125 da CRFB c/c Constituição do Estado e leis de organização 
judiciária. 
 
IMPORTANTE!!!! 
 
 Alguns órgãos ostentam o nome de “tribunal” sem, entretanto, exercerem função 
jurisdicional, que tem como uma de suas características a definitividade (faz coisa julgada material), 
nem, tampouco, fazem parte da estrutura do Poder Judiciário Brasileiro. 
 
 Para tanto, necessário compreender que Jurisdição é uma atividade estatal, de resolução de 
casos concretos, dando-se a esses casos uma solução juridicamente correta. A função jurisdicional 
é o encargo atribuído pela Constituição da República ao Poder Judiciário (função típica) e se 
concretiza através do processo. 
 
Dito isto, são Tribunais que não exercem função jurisdicional: 
 
- Tribunais de Contas (TCU, TCE e TCM) – são órgãos técnicos e independentes que auxiliam o Poder 
Legislativo, cuja especialidade é fiscalizar, sob o aspecto técnico, as contas públicas. Os Tribunais 
fiscalizam os gastos dos Poderes Executivos, dos entes federativos (União, Estados e Municípios) e 
da administração pública direta e indireta. Os Tribunais de Contas têm capacidade de julgar e punir 
os autores das irregularidades que forem verificadas, entretanto, as punições são administrativas, 
ou seja, não exercem função jurisdicional, apenas administrativa, pois suas decisões estão sujeitas 
a correção pelo Poder Judiciário. 
 
- Tribunal Marítimo – O Tribunal Marítimo, conforme preceitua o artigo 1°, da Lei nº 2.180, de 5 de 
fevereiro de 1954, é um Órgão Autônomo, com jurisdição em todo o território nacional, auxiliar do 
Poder Judiciário, vinculado ao Comando da Marinha, tem como atribuições as previstas no artigo 
13 desta mesma Lei. Não exerce função jurisdicional, pois suas decisões poderão ser revistas pelo 
Poder Judiciário. 
 
- Tribunais de Justiça Desportiva – os tribunais de Justiça Desportiva são órgãos administrativos que 
analisam recursos relativos a decisões das comissões disciplinadoras, assim como julgam 
http://www.stm.gov.br/
http://www.tj.rj.gov.br/
 Lilian Pitta 
originariamente causas de competições municipais, regionais ou estaduais; tem por função 
disciplinar as questões relativas à prática formal do desporto no país (art. 217 da CRFB); o Superior 
Tribunal de Justiça Desportiva é o ente máximo da justiça desportiva brasileira. 
 
JURISDIÇÃO 
 
 O poder do Estado é UNO em sua essência, mas fracionado no seu exercício. 
 
 Nos termos do art. 2º da Constituição da República, são poderes

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