Prévia do material em texto
Fábio Mendonça Santiago Aula 3 – 2022-I CONCEITOS DE ESTADO “Estado é o ente formado por um território, uma comunidade humana e um governo soberano, dotado da capacidade de exercer direitos e contrair obrigações e não subordinado juridicamente a qualquer outro poder, externo ou interno” (Paulo Henrique Gonçalves Portela) Para ser considerado Estado no âmbito do Direito Internacional Público se faz necessário a existência de cinco elementos constitutivos: povo (conjunto de indivíduos unidos por laços comuns); território (base física ou o âmbito espacial do Estado, onde ele se impõe para exercer, com exclusividade, a sua soberania); governo autônomo e independente (é a instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou uma nação); finalidade (traduz na ideia de o Estado deve sempre perseguir um fim) e; capacidade para manter relações com os demais Estados. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO - TERRITÓRIO TERRITÓRIO: É o espaço geográfico dentro do qual o Estado exerce seu poder soberano. É a porção da superfície do solo, de modo, a abranger terras, subsolo e a coluna do ar, como o espaço aéreo. A extensão do domínio terrestre do Estado demarca-se por linhas imaginárias e seus limites, podendo estes ser naturais ou artificiais (aqueles que seguem os traços físicos do solo, artificiais, intelectuais os criados pelo ser humano). DOMÍNIO FLUVIAL Domínio fluvial: São os rios e os cursos d’água que cortam determinado território. a) Nacional: quando correm de forma integra no território de um único Estado; b) Internacional: quando separam os territórios de um ou mais Estados. Dentre o domínio fluvial internacional, pode-se dizer a existência dos chamados contíguos, quando correm entre territórios de dois ou mais Estados; ou; sucessivos, quando atravessam mais de um Estado. Domínio marítimo: Classificam-se como águas internas, o mar territorial, a zona contigua entre o mar territorial e o alto-mar, zona econômica exclusiva, plataforma continental, solo marítimo, estreitos e canais. Mar territorial: É a faixa marítima ao entorno da costa de um território, fazendo parte das águas territoriais, compreendendo o mar territorial e as águas internas. A CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR (CNUDM) Assinada pelo Brasil em 10.12.82 e, ratificada em 22.12.1988 de dezembro de 1988 – introduz e/ou consagra os conceitos de mar territorial, zona econômica exclusiva e plataforma continental. Em 4 de janeiro de 1993, o Governo brasileiro sancionou a Lei nº 8.617, que tornou os limites marítimos brasileiros coerentes com os limites preconizados pela CNUDM – revogação do Decreto-lei nº 1.098, de 25 de março de 1970 – Mar Territorial passou a ser de 12 m.m., com a vigência da Lei nº 8.617. A CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR (CNUDM) CNUDM (arts. 2 e 3), a soberania do Estado costeiro sobre o seu território e suas águas interiores estende-se a uma faixa de mar adjacente – mar territorial – com dimensão de até 12 milhas marítimas (1 m.m.= 1.852 metros) a partir das linhas de base. No mar territorial, o Estado costeiro exerce soberania ou controle pleno sobre a massa líquida e o espaço aéreo sobrejacente, bem como sobre leito e o subsolo deste mar. A CNUDM estabelece o conceito de linhas de base a partir das quais passam a ser contados: o mar territorial (até 12 milhas náuticas), a zona contígua (até 24 milhas náuticas), a zona econômica exclusiva (200 milhas náuticas) e o limite exterior da plataforma continental além das 200 milhas, bem como os critérios para o delineamento do limite exterior da plataforma. A CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR (CNUDM) ZONA CONTÍGUA: Art. 4º da Lei n.º 8.617/93, a zona contígua brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às vinte e quatro milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. O Art. 5º na zona contígua, o Brasil poderá tomar as medidas de fiscalização necessárias para: I - evitar as infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários, no seu territórios, ou no seu mar territorial; II - reprimir as infrações às leis e aos regulamentos, no seu território ou no seu mar territorial. A CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR (CNUDM) Zona econômica exclusiva – ZEE: (art. 6º da Lei n.º 8.617/93), compreende uma faixa que se estende das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. Na ZEE o Brasil tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não-vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fins econômicos. Regulamentar a investigação científica marinha, a proteção e preservação do meio marítimo, bem como a construção, operação e uso de todos os tipos de ilhas artificiais, instalações e estruturas. É reconhecido aos Estados o gozo das liberdades de navegação e sobrevôo, bem como de outros usos do mar internacionalmente lícitos, relacionados com as referidas liberdades, tais como os ligados à operação de navios e aeronaves. PLATAFORMA CONTINENTAL E PLATAFORMA CONTINENTAL ESTENDIDA Art. 76, §§ 4º e 6º da CNUDM: Significa, geograficamente, a parte do leito do mar adjacente à costa que não exceder a 200 metros de profundidade e que, a uma boa distância do litoral, cede lugar às inclinações abruptas que conduzem aos fundos marinhos. Convenção de Montego Bay (1982): O limite exterior da plataforma continental coincidirá com o limite da ZEE (200 milhas náuticas, a partir da linha de base do litoral), a menos que o bordo exterior da margem continental – isto é, o limiar da área dos fundos marinhos – esteja ainda mais distante: neste caso, o bordo será o limite da plataforma, desde que não ultrapasse a extensão total de 350 milhas náuticas. Por conseguinte, tem-se, então, que a Plataforma Continental poderá se estender além das 200 milhas da ZEE, nos locais em que ela não atingir os 200 metros de profundidade, criando-se, assim, a definição de Plataforma Continental Estendida LIMITES DO MAR TERRITÓRIO MARÍTIMO DOMÍNIO MARÍTIMO Alto-mar: Este instituto define que a área não pertence a nenhum Estado, dando a liberdade de navegar, pescar, colocar cabos e oleodutos submarinos, construir ilhas artificiais, sobrevoar, mas desde que com a finalidade pacifica, ou seja, que não coloque em risco a soberania de outros Estados Internacionais. O Alto-mar vige ao princípio da liberdade, ou seja, não podem os Estados usarem de forma arbitraria, contra a liberdade de cada Estado, agindo somente livremente, sem prejuízos aos demais componentes da comunidade internacional. a) Liberdade de navegação; b) Liberdade de sobrevoo; c) Liberdade de colocar cabos e tubos submarinos; d) Liberdade de construir linhas artificiais, desde que permitidas pelo Direito Internacional; e) Liberdade de pesca, conforme permite o Direito Internacional e suas regras; f) Liberdade de Investigação cientifica. DOMÍNIO AÉREO DOMÍNIO AÉREO – É constituído pelo espaço aéreo e pelo espaço extra-atmosférico. ESPAÇO AÉREO: é massa de ar atmosférico situada acima do território do Estado. Não há normas que concedam o direito de passagem inocente a aeronaves no espaço aéreo estatal. Estas são determinadas por tratados bilaterais e permissões avulsas Na aviação comercial deve ser concedida previa autorização estatal para que se possa trafegar em seu espaço aéreo. Para aviões particulares recebem permissão avulsa para trafegar sobre o território estatal Para aviões militares não há tratado internacional que preveja a possibilidadede tráfego permanente pelo território de outro Estado DOMÍNIO AÉREO ESPAÇO AÉREO (cont.) Ao ingressar no espaço aéreo de outro estado uma aeronave militar deverá obter prévia autorização, sob pena de ser forçado a aterrissar. Se a aeronave militar invadir o espaço aéreo e for abatida, a responsabilidade será do Estado de sua matrícula (bandeira). As Convenções de Paris e de Chicago consideram que cada Estado tem soberania completa e exclusiva sobre o espaço atmosférico acima de seu território. Assim, o Estado poderá tomar providências para proteger seu espaço aéreo que incluem interceptação, pouso e abate da aeronave O Espaço aéreo sobre o qual incide a soberania do Estado compreende os limites do mar territorial, mas não os limites da plataforma continental, zona econômica exclusiva e o alto-mar. DOMÍNIO AÉREO As aeronaves comerciais em território estrangeiro estarão sujeitas à jurisdição Estatal do território em que se encontrarem. Aos atos praticados internamente da aeronave, incumbe ao Estado proprietário, mas se afrontar aos deslindes do interesses do Estado, perderá está jurisdição, passando ao Estado que “hospedou” a aeronave aplicar a sua lei interna. Se a aeronave está em pleno voo, não haverá interesse para o Estado onde está passando, aplicando-se as regras em relação ao alto-mar, porém, se a aeronave está pousada, aplica-se a lei territorial em que esta se encontra, exceto se for militar, daí vige a lei do país dela pertencente. DOMÍNIO AÉREO Direito de navegação: A tutela Estatal do espaço aéreo teve por expoente em destaque, a Convenção de 1944, em Chicago reafirmando cinco liberdades: técnicas (1 e 2) e comerciais (3, 4 e 5): 1) Direito de sobrevoo, sem escalas, podendo o Estado proibir sobrevoo sobre certas áreas, ou que sigam rotas predeterminadas; 2) Direito de escala técnica, sem fins comerciais ou em situações de emergência; 3) Direito de desembarcar passageiros e mercadorias procedentes do Estado de origem da aeronave; 4) Direito embarcar passageiros e mercadorias com destino ao Estado de origem da aeronave; 5) Direito de embarcar e desembarcar passageiros e mercadorias procedentes de, ou com destino a, terceiros países (requer acordos adicionais entre os países); DOMÍNIO AÉREO ESPAÇO EXTRA-ATMOSFÉRICO: Trata-se da zona que se inicia ao término do espaço atmosférico. A exploração do espaço extra-atmosférico repudia o uso militar do espaço e exorta os Estados a não colocarem em órbita objetos com armas nucleares e de destruição em massa Princípios de Exploração e utilização do Espaço Extra- Atmosférico: inadmissibilidade de apropriação pelos Estados; Todos aso Estados são livres, em igualdade de condições, para utilizar e explorar o Espaço, inclusive para fins científicos, conforme o Direito Internacional; utilização pacífica da lua e demais corpos celestes. POVO POVO: É o elemento humano do Estado. Formado por um conjunto de pessoas naturais vinculadas juridicamente a um ente estatal por meio da nacionalidade, que estão inseridas diretamente no processo de formação e manutenção do Estado, incluindo tanto os indivíduos residentes no próprio país como no exterior. A expressão POVO representa fundamentalmente o vínculo do indivíduo ao Estado por meio da nacionalidade ou cidadania. Conjunto dos nacionais, natos e naturalizados POVO POPULAÇAO: são todas as pessoas presentes num determinado território, inclusive estrangeiros e apátridas. A população, portanto, representa um dado essencialmente quantitativo, que independe de qualquer laço jurídico de sujeição ao poder estatal. Representa o conjunto de povo, mais os estrangeiros e apátridas. NAÇAO: É a comunidade com base histórico-cultural, com objetivos, história e sentimento patriótico comuns. É a comunidade moldada por uma origem, uma cultura, uma história e uma ideologia comuns, constituída por pessoas de mesma ascendência, ainda não organizada na forma de Estado. NACIONALIDADE: É o vínculo jurídico-político que une o indivíduo ao Estado NATURALIDADE: É o vínculo material-geográfico. Nem sempre são naturais de um estado aqueles que possuem sua nacionalidade. CIDADANIA: Refere-se ao exercício dos direitos políticos de determinado povo. Nem sempre o nacional poderá exercer plenamente a cidadania, como no caso do naturalizado brasileiro que não poderá se candidatar a presidente da República GOVERNO SOBERANO GOVERNO SOBERANO: É a autoridade maior que exerce o poder político do Estado. PODER: É o Estado como expressão ordenada de convivência que prevalece num grupo. O poder é abstrato e não se afeta por modificações de outros agentes ou elementos do Estado. Assim, pode-se afirmar que o poder é a manifestação do Estado SOBERANIA: É o atributo do poder estatal que o caráter de superioridade frente a outros núcleos de poder que atuam dentro do Estado – empresas/famílias. É a soberania que declara, em última instancia, a validade do direito dentro de certo território. A soberania pressupõe a inexistência de qualquer instância de poder acima do Estado no território nacional, tanto para legislar como para lançar Mao da força legítima. SOBERANIA INTERNA: Representa a predominância do poder estatal sem nenhuma limitação por outro poder. (guerra civil – contraste de poder) SOBERANIA EXTERNA: Caracteriza-se por não haver dependência, nem subordinação de um Estado a outro em suas relações recíprocas, devendo haver igualdade jurídica. SOBERANIA NACIONAL: É o direito do povo escolher seus próprios governantes, por meio do voto nas eleições. RELATIVIZAÇÃO DA IDÉIA DE SOBERANIA GOVERNO: É o exercício do poder como expressão dinâmica da ordem pública, coordenando o funcionamento do Estado. É o governo que representa o poder do Estado no âmbito de concretização do bem comum por meio de atos administrativos FINALIDADE A finalidade é o elemento social do Estado. Traduz-se na ideia de que o Estado deve perseguir uma finalidade, que deve ser o bem comum dos indivíduos que o compõe. Segundo Valério de Oliveria Mazzuolli não se pode mais entender que o “Estado tem por única e exclusiva finalidade extrair de sua coletividade humana o máximo de proveito em prol de si mesmo, sem se preocupar com o bem-estar de sua população. Portanto, não são os indivíduos que existem para o Estado, mas este que se forma em relação àqueles, e por isso tem o dever de proteger-lhes e garantir-lhes os meios necessários para a sua plena realização pessoal”. CAPACIDADE PARA MANTER RELAÇÕES COM OS DEMAIS ESTADOS Representa a independência do Estado. A independência foi realçada por muitos juristas como o critério decisivo da qualidade de Estado. Podendo a independência ser encarada por dois prismas: O Estado possui um grau de centralização dos seus órgãos que não se encontra na sociedade internacional. Numa determinada área, o Estado é a única autoridade executiva e legislativa. o Estado deve ser independente das outras ordens jurídicas estatais, e qualquer interferência dessas ordens jurídicas ou de uma representação internacional deve basear-se num título de Direito Internacional Fábio Mendonça Santiago Aula 8 2021-II CONCEITO CONVENÇAO DE VIENA 1969: “Significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica” CONVENÇÃO DE VIENA DE 1986: Somente com a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais de 1986, foi incorporada à ordem jurídica internacional a possibilidade de organismos internacionais celebrarem Tratados CONCEITO TRATADOS INTERNACIONAIS: São acordos formais, concluídos por escrito, formulados por Estados e organizações internacionais, ou somente entre organizaçõesinternacionais, celebrados segundo parâmetros estabelecidos pelo Direito Internacional Público, com o objetivo de produzir efeitos jurídicos relativos a temas de interesse comum. CARACTERÍSITICAS DOS TRATADOS INTERNACIONAIS FORMALIDADE: O tratado internacional é um acordo formal, que se exprime com precisão, com contornos bem definidos em determinado momento histórico. É imprescindível que seja produzido por escrito, ao contrario do costume internacional. LIBERALIDADE/CONSENTIMENTO: são acordos entre Estados e, portanto, se tornam instrumentos decorrentes da convergência de vontades dos atores competentes, só terão validade jurídica com suas respectivas anuências e os atores devem consentir com seu conteúdo. CARACTERÍSITICAS DOS TRATADOS INTERNACIONAIS PERSONALIDADE INTERNACIONAL: os tratados são celebrados por Pessoas Jurídicas de Direito Internacional Público - Estados e Organizações Internacionais. Pessoas Jurídicas de Direito Privado (multinacionais) não tem capacidade para celebrar tratados internacionais. OBS: Gentelmen’s Agreement: São pactos celebrados por indivíduos investidos em cargos de mando, com capacidade para assumir externamente compromissos prospectivos, de pura índole moral, e cuja validade não ultrapassará o período de permanência do indivíduo no governo. (Não são tratados internacionais) PROCEDIMENTOS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: Os tratados são regidos pelo Direito Internacional Público e, na prática, devem obedecer aos procedimentos e exigências formais estabelecidos na prática internacional relativos a forma de elaboração e vigência CARACTERÍSITICAS DOS TRATADOS INTERNACIONAIS OBSERVANCIA DE INSTRUMENTOS: os tratados podem constar de um ou vários instrumentos, como anexos e protocolos adicionais, de acordo com sua complexidade LIBERDADE DE DENOMINAÇÃO: os tratados podem adotar várias denominações, sem que isso afete sua qualidade de fontes do direito Internacional – tratado, pacto, acordo, protocolo. CARATER VINCULANTE: Os Tratados não são meras declarações de caráter político, e sim, fontes de direito que geram efeitos jurídicos (criar, modificar, extinguir direitos e gerar sanções por descumprimento). Tem caráter vinculante e obrigatório para as partes. Os Tratados vinculam as partes, não só no direito Internacional, como no âmbito interno, passando a se incorporar ao ordenamento jurídico de cada Estado celebrante. CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS QUANTO AO NUMERO DE PARTES: bilaterais ou multilaterais PROCEDIMENTO DE CONCLUSAO: Forma solene (tem um maior número de etapas) ou forma simplificada (requer menos etapas de expressão do consentimento OBS: Na forma simplificada existem os acordos executivos (executive agreement) e prescindem de ratificação. O Brasil adota predominantemente a forma solene, permitindo a forma simplificada apenas para tratados que interpretam outros tratados. QUANTO AOS EFEITOS: Os tratados podem ter efeitos restritos às partes signatárias ou gerar consequências jurídicas a entes que não participaram de seu processo de conclusão. CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NATUREZA DAS NORMAS: Tratados-contrato – visam conciliar interesses divergentes entre as partes solucionando problemas mediante determinação de regras baseadas em prestações compartilhadas (como se fossem um contrato de direito interno). As partes realizam uma operação jurídica Tratados-lei – estabelecem normas gerais de Direito Internacional a partir da vontade convergente dos signatários de estabelecer tratamento comum e uniforme sobre certo tema. As partes editam uma regra de direito objetivamente válida CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS POSSIBILIDADE DE ADESAO: Abertos – permitem a adesão posterior de estados que não participaram de sua conclusão. Os abertos podem ser limitados (restrito apenas a um determinado grupo de Estados – Mercosul) ou ilimitados (permitem a adesão de qualquer ente estatal – Carta da ONU). Fechados – não permitem adesão posterior (Tratado de cooperação amazônica (somente os países amazônicos podem participar) CONDIÇÕES DE VALIDADE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS Capacidade das partes: refere-se ao poder ou faculdade jurídica para celebrar os tratados de forma geral, ou para celebrar determinadas classes de tratados: Estados soberanos e Organizações Internacionais: desde que disponham de poderes para tanto Os beligerantes: reconhecimento de um governo exilado, de uma autoridade insurreta, de um movimento de libertação como capazes de celebrar tratados A Santa Sé: que dispõe de todos os elementos constitutivos do Estado: território, população, governo independente Outros sujeitos do direito Internacional que tenham expressamente garantido esse direito: Ex: Estados membros de uma Federação (no Brasil os Estados-membros, o DF e os municípios podem celebrar tratados de financiamento, desde que tenham aval do Senado Federal) CONDIÇÕES DE VALIDADE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS Habilitação dos agentes signatários: os representantes desses estados devem dispor de instrumento de plenos poderes, mas há aqueles que não necessitam desse documento: Chefes de Estado, Chefes de missão diplomática e Representantes acreditados pelo Estado perante uma convenção (dispor de uma credencial e passaporte diplomático especial) Objeto lícito e possível: não se pode elaborar tratado internacional que contrarie a moral internacional ou que cujo objeto não seja possível. CONDIÇÕES DE VALIDADE DOS TRATADOS INTERNACIONAIS Mútuo consentimento: há que ser celebrado com a anuência das partes sem vícios, sob pena de nulidade absoluta ou relativa. Nulidade absoluta: provocada por Erro (no DI o erro deverá ser substancialmente importante para ocasionar a anulação de um Tratado), Dolo (uma das partes age propositadamente para ludibriar a outra ao celebrar o tratado), corrupção (corrupção de um representante e pela ação direta e indireta do outro Estado negociador), Coação (De acordo com a Convenção de Viena só viciará a celebração do Tratado o emprego de força militar, pois coação política, econômica e financeira não vicia o tratado). Nulidades relativas: caso a caso FASES DE ELABORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS Negociação: Quando bilaterais, não há regras. Os tratados multilaterais normalmente são realizados em conferencias internacionais onde se discute o objeto do acordo internacional. Essa fase se encerra com a elaboração de texto final do tratado que deve ser aprovada por 2/3 dos presentes (art. 9º Tratado de Viena), mas dependendo do teor da matéria a ser pactuada pode-se exigir a unanimidade. Assinatura dos tratados: trata-se da manifestação do consentimento do Estado. É a partir da assinatura que se inicia a contagem dos prazos para troca ou depósito dos instrumentos de ratificação. A autoridade que assina os tratados é a que dispõe de “Carta de Plenos Poderes”, firmada pelo chefe de Estado e referendada pelo Ministro das relações Exteriores ou equivalente. FASES DE ELABORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS Ratificação: é o ato unilateral com que o sujeito do Direito Internacional, signatário de um tratado internacional, exprime definitivamente sua vontade de se obrigar no plano internacional quanto ao que resultou pactuado no Tratado. Há três sistemas de ratificação: Sistema de competência exclusiva do Poder Executivo: muito comum em Estados absolutistas nos quais o Chefe de Estado e de governo tem exclusividade na ratificação de um tratado Sistema de competência exclusiva do Poder Legislativo: modelo britânico no qual há necessidade de um ato do parlamento para que o tratado tenha eficácia interna Sistema misto: Há tanto participação do poder Executivo quanto do Poder Legislativo. O Brasil adota o sistema misto, pois o Presidente da República envia uma mensagem ao Congresso, que elabora um Decreto Legislativode aprovação do Tratado, o qual é enviado AP Presidente da República para promulgação. FASES DE ELABORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS Promulgação: É o ato jurídico, de natureza interna, pelo qual o governo de um Estado afirma ou atesta a existência de um tratado por ele celebrado e o preenchimento das formalidades exigidas para sua conclusão, e, além disto, ordena sua execução dentro dos limites aos quais se estende a competência estatal. Publicação: É condição essencial e necessária para que o tratado seja aplicado na ordem interna do Estado. Publica-se no Diário Oficial da União o texto do tratado e o Decreto Presidencial. Registro: É um requisito estabelecido pela Carta da ONU e tem como escopo fazer com que o Estado que celebrou o tratado internacional possa invocar para si, junto à organização, os benefícios do acordo celebrado. O registro deve ser requerido ao secretário-geral da ONU, que fornece, a cada Estado, um certificado redigido em inglês e Francês, conforme previsão do art. 80, da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados e o art. 102 da Carta da ONU EXTINÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS Ocorre quando as partes signatárias de um tratado não se encontram mais obrigadas a observar suas cláusulas, seja por regra de aplicação de suas disposições (a termo, prazo de duração); seja por uma condição resolutória, com cláusula de denuncia ou por um prazo renovável (causas intrínsecas). Há ainda as causas que não se encontram previstas no texto do tratado como o direito de denuncia, mudança fundamental nas circunstancias e violação do tratado (causas extrínsecas). A Denúncia ocorre quando um Estado, num ato unilateral, manifesta sua vontade de deixar de ser parte num acordo internacional INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS AO DIREITO INTERNO A execução das normas internacionais no âmbito interno dos Estados ocorre a partir da incorporação ao Direito Interno - internalização – que é o processo pelo qual os tratados passam a fazer parte do ordenamento jurídico nacional dos entes estatais. Modos de internalização dos tratados Modelo tradicional: a internalização subordina-se ao cumprimento de um ato jurídico especial pela autoridade estatal (Brasil) Modelo de introdução automática ou da aplicabilidade imediata: o tratado tem força vinculante internamente tão logo entre em vigor no âmbito das relações internacionais, sem necessidade de outras medidas que não a ratificação e publicação do ato. (União Europeia) TRAMITAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO BRASIL Exposição de Motivos: é o primeiro passo dessa tramitação e consiste no ato de preparação de uma Exposição de Motivos pelo Ministro das Relações Exteriores ao Presidente da República, dando ciência da assinatura de um ato internacional Encaminhamento: recebida a Exposição de Motivos com o tratado anexo, o Presidente da República pode encaminhar ao Congresso Nacional solicitando o exame do ato para fins de ratificação (ato discricionário) TRAMITAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO BRASIL Exame e aprovação no Congresso: No Congresso o tratado será examinado primeiro na Câmara, depois no Senado, devendo sua aprovação seguir os termos da art. 47 da Constituição. OBS: A Emenda constitucional 45 introduziu o parágrafo 3º no art. 5º, que fixou regras específicas para os tratados de direitos humanos, os quais poderão alcançar patamar de emenda à Constituição caso sejam aprovados em cada casa do Congresso, em dois turnos, de votação com três quintos dos votos dos congressistas TRAMITAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO BRASIL Decreto Legislativo: aprovado o acordo, o Presidente do Senado emitirá um Decreto Legislativo, que consiste em um mero instrumento de encaminhamento do Tratado ao Presidente da República, a quem cabe decidir sobre a ratificação. OBS 1: Caso o Congresso não aprove o Tratado Internacional, o Presidente fica impossibilitado de ratificá- lo (se o fizer será crime de responsabilidade, CF 85, II). OBS 2: O Decreto Legislativo não tem o efeito de ordenar o cumprimento do tratado, ou de vincular qualquer conduta a seu conteúdo. TRAMITAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO BRASIL Ratificação: quando o Tratado entra em vigor no âmbito internacional o Presidente poderá concluir o processo de incorporação, por meio da promulgação, que é o ato pelo qual ordena a publicação do acordo e sua execução no território nacional. A promulgação é feita por Decreto Executivo, publicação no Diário Oficial da União. (também um ato discricionário) TRATADOS INTERNACIONAIS NA ORDEM JURÍDICA INTERNA E INTERNACIONAL Aos tratados promulgados incorporam-se ao ordenamento jurídico brasileiro, adquirindo caráter vinculante, podendo ser invocado por Estados e por particulares para preservação de direitos junto aos órgãos jurisdicionais Os tratados incorporados ao direito interno no Brasil recebe, em princípio, status de lei ordinária, havendo possibilidade de que seja conferido caráter de Emenda Constitucional (art. 5º, par 3º CF). Há ainda entendimentos de que os tratados de direitos humanos tem caráter supralegal ou mesmo constitucional. Fábio Mendonça Santiago Aula 9 2022-II A NOVA REFERÊNCIA PARA A POLÍTICA MIGRATÓRIA NO BRASIL O Estatuto do Estrangeiro – Lei n° 6.815/80 – uma lei editada em plena ditadura militar, tinha como referência a Doutrina de Segurança Nacional, à organização institucional, aos interesses políticos, sócio-econômicos e culturais do Brasil. Era em grande parte inconstitucional e incapaz de atender à realidade social e política brasileira atual. A nova Lei de Migração – Lei n° 13.445/2017 - estabelece direitos e deveres para migrantes e turistas no Brasil. Reconhece o migrante, independentemente de sua nacionalidade, como um sujeito de direitos, e promove o combate à xenofobia e a não-discriminação como princípios da política migratória brasileira. Moderniza o sistema de recepção e registro dos migrantes, além de incluir artigos específicos para casos de apatridia. Reconhece a contribuição histórica e contemporânea dos migrantes para o desenvolvimento econômico e cultural do Brasil PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA LEI DE MIGRAÇÃO Universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos; Repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação; Não criminalização da migração; não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em território nacional; promoção de entrada regular e de regularização documental; acolhida humanitária; Desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e tecnológico do Brasil; Garantia do direito à reunião familiar; igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares; inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas; Acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social; promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do migrante; PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA LEI DE MIGRAÇÃO Fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, mediante constituição de espaços de cidadania e de livre circulação de pessoas; cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos do migrante; Integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação de políticas públicas regionais capazes de garantir efetividade aos direitos do residente fronteiriço; Proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente migrante; observância ao disposto em tratado; Proteção ao brasileiro no exterior; migraçãoe desenvolvimento humano no local de origem, como direitos inalienáveis de todas as pessoas; promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no Brasil, nos termos da lei; e repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas. GARANTIAS AOS MIGRANTES NO BRASIL Em condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade; Cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de aplicação das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; Direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos; direito à liberdade de circulação em território nacional; À reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos, familiares e dependentes; medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos; DIREITOS AOS MIGRANTES NO BRASIL De transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro país, observada a legislação aplicável; de reunião para fins pacíficos; direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos; Acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social, nos termos da lei, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; DIREITOS AOS MIGRANTES NO BRASIL De sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo enquanto pendente pedido de autorização de residência, de prorrogação de estada ou de transformação de visto em autorização de residência; e de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas para fins de regularização migratória. À educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; À isenção das taxas mediante declaração de hipossuficiência econômica, na forma de regulamento; de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados pessoais do migrante, nos termos da Lei n° 12.527/2011; VISTO O visto é o documento que dá a seu titular expectativa de ingresso em território nacional. O visto será concedido por embaixadas, consulados- gerais, consulados, vice-consulados e, quando habilitados pelo órgão competente do Poder Executivo, por escritórios comerciais e de representação do Brasil no exterior. Excepcionalmente, os vistos diplomático, oficial e de cortesia poderão ser concedidos no Brasil. O Visto de Visita poderá ser concedido ao visitante que venha ao Brasil para estada de curta duração, sem intenção de estabelecer residência, nos seguintes casos: I - turismo; II - negócios; III - trânsito; IV - atividades artísticas ou desportivas; e V - outras hipóteses definidas em regulamento. OBS: É vedado ao beneficiário de visto de visita exercer atividade remunerada no Brasil. VISTO TEMPORÁRIO O visto temporário poderá ser concedido ao imigrante que venha ao Brasil com o intuito de estabelecer residência por tempo determinado e que se enquadre em pelo menos uma das seguintes hipóteses: I - o visto temporário tenha como finalidade: a) pesquisa, ensino ou extensão acadêmica; b) tratamento de saúde; c) acolhida humanitária; d) estudo; e) trabalho; f) férias-trabalho; g) prática de atividade religiosa ou serviço voluntário; h) realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou cultural; i) reunião familiar; j) atividades artísticas ou desportivas com contrato por prazo determinado; II - o imigrante seja beneficiário de tratado em matéria de vistos; III - outras hipóteses definidas em regulamento. VISTOS DIPLOMÁTICO, OFICIAL E DE CORTESIA Os vistos diplomático e oficial poderão ser concedidos a autoridades e funcionários estrangeiros que viajem ao Brasil em missão oficial de caráter transitório ou permanente, representando Estado estrangeiro ou organismo internacional reconhecido, e poderão ser estendidos aos dependentes das autoridades; O empregado particular titular de visto de cortesia somente poderá exercer atividade remunerada para o titular de visto diplomático, oficial ou de cortesia ao qual esteja vinculado, sob o amparo da legislação trabalhista brasileira; O titular de visto diplomático, oficial ou de cortesia será responsável pela saída de seu empregado do território nacional. CONDIÇÃO JURÍDICA DO MIGRANTE E DO VISITANTE RESIDENTE FRONTEIRIÇO: A fim de facilitar a sua livre circulação, poderá ser concedida ao residente fronteiriço, mediante requerimento, autorização para a realização de atos da vida civil, que indicará o Município fronteiriço no qual o residente estará autorizado a exercer os direitos a ele atribuídos pela Lei de Migração; O documento de residente fronteiriço será cancelado, a qualquer tempo, se o titular tiver fraudado documento ou utilizado documento falso para obtê-lo; obtiver outra condição migratória; sofrer condenação penal; ou exercer direito fora dos limites previstos na autorização. APÁTRIDA ACNUR: Ser apátrida significa não possuir nacionalidade ou cidadania. É quando o elo legal entre o Estado e um indivíduo deixa de existir. As pessoas apátridas enfrentam numerosas dificuldades em seu quotidiano: Eles também são suscetíveis a tratamento arbitrário e a crimes como o tráfico de pessoas. Existem dois tipos de apatridia: de jure e de facto. Apátridas de jure não são considerados nacionais sob as leis de nenhum país. Apátridas de facto ocorre nos casos em que um indivíduo possui formalmente uma nacionalidade, mas esta resulta ineficaz. Um exemplo disso é quando um indivíduo tem negados, na prática, direitos que são usufruídos por todos os nacionais, tal como o direito de retornar a seu país e residir nele. A diferença entre a apatridia de jure e de facto pode ser difícil de estabelecer. As principais causas da apatridia são as políticas discriminatórias e os vazios legislativos em matéria de nacionalidade. ASILO POLÍTICO CONCEITO DE ASILO POLÍTICO: “ É a proteção oferecida por um Estado a pessoa estrangeira que esteja a sofrer perseguição política no país em que se encontra, sendo que pela prática desse direito não pode ser feita qualquer reclamação por nenhum outro Estado”. (Celso Ribeiro Bastos). Segundo a Lei n° 13.445/2017, o asilo político, que constitui ato discricionário do Estado, poderá ser diplomático ou territorial e será outorgado como instrumento de proteção à pessoa. A saída do asilado do País sem prévia comunicação implica renúncia ao asilo. Não se concederá asilo a quem tenha cometido crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos do Estatuto de Roma - TPI; Para um estrangeiro pedir asilo político ao governo brasileiro, o mesmo deve iniciar tal procedimento na Polícia Federal, onde serão coletadas todas as informações relativas aos motivos para o pedido. Posteriormente, o requerimento é avaliado pelo Ministro das Relações Exteriores, e, em seguida, pelo Ministro da Justiça. Caso aceito, o asilado se compromete a seguir as leis brasileiras, além dos deveres que lhe forem impostos pelo Direito Internacional. ASILO POLÍTICO TERRITORIAL O Asilo consiste no acolhimento de estrangeiro por parte de um Estado que não o seu, em virtude de perseguição praticada por seu próprio país ou por terceiro. É instrumento de proteção internacional individual. As causas motivadoras da perseguição, ensejadoras da concessão do asilo, em regra são: dissidência política, livre manifestação de pensamento ou, ainda, crimes relacionados com a segurança do Estado, que não configurem crimes no direito penal comum. Será concedido ao estrangeiro que tenha ingressado nas fronteiras do novo Estado, colocando-se no âmbito especial de sua soberania. Sua concessão é ato de soberania estatal, de competênciado Presidente da República, e, uma vez concedido, o Ministério da Justiça lavrará termo no qual serão fixados o prazo de estada do asilado no Brasil e os deveres que lhe imponham o direito internacional e a legislação interna vigente. ASILO POLÍTICO DIPLOMÁTICO Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954 da OEA: o asilo diplomático dar-se-á em legações, navios de guerra e acampamentos ou aeronaves militares, salientando que legação é a sede de missão diplomática ordinária, como também a residência dos chefes de missão, e outros locais destinados para tal fim, quando a capacidade normal dos edifícios for insuficiente para abrigar o número de asilados. Após a concessão do asilo, o governo do Estado territorial pode a qualquer momento exigir que o asilado seja retirado do país, concedendo ao mesmo salvo-conduto e garantias, como pode também o Estado asilante pedir a saída do asilado para território estrangeiro, estando neste caso o Estado territorial obrigado a conceder imediatamente salvo-conduto e garantias. ASILO POLÍTICO E REFÚGIO Refugiados: Resultante de fluxos maciços de populações deslocadas por razões de ameaças de vida ou liberdade. A Convenção relativa ao estatuto dos refugiados de 1951 salienta que o termo refugiado aplicar-se-á a qualquer pessoa: Que, em consequência de acontecimentos ocorridos antes de 1 de janeiro de 1951, e receando, com razão ser perseguida em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou das suas opiniões políticas, se encontre fora do país de que tem a nacionalidade e não possa ou, em virtude daquele receio, não queira pedir a proteção daquele país; ou que, se não tiver nacionalidade e estiver fora do país no qual tinha a sua residência habitual após aqueles acontecimentos, não possa ou, em virtude do dito receio, a ele não queira voltar. (ONU, 2011). ASILO POLÍTICO E REFÚGIO “O critério crucial para definição de um refugiado é a existência de fundado medo de perseguição em virtude de motivos étnicos, religiosos ou políticos”. Dentre os fatores que originam o deslocamento internacional de pessoas citem-se: políticos, ambientais e econômicos. Os refugiados políticos são aqueles que fogem de seus países em decorrência de desastres ocasionados por uma guerra, estejam ou não os mesmos envolvidos nesta. Por sua vez, os refugiados ambientais são aqueles que se deslocam em decorrência de catástrofes naturais, como terremotos, secas. Já os refugiados econômicos, confundidos em parte com os assim chamados migrantes (emigrantes e imigrantes) como aquele que se vê diante da impossibilidade total de satisfazer suas necessidades vitais no país do qual é nacional, enquanto que o migrante, ao menos em tese, poderia subsistir em seu país natal, mas, insatisfeito com as condições locais, se desloca para outra região, em busca de melhores perspectivas. (CASELLA, 1984, p. 255). MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA – REPATRIAÇÃO A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade. Será feita imediata comunicação do ato fundamentado de repatriação à empresa transportadora e à autoridade consular do país de procedência ou de nacionalidade do migrante ou do visitante, ou a quem o representa; Não será aplicada medida de repatriação à pessoa em situação de refúgio ou de apatridia, de fato ou de direito, ao menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou separado de sua família, exceto nos casos em que se demonstrar favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem, ou a quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer caso, medida de devolução para país ou região que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da pessoa. Nesses casos a Defensoria Pública da União será notificada, preferencialmente por via eletrônica. MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA - DEPORTAÇÃO A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional. A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem, expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60 (sessenta) dias, podendo ser prorrogado, por igual período, por despacho fundamentado e mediante compromisso de a pessoa manter atualizadas suas informações domiciliares. MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA - DEPORTAÇÃO Trata-se de uma forma de exclusão do estrangeiro do território nacional, sendo certo que todas as formas de exclusão do estrangeiro pressupõem a sua entrada no território nacional, pois não podem ser confundidas com o impedimento à sua entrada no País. No caso de impedimento à entrada, o estrangeiro não ultrapassa a fronteira, o porto ou o aeroporto – REPATRIAÇÃO. A deportação, assim, pressupõe a entrada do estrangeiro, ou seja, ele ultrapassou a fronteira, o porto ou o aeroporto brasileiro. A entrada de estrangeiro de modo irregular (clandestinamente), no território nacional, bem como a entrada regular, cuja a estada tornou-se irregular, ensejam a sua deportação. MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA - DEPORTAÇÃO Os procedimentos prévios à deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo, devendo a Defensoria Pública da União ser notificada, preferencialmente por meio eletrônico, para prestação de assistência ao deportando em todos os procedimentos administrativos de deportação. Em se tratando de apátrida, o procedimento de deportação dependerá de prévia autorização da autoridade competente; e não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela legislação brasileira. O estrangeiro deportado não fica impedido de regressar ao território nacional, pois não se trata de um ato com finalidade punitiva, mas apenas de regularização da sua situação no país. MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA - EXPULSÃO A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado. Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de: I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998; ou II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional. MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA - EXPULSÃO Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, e o prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo. No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa, e a Defensoria Pública da União será notificada da instauração de processo de expulsão, se não houver defensor constituído. Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo de 10 (dez) dias, a contar da notificação pessoal do expulsando. MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA - EXPULSÃO VEDAÇÕES À EXPULSÃO: Não se procederá à expulsão quando a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira, ou quando o expulsando: a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela; b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou legalmente; c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desdeentão no País; d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 (dez) anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão MEDIDAS DE COOPERAÇÃO - EXTRADIÇÃO “É a entrega, por um Estado a outro, e a pedido deste, de pessoa que em seu território deva responder a processo penal ou cumprir pena. A extradição pressupõe sempre um processo penal: ela não serve para a recuperação forçada do devedor relapso ou do chefe de família que emigra para desertar dos seus deveres de sustento da prole” Francisco Rezek A extradição encontra-se amparada por Acordo celebrado entre os Estados envolvidos, devendo ser observado o conjunto de requisitos estabelecidos no texto ratificado. Na ausência deste, o pedido de extradição poderá ser formulado com promessa de reciprocidade de tratamento para casos análogos entre os dois Estados, materializada por meio de Notas Diplomáticas EXTRADIÇÃO - PRINCÍPIOS Princípio da Especialidade: o extraditando não poderá ser processado e/ou julgado por crimes que não embasaram o pedido de cooperação e que tenham sido cometidos antes de sua extradição, podendo o Estado requerente solicitar ao Estado requerido a extensão ou ampliação da extradição ou extradição supletiva Princípio da Dupla Tipicidade: também conhecido como Princípio da Identidade ou da Dupla Incriminação do Fato. Impõe-se que somente seja concedida uma extradição para um fato típico e antijurídico, assim considerado tanto no país requerente quanto no requerido Princípio non bis in idem: por meio da qual, não será concedida a extradição quando já existir sentença transitada em julgado pelo mesmo fato em que se baseia o pedido de extradição. Destaque-se, aqui, o termo “fato”, já que poderá ser solicitada a extradição de um indivíduo por um determinado crime em relação ao qual já tenha sido condenado, mas não em relação ao mesmo fato delitivo CLASSIFICAÇÃO DA EXTRADIÇÃO a)extradição ativa quando o Governo brasileiro solicita a entrega de uma pessoa procurada pela Justiça brasileira a outro país, para fins de julgamento ou cumprimento de pena. b) extradição passiva quando a pessoa objeto de processo penal em outro país encontra-se no Brasil e o Estado estrangeiro requer sua entrega para instrução de processo penal ou execução de sentença, ainda que não transitada em julgado. OBS: A Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça, por meio do Departamento de Estrangeiros, é a Autoridade Central em matéria de extradição, sendo responsável por formalizar os pedidos de extradição feitos por autoridades brasileiras a um determinado Estado estrangeiro (ativa) ou, ainda, processar, opinar e encaminhar as solicitações de extradição formuladas por outro país à Suprema Corte brasileira (passiva). EXTRADIÇÃO – O PAPEL DO STF De forma geral, o Poder Judiciário do Estado requerido é responsável por decidir se o pedido de extradição formulado deve ou não ser concedido. São analisados, principalmente, os aspectos formais que conduziram o processo criminal objeto do pedido de extradição, levando-se em conta as garantias fundamentais do extraditando, as limitações prescricionais e a inexistência de motivações políticas ou ideológicas que prejudiquem o pedido formulado. O Supremo Tribunal Federal realiza o controle de legalidade do pedido, verificando, por exemplo, se o fato imputado é punível na legislação de ambos Estados, se já era tipificado anteriormente a seu cometimento, se já foi extinta a punibilidade do delito praticado em qualquer dos Estados – requerente e requerido –, e se o crime é ou não de natureza política ou militar. EXTRADIÇÃO ATIVA O Poder Judiciário encaminha a documentação correspondente ao Departamento de Estrangeiros, da Secretaria Nacional de Justiça, que analisa a admissibilidade do pedido, a fim de verificar se está na forma estabelecida no Acordo e/ou legislação interna. Sendo admitido, o pedido de extradição será encaminhado ao Ministério das Relações Exteriores, a fim de que seja formalizado ao Estado onde se encontra o foragido da justiça brasileira, ou diretamente à Autoridade Central do respectivo país, quando permitido em Acordo. Sendo deferida a extradição, o Estado requerido comunicará a decisão à Autoridade Central, com urgência, para que as autoridades brasileiras retirem o extraditando do território estrangeiro no prazo previsto no Acordo, ou na data estipulada pela legislação interna do país requerido. EXTRADIÇÃO PASSIVA O Governo brasileiro recebe o pedido por meio do Min. das Rel. Exteriores ou diretamente da Autoridade Central do Estado requerente. A Secretaria Nacional de Justiça, por meio do Depto. de Estrangeiros, realiza a análise de admissibilidade conforme tratado e lei interna, e encaminha o pedido ao STF, a quem compete a análise de mérito (CF 102, I, “g”) Deferida a extradição pelo STF, e após o trânsito em julgado da decisão, a Autoridade Central brasileira poderá diferir a entrega na hipótese de o extraditando responder a processo-crime perante a Justiça brasileira ou estiver cumprindo pena, ou, ainda, na ausência de apresentação dos compromissos formais, se for o caso. Caso não seja retirado no prazo estipulado, o indivíduo será colocado em liberdade e o Brasil não será obrigado a detê-lo novamente em razão do mesmo pedido. Eventual decisão, total ou parcialmente denegatória pelo Supremo Tribunal Federal, será fundamentada e informada ao país requerente da extradição